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terça-feira, 26 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24701: Os nossos seres, saberes e lazeres (592): António Carmo, artista plástico de renome, nosso camarada da Guiné (Mário Beja Santos)

António Carmo numa exposição nas Caldas da Rainha, evocativa dos seus 50 anos de carreira


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
Quem porfia sempre alcança. Demore a saber que este prestigiado artista plástico fizera comissão na Guiné, finalmente houve encontro, falei-lhe do nosso blogue, procurei fazê-lo sentir a importância do acervo que ele comporta, e António Carmo, caso eu não esteja a laborar em erro, é o único artista plástico que durante a sua comissão deixou obra, e a trabalhou depois, posso estar a ser precipitado no meu juízo mas o artista durante décadas subscreveu trabalhos de grande tensão, encontro alguma afinidade com a arte de Francisco Relógio, um lirismo e uma poética nestas figuras ultradimensionadas que nas últimas décadas se transmutaram para uma arte mais repousada, asseguram uma contemplação que nos lava a alma naquele eixo central em que se exalta a figura da mulher. Agora fico à espera que ele tenha uma nesga de tempo para conversar comigo e voltarmos à Guiné, onde ele deixou muitos trabalhos, resta saber por onde andam.

Um abraço do
Mário



António Carmo, artista plástico de renome, nosso camarada da Guiné

Mário Beja Santos

Conheci a arte de António Carmo por duas vias. Há uns bons anos, fiz parte de um júri referente a um concurso europeu do jovem consumidor, a reunião decorreu num sindicato de professores, e concluídos os trabalhos o anfitrião quis obsequiar os membros do júri oferecendo serigrafias. Chamou-me a atenção uma que me parecia falar de África, figuras femininas de rosto muito sereno que pareciam encaixadas umas nas outras como as bonecas russas, não hesitei na escolha; emoldurada, veio para o meu escritório, ficou entre um desenho do meu amigo Sá Nogueira e uma gravura de David Almeida. Bem a contemplava à procura da motivação do artista, nada feito. Numa digressão a Bruxelas, à saída da Gare Central encaminhei-me para a Rue de la Madeleine, uma artéria onde há várias galerias de arte e ao tempo uma livraria apaixonante, a Posada, hoje desaparecida, e é nisto que em frente à Galeria Alberto I vejo anunciada uma exposição de António Carmo, nela já pontificavam estas mulheres desmesuradas numa coloração vibrante, mas simultaneamente com efeitos oníricos e a inerente exigência de reflexão. No dia seguinte, fui visitar a exposição e pude ler numa brochura a impressionante carreira internacional do artista.

Só muito mais tarde se me assomou a referência de que fizera uma comissão na Guiné, guardei no meu caderninho de propósitos de futuro trabalho saber como podia encontrar com o artista, saber se ele estava disponível para contar a sua experiência na Guiné. E quis o acaso que na manhã de 20 de setembro ter uma reunião na Âncora Editora, fui ao site e deparou-se-me com o convite para esta exposição. Com o diretor discuti a publicação do livro de memórias do sonhador Vasco, que será publicado em Março próximo, conversas tidas, vai para dez anos, ao longo de meses, na sua casa em Fontanelas. Perguntei por António Carmo, ele sugeriu que aparecesse na apresentação do seu livro mais recente, "Encontros e Memórias", que se iria realizar nessa tarde na Casa dos Livros da Amadora. É nisto que toca o telefone para o editor, este amavelmente pôs-me em contacto com o António Carmo, sim, teria todo o gosto em falar do seu trabalho na Guiné, à tarde aprazaríamos uma reunião, finda a organização de uma nova exposição.

Antes de ele chegar já eu percorria o novo livro e chamou-me a atenção do prefácio de outro artista plástico, Rocha de Sousa: “Cada pintura é paisagem com gente em quadro falsamente imobilizado. Porque António Carmo não cessa de agitar o denso contacto dos corpos, entre flores e vagas névoas além ou ali. A densidade das cores irrealiza a representação de um povo comum: esse povo é alma das festas de aldeia. Mãos entrelaçadas, os rostos subindo a voz ou o cântico, os corpos vestidos de azul, vermelho, amarelos pontuados por verdes, o que de súbito se mistura em muita gente como flores de adorno, abertas à luz, soltando obliquidades da dança e do vento.” Uma observação que me parece corresponder ao trabalho de Carmo.

Iniciada a sessão, Álvaro Lobato Faria comentou os trabalhos e vivências dos últimos 20 anos, as referências dos textos ligados às exposições, observou em que constitui o processo criativo de Carmo, a pesquisa incessante destes corpos com falsa desmesura, tudo ganha numa poética dos sentidos à custa de uma vigorosa materialização da cor. Carmo comentou o que tem feito nos últimos 20 anos, abriu espaço para o debate, senti-me no direito de falar da Guiné, curiosamente a assistência revelou-se interessada com a narrativa do artista plástico. Esteve nas transmissões do quartel-general, começou a fazer uns desenhos, defendia-se com a ambiguidade das mensagens, os seus superiores revelaram entusiasmo, vieram as encomendas, deixou trabalhos em vários locais, escreveu na "Voz da Guiné", publicação do tempo, de tudo prometeu falar quando nos encontrássemos. E a propósito da nossa conversa telefónica no escritório do editor, mostrou o livro publicado na Editorial Caminho, deixou-me fotografar imagens dos seus desenhos feitos na Guiné, para mim estava ali a chave explicativa da serigrafia para a qual eu não tinha, para além de emoção, qualquer código de referência. Dá para perceber que é um desenho de uma África em estado de tensão, ele referiu explicitamente a forte atração que sentiu pela arte Nalu, julga ter plasmado alguns dos códigos desse género artístico nestes seus trabalhos em que a África está sempre presente.

Agora só me resta ficar a aguardar o dia em que nos iremos encontrar e falar dos trabalhos dos seus dois anos na Guiné. Voltou em 1972, no ano seguinte fez uma exposição na Galeria Opinião, ali se mostrava a guerra, ainda hoje Carmo não sabe como é que não teve problemas com a censura.

Fico agora a aguardar que o artista me receba e dê a conhecer as suas memórias com mais de meio século. Talvez valha a pena referir que é o único artista plástico que falou da Guiné daqueles tempos da luta de libertação. O que traz redobrado interesse para conhecermos a inspiração subjacente a todos estes trabalhos e a outros que ele vai mostrar.


