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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25658: Os 50 Anos do 25 de Abril (30): A exposição, na Gare Marítima de Alcântara, sobre os antecendentes e a origem (com enfoque na guerrra colonial) e os protagonistas do 25 de Abril de 1974... Para ver até 23 de junho - II (e última) Parte: Op Viragem Histórica


Lisboa > Administração do Porto de Lisboa >  Gare Marítima de Alcàntara  (um belo edifício da arquitetura estado-novista, inaugurado em 1943, da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, decorado com painéis a fresco de Almada Negreiros) > Fachada do edifício com os cartazes da Exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril". Horário: de quarta feira a domingo, das 14h00 às 20h00, de 14 de abril a 23 (ou 26? ) de junho de 2024.



1. Recorde-se que a Exposição “O MFA e o 25 de Abril”, que evoca o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no derrube da ditadura e na construção da Democracia, está patente na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, até ao próximo 23 de junho, domi9ngo. (Há informações contraditórias:  na página da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 Abril, diz-se que acaba a 23, domingo; no Faeebook da Associação 25 de Abril (A25A)  aponta-se a data de 26, quarta feira, como era de resto a data que constava inicialmente do anúncio...)

Trata-se de uma parceria entre entre a Comissão Comemorariva 50 Anos 25 de Abril e a Associação 25 de Abril. O curador é o cmdt ref Pedro Lauret (que é também um 'histórico' da nossa  Tabanca Granmde). 

A exposição pode ser visitada de quarta-feira a domingo, das 14h00 às 20h00. A entrada é livre e a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril organiza visitas guiadas gratuitas. Mais de 5 mil pessoas já viram a exposição.

Há uma visita guiada no dia 21, sexta feira às 14h30. Para os interessados se inscreverem, contactar;



 





Comissão de Redação do Programa do MFA, presidida por Vitor Alves, e constituída por Melo Amtunes, Franco Charais, Costa Braz, Vitor Crespo, Almada Contreiras e Pedro Lauret



O comando do MFA no quartel da Pontinha: Otelo Saraiva de Carvalho, Fisher Lopes Pires, Garcia dos Santos, Sanches Osório e Vitor Crespo

Fotos: LG (2024)


2. No sítio da Associação 25 de Abril (A25A) está disponível o conteúdo dos principais blocos temáticos desta exposição. Aqueles dos nossos leitores que não puderem vir a Lisboa,  por estarem longe ou impossibilitados por outras razões,  têm aqui o essencial da informação. 


 

Último poste da série > 16 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25644: Os 50 anos do 25 de Abril (29): Os 9 episódios da série documental "A Conspiração" (RTP,. 2024) podem ser descarragados, até ao fim do dia 17, segunda feira (Cor art ref Morais Silva, membro do Grupo L34, Op Viragem Histórica, 25 de Abril de 1974)

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25629: Os 50 anos do 25 de Abril (28): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 9º (e último) episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

 RTP > "A Conspiração", série documental de nove episódios, que passaram semanalmente entre 24 de abril  (1º episódio) e 10 de junho de 2024 (9º e último episódio). Trailer oficial: 0:46

Cortesia de RTP (2024) / You Tube RTP (2024) / You Tube 


1. O cineasta e escritor português António-Pedro Vasconcelos, que morreu no passado dia 5 de março, em véspera de completar os 85 anos, já não pôde infelizmente assistir à estreia da sua série documental, "A Conspiração", na RTP, a 24 de abril de 2024.

Trata-se de um produção televisiva que tem por fio condutor o processo conspirativo dos Capitães de Abril (como ficaram conhecidos na História), e que durou quase um ano. Como se sabe, tudo começou com a contestação dos Decretos-Leis 353/73 e 409/73, de Julho e Agosto de 1973, que vieram alterar as regras de acesso ao quadro permanente de oficiais do exército. 

De uma luta inicialmente corporativa, assistimos à crescente radicalização e politização dos jovens capitães, muitos deles endurecidos pela experiência da interminável guerra em África. O percurso conspirativo  fica bem documentada,  nesta série,  que reconstitui, nomeadamente,  com base em exaustivas entrevistas aos protagonistas ainda vivos,   e  recurso a fontes, de arquivo, nomeadamente com registos de memórias de outros militares já falecidos, os longos e incertos meses de reuniões clandestinas, que irão culminar na saída para a rua de cerca de 30 unidades militares, na madrugada do 25 de Abril de 1974 (Op Viragem Histórica). 

A série é um verdeiro trabalho de investigação, minucioso, exaustivo, objetivo, distanciado, que nos honra a todos. Uma peça fundamental para o conhecimento da nossa história contemporânea. 

A Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril, sob a tutela do Ministério da Cultura, foi uma das entidades que apoiou a produção desta série, onde o realizador se empenhou de alma e coração, quer como artista como português. Ele e a sua equipa. A série foi produzida pela Thrust Media em parceria com  a  nossa televisão pública. 

Os primeiros episódios ainda são narrados por António-Pedro Vasconcelos, entretanto substituído pelo jornalista e radialista Adelino Gomes, hoje com 79 anos. Ambos estavam no Largo do Carmo, no 25 de Abril de 1974.

A RTP1 dá hoje o último episódio.
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 RTP > Programas > A Conspiração > Episódio n.º 9 > Hoje na RTP1, 10 de junho de 2024, às 21: 01 >

Episódio 9 de 9 | Sinopse:

Após o golpe falhado de 16 de março (episódio nº 8), tudo parecia perdido. No entanto, o movimento não desiste e entra em total clandestinidade preparando o golpe que derrubaria o Estado Novo e devolveria a liberdade aos portugueses, em 25 de Abril de 1974.

