sábado, 26 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16764: Efemérides (241): a Op Abencerragem Candente foi há 46 anos: lembrando os nossos mortos, incluindo o Joaquim Araújo Cunha, e evocando aqui a figura do valoroso guia e picador das NT, Seco Camará (Bambadinca), rival do Mancaman Biai (Xime)...



Caldas da Rainha > RI 5 > 1968 > O futuro furriel miliciano David Guimarães, de minas e armadilhas [, CARt 2716, Xitole, 1970/72], está a tocar viola, rodeado de camaradas que, como ele, estavam a fazer a recruta no RI 5 das Caldas da Rainha, no CSM - Curso de Sargentos Milicianos. Lá ao fundo, à direita e em último plano, uma carinha pequenina, é o Joaquim Araújo Cunha (assinalado com um círculo a vermelho).... Era de Viana do Castelo. Viria a morrer em combate, na região do Xime, na Op Abencerragem Candente, em 26 de Novembro de 1970; pertencia à CART 2715, unidade de quadrícula do Xime, que integrava o BART 2917, chegado há poucos meses ao Setor L1 (Bambadinca)

Foto (e legenda): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 536 (Xime e Bambadinca, 1963/65) >  Manifestação de portuguesismo dos mandingas do Xime, ostentando a bandeira das quinas,,,  "O homem do chapéu colonial era nosso guia e morava junto ao quartel. O mais alto, acho que era o chefe da tabanca. Ia connosco para o mato e, devido à sua altura, salvou-me de morrer afogado numa bolanha perto do Xime, num dia para esquecer."

Segundo o "menino do Xime",  José Carlos Mussá Biai, o picador não era o Seco Camará, que irá mais tarde, em 1969, mudar-se para Bambadinca. O chefe da tabanca era o  tio do Zé Carlos, pai do Mancaman Biai, "rival" do Seco Camará.


Foto (e legenda): © Libério Candeias Lopes (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Carlos Mussá Biai , com data de ontem

Data: 25 de novembro de 2016 às 13:39
 Assunto: Seco Camará e Mancaman Biai


Olá, Luís, viva


Do meu tio Mancamam [Biai]  e sobre aquela época não sei nada, porque,  como sabes,  na altura eu era criança e não entendia nada..., só sei que havia guerra que estava a ceifar vidas, mais nada...

Quanto ao Seco Camará,  do que ouvi dizer, não sei se foi assim ou não, foi ele quem fez falsas denúncias de que havia colaboradores do PAIGC na população de Xime.

Esta foi provavelmente a razão porque os meus irmãos e primos se alistarem no exército, como prova de lealdade,  e que nada do que o Seco dizia era verdadeira.

Também ouvi dizer que ele acusou algumas pessoas de o querem envenenar.

Suponho que foram algumas destas questões que o fizeram mudar-se para Bambadinca, porque ninguém quererá viver numa terrinha como o Xime onde deixou de ter amigos.

Um abraço e bom fim de semana,

Zé Carlos


2. Comentário do editor LG:

Faz hoje 46 anos que o Seco Camará morreu, juntamente com uma secção quase inteira, 5 camaradas da  CART 2715, subunidade de quadrícula do Xime , com seis meses de Guiné, numa operação em que participei, no subsetor do Xime (Op Abencerragem Candente) (*)... 

Foram os 6 primeiros homens abatidos de uma enorme coluna apeada, composta por 2 destacamentos, cada um com 3 grupos de combate, ou seja, no total cerca de 180 homens... Ajudei a recolher os seus restos mortais... alguns tão reduzidos que cabiam embrulhados num dólmen (como foi o caso do Seco Camará)...

Fez connosco (CCAÇ 12) diversas operações ao longo da nossa comissão, fez operações com a CART 2339, do Torcato Mendonça, da CART 2520, do  José Nascimento,  e com outros camaradas que estão aqui na Tabanca Grande, e que passaram pelo Setor L1 em diferentes épocas...

Aquela operação foi-lhe fatal... a ele que tinha guiado milhares e milhares de homens pelas matas do Xime e do Corubal, desde os primeiros anos de guerra, e detectado e levantado dezenas e dezenas de minas... 

Morreu, à roquetada, no dia 26/11/1970...

O seu nome também não consta na lista dos "nossos" mortos (, pelo menos na lista da Liga dos Combatentes)... Um primeiro pensamento que me ocorre, é de espanto e de indignação, esperando que no entanto que isto não tenha passado de um lapso ou de falha da máquina burocrática do exército...

Afinal, o Seco Camará nem sequer era milícia.  Os milícias, por sua vez,  não eram militares, mas foram combatentes... E que combatentes, muitos deles!... O Seco Camará não era nem podia ser um simples civil: era considerado o melhor (ou mais leal) dos nossos guias, e um exímio e corajoso picador. Usava  a farda camuflada do exército português e tinha uma G3 distribuída. 

No  Xime não havia milícias, os outros guias e picadores  não gostavam dele. Daí talvez a sua transferência para Bambandinca, ao tempo ainda da CART 1746 e do BCAÇ 2852.

2. Excertos sobre a figura do picador e guia das nossas tropas, Seco Camará, morto faz hoje 46 anos, no decurso da Op Abencerragem Candente (**), subsetor do Xime, Setor L1 (Bambadinca), em 26/11/1970, 4 dias depois da invasão de Conacri (Op Mar Verde)... Começamos hoje com um apontamento do Torcato Mendonça, alf mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69):


(i) Torcato Mendonça:

(...) A mim contaram-me que esta emboscada pode ter sido um erro de alguém. O furriel Xico Carvalho, da CART 2715, meu amigo do peito, em conversa (ou foi por escrito?),falou-me da morte do Seco Camará, mandinga e um velho amigo de muitas operações por aqueles lados.

Parece ter havido um erro de um graduado... Não sei, e, para o caso, é agora irrelevante. A emboscada, com essas características, tinha o comando de um ou mais internacionalista cubanos. Um deles, precisamente numa nossa destruição, com a CART 1746 ao Poindon fugiu, perdeu o boné com fotos, mas muito,mas muito lamentávelemte levou a cabeça. O Seco, se lhe fosse entregue metade do valor de cada mina detectada e paga justamente pelas NT, era um mandinga rico. (...)

