Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > CCAÇ 153 (1961/63) >
"Após 45 anos ainda identifico o que está de pé ao centro: furriel miliciano João M C Baptista; naturalmente e para os mais distraídos, da figura só o nome restou até ao dia de hoje. Na altura da desmobilização no RI 13 em Julho de 1963, nas costas de uma foto igual à presente, anotei o nome bem como os endereços de todos, nota que há muito teria facilitado a minha tarefa de contacto mas que desapareceu dos meus arquivos. Será que alguém pode ajudar? (...)
"O Primeiro pelotão era comandado pelo Alferes Virgolino, Furriéis: Melo (Ericeira), João Baptista (S. Miguel), José Fernandes" (...).
"CCAÇ 153: Desfilando em Vila Real 30/08/1963. Reconhece-se o seu comandante à frente do porta bandeira"
Vila Real > CCAÇ 153 > "Missa de acção de Graças, Agosto de 1963".
Fotos (e legendas): © João Baptista / Blogue Fulacunda (2009). Todos os direitos reservados. Cortesia da família.
1. Mensagem de L.G., dirigida a João Baptista, autor do blogue Fulacunda, com intenção de lhe pedir autorização para reproduzir algumas fotos suas e convidá-lo a ingressar na nossa Tabanca Grande:
Data: 9 de Julho de 2010 12:43
Assunto: CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/63)
Meu caro João Baptista [ na foto, à esquerda, na recruta, em Mafra, 1959]:
Tento tentado, em vão, ligar para o seu nº telefone de casa. Deixei uma mensagem no "voice mail". Tento agora entrar em contacto consigo por esta via. O meu nome é Luís Graça, sou o fundador e um dos editores do maior blogue sobre a guerra colonial na Guiné.
Quero dar-lhe os parabéns pela sua iniciativa de juntar a rapaziada de Fulacunda, através do seu blogue.
Gostaria de poder falar consigo ao telefone sobre os primeiros tempos da guerra e sobre a acção da vossa CCAÇ 153, no sul da Guiné. Um dos camaradas do nosso blogue é o Carlos Cordeiro, que é professor na Universidade dos Açores, fez a guerra de Angola e teve um irmão, capitão pára-quedista, João Cordeiro, que infelizmente morreu lá, de acidente com pára-quedas, em 1974. Vou pedir ao Carlos, também para o contactar, utilizando o seu telefone e eventualmente a sua morada, que está publicitada no seu sítio, na Net (...).
Espero que esteja bem de saúde. Espero que um dia destes falar um com o outro. O Henrique Cabral, autor do blogue Rumo a Fulacunda, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420 (1965/67), é também membro do nosso blogue.
Um abraço. Luís Graça
2. Na mesma data dei conhecimento do teor da mensagem suprea ao nosso camarada Carlos Cordeiro (bem como ao Henrique Cabral):
Carlos: Vê o que podes saber... O blogue Fulacunda está parado desde 14 de Maio de 2009... Gostava de pedir ao João (sargento reformado, açoriano) autorização para publicar um ou duas fotos... E de falar com ele ao telefone. Tento tentado ligar, já quatro ou cinco vezes, para o nº telefone fixo... Ainda viverá no mesmo sítio ?
Um abraço. Desculpa o abuso. Luís
3. Infelizmente, aquilo que eu suspeitava, tinha acontecido: o João Baptista (ex-Fur Mil da CCAÇ 153, açoriano) já havia morrido, nesse ano, de doença prolongada. Não chegara a realizar o seu sonho, que era a de poder juntar, pela 1ª vez, o pessoal da sua CCAÇ 153, ao fim de quase meio século. Para tanto, fora juntando, desde Agosto de 2006, os "cacos da memória", as fotos amarelecidas, os nomes, os lugares, as datas...
A viúva teve a gentileza de me telefonar para casa. Infelizmente não fui que a atendi, por não estar em casa. Deu o contacto de um amigo e camarada do seu marido, também ele açoriano (embora residente no Continente, mas passando em S. Miguel uma parte do ano) com quem, aliás, me pus em contacto e a quem convidei para integrar o blogue.
A viúva autorizou-me igualmente a usar as imagens inseridas no blogue Fulacunda. É minha intenção homenagear o camarada João Baptista (, de seu nome completo, João Manuel Carreiro Baptista), associando o seu nome ao nosso blogue, se para tal tiver o consentimento da família. Os seus esforços para juntar os seus camaradas da CCAÇ 153 devem ser conhecidos e divulgados, sendo credores do respeito e apreço de todos nós.