Elenco: Adelino Gomes

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Próximas emissões:

10 Jun 2024 21:01 RTP1 | 10 Jun 2024 21:01 RTP Internacional | 13 Jun 2024 02:35 |
RTP Internacional América | 13 Jun 2024 15:15 RTP Internacional Ásia

Rever na RTP Play os episódios anteriores

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25621: Os 50 anos do 25 de Abril (27): "A Academia Militar, os Seus Militares e a Revolução dos Cravos", Exposição relativa aos 50 anos do 25 de Abril na Academia Militar

Vd. também:

3 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25598: Os 50 anos do 25 de Abril (25): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 8º (e penúltimo) episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2024/06/guine-6174-p25598-os-50-anos-do-25-de.html

sábado, 8 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25618: Casos: a verdade sobre... (43): sim, a situação político-militar agravou-se em 1973/74, no CTIG, mas o PAIGC não fez a declaraçáo unilateral de independència... em Madina do Boé: um erro toponímico sistemático que a nossa historiografia militar anda a replicar há meio século...

 

Imagem de satélite (Cortesia de Google Earth)  com indicação de algumas das tabancas situadas na região oriental do Boé. Refere-se, também, Tiankoye, situada em território da República da Guiné, local por onde circularam as forças do PIAGC que atacaram Madina do Boé, em 10 de Novembro de 1966, e onde morreu o cmdt Domingos Ramos (1935-1966). 

Lugajole, Vendu-Leidi e Lela (esta já no território da Guiné Conacri) estão mais próximos do local "misterioso" onde o PAIGC fez a declaração unilateral da independência, a única zona acidentada da Guiné- Bissau (com pequenas colinas que chegar aos 100, 200 e até 300 metros, nas falda do Futa Jalon)... 

Madina do Boé, seguramente, é que não foi o "berço da Nação", embora desse mais jeito ao PAIGC para efeitos propagandísticos...  De Madina do Boé até á fronteira (passando por Vendu-Leidi), a leste, são 70 km, em linha reta. Para sul, são 10 km. (Vd. mapa da antiga província da Guiné, 1961, escvala 1/500 mil)

Naquele tempo não havia GPS, as fronteiras eram porosas, o Boé não tinha estrada para a fronteira a leste (nem picadas transitáveis em plena época das chuvas como era o caso em setembrto de 1973)... 

E todas as testemunhas (os protagonistas) do lado do PAIGC já morreram: o Luís Cabral não se lembrava do nome da tabanca mais próxima, o Vasco Cabral dizia que era Vendu Leidi... Fica a amnésia da História (e de um povo).. .

De qualquer modo, era preciso "ter lata"  para declarar "urbi et orbi" a independência da Guiné... num país estrangeiro. Mesmo assim estava garantida, na ONU, o reconhecimento imediato da nova república logo por cerca de 80 países... 

Foi a grande jogada de mestre do Amílcar Cabral desenhada antes de morrer... E o pior erro estratégico de Spínola, ainda "periquito",  a retirada das NT do Boé (Beli, Madina e Cheche).  E acresente-se: do Hélio Felgas, profundo conhecedor do território, mas que subestimou a importância do Boé para a logística e a propaganda do PAIGC.... De qualquer modo, quem não tinha cão, caçava com gato (*)...

Infografia: Jorge Araújo (2021). Legenda: JA/LG












Painel, reproduzido com a devida vénia, da exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril", Lisboa, Gare Marítima de Alcântara (Abril-junho de 2024)

1. A propósito da exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril" (**). que está a decorrer na Gare Marítima de Alcàntara, em Lisboa, de 14 de abril a 26 de junho de 2024 (no horário  das 14h00 às 20h00, de quarta feira a domingo), já chamámos a atenção para um erro factual imperdoável: dar Madina do Boé como local onde o PAIGC proclamou a independência unilateral da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973 (ver imagem do painel, acima reproduzida, com o topónimo sublinhado a vermelho, por nós)

Não sabemos de quem é a autoria do texto. Pode ser um deslize, mas é lamentável.  Hã anos que temos batalhado, aqui no nosso blogue, contra este "embuste histórico" do PAIGC, infelizmente replicado  por historiógrafos militares e jornalistas portugueses, para não falar de académicos, uns e outros pouco ou nada conhecedores da geografia  da região do Boé. (*).  

Fica aqui o nosso protesto: damos importância, no nosso blogue, à "verdade factual" (***)... De qualquer modo, continuamos a aconselhar a visita à exposição, a qual, de resto, utiliza alguns materiais do nosso blogue (fotos do Jose Casimiro Carvalho e do Miguel Pessoa).
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

5 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22106: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte I: A variável "clima" (Jorge Araújo)

21 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22122: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte II: Missão a Gaoual (Jorge Araújo)

12 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22275: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte III: A Brigada de Fronteira de Gaoual e o apoio no controlo dos movimentos na Região de Lela em novembro de 1966 (Jorge Araújo)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/06/guine-6174-p22275-um-olhar-critico.html

Mas também:


20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1 de março de  2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)

9 de outubro de  2009 > Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)


(***) Último poste da série > 24 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25104: Casos: a verdade sobre... (42): O "making of" do livro do Amadu Djaló (1940 - 2015), "Guineense. Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) (Virgínio Briote)


quinta-feira, 6 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25612: Os 50 anos do 25 de Abril (26): A exposição, na Gare Marítima de Alcântara, sobre os antecendentes e a origem (com enfoque na guerrra colonial) e os protagonistas do 25 de Abril de 1974... Para ver até 26 de junho - Parte I: Os bodes expiatórios do regime

 


Lisboa > Administração do Porto de Lisboa >  Gare Marítima de Alcàntara  (um belo edifício da arquitetura estado-novista, inaugurado em 1943, da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, decorado com painéis a fresco de Almada Negreiros) > Fachada do edifício com os cartazes da Exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril". Horário: de quarta feira a domingo, das 14h00 às 20h00, de 14 de abril a 26 de junho de 2024.