Eu não participei desta operação [, já tinha regressado há à metrópole quase uma no antes]. mas passei muitas vezes por lá [, pelo subsetor do  Xime] e o Seco era meu amigo. Em operações trocávamos a ração de combate... "Rabo de rato, rabo de rato",  dizia ele ao ver a lata de conserva de polvo ou lulas. Eu dizia: "Toma lá sardinhas"... Porco, não,...coisas entre ele e o Alá. (...)


(ii) Excerto do desenrolar da acção (Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970)


(...) Três horas depois, pelas 8.50h, [do dia 26], já perto da Ponta do Inglês, o IN desencadearia uma violenta emboscada em L sobre a direita, precedida por um tiro isolado que foi confundido com um sinal de aviso duma eventual sentinela avançada, e que apanhou na zona de morte os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12].

Os primeiros tiros do IN, especialmente de LRockets, atingiram mortalmente o picador e guia do Agr B [CCÇ 12], Seco Camará, que ia na frente, e os quatro homens que o seguiam, incluindo um graduado [furriel miliciano Cunha], tendo ferido gravemente outro [Agr C].

Com rajadas sucessivas de LRockets e armas automáticas o IN, fixando as NT, lançou-se ao assalto sobre os primeiros homens, mortos ou gravemente feridos, conseguindo apanhar-lhes as armas, e só não os levando devido a pronta reacção das NT.

É de destacar aqui a acção heróica dos soldados Soares (CART 2715), que veio a ser mortalmente ferido, Sajuma (apontador de bazuca do 4º Gr Comb/CCAÇ 12) que ficou ferido numa perna, e Ansumane (apontador de dilagrama, também do 4º Gr Comb/CCAÇ 12, ferido ligeiramente nas costas), que se lançaram ao contra-ataque, juntamente com outros camaradas e alguns graduados, a fim de quebrar o ímpeto do IN e de recolher os mortos e feridos.

0 ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r que incidiram sobre a estrada, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (l° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores.

(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (l Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector Ll).

Sob a protecçãodo helicanhão (que seguia para Mansambá no momento em que foi pedido o apoio aéreo), os 2 Agr regressaram ao Xime, com 2 Gr Comb do Agr B [1º e 2º da CCAÇ 12] a abrir caminho por entre a mata densa, 1 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] a manter segurança à rectaguarda e os restantes empenhados no transporte dos feridos e mortos, tendo as helievacuações sido feitas numa clareira já perto de Madina Colhido e depois de percorridos mais de 5 Km, em condições extremamente penosas [No helicóptero vinha uma ou mais enfermeiras-paraquedistas].

Notícias posteriores [ não se indica a fonte...] admitiam que nesta emboscada o IN tivesse sofrido 6 mortos. Entretanto, desta reacção do IN contra a penetração das NT num dos seus redutos, concluiu-se que aquele foi excepcionalmente bem comandado porque:

(i) escolheu um local que por ser muito fechado dificultava a manobra;

(ii) utilizou pessoal em cima de árvores para ter uma melhor visão e comandamento sobre as NT;

(iii) tinha a retirada preparada com armas colectivas (morteiro, canhão s/r) que só se revelaram na quebra de contacto;

(iv) fez fogo de barragem, especialmente de LRockets, sobre o Gr Comb que seguia na vanguarda, permitindo lançar-se ao assalto. (...) (**)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de novembro de 2016  >  Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1946-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...

(**) Vd. postes de:

26 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Camdente (Xime)...(Luís Graça)

11 de maço de 2010 > Guiné 63/74 - P5974: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (3): O velho picador, Seco Camará

Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...


Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > 20º Pel Art / BAC 1 > O obus 10.5... Na imagem, o fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12.



 Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 >  A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... 

É uma imagem que se repetia ao longo dos meses, sempre ou quase sempre que havia operações à península da Ponta do Inglês, nomeadamente na época seca.  Como acontecerá em 26/11/1970 (*), já no tempo da CART 2715 / BART 2917, a subunidade de quadrícula do Xime que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art QP Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro)... 

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714, CART 2715 e CCÇ 12), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno (**)...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem  enviado por telemóvel ao editor do blogue pelo cor art ref Vitor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), DFA, ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72) (***)... 


É um documento humano extraordinária, escrito dois anos antes  da morte do nosso camarada, que ficou marcado para sempre por este trágico evento. Tive com ele algumas conversas, ao telefone, nem sempre agradáveis, nos primeiros meses de 2012... Ele acompanhava e adorava o nosso blogue mas, no início desse ano,   começou a reagir, negativamente,  a algumas referências à Op Abencerragem Candente e ao facto do seu nome estar associado a esta tragédia.

Temos diversas referências a esta operação, a mais antiga das quais é a do poste P7, de 25 de abril de 2005 (****).

A situação ter-se-á agravado com a publicação, dois anos antes (!),  de um relatório do QG de avaliação do desempenho (segurança, limpeza, disciplina, comando, etc.) do BART 2917 e suas sbunidades de quadrícula e adidas, de que nos fora disponibilizada uma cópia, em suporte digital, pelo Benjamim Durães e pelo Jorge Cabral, se não erro. Como cmdt do Pel Caç Nat 63, o Jorge Cabral também era um dos visados pelos homens do Com-Chefe.

O Amaro dos Santos começou a dar  claros indícios de um patológico complexo de perseguição e vitimização. Acabámos por retirar esse documento, por entendermos que ele violava (ou podia violar) as nossas regras editoriais, ao pôr em causa o comportamento de camaradas nossos que tinham assumido funções de comandantes operacionais, como era o caso do jovem cap art Amaro dos Santos.

Quisemos, além disso, e sobretudo, poupá-lo a mais sofrimento e evitar uma escalada de acusações e até de ameaças, pela parte dele,  e que poderiam configura um caso de "cyberbullying", como diríamos hoje.

Guardei pelo menos 7 mensagens que ele me mandou, por telemóvel, entre 15/2/2012 e 13/6/2012. E entre elas uma, que me tocou muito, por que reveladora da sua sensilidade humama, por ocasião da morte do meu pai, Luís Henriques (1920-2012).

Nunca mais estive com ele depois dessa trágica manhã de 26/11/1970. Em 1/1/1971, ele  deixa o comando da CART 2715, por razões de saúde, sendo evacuado para  o HM 241, em Bissau, e depois para a metrópole. Infelizmente não temos nenhuma foto dele nem temos mais ninguém,  vivo, da sua antiga companhia,  na nossa Tabanca Grande. 

