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sábado, 5 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23763: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (2): amostra de mensagens recebidas entre setembro e dezembro de 2021


Formulário de Contacto do Blogger: disponível na coluna estática, do lado esquerdo do blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)


1. Seleção de mensagens recebidas através do Formulário de Contacto do Blogger, entre setembro de 2021 até ao final do ano (*). É um veículo importante de comunicação imediata e fácil entre os leitores e os editores do blogue.

 Nalguns casos, já houve uma resposta direta dos nossos editores ou um reencaminhamento para outros destinatários. Também num caso ou noutro a mensagem pode já ter dado origem a um poste (**).

Algumas destas mensagens são extremamente lacónicas, limitando-se a cumprimentar-nos, o que de qualquer modo nos sensibiliza, mas não vamos publicá-las aqui. Noutros casos, os autores procuram antigos camaradas... Outras há que são incompletas ou imprecisas, ou têm a ver com outros territórios que não a Guiné (Angola, Moçambique, Brasil, etc.).

Evitamos, em princípio, divulgar o endereço de email de cada um destes contactos, a menos que haja interesse para o próprio (nos casos, por exemplo, em que divulga um livro ou a realização de um encontro: ou procura informação que extravasa o âmbito do blogue, o qual, como é público e notório, é centrado nos antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, que estiveram na Guiné, no período que vai entre 1961 e 1974).

Podemos fornecer o email a quem no-lo pedir, para respostas a pedidos ou futuros contactos. Lamentavelmente, só agora, por manifesta falta de tempo, nos foi possível, selecionar, organizar e listar estas mensagens. Omitimos as expressões protocolares (saudações, cimprimentos, etc.). A lista está organizada cronologicamente por data / hora.



2021 (setembro/dezembro)

29/12/2021, 11:37

Sou de 15 de setembro 1950, venho por este meio felicitar os obreiros deste blogue simplesmente formidável. Bravo!... Fiz tropa no BENG 447,  Brá, de 1972 a
1974. Se puder ajudar em alguma coisa é de boa vontade na medida do possível sou reformado e vivo na Suíça. Americo Aflalo.

Resposta do coeditor Carlos Vinhal (que também serve para mensagens semelhantes de camaradas que manifestam interesse em integrar a Tabanca Grande):

Caro Américo Aflalo: Muito obrigado pelo teu contacto via Formulário do Blogger. Se te quiseres juntar a nós e ser admitido na tertúlia para que possas ver publicadas as tuas memória e fotos, manda-nos um mail para luis.graca.prof@gmail.com ou carlos.vinhal@gmail.com, com indicação do teu nome, posto, especialidade, unidade em que foste integrado para a Guiné (ou rendição individual se for o caso), localidades onde estiveste e outras informações que julgues úteis para te conhecermos. Deverás enviar ainda uma foto actual e outra dos teus velhos tempos de Guiné e, se quiseres, uma pequena história. Ficamos na expectativa de novo contacto teu.


22/12/2021, 21:05


Queria enviar uma mensagem a todos os meus camaradas e amigos da CCAÇ 2548.
Um grande abraço a todos amigos do 1º pelotão que me acompaharam desde 1969 a 71.
José Dias de Sousa

21/12/2021, 23:14

Eu estive na Guiné de setembro 1971 a dezembro de 1973. Estive na zona de
Teixeira Pinto no destacamento de Batuca. BCAÇ 3863, CCAÇ 3461. Jorge Reis.



5/12/2021, 13:51

Pergunto se têm conhecimento onde se encontra o meu camarada Idálio Reis, da CAÇ 2317 (Gandembel, Balana e Cansissé, 1968/69) ?

António José Silva Nabais Pinheiro  (presumivelmente a viver no Brasil, pelo seu endereço de email).


24/11/2021, 8:25


Há vidas que se esquecem, mas há recordaçºoes que perduram pro muito que se queiram esquecer. Guiné, CCAÇ 4942/72, 5 jan 73/ Out 74. Manuel João Sampaio Lima.


9/11/2021, 17:20


Mantanhas para todo o pessoal da Tabanca Grande. A propósito do fardamento, lembro-me de uma ocasião, já a minha gente tinha manga de tempo na terra sabi, ter pedido para Bissau a substituição dos mosquiteiros, que já pouco mais eram do que farrapos remendados vezes sem conta, e nos foi respondido num ríspido ofício dos serviços da administração que os ditos cujos tinham uma duração de não sei quantos anos e, portanto, os nossos ainda tinham que aguentar uns mesitos mais até poderem ser substituídos... Não houve outro
remédio, o nosso primeiro-sargento foi a Bissau comprar panos de mosquiteiro que o alfaiate mandinga de Buba transformou em mosquiteiros próprios mesmo... E. Esteves de Oliveira.


14/10/2021, 10:06

Bom dia camarada Luis Graça, sou residente no Vimeiro, concelho da Lourinhã há 43 anos pois sou natural de A dos Cunhados.. Casualmente há dias , passou por aqui um individuo à minha porta, ia visitar a campa de camarada Eduardo  Jorge. E a minha mulher chamou-me a atenção, pois o sr. andava para trás para a frente olhando para tudo. Fui espreitar à janela, e qual o meu espanto, disse para a minha mulher, conheço este sr. Fui de imediato à Net e procurei, e acertei mesmo, era o camarada e conterrâneo João Crisóstomo.

Fui à rua chamei-o e claro confirmou. Ficou muito satisfeito por o reconhecerem, falamos um pouco da nossa terra, e lá foi prestar homenagem ao Eduardo Jorge. Desculpa, mas achei que devia partilhar este momento feliz, para mim que conheci o João Crisóstomo e para ele que ficou satisfeito de o conhecerem pela Net.  Artur Eduardo Januário Inácio.


25/9/2021, 14:08

Boa tarde o meu pai fez parte dessa CCAÇ 797, na Guiné, comandada pelo Capitão Carlos Fabião, é o Manuel Marques Lamarosa, era atirador. João Manuel Marques.

19/09/2021, 12:12

Diamantino Paiva Leite, soldado condutor da CART 1526 que prestou serviço na Guine nos anos 1966 a 1968, a residir em França desde 1971. solicitou-me que soubesse algo dos seus antigos camaradas que com ele viveram esse tempo de luta na Guiné. A saúde não lhe permite aceder a estes meios. Em seu nome, o meu muito obrigado. Arlindo Moreira da Silva (ex-soldado cond, CCS / BCAÇ 1933, Guine 67/69).



9/9/2021, 19:08

Chamo-me Nuno Inácio e sou filho de um Comandante do Pelotão de Caçadores Nativos 67, Alf Mil Gil da Silva Inácio,  conhecido como "O Gringo" - Cufar, Guiné 1973.

Tomei conhecimento deste website através de um grande amigo que viu um artigo onde mencionava um Alf Mil na Guiné conhecido como "o Gringo" e como outrora lhe tinha referido essa alcunha do meu pai fui verificar e de facto é o meu pai.