Amílcar Cabral, 1973
Memória africana, 1973
Choque Africano-Guiné, 1973
Memória Africana, 1973
Memória Africana, 1973
Imagem da exposição de António Carmo na Galeria Opinião, 1973, retirada dos Arquivos da RTP, com a devida vénia
A arte de António Carmo depois da sua comissão da Guiné
António Carmo, Editorial Caminho, 2003, esgotado
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24691: Os nossos seres, saberes e lazeres (591): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (121): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (12) (Mário Beja Santos)

sábado, 26 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24590: Os nossos seres, saberes e lazeres (587): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (117): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
A minha intenção é exclusivamente partilhar as alegrias vividas no meu regresso a um museu que andou 11 anos em remodelação e que tem um acervo de preciosidades que o põe na primeira linha dos principais museus europeus. Depois da visita ao núcleo temático de James Ensor, preferi um certa versatilidade, do tipo daquela que encontramos no Museu Metropolitano de Nova Iorque em que saímos de uma sala com arte do Norte de África e entramos na sala do califa de Bagdad e daqui partimos para um faustoso núcleo da pintura de Monet ou Pissarro. É certo que me bandeei para os movimentos mais tumultuosos do fim do século XIX e a alvorada do modernismo, mas de vez em quando fui a épocas anteriores, fiquei assombrado com um Fra Angelico e uma Madona de Dieric Bouts, contemplei com prazer George Grosz e Ben Nicholson. Fiz agora uma pausa, segue-se a última ofensiva dentro de um museu que tem uma remodelação admirável, como aqui se procura mostrar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (117):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas ! (8)


Mário Beja Santos

Vim propositadamente a Antuérpia para visitar o remodelado Museu Real de Belas-Artes, possuiu um acervo impressionante e de altíssima qualidade em milhares de peças de pintura, desenho e escultura, abarcando da Idade Média à atualidade.
Depois de uma barrigada de um santo do meu culto, James Ensor, lancei-me em obras do acervo, dei preferência aos tempos de transição/evolução do figurativismo para a abstração. O que aqui deixo são meras notas de viagem, impressões muitíssimo pessoais de autores que aprecio profundamente, limito-me a tecer alguns comentários, alguns deles, para mim inevitáveis, têm a ver com ligações decorrentes com escolas, pretéritas ou do tempo, ou até mesmo profecias, as tais viagens das ideias em que uma geração acende a candeia e as seguintes estabelecem a eletrificação geral. É esse desfile de artes plásticas que agora sucede, um mero registo das alegrias e descobertas que fui sentindo na abençoada decisão que tomei de vir até Antuérpia, está aqui um pouco da história das artes plásticas europeias, ao longo de séculos.

A fachada neoclássica do Museu Real das Belas Artes de Antuérpia, reaberto ao público em 2022
Floresta Mágica, por Jan Toorop.
Toorop é um artista bastante ignorado fora destes cantinhos do Norte da Europa. Não é por acaso que se assinala a sua atração pelas cores de Van Gogh e pelos processos surrealizantes de Ensor, para mim há aqui um fim do simbolismo e uma retorção entre o modernismo da sua dimensão expressionista.

Já estou no andar superior, agora posso ver quem anda a contemplar as obras geniais de James Ensor, no seu núcleo temático
Escultura de George Minne, intitulada Solidariedade
Ossip Zadkine, Cabeça de Orfeu
Escultura de Edgar Degas, Mulher Grávida.
Considero Degas um escultor fora de série, há quem pense que ele se fixou primordialmente em bailarinas, no entanto ele possuía uma diversificação de olhares e a sua escultura tem um elevado poder estético em rutura com o academismo e o realismo.
Andei sempre com cuidado de legendar as obras que mais me entusiasmavam, aqui falhei, mas pretendo partilhar esta figura que me parece um centauro e, não sei bem porquê, recorda-me as soberbas esculturas elaboradas por António Pedro na alvorada do surrealismo, uma espantosa torção nas formas em que a soma das partes é tudo tornar mais visível.
Anthony van Dyck, estudo de cabeça
Uma das alterações de fundo neste gigantesco edifício, foi a introdução de claraboias que permitem ao visitante ter um outro modo de olhar a obra de arte e sentir-se em diálogo ou contemplação de quem anda lá por baixo, rendi-me a esta luminosidade e à solução de leveza e transparência gerada pela comunhão dos espaços.
Victor Servranckx, Opus 20. Deste a primeira visita que fiz ao Museu de Belas-Artes e História, em Bruxelas, tomei contacto com este homem que me lembra um construtivista, há aqui formulações que me lembra aquela escola russa que depois foi asfixiada pela ortodoxia soviética, que aboliu o vanguardista futurista.
Ben Nicholson, outro mal-amado fora da Grã-Bretanha, tive o prazer de ver as suas obras conjuntamente com os seus colegas na Tate Saint Ives, na Cornualha, consigo ver o diálogo destas construções, que me lembram Arpad Szenes, com a arte escultórica da sua mulher Barbara Hepworth, uma santa do meu culto, pela sua capacidade de síntese, ela e Henry Moore são os meus escultores modernos britânicos da minha predileção.
Amadeo Modigliani, Nu sentada
George Grosz, O escritor Walter Mehring.
Cada vez que vejo as obras deste espantoso expressionista alemão lembro-me de alguém que frequentou Berlim daquele tempo e que captou bem a crítica social de Grosz e, sobretudo, se apoiou nesta revolução das formas e que tornou Mário Eloy num dos pintores portugueses mais audaciosos do modernismo, na sua geração.

A Miséria de Job, Ossip Zadkine
Fra Angelico, S. Romualdo recusa a entrada na igreja ao imperador Otto III
Obra de Lucio Fontana.
Consigo ver na arte de Lucio Fontana a rotura perante o conteúdo e a apresentação da obra, todos estes golpes, sempre recorrentes no seu trabalho, são passaportes para uma antevisão de que um monocromatismo sujeito a alterações visuais é a representação singela da realidade, era essa uma das lições maiores da corrente plástica em que ele se filiou, a Arte Povera.

Dieric Bouts, Madona
Paul Delvaux, Os Laços Cor-de-Rosa
Pieter Bruegel, O Recenseamento de Belém.
Aqui está uma das provas provadas de que Bruegel e a sua descendência recebiam encomendas da clientela abastada para andar à volta do mesmo tema, neste caso o recenseamento de Belém, ludibriando o olhar do espectador, há uma extensão no conteúdo, uma paisagem até ao fim do horizonte, no canto esquerdo decorre o recenseamento, no extenso tapete de neve a vida continua, há idas e voltas e crianças a brincar e com um toque de discrição vemos a Virgem no seu burrico, esta a portentosa visão bíblica de Bruegel num animado cenário flamengo.