1. Já aqui demos o devido destaque à exposição 'O MFA e o 25 de Abril', que  é uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, de curadoria partilhada com a Associação 25 de Abril e em parceria com o Porto de Lisboa (*).

"Esta exposição pretende ilustrar o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no derrube da ditadura e na construção da Democracia, através do recurso a materiais iconográficos, audiovisuais e sonoros. Será dinamizada através de visitas guiadas, conferências, debates e espetáculos, e complementada por um dossiê multimédia." (Fonte: Comissão Comemorativa 50 anosdo 25 de Abril).


Só há dias, em 26 de maio último, um domingo à tarde,  consegui lá dar um salto. Fiz bastantes fotos (cerca de 150). A exposição está bem orgsnizada por blocos temáticos, mas é muito extensa. Hora e meia foi o tempo que eu gastei. Julgo que para o grande público tem excesso de informação e cronologias (fitas do tempo) muito detalhadas. (Tem um erro fctual imperdoável: dar Madina do Boé como local onde o PAIGC proclamou a independência unilateral da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973.)

Os blocos temáticos são os seguintes: 

0. Memorial aos presos políticos; 1. A queda dos impérios colonais; 2. A guerra colonial; 3. Os militares, os bodes expiatórios do regime; 4.A conspiração; 5. O dia 25 de Abril; e 6. O legado do MFA.

O curador desta exposição, da parte da A25A, é o comandante, capitão-de-mar-e-guerra ref, Pedro Lauret, um dos "históricos" do nosso blogue: recorde-se que ele foi combatente no TO da Guiné, na qualidade de imediato da LFG Orion, de 1971 a 1973; tem 36 referências no nosso blogue; e foi um dos participantes do I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de outubro de 2006.

É uma exposição a não perder, sobre os antecedentes (próximos e afastados). a origem e os protagonistas do 25 de Abril: 

"Os oficiais do MFA tinham capacidade de comando, coragem, determinação e conhecimento operacional para que, no dia 25 de Abril, às três da manhã, de cerca de 30 unidades diferentes, de Norte a Sul do Pais, em simultàneo, saíssem  forças rumo aos seus objetivos, numa operação - Operação Viragem Histórica -  extraordinariamente bem concebida, planeada, conduzida e executada" (Fonte: excerto da folha de sala).

Faltam menos de 3 semanas para encerrar (**). Hoje reproduzimos alguns dos painéis do Bloco 3 (Os militares, os bodes expiatórios do regime) bem como do Bloco 2 (A guerra colonial), e nomeadamente imagens do armamento, das NT e do IN,  que está exposto em vitrinas.


Bloco 3 - Os militares, os bodes expiatórios do regime








Bloco 2 - A Guerra Colonial: armamento do IN e das NT









 Imagens colhidas e editadas por LG (2024), com a devida vénia...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29  de abril de DE 2024 > Guiné 61/74 - P25457: Os 50 anos do 25 de Abril (15): Exposição na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa, até 26 de junho próximo, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00: "O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril": curador, Pedro Lauret, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ref


(**) Último poste da série > 3 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25598: Os 50 anos do 25 de Abril (25): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 8º (e penúltimo) episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25557: Os 50 anos do 25 de Abril (24): "As gargalhadas" de Salgueiro Maia (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72)


1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 22 de Maio de 2024:


"As gargalhadas" de Salgueiro Maia

"Salgueiro Maia - Das Guerras em África à Revolução dos Cravos" é um livro de Moisés Cayetano Rosado, de Badajoz, uma terra que também fazia parte da Lusitânia.

Salgueiro Maia foi acusado de Comunista, de fascista, foi um dos primeiros subscritores do Documento dos Nove, deixou durante algum tempo de participar nas comemorações do 25 de Abril e pediu para ser enterrado em campa rasa ao som do Grândola vila morena, o hino do MFA.

Vejamos o prefácio deste livro e o que escreveu o Sr. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o Cap. Salgueiro Maia:

Associo-me, com honra e júbilo, (...) saudando o ensaio histórico-biográfico do Sr. Professor Moisés Cayetano Rosado (...). E não encontro mais adequado modo de traduzir essa partilha (...), ocasião em que juntei às justíssimas Ordens da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito e da Liberdade, atribuídas pelos Presidentes António Ramalho Eanes e Mário Soares, a Ordem do Infante D. Henrique.

Eis o que disse em 2016.

Foi há quarenta e dois anos!

Um homem em cima de uma chaimite. Que interpela o Poder que tarda em cair, enquanto o novo tarda em chegar (...)

(...) e termina. Neste Abril de 2021, tanto ou mais ainda do que há cinco anos, toda a homenagem e indelével gratidão é devida!

Marcelo Rebelo de Sousa

Palácio de Belém, 29 de Março de 2021.

Será que o Cap. Salgueiro Maia está a rir-se lá em baixo e quer dar uma lição de História à malta, sobre Castelos, a Ordem do Templo e a Ordem de Cristo?

O Rei D. Dinis, foi um senhor muito inteligente e hábil e fez tudo quanto quis. Antes da extinção da Ordem do Templo em 22 de Março de 1312, conseguiu integrar os bens da Ordem do Templo no Reino de Portugal, mantendo assim todo o seu património intacto.

Deu umas férias Grandes aos nossos Cavaleiros Templários e mandou-os para Castro Marim para proteger e manter a nossa Elite de Cavaleiros e formar novos guerreiros. As férias só terminaram depois de criar uma nova Ordem em 26 de Novembro de 1319, a que chamou Ordem de Cristo, onde foram integrados.

O melhor agora é citar algumas partes deste livro, sobre a vida deste guerreiro lusitano que foi Salgueiro Maia que terminou os seus dias como membro e Dirigente da Associação dos Amigos dos Castelos.

