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domingo, 17 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23437: Nota de leitura (1465): O padre António Vieira (1608-1697), expoente máximo da literatura portuguesa, traduzido em sueco (José Belo)


António Vieira : en högrest gestalt i 1600-talets Portugal, övriga Europa och Brasilien.Inbunden, Svenska, 2020. Författare: Marianne Sandels, António Vieira. 316 kr 

António Vieira: uma figura cimeira em Portugal do século XVII, bem como resto da Europa e Brasil. Capa dura, sueco, 2020. Autor: Marianne Sandels, António Vieira. 316 coroas suecas (c. 30,00 euros)

Infografia: José Belo (2022)


António Vieira ägnade en stor del av sitt liv åt att stödja de hårt exploaterade indianerna i Brasilien. Under långa perioder var han emellertid verksam i Europa. Under ett par år i Rom hade han flera olika uppdrag för drottning Christina av Sverige, som där befann sig i exil.

Både Portugal och Brasilien betraktar António Vieira som en av sina nationalförfattare. Poeten Fernando Pessoa har kallat honom för "kejsaren av det portugisiska språket".

(ii) Tradução, do Google e do editor LG:

António Vieira passou grande parte de sua vida apoiando os sobre-explorados índios  do Brasil. 

Por longos períodos, no entanto, ele esteve ativo na Europa. Com alguns anos em Roma, ele teve várias missões diferentes ao serviço da rainha Cristina da Suécia, que estava lá exilada. Tanto Portugal como o Brasil consideram António Vieira um dos seus grandes escritores nacionais. O poeta Fernando Pessoa apelidou-o de "o imperador da língua portuguesa".


1. Mensagem de José Belo:

Data - terça, 5/07/2022, 17:25

Assunto - Padre António Vieira na Suécia

Caro Luís

Espero que a saúde esteja bem controlada. Nas nossas idades fico-me pela “ bem controlada”.

Vou enviar um texto sobre o tão nosso António Vieira,  agora publicado na Suécia. 

Nunca é demais referir “os nossos“ quando publicados fora de portas. Serão poucos mas... importantes figuras de referência da cultura europeia!

Um abraço,
J. Belo


O Padre António Vieira (Lisboa, 1608 - São Salvador da Baía, 1697) tem agora uma coletânea dos seus textos publicados na Suécia.

“António Vieira-Expoente Intelectual do Século XVII em Portugal, Europa e Brasil “.
Tradução de Marianne Sandels que nela refere o interesse de Fernando Pessoa e José Saramago pela obra de António Vieira.

O primeiro ao considerá-lo o “Verdadeiro Imperador da língua portuguesa" foi  Fernado Pessoa. Saramago, prémio nobel da literatura (em 1998), reconheceu  em muito ter sido influenciado pela característica maneira de formular de António Vieira.

Depois de viajar pela Europa em diversas missões diplomáticas,  terá sido a estadia em Amsterdão que, após contactos com judeus e cristãos-novos expulsos de Portugal,  levou o Padre António Vieira a compreender a verdadeira extensão da perda intelectual, económica e comercial resultante da mesma.

Logo na primeira prédica,  após o regresso a Lisboa,  surge o “messianismo“ que a partir daí marcaria a sua obra.

Na “História do Futuro”, o Portugal de António Vieira tem um papel de vanguarda e utopia.
A restauração da grandeza nacional, com a esperança do “sebastianismo “ e de um “Quinto Império", passa a adquirir na obra de Vieira um…..lugar e tempo!

Uma tradição filosófica e literária que a partir daí tem vindo a adquirir as mais diversas formas, não menos as surgidas na obra de Fernando Pessoa.

Sobre o “Quinto Império “ é interessante o comentário de Eduardo Lourenço,  quando afirma terem sido as prédicas de António Vieira durante o período Barroco o verdadeiro, e único,
“Quinto Império”de Portugal.

Numa perspectiva sueca,  a estadia de António Vieira em Roma está ligada à amizade e admiração intelectual surgida entre este e a rainha sueca Kristina,  então a residir em Roma. (Nasceu em Estocolmo, em 1626, morreu em Roma em 1689; foi rainha da Suécia de 1632 até à sua abdicação em 1654, e à sua conversão ao catolicismo; exilada em Roma, a cidade papal, tornou-se mecenas de artistas e escritores.)

Figura muito controversa no norte europeu por ter abandonado a religião Luterana do Reino, abdicado do trono, convertido ao Catolicismo,e fixado ostentosa residência em Roma. Muito próxima do Papa Alexandre VII, Cardeais e Aristocracia romana, Kristina  passou a ter um muito importante papel na vida cultural, política e social, num período de mais de três décadas.

Nos seus contactos com António Vieira procurou que este se tornasse o seu confessor particular.

Este honroso convite foi ,de forma extremamente diplomática e elegante, recusado pelo mesmo, não interessado em ser arrastado para um ostentoso dia a dia, eivado de intrigas e conflitos palacianos, tanto entre os altos membros do Vaticano, aristocratas romanos, a somarem-se às ambições políticas europeias da Rainha.

Seria um cargo que o levaria a ter conhecimentos de tal modo “inconvenientes” que, a somarem-se à Santa Inquisição que o esperava em Lisboa, seriam…..demasiados!

A Rainha Kristina, que acabou por falecer em Roma, está sepultada (junto aos Papas!) na cripta da Basílica de São Pedro no Vaticano. (Creio ter sido a única mulher que, até hoje, recebeu tal honra).

Um abraço do J. Belo

José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel) do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 225 referências no nosso blogue.

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22956: Historiografia da presença histórica portuguesa em África (301): mapa francês dos anos de 1680 que mostra a região de Casamansa, Cacheu Farim e Bissau

 

La coste d'Afrique | A costa ocidental de África


La coste d'Afrique depuis la  rivière de Gambie  jusques à celle de |Cherbe (?) ou Madrebombe (?), presentée à Monsieur  "monseigneur de Pontchaulyaire (?) | Mapa da costa da África O´cidental desde o rio Gâmbia ao de Cherbe  (?) ou Madrebombe (?), apresentado a Monsenhor de Pontchaulyaire (?)

Eschelle de quarante lieuz (?) françaises et anglaises | Escala de quarenta lugares (?) franceses ingleses


Royaume de Cazamance | Reino de Casamansa

Feloupes sauvages |  Felupes selvagens



Feloupes sauvages | Felupes selvagens 

Feloupes dociles | Felupes pacíficos ... Fort portuguais | Forte português (Cacheu)...Royaume des Baguns  | Reinos dos Banhuns


 Farim colonie portugais... Gesves (?), colonie portugaise | Farim, colónia portuguesa... Geba (?), colónia portuguesa


Cacheau, colonie portugaise... Bolol... île de Boulama... Bissaau | Cacheu, colónia portuguesa...Ilha de Bolama,,,Bissau

R. de St. Domingue... Bolol.. Mata de Poutama (?) | Rio de São Domingos...  Bolor... Mapa de Putama



Fotos (e legendas): © João Schwarz da Silva (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de
 João Schwarz da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, nº 768, desde 30 de março de 2018. (Recorde-se que o João nasceu em Alcobaça em 1944, e foi para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do seu avô Samuel Schwarz em Lisboa, em 1953, voltou para Bissau onde frequentou o Colégio Liceu Honório Barreto, onde a mãe era professora, até à sua vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960; vive em Paris; é o autor da página Des Gens Intéressants, onde tem perpetuado as memórias de amigos e familiares; Tem já uma dezena e meia  de referências no nosso blogue.)