Estimo informar que o meu é vivo, cheio de saúde e ainda pronto para as curvas. Neste sentido gostaria de saber se alguns dos inúmeros heróis aqui presentes e representados conheceu o meu pai, gostaria de saber mais histórias desses tempos, porque o meu pai tem algumas reservas em partilhar essas histórias e se ainda existem encontros de ex-combatentes desses GE e, em caso afirmativo, pedia o favor a V. Exas. ser notificado para o efeito. Nuno Inácio (Indica o nº de telemóvel). (**)
 

8/9/2021,19:54

Com referência ao post do camarada António Abrantes, lembro-me da emboscada e da passagem da sua companhia por Buba, onde me encontrava na altura. A companhia que fez a escolta entre Aldeia Formosa e Fulacunda foi a CCaç 411, de Buba. A atribulada viagem da CCaç 423, que ficou conhecida como a "Volta à Guiné de Camioneta", deu pano para mangas sobretudo peo final, no fim de contas era a maneira mais lógica - por via marítima. 

Se fosse possível, agradecia que o Abrantes confirmasse se o ten Carlos Afonso Azevedo (falecido em combate) fazia parte da sua companhia. E. Esteves de Oliveira.

2/9/2021, 21:09

Eu António Lopes Pereira sou o ex-1º cabo da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832. Estive
em Mansoa, Braia e Infandre de 1970 a 1973, sou o nomero 701 da Tabanca Grande. António Lopes Pereira.



23/8/2021, 13:07

Estive na Guiné de novembro de 1966 a outubro de 1968. Na CArt 1612 / BArt 1896 até agosto de 1967, primeiro em Bissorã e depois em Buba, transitando depois para Bissau, para o Comando Chefe do CTIG:

Recebo os e-mails da vossa Tabanca, quase desde o princípio. Jorge Paes da Cunha Freire.



18/08/2021, 19:16

Caros camaradas militares: anseio por voltar ao nosso convívio; para quando está previsto - se está - o próximo encontro? Francisco Vilas Boas.



16/8/2021, 17:38


Estive na Guiné de 68/70 na 16ª Companhia de Comandos da qual em 69 o Marcelino da Mata fez parte . Um abraço a todos quanto por la passaram. Sou de Coimbra. Luis Cunha


10/8/2021, 01:04

Boa noite! Alguém por aqui do BAA 3434, 191/73, "As Avezinhas - Venham
Comigo Os fortes" ? António Martins.


10/08/2021, 09:09

 Os meus Bons Dias desde as «arábias». 
Faz hoje quarenta e nove anos (1972.08.10-2021.08.10) que vários elementos do contingente militar da CART 3494, a terceira unidade de quadrícula do BART 3873, tiveram de “mergulhar”, sem o desejarem, nas águas revoltas, escuras e lodosas do Rio Geba, na região do Xime/Bambadinca (Sector L1), onde, por efeito da falta de bom senso mesclado com alguma improvisação, perderam a vida três jovens milicianos, naquele que ficou gravado como o «Naufrágio do Geba».

Ao recuperar esta horrenda efeméride que a todos marcou, naturalmente mais aos que viveram e sobreviveram à experiência, quero prestar a minha sentida homenagem aos que pereceram naquele acidente náutico: ao José Maria da Silva Sousa, ao Manuel Salgado Antunes e ao Abraão Moreira Rosa.

Para compreender a trágica ocorrência devem-se ler os P10246; P13482 e P13494.  Jorge Araújo

terça-feira, 19 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19600: Memória dos lugares (387): Jemberém, no Cantanhez (António Castro, ex-fur mil inf, CCAÇ 4942/72, 1972/74)



Foto nº  3 > Um “cruzeiro” numa LDM pelo rio Cacine,  entre Cacine e Jemberém



Foto nº 4 > Aqui estou eu junto do abrigo, tipo “bunker”, que foi construído a pensar em defesa do comandante e das comunicações em caso de ataque em força.


Foto nº 2 > Um quarto duplo onde morei esses 11 meses que partilhava com outro Furriel.






Foto nº 1 > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.


Foto nº 1A > Esta era a cozinha de campanha, onde se faziam maravilhas quando havia comida fresca.




Foto nº 6 > Este era o meu grup de combate, o 3º, o Zigue-Zague, [O alferes Lima era o meu comandante de pelotão - o 3.º; o alferes Vítor Negrais o comandante do 2.º pelotão, o alferes Pires, o comandante do 4.º pelotão e o do 1.º era um "Operação Especiais" ["ranger" cujo nome já me falha. A CCAÇ 4942, os "Galos de Jemberém", foram os "pioneiros e construtores de Jemberém" [, hoje, Iemberém]

Guiné > Região de Tombali > Jemberém > CCAÇ 4942/72 (1972/74) 

Fotos (e legendas): © António Castro  (2019) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


Guiné-Bissau  > Região de Tombali >  Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento, em bom estado,  assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por "Os Galos do Cantanhez". Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2008) . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Mensagem do António [Clodomiro Silva] Castro, ex-fur mil inf,  CCAÇ 4942/72  (Jemberém e Barro 1973/74. É membro nº 753.º da nossa Tabanca Grande (*)

Data: sábado, 16/03, 23:02
Assunto: CCAÇ 4942/72

Olá Luís,

Peço desculpa porque já passou muito tempo (*)  e parece que estou “desaparecido em combate” mas este é o combate da vida.

Depois das vossas boas vindas,  é de facto tempo de relembrar um pouco da “história” pelo que vou fazer um pequeno texto que segue abaixo e anexar 5 fotos, para publicação, se entenderam que tem interesse neste contexto.

Formamos uma Companhia Independente na Madeira, nos fins do ano de 1972. Foi denominada CCAÇ 4942. A nossa mobilização indicou - Guiné. (**)

A Companhia já completa foi para Lisboa aguardar embarque. No dia 26 de Dezembro do mesmo ano embarcamos no Uige rumo à nossa aventura.

 As notícias davam conta que o nosso destino era Bafatá. Sendo a segunda cidade da Guiné até
parecia que estávamos a caminhar para umas “férias”. Mas a apenas dois dias da nossa chegada, a notícia foi a morte de Amilcar Cabral [, em 20 de Janeirode 1973], o que nos fez logo esperar o pior. 

Depois do IAO no Cuméré, fomos para Mansoa,  a norte de Bissau,  aguardar transporte para Cadique no sul de onde passado pouco tempo fomos abrir destacamento no meio do mato, numa localidade já sem população que se chamava Jemberém e que distanciava cerca de 10 km de Cadique. (***)

Juntos com outra Companhia Independente e com o reforço de alguns fuzileiros, montamos um destacamento em círculo onde a alguns metros do “arame” escavamos valas para defesa em todo o perímetro e valas mais largas onde montamos camas de campanha para dormir, onde ficaram todos os praças e furriéis, para maior operacionalidade. Apenas os oficiais e especialistas não atiradores ficaram no centro. 

Pouco tempo depois os fuzileiros foram substituídos por um grupo de Artilharia com 3 obuses 10,5. E nestas condições ficamos durante 11 longos meses com saídas para o mato quase dia sim, dia não, em bigrupo ou com saídas de 2 dias quando era a Companhia com os seus 4 grupos operacionais a sair. Dos ataques ficaram certamente muitas recordações, mas não vou falar delas agora. Ficam algumas imagens que mostram um pouco do ambiente.