Pág. 62 (...) de 1 a 3 de Junho de 1973, celebrar-se-ia no Porto um encontro que viria ser uma "resposta" ao anterior: O "I encontro de Combatentes do Ultramar" (...). É interessante constatar que a hierarquia castrense proibiu que os militares no ativo participassem no encontro. O Gen. Spínola já tinha expresso, dois anos antes, que a solução do problema da Guiné (onde era Governador e Comandante-Chefe) era política, e muitos eram os militares spinolistas do Quadro Permanente que tinham intenção de intervir defendendo esta posição.

Em 5 de Março de 1974, tinham acordado na reunião celebrada em Cascais, a aprovação do importante documento. "O Movimento, as Forças Armadas e a Nação". Dos 197 presentes, 111 assinam o documento.

A pág. 75 (...) Distribuição das missões para o Golpe de Estado do 25 de Abril. O sr. Major Otelo esclarece. "Tens alguma dúvida? Não tenho nenhuma". Queres fazer alguma pergunta? "Duas" Quais são? Primeira: Programa político, (...). Segunda questão? E o Salgueiro Maia pergunta-me. Temos Generais no Posto de Comando? Aí eu tive uma mentira necessária e piedosa e disse-lhe: Concerteza pá, podes garantir pá que temos Generais no Posto de Comando.

Era mentira, não tínhamos porque os Generais não arriscavam nada (...).

A pág. 78 (...) O Salgueiro Maia - conta Otelo -, quando lhe dei a missão, avisou-me de que os soldados só tinham uma semana de recruta, não sabiam dar tiros. Disse-lhe, não faz mal, a tua coluna vai ser a coluna de isco, traz a maior quantidade de material de combate que puderes, Chaimites, M-47, Panhares, MBR, os soldados de capacete, metralhadoras e espingardas automáticas, munições, tudo. Quem vai opor-se a uma coluna dessas? Montas o arraial todo no Terreiro do Paço. Ficas à espera. Se por acaso estiver o Ministro do Exército no Gabinete, vais prendê-lo. E vão todos ter contigo.

Eu só tive uma amante na Guiné, chamava-se G3, tratava-a por tu, dormia ao meu lado com o carregador e uma bala na câmara.

Um atirador de Infantaria que domine o tiro instintivo pode agarrar a G3 só com uma mão e acertar num alvo a 50 metros sem apontar. Para isso é necessário premir o gatilho muitas vezes e gastar largas centenas de munições.
Eu nem imagino quantas vezes terá pensado o Cap. Salgueiro Maia, no Arraial do Terreiro do Paço e na sua responsabilidade sobre os militares que utilizou. Vem-me à memória o exemplo um deles estendido ao longo do passeio, a apontar a G3, não se sabe bem para onde, perante a curiosidade de três putos ao seu lado.
A sorte protege os audazes, mas não devemos abusar da sorte e muito menos a comandar uma força constituída por militares que nunca deram um tiro.

A pág. 75 e 78 permitem compreender a sua excitação em envolver-se a partir do 25 de Abril de 1974 sem ter a certeza de que tinha Generais no Posto de Comando.

Acresce que: Consta da pág. 110 e 111. O Maj. Vítor Alves adiantar-se-ia para expressar a Spínola a sua intenção de fazer um comunicado público divulgando o Programa do MFA, com os três grandes postulados de Democratizar, Descolonizar e Desenvolver, e o velho general lançar-lhe-á um "jarro de água fria":

- "Vocês são muito jovens, sem formação política, deixem isso para quem sabe, eu tenho uns amigos que trataram desse assunto".

Esta declaração é vaga, não identifica quem são os amigos e não permite identificar a linha política defendida por esses amigos.

Pág.120. A Unicidade Sindical e a liquidação dos latifúndios e entregar a terra a quem realmente a trabalha. Esta é uma conversa para parolos, porque a unicidade Sindical foi objecto de forte contestação no meio operário e, trabalhar a terra, provoca muitos calos nas mãos e dores nas costas. Dos 20.000 trabalhadores necessários para trabalhar a terra, 50.000 passaram a vida a fazer comícios, nomeadamente nas cooperativas e unidades colectivas de produção.

Pág. 121. Estes acontecimentos vão pressupor a ruptura do "aparente" entendimento do PCP e do PS, e são um alerta ao socialismo europeu, representado pelas figuras de Olof Palme e Willy Brandt os grandes apoios de Mário Soares, hostis ao protagonismo do PCP. E mais hostil ainda ao Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, que por estes dias dirá a Soares:
- "Portugal está perdido, vai ser um novo país comunista. Vai ser uma nova Cuba".

De facto há razões para as preocupações dos líderes ocidentais. No frente a frente realizado entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, em 8 de Novembro de 1975, este defende que no PS existem duas linhas.

Os dias loucos do PREC pág. 382. (...)

Mário Soares (...). O Partido Socialista já escolheu o seu campo (...), instaurar em Portugal uma sociedade socialista, uma sociedade sem classes mas em liberdade (...). Não fará uma revolução (...) que transforme este País numa ditadura e o PCP deu provas durante estes meses de que quer transformar este País numa ditadura.
Álvaro Cunhal. - Olhe que não! Olhe que não!
(...) Álvaro Cunhal - (...) Há membros do Partido Socialista que querem as duas coisas, querem liberdade e querem socialismo. Mas infelizmente isso não parece a política do Partido Socialista (...). Pág. 382 Os dias loucos do PREC. ÚLTIMAS OFENSAS, (Promoções e outras coisas)

Pág. 142. O Sr. Maj. Gen. Adelino de Matos Coelho grande amigo de Salgueiro Maia animou-o a pertencer à Associação dos amigos dos Castelos, como membro da Associação e seu dirigente, participa em actividades sobre Património nomeadamente em Braga, Castelo Branco, Coimbra, Alcobaça, Santarém, Monsanto, Sortelha, Almada, Castelo de Vide Marvão, Évora, Beja, Olivença e muitos mais.
Não é de estranhar que Salgueiro Maia, tenha estudado o percurso de D. Gualdim Pais (1118-1195), 6.º Mestre Templário ( de 1159 a 1195).