Reconstituimos, várias vezes, ao telefone, esta maldita operação, cuja memória trágica nos perseguia a ambos. Eu recordo hoje, mais uyma vez,  os bravos camaradas que tombaram na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês, na manhã de 26/11/1970, o Cunha, o Ribeiro, o Soares, o Monteiro, o Oliveira e o Camará.

Recordo também aqueles que, como o Amaro dos Santos, viveram (ou têm vivido), toda a vida, "o inferno do Xime". (Há ainda mais dois camaradas da CART 2715 que morreram na zona da Ponta do Inglês em data posterior, .já em 1971, . incluindo um alferes)

Por minha decisão, e como homenagem a título póstumo, o Vitor Manuel Amaro dos Santos entrou,  em 28/2/2014,  para a nossa Tabanca Grande, passando a figurar na lista dos 50 camaradas e amigos da Guiné que. até à data,  "da lei da morte se foram libertando". (LG)



Ando a viver o inferno do Xime [em caixa alta]. 
Minuto a minuto. 
Ambos sofremos isso. 
[Você] sabe tudo [o] que fiz para evitar a tal op[eração]…
Sem a CCAÇ 12 talvez tivesse “acampado” [sic
em Gundague Beafada. 
Não existia estrada [Xime-Ponta do Inglês]…. 
Era tudo mata densa… 
Qual dispositivo [?!].
Aceito que o estado maior do CACO [sic
tenha feito relatório 
[, incriminando-me,
porque não denunciei [a] discussão c[om] Anjos [sic
[, 2º cmdt do BART 2917].

Aliás [a] História[da] Unidade diz 
embos[cada] [na] estrada.
[O] relatório [da] op[eração] 
[foi] feito [por] Anjos e cap[itão] Brito 
[, cmdt da CCAÇ 12]. 

Evacuado [, em 1 janeiro de 1971], fui bode expiatório.
Essa op[eração] alterou para sempre 
[o] meu (des)equilíbrio [sic] psico[lógico].  
Amo a paz e os meus rapazes… 
Choro os mortos. 
Os vivos dão-me amizade  q[ue] muito prezo. 
Também tenho filhos e netos… 
Têm orgulho de mim… 
Os seus de si…


Queria ser seu camarigo [sic]… 
mas de pleno direito! 
Se nada me move 
contra quem viveu comigo tal inferno [sic]… 
Se acha que tenho culpa, 
prossiga firme mas s[em] convicções. 

Até sempre camarigo. 
Um abraço sincero. 
Amaro dos Santos, 
2/3/2012, 
10h50

[Revisão / fixação de texto: LG]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) (1/50000) (pormenor) > As principiais referências toponómicas da subregião do Xime: um triângulo definido pela (i) margem esquerda do Rio Geba (a norte), (ii) a Foz do Rio Corubal (a oeste) e (iii)  a estrada Xime-Bambadinca (a leste): Xime, Ponta Varela, Poindom, Ponta Colhido, Gundagé Beafada, Baio, Buruntoni... e estrada (abandonada) Xime-Ponta do Inglês (destacamanento do Xime, retirado em finais de 1968)...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

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(****) Vd. poste de 25 de abril de 2005 >  Guiné 63/74 - P7: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970)

Guiné 63/74 - P16761: Parabéns a você (1167): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16755: Parabéns a você (1166): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16760: Notas de leitura (905): "Adeus África - A Hiistória do Soldado Esquecido", romance de João Céu e Silva, Guerra e Paz, 2015 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
O jornalista e escritor João Céu e Silva acometeu-se a uma enorme tarefa: uma história de amor e guerra que atravessa os vários cenários do conflito colonial. Um atirador de elite que se refugia numa mina abandonada em Angola, no desencadear do conflito civil, em 1975 e regressa a Portugal depois de repatriado em 1986.
Não falta informação, o grande problema é que o excesso vai provocar confusão ao leitor, temos para ali cenários mal iluminados, figuras que se vão baralhar na leitura, o que é lastimável quando a proposta de carpintaria tem muitos aliciantes e a trama podia ter a sua vida facilitada com os testemunhos de cinco amigos do atirador Afonso, cujas tiradas, tantas vezes monocórdicas, retiram o elã à leitura, e nada pior que uma certa indiferença entre o leitor e o narrador.
Continua por preencher o espaço de um romance de primeiríssima água que atravesse a guerra colonial. E não é por pôr o atirador Afonso a conversar com Che Guevara, a ir para a cama com a jornalista Christine Garnier e a ouvir as histórias de Ryszard Kapuscinski, um dos maiores repórteres de todos os tempos, que se solucionam as falhas do romance histórico que, ao que parece, nenhum dos antigos combatentes da guerra colonial parece capaz de escrever.

Um abraço do
Mário


Adeus África, por João Céu e Silva

Beja Santos

Tome-se o ponto de partida e reconheça-se a originalidade que se propõe para a trama do romance: onze anos já passaram desde a partida das tropas portuguesas de Angola (10 de Novembro de 1975) quando é descoberto numa mina de ouro o atirador especial Afonso que ali se escondeu. É capturado, repatriado e passa a ter acompanhamento psiquiátrico. Este atirador especial combateu nos três teatros de operações e irá relatar ao psiquiatra as diferentes vicissitudes que passou durante a guerra colonial, como a percebeu. Quando o romance “Adeus África” caminha para o final, Afonso confessa-se:
“Para que acredite em mim, tenho que lhe falar da minha adolescência, que foi em parte passada em Portugal. Eu era filho de uma família com boas posses e eles acharam que eu devia tornar-me o mais português possível. Então, mandaram-me estudar em Lisboa e fui parar ao lugar menos indicado que existia nessa altura na capital para formar a consciência de um angolano favorável á ocupação portuguesa. Tratava-se da Casa dos Estudantes do Império. A Casa era exatamente o contrário daquilo que os meus pais desejavam para mim”.

Temos aqui o soldado esquecido a quem cabe a descrição horizontal da vida colonial, da guerra, da descolonização. Ideia que está a fazer caminho, no momento em que escrevo já vi nas livrarias o título de “O último retornado” e Barata Feyo acaba de escrever um romance sobre o último combatente português. A trama do romance de Céu e Silva propõe os ingredientes clássicos de que o narrador é o portador das confissões e se irão juntar outros convocados que conheceram o soldado esquecido. Trama mais aliciante não se podia esperar.