Entretanto, dos blogues Fulacunda e Rumo a Fulacunda (este do Henrique Cabral) eu já havia seleccionado dois comentários de gente que pertencera à CCAÇ 153 e que respondera à chamada do João Baptista, para além de um comentário do próprio:
João Baptista
25 de Agosto de 2006
Esqueci: esqueci datas, esqueci nomes e rostos, esqueci situações agradáveis e desagradáveis. Tentei esconder uma vida estranha e eis que com a ajuda de fotografias desbotadas com 45 anos, sobram os cacos de algo que a nossa memória não apagou: uma dor num dente durante toda a viagem de Lisboa, Leixões, Funchal, Mindelo, Praia e Bissau, 10 dias num barco que se chamava Alfredo da Silva, nome registado numa foto no dia do embarque em Lisboa em Junho de 1961, bem como uma amiga, o Octávio e familiares da sua esposa. Como vou editar esta foto?
Complicada a transição do ar condicionado vivido a bordo para o calor e humidade em terras da Guiné Bissau, onde por artes mágicas desapareceu a dor do dente.
E eis que pela primeira vez ouço falar em Fulacunda: sede de concelho, com uma rua principal com 200 metros, onde estavam implantadas as residências Administrativas, o posto dos correios, uma praça com rotunda e algumas das instalações do futuro quartel da CCAÇ 153.
Julgo que foi nos primeiros dias do mês de Julho de 1961 que eu, incorporado no primeiro pelotão iniciamos a viagem por mato que duraria cerca de 12 horas até Fulacunda . Foi naturalmente a primeira demonstração de força bélica que o indígena de então sentiu, com a passagem de uma coluna militar com cerca de 30 viaturas ligeiras e pesadas, carregadas de material, reboques com água, cozinhas e soldados com as suas fardas amarelas de passeio. As fardas de campanha ou camuflados, só mais tarde foram atribuídos.
Fico por aqui juntando os cacos. Um abraço
Octávio do Couto Sousa
2 de Outubro de 2008
(...) Caro Henrique: Percorri demoradamente as fotos e respectivas legendas do “Rumo a Fulacunda” ao mesmo tempo que dialogava com o nosso JMCBaptista, iniciador do blog Fulacunda.
(...) A Companhia 153 proveio do RI 13, de Vila Real, com cabos e praças daquelas redondezas, alguns com nomes das suas terras, o Vila Amiens, o Chaves, etc. Como disse no primeiro escrito, foi uma pena termo-nos separado em Vila Real, terminada a comissão, desejosos todos de partir para as nossas famílias, sem o cuidado de trocar endereços que nestes anos seriam preciosos para nos reencontrarmos. A maioria dos oficiais e sargentos foram mobilizados de outras zonas. No nosso caso e do JMCBaptista, estávamos já na disponibilidade e a viver nos Açores.
O nosso comandante de companhia foi o Capitão, hoje General, José dos Santos Carreto Curto.
Fomos a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Tivemos depois um pelotão em Cacine. Estivemos também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, assim como em Catió, até que tudo se agudizou em termos operacionais. Para Buba chegou uma companhia, a 154, outra para Cacine e por muitas outras localidades foram chegando mais unidades consoante a guerra se intensificava.
As fotos mostram o quartel de Tite onde se instalou o primeiro Batalhão, o 237, ao qual passámos a pertencer como tropa operacional e por questões de organização.
Acompanhámos o primeiro ataque a Tite [, em 23 de Janeiro de 1963,], de Fulacunda sairam reforços nos quais estivemos integrados, visto que o Batalhão, como sede, não estava ainda operacional.
A nossa companhia, a 153, acabou por ficar toda junta e em várias missões percorremos todo Sul na busca e destruição das casas de mato que o PAIGC proliferava por tudo quanto eram zonas mais ou menos isoladas. (...)
José Teixeira da Silva
2 Janeiro 2009
(...) Prezados amigos e companheiros: há quarenta e sete anos, que procuro por toda a parte deste país, notícias da Companhia de Caçadores, n.º 153/59. Em vão procurei encontrar as moradas dos meus companheiros de 'route' [,estrada,] sem resultado. Tendo como base o nome do nosso Comandante de Companhia – capitão José dos Santos Carreto Curto – vi o seu nome há dois anos, integrado no quartel de Santa Margarida, já com a patente militar de Brigadeiro, pensei em contactá-lo mas não o fiz. Não sei explicar porquê, mas enfim, a verdade é que não dei um passo para o fazer. (...)