Data - quarta, 26/01/2022, 08:52


Assunto - Mapas da Guiné

Caro Luis

Nas minhas andanças pela BNF - Biblioteca Nacional de França, em Paris,  descobri um mapa muito interessante que mostra a região da Guiné nos anos 1680. Aparentemente o mapa est baseado nas viagens de um Michel de la Courbe que era delegado da companhia do Senegal e que visitou Cacheu, Bissau e Farim.

Aqui vão as imagens.

Um grande abraço

João Schwarz da Silva

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22941: Historiografia da presença portuguesa em África (300): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (5) (Mário Beja Santos)

sábado, 13 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21071: (In)citações (163): Sermão antirracista do Padre António Vieira: "Cada um é da cor do seu coração" (seleção: António Graça de Abreu)

Padre António Vieira (séc. XVII). Cortesia de
Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp Freire,
Santarém
1. Mensagem de António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue]

Sugiro este texto para publicação no blogue (*)



SERMÃO ANTIRRACISTA
do Padre António Vieira

Do SERMÃO XX do Rosário

"Cada um é da cor do seu coração."
Padre António Vieira


ELOGIO DA COR PRETA (**)

O segundo, e segunda causa da grande distinção, que fazem entre si, e os Escravos, os que se chamam Senhores, é, como dizíamos, a cor preta. Mas se a cor preta pusera pleito à branca, é certo que não havia de ser tão fácil de averiguar a preferência entre as cores, como a que se vê entre os homens. 

Entre os homens dominarem os Brancos aos Pretos é força, e não razão, ou natureza. Bem se vê, onde não tem lugar esta força, nem a cor é vencida dela. Quando os Portugueses apareceram a primeira vez na Etiópia, admirando os Etíopes neles a polícia Europeia, diziam: "Tudo o melhor deu Deus aos Europeus, e a nós só a cor preta". Tanto estimam mais que a branca a sua cor. 

Por isso, assim como nós pintamos aos Anjos brancos, e aos Demónios, negros; assim eles por veneração aos Anjos pintam negros, e aos Demónios por injúria, e aborrecimento, brancos. 

Deixando porém os que podem parecer apaixonados, ninguém haverá que não reconheça, e venere na cor preta duas prerrogativas muito notáveis. A primeira, que ela encobre melhor os defeitos, os quais a branca manifesta, e faz mais feios; a segunda, que só ela não se deixa tingir de outra cor, admitindo a branca a variedade de todas; e bastavam só estas duas virtudes para a cor preta vencer, e ainda envergonhar a branca. 

Mas das cores só os olhos podem ser juízes. Vejamos o que eles julgam, ou experimentam. Os Filósofos buscando as propriedades radicais, com que se distinguem estas duas cores extremas, dizem que da cor preta é próprio unir a vista, e da branca disgregá-la, e desuni-la. Por isso a brancura da neve ofende, e cega os olhos. 

E não é isto mesmo o que com grande louvor dos Pretos, e não menor afronta dos Brancos, se acha em uns, e outros? Dos pretos é tão própria, e natural a união, que a todos os que têm a mesma cor, chamam Parentes; a todos os que servem na mesma casa, chamam Parceiros; e a todos os que se embarcaram no mesmo navio, chamam Malungos. 

E os Brancos? Não basta andarem meses juntos no mesmo ventre, como Jacó, e Esaú, para se não aborrecerem; nem basta serem filhos do mesmo pai, e da mesma mãe, como Caim e Abel, para se não matarem. 

Que muito logo, que sendo tão disgregativa a cor branca, não caibam na mesma Congregação os Brancos, com os Pretos?

Padre António Vieira
[ Lisboa, 1608 — Salvador, 1697]

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Notas do editor:

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19438: Agenda cultural (669): As Rotas da Escravatura, série de 4 episódios na RTP 1: 2ª feira, dia 28/1/2019, 3º episódio > 1620-1789: Do Açúcar à Revolta




Na primeira década do séc. XVI, um em cada dez habitantes de Lisboa era negro, ou seja,  de origem africana, sem contar com os seus descendentes... Igual proporção foi encntrada em outras cidades da península ibérica, como Sevilha, Barcelona, Málaga... Fotogramas do 2º episódio (com a devida vénia)




1. A história da escravatura do séc. VII até aos dias de hoje: documentário em 4 episódios, na RTP1... Absolutamente a não perder. Trata-se dum série documental francesa, de que a RTP é umas das produtoras... Levou mais de cinco anos a fazer, e teve a colaboração de quatro dezenas de especialistas.

Pode ler-se no "Público", de 21 de janeiro de 2019, o seguinte sobre os realizadores da série:

(...) Os três autores, Daniel Cattier, Juan Gélas e Fanny Glissant, têm ligações ao tema em causa. Daniel Cattier, filho de pai belga e mãe zimbabueana, tem colocado África e a exploração das questões de identidade no centro da sua filmografia, em que se inclui o documentário animado Kongo: Grand Illusions​.​ Juan Gélas tem no currículo Noirs de France, série documental sobre a História da população negra de França. Já Fanny Glissant, descendente da relação entre uma escrava e o seu proprietário, tem aqui a sua estreia na realização. Há também segmentos animados, uma bem-vinda companhia para os depoimentos recolhidos e para as imagens de arquivo, a cargo de Olivier Patté.(...) 

(...) No segundo episódio, 1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, o foco são os portugueses. São entrevistados, entre outros, investigadores e historiadores como António de Almeida Mendes, da Universidade de Nantes, Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Filipa Ribeiro da Silva, do Instituto Internacional da História Social, em Amesterdão, bem como Izequiel Batista de Sousa, da Universidade de Reunião, que vem de São Tomé, uma ilha muito importante nesta parte da história. Ao longo das próximas duas semanas, analisar-se-ão as plantações de açúcar e algodão, os Estados Unidos e os tempos em mudança que trouxeram com eles a abolição. (...) 


As Rotas da Escravatura

2º episódio disponível "on ine" (durante 7 dias, desde 21 de janeiro de 2019)  >

1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, 52m

Documentários - História

RTP 1 > 2ª feira, 21 janeiro de 2019

Sinopse:

No século XIV, a Europa abre-se ao mundo e apercebe-se de que se encontra à margem da mais importante zona de trocas comerciais do planeta.

Este mapa, o "Atlas catalão", aguça o apetite de conquistas dos europeus. Mapa dos ventos, o Atlas guia os marinheiros como viajantes por terra firme. Mapa político faculta informações sobre as forças em presença. Por fim, como mapa económico, indica as rotas comerciais com destino a África e aos seus recursos.