O desapontamento vai para a carpintaria que se apresenta pantagruélica em dados essenciais e não essenciais: há excesso de Foz Côa onde presumivelmente Afonso se enforcou, temos aqui um pretexto para a exibição de conhecimentos sobre pintura rupestre; intermitentemente, ouvimos a Rádio Futuro, são textos metafóricos sobre a complexidade das coisas da guerra, nem sempre é conseguido, provoca distração e quebra narrativa; o atirador Afonso parece falar como um autómato, ao longo dos meses, quer no consultório psiquiátrico quer nos passeios que dão na Praia da Caparica, o atirador tem a mesma toada discursiva, a mesmíssima carga emocional; a criação da figura dos gémeos, Martim e Afonso, que podia ter o condão de introduzir a dúvida de quem é que o psiquiatra verdadeiramente era fiel depositário de um testemunho ímpar sobre a guerra colonial, gera uma certa perplexidade, até porque os gémeos tinham estabelecido entre si uma relação truculenta… Céu e Silva não conseguiu controlar o caudal informativo que dispõe sobre a guerra colonial, que é impressionante, e afoga o leitor com figuras importantes e outras meramente residuais. O que podia ter sido um romance fabuloso, o primeiro, a pôr em grande ecrã um testemunho sobre as três frentes da guerra colonial, gera deceção. Tanto mais que o escritor deixa claro que “Sendo ficção, foi muito influenciado pela recolha feita de Norte a Sul de vários depoimentos de ex-combatentes que estiveram nos três cenários de guerra em várias funções. Testemunhos cotejados numa ampla consulta de investigações, teses, artigos, verbetes e textos digitais de vários autores nacionais, africanos e académicos estrangeiros; comprados com a leitura de textos da época para confirmar situações e recriar o ambiente vivido no Ultramar de forma mais fiel possível”. Não chega, um romance tem que ter sopro anímico. O uso de hipérboles como o incêndio do Chiado é curioso mas um romance é mais que uma tirada operática.

A despeito desta enorme reserva, é reconfortante ver que subjaz a este romance uma preparação invulgar, onde o autor presta homenagem a colegas seus do jornalismo como Ryszard Kapuscinski, considerado um dos dez maiores repórteres do século XX:
“Naqueles dias antes da independência de Angola eu convivi muito com um jornalista polaco que vivia no Hotel Tivoli. Chamava-se Kapu. Ele escrevia sobre o conflito entre os três movimentos pelo domínio da colónia portuguesa mas nos intervalos dava-lhe para filosofar sobre a realidade do que ocorria no território. Numa dessas vezes perguntou-me se eu tinha reparado que, desde que o Exército português partira, a grande maioria dos cães estavam mais magros e a desaparecer. Mas a história do Kapu que nunca esqueci era uma mais poética. Ele dizia que nascia uma outra cidade dentro de Luanda, e que era feita de caixotes com os pertences que os portugueses que abandonavam Angola queriam levar consigo. Até que houve um dia, como se navios de piratas tivessem saqueado Luanda, em que essas caixas foram embarcadas, levando dentro delas a cidade que os portugueses construíram durante séculos, como se deslizassem sobre o oceano à procura dos seus donos”.

Um romance que não se pode ignorar e que deixa a esperança para um grande romance sobre aquela guerra colonial que, parece, não sairá o punho de quem nela combateu.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16742: Notas de leitura (904): "Textos de Amílcar Cabral - Declarações Sobre o Assassinato" (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16759: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (107): meninos do Xime: a Sene Sancó era minha prima porque a irmã mais nova da minha mãe era madrasta dela e a tia dela (irmã mais nova do pai dela) era minha madrasta (José Carlos Mussá Biai, engenheiro florestal, Lisboa)



1. Mensagem do José Carlos Mussá Biai, "menino do Xime" em 1970, hoje engenheiro florestal radicado em Lisboa, membro da nossa Tabanca Grande desde a primeira hora:

Data: 25 de novembro de 2016 às 13:39

Assunto: fotos de José Nascimento e Domingos Fonseca

Olá, Luís, viva
Foto nº 1

O pai da minha prima Sene Soncó, chamava-se Ansu Soncó, nunca foi picador, era mais ou menos da idade do meu pai.

O meu pai tinha um irmão (do mesmo pai e mãe),  de nome Mancaman,  e um primo-irmão (os pais é que são dois irmãos) com o mesmo nome. Foi este último que era picador, o Mancaman Biai.

A Sene era minha prima porque a irmã mais nova da minha mãe era madrasta dela e a tia dela (irmã mais nova do pai dela) era minha madrasta.

O meu irmão que casou com ela era o Fodé Biai,  o primeiro a contar da direita para esquerda nesta foto do Domingos Fonseca [foti nº 1].

Um abraço e bom fim de semana,
Zé Carlos

Foto nº 2 

2. Pergunta anterior do editor:

Zé Carlos:
O pai da tua prima Sené Sancó era o picador e guia que aparece na foto [nº 2]? Se sim, era o teu tio Mancaman Biai ? Ou a Sene era tua prima pelo lado materno, da tua mãe? Donde lhe vinha o apelido Sancó? E qual dos teus irmãos casou com ela ? [oto nº 1]... 

Guiné 63/74 - P16758: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (1): Amílcar Cabral e os desertores portugueses: os casos dos 1ºs cabos Armando Correia Ribeiro e José Augusto Teixeira Mourão


Guiné  > Região Óio > PAIGC > Base de Sará > c. 1966 > É muito provável que os indivíduos, brancos, sentados, e assinalados por elipse a vermelho, sejam os desertores portugueses José Augusto Teixeira Mourão e Armando Correia Ribeiro. Tinham "livre trânsito"  nas bases do PAIGC mas provocaram alguns dissabores a Amílcar Cabral, antes do posterior envio para Argel... Desconhece-se o fim desta história...
Foto do Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, com a devida vénia. (JA)

Citação:

(1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC, base no interior da Guiné", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43576 (2016-11-20).





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona. Damos início a uma nova série, da sua autoria, "(D)o outro lado do combate".


1. Introdução 

Na elaboração da anterior narrativa [P16721] (*), a terceira relacionada com a entrevista ao médico-cirurgião Virgílio Camacho Duverger (1934-2003), foram incluídas referências a casos de deserção de militares das NT, nomeadamente o dr. Mário Moutinho de Pádua, considerado o primeiro oficial desertor da história da Guerra do Ultramar, ocorrida em Outubro de 1961, em Angola [Alf Mi Médico do BCAÇ 88].