Final da história: depois deste período fomos para Barro, onde nunca mais tivemos ataques, passamos o 25 de Abril, fizemos, salvo erro, o “30 de Maio” que foi a expulsão do comandante e acabamos por regressar a Lisboa em Setembro por antecipação do nosso tempo de mobilização, em que TODOS os que integraram a nossa Companhia regressaram a casa. Sim, a nossa Companhia não teve nenhuma baixa, e teve apenas um ferido que ficou a mancar, mas mesmo assim ficou até ao fim.

Com os melhores cumprimentos,
António Castro
_______________

Notas do editor:


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17733: Tabanca Grande (444): António Clodomiro Silva Castro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4942/72 (Jemberém e Barro, 1973/74)

Povoação de Barro
Foto: © A. Marques Lopes

1. Mais um camarada se perfila na nossa Tabanca, desta vez o ex-Fur Mil Inf António Clodomiro Silva Castro da CCAÇ 4942/72 que palmilhou Jemberém e Barro nos anos de 1973 e 1974. Passa a ocupar o lugar 753.º da nossa Tertúlia.

Mensagem do nosso novo camarada e amigo tertuliano com data de 3 de Setembro de 2017:

Olá Luís,
Embora não te conheça pessoalmente, é como se conhecesse o teu passado (uma parte) visto que temos um passado comum na Guiné.
Descobri o vosso blogue no passado mês de Agosto, onde deixei um comentário relativo à CCAÇ 4942(1) a que pertenci.
E agora penso que poderei contribuir com algumas fotos e histórias dessa passagem que não esquecemos.
Deixo aqui os meus dados e fico a aguardar a minha inscrição para poder publicar.
António Clodomiro Silva Castro, ex-Furriel Mil. na CCAÇ 4942/72 - Companhia Independente formada no BII 19, na Madeira, e que passou pela Guiné entre Janeiro de 1973 e Setembro de 1974.
Depois do treino operacional esteve instalada em Jemberém e depois em Barro.

Com os melhores cumprimentos
António Castro

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(1) - Aqui fica o comentário deixado pelo António Castro no Poste Guiné 63/74 - P4812: Contributo sobre a CCAÇ 4942/72 (António J. Sampaio) (2): "Os primeiros dias"

Não sei se este blogue ainda mexe, mas deixo aqui o meu comentário.
Amigo Vítor Negrais, o que aqui ficou escrito é pura verdade. Andamos juntos nesta tarefa difícil de levar uma companhia formada por homens, e trazê-la inteira de volta - e conseguimos! Mesmo com a falta de um comandante unificador, nós alferes e furriéis milicianos que lidávamos de perto com os homens que comandávamos, sempre tivemos um controlo e disciplina totais. Mas eles também sabiam que fazíamos tudo o que estava ao nosso alcance por eles, pois estávamos no mesmo barco.
Compreendo a visão do amigo e então capitão António Sampaio, vindo de fora, de quem curiosamente a minha recordação é pouca, mas lembro-me que quando substituiu o anterior comandante foi de facto um alívio e uma grande serenidade.
Quando relembro estes factos ocorridos há mais de 40 anos, dou-me conta que a memória vai-se encarregando de ir apagando alguns pormenores e até a sequência fica meia confusa, mas os factos mais importantes estão gravados a fogo.

Um abraço a todos aqueles que me reconhecem, mesmo aqueles de quem eu já mal recordo os nomes, mas o Alferes Lima era o meu comandante de pelotão - o 3.º, o Alferes Vítor Negrais o comandante do 2.º pelotão, o Alferes Pires, o comandante do 4.º pelotão e o do 1.º era um "Operação Especiais" cujo nome já falha.

António Castro
Ex-furriel mil.
6 de agosto de 2017 às 12:18

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2. Comentário do editor

Caro António Castro,
Como vês, o Blogue ainda funciona embora precisemos de malta "nova" para reactivar o registo de memórias e fotos. Muitos de nós andamos por aqui quase desde a criação desta página, destinada especialmente aos antigos combatentes da Guiné, e já nos vai faltando assunto.

Camaradas como tu, que nos vão descobrindo e gostam do que lêem, serão o garante da manutenção da vitalidade deste repositório de recordações de um tempo indesejado mas que fez parte da nossa vida enquanto jovens.

Prometes, tens de cumprir, enviar fotos e textos sobre a tua passagem pela Guiné, de um período em que a incerteza era muita, quer pela dureza da guerra quer pelo tempo que mediou a passagem desde o 25 de Abril até à passagem do testemunho ao PAIGC, e regresso a Portugal com a certeza do dever cumprido.

Temos apenas seis entradas sobre a CCAÇ 4942/72 pelo que ficas com a missão de aqui relatares os factos que achares mais importantes da história da tua Companhia, enriquecidos sempre que possível com as fotos que religiosamente guardaste estes anos todos.

Em nome da tertúlia e dos editores, deixo-te um abraço de boas-vindas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17723: Tabanca Grande (443): Estêvão Alexandre Henriques, natural da Lourinhã, ex-fur mil mec radiomontador, CCS / BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 751, em dia de aniversário natalício... Está de duplos parabéns!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9287: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (2): As duas passagens de ano: Canchungo, 1972/73, e Cufar, 1973/74

1.  Do nosso camarada e amigo, António Graça de Abreu (AGA), publica-se mais dois excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, a partir do ficheiro em word que serviu de base à publicação do livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp). 

Trata-se de duas "passagens" de fim de ano/ano novo: a de 1972/73 (em Teixeira Pinto ou Canchungo, na região do Cacheu, a noroeste) e a de 1973/74 (em Cufar, na região de Tombali, no sul). O estado de espírito de um homem, ao entrar no ano da peluda, já não era o mesmo do periquito, desembarcado em Bissau, 18 meses antes, em 24/6/1972 (*)... O AGA era Alf Mil, Secretariado, Serviço de Pessoal, do CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

Ao AGA e e à sua família lusochinesa só posso desejar os melhores votos para 2012: saúde, paz, sabedoria, esperança... Aqui, do sossego do antigo do Convento de Nossa Sra. do Carmo, do Séc. XVII, hoje hotel rural, Freixinho, Sernancelhe, em pleno coração das Terras do Demo, com um Alfa Bravo do amigo e camarada LG.

(...) Canchungo, 27 de Dezembro de 1972

Ontem vi um filme de Claude Chabrol, A mulher infiel. Deve ser obra menor dentro da cinematografia do francês, mas que diferença das habituais pepineiras que costumam colorir o écran do Cine-Canchungo!

Estou a ler Os Maias, a velocidade de cruzeiro. Grande Eça! Que prosa, o encadeamento dos personagens e que gente, o Carlos, o Ega, a Maria Eduarda, o velho Afonso da Maia! Foi preciso vir para a Guiné para ler Os Maias! Já está aqui ao lado A Ilustre Casa de Ramires, à minha espera. Depois de Eça de Queirós quem será capaz de escrever melhor, de cinzelar tão bem a língua portuguesa e de lhe misturar diamantes e pérolas? 