4. Na Net também encontrei uma notícia sobre o antigo capitão da CCAÇ 153 (que nunca mais se terá cruzado com os homens de Fulacunda, depois do regresso a casa, a Vila Real, em Agosto de 1963):
Com a devida vénia, transcrevo do blogue Memória Recente e Antiga, criado e mantido por João José Mendes de Matos (n. Castelo Branco, 1935; colega de escola e de juventude do futuro Cap José Curto, hoje general, reformado; professor de liceu em Setúbal, reformado) o teor de um recorde de jornal.
Cortesia do Blogue Memória Recente e Antiga > 14 Abril 2008 > Capitão Carreto Curto
Trata-se de uma cópia da publicação, em jornal, da entrevista dada em Bissau, pelo Cap Inf José dos Santos Carreto Curto, em 20 de Março de 1963, a um jornalista da ANI - Agência de Notícias e Informação.
O então Cap Inf José Curto, comandante da CCAÇ 153 (Bissau, Fulacunda, Bissau, 27/5/1961 - 24/7/1963), fora dado como morto pela propaganda do PAIGC (ou por boatos propalados através da Rádio Conacri), depois de feito prisioneiro pelo PAIGC, levado para Conacri, julgado em Tribunal Revolucionário e executado... Natural de Castelo Branco, é hoje general na reforma e tem uma brilhante carreira militar.
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Bissau, 20 - Está vivo, está em liberdade, está de óptima saúde, encontra-se presentemente em Bissau e foi entrevistado pelo correspondente da ANI, o capitão José dos Santos Carreto Curto, de quem um comunicado do PAIGC, ou "Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde", organização subversiva com sede em Conakri, disse que fora preso pelos terroristas, os quais o teriam executado, depois de o haverem submetido a "julgamento em tribunal marcial".
Esse comunicado foi oportunamente desmentido, aliás, pelo Serviço de Informação Pública das Forças Armadas.
O comunicado do PAIGC não surpreendeu o oficial.
Declarou o capitão Carreto Curto:
"Poderia pensar-se que o comunicado recentemente difundido pelo PAIGC, com base em Conakri, me teria surpreendido. Não foi, no entanto, esse, o caso".
O Capitão Carreto Curto prosseguiu:
“O conhecimento progressivo que, durante vários meses me foi dado adquirir, no contacto com populações que sofreram o aliciamento dos chamados movimentos de libertação, no contacto com agentes (responsáveis) desses movimentos, que me revelaram as técnicas que usam e em que foram doutrinados, no exame dos comunicados já anteriormente emanados pelo PAIGC, levou-me apenas a aceitar a notícia em questão como 'mais uma'.
'Mais uma' em que os processos se repetem e que têm cabimento perfeito e ajustado no âmbito das técnicas de propaganda destinadas a conseguir determinados objectivos. Estes objectivos que, na sucessão, definem diferentes fases de todo um plano devidamente arquitectado, têm uma importância e interesse, para os quais não pode haver obstáculos ou objecções.”
“A Mentira é evidente”
O sr. Capitão Carreto Curto disse ainda:
“No comunicado em causa não foi obstáculo a inveracidade dos factos nele relatados. Interessava, sim, convencer a opinião pública da existência de um determinado problema e que o público dele tomasse conhecimento. O objectivo foi, assim, atingido. Pergunto a mim mesmo se terá interesse referir factos, narrar acontecimentos, que possam definir toda a verdade e separá-la da mentira do comunicado. No entanto, julgo que a verdade de eu estar vivo é suficiente, visto que o facto não permite dúvidas, nem duplas interpretações. A mentira é evidente.
Resta apenas a realidade do objectivo do comunicado do PAIGC. Serão o juízo e opinião de cada um que lhe vão ou não conferir o valor positivo que o comunicado pretendeu alcançar ou o valor negativo atestado, pela verdade dos factos.” – (ANI)
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Nota de L.G.:
Último poste da série > 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6943: Em busca de... (142): 1.º Cabo Dório da CCAÇ 2571, Guiné, 1969/71 (João Manuel Mascarenhas)