Era de 1209. O Mestre Gualdim certamente de nobre geração, natural de Braga, existiu no tempo de Afonso, Ilustríssimo Rei de Portugal. Abandonando a milícia secular em breve se elevou como um astro, porquanto, soldado do Templo, dirigiu-se a Jerusalém onde durante cinco anos levou vida trabalhosa. Com seu Mestre e seus irmãos, entrou em muitas batalhas, movendo-se contra o Rei do Egipto e da Síria. Como fosse tomada Ascalona, partindo logo para Antioquia, pelejou muitas vezes pela rendição de Sidon. Cinco anos passados, voltou, então para o Rei que o criara e o fizesse Cavaleiro. Feito procurador da Ordem do Templo em Portugal, fundou, neste, o Castelo de Pombal, Tomar, Zêzere e este que é chamado Almourol, Idanha e Monsanto (...). José Manuel Capêlo Portugal Templário, pág. 76 e 77.

Pág. 150. Em declarações à revista "Expresso", Vasco Lourenço considerava Eanes o principal responsável pela marginalização e persecução dos militares de Abril (...). Ramalho Eanes, militar de costumes austeros e vida ascética, imparcial na execução das suas convicções, teve de enfrentar-se com líderes políticos em contínua tensão: (...).

Costumes austeros e vida ascética é um dos princípios da Ordem do Templo. O percurso militar de alguns membros do MFA, indicia que Ramalho Eanes, não era o único a seguir estes princípios: Ser o primeiro a dar o exemplo e cortar a direito é um princípio de base.

Foi no programa "O que dizem os teus olhos" de Daniel Oliveira que ouvi este perguntar ao actor Vítor Norte, também ex-combatente:
Como foi a sua Guerra na Guiné? Resposta de Vítor Norte (...) Fui para lá um puto e vim de lá um velho. Mas... Esteve lá muito tempo? Perguntou o Daniel. Dois anos, foi a resposta seca de Vítor Norte.

As primeiras Eleições livres decorreram em 25 de Abril de 1975. A eleição da Mesa da Assembleia Constituinte decorreu no dia 5 de Junho de 1975 e teve como Presidente Henrique de Barros, que deu início aos trabalhos.

O 25 de Novembro de 1975 pôs fim ao PREC e à linha do MFA que defendia o manual da Revolução de Outubro de 1917 "Catástrofe iminente e os meios de a conjurar" de Lenine. Felizmente não conhecemos o resultado de uma guerra civil em 1975.
Os trabalhos da Assembleia Constituinte foram aprovados na sua votação final em 2 de Abril de 1976.

Pág. 105. No dia 25 de Abril de 1974, enquanto decorria o Golpe de Estado, (...). Mais tarde conta a sua conversação com Caetano: "Passei por uma antecâmara, onde se encontravam Moreira Baptista (Ministro do Interior) e Rui Patrício (Ministro dos Negócios Estrangeiros), chorando como uma criança, olhando para o infinito o primeiro. Marcelo estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno.

Pág. 154. Tem um curioso encontro com Cavaco Silva numa visita que este efectuou à EPC.

"Aproximam-se e o Coronel - Comandante da Escola diz a Cavaco. Sr. Professor, não sei se já conhece, este é o Ten-Coronel Salgueiro Maia, o Cap. de Abril que prendeu o Primeiro Ministro Marcelo Caetano... O governante sorri discretamente e cumprimenta Salgueiro Maia. Este demolidor, dispara sem pestanejar: "Prendi esse, sim senhor e prenderei outros se necessário for". Cavaco engole em seco e passa adiante, decerto pouco à vontade com tão inadequada analogia".
Salgueiro Maia não estava "para brincadeiras" com os políticos. (...).

Termina assim o autor deste livro, na pág. 190.

Caro Fernando.

Partiste cedo. Tens-nos feito cá muita falta!

Vais-te rir certamente, com a informação que te dou: depois de partires, depois de deixares de poder, causar-lhes problemas, fizeram de ti um Herói!

Vá lá, acaba com as gargalhadas. A vida e a morte são mesmo assim!

Um grande , um enorme abraço, muito amigo e de Abril!

10 de Setembro de 2021.

Baltazar Rebelo de Sousa, pai do nosso actual Presidente da República, foi Governador Geral em Moçambique, durante 2 anos e Ministro do Estado Novo de 7 de Nov. 1973 ao 25 de Abril de 1974.

Salgueiro Maia foi um guerreiro e não estava "para brincadeiras" com os políticos, ficou de forma simbólica ligado ao fim do Regime do Estado Novo.

Este guerreiro Lusitano da Arma de Cavalaria, com provas dadas em combate, é um justo merecedor da Ordem de Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito e da Liberdade.

Os políticos não faziam, nem fazem, a mais pequena ideia, do que é uma guerra. Mas quando uma guerra começa ficam a saber, o que é a verdadeira violência.

Tem razão o autor quando diz: Depois de partires, depois de deixares, de lhes causares problemas, fizeram de ti um herói.

Vá lá, acaba com as gargalhadas! A vida e a morte são mesmo assim.

Junto Capas dos livros:
"Salgueiro Maia - Das Guerras de África à Revolução dos Cravos", de Moisés Cayetano Rosado.
"Portugal Templário", de José Manuel Capêlo
"Catástrofe iminente e os meios de a conjurar", de Lenine
Contracapa do livro "Catástrofe iminente e os meios de a conjurar"
Editada para facilitar a leitura do texto

Um abraço,
Victor Costa,
Ex-Fur Mil At Inf
CCaç 4541/72

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Nota do editor

Último post da série de 20 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25542: Os 50 anos do 25 de Abril (23): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 6º episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25542: Os 50 anos do 25 de Abril (23): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 6º episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)


1. Passa hoje, na RTP1, às 21h01, o 6º episódio (de 9) da série documental "A Conspiração". Os  episódios anteriores (de 1 a 5)  podem ser vistos ou revistos na RTP Play. O 1º episódio ("A semente revolucionária") foi emitido em 24 de abril de 2024.