Canchungo, 28 de Dezembro de 1972 

Ainda os livros. Os Maias já estão, que delícia!

Leio também Textes et Chansons de Jacques Prévert e Boris Vian, uma antologia emprestada pelo Cravinho, o meu novo companheiro de quarto. De Prévert:

La vie est une cerise, 

La mort est un noyau,
L’amour un cerisier.


Leio ainda os Contos do Autómato, outra vez Moravia. Ler, pensar, questionar, aprender. Livros não me faltam. Agora veio a oferta do Movimento Nacional Feminino aos soldados de Portugal, oito obras para cada um. Havia gente que não estava interessada em ler, então, por vias travessas, acabei por arrepanhar dezasseis livros. Alguns não têm interesse, outros vão-me ajudar a fluir melhor por dentro do tempo da Guiné. Tenho a Eugénia Grandet, do Balzac, A Queda do Albert Camus, a Aparição do Virgílio Ferreira, Fernão Lopes, Régio, uma Antologia de Poesia Brasileira, até tenho Cervantes.

Refugio-me nos livros. O padre António Vieira dizia que os livros são como os cães, os melhores amigos do homem. 


Canchungo, 1 de Janeiro de 1973

Ontem à noite houve corrida de São Silvestre organizada pela Acção Psicológica do CAOP 1. Às nove e meia da noite, tínhamos noventa figurões equipados, com postura de grandes atletas, a dar três voltas à avenida principal. Fui assistir na companhia do alferes Paiva, da 38ª de Comandos [1]. 


Mas ele tinha outra ideia, sub-reptícia, fixa. Quase em segredo, queria-me mostrar a sua namorada (?) libanesa, uma mulher assustadora, solteira, com quase cinquenta anos convencida que tem vinte e dois, e que atrai os homens. Vive no centro da vila, na praça Dr. Oliveira Salazar com a família de comerciantes vindos do Líbano. Como é que esta gente veio parar à Guiné? A senhora pinta o cabelo  - uma tenebrosa cabeleira loira,  -  pinta os olhos, pinta os lábios, pinta as unhas, pinta tudo. Usa uns brincos de folheta vindos de Salamanca, Espanha – diz ela, – tem a cara envelhecida coberta de cremes e pós. É um mamarracho digno de exposição. O Paiva, pouco mais de vinte anos garbosos e valentes, conduziu-me até casa dela, queria que eu a conhecesse. A mulher recebeu-nos como se tivessem chegado dois príncipes da Pérsia. Cumprimentei-a e vim educadamente embora. O alferes Paiva, Comando, capaz de todos os gestos heróicos, ficou lá a desmaquilhar suavemente a dama libanesa. 

À meia-noite, em casa do capitão Pancada abriram-se umas garrafinhas de Magos e de champanhe. O Pancada e o alferes Gamelas têm consigo as esposas, simpáticas, bonitas, ambas de nome Helena. Estavam felizes, dançavam enlaçados, beijavam-se. Na sala havia mais quatro homens casados com as mulheres em Portugal. Olhávamos uns para os outros, mastigávamos em seco, sorumbáticos, tristes. Éramos o alferes Teixeira, um excelente rapaz do Batalhão 3863, o alferes Tomé, meu companheiro de quarto, o furriel Rodrigues também do Batalhão, e eu. 

Depois do “réveillon chez Pancada”, o Tomé foi ainda beber com os alferes Comandos – não sei se o Paiva já voltara do seu sortilégio libanês, – e regressou às tantas ao quarto, a gatinhar, a gritar a frase do costume “Tirem-me daqui, tirem-me daqui!” 

Canchungo, 3 de Janeiro de 1973

A 3 de Janeiro de 1974, ainda nesta guerra. Mais trezentos e sessenta e cinco dias a preencher sei lá com quê. Haverá dias pavorosos, outros mais lassos e pacatos, enfim o tempo manda, temos de passar por dentro dele. 


De hoje a um ano, eu pequeno, ignorado, na Guiné mascarada, massacrada, quero continuar lúcido, a lutar por mim e contra mim - contra os meus defeitos, - a não combater ninguém. Mais velho, mais gasto, mais cansado. (...)

[1] Para a história da 38º. Companhia de Comandos, ver Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974), Lisboa, Estado Maior do Exército, 1988 a 2002, 7º vol., tomo II, pag. 536.

___________________


(...) Cufar, 28 de Dezembro de 1973 

Retratos dos dias, sementes em chão calcinado, rios cinzentos e sangue vermelho a escorrer pelas margens.

Eram sete da manhã quando os Fiats picaram sobre Cufar e foram largar as bombas aqui ao lado, a uns quinze quilómetros, sobre a aldeia de Santa Susana, controlada pelos guerrilheiros. Depois, durante quase todo o dia foram chegando a Cufar homens, mulheres e crianças estilhaçadas pela guerra, os muitos feridos do bombardeamento sobre Santa Susana. 

Ao alvorecer, bombardeámos aquela pobre gente, depois, a partir do fim da manhã, tudo fizemos para os tratar, para lhes salvar as vidas. 

Os portugueses têm bom coração. 

Cufar, 30 de Dezembro de 1973 

Inevitável, a guerra actua sobre mim. Tenho dormido horrivelmente mal, mas quem é que consegue dormir bem com quase vinte e quatro horas de rebentamentos constantes, de todo o tipo, à sua volta? Ando mais nervoso, descontrolo-me e grito com mais facilidade, eu que por norma sou uma pessoa tão calma! Pois, o coração bate mais perto da boca, mexe-me com a sensibilidade. Faço um esforço, procuro o auto-domínio e a serenidade. Tem de ser, não me posso deixar destruir. 

Cufar, 31 de Dezembro de 1973 

Aquela história da irmã pequenina da Maria, a minha lavadeira, fez com que eu arranjasse uma grande amiga. A miúda, em língua mandinga, chama-se Nandi Camará e adoptou o nome português de Mariana. Afinal tem só sete anos, se eu tivesse oito ou nove anos queria-a para minha namorada. É uma menina bonita, tem uns olhos grandes de veludo, redondos como a lua cheia. Quando fui a Bissau tratar dos dentes, a Nandi pediu-me para eu lhe trazer uma camisa. Comprei-lhe um vestidinho, um brinquedo e dois pratinhos de esmalte colorido com os respectivos talheres que lhe ofereci no dia de Natal. Reagiu com uma alegria que eu desconhecia numa criança, cantava modinhas que não entendi, dava saltos à roda de si própria. Nunca ninguém lhe oferecera um brinquedo. Trouxe também um saco cheio de balões e uns ursinhos de peluche para os outros miúdos da tabanca da Nandi. É fácil fazer felizes estas crianças de Cufar que vivem tanta guerra e nem uma escola têm para aprender a ler. 

Cufar, 1 de Janeiro de 1974 

Chegou o ano da “peluda”!

Entrei pelo réveillon dentro ao som de milhares de tiros e rajadas de G 3. 