Um pequeno reino é o primeiro a lançar-se ao assalto das costas africanas: Portugal. Na sua esteira, desenha-se uma nova rota da escravatura.


Próximos episódios:





1620-1789: Do Açúcar à Revolta

A escravatura moldou a nossa história. Na Ilha de São Tomé, os portugueses inventaram um modelo económico de rentabilidade inigualável: a plantação de cana-de-açúcar.


No século XVI, toda a Europa procura imitá-los. Uma demanda pelo lucro que vai mergulhar todo um continente no caos e na violência. Perto de 13 milhões de africanos são apanhados nas redes da escravatura e levados para o Novo Mundo onde ingleses, franceses, espanhóis e holandeses esperam tornar-se ricos... imensamente ricos. Mais viciante do que a pimenta ou a canela, o açúcar alastra pela Europa como um rastilho de pólvora. A partir do séc. XVII, o alimento raro e dispendioso faz virar as cabeças.


Episódio 3 > 28 Jan 2019




1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura


Em 1790, o tráfico negreiro atinge o seu zénite. Mais de 100 000 cativos são deportados todos os anos.

No advento do séc. XIX, a violência dos negreiros dita a condenação do tráfico transatlântico. Doravante, a Europa terá de encontrar um meio de enriquecer sem recorrer a este tráfico, agora, imoral.

Nos anos que se seguem à proibição do tráfico, os europeus vão fazer recuar as fronteiras da escravatura.

O Brasil guarda nele a herança dos últimos anos da escravatura [, que só será abolida em 1888, no grande país sul-americano...].

No momento em que o comércio de escravos é proibido, uma segunda vaga de deportações de cativos chega à Baía do Rio de Janeiro.

Com mais de dois milhões de escravos desembarcados no séc. XIX, o Rio tornou-se o maior porto de tráfico do mundo.


[... Mas a escravatura não se extinguiu: haverá ainda 40 milhões de escravos, em todo o mundo,  segundo as estimativas das Nações Unidas.]

Episódio 4 > 5 Fev 2019

domingo, 14 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16389: Manuscrito(s) (Luís Graça) (90): Ó Praia de Paimogo da minha infância!...


Lourinhã. Praia da Areia Branca, a caminho de Paimogo > 30 de julho de 2016 > Caprichosa "escultura" escavada na rocha, por efeito da erosão do mar, da chuva, da areia e do vento.



L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII)


L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) >  Lado sul


L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Lado norte


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista para o lado sul


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista (deslumbrante) para o lado sul... Mas o forte assenta num morro com problemas geológicos... Desde há muito que se teme a sua derrocada...  Seria uma perda irreparável a desaparição deste forte... que é património de todos nós.



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Interior


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Interior



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Escadaria para o terraço



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista do terraço


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Cisterna



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Cisterna




Lourinhã> O Mar do Cerro, a sul de Paimogo > Vista das imediações do Forte de Paimogo


Lourinhã> Praia de Paimogo > Emseada > Vista do Forte


Lourinhã> Praia de Paimogo > Vista do Forte

.

Lourinhã> Praia do Caniçal (entre a praia de Paimogo e a praia do Vale de Frades) > Vista do Forte de Paimogo


Fotos (e legendas): © Luís Graça(2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Ó Praia de Paimogo da Minha Infância

por Luís Graça


Não preciso de ser geólogo
para te amar,
ó praia de Paimogo
da minha infância.
Nem de ser paleontólogo
para desenhar na areia
as pegadas da tua errância
de dinossauro do Jurássico Superior.
Nem muito menos biólogo ou sociólogo
para te conhecer aí onde
se alimenta o recolector-caçador,
e o polvo, o povo, se esconde
nas marés vivas de lua cheia.

Fugi de terramotos e tempestades,
procurei abrigo na tua enseada,
domei as ondas e o vento,
desfiz lendas e mitos,
adorei divindades,
vendi a alma ao diabo,
esculpi a esfinge alada
que guarda a porta do teu templo.
Andei na pesca ao candeio,
fui pescador de lagosta,
camponês, 
jornaleiro, 
camarada,
andarilho de costa a costa,
negociante de peixe,
almocreve,
apanhador de algas,
caçador submarino,
amigo do fado e da boémia,
poeta, pirata e frade,
mulher e fêmea,
viúva de vivo e de morto,
Zé-Ninguém, cidadão, clandestino
.


Vim da Bretanha em barcos a vapor,
remei do estuário do Tejo,
em bateiras,
costa acima,
e avieiro fui nos teus longos meses de verão,
na pesca da raia.
Fui fenício, cartaginês, romano,
visigodo, bérbere, moçárabe,
português do mundo em cada porto.
Fui moço de convés nas caravelas e naus dos Descobrimentos,
armei navios, enriqueci, trafiquei,
de escravos fui senhor,
e dono de engenhos nos Brasis,
feitorias e pontas na Guiné, 
roças e fazendas em Angola.
Embarcadiço e capitão do norte,
aventureiro e explorador colonial,
bandeirante, roceiro e garimpeiro,
prostituta e proxeneta,
e até de príncipes fui conselheiro.


Carreguei vinho em barris
no bojo da nossa Nau Catrineta,
para a corte russa, imperial.
Naufraguei em ilhas longínquas, polinésias,
adubei as inférteis terras
com o limo do mar dos sargaços.
Fiz o meu ninho de ave de rapina
no alto das tuas falésias,
fui presa e predador,
dos contrabandistas segui, à noite, os passos.
Lavrei o mar,  semeei a morte,
sobrevivi a mil e uma guerras,
e os meus mortos enterrei
nas tuas areias.


Vigiei o mar, o céu e a terra
do alto setecentista do teu forte.
Tive visões, vi monstros, seduzi sereias,
fugi das garras dos terópodes,
escapei dos mandíbulas dos crocodilos,
lutei contra muitas outras feras,
fiz a paz, fiz a guerra,
e ao teu seio retornei,
minha Mátria, Frátia, Pátria amada.
Da vida conheci todo os estilos,
fui condenado às galeras
e quase devorado por gigantes gastrópodes,
peguei de caras o auroque e o minotauro,
estive cativo do mouro
nas longínquas Mauritânias,
choquei os teus ovos de dinossauro,
construí castros, citânias, 
andei à deriva dos continentes,
fui maçarico, checa e periquito
nas guerras coloniais,
sobrevivi à fome, à cólera e à peste
(e ao bispo da nossa terra!)
aos vulcões e aos tsunamis,
andei a monte, fugi a salto,
lutei pela liberdade,
pus os pontos nos ii
das letras do nosso alfabeto,
pela lei e pela grei gritei bem alto,
de norte a sul, de leste a oeste,
e o teu chão te defendi,
contra todos os invasores e usurpadores,
piratas e corsários.