Sinopse: 

A última obra de António-Pedro Vasconcelos. Conhecemos os ícones, as músicas e os locais emblemáticos do 25 de Abril 1974. Mas como surgiu a Revolução que mudou o destino de Portugal?

"A Conspiração", série documental realizada por António-Pedro Vasconcelos, é o resultado de uma meticulosa investigação que conta com depoimentos exclusivos de protagonistas que conseguiram concretizar em menos de 24 horas, o que em 48 anos muitos outros não haviam conseguido. Desde as reuniões secretas aos personagens-chave, é-nos revelado o extraordinário processo conspirativo que começou no verão de 1973 e que culminou na madrugada de 25 Abril de 1974, com o derrube do Estado Novo e a conquista da liberdade. O resto, como dizem, é história. (*)

Episódio nº 6 |  Episódio 6 de 9

A chamada "Kaulzada" é abortada e ultrapassa-se, assim, mais um momento de perigo para o Movimento de Capitães. Mas, em Janeiro de 1974, na província de Manica, em Moçambique, os colonos são confrontados, pela primeira vez, com a existência da guerra naquele território. 

Sucedem-se graves confrontos na Cidade da Beira, em que a população agride e culpabiliza os militares. Estes acontecimentos vêm acelerar a consolidação e politização do Movimento, que começa a preparar um programa político de base. (**)

Fonte: RTP > Programa > TV (com a devida vénia...)

Próximas emissões: 20 Mai 2024, 21:01 RTP1 | 20 Mai 2024 21:01 | RTP Internacional | 22 Mai 2024 15:00 | RTP Internacional Ásia | 23 Mai 2024 01:00 RTP Internacional América

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(**) Últimoposte da série > 16  de maio de  2024 > Guiné 61/74 - P25533: Os 50 anos do 25 de Abril (22): Do Precedido Ao Sucedido (António Inácio Correia Nogueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 - CTIG, 1971 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487 / BCAV 3871 - RMA, 1972/74)

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25505: Consultório Militar do José Martins (83): Revolta de 16 de Março de 1974 passou pelo Concelho de Loures


1. Transcrição de um trabalho do nosso camarada José Martins, publicado em "Loures História Local, Abril/Newsletter n.º 45/2024", sobre o 16 de Março em Loures:


O 16 de Março na Área de Loures

Às 04H00 do dia 16 de Março de 1974 uma coluna auto transportada, de cerca de 200 militares comandada pelo Capitão Piedade Faria, sai do quartel das Caldas da Rainha, a caminho de Lisboa, com a missão de ocupar o aeroporto[1].
A Região Militar de Lisboa, avisada do facto, entra em estado de prevenção reforçada.

Esta situação não apanha de surpresa, quer o Governo quer as autoridades militares. Desde o dia 9 de Março, iniciam-se nos quartéis, por ordem do Comando-Chefe das Forças Armadas, o estado de Prevenção Rigorosa. Esta situação não se verificava desde 1961, há treze anos, portanto. Essa ordem foi dirigida aos Serviços de Informação dos 3 Ramos das Forças Armadas, assim como à 1.ª e 2.ª Repartições e à Secretaria-Geral da Defesa Nacional.

Foi uma semana em que houve vários acontecimentos: prisão de capitães do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), e seu internamento no Forte da Trafaria; aprovada a politica colonial do governo, pela Assembleia Nacional; manifestação dos Oficiais-Generais, em apoio ao Presidente do Conselho e da sua politica; a demissão de Costa Gomes e António de Spínola, dos altos cargos que ocupavam; reuniões de elementos do MOFA, face às reacções de solidariedade de Capitães e outros oficiais subalternos, que manifestam as suas posições junto dos respectivos comandantes; e tudo isto acompanhado por variação de “estados de Alerta” com “estados de Prevenção Rigorosa”, situação reflectida no relatório do Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 (Leiria), em que refere, na análise crítica: «Dos extractos da “Fita do Tempo” pode concluir-se ter havido um certo «à-vontade» da minha parte, pois poderia ter mandado armar, equipar e municiar a Companhia de Caçadores logo após a ordem de prevenção rigorosa. Não o fiz, como já disse, por razões que julguei convenientes na altura: a semana anterior tinha sido fértil em altas e baixas nos estados de emergência».

As notícias, a principio vagas, mas depois tornam-se mais alarmantes, apesar de especulativas. Mencionavam o movimento de várias unidades, do Norte, em direcção à capital, o que não se verificava. Como as Regiões Militares dispunham, à época, em cada Regimento e/ou Instituição da sua competência, de subunidades às suas ordens, normalmente uma companhia de caçadores (infantaria), baterias de bocas de fogo (artilharia) ou esquadrões de carros de combate e reconhecimento (cavalaria); e nas unidades de serviços e nas escolas práticas de companhias de caçadores, o Quartel-General da Região, a Região Militar de Lisboa, manda deslocar as seguintes forças, sob comando do Chefe do Estado-Maior do Exército, General João Paiva Brandão.

A Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra, tendo parte do pessoal empenhado na semana de campo, do Curso de Oficiais Milicianos, com o pessoal e as viaturas disponíveis, inicia o patrulhamento da Zona Oeste, onde se encontra aquartelado. Para suster qualquer força não detectada, envia a Escola Prática de Administração Militar (EPAM), do Lumiar, para a Ponte de Frielas. Para a Zona Norte, às portas da cidade, onde terminava o troço da A1 (outras fontes indicam que foi na Rotunda da Encarnação), foram chamados o Regimento de Lanceiros n.º 2/Policia Militar (RL 2/PM) e o Regimento de Cavalaria n.º 7 (RC 7), da Ajuda: o Batalhão de Caçadores n.º 5 (BC 5), de Campolide; o Regimento de Infantaria n.º 1 (RI 1), da Amadora; o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (RAL 1), de Moscavide; e a Escola Prática do Serviço de Material (EPSM), de Sacavém. Para o mesmo local foram enviadas forças da Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana (Infantaria e Esquadrão de Reconhecimento), além de elementos, à civil, da Direcção Geral de Segurança e da Legião Portuguesa.

O ajuntamento destas forças, por volta das 06H00 de um sábado que à época era dia normal de trabalho, fez juntar os populares que se deslocavam para o seu trabalho, em Lisboa, e cujo trajecto obrigava a passar por aquele local, transformando-se em “mirones”. Todo aquele aparato prometia conversa, não só para aquela altura, mas também para o Domingo, e sabe-se se não se prolongaria pela semana fora, quando se aguardasse a hora do jantar.

Se por qualquer circunstância, mesmo que não tivesse havido troca de tiros, como não houve, bastava um disparo inopinado, para poder gerar confusão na fuga de civis, procurando abrigar-se, para poder ter havido um certo número de feridos, entre estes.

Apesar de, na prática, esta insurreição ter acontecido no Regimento de Infantaria n.º 5, onde era ministrado o primeiro ciclo do CSM - Curso de Sargentos Milicianos, não ter originado no país qualquer alteração, na realidade, teve implicação em duas localidades: Caldas da Rainha, o palco principal dos acontecimentos, e Loures, nomeadamente Sacavém, onde se instalaram as forças leais ao governo. Noutras localidades do percurso utilizado, houve maior ou menor impacto devido à movimentação das forças militares e paramilitares, mas todo o país seguiu os acontecimentos desse dia, pelo menos através das notícias que iam sendo divulgadas.

Loures, pela sua localização geográfica seria, necessariamente, um ponto de passagem, quer utilizando a EN 1, ou a EN 8 mais a Oeste, para se dirigiram ao Aeroporto da Portela, seu objectivo. Da A1, na altura, só existia o troço Sacavém - Vila Franca de Xira e, a autoestrada A8, ainda nem sequer fora pensada.

Não consegui obter os relatórios que, necessariamente, foram elaborados pelas unidades envolvidas na zona da Grande Lisboa, pelo que irei seguir o que relataram os documentos elaborados pelo Comando-Geral e pelo Batalhão n.º 2 da Guarda Nacional Republicana:
Cerca das 06H50, a coluna que tinha saído das Caldas da Rainha pelas 04H00, estava parada, na A1, a 3 km da Portagem de Sacavém. No relatório, do Comando-Geral da GNR, consta que à mesma hora, 06H50, é avistada uma viatura militar no sentido Cacém - Sintra, de que se desconhece a missão. O mesmo relatório relata que, às 08H05, a viatura MG-63-23 da Região Militar de Lisboa, com pessoal armado, é localizada em Tercena deslocando-se de Sintra para Cacém.

Pelas 07h15, na A1 por cima do rio Trancão, os Majores Luís Casanova Ferreira e Manuel Soares Monge que saíram de Lisboa, encontram-se com a coluna e avisam de que deve regressar a Caldas da Rainha, por ser a única unidade que se tinha sublevado, estando um dispositivo militar preparado para a defrontar, à entrada da cidade. Do relatório do Batalhão n.º 2 da GNR consta que, pelas 07H15, dois jeep saíram da EPI e seguiram pala estrada Paz - Torres Vedras, onde à 07H40 passaram nesta localidade. Num dos jeeps mencionados seguia o Comandante, Coronel Freitas, dirigindo-se para os lados da localidade de Ramalhal.

Sem apoio de outras forças, resolvem regressar ao quartel e, utilizando uma abertura no separador central da auto-estrada, mudam de faixa e iniciam o regresso. São interpelados à saída de Vila Franca de Xira, cerca das 08H30, por um efectivo de 10 elementos, comandados por um tenente. Das últimas viaturas ouviu-se um tiro inopinado. O problema foi sanado e a coluna segue sem mais incidentes.

Às 08H45, refere o mesmo relatório, que o Coronel Freitas passou novamente em Torres Vedras, regressando à EPI. Comunicou ter mandado levantar o "Destacamento de Cadetes COM" instalado numa quinta em Pai-Correia, Ramalhal e que, devido a carência de viaturas, o retorno se processaria por fases e a partir das 10H30. Mais solicitou que, a GNR o informasse de quaisquer outros movimentos de tropas naquela área, que se não relacionassem com o regresso dos cadetes ao quartel.

O Relatório do Comando-Geral da GNR refere que, pelas 09H30, uma coluna de viaturas passou frente ao Posto da GNR da Malveira, dirigindo-se para Loures. O Batalhão n.º 2 da GNR relata que a coluna auto que passou na Malveira, pelas 11H50 se encontrava a 1 quilómetro da Venda do Pinheiro, seguindo na direcção de Bucelas.

Às 10H20 o Comando-Geral da GNR solicita a informação, ao Comandante-Geral da Segurança Interna (CGSI), de quem é a competência de comando das força instaladas entre Sacavém e a Encarnação. O CGSI informa que a competência é do Quartel-General da Região Militar de Lisboa

Com o retrocesso da coluna sublevada, pelas 10H22, o Batalhão de Caçadores n.º 5 recebe instruções para retirar as suas forças. No local mantêm-se as do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, cujo quartel ficava perto do local. Não há referência às outras unidades do Exército, que foram enviadas para o local e referidas anteriormente.

O Chefe do Estado-Maior da GNR dá instruções, pelas 10H25, para retirar o Pelotão de Reconhecimento/GNR e, às 10H27, a companhia do Batalhão n.º 2/GNR.