O meu coronel [, comandante do CAOP1,] havia dado ordens ao capitão da companhia dos açoreanos e a toda a tropa de Cufar para que, ao chegar da meia-noite, ninguém disparasse um único tiro. Falou em dez dias de prisão para o energúmeno que tivesse a ousadia de pegar na espingarda e fizesse fogo. 

À meia-noite menos dez começou o fogachal. Os açoreanos [, da CCAÇ 4740,] saíram das suas tabancas às dezenas, armados, com as G 3 apontadas para o céu e vá de despejar carregadores após carregadores. Ao soar das doze badaladas – que ninguém ouviu até porque não soaram badaladas nenhumas, - tínhamos apenas o matraquear constante das armas ligeiras que quase levantavam Cufar do chão. Uma festa! Por todo o lado, havia tiros à solta. Os rapazes, bêbados, tontos de desvairo, não disparavam apenas para o ar. 1974 também é para eles o ano da “peluda” e quase se podiam ver balas cruzadas a rasar as nossas cabeças. Felizmente ninguém foi atingido. O meu coronel manteve-se quietinho no seu quarto, ninguém deu por ele. 

Se as bebedeiras são o pão nosso de cada dia, neste fim do ano foi demais. Eu também ando a beber mais do que devo, é fácil uma pessoa enfrascar-se e vou explicar como é, basta contabilizar a rotina do dia. Ao almoço, ao meio-dia, o pobre repasto é acompanhado com vinho, às quatro da tarde, por causa do calor, bebe-se uma cerveja, às sete, ao jantar, marcha mais meio litro de vinho, depois enfia-se um café e uma aguardente, às nove ou dez, há petisco, por exemplo umas chouriças assadas, bebem-se mais umas cervejas e no fim, para atestar, sorvem-se lentamente uns copos de whisky.

Chegou 1974. É a sequência irreversível dos dias. Em breve partirei, estes açoreanos regressarão igualmente a casa, outros rapazes oriundos dos quatro cantos de Portugal virão para a Guiné. Até quando?

Cufar, 4 de Janeiro de 1974 

Ontem de manhã acordei com mais um tremendo “embrulhanço”, os rebentamentos uns atrás dos outros. Era a estrada Cadique-Jemberém. Ainda na cama pensei: “Lá estão mais pobres desgraçados a morrer!” Era verdade, dois soldados mortos do batalhão de Cadique, os corpos destroçados (**). Vieram para Cufar e, como de costume, aqui foram metidos nas urnas junto com um fuzileiro que esperava por caixão há dois dias e já cheirava mal. O cangalheiro vestiu o fato de madeira e chumbo aos três. Já ninguém estranha muito, estamos habituados, a vida continua. Mas porque diabo é que o rodopio dos mortos e feridos passa sempre por Cufar?... 

Tenho constatado que em muitos de nós existe um prazer sádico, mórbido em ver mortos e feridos. Faço parte do grupo. Há qualquer coisa de macabro no ser humano, talvez uma silenciosa nostalgia da morte que nos aguarda a todos. 

Ontem, ao fim da tarde, quando o cangalheiro metia os três rapazes nos caixões, ao ar livre, no largo no centro de Cufar, juntaram-se à volta umas dezenas de mirones, brancos e negros. Um furriel pegou numa G 3 e ameaçou disparar sobre os curiosos se não desaparecessem imediatamente. Assisti a tudo, parado, insensível como um boneco de gesso, a cinquenta metros de distância. (...)
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9262: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (1): O Natal de 1973, em Cufar, na véspera da Op Estrela Telúrica...

(**) Julgo que nesta altura (e até Fevereiro de 1974) estava em Cadique a madeirense CCAÇ 4942/72

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4812: Contributo sobre a CCAÇ 4942/72 (António J. Sampaio) (2): "Os primeiros dias"

1. Mensagem de António Sampaio, ex-Alf Mil na CCAÇ 15 e Cap Mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74, com data de 6 de Agosto de 2009:

Caro Camarada

Envio hoje mais uma página para a história da 4942/72 que eu conheci.

Se acharem que não deve ser publicada não publiquem. Em consciência devo estas recordações aos camaradas dessa Companhia com quem convivi.

Gostava que estas linhas, fizessem acordar outros que também com eles viveram.

Enquanto me permitirem, darei conta de figuras como o Rui (cabo da arrecadação e o melhor apontador de morteiro - por instinto que conheci), o Prioste (mecânico que chegou a chefe de mecânicos da Fiat no Funchal – segundo creio), o Mosca (melhor pescador que conheci – à granada ofensiva), o Silva das transmissões (que nos ia matando numa crise de total descontrolo – era dos forcados de Vila Franca de Xira) e de muitos outros que recordo como parceiros de bons e maus momentos.

Se me quiser juntar à lista agradeço, e se a puder editar também por apelidos então era ronco mesmo.

Um abraço e até um dia destes ao café se andar cá por Leça
António Sampaio


Contributo sobre a CCAÇ 4942/72

2.ª Parte (*)

“Os primeiros dias”

O ambiente era totalmente irreal para uma situação de guerra e se de facto o 25 de Abril já tinha ocorrido, não é menos verdade que se continuava a fazer operações. E se os contactos não tinham a violência a que todos estávamos habituados, não tinham simplesmente deixado de acontecer.

Não foi fácil a alguém, com a formação militar a que tinha sido sujeito desde os 10 anos de idade, perceber o que ali se passava.

Ainda hoje não tenho a certeza absoluta do que se passou. Penso conhecer alguma da verdade mas tenho igual certeza de não a conhecer toda.

Continuo no entanto firmemente convencido de que não há maus soldados, somente podem ser mais ou menos difíceis. Pode haver, isso sim, comandos melhores ou piores, ou mais ou menos adaptados ao pessoal que comandavam.

Foi talvez uma falta grave nunca se ter feito essa avaliação. Quantas vidas se teriam poupado?

Passado este aparte.

Tentou o Alf Lima explicar a situação e o melindre e dificuldade operacional que representava, pois nem garantia a segurança das instalações e do pessoal.

Como o fim da tarde ocorreu sem demora, informaram-me que era hora de jantar e que estavam à espera que o Alf Lima desse autorização.

Com o respeito que sempre lhe reconheci e que se transformou em amizade, séria, perguntou-me se podia autorizar o inicio da refeição e se eu próprio não queria jantar também. O que de facto aconteceu.

Primeiro choque – numa unidade em que estavam 1 capitão e 3 alferes, os alferes não tinham autorização de se sentar à mesa com o capitão. Mesas separadas e poucas conversas era a norma, como fui informado.

Convidei o alferes Lima para me acompanhar e perguntei pelos outros alferes. Só um estava presente e foi-me nessa altura apresentado, à civil. O outro encontrava-se destacado em Ingoré como fui informado. Mas, enfim, já fomos 3 à mesa e nunca mais deixou de ser assim. Felizmente!!!!!!!!!!!!!!!!!

A classe de sargentos, também fazia segregação. O 1.º Sargento sentava-se sozinho à mesa (o exemplo vinha de cima), mas para mostrar a incongruência da situação, passada a refeição sentava-se à mesa da lerpa, onde profissionalmente limpava o furriel mecânico que ali deixava tudo o que lá ganhava. Enfim...