A verdade, a verdade,
é que cobiçada por muitas gentes,
desejada por muitos senhores,
nunca nenhuma armada invencível te venceu,
ó Praia de Paimogo da minha infância.
Se te perdeste,
se alguma vez te perdeste,
foi só por amores.
Quando eu era criança,
quando eu tive a sorte de ser criança
como diria o Fernando Pessoa,
as sardinhas voltavam sempre,
em frágeis cardumes de prata e luar,
à praia onde haviam desovado.
Quando eu era menino e moço,
no tempo em que ainda partiam soldados
para as nossas índias, para as nossas goas,
havia uma princesa, moura, encantada,
numa das tuas grutas submarinas,
o corpo coberto de ágar-ágar.
Era fonte de água pura, quente e doce,
alimentando mares interiores e lagoas,
donde bebiam os ofegantes cavalos alados,
com as suas enormes narinas.
E o vento, a nortada,
nas velas dos barcos e dos moinhos,
falavam-me da tragédia antiga,
mas ainda viva,
da filha do teu capitão
que se havia matado do alto da arriba,
dizem que por amor e solidão
.

No antigo reino mouro,
e. depois franco e fero, da Lourinhã,
também os búzios me diziam
que à noite as luzinhas,
a sul das ilhas das Berlengas,
eram as alminhas
dos que morriam
no mar, sem sepultura cristã.
Pobres náufragos,
marinheiros, pescadores,
poetas loucos, errantes, noctívagos,
imigrantes clandestinos,
desterrados, degredados das guinés e dos timores,
soldados perdidos das batalhas da Roliça e do Vimeiro,
corsários, contrabandistas, 
pecadores, mariscadores.
à deriva,
sem um ui nem um ai,
agarrados às tábuas do barco Deus é Pai.

Hoje não acredito mais
nessas lendas das alminhas
que eu ouvia aos ceguinhos das feiras,
vendedores de letras de fado
e do Borda-d’Água:
afinal essas luzinhas,
lá longe e ali tão perto,
nada têm de fétiche,
são apenas as traineiras,
ao largo do Mar do Cerro,
que andam atrás dos cardumes de sardinhas,
e depois regressam a Peniche.

Lourinhã, 12/8/2004

Versão 11, 14 ago 2016



Lourinhã > Vimeiro > 8 de agosto de 2011 > Monumento comemorativo e centro de interpretação da Batalha do Vimeiro > Azulejo alusivo ao desembarque das tropas luso-britânicas, na Praia de Paimogo, em 19 de Agosto de 1808... A batalha do Vimeiro desenrolou-se em 21 de Agosto de 1808. Azulejo desenhado e pintado à mão por Salvador (2000). (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.

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Notas de LG:

Deus é Pai - O concelho da Lourinhã também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. Entre 1968 a 2000, foram contabilizados seis naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece). 

Um desses naufrágios foi o do barco Deus é Pai, em 26 de março de 1971, ao largo do Cabo Carvoeiro. Os restantes foram os do Certa (15 de maio de 1968), Altar de Deus (6 de novembro de 1982), Arca de Deus (17 de fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de julho de 2000). Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico, de Ribamar, donde era oriunda a minha bisavó paterna (nascida em 1864).

Fonte: Cipriano, Rui Marques (2001) – Vamos falar da Lourinhã. Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã.

[Dizia-se na época que o barco Deus é Pai fora cortado ao meio à noite por um cargueiro russo, e que os náufragos teriam sido levados, vivos,  para aquele país da "cortina de ferro", na altura a URSS... Em vão esperaram por notícas deles, as "viúvas dos vivos",  vestidas de preto... Os únicos destroços que deram à praia terão ao sido restos de redes  e a tabuleta com os dizeres "Deus é Pai".]

Dinossauros - A região do Oeste (e em particular o concelho da Lourinhã) é rica em vestígios paleontológicos dos dinossauros do Jurássico Superior (c. 150 milhões de anos). Em 1993, foi descoberto na zona de Paimogo aquilo que viria a ser considerado o maior ou um dos maiores  ninhos de ovos de dinossauro do mundo. Segundo o jovem paleontólogo e meu amigo, o Doutor Octávio Mateus, a jazida de Paimogo tem cerca de 120 ovos. “Existem ovos ou cascas de ovos mais antigos, mas o ninho de Paimogo é a mais antiga estrutura de nidificação. É o único com embriões na Europa e possui os mais antigos ossos com embriões do mundo (150 milhões de anos)”. Além disso, misturados com os ovos de dinossauro, “descobriram-se três ovos de crocodilo, os mais antigos do mundo". Essa ocorrência, conclui o jovem cientista lourinhanense, "permite-nos pensar numa relação de comensalismo entre dinossauros e crocodilos durante o Jurássico”. [Vd. Museu da Lourinhã > Paleontologia]

Mariscadores - Em agosto de 2005 foi lançado um livro interessante sobre A Apanha Artesanal de Recursos Marinhos Costeiros no Concelho da Lourinhã, da autoria da bióloga marinha Ana Silva, natural do concelho da Lourinhã. Esta actividade, embora complementar (da agricultura, da pesca, etc.), ainda hoje é um dos traços da identidade cultural das gentes ribeirinhas deste concelho. A edição do livro é da Câmara Municipal da Lourinhã (2005).

Paimogo -  A presença humana em Paimogo está documentada por vestígios arqueológicos, remontando pelo menos ao Calcolítico. A região da Lourinhã também foi habitada por povos como os iberos, os fenícios, os gregos, os túrdulos e os cartagineses. A passagem mais marcante foi, todavia, a dos romanos e, depois, a dos mouros. Na reconquista destas terras, D. Afonso Henriques foi ajudado por cavaleiros francos (isto é, oriundos da antiga Gália), entre eles D. Jordão [Jourdain, em francês], que irá ser o primeiro donatário da Lourinhã.

O Forte de Paimogo, construído em 1674, durante a regência do príncipe D. Pedro, futuro rei D. Pedro II, “fazia parte de uma linha defensiva da costa portuguesa, que começava na Praça Forte da vila de Peniche e se estendia até ao Forte de São Francisco de Xabregas, na cidade de Lisboa” (Cipriano, 2001.143).  Embora classificado como imóvel de interesse público pelo Decreto nº 41191, de 18 de Julho de 1955, encontrava-se até há uns largos anos  em estado de ruína. Foi, entretanto, objeto de recuperação pela Câmara Municipal da Lourinhã, mas está novamente em estado de abandono... (**)
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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15255: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (1): a lei quando nasce é para todos...Um notável projeto da Assembleia da República, útil a todos aqueles que se interessam pela historiografia da presença portuguesa em África





Carta de Lei — prohibe fogos de artificio nas festas dos Santos
Sem Entidade, Livro 1603-1612

Portugal > Assembleia da República > Legislação Régia > 9 de janeiro de 1610 (Com a devida vénia)


Ficamos a saber, por carta de lei de 9/1/1610, ao tempo do rei Dom Filipe II (III de Espanha, Madrid, 1578-Madrid, 1621), que "brincar com o fogo", por ocasião das festas populares, podia ficar caro... Uma pena de degredo (para Angola e outros lugares de África, conforme a condição social do infrator), além de penas pecuniárias,  estava prevista para quem, em contravenção da lei, produzisse, vendesse ou lançasse fogo de artifício...