Jean Chastellain e Noël Bellemare, Pietá.

Por ora não canso mais o leitor, eu aproveito para descansar um pouco os pés e preparar a última ofensiva, a esta hora ainda não sei que não vou conseguir nenhum transporte público até à gare central de Antuérpia, tive tudo a ganhar, foram uns quilómetros a pé desde o Zuid, deu para ver o interior desta bela cidade e apreciar uma sociedade multicultural, conversas animadas na rua entre gente africana e asiática e bastantes casais mistos.
Até já!


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24567: Os nossos seres, saberes e lazeres (586): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (116): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (7) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24436: Historiografia da presença portuguesa em África (374): Antes da literatura da guerra da Guiné, o quê? (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
É com uma certa nostalgia que vou passando os olhos pelos papéis que me restam ainda ler na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, manda a prudência que a seguir ponha ordem no caos que levo de umas boas centenas de páginas que, espero, venham a dar origem ao meu derradeiro livro sobre a Guiné, uma antologia dos textos essenciais desde Zurara até meados do século XX, quando a Guiné passou a estar no mapa como uma colónia administrada por portugueses, tenho já um título: Guiné, o Bilhete de Identidade.
É nestas leituras esparsas que acabo de ler um trabalho sobre a literatura guineense anterior à eclosão da luta armada. Julgo que as considerações deste autor devem ser articuladas com um trabalho da responsabilidade de Leopoldo Amado sobre a literatura guineense no período colonial, este malogrado historiador recorda figuras de significado que abordaram nas suas obras a Guiné, como foi o caso de Fernanda de Castro, Maria Archer ou Manuel Belchior. Acho que não perdemos completamente o tempo em ver a argumentação usada por João Tendeiro quanto à carência de escritores nativos da Guiné.

Um abraço do
Mário



Antes da literatura da guerra da Guiné, o quê?

Mário Beja Santos

Na publicação Estudos Ultramarinos, revista trimestral do então Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, 1959, n.º 3, dedicado à literatura e arte, insere-se um artigo intitulado “Aspetos marginais da literatura na Guiné portuguesa”, é seu autor João Tendeiro. Vejamos os aspetos essenciais do seu escrito. Abre dizendo que: “Somos forçados a reconhecer que não existe uma literatura com características guineenses. A Guiné não nos deu até agora um escritor nativo. No campo da ficção, as poucas obras de fundo têm sido escritas por europeus ou cabo-verdianos”.
E refere nomes como os de Fausto Duarte, o de Alexandre Barbosa, entre outros, refere contos e narrativas publicados no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa.

Invoca adiante Mário Pinto de Andrade, dizendo que se este quis inserir na sua Antologia de Poesia Negra de Expressão Portuguesa (Paris, 1958) uma produção poética representativa da Guiné, teve de recorrer a um poema de um jovem cabo-verdiano a residir na Guiné, Terêncio Casimiro Anahory Silva. E lembra-nos quem é civilizado, assimilado e nativo, e as respetivas incidências no uso da língua portuguesa. Segundo o censo de 1950, o português era falado por 1157 indígenas analfabetos e lido e escrito por 1153 - não se encontrou em conta a população que se exprime em crioulo. Quanto à população denominada “civilizada”, havia 7848 portugueses (1501 metropolitanos; 1103 cabo-verdianos e 4644 guineenses, bem como 366 estrangeiros, dos quais 297 libaneses).

Procurando analisar os diferentes porquês da pobreza de uma literatura de fundo guineense, recorda o que ele classifica como singularidades: o silêncio literário de Artur Augusto Silva, cujas preocupações parecem ter deixado o campo da poesia e da ficção para se lançarem em estudos de interpretação jurídico-social; e não esquece o nome de Eduíno Brito, autor de vários trabalhos de demografia e sociologia guineenses. E, de novo, volta a citar Mário Pinto de Andrade, regista-lhe a seguinte observação:
“A evidência histórica leva-nos a considerar que, das relações entre a Europa e a África, decorrente do conflito colonial, resultou a opressão das culturas negro-africanas, na medida em que os africanos foram regularmente desprovidos da estrutura social e política, dos quadros próprios em que evoluíam naturalmente as suas culturas, em que as línguas foram relegadas para o plano secundário dos falares intermediários em que essencialmente esses povos perderam as iniciativas de nestas sociedades que eram afinal as suas criações originais”.

E lança outro argumento para explicar as dificuldades numa literatura nativa. A expansão do islamismo em África acompanhou-se de uma difusão correspondente da escrita árabe. Quando transpostos para as línguas nativas, os documentos escritos têm, no entanto, um cunho acentuadamente esotérico e usam-se especialmente com fins religiosos e moralizantes sob a forma de poesia e provérbios relacionados com o Corão, o que não se enquadra na noção ocidental de literatura.

No entanto, prolifera na Guiné uma literatura oral variada, que se exprime por contos, provérbios e poesias declamadas. E recorda que há a recolha feita por Viriato Tadeu nos Contos do Caramô e os contos publicados no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa por António Carreira e Amadeu Nogueira, entre outros. Reconheça-se, no entanto, que esta contribuição oral, servida por uma linguagem colorida e variada, ultrapassa o campo literário e cai nos domínios da etnografia e do folclore. E há os tocadores de Korá, autênticos trovadores. E suscita uma nova questão, a problemática do crioulo. Entende que é uma linguagem auxiliar nas relações recíprocas entre as diferentes tribos, dizendo mesmo:
“Os crioulos portugueses escritos – seja o da Guiné, seja o das diversas ilhas de Cabo Verde – não constituem entidades filológicas independentes, mas sim transcrições dialetais fonéticas, em termos de português. O crioulo desempenha o papel de linguagem auxiliar nas relações recíprocas entre etnias. É uma linguagem franca. Enquanto em Cabo Verde o crioulo assumiu o caráter de uma linguagem substituta dos idiomas nativos primitivos, enfeudada à língua portuguesa oficial, na Guiné existe apenas o aspeto secundário da língua apreendida, desempenhando entre as populações locais um papel semelhante aos idiomas hoje utilizados nas relações internacionais”.