Uma noite de descanso refez as forças para enfrentar o desafio.

Sempre dormi bem, até bem demais (ainda em Mansoa, na CCAÇ 15, durante um alto, adormeci no trilho e só fui acordado por um fiel balanta, caso contrário se calhar ficava numa situação difícil.

Recolhidas as informações que quiseram dar-me e feita a analise da situação, confirmei a ideia inicial de que estava num buraco.

A análise às fichas do pessoal indicava uma Companhia que parecia mais um depósito disciplinar do que uma unidade operacional. Castigos em cima de castigos era o que se via mais nas notas de assento. Não podia ser verdade. Admitia dois ex-desertores, alguns ex-refractários, algumas porradas no CTIG, mas tantas?

Tinha de haver alguma razão para isso. Urgia descobrir qual e rapidamente senão corria o risco de ainda piorar a situação.

Apresentei-me a uma Companhia devidamente formada antes de almoço e após curta apresentação, seguida por muita desconfiança, pareceu-me que o primeiro passo para a normalização da situação, estava dado.

Nessa tarde os camaradas alferes refizeram as escalas de vigilância e reforços dos postos da breda e dos 81, que por incrível que pareça não eram guarnecidos desde a crise.

Houve que normalizar o rancho, as messes e os bares.

Parece mentira? Foi o que me pareceu a mim também na altura.

Havia ranchos diferentes para oficiais e sargentos e praças.

Havia messe de oficiais, outra de sargentos e o refeitório das praças. De notar que havia a mesa do capitão e a dos alferes. Nos sargentos o 1.º comia em mesa separada dos furriéis.

No bar, uma tabanca a servir para o efeito, havia separação idêntica à da messe, não sendo os alferes convidados a co-habitar com o capitão. (não sei se na lerpa o senhor não estaria presente pois o 1.º precisava de ganhar a vida e ganhava...)

Tudo isto tinha sido determinado superiormente!!!

Para abreviar...

O maior escândalo rebentou quando sugeri que se fizesse um torneio de futebol entre os 3 GCOMBs, encarregando-me eu de tentar pôr de pé uns joguinhos de volei (onde me sentia mais à vontade, pois nunca fui de futebóis) em que eu também participava num campo que com voluntários improvisámos na placa do heliporto. Jogar ao lado de soldados não era considerado conveniente num passado próximo e criou grande expectativa.

Como não podia deixar de ser, ajudou a quebrar a barreira de gelo e a começar aquilo que se tornou numa sã camaradagem, confiança e respeito, entre todos.

Passado poucos dias, comovi-me quando pedi um grupo de voluntários para uma missão e a Companhia em peso deu um passo em frente.

ESTAVAMOS TODOS NO MESMO BARCO. COMEÇAVAMOS A SER UMA FAMÍLIA.
__________

Nota de CV:

(*) Primeira parte do "Contributo sobre a CCAÇ 4942/72, integrado no poste de apresentação do nosso camarada António Sampaio de 9 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4662: Tabanca Grande (159): António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e Cap Mil da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4662: Tabanca Grande (159): António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e Cap Mil da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74)

1. Mensagem de António João Sampaio, ex-Alf Mil na CCAÇ 15 e Cap Mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74, com data de 8 de Julho de 2009:

Caro amigo
Desde o passado dia 20

Como vizinho aqui em Leça, abuso ao mandar-lhe algum material. Já mandei ao Graça ainda antes de Monte Real sobre um comentário que está inserto no blog sobre a 4942/72 em Barro, que ainda não vi publicado. Mais tarde em 24 de Junho mandei mais uma página (só aos poucos é que vou conseguindo alguma coisa) que ainda não vi também publicada.

Admito que da minha parte houve duas falhas de extrema importância. Não mandei nenhuma das fotografias pedidas e também não me identifiquei suficientemente.

Para si mando um documento com 3 fotos (actual, CCAC 15 e 4942) e outro que é a tal 1.ª página de algumas recordações do que por lá se passou.

Peço também ajuda para tentarmos encontrar o camarada Alf. Lima, que foi um companheiro inestimável.

Obrigado.


Agora... quem sou eu

António João Sampaio
Parambos – Carrazeda de Ansiães

05983269
Alferes na CCAC 15
Capitão na 4942/72

Hoje:
Médico Veterinário (reformado por invalidez)
Consultor na área empresarial na AEP (Parque Invest)
Residente em Leça da Palmeira

Sou novo nestas andanças deste Blogue.

Obrigado ao Luis Graça por ter aberto a porta do sótão a muitos que, provavelmente como eu, teimavam em não deixar sair a poeira.

Graças ao amigo Mexia Alves, meu padrinho na CCAÇ 15, já estive presente no Encontro do Paúl, este ano e prometo que vou mandando notícias à medida das possibilidades e dos acasos.

Da minha estadia naqueles azimutes, faço questão, a não ser que o impeçam, de dar conhecimento do que de relevante foi ocorrendo.

Por questão de a propósito não vou respeitar a ordem cronológica das histórias mas terei sempre o cuidado de as enquadrar no tempo.

Como súmula de todo o tempo, este amigo foi para a Guiné em Outubro 1973, fazer o CCC. Saiu-lhe na rifa a CCAÇ 15. Passou Abril e os primeiros dias de Maio no continente e seguiu novamente para o CTIG, até ao fim da nossa presença.

E agora o folhetim, que o meu amigo fará o favor de filtrar como bem entender, por forma a não se tornar chato.

Um abraço
António Sampaio



Contributo sobre a CCAÇ 4942/72
O encontro


Tudo o que aparece na Blogue corresponde à verdade.

Eram uns valentes que conseguiram resistir à Guiné, ao IN e também às outras adversidades, que provavelmente não foram as menos importantes e de quem guardo grandes e boas recordações.

Era um grupo heterogéneo, soldados Madeirenses com um número significativo de refractários e alguns desertores (O Mosca era um deles salvo erro), com graduados e também alguns especialistas do continente. Guardo deles uma imensa saudade e para isso nada melhor que recordar.

O nosso encontro foi completamente casual.

Tinha acabado de chegar a Bissau, onde como é sabido, por norma se passavam alguns dias a gozar a messe e a piscina.

Para um recém graduado capitão era esperada uma estadia de dez a quinze dias até haver colocação.

Mas eis que de repente (que me desculpe o Júlio Dantas), ainda não tinha aquecido a cadeira, surge o impedido do Cmdt da 1.ª Rep (Ten Cor Delgado, salvo erro) que me informa que sou chamado de urgência ao QG.

- Ó Sampaio, também sou ex-aluno do Colégio Militar (situação incontornável para qualquer ex-aluno), temos um problema com a Companhia de Barro que tem de ser resolvido por gente com o nosso perfil (??????????), blá, blá, blá, blá, blá, blá. Embarcas no TAIGP com o Pombo amanhã da manhã para Ingoré. Vai contigo o Alf Comando Africano ??? que vai tomar conta da CCaç de Bigene e vai ficar directamente ligado ao comando de Barro até se fazer a ligação com o Batalhão de Ingoré de quem os dois vão depender operacionalmente.