[Imagem à esquerda: Felipe III a caballo, óleo sobre lienzo, 300 x 212 cm, Madrid, Museo del Prado (tras la restauración hecha en 2011); autoria de Diego Velázquez y otros, 1634-35; documento do domínio público. Cortesia de Wikipedia]

Foi um rei da "monarquia dual", de triste memória, este tal Filipe II... Passou em Portugal uns meses, em 1619, de maio a outubro, mas devem ter-lhe rogado  tais pragas que adoeceu e nunca mais se restabeleceu, quando ia a caminho de casa, em Madrid,  vindo a morrer depois, em 31/3/1621, "de consciência pesada", no dizer da historiadora Fernanda Olival,  autora de uma sua recente biografia ("D. Filipe II, de cognome o Pio. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005, coleção "Reis de Portugal", 320 pp,)... (LG)


1. Sobre a Legislação Régia: digitalização da coleção de legislação portuguesa desde 1603 a 1910


A Assembleia da República possui na sua Biblioteca uma coleção de legislação nacional que se estende desde o início do século XVII até à implantação da República em 1910, a qual representa um legado histórico de grande importância nacional, mas que permanece desconhecido da maioria da população e mesmo da comunidade científica e académica.

Inserido nas comemorações do centenário da implantação da República e tendo como objetivo principal a divulgação desta informação a toda a comunidade, a Assembleia da República entendeu realizar um projecto de digitalização de toda esta documentação permitindo, através da constituição de uma plataforma Web, a difusão generalizada da informação destes três séculos de legislação régia.

Para a realização deste projecto foi constituída uma biblioteca digital da legislação régia, para o qual foram digitalizadas 76.575 páginas dos 94 volumes da "Coleção da legislação portuguesa" desde 1603 a 1910 e dos 5 volumes de uma edição fac-simile das "Ordenações Manuelinas" que D. Manuel I promulgou em 1521.

Foram ainda digitalizadas e processadas 2.309 páginas de índices, recorrendo à utilização de OCR (reconhecimento ótico de carateres) e à subsequente correção ortográfica, de forma a possibilitar tanto a pesquisa em texto livre na ortografia original, como a pesquisa, na ortografia moderna, nos campos da base de dados identificados como "Ato legislativo" e "Entidade".

A plataforma Web que integra e disponibiliza toda esta informação foi desenvolvida de forma a permitir um acesso rápido e fácil à documentação digitalizada, através de mecanismos de pesquisa simples e avançada, com base nos metadados de classificação das obras, nos metadados recolhidos das páginas de índices e no texto das páginas dos documentos. Ela permite ainda uma navegação intuitiva, quer nas páginas do documento original, quer nos índices, bem como a utilização de zoom para uma visualização do documento num formato de alta definição.

Por outro lado, esta plataforma disponibiliza também um módulo de impressão de página, multi-página e edição completa, permitindo ainda a realização de download de PDF para leitura dos documentos em off-line.

A realização deste projecto só foi possível graças à preciosa colaboração da Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da Biblioteca da Ordem dos Advogados que nos cederam para digitalização os volumes em falta na coleção.

Biblioteca da Assembleia da República, 2010-12-21

Ficha Técnica:

Presidente da Assembleia da República: Dr. Jaime Gama
Secretária-Geral da Assembleia da República: Conselheira Adelina Sá Carvalho
Diretor de Serviços de Documentação, Informação e Comunicação: Dr. Rui José Pereira Costa
Coordenador do Projecto: Dr. José Luís Martins Tomé
Execução do Projecto: Hints – Tecnologias de Informação, Lda. em colaboração com a
Metatheke Software Lda., empresa spin-off da Universidade de Aveiro
Calendário de execução do Projecto: Maio a Dezembro de 2010

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4561: Blogpoesia (49): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VI Parte): IV Dinastia (Brigantina) (até 1755)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cadique > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O novo cais de Cadique... Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > "Foto tirada à partida de Sintex para Cufar ou Cadique em busac de correio e uns frescos... Estava vestido com a minha farda mais usual (fora do regulamento) e, para não destoar, as botas eram dos Fuzas (trpa extraordinariamente especial) a quem troquei (um sargento) por um par meu".

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > "Parte da frota da Marinha de Guerra do PAIGC, algures no Cantanhez"...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > "Eis-me aqui devidamente uniformizado com fardamento do Exército Português, ams pago por mim, e onde até as divisas de bico para baixo lá estavam... Mais tarde, já depois do 25, haveriam de fazer com fizeram com tudo, virando-as do avesso, de bico para cima, ainda a propósito das ditas...

"Felizmente não sou desse tempo embora tivesse apanho um episódio cariacto que relatarei depois noutro local...

"E digo-as que as coloquei para não ser confundido com algum major general. Eram modestinhas mas merecidas"...

Fotos (e legendas): © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.

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VI parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) (*).


QUARTA DINASTIA ("BRIGANTINA")


168-A nova Brigantina dinastia
qu´el rei D.João IV inicia,
de todos mereceu a confiança.
Em Cortes de Leiria se reitera
o apoio que o bom povo já lhe dera
por ser oitavo duque de Bragança...


169-Espanha instiga a lusa fidalguia,
usando o suborno como via
p´ra torpe e vil real conspiração.
Tramóia detectada, a forma achada
foi cepo e gume frio de uma espada,
salvou-se,apenas, bispo, com prisão...


170-É urgente defender a lusa terra,
daí preparativos para a guerra
que el-rei D.João IV impõe agora.
Matias de Albuquerque, indigitado
fronteiro-mor do reino restaurado,
arranca muito firme,sem demora...


171-Em Campo Maior cria um baluarte,
muralhas d´Olivença faz com arte,
prepara armada com mais caravelas.
Dez naus,quatro navetas,três fragatas,
com pinhos,cedros,destas lusas matas,
vilacondense é o pano cré das velas...


172-Empreender depressa a ofensiva,
ficar na rectaguarda à defensiva,
opiniões divergem, cada dia...
Fronteiro-mor avança,peito rijo,
bem junto a Badajoz,até Montijo
que cede ante a surpresa da ousadia.


173-Optou então Matias p´lo regresso
-garante não havia p´ro sucesso-
do ataque a Badajoz, com poucas gentes...
Molligen emboscou seus batalhões
que atacam furiosos,quais leões,
armados totalmente, até aos dentes...


174-Foi grande o dizimar no corpo luso,
deixando em euforia,mas confuso,
o imprudente Paco, distraído...
Reservas que esquecera, o luso tinha,
p´ra usar no seu avanço em toda a linha,
vencendo o que parecia estar perdido...