Decorridos seis anos após essa sua tomada de decisão, o dr. Mário Pádua acabaria por integrar uma equipa de clínicos cubanos em missão de apoio ao PAIGC, primeiro no Hospital Militar, em Boké, na Guiné-Conacri, durante os meses de julho e agosto de 1967, fixando-se depois no Hospital de Ziguinchor, no Senegal.

Referiram-se, ainda, os casos de David Ferreira de Jesus Costa [David Costa], soldado da CART 1660 (1967/1968), aquartelada em Mansoa, que em 17 de maio de 1967 foi aprisionado na mata circunvolvente ao quartel por grupo de guerrilheiros, e o de Manuel Fragata Francisco [Manuel Fragata], soldado da CART 1690 (1967/1969), sediada em Geba, que ao ficar ferido em combate na “Op Invisível”, realizada em 19 de dezembro de 1967, na mata do Oio, não lhe permitiu retirar-se do local por ausência de mobilidade própria, sendo igualmente aprisionado. Em ambos os casos os militares portugueses foram levados para a base [Lar/Hospital] de Ziguinchor.

Por lapso, associei o nome de David Costa ao de Daniel Alves [militar identificado com "dupla deserção"] e que fora noticiada por Amílcar Cabral [1924-1973] em nota, por si manuscrita, enviada aos seus camaradas no início de janeiro de 1969 [P16722] (**).

Da pesquisa realizada para encontrar alguma referência acerca do caso do Daniel Alves, fugido de Dacar no final do ano de 1968, tendo por fonte privilegiada a «Casa Comum – Fundação Mário Soares», ela não produziu qualquer resultado. Porém, tive acesso a outros documentos relacionados com o tema “deserções”, pelo que decidi partilhá-los convosco, elaborando, por ordem cronológica de acontecimentos, mais esta pequena narrativa.


2. OS casos de Armando Correia Ribeiro, da CCAV 789, e de José Augusto Teixeira Mourão [, unidade desconhecida] 

A referência a estes dois militares metropolitanos que decidiram desertar de unidades do exército português em missão no CTIG foi encontrada em documento, sem data, manuscrito por Amílcar Cabral, em francês,  e que abaixo reproduzimos. Os nomes referidos são:

(i) Armando Correia Ribeiro, 1º cabo  ["caporal"], n.º mecanográfico 1919/64, da CCAV 789, com 24 anos de idade, natural de Coimbra, e chegado a Bissau a 28 de abril de 1965. [Repare-se na subtileza do apontamento de Amílcar Cabral: "séjour dans notre pays depuis le 28 avril 1965", ou seja, "permanência do nosso país desde o dia 28 de abril de 1965"];

(ii) José Augusto Teixeira Mourão, 1º cabo, n.º mecanográfico 3426/64, unidade militar desconhecida, com 23 anos de idade, natural do Porto, e chegado a Bissau a 6 de abril de 1965.



Citação:
(s.d.), "Informações relativas a dois militares do exército português", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41210 (2016-11-20)


Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07058.016.013
Título: Informações relativas a dois militares do exército português
Assunto: Informações relativas a dois militares do exército português: Armando Correia Ribeiro e José Augusto Teixeira Mourão.
Data: s.d.
Observações: Doc incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral 1961-1963
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos




Galhardete da CCAV 789

Uma vez que não existe no espólio do nosso blogue qualquer elemento historiográfico da CCAV 789, tendente a ajudar-nos a entender as razões ou as motivações que estiveram na origem da deserção do Armando Correia Ribeiro, avançámos para a elaboração do quadro de baixas em combate verificadas nesta unidade durante a sua comissão, com relevância para as respectivas datas
De referir que a CCAV 789, a terceira unidade operacional do BCAV 790, instalado em Bula, chegou a Bissau a 23 de abril de 1965 e o regresso à Metrópole verificou-se a 8 de fevereiro de 1967. As duas viagens foram realizadas a bordo do N/M Uíge. A CCAV 789 esteve aquartelada em Teixeira Pinto e Binar.

Quadro estatístico do autor - Fonte: http://ultramar.terraweb.biz/Convivios_Imagens/BCAV790/BCAv790_osmortos.pdf, (com a devida vénia).

Quanto ao caso do José Augusto Teixeira Mourão, desconhecem-se, igualmente, os antecedentes que o levaram a desertar do exército português, a que se adicionam todos os elementos relacionados com o seu currículo militar [a não ser que o nosso camarada e colaborador permanente do blogue, José Martins,  nos possa ajudar neste âmbito].

No entanto, a primeira referência de que há registo sobre José Augusto data de junho de 1966 e foi relatada pelo médico cubano Domingo Diaz Delgado no primeiro fragmento da sua entrevista [P16234] (***).
Recuperamos essa passagem: 

[…] Lilica Boal [...] levou-me a sua casa [em Dacar], aonde permaneci três ou quatro dias até que me dão a conhecer [junho de 1966] um desertor do exército português, de nome José Augusto [José Augusto Teixeira Mourão], e apresentam-me como admirador do Movimento e que queria participar na guerrilha contra o seu governo. A este ex-militar deram-lhe numerosos detalhes e dizem-lhe que sou cubano. 

Desde aquele momento não fiquei tranquilo e pedi que me mudassem de casa, pois não confiava naquele homem [, o José Augusto]. Mudam-me para outra moradia, onde fiquei mais um dia. […]

 O principal trabalho em Sará [base], durante esses meses [julho a dezembro de 1966], foi a extração de dentes. Tenho um caderno onde registei a quantidade de pessoas que tratei, incluindo o português desertor [José Augusto] que me apresentaram em Dacar, que depois se confirmou tratar-se de um agente da Inteligência portuguesa [PIDE]. Esse homem permaneceu preso no Norte da Guiné, convivendo connosco nesse acampamento. [...]

Creio que podemos validar, com elevada margem de segurança,
a hipótese de a imagem [, que encima este poste], ser referente à base de Sará, na região do Óio, e ao ano de 1966...

Observando-a com mais detalhe [, imagem à direita,] nela se vê um homem jovem , branco, [provavelmente um militar português] vestido “à civil”, com barba de duas semanas, calçando ténis... Ao seu lado é possível identificar a perna esquerda de um outro corpo, cuja situação deveria ser igual à sua.  Daí podermos considerá-los como sendo o José Augusto e o Armando Ribeiro, fazendo fé nas referências produzidas nos vários documentos a seguir identificados. 