Assim, setenta horas depois de ter aterrado em Bissalanca no célebre Boing 707 dos TAM, pilotado pelo Major Quintanilha e sua tripulação. Como gostava de conhecer o homem que me levou das duas vezes para a Guiné para lhe agradecer o valente cagaço que nos pregou quando na primeira vez se apresentou.

- Fala-vos o Major Quintanilha. Sobrevoamos neste momento Dakar, capital do Senegal, país com quem Portugal não mantém relações diplomáticas. À nossa asa poderão ver dois Fiat que tentarão evitar que sejamos atingidos por um míssil inimigo. (Foi a maneira encontrada para dar as boas-vindas e o povo agradeceu)

O que transcrevo foi a informação exacta que me deram da situação em que me iam meter.

A realidade só mais tarde a descobri. Primeiro em Ingoré onde me foi feito o ponto da situação conhecida e nessa noite já em Barro, onde a CCS do Batalhão de Ingoré me foi levar, já que de Barro ninguém respondia às mensagens rádio que foram sendo enviadas desde as 10 horas da manhã até cerca das 4 da tarde.

Com a escolta da CCS de Ingoré, com um saco mochila e uma mala ainda não desmanchada desde Lisboa, cheguei por volta das 5 da tarde ao que era suposto ser o quartel de Barro, mas onde não se via ninguém fardado, não havia porta de armas e o que havia mais dentro das instalações era africanos da aldeia.

Passados uns minutos, já no chão da parada e só, porque tinha mandado a escolta embora, apareceu o primeiro branco, à civil que me disse ser o Alferes Lima.



3. Comentário de CV:

Caro camarada António Sampaio, de acordo com as normas vigentes na Tabanca Grande, entre os Tertulianos não há qualquer distinção entre os antigos postos militares, estes servem apenas como referência à nossa actividade como ex-combatentes; idades, somos todos velhos companheiros de luta; habilitações literárias; profissão, assim como a posição que cada um ocupa presentemente na sociedade. Isto, porque só uma coisa nos une, a Guiné. Une-nos aquele chão, aquele povo, aquelas matas, as horas difíceis que vivemos, a fome, a sede e tudo o mais que descrevemos nas nossas memórias.

Posto isto, em nome da Tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas, com votos de que venhas, com as tuas histórias, aumentar as nossas páginas recheadas de testemunhos, contados por aqueles que sentiram na própria pele os efeitos daquela guerra.

Antes de terminar chamo a atenção para o pedido do nosso novo camarada António Sampaio que quer localizar o Alf Mil Lima que foi encontrar em Barro.
CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3696: Para a história da madeirense CCAÇ 4942/72, Os Galos do Cantanhez (Vítor Negrais)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 > Monumento assinalando a passagem, por aqui, da CCAÇ 4942/72, de origem madeirense, conhecida por Os Galos do Cantanhez. Estiveram em Jemberém (os guineenses hoje dizem Iemberém) entre Março de 1973 e Fevereiro de 1974.

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. Comentário que Vítor Negrais deixou ao poste de 8 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeias, amigo do Arsénio Puim)


Caro Luís Candeias.

Assunto: Pessoal da companhia madeirense CCAÇ 4942/72 que esteve em Jemberém.

Mesmo que tardiamente, quero contribuir para um melhor conhecimento do que foi o papel da CCAÇ 4942/72 (*).

Quero referir que a foto publicada com um membro feminino de uma ONG em Jemberem não corresponde ao deixado no local pela CCAÇ 4942/72 (**). O símbolo adoptado pela companhia foi um galo multicolor associado à designação Galos do Cantanhez.

(i) A CCAÇ 4942/72 foi formada no Funchal, no BII19.

(ii) Rumou à Guiné no Uíge que saiu de Lisboa a 27 de Dezembro de 1972, ocorrendo o seu desembarque em Bissau em 3 de Janeiro de 1973.

(iii) A companhia, como era usual na altura, rumou ao Cumuré onde fez o IAO.

(iv) Concluido este, foi para Mansoa, por um curto período de tempo, tendo colaborado na protecção da construção da estrada entre Jugudul e Bambadinca.

(v) Após este curto período, tomou o rumo de Cadique, no Cantanhez, e esteve na abertura da estrada entre Cadique e Jemberem, localidade onde se fixou cerca de 1 ano (1 ano bem animado).

(vi) Posteriormente, em Fevereiro de 1974 a companhia foi deslocada para o Norte, para Barro mantendo um pelotão em Bigene junto do COP3.

(vi) A companhia regressou a Portugal em 9 de Setembro de 1974, depois de muitas peripécias, sem nenhuma baixa.

Cumprimentos a Luís Graça e camaradas da Guiné e parabéns pela manutenção deste espaço de convívio.

Vítor Negrais

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Vítor, por estas preciosas achegas sobre Os Galos do Cantanhez. Obrigado também pelas tuas simpáticas referências ao nosso blogue. Não te apresentaste, mas presumo que tenhas pertencido à CCAÇ 4942/72. És do continente ou da RAM ?

Se quiseres, junta-te a nós, que formamos já a maior Tabanca virtual... da Guiné. Basta leres e aceitares as nossas regras de convívio (que podes e deves ler na folha de rosto do nosso blogue, coluna do lado esquerdo: Tabanca Grande > Dez normas de conduta). Manda também as duas fotos da praxe (um do tempo da tropa e outra actual).

Gostaríamos que nos contasses mais peripécias dos teus Galos do Cantanhez. Tens tido notícias dos teus camaradas ? Presumo também que tenhas histórias e fotos da vossa permanência no Cantanhez, bem como do período do pós-25 de Abril. Estive em Março de 2008 no Cantanhez e registei em fotografia os vestígios da vossa passagem por Jemberém.

Um abraço. Desejo-te as melhores perspectivas possíveis para o ano que agora começa. Luís Graça

_____________


Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel

(**) Há três locais e datas assinaladas no monumento: Mansoa, 3/2/73; Cadique, 27/3/73; Jemberém, 20/4/73. O brazão da companhia era constituído por um Galo, com os dizeres Cantamos de Galo. (...)
Sabemos como se chamavam os seus Grupos de Combate: Os Primitivos (1º Gr Comb); Os Descavilhados (2º Gr Comb); O Zigue-Zague (3º Gr Comb); Os Tais (4º Gr Comb).

O nosso camarada A. Marques Lopes já há tempos tinha referido, na lista das unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (onde ele esteve com a sua CCAÇ 3), a existência desta CCAÇ 4942/72, cuja actividade operacional era resumida nestes termos:

(i) Em princípios de Abril de 1973, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém [hoje, Iemberém].

(ii) Em 20 de Abril de 1973, após o desembarque [em LDM ou LDG ?] e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém [ou Iemberém], então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5 [ que incluía Guileje].

(iii) Foi substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73.

(iv) Instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519.

(v) Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local.