175-Urgia agora pois recuperar
perdidos territórios d´além-mar
que gentes holandesas usurparam.
D´Angola e S.Tomé se expulsou
piratas que o Brasil também expurgou,
e as terras ao pendão luso voltaram...


176-Colonos não respeitam liberdade
dos índios do Brasil,valha a verdade,
é urgente informar rei do incumprimento.
Do alto do seu púlpito, Vieira,
o padre Jesuíta, vê maneira
de criticar colonos no momento...

177-Com peixes vai fazer analogia
p´ra crítica mordaz que se pedia,
difícil e perigosa, impõe coragem...
Modelo de oratória foi então
de S.tº António aos peixes,um sermão,
colonos entenderam a mensagem...

178-Na teia das palavras a excelência,
é urdida com rigor e minudência,
Vieira quer sedosa e viva a escrita...
Estudo jesuítico é bagagem
do brilhantismo ímpar na linguagem
que o padre em seus sermões sempre exercita...

179-Passavam quatro anos sobre a data
do sacudir do jugo e malapata
do filipino mando em Portugal...
Marquês de Torrecusa vai cercar
a praça d´Elvas,p´ra fazer vergar,
mas lusos resistiram no local...


180-E quando D.João enfrenta a morte,
já o filho Teodósio, mesma sorte
tivera anos antes tão maldita.
Sucede-lhe Afonso, algo incapaz,
feitio airado,um jeito contumaz,
a ter por fado vida de desdita...


181-Catorze anos volvidos e de novo
a ideia de domarem este povo,
assalta os maus vizinhos cá da Ibéria...
Luis de Haro agora é o comandante
da numerosa força sitiante,
disposta a levar Elvas à miséria...


182-Cidade vê colinas ocupadas,
nascerem linhas bem fortificadas,
cercando o velho burgo, totalmente...
Durante o dia bombardeios vários,
co´a peste engrossam óbitos diários,
espectro do desaire é eminente...


183-Seria D.António de Meneses
a agrupar milhares de portugueses
p´ra ajuda aos elvenses, sitiados.
Vitória esmagadora lusitana
obriga Haro a fuga algo temprana,
total a humilhação dos derrotados...


184-Estrondosa esta vitória ganha asinha,
(marquês o fez depois, sua rainha...)
de Cantanhede é conde este Meneses.
D.Sancho Manuel é agraciado
de conde Vila Flor foi titulado
por infligir à Espanha tais revezes...


185-Castela, com João de Áustria, agora,
reverte a seu favor, e sem demora,
vitórias no contexto desta guerra...
Tomando Juromenha,Alter do Chão,
Monforte,Crato,Évora,acha então,
que é tempo de ocupar toda esta terra...


186-Do lado luso surge uma mudança,
pois Marialva deixa a liderança,
ignoram-se as razões do afastamento.
O conde Vila Flor vai p´ro comando
com Jacques Magalhães acolitando
ao lado de Schomberg e seu talento...


187-Caíram eborenses sitiados,
vem tarde Magalhães com seus soldados
bem como Vila Flor,Sancho Manuel.
Ameixial sorriu às lusa gentes,
fazendo os castelhanos mais descrentes
que largam cerco e fogem em tropel...


188-Bem junto a Borba,lá p´ra serra d´Ossa,
Castela,em Montes Claros, sofreu mossa,
pesada e decisiva,a derradeira.
Sete horas foi o tempo da peleja
que mostra um Marialva que deseja
provar supremacia da bandeira...


189-Marquês de Caracena,derrotado,
fugiu p´ra Badajoz, bem humilhado,
largando os presos feitos na jornada.
Os mortos que abandona, são milhares,
cavalos,asnos,centos de muares,
derrota fez ditar a paz selada...


190-Castelo Melhor logo se insinua
na vida do monarca que actua
de forma ao seu cognome fazer juz.
Nas linhas d´Elvas ou Ameixial,
em Montes Claros com vitória tal
que à paz definitiva,isso conduz.


191-El-rei Vitorioso ora retoma
a anglo aliança e paga soma
doando Tanger,também Mombaím.
Pesado dote p´ra irmã Catarina
a quem rumo da Albion determina,
casar-se com rei Carlos foi seu fim...


192-Afonso da cabeça era doente,
não tendo sucessor,por impotente (?),
daí medida imposta p´lo conselho.
O trono lhe é cassado e passa então
p´ras mãos de Pedro que era seu irmão,
p´ra este o conservar até ser velho...


193-A Pedro a força inglesa impõe tratado,
que obriga o reino luso a ser mercado
como absorsor da lã e seus tecidos...
E p´ro vinho do Porto há no momento,
promessa de um mesmo tratamento,
consumidores ingleses garantidos...


194-A Espanha luta pela sucessão,
inglese usam Pedro a peão
no jogo de xadrez que põe a nú,
que apoio ao austríaco intento,
apenas foi manobra de momento
pois ...já lhes serve mais Filipe Anjou...


195-Perdura impasse até surgir o dia
das partes requererem acalmia,
que UTRECHT desenhou em boa hora...
Mudança aconteceu em Portugal,
D. Pedro teve morte natural,
p´ro seu lugar o filho vem agora.

196-Seu nome era João,Quinto na História,
ufano peito tão prenhe de glória
que quer cumprir missão de Portugal.
Combate ao Otomano se sucede,
e entrando em Matapã, ao Papa acede,
destroça turcos em luta naval...


197-Magnânimo explora os diamantes
seguindo o pai que usara os bandeirantes
no avanço do Brasil, por terra adentro.
De Vera Cruz virá grande riqueza
p´ra dar à capital rara beleza
que a impõe na velha Europa,como centro...


198-Partiu então o rei p´ro eterno sono,
ficando D.José,filho, no trono,
sujeito à pombalina influência.
Impõe governação,dura,absoluta,
imprime a violência na conduta,
que aos Távoras tirou a existência.


199-Foi obra de Pombal a atrocdade
révanche ineludível,vil maldade,
manchando obra importante que deixou.
Sentida rejeição de amor sem sorte
gerou,para a família,ódio de morte,
que a História,horripilada, registou ...


200-Um forte abalo arrasaa capital
Lisboa vê ruir,para se mal,
as casas que se esvaem,por sumiço...
Desgraça vai mostrar à evidência
capacidade,engenho,inteligência,
do homem que o rei tinha ao seu serviço...


© Manuel Maia (2009)

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

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Nota de L.G.


(*) Vd. postes anteriores desta série:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

15 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O apartamento de Cafal Balanta, na zona turística do Cantanhez... Publicidade, para quê ? ... Pode-se perguntar: E preço (s) ?... Não vinha nos prospectos da época...


Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


IV parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo épico do Cantanhez (O Manuel Maia, formado em história, foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) (*).


Mensagem de 5 de Maio de 2009


Antes de me debruçar sobre a matéria em questão, gostaria de agradecer a todos quantos fazem o subido favor de me ler, honrando-me com os seus comentários.