E depois de muito dissertar sobre o estado da educação na Guiné, João Tendeiro, já nos surpreendera com as citações de Mário Pinto de Andrade (já ao tempo uma figura destratada pelo Estado Novo, reconhecidamente dirigente do MPLA), não deixa de nos assombrar com as considerações que faz no termo do seu artigo:
“No que se refere aos indígenas, o problema passa muito além do campo da literatura, e relaciona-se antes com a premente necessidade de uma modificação basilar das estruturas legais e sociais dos nativos, indispensável à continuidade efetiva da presença portuguesa em África.”

Para bom entendedor…

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24421: Historiografia da presença portuguesa em África (373): O problema dos transportes na Guiné, um olhar e sugestões de um engenheiro de pontes, princípio da década de 1950 (Mário Beja Santos)

domingo, 25 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24430: (In)citações (252): "Hoje falamos dela", de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


HOJE, FALAMOS DELA

adão cruz

A conversa que deveria ser com a minha amiga da onça não o é. Desta vez não quero nada, tu cá tu lá, com ela. Não é que esteja zangado, mas não quero falar com ela, prefiro falar dela, ainda que me digam que é má-língua.

A descodificação das arquitecturas neurais que levam à razão aponta para um conjunto complexo e heterogéneo de áreas do córtex cerebral, situadas no lobo frontal. A sua superfície cresceu exuberantemente do antepassado primitivo até ao Homem, o que levou a qualificá-lo de órgão da civilização. Há, além disso, áreas circunscritas do sistema límbico envolvidas no prazer e no seu oposto, a repulsa. Tudo leva a crer que o prazer estético resulta da interacção concertada entre as representações mentais elaboradas no córtex cerebral e os estados de actividade do sistema límbico. Se assim for, não se ofendam com a interposição pessoal de uma pergunta: situar-se-á por estas bandas, mais amplas ou menos amplas, a tal identificação com ela?

Numa espécie de conclusiva ilação podemos dizer que quem se entrega a esta atrevida senhora, a Arte, propõe a si próprio uma verdadeira aventura. Para isso tem de traçar um caminho, caminho belo, difícil, desconhecido, atapetado de contradições, sem rota nem destino. Outro não pode ser o caminho da Arte. Neste caminho que atravessou e atravessará os séculos, não podemos deixar de nos situar numa posição de humildes aprendizes. Não podemos viver se não estruturarmos um trajecto de análise, de reflexão, de aprofundamento cultural e de intensa pesquisa individual e colectiva, que nos confira a dignidade de intérpretes da “Filosofia da Arte”. Arte que ninguém consegue definir de forma absoluta e universal, pela qualidade de algo que é produzido na inteligência humana, com efeito estético gerando juízos de valor sobre a própria obra, o seu autor e as técnicas e modalidades de produção.

Será que todos sentimos necessidade de comunicação, destino aparentemente credível de uma “Obra de Arte”? Será este “movimento da mensagem” a seiva que pode fazer de todos os fenómenos culturais fenómenos de comunicação? Será o verdadeiro destinatário a satisfação de caprichos e vaidades, ou o Ser Humano, entidade interpretante de um processo de significação?

Cientes da riqueza, do deslumbramento e dos perigos do binómio “Arte e Comunicação”, mantendo alguma inclinação para considerar a Arte como linguagem, deixemo-nos aventurar no campo do pensamento. Assim, consideramos que a Obra de Arte se dirige não só ao autor, mas também ao fruidor, não como um convite para estabelecer uma relação primariamente sensível, mas para que ele a compreenda como sentimento.

O Ser Humano que sonha a Vida na Arte e a Arte na Vida pretende o diálogo entre ele e os outros. A sua obra foi criada com a necessidade e a exigência de que todos a compreendam, ainda que esta exigência seja idealista e pouco realizável. De qualquer forma, tal necessidade e exigência constituem uma propriedade fundamental da Obra de Arte e um estímulo essencial da criação artística. Pela forma de estar nesta magnífica aventura, começamos lenta e progressivamente a acreditar que a Obra de Arte deve mediar um significado suprapessoal.

Neste percurso dentro do mundo da nossa amiga, teimosamente falseado de arranjos curriculares que visam pôr o artista acima da obra, fica-nos a sensação e a ideia de que a autêntica obra artística é um jogo, no qual o autor instaura livremente valores e opostos, com total soberania, com muitas interrogações, mas sem respostas a dar ou a esperar, elegendo como resultado o sentimento veiculado numa linguagem privilegiada, que procura dar à mensagem a dimensão mais ampla e profunda do Ser Humano.

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24411: (In)citações (250): Sou amigo do ex-cap QEO Bordalo Xavier, ex-cmdt da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72); fui a Lamego pagar-lhe uma dívida de gratidão; sei que participou no 25 de Abril de 1974 mas não sei qual foi o seu papel (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

domingo, 18 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24410: (In)citações (249): "Sei que a culpa não é só tua", de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)



SEI QUE A CULPA NÃO É SÓ TUA

adão cruz

São muitos os caminhos que nos conduzem à impostura, mas, mesmo assim, acredito que a única fonte da beleza ainda está em nunca nos separarmos de ti. Ao despedirmo-nos de ti, aliciados por modernas metáforas do pensamento banal, a nossa própria imperfeição nos basta, nos ilude e nos realiza. Tudo o que gira à tua volta, toda a mercadotecnia da arte, tanto mais ruidosa quanto mais artisticamente vazia, não passa de um barco sem remos à flor das águas quietas, numa falsa harmonia de contemplação, sem nada que a prenda medularmente ao artista, sem a luz e os espaços utópicos que a libertem deste mundo de merda.

O atrevido desconcerto das palavras, quando é bonito dizer-se que o poeta domina as palavras como se as levasse voando, a desconstrução de emoções e sentimentos, o desfazer dentro de nós da ordem e da criatura a fim de tentar abordar o não criado, são as ondas que na apatia do mar sereno tornam os poemas habitáveis e fazem da arte a real experimentação da vida. É muito grande a distância que nos separa do belo, e muito longo o caminho de libertação e renúncia para dele nos aproximarmos. Ainda que isso pressuponha o contratempo de não estar na moda, é imperioso acreditar que não é a rotura da mentira que faz a moda. A moda é o crime estético por excelência. Gira sobre si mesma para que nada mude a verdade-mentira. Se me permites um humilde conselho, foge das globalizações e hegemonias, geradoras de défices éticos e artísticos que fazem de ti um ser dominado e subalterno. Por isso te digo que não vale a pena dizer sim ou não quando o terreno não é fecundo e a vida não é mais do que imitação de si própria. Não vale a pena sonhar, se os fundos cálidos e cromáticos não nascem do destilar das horas e da vida, e se o diálogo de alegrias e desânimos não nos liberta da artificial conduta.