Em resumo: esta companhia - de pessoal maioritariamente madeirense - chegou até Jemberém, no coração do mítico Cantanhez, numa região que o PAIGC considerava de há muito libertada, construiu aqui, de raíz, um aquartelamento (de que não há muitos vestígios, visíveis, actualmente), e depois foi substituída por uma companhia mais nova, a CCAÇ 4946/73, em Fevereiro de 1974.


Guiné-Bissau > Região de Tomboli > Parque Nacional do Cantanhez > Jemberém (ou Iemberém, de acordo com a toponomia actual) é uma localidade onde a AD - Acção para o Desenvolvimento tem a sua base operacional (instalações de apoio aos projectos desenvolvidos no Cantanhez, inclouindo o ecoturismo). Por aqui também passou a 1ª CART do BART 6521/72 (entre Janeiro de 1973 e Abril de 1973)... Esta subunidade foi substituída pela CCAÇ 4942/72.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeias, amigo do Arsénio Puim)

Guiné > Região de Tombali > Jemberem > 2005 > "Foto de um marco existente em Jemberem, sede da nossa ONG, em Cantanhez, que foi reparado e que, em homenagem à ONG portuguesa Instituto Marquês Valle Flôr-IMVF (que intervém na zona e com quem vamos trabalhar no projecto Guiledje), se chama Praça IMVF".

Foto e legenda do nosso amigo Pepito, fundador e director exectivo da AD- Acção para o Desenvolvimento, enviada em Outubro de 2005.

Este pequeno monumento evoca a passagem, por aquelas paragens, de uma companhia (que se presume seja a CCAÇ 4942/72)... Na base do monumento lê-se:

"Os Nómadas, pioneiros de Jemberem, Pelundo > 27 Out 72, Cadique > 21 Jan 73, Jemberem > 20 Abr 73".

Do lado esquerdo, em parte tapada pelo corpo da jovem que aparece na imagem, há um brazão de uma unidade (companhia ? batalhão ?) e um número: 6521...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) (Com a devida vénia...)


1. Mensagem de Luís Candeias, da Ilha de Santa Maria, região Autónoma dos Açores:


Sou um visitante assíduo deste Blogue. O meu nome é Luis António Ricardo Candeias. Sou natural e residente na Ilha de Santa Maria, nos Açores, onde exerço a actividade de Controlador de Tráfego Aéreo.

Sou conterrâneo e amigo do Arsénio Chaves Puim, (aqui mencionado nalguns textos por ter sido capelão militar na Guiné) e afastado pelas suas ideias e coerência (1).

Visito este blogue em busca de notícias de companheiros e amigos desses terríveis tempos da Guerra do Ultramar.

Tenho hesitado em contactar-vos porque, não tendo sido mobilizado para a guerra, não me sinto no direito de me intrometer nas histórias e sofrimento que apenas conheci no conforto do B.I.19 (Funchal), destacamento militar do Porto Santo e B.I.18 (Ponta Delgada).

Fui incorporado no 1º Turno de 1973 no CISMI em Tavira, onde fiz recruta e especialidade. Fui depois colocado no B.I.19 (Funchal) como Cabo Miliciano Atirador de Infantaria e onde fui depois promovido a Furriel Miliciano.

Aí, enquanto aguardava a mobilização, que achava inevitável, integrei várias Companhias de Instrução com os meus Companheiros que foram partindo.

Um batalhão para Cabinda, onde ficaram mais de 20 companheiros, entre eles 2 amigos, Alferes Ferreira e Neves, e uma Companhia para Guiné que ainda vi ser desmobilizada no Funchal antes da minha transferência para Ponta Delgada. Tanto quanto sei, eles estiveram colocados em Jemberém, local que não vejo mencionado no que aqui tenho lido.

Essa Companhia saiu do Funchal no fim do Verão de 1973, e apanhou o fim da guerra depois de Abril de 1974, tendo regressado ao Funchal onde foi desmobilizada. Não me recordo do nº da Companhia e, como não vejo aqui referências a Jemberém (2), pergunto:

Será que esse aquartelamento tinha também outro nome?

As únicas coisas de que nunca me esquecerei são as amizades que fiz com eles, a alegria de os ter visto voltar quase todos, e 2 nomes que retenho por razões completamente diferentes: Tenente Coronel João Mário de Sampaio e Castro, Comandante na altura no BI 19, terrível Comandante; e Major Ramiro Morna do Nascimento, de quem guardo as melhores recordações pelos seu humanismo e sentido de justiça.

Se por acaso souberem algo destes meus amigos que passaram por Jemberém e me puderem informar, ficava muito agradecido.

Se não souberem, paciência, e, mais uma vez desculpem por favor a minha intromissão nos vossos sentidos e muito merecidos desabafos.

Grato pela atenção

Luís Candeias

Vila do Porto, 7 de Janeiro de 2008

2. Comentário de L.G.:

Luís Candeia: Ficamos todos sensibilizados pela tua mensagem. Tu não chegaste a ir à Guiné, mas hoje bem podias ser nosso camarada. Por isso não tens que pedir desculpa. Foi a roleta da sorte. Mesmo assim, passaste por Tavira, como muitos de nós. Tiveste apenas um pouco mais de sorte...

Não tenho muita informação para te parte sobre a tal companhia (madeirense, em princípio) que procuras e que terá ido parar a Jemberem, na mítica mata do Cantanhez... Encontrei, no entanto, no nosso arquivo uma foto com um monumento construído pela CCAÇ 4942/72, que os teus madeirenses terão substituído.

Esta unidade ocupou Jemberem, até então sob controlo do PAIGC, em 20 de Abril de 1973, e terá construído o respectivo aquartelamento, o que bate certo com a legenda da foto, acima reproduzida... Se o meu raciocínio estiver certo, a unidade (madeirense) que procuras é a CCAÇ 4946/73 (se o número estiver correcto, o que tenho dúvidas)...

Recentemente o nosso camarada A. Marques Lopes referiu, na lista das unidades que passaram por Barro (3), a existência da CCAÇ 4942/72, cuja actividade operacional vem resumida nestes termos:

(...) Em princípios de Abril de 73, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém. Em 20 de Abril de 73, após o desembarque e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém, então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5.

Depois de ser substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73, instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519. Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local (...).


Vou pedir ao pessoal da nossa Tabanca Grande para te ajudar com informação mais detalhada. Peço-te que mandes um grande abraço ao nosso camarada e amigo Puim: estive com ele em Bambadinca no 2º trimestre de 1970... Diz-lhe que o esperamos - eu, o Abílio Machado, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Jorge Cabral e tantos outros - na nossa Tabanca Grande, de braços abertos... Eu quero o testemunho dele, para memória futura, desse longo, penoso e sinistro dia, 1 de Janeiro de 1971, em que a PIDE/DGS de Bissau o foi buscar e o arrancou do nosso convívio (1)...

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Notas dos editores:

(1) Sobre o Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), vd. posts de:

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

(2) Jemberem, na mata do Cantanhez: Vd. Carta de Cacine. Não confundir com Jembembem, que pertence a Farim, no norte (fronteira com o Senegal).

(3) Vd. post de 7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2416: Unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (A. Marques Lopes)