Quando te enviei o excerto deste trabalho, fi-lo na esperança de que pudesses tecer
alguns comentários quanto ao seu interesse, e também, porque não revelá-lo, na expectativa de haver entre os camaradas alguém ligado a editoras gráficas, pressupondo uma hipotética publicação, uma vez que "em se tratando de poesia" o acesso é bem mais difícil que a prosa ...

Manuel Maia

Comentário de L.G.:

Manel: Portugal é um país de poetas e de soldados onde a poesia não enche a barriga do pobre e o soldo do soldado não dá para a caneta, a tinta e o papel... Mesmo assim a malta escreve, e canta, até o dedo doer, até a voz doer...É o teu fado, meu vate, nosso bardo, nosso épico...Alegras-nos a alma, enriqueces a nossa cultura e a nossa história, dás um bela lição aos tabanqueiros... Sabes que a malta conhece mal (e porcamente) a sua própria história, por que se calhar a escola, a nossa escola, não nos ensinou amar os nossos poetas, os nossos heróis, os nossos santos, a amar e a criticar os nossos reis, os nossos comandantes... É poesia, é pedagogia, é amor às nossas coisas... São as nossas raízes, é a nossa idiossincrasia, é a nossa identidade... Não tenhamos pejo nem pudor de sermos tugas! (LG).


História de Portugal em Sextilhas - IV Parte

101-Tratado em Tordesilhas põe travão
às lutas desabridas, ambição
p´las terras que havia a descobrir...
Falece D. João de Portugal,
faltando um seu herdeiro natural,
cunhado Manuel lhe vai seguir...


102-Brindado O Venturoso pela sorte
por Gama do Oriente encontrou norte,
trazendo mil riquezas de presente.
À Terra Nova vai Corte-Real
depois será Brasil, já com Cabral
padrão das quinas ´stá no mundo assente ...


103-Foi Vasco, um bravo luso, a comandar
ousada expedição Índia por mar
que trouxe mil riquezas p´ra Lisboa.
Nascido em Silves, bom navegador,
serviu O Venturoso com rigor
e engrandeceu seu nome e o da c´roa...


104-Dos temporais saído triunfante
o bravo Gama, intrépido almirante,
travou rebelião da marinhagem.
Piloto em Moçambique fez trapaça
visando a entrega aos mouros, em Mombaça,
da frota lusa a meio da viagem...


105-Acaso alerta Vasco p´ra cilada,
daí matar o cafre à cutilada,
seguindo até Melinde que é fiel.
O rei lhe dá piloto experimentado
que cumpre acordo pré-determinado,
levá-lo a Calecute o seu papel...


106-Ainda na baía de S. Brás,
queimada S. Miguel ficou p´ra trás,
das quatro naus só três cumprem missão.
Fundeia a esquadra junto a Calecute
certeira fora a escolha do azimute
rajá lhes fez pomposa recepção...


107-De Angra, donatário João Vaz,
vogando em mare nostrum, sempre audaz,
tem mar nas veias clã Corte-Real.
Gaspar, seu filho, aporta ao Canadá,
no ano em que o Brasil, Cabral nos dá,
morrendo ano seguinte p´ra seu mal...


108-P´ra Índia vai Cabral mais seus valentes,
com treze naus pejadas de presentes,
p´ra dar ao Samorim de Calecute.
Os ventos desviaram-no da rota,
para avistarem terra em zona ignota,
mudando assim depressa de azimute...


109-Enorme cordilheira é avistada,
coberta de arvoredo e encimada
por crista montanhosa que seduz.
Surpreso face ao belo litoral,
experimentado nauta que é Cabral,
à terra dá por nome Vera-Cruz...


110-Buscando ancoradouro o encontrou
dez léguas adiante e o baptizou
do nome que hoje tem, Porto Seguro.
Padrão e cruz enorme é colocada
p´ra missa pascoalina celebrada
ante índio curioso, ´inda tão puro...


111-Herói Bartolomeu que já dobrara
as tormentosas águas e ganhara
grã fama ante a gente marinheira.
Mau grado ataque à zona com prudência
soçobra face à enorme violência
daquela tempestade traiçoeira...


112-Das treze que zarparam de Belém,
em Calecute seis atracam bem,
com recepção honrosa ao capitão.
Montada foi então a feitoria
que lucro para o reino aportaria,
Cabral, só com trê naus, regressa então...


113-Seu pai Fernão Cabral, alcaide-mor,
Gouveia, a mãe, de nome Leonor,
em terras de Belmonte foi nascido.
Lisboa o recebeu junto da corte
a capitão d´armada o leva a sorte,
p´ra achar Brasil, Cabral foi escolhido...


114-Foi Pêro Vaz Caminha, cavaleiro
da casa da balança, mestre herdeiro
d´armada de Cabral, o escrivão.
Fez carta de achamento do Brasil
onde informava el-rei de novas mil
com pormenor, rigor, exactidão...


115-Um pensador profundo, inteligente,
ourives consagrado(?), Gil Vicente,
custódia de Belém foi(?) sua lavra...
Cosrumes, língua, vida social
espelha em sua obra teatral,
burilador do ouro(?) e da palavra...


116-Na Índia se fundaram feitorias,
defesa para as ricas especiarias,
garante p´ro negócio lucrativo...
Mais tarde, vice-reis serão criados,
cidades e mil portos ocupados
que o lucro vale o esforço dispendido...


117-Servindo interesses desta lusa grei,
partiu p´ra Índia como vice-rei,
Francisco Almeida um bom perito em mar...
Chefia quize naus, seis caravelas,
milhar e meio d´homens dentro delas,
querendo novas terras conquistar...


118-Tomou Quiloa e lá fez fortaleza,
Mombaça transformou em pira acesa,
jurou vingança à morte de seu filho.
Acossa Mor-Hocém, destrói-lhe armada
prendendo Albuquerque, gera alhada,
que ofusca o seu passado todo brilho...


119-Carece a Cruz de urgência em controlar
os mares da Ásia, até poder tomar,
a Terra Santa há muito desejada.
Afonso de Albuquerque tem missão
de conquistar Malaca, Ormuz, Ceilão,
numa estratégia bem delineada...


120-Tributos passa a impor aos seus vencidos
p´ra encher os lusos cofres exauridos,
Lisboa é incontrolada e despesista
Mau grado ouro da Mina em profusão,
pimenta a abarrotar as naus de então,
não há riqueza grande que resista...


121 - Regressa ao reino após longa viagem
trazendo mil sucessos na bagagem,
daí grande importância o rei lhe dá.
Agora com Tristão da Cunha, ao lado,
partiu p´ra iniciar vice-reinado
mal chegue ao fim triénio de quem está...


122-Do mar da Arábia então capitão-mor
foi preso por Francisco, em Cananor,
que a governança nunca quis largar.
o rei, Marechal Coutinho, envia urgente
p´ra dirimir, de vez, questão candente
fazendo a entrega a Afonso do lugar.


123-Fernão de Magalhães, um transmontano,
de fidalguia baixa, não mundano,
nas armas vai catar sua ascensão...
Com D. Francisco Almeida vai zarpar
p´ra Índia em sua armada p´ra ganhar
saber consolidado, p´ra missão...