Muitos dos consumidores da ardilosa etiqueta e muitos dos argentários modeladores do mundo, instalados num presente sem fissuras e no acanhado espaço da exclusiva liberdade individual, em cujo peito o pulsar político-social, poético e artístico não é mais do que um coração de pedra, fabricam a ignorância, a incultura e a amoralidade necessárias à tua morte e à consagrada sobrevivência elitista. Sobre ti, basta-lhes o escolástico provérbio: De gustibus et coloribus non est disputandum (não há que discutir gostos e cores).

Uma vez na crista da onda, agarram-se ao mastro e passam a mandar no mundo, porque a sua fé lhes garante que a corrupção acompanha o poder como a sombra acompanha o corpo. Obreiros de um futuro podre, desconhecem a formosa face de uma alma nua e o apaixonante canto da arte e da vida em dignidade social. Compreender a obra é possuir a pessoa do criador, a sua experiência, a sua vida, os seus sentimentos e ideias. A Arte não é apenas a narração do estilo, mas a razão entre a força possuída e a força possessiva, a personalidade concreta feita modo de formar, na mais diversa e dialógica conversa com a vida.

Por mim, ainda que um tanto desconfiado, prefiro continuar a dizer-te: quando levas um seio ao vento e me dás a beber campos e cidades, glorifico a pouca luz que ainda me resta.

Se os lobos se atravessam no caminho para a tua cabana, o vento ergue-me nos ares e o coração aprende a não ter medo de cair.

Descobridor de sonhos, de amanhãs que riem e de estuários, continuo a pintar o vento, ainda que nele te vás.

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24388: (In)citações (248): "Mais uma conversinha contigo", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24392: Notas de leitura (1590): Uma obra fundamental por quem se interessa por estudos africanos: "Atlas Histórico de África, da Pré-História aos Nossos Dias", Direcção de François-Xavier Fauvelle e Isabelle Surun; Guerra e Paz Editores, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Este Atlas Histórico de África para além de ser graficamente irrepreensível apresenta-se como uma ferramenta útil para quem pretenda apurar mais conhecimentos sobre as civilizações do continente africano com base numa matriz cronológica de valor científico. É verdade que há para ali um olhar muito gaulês, passa-se como cão por vinha vindimada sobre a presença portuguesa, e é ainda mais notório o não haver uma referência às explorações portuguesas do século XIX. Mas paciência, o todo é que conta e a informação é pertinente, da Pré-História aos nossos dias. Quem estuda a África não se pode alhear da importância deste Atlas.

Um abraço do
Mário


Uma obra fundamental por quem se interessa por estudos africanos:
Atlas Histórico de África, da Pré-História aos Nossos Dias


Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição muito cuidada, graficamente irrepreensível, este Atlas Histórico de África, com direção dos especialistas François-Xavier Fauvelle e Isabelle Surun, Guerra e Paz Editores, 2020, documento apaixonante para os estudiosos de África. Este continente imenso com 2400 línguas faladas aparece muito bem enquadrado em cinco grandes períodos: a África antiga (desde a Pré-História até ao século XV; a África na era moderna (do século XV ao século XVIII), podemos ver os seus grandes reinos e alvorada da presença europeia; a África soberana (século XIX), que irá decorrer após a abolição do tráfico atlântico de escravos e as reconversões económicas africanas; a África sob o domínio colonial, um continente partilhado que irá resistir à presença colonial até à completa descolonização; a África das independências, com a sua teia de contradições e refluxos, a sua enormidade de desafios que aguardam resposta. O tratamento destas matérias é facilitado pela exibição de cem mapas mostram claramente este continente esteve sempre longe de se fechar sobre si próprio, é parte integrante da história da Humanidade.

Na sua diversidade, sabemos hoje não se pode estudar a hominização desconhecendo que ela começou em África, à luz dos conhecimentos atuais, o continente possui um rico mapa de arte rupestre, participou nas dinâmicas do comércio mediterrânico, na Idade Média foram-se robustecendo as suas relações com o mundo islâmico, as suas regiões litorais abriram-se a uma economia atlântica cujo elemento principal era o comércio negreiro. Uma Idade Média onde avultou o Império do Mali, onde foi influente a sociedade suaíli que resultou da cultura bantu e do mundo islâmico.

Mas não nos precipitemos, o leitor interessado é logo atraído pelos berços da Humanidade, pelos testemunhos da arqueologia e da linguística, e logo somos confrontados com a complexidade linguística da Etiópia, temos depois a arte rupestre, prossegue a investigação com África aberta para o Mediterrâneo, ficamos a saber que houve um sistema complexo de escrita, como se escreve: “Grandes zonas de África conheceram e utilizaram sistemas de escrita desde épocas muito antigas que tiveram início primeiro no mundo mediterrânico. Tal como o líbico-berbere, derivado da escrita fenícia, que serviu para gravar tanto inscrições líbicas antigas no Magrebe como o alfabeto tifinague, ainda usado pelos Tuaregues. A escrita etíope mostrou uma extraordinária inventividade, ao acrescentar declinações vocálicas a um alfabeto constituído inicialmente apenas por consoantes, adaptando-o assim a outras línguas e a outras pronúncias. De igual modo o meroítico, utilizado no Sudão, foi adaptado a partir do sistema egípcio para transcrever uma língua que ainda não sabemos decifrar completamente”.

A África do Norte faz parte das primeiras conquistas do Islão, estabeleceram-se rotas comerciais que infletiram em todas as direções até ao centro de África. Refere-se a Núbia e depois o Império do Mali e a Etiópia medieval. Assim chegamos à civilização suaíli, cujo território se estendia da Somália a Moçambique passando pelo Quénia, pela Tanzânia, pelas Comores e pelo Norte de Madagáscar. Estamos chegados à África na era moderna, emergem novos poderes: o Congo e o Monomotapa, na África Central e Austral, o Daomé e Axante, ao longo do Golfo da Guiné, o Songai, entre outros, foi um tempo de enormes recomposições políticas, que vários autores primorosamente sintetizam. E temos o primeiro entreposto europeu fortificado no espaço tropical, S. Jorge da Mina ou Elmina, como temos a Etiópia repartida em duas grandes religiões, o importante reino do Congo que manterá relações com Portugal e o Papado.