Pelo nº mecanográfico, eram dois militares da incorporação de 1964, um com 24 anos o Armando) e outro com 23 (o José Augusto), na altura em que se entregaram ou foram capturados pelo PAIGC em 1967.  É bem possível que tenha havido, também aqui, razões do foro disciplinar para explicar a deserção. O José Augusto já estava, em Dakar,  com o PAIGC em agosto de  1966.


3. Reunião com os desertores portugueses em 31 de agosto de 1967: 

Por decisão de Amílcar Cabral foi realizada, na data em título, uma reunião com os dois desertores portugueses, onde foram abordados os seguintes pontos [resumo]:

– Desculpa-se de só agora os ter podido ouvir [, aos desertorres].

– Fala do significado da deserção. Refere os cuidados que nós [PAIGC] devemos ter também com os desertores. Referiu o caso de um desertor que levado até Dacar fugiu e hoje se encontra em Bissau [será o caso do David Costa ?]. 

Apesar da nossa boa vontade, dos nossos princípios de humanidade, do nosso bom coração, temos de estar vigilantes. Refere os casos de tentativa de fuga, de um deles lá dentro [?] e de outro, de fuga em Dacar, onde se juntou. Diz ainda que os Relatórios mostram contradições nas suas afirmações.

- Mourão (José Augusto) – Chegou a Dacar. Esteve três dias preso. Liberto, foi para o Lar [Ziguinchor?!]. Dois dias depois foi beber uma cerveja com um camarada nosso (Joaquim), numa taberna de um tal Lima (que é Pide). Este pediu-lhe para o ajudar no seu trabalho. Mais tarde conheceu um tal Germano Monteiro (Pide) que o levou à freira. Conversaram na embaixada e fizeram-lhe perguntas. As suas respostas eram comunicadas ao telefone ao embaixador da Suíça. Depois comunicam com a Lilica [Boal] que, segundo afirma, lhe disse que se quisesse ir para Lisboa esta lhe obteria os papéis [documentos oficiais].

- Amílcar – Esclarece que Lisboa começa mesmo em Dacar com qualquer Pide. Esta pode matar em sua casa o desertor, pode fazer desaparecer o corpo e enviá-lo para Lisboa. Pode também liquidá-lo mesmo na Embaixada ou obrigá-lo à força a sair para Lisboa.


- Lilica Boal  [, Maria da Luz Freira de Andrade, n. 1934, Tarrafal, Santiago, Cabo Verde]– esclarece que é falso o que diz e o que se passou foi o seguinte: afirmou-lhe que se quisesse ir para Lisboa o liquidariam.



Nota: O texto acima corresponde à transcrição da página 1, abaixo reproduzida.



- Fala Armando [Ribeiro] (desertor) – Conta que foi com dois camaradas nossos longe do Sará [base] para ir beber e que se embebedou. Voltou à base e começou a falar sozinho. Depois, porque estava a dizer coisas sem nexo, um camarada criticou-o pelo que disse. O José Augusto começou a provocá-lo e depois jogaram à pancada. 

Em consequência disso, aborrecido, saiu da base à noite e depois encontrou um grupo de guerrilheiros que o conduziu à base. Ia às vezes caçar, mesmo sozinho. Outra vez afastou-se para uma Tabanca, tendo depois sido acusado de tentativa de fuga.

- Pergunta de Fidelis (a José Augusto) – Porque mostrou a figura de Amílcar e de outros responsáveis do Partido a um desconhecido que estava numa taberna, cerca da C.R.P. [Casa de Reclusão do Partido?].

- José Augusto – Explicou a coisa.

- Amílcar – Diz que se tratará o problema da melhor maneira possível. Damos-vos comida, tratamo-los bem, damos-lhes dinheiro. Devem ter toda a confiança. Irão conversar com os camaradas Fidelis, Araújo, Vasco e talvez Armando [Ramos]. Diz que podem comunicar com a família.

- PRESENTES – Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Vasco Cabral, José Araújo, Fidelis Almada, Armando Ramos, Joseph Turpin, Nino Vieira e Lilica Boal.


Nota: O texto acima corresponde à transcrição da página 2, abaixo reproduzida.


Citação:
(1967), "Reunião com os desertores portugueses", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41297 (2016-11-20)



Instituição:  Fundação Mário Soares
Pasta: 07072.125.007
Título: Reunião com desertores portugueses
Assunto: Apontamentos da reunião com os desertores portugueses. Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Vasco Cabral, José Araújo, Fidelis Cabral de Almada, Armando Ramos, Joseph Turpin, Nino Vieira e Lilica Boal.
Data: Quinta, 31 de Agosto de 1967
Observações: Doc incluído no dossier intitulado Relatórios VI 1962-1971.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos


2.2. Pedido de autorização ao Ministro das Forças Armadas da República da Guiné, com data de  5 de setembro de 1967, para envio dos dois desertores do exército português para Argel:

Cinco dias após a realização  desta reunião com os dois desertores portugueses – Armando Ribeiro e José Augusto Mourão – ,  Amílcar Cabral, procurando resolver o problema conforme prometera, solicita, em carta enviada ao Ministro das Forças Armadas da República da Guiné-Conacri [General Lansana Diané (1920-1985)], autorização para o envio daqueles militares para Argel.

Eis a sua transcrição na íntegra [, tradução nossa, do francês para português].

Conacri, 5 de Setembro de 1967

Senhor Ministro das Forças Armadas e do Serviço Cívico 

Conacri

Senhor Ministro e caro companheiro de luta.

Depois de termos desencadeado a nossa luta armada de libertação nacional, vários militares portugueses e africanos desertaram das fileiras das tropas coloniais para se juntarem às nossas forças, abandonando, assim, a guerra colonial. A maioria dos desertores portugueses, dos quais obtivemos o melhor acolhimento, juntaram-se com a nossa ajuda aos movimentos antifascistas de Portugal, após terem passado pela República da Guiné. Outros passaram através do Senegal.

Dois militares portugueses, 1º cabo, n.º 1919/64, Armando Correia Ribeiro, e  1ºcabo n.º 3426/64, José A. [Augusto] Teixeira Mourão, que desertaram das tropas coloniais no Norte do país, foram transferidos para o Sul, encontrando-se presentemente em Conacri. Sujeitos às medidas de segurança necessárias, estes desertores forneceram-nos uma série de informações que considerámos interessantes.