124-Castela leva ao mastro por bandeira,
da nau, a abarcar mundo, volta inteira,
vincado o desinteresse lusitano.
El-rei D. Manuel não entendera
alcance da proposta que fizera,
Fernão de Magalhães, um transmontano...


125-Negando a Magalhães, que era Fernão,
apoio p´ra circum-navegação
que Elcano haveria de acabar.
Deixou à Espanha glória pioneira
de dar a volta ao mundo, vez primeira,
que à História caberia registar...


126- Mercê do muito lucro acumulado,
estilo manuelino ´é então mostrado
na Pena, nos Jerónimos, Belém...
Riqueza e arte andaram de mãos dadas,
pois D. Manuel as quis perpetuadas,
memórias que hoje a História ´inda retém...


127-Enorme militar, Pacheco Pereira,
na Índia evidencia a dianteira,
do Portugal de então, desse momento.
Cosmógrafo de grã categoria,
esmeraldo de situs orbis, cria,
legando ao mundo seu conhecimento...


128-De Grão Pacheco e Aquiles Lusitano,
Camões o rotulou, honesto, lhano,
fautor de mil façanhas pela grei.
D´el-rei D. Manuel ganha honrarias,
do sucessor mais torpes vilanias,
injustamente o prende, João, rei...


129-Depois deste reinado glorioso
virá João Terceiro, O Piedoso,
monarca com as Letras por destino.
Colégio das Artes lhe é devido,
aos Jesuítas faz formal pedido
p´ra propagarem Fé, bem como ensino...


130-Atento à francesa vil cobiça
que o lucro da pilhagem corso atiça
el-rei colonizar irá enfim...
Impõe em Vera Cruz capitanias
que p´ra Madeira deram garantias
de ali ir implantar sistema afim...


131-Dos vice-reis da Índia, evocados,
heróicos governantes tão honrados
João de Castro é vulto relevante.
Com meia dúzia de homens corajosos
defende Diu dos Turcos belicosos
até expulsar a força sitiante...


132-Por terra estão muralhas defensivas
após as otomanas investidas
de assalto à lusa praça em DIU erguida.
Restauro é pois urgente ante a ameaça
dinheiro não tem Castro, por desgraça,
a Goa pede ajuda de seguida...


133-Em carta comovente, o vice-rei,
uns trinta mil pardaus pediu à grei,
as barbas enviando de penhor...
Edis Goeses sensiblizados,
dinheiro emprestam muito emocionados,
perante tal grandeza e pátrio amor...


134-De Montemor o Velho oriundo,
fugindo da miséria, fez-se ao mundo
na esperança de futuro por Lisboa.
Depois dos dissabores da capital,
procura o exotismo oriental
partindo em trinta e sete rumo a Goa...


135-Percorre a Índia, a China e o Japão
conhece p´rigos, medos, aflição,
perpassa cativeiros, vida dura.
Regressa para Goa decidido,
dali para Lisboa, enriquecido,
p´ra se instalar de vez, finda a aventura...


136-Do Tejo, a outra banda foi seu norte,
ali criando a prole co´a consorte
escrevendo mil viagens que encetou...
A Peregrinaçam, estranhamente,
peregrinou no prelo duplamente
os anos de Oriente que passou...

137-Na Peregrinaçam a fantasia
combina co´a verdade e a magia
para agarrar leitor que sorve as linhas...
De Fernão Mendes Pinto, há detractores
roídos por invejas, desamores,
capazes das mentiras mais mesquinhas...


138-Enorme historiador renascentista,
João de Barros seu lugar conquista,
no galarim das mais ilustres gentes...
Feitor e tesoureiro são funções
que ocupa por diversas ocasiões
com desempenhos fortes e prudentes...


139-Prudência que não tem no Maranhão,
tentado a donatário capitão,
negócio ruinoso foi desdita...
Buscava ouro amarelo, vil metal,
azar bateu-lhe à porta p´ra seu mal,
pois de ouro nem sinal de uma pepita...


140-Ao rei que acatou a Inquisição
sucede o neto D. Sebastião,
a quem a história chama Desejado.
Razão pr´o cognome está na morte
do pai pr´a quem madrasta foi a sorte,
deixando a um feto um fardo bem pesado...


141-E o velho Portugal, argamassado
com brios, honras, sangue derramado,
irá perder em breve a identidade.
El-rei Sebastião não dá ouvidos
a velhos conselheiros que aturdidos
em vão tentam travar sua vontade.


142-Fogosa juventude e galhardia,
a ânsia de mostrar a valentia,
retratam bem o seu altivo porte.
Batalha dos três reis, registo triste,
ferido o jovem tomba, não resiste,
Alcácer-Quibir foi leito de morte...


143-Camões lhe dedicou sua grande obra
que mostra o peito luso ter de sobra
a força, a coragem e ousadia
que afasta, de uma vez, velhos temores
ao galgar mar, vencer Adamastores
que o mito popular, criara um dia...


144-Nobreza empobrecida por linhagem,
as Letras de Coimbra na bagagem,
estúrdia e boémia por opção.
Das armas foi amante quezilento
Camões que causou grave ferimento,
no paço, a pajem grande rufião...

145-Não teve berço d´oiro Luis Vaz,
tão pouco a burguesia lhe subjaz,
mas Letras almejava ter por meta.
Coimbra lhe abriu portas do saber
mercê do tio Bento, chanceler,
que nele vira a aura de poeta...


146-P´ra corte se encaminha o grande vate
que cego fica em Ceuta num combate,
e é preso por ferir pajem real...
Na armada de Cabral arriba a Goa
serviu no Calabar, volta a Lisboa,
ali perece e deixa obra imortal...


147-Mau grado esta vivência desregrada,
(artista é mesmo assim, tão preso a nada...)
só Letras cultivou com forte apego.
Privou em Goa com Garcia de Horta
escrevendo-lhe uma ode onde o exorta,
na lírica atingiu grande relevo...


148-Boémia juventude do poeta
a punição na Índia lhe acarreta,
catorze anos de errância no Nascente...
Naufraga no Mekong, vadia em Goa,
esmola em Moçambique, quer Lisboa,
regresso lhe custeiam de presente...


149-Ao editar a obra genial
granjeia o estatuto d´imortal
no galarim das Letras instalado...
Partindo p´ro etéreo foge à ofensa
d´abjecta filipina vil presença,
no trono luso por si tão amado...


150-Cristovão Moura, o tal luso traidor,
irá comprar ajudas de favor
(junto à nobreza e clero português)...
Apoios p´ra Filipe que é segundo
p´ra que este venha a ser senhor do mundo,
gerindo os dois reinos de uma vez...


151-E morre o cardeal, velho regente,
ao trono é o castelhano um pretendente
por ser neto d´el-rei O Venturoso.
Receios são sentidos pela grei
que vai querer Prior do Crato a rei,
mas sai o espanhol vitorioso...

Manuel Maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II