Apresenta-se o tráfico negreiro colonial e assim chegamos à África soberana do século XIX, dar-se-á a abolição desse tráfico e reconvertem-se as economias africanas, é o tempo do amendoim, das gomas, do óleo de palma, há senhores da guerra por toda a parte, descreve-se o reino de Madagáscar, o califado de Sokoto, que foi o maior Estado de África no século XIX, estendia-se do Norte da Nigéria aos Camarões. Mostra-se a África do tempo dos exploradores e regista-se o domínio colonial, desde as corridas às colónias à definição de fronteiras, bem como a problemática das formas de povoamento. A I Guerra Mundial, para além das várias batalhas que tiveram lugar no coração do continente africano, levaram muitos soldados a combater na Europa, nomeadamente em França e na Frente Oriental. O resultado não foi despiciendo: a Alemanha perdeu as suas principais colónias, a Grã-Bretanha e a França consolidaram as suas posições, a Bélgica e Portugal não saíram maltratadas. O africano pôde ver a fragilidade do homem branco, era menos invencível do que fazia supor, houve muitas promessas não cumpridas, começaram a germinar os movimentos independentistas.

Retornando ao século XIX, o Atlas dá-nos o quadro das missões cristãs no período colonial, temos depois a evolução das cidades coloniais, segue-se o fenómeno das revoltas anticoloniais e a emergência dos nacionalismos, daí decorre o período do império colonial tardio, que culmina com a descolonização portuguesa e as grandes transformações na África Austral. Nos anos 1960 à atualidade é um capítulo bem elaborado sobre o tempo das independências, as desilusões, a emergência do pan-africanismo, o que representou o fim da Guerra Fria em África, elencam-se as políticas sanitárias, os contrastes de desenvolvimento, realça-se o papel dos investimentos chineses nas infraestruturas, nos têxteis e madeiras exóticas. “Frequentemente financiados pelo endividamento, por vezes têm como garantia as receitas extrativas futuras. Por seu lado, os empregos assim criados e as expropriações ligadas à constituição de grandes domínios rurais alimentam o êxodo rural. Abidjã, Cairo, Joanesburgo, Lagos, Adis-Abeba transformam-se em polos urbanos e regionais dominantes no plano económico, político e cultural. A África em desenvolvimento é também uma África de desigualdades espaciais".

O fim da Guerra Fria saldou-se numa encenação democrática, tudo parecia caminhar para o multipartidarismo e a democracia parlamentar, mas o Estado autoritário e neopatrimonial dá provas de uma grande capacidade de duração, veja-se os casos do Gabão, da Guiné Equatorial, dos Camarões, do Congo-Brazzaville e do Chade. Seja como for, as mobilizações de cidadãos tornaram-se uma realidade, o que não impede que antigos opositores que chegam ao poder reproduzam o sistema que combateram, perpetuando, nomeadamente, o desequilíbrio presidencialista das constituições. Este importante Atlas História de África trata ainda o Apartheid na África Austral, os conflitos e sua resolução na África Central e Oriental e as migrações internas e externas na África. Conclui enfatizando que a África estava e está aberta ao mundo exterior, por essas janelas é bem provável que os quadros de violência, da pobreza, da corrupção e do autoritarismo possam conhecer modificações do quadro da globalização.

Obra do maior interesse, insista-se.

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24381: Notas de leitura (1589): N’Krumah, o líder da unidade africana, o denunciante das tramas do neocolonialismo (Mário Beja Santos)

domingo, 11 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24388: (In)citações (248): "Mais uma conversinha contigo", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


Mais uma conversinha contigo

adão cruz

A pérfida administração do silêncio é a melhor arma de matar ambições. Vês-me aos encontrões no nevoeiro, sem terra debaixo dos pés, à procura de um ponto de apoio, à procura de um princípio fiável da verdade e nada me dizes. Já reparaste que me escondes sempre a verdade? A verdade senta-se na paleta, mas tu trocas as cores da verdade pelas tintas da fama. Eu sei que todos temos direito ao nosso quarto de hora de fama, ainda que passemos uma vida inteira sem verdade. Gauguin nunca entendera a desordem de Van Gogh e Van Gogh nunca entendera a ordem de Gauguin. No entanto, a procura da verdade fora, provavelmente, a sua vida comum, o seu único acto comum, a consonância da arte que fez da substancialidade da pintura a ressonância dos tempos.

Quanto a mim, o pensar é garantia imediata do caminho da verdade, ainda que não deixe de nos acompanhar a dúvida imensa e incancelável. Quem tem as verdades e certezas das mentes formatadas, dos cabotinos e histriónicos trata a arte como os homens tratam as putas, isto é, utilizam-nas e elas sorriem-lhes, mas não os amam. Dizem eles que o tempo da beleza já passou e que a arte será cada vez mais científica e a ciência cada vez mais artística. Mas não fazem ideia do que dizem. A arte e a ciência, a ciência e a poesia podem fundir-se, é certo, dentro da progressiva cumplicidade entre as Ciências e as Humanidades, mas apenas quando a perversidade dá lugar à música do percurso. Sabemos que o engenho humano já manipula hoje a intimidade da Enciclopédia do Homem e dos muitos milhares de milhões de unidades que a compõem. E tudo isso nos leva a crer que a ciência pode, deve e tem de conviver contigo. Se a neuroplasticidade cerebral é base da compreensão da vida, isso mais nos ajuda a entender que a numerologia da arte é inimiga do sentimento e pode ser o diabo a cortar-te os braços para com eles se persignar. Todo o homem que te ama de verdade morre sempre na incerteza do seu próprio valor.

Na vida dizemos muitos adeuses. A lugares, amigos, relações, a gente que morre e a gente que se despede, a coisas que se acreditam e nos enganam. Só à verdade não é permitido dizer adeus. Será por isso que ma escondes? Consideras divertido esse teu espaço eleito como ideal mítico e atractivo, capaz de nos catapultar até à excelência interpretativa, mas o que nos mostras, a mim pelo menos, é uma cortina de fumo que me esconde o fogo e a espontaneidade da luz. Entre amanheceres e crepúsculos, exiges-me a verticalidade do meio-dia, amargamente impossível neste balancear incessante entre a intensidade do meu sentir, a que não é alheia a tua sensualidade, e a polarização dialéctica e simbólica.