Como os anteriores, gostaríamos de os enviar para a Argélia para inclusão num dos movimentos antifascistas portugueses mais representativo, com o qual temos boas relações [, Frente Patriótica de Libertação Nacional].

É por isso que tenho a honra de lhe solicitar nos conceda, por favor, as autorizações necessárias às suas viagens para Argel.

Aceite, Senhor Ministro e caro companheiro de luta, a expressão dos nossos sentimentos de elevada e fraternal consideração.

P’ Bureau Político do P.A.I.G.C.

Amílcar Cabral
Secretário-Geral

 
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Citação:
(1967), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35016 (2016-11-16)


Instituição:  Fundação Mário Soares
Pasta: 04606.045.134
Assunto: Solicita autorização junto das autoridades de Conakry para enviar dois desertores do exército português para Argel.
Remetente: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC.
Destinatário: Ministro das Forças Armadas e do Serviço Cívico, Conakry
Data: Terça, 5 de Setembro de 1967
Observações: Doc incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografados enviados por Amílcar Cabral 1960-1967
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondência

Para além do escrutínio aos documentos supra, nada mais relevante foi encontrado, pelo que continuará incógnito o que terá acontecido, a partir de 5 de setembro de 1967, na vida de cada um dos nossos dois camaradas, a não ser que, entretanto, surjam novos desenvolvimentos.

Vamos acreditar que tal possa acontecer.  Obrigado pela atenção.

Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
21nov2016.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016~> Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

(**) Vd. poste de 15 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16722: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (22): Quem terá sido o Daniel Alves, "duplamente desertor" ? Primeiro, fugiu das nossas fileiras, possivelmente em 1967, e depois das fileiras do PAIGC... Amilcar Cabral, traído e preocupado, escreveu: "O Daniel Alves conseguiu enganar a malta (sic) e fugiu em Dacar. É um facto banal numa luta (deserção ou traição), mas pode complicar-nos muito a vida em relação aos amigos"....

(***) Vd. poste de 24 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16234: Notas de leitura (852): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte II: a vida dura nas base de
Sara, na região do Oio (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16757: Álbum fotográfico de Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1969/71) - Parte IV: Os bravos da equipa de enfermagem



Guiné >Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Da esquerda para a direita, o 1º cabo aux enf Fernando Sousa, o 1º cabo aux enf Carlos Alberto Rentes dos Santos [, é de Amarante, vive em França], o fur mil enf João Carreiro Martins (,vive em Lisboa) e o alf mil at cav José António G. Rodrigues [, já falecido, vivia em Lisboa; estava aqui de oficial de dia, era cmdt do 4º Gr Comb]


Guiné >Zona leste > Setor L1 >  Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > 1969 Três elementos dos serviços de saúde: o fur mil enf João Carreiro Martins, à sua esquerda o 1º cabo ex enf Fernando Sousa e à sua direita o 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro [, morada actual desconhecida; foi dos primeiros a ser evacuado por doença intectocontagiosa, ainda em 1969)]... Os três militares da CCAÇ 12 estão junto ao momnumento erigido pela  CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Bambadinca, mai - nov 1966; Fá Mandinga, nov 1966 - jan 1968): além de Bambadinca, teve pessoal destacado  em Xitole, Saltinho, Mansambo; Missirá e Dulombi).


Guiné >Zona leste > Setor L1  > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > O  1º cabo aux enf Fernando Sousa,  de regresso a Bambadinca, depois de uma operação no subsetor de Mansambo... Estamos no tempo das chuvas, quie transformavam as picadas em ribeiras caudalosas....



Guiné >Zona leste > Setor L1  > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > O  1º cabo aux enf Fernando Sousa, na chamada ação psicossocial... A população é fula, a tabanca deveria situar-se np regulado de Badora (ou até mesmo no Xime)


Guiné >Zona leste > Setor L1 >  Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 >  1º cabo aux enf Fernando Sousa, vacinando a população... É auxiliado por um colega da CCS/BART 2917 (1970/2), o 1º cabo aux enf, Américo,  natural do Porto e jogador de futebol júnior ...   (Na CCS,   havia também soldados maqueiros que estavam distribuídos pelos destacamentos.)

Pelo vestuário, a população parece-nos ser balanta, do reordenamento de Nhabijões, que tinha muitos parentes no "mato" (leia-se, em tabancas son controlo do PAIGC, ao longo da margem direita do Rio Corubal(...  Alguns vinham, nas calmas e nas barbas da NT, abastecer-se em Nhabijões, ir ao médico a Bambadinca ou fazer compras  no comércio local.

Fotos (e legendas): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa. Era seu superior hieráquico o fur mil enf João Carreiro Martins, membro, também ele, da nossa Tabanca Grande (*).

O Fermando Sousa tem página no Facebook. foi praticante de futebol e tem experiência associativa.

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Guiné 63/74 - P16756: Amigos para sempre (2): Tony Levezinho, boa continuação da viagem pela picada da vida fora, sempre com um olho, à esquerda, à direita, atrás e à frente, nas p... das minas e armadilhas em que podemos cair e "lerpar" (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > CCAÇ 12 (1969/71> c. 1970 > 2º Grupo de Combate > Estrada Bambadinca-Xime > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma

O Tony (Levezinho) e o Humberto (Reis) sentados na "manjedoura"... Era ali, protegidos da canícula, por uma chapa de zinco, à volta de uma tosca mesa de madeira, entre duas árvores,  com vista sobre o espelho de água do rio Udunduma, afluente do Geba..., era ali que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio e os mosquitos...

Na imagem, o Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada  de LGFog de 3.7.   À direita, o Humberto Reis, o nosso "ranger"... e fotógrafo. O 2º Gr Comb ficou, cedo, entregue aos dois furriéis, Levezinho e Reis... O alf mil António Carlão foi destacado... para a equipa de reordenamento de Nhabijões ( a gigantesca tabanca, ou aglomerado de tabancas, de maioria balanta, onde a rapaziada  do PAIGC se dava ao luxo  de entrar e sair quando lhe apetecia...).