No relatório do Batalhão n.º 2 da GNR consta que, às 12H10, o Comandante do posto da Malveira, transmitiu que lhe havia sido comunicado, pelo posto de Bucelas, a apresentação de um Tenente-Coronel avisando do estacionamento de uma força à saída desta localidade, para o lado de Bemposta, que se encontrava em missão de reconhecimento. Entretanto, soube-se que tal força era comandada pelo Capitão Sousa Santos e que recebeu ordens para recolher à EPI.

A coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, pelas 10H30, dá entrada no quartel, onde já se encontravam os Majores Monge e Casanova Ferreira, que os tinham abordado quando estavam entre Vila Franca de Xira e Sacavém.

Seriam estes oficiais superiores que negociariam a rendição, dos revoltosos, ao Brigadeiro Pedro Serrano, 2.º comandante da Região Militar de Tomar.

Depois de, cerca de três horas e trinta minutos, as forças rendem-se. São abertos os portões e a unidade é ocupada pelas forças sitiantes.

Pelas 22H00, os oficiais do Quadro Permanente detidos no RI 5, foram transferidos para o Regimento de Artilharia Ligeira 1 (Moscavide), escoltados pela Policia Militar e Policia de Segurança Pública. Uns ficaram na enfermaria do RAL 1, enquanto outros foram transferidos para a Casa de Reclusão Militar de Lisboa, no Forte da Trafaria.

Trinta e cinco Aspirantes a Oficial Miliciano, além de Sargentos, Furriéis e Cabos Milicianos, foram conduzidos, sob detenção, para o Campo Militar de Santa Margarida, às 03h00, acusados de participação nos acontecimentos de 16 de Março, onde seriam depois interrogados pelo Tenente-Coronel Andrade e Sousa.

No dia 17 de Março de 1974 pelas 14H30, por determinação superior, todas as unidades passam à Situação de Alerta e, a partir das 15H00, a Prevenção Simples.

Cerca de quarenta dias depois, sem que o MOFA tenha baixado os braços, mas passando a ser mais discreto, é marcado o “dia D” para 25 de Abril. Das unidades que foram mencionadas no presente texto e que intervieram do lado do governo vigente, qual teria sido a sua actuação nesse dia? Vejamos quais as missões mais importantes, atribuídas a cada uma delas, no intuito de manter os objectivos, na posse dos sublevados, já intitulados “Movimento das Forças Armadas”:

À Escola Prática de Infantaria, foi atribuída a ocupação e defesa, do Aeroporto da Portela, hoje Aeroporto Humberto Delgado.

À Escola Prática de Administração Militar é atribuída a missão de tomar os Estúdios do Lumiar da RTP, e pugnar para que a emissão continuasse no ar.

Do Regimento de Lanceiros n.º 2 – Policia Militar, uma força sob o comando de um Tenente, contacta com as forças que cercam o QG-RML. Depois de uma conversa com o comandante das forças sitiantes, retira em direcção à Praça de Espanha.

O Regimento de Cavalaria n.º 7 não adere ao MFA, vindo a constituir a única unidade que, comandada pelo Brigadeiro 2.º Comandante da Região Militar de Lisboa, tenta enfrentar as forças do Capitão Salgueiro Maia, na Ribeira das Naus e Rua do Arsenal. Muitos militares desta força passam, quase de imediato para o Movimento.

Ao Batalhão de Caçadores n.º 5, foi atribuído cerco e entrada no Quartel-General da Região Militar de Lisboa, mantendo a defesa da área.

Ao Regimento de Infantaria n.º 1, com duas Companhias de Caçadores, deslocaria uma para o Forte de Caxias e, com a outra Companhia, teria a missão de proteger a residência do General Spínola.

No Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 tinha sido colocado, como reforço, um Pelotão de Polícia Militar, que rodava todos os dias, variando os comandantes do mesmo e, contactados não se mostraram receptivos. O Comando não aderiu, pelo que se ficaram pela neutralidade. Com a chegada ao quartel do Agrupamento November, com tropas vindas de Viseu, Aveiro e Figueira da Foz, aderiram ao MFA pelas 18 horas.

Na Escola Prática do Serviço de Material estavam, desde data não mencionada, dois carros de Combate M-47, sob o controlo directo do Ministro do Exército. Os militares da EPSM conseguiram que a neutralidade fosse garantida.

As forças da Policia de Segurança Pública e da Legião Portuguesa, não localizei qualquer actuação, mantendo-se pela “neutralidade”.

A Guarda Nacional Republicana recebeu instruções para actuar em duas situações: primeiro vindo do lado da estação de Santa Apolónia, aguardava ordens para actuar na área do Terreiro do Paço e, mais tarde, tentando cercar as forças que se encontravam no Largo do Carmo, mas retrocederam a quartéis.

A Direcção Geral de Segurança acabou por ser neutralizada pela Força de Fuzileiros do Continente, depois de ter reagido, abrindo fogo, sobre a multidão.

Odivelas, 29 de Março de 2024
José Marcelino Martins

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Nota do editor

[1] - Sobre o levantamento das Caldas em 16 de Março de 1974, vd. posts de José Martins de:


12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25378: Consultório Militar do José Martins (76): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte I

13 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25381: Consultório Militar do José Martins (77): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte II

14 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25385: Consultório Militar do José Martins (78): Dia 16 de Março de 1974 - Parte III - O dia

15 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25392: Consultório Militar do José Martins (79): Dia 16 de Março de 1974 - Parte IV - O dia

16 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25395: Consultório Militar do José Martins (80): Dia 16 de Março de 1974 - Parte V - O dia

17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25402: Consultório Militar do José Martins (81): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VI - O dia

e
18 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25408: Consultório Militar do José Martins (82): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VII (e última) - Os dias depois