Dentro das alegorias possíveis e de uma espécie de polifonia pictórica, considero-te a música do Universo, a mulher reinventada nas vivências e passagens do tempo, elemento de candor poético na intimidade do quotidiano. Talvez pelo hormonalismo poético da tua imagem feminina, nunca te outorguei o exíguo papel que tantos te atribuem. Mas pago bem caras a aspiração da tua pureza, a procura da tua inocência, a adoração da tua beleza, a ansiedade do teu absoluto, que fazem de mim um náufrago de sonhos preso nos lastros da realidade.

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24380: (In)citações (247): Já comíamos ostras em Empada, em junho de 1969: abertas em chapa quente com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão... (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, 1968/70)

domingo, 4 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24365: (In)citações (245): "Pequena conversa com a Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


Pequena conversa com a Arte

adão cruz

Há muito tempo que não falo contigo em público, mas penso em ti todos os dias e vivo-te intensamente. No entanto, não ando lá muito satisfeito contigo, melhor dizendo, não estou muito convencido da verdade da nossa relação. Cá para nós, também não acredito muito nos orgasmos daqueles com quem privas e a quem iludes tanto ou mais do que a mim.

A plenitude contigo, bem como a plenitude com a tua amiguinha poesia seria um contrassenso se conduzisse à frustração. Mas eu não vejo os teus amantes, por mais convencidos que pareçam, libertar-se das desilusões e frustrações. Apercebo-me de que, como eu, procuram constantemente mendigar o afecto que teimas em não me dar.

Todos os planos se interceptam no universo policromático e polipoético que cria o labirinto onde te escondes. O teu secreto reduto, em permanente movimento pelos céus do incriado, torna a tua posse quase impossível, por infinitamente diversa e fugidia em cada momento da vida. Todos os meus pressupostos interpretativos na gestão do acto criativo fazem-te rir, eu sei. Todos os pressupostos não são mais do que sentimento e dilatação da memória, que dificilmente coexistem com a dissolução das experiências pessoais.

Eu não moro em ti, mas moro mais em ti do que em qualquer outro lugar. Por tu o saberes, obrigas-me a ser um guardião de ruínas, medindo a palmos de esperança e futuro a arqueologia da vida. Na ânsia da tua vasta presença e no paulatino destapar das sucessivas camadas da realidade complexa, fazes de mim uma espécie de geólogo do meu próprio íntimo. Mas eu não posso viver fora desta procura e não tenho medo nem vergonha de me preocupar com a arte, de me preocupar contigo. Tenho medo, isso sim, daquilo que o reaccionário Flaubert chamara a maré de merda que inunda o nosso estado mental. Na realidade, poucos se preocupam a sério contigo. A infinita estupidificação corre o mundo como uma conjura contra a poesia e a liberdade - as asas que te eternizam - e faz do ser humano um arremedo, habitante de quatro paredes onde não cabem as cores da mente cultural e a edificação da palavra. Um ser encerrado na prisão dos actos controlados, longe da luz e da razão, caminhando cegamente na rota da sombra.

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24360: (In)citações (244): "CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24360: (In)citações (244): "CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça

adão cruz

Talvez tenhas dado por mim, mas não quiseste mostrar. Ajoelhei meus passos no teu caminho e tu não viste. Sempre tiveste duas pedras brancas nos olhos e cego foi o meu coração.

Sempre foi de mármore o teu rosto em todas as manhãs. Parte-me o peito a amargura, sempre que toda tu és apenas figura, retórica figura.

Afogado na tristeza, nunca uma boia me lançaste. Um fio de silêncio, de lágrimas molhado, foi o espaço vazio que criaste, o poema sem alma, a tela negra onde cravei os dedos e cuspi as cores sem brilho.

Desonrei o corpo das palavras e o seu mais alto dizer, para esmolar um verso, um rasgo de cor ou... morrer. Tu nada quiseste saber, em todas as plúmbeas manhãs derretidas em chuva.

Nasço e morro contigo todos os dias, amparado em versos que não têm mãos e logo se quebram aos primeiros raios de sol. Todas as minhas rugas faciais estão assinadas por um roteiro de ansiedades num calendário de esperanças, todos os meus nervos estão marcados pelos dedos vulcânicos da paixão. Em todas as manhãs perdidas no leito da angústia, só a ilusão foi minha amiga. Para ela me arrastaram as nuvens e com elas me confundi, com elas me perdi.

Sei que o meu lugar é aqui, ainda que eu não saiba o lugar que ocupo. Faço que rio, faço que choro, faço que canto, ao som ausente de um Quinteto para Clarinete. Mas não posso viver sem ti. Mais do que nunca, preciso de ti para viver o amor, a mais bela das frustrações.

O meu silêncio, de espada em riste, parte os teus olhos de pedra, e canta. Canta uma qualquer Chanson Romanesque a uma qualquer Dulcineia, perdida nos montes, algures, para lá do arco-íris.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24352: (In)citações (243): "Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

terça-feira, 30 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24352: (In)citações (243): "Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte

adão cruz

A obra de arte, seja qual for a forma de expressão, em nossa opinião deve procurar libertar-se, tanto quanto possível, do meramente sensorial, por mais figurativa que seja. A sua intrínseca e mágica natureza confere-lhe, fundamentalmente, um delicado papel de estímulo, mais ou menos poderoso, que pode levar a pessoa que a lê, que a ouve ou contempla, a libertar-se da escuridão e da hibernação, a desnudar-se, a revelar-se a si própria e a conhecer-se melhor. Quem vive uma obra de arte, poderosa expressão da essência humana, está constantemente a aprender uma experiência vivencial que não faz parte dos nossos padrões habituais de reflexão. E pode, se o estímulo e a sensibilidade tiverem a força necessária, permitir a sorte de nos alcandorar a instâncias onde reside um prazer único da fruição estética.

O sentimento artístico e o sentimento poético fazem parte da essência e do sumo da vida. Se ambos estes sentimentos existissem de forma construída e profunda dentro de nós, o mundo não seria tão cruel, a racionalidade não seria truncada, a verdade não seria mentida, a consciência não seria vendida e o Homem não seria caminho para a destruição.