Foto: © Humberto Reis  (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > Furriéis milicianos António Levezinho e Luís Graça Henriques, à civil... "enquanto a guerra seguia dentro de momentos"

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados



1. Meu velho camarada e amigo Tony:

Sei que és mais “feicebuqueiro” do que “blogueiro”  (, este último vocábulo já está grafado nos nossos dicionários, tal como "blogue")… Se calhar é um bom sinal (ou uma melhor estratégia) de saúde mental… Para quê voltar atrás. perguntarás tu,  ao tempo e aos lugares onde sofremos, penámos e perdemos uma parte dos nossos verdes anos ?!...

No nosso blogue tens meia centena de referência e no Google Imagens muito mais fotos, que podes visualizar aqui, umas tuas, outras partilhadas por camaradas nossos: 


Da tropa (Campo Militar de Santa Margarida e da guerra (T/T Niassa e T/T Uíge, Guiné, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971) ficou, entre nós, uma bela e serena amizade, que se estendeu às nossas caras-metade, Isabel e Alice,  e filhos, Rita,  Nuno, Joana, João…

Como eu costumo dizer, a amizade é como um jardim, precisa de ser regada, nem que seja uma vez por ano, com um copo de bom vinho,   pela(s) festa(s) de aniversário natalício ou outros eventos sociais!...

De tempos a tempos lá nos vamos encontrando, aqui ou lá em baixo ( na tua Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal) ou falando ao telefone, mas não tantas vezes quanto as que gostaríamos… Desgraçadamente até o teu nº de telemóvel perdi, tive que ir  recuperá-lo,  naquelas velhas listas de papel que a gente tem o bom senso de não pôr no lixo (e que são o "back up" da nossa memória esburacada...), de modo a poder-te mandar ao vivo, como já o fiz esta manhã,  aquele xicoração fraterno e festivo que tu bem mereces no dia de hoje. 

Meu jovem idoso Tony, agora na terceira idade, desejo-te boa continuação da viagem pela picada da vida fora, sempre com um olho, à esquerda, à direita, atrás e à frente, nas p... das minas e armadilhas em que podemos cair e "lerpar"... E essas não são poucas, nesta fase das nossas vidas...

Bom, mas sejamos sempre ativos e proativos, como tu o tens sido, ao longo da tua vida, sabendo agora envelhecer com bom humor, sabedoria e gentileza: o caminho fez-se para caminhar,  e faz-se caminhando, e até aos 100 (5ª idade), é sempre em frente, não tem nada que enganar!…

Um bom “novo” ano, para ti, para a Isabel, para os teus filhos, para o teu neto, para todos nós, teus amigos  e camaradas, para todos nós, "tugas", e já agora para o resto do mundo, porque não podemos viver “apartados”… nem há "muros" que nos salvem... Ah!, sem esquecer a “nossa” Guiné , que também regámos com o nosso sangue, suor e lágrimas...(Ou foi ela que nos "regou" com a seiva dos seus mágicos poilões, cabaceiras e bissilões, ou nos  enfeitiçou com as mezinhas dos seus irãs?)

Amigos, para sempre!

Luís (+ Alice, Joana, João)

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Guiné 63/74 - P16755: Parabéns a você (1166): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Novembro de 2016> Guiné 63/74 - P16749: Parabéns a você (1165): José Saúde, ex-Fur Mil Op Especiais do BART 6523 (Guiné, 1973/74)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16754: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (106): meninos do Xime: numa foto de 1970, do José Nascimento, da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois viria a casar com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim... Infelizmente, ambos já faleceram (José Carlos Mussá Biai, engenheiro florestal, Lisboa)


 Foto nº 1 A >  Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Ao centro, a menina Sene Soncó



Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, de pé, fur Renato Monteiro, um dos picadores e o fur José Nascimento... Em baixo, "meninos do Xime", entre os quais a menina Sene Soncó, prima e cunhada do nosso amigo José Carlos Mussá Biai, que podia perfeitamente estar nesta foto, já que vivia nessa  altura no Xime...

 [O Zé Carlos é membro, da primeira hora, da nossa Tabanca Grande, vive hoje em Portugal onde se formou em engenharia florestal, trabalhando na Direção-Geral do Território (DGT), Direção de Serviços de Informação Cadastral (DSIC), Divisão de Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica (DCG), Rua Artilharia Um, nº 107, 1099 - 052 Lisboa, tel. 21 381 96 00].


Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Os "minos do Xime", na escola primária, mais de 35 anos depois...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 >  Rua principal


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Grupo de antigos combatentes que estiveram ao lado das NT durante a guerra colonial...Entre eles, dois irmãos e um primo do José Carlos Mussá Biai, membro da nossa Tabanca Grande.. (*)


Fotos (e legendas): © Domingos Fonseca  / AD - Acção para o Desenvimento, Bissau (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, natural do Xime. José Carlos Mussá Biai, com data de hoje

Olá,  Luís, viva

Mais uma vez fui surpreendida pela riqueza deste nosso Blog. (**)

Nesta fotografia tirada pelo camarada José Nascimento,  da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois casou com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim. (***)

Ambos, infelizmente já faleceram. Sene há poucos anos e o meu irmão faleceu no dia 27 de julho de 2016, vítima de alergia a um medicamento qualquer que lhe foi receitado no hospital.


Um abraço,

Zé Carlos

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P441: Estou emocionado (J.C. Mussá Biai)

(...) Estou emocionado!...

 (...) As fotos falam por si. Os locais por onde brinquei, onde dei alguns mergulhos... Melhor, ainda as pessoas que me viram nascer, que cuidaram de mim e com quem partilhei refeições, angústias e alegrias. Estou a referir-me aos meus irmaõs mais velhos (sim, meus irmãos de sangue) e de um primo-irmão dos quais lhe falei.

Os meus irmãos são, Fodé Biai, o primeiro a contar da direita para a esquerda e Bacar Biai, o segundo na mesma ordem e Malam Mané, o quarto, dos que estão de pé.

O Fodé e o Malam cumpriram o serviço militar em Farim e depois Bissau, sendo o Malam depois transferido para Bambadinca. O Bacar sempre esteve em Xime.

(...) O curioso de tudo isso, quem tirou as fotografias é um colega meu, o Domingos Fonseca, trabalhei junto com ele na Escola do Ensino Básico Preparatório Amizade Guiné Bissau - Suécia, em Bissau. Ele leccionava a língua portuguesa e eu matemática, antes de ele ir tirar o curso de engenheiro técnico agrário na Argélia. Estive com ele no ano 2000 em São Domingos onde ele estava como responsável de AD." (...)