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24348: (In)citações (243): "REFLEXÃO sobre a matéria e a vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

sábado, 6 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24292: Os nossos seres, saberes e lazeres (571): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (101): Veloso Salgado no MNAC – Museu do Chiado: O maravilhamento de obras desconhecidas de amigos franceses (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Esta exposição de Veloso Salgado tem o mérito de nos revelar que não há biografia definitiva sobre quem quer que seja, pensava-se ter um conhecimento mais ou menos aprofundado sobre o currículo de Veloso Salgado, eis que a neta doa um acervo de centenas de peças ao MNAC - Museu do Chiado, entre elas a correspondência deste talentoso pintor e vem-se a saber que estabeleceram ao longo da vida uma relação afetuosa com um conjunto de pintores franceses e que fora profundamente marcado por ter pertencido ao grupo da Escola de Wissant, no norte da França, isto além dessa mesma correspondência revelar as amizades do pintor por outros bolseiros portugueses, caso de Teixeira Lopes e Ventura Terra. É o aturado trabalho de Maria de Aires Silveira que levou a esta portentosa exposição. E aproveitou-se a oportunidade para dar notícia de duas outras exposições, uma sobre a arte e literacia em saúde e a outra para homenagear um grande artista recentemente desaparecido, Nikias Skapinakis.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (101):
Veloso Salgado no MNAC – Museu do Chiado, notícias sobre outras exposições (3)


Mário Beja Santos

Esta exposição alusiva a Veloso Salgado espraia-se por todo o seu processo artístico e a sua formação, este homem de origem galega formou-se em Lisboa foi professor na Escola de Belas Artes, teve intervenção em grandes espaços decorativos, caso do Palácio da Bolsa, da Escola de Medicina do Porto, da Assembleia da República. Este acervo vem na continuidade da exposição apresentada no Museu de Boulogne-sur-Mer, que revelou detalhes até agora desconhecidos do percurso artístico de Veloso Salgado. A exposição do MNAC foca-se sobre os estudos e a carreira artística de Veloso Salgado em França enquanto bolseiro, entre 1888 e 1895, nela se expõe obras inéditas desse período. Segundo a documentação que o MNAC distribui, a exposição acolhe 70 obras, põe enfoque no seu itinerário francês (Paris, Bretanha e Wissant), desvela a ligação de uma amizade com os artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont e a Escola de Wissant. É a primeira vez que se dá a público este diálogo de Veloso Salgado com os seus pares franceses.
Da exposição deu-se referência em dois textos anteriores, faz-se agora exclusiva menção de um quadro intitulado “Terra prometida” de um desses amigos franceses de Veloso Salgado, que também teve em exposição em 2022 no Museu Boulogne-sur-Mer.

“A terra prometida”, Adrien Demont, 1895

Decorreu até 20 de abril uma exposição intitulada “A literacia faz bem à saúde”, organizada pela Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde. O desafio foi “numa perspetiva construtiva de solução, sob o ponto de vista do artista, trabalhar temas subjacentes à literacia em saúde que se focam na comunicação terapêutica, no desenvolvimento de competências, na relação em saúde, na compreensão e na falta dela, na união de esforços e parcerias”.
Cada artista explorou individualmente possibilidades criativas e interpretativas que, no seu conjunto, permitem repensar as fronteiras entre profissionais, doentes e artistas de um modo simultaneamente íntimo, pessoal e coletivo e afirmar o poder da expressão artística no diálogo e no envolvimento das instituições, dos criadores e das pessoas em geral.

Fui imediatamente atraído por esta obra, tê-la-ei conhecido na década de 1980, quando fui designado pelo Ministério do Ambiente como representante no Conselho de Prevenção do Tabagismo, poderei estar enganado, mas esta peça fazia parte das exposições itinerantes sobre prevenção tabágica do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva, então dirigido pelo professor Fernando Pádua, circulou por inúmeros estabelecimentos de ensino, é uma peça didaticamente forte, tem poder chocante, não podemos desviar o olhar, não passa de modo algum despercebido o nefasto poder do fumo nos pulmões e nas vias respiratórias, o fumo é um dos fautores do cancros do pulmão.
No verso, imagens poderosas dos tempos em que fumar se inseria em todos os protocolos da vida social, era normal publicitar o tabaco, até o ator canastrão e futuro presidente dos EUA, Ronald Reagan parecia feliz da vida em enviar aos amigos cigarros Chesterfield. Hoje sorrimos e perguntamos como foi possível ter vivido séculos a fio nesta normalidade social tabágica. Parece que foi necessário ter de esperar pelos estudos dos cancerólogos para saber que a adição tabágica é o mal mais evitável que há.
Medicamentos do passado, quase um quadro de botica, advertências de que havia remédio multiusos para a fraqueza orgânica, convalescenças, neurastenia e anemia… Sou do tempo destes fortificantes e lembro-me perfeitamente destes frascos de dimensões enormes com ofídios em formol, também apareciam nas aulas de Ciências Naturais.
Obra de Diogo Gomes, “Lancem ideias àqueles que criticam ou a literacia na era da pós-verdade”, técnica mista, 2022.

Diogo Gomes recorre à pintura e à assemblage para convocar a discussão sobre o questionamento da clarividência científica e sobre a formação de uma ideia de pós-verdade, determinada pela proliferação de desinformação, pelo imediatismo e pela apropriação destas narrativas por parte dos populismos ideológicos neototalitários.
Nikias Skapinakis, “Retrato de Natália Correia”, 1959
Nikias Skapinakis, “Mulher leopardo”, 1968

Entre a exposição Veloso Salgado e a “Literacia faz bem à saúde”, na chamada Sala dos Fornos no Museu do Chiado expõem-se obras de Nikias Skapinakis, falecido em 2020, admiro muito o seu talento, guardo memória dos seus quintais e das suas divagações de Pop Art, que o visitante do Museu do Chiado não perca a oportunidade de conhecer as sucessivas fases de experimentação deste grande pintor.
Cabeça de preto, Soares dos Reis (1873)

Estou de saída, é sempre impressionante descer a escadaria do Museu do Chiado, ter tempo para conversar com esculturas que adornam estes espaços de passagem e o átrio. Esta “Cabeça de preto” é impressionante no equilíbrio das formas. Quem cuida da decoração do MNAC não esquece mestres do naturalismo à atualidade, é possível ver em diálogo Rodin e Alberto Carneiro, já pronto a sair olho para o alto e despeço-me deste esplêndido gesso de Canto da Maia intitulado “Desespero da dúvida”, vem bem a propósito, não propriamente desespero, mas esta salutar dúvida que qualquer obra de arte nos levanta, faz parte integrante do nosso olhar sobre a vida e sobre o mundo.
Mais uma razão para vir até ao Museu do Chiado.

“Desespero da dúvida”, Canto da Maia, 1915
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24266: Os nossos seres, saberes e lazeres (570): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (100): Veloso Salgado no MNAC – Museu do Chiado: O maravilhamento de obras desconhecidas de amigos franceses (2) (Mário Beja Santos)