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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24617: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (9): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte V: o porto fluvial de Bambadinca, uma das portas de entrada no Leste, a par do porto fluvial do Xime


Foto nº 22 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Entardecer. O Jaime Machado, de perfil.

Fotos nº 23 e 23A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Até aqui chegavam os "barcos turras", ou sejam, as embarcações  de cabotagem das casas comerciais (Casa Gouveia, Ultramarina, e outras) que traziam e levavam pessoas, produtos agrícolas, etc., mas també,m material de e para a tropa...(a partir de 1972, muitos deles ao serviço da Companhia Terminal)


Fotos nº 24 e 24A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bambadinca: porto fluvial... Cais acostável, na margem esquerda do rio Geba Estreito



Fotos º 25 e 25A > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >. Cais acostável: foto anterior a novembro de 1969, quando a velha autogrua Fuchs foi substituída por uma autogrua Galion, mais potente.

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Continuação da publicação de uma seleção das melhores fotos  do álbum do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) (*), que vive na Senhora da Hora, Matosinhos [foto atual à direita], e foi contemporâneo de alguns membros da Tabanca Grande,,, I nosso editor LG, por exemplo,  ainda esteve com ele, desde julho de 1969 a fevereiro de 1970... 
 

Estas fotos são já da época do comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadeinca, 1968/70).

E mais: são fotos anteriores a novembro de 1969... Já aqui recordámos que, a partir de 24 de novembro de 1969, a administração do porto de Bambadinca passou a dispor dum autogrua mais potente, a Galion, que veio substituir a autogrua Fuchs (que se sê nas fotos nº 21 e 25).

Na história do BCAÇ 2852, lê-se que no dia 25/11/1969, o 2º comandante do BENG 447 visitou a sede do batalhão, visita essa que só pode estar relacionada com a entrega da autogrua Galion, permitindo melhorar as operações de carga e descarga no estratégico porto fluvial de Bambadinca.

autogrua Galion veio de LDG de Bissau até ao Xime (agora com um novo cais de acesso, a partir de outubro de 1969, se não erro) e depois foi escoltada pela CCAÇ 12 até a Bambadinca, numa viagem cheia de peripécias que nos obrigou a dormir no mato, devido a um enorme atascanço a meio do troço (ainda não havia estrada alcatroada!)...

Nessa dia, 24 de novembro de 1969, o nosso querido camarada e amigo Tony Levzinho celebrava as suas 22 primaveras com a companhia infernal da mosquitada,

Xime e Bambadinca "alimentavam o ventre do leste"... Por aqui passaram milhares e milhares de homens, e grandes quantidades mantimentos, munições, viaturas, peças de artilharia e outro material de guerra. 


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > novembro de 1973 > A grua móvel hidráulica Galion 125... Podia levantar cerca de 12,5 toneladas. Era construida pela famosa empresa norte-americana Galion Iron Works and Manufacturing Company, fundada em 1907, no Ohio, EUA.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Notas do editor:

Último poste da série > 2 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24609: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (8): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: a morte à saída da Missão do Sono em Bambadinca, na madrugada do dia 1 de janeiro de 1970

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20268: (De)Caras (137): Camaradas da Companhia de Terminal (Bissau, 1973/74), que em menos de 2 meses carregou mais de setenta barcos para o Leste (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)


Foto nº 1 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira, em Bambadinca, c. 1973/74, ao serviço da Companhia de Terminal


Foto nº 2 > Porto fluvial de Bambadinca > c. 1973/74 >  Companhia de Terminal > O fur mil Manuel Oliveira Pereira acompanha a entrega de abastecimentos, vindos de barco de Bissau


Foto nº 3 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira nas instalações da Quinta do Fim do Mundo, assim chamada por estar nas traseiras do cemitério da cidade de Bissau: eram as instalações da antiga fábrica de cana da Casa Gouveia. Ficavam bem por trás do BINT (Batalhão de Intendência).


Foto nº 4 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira com o fur mil Melo nas instalações da  Quinta do Fim do Mundo


Foto nº 5 > Bissau > Companhia de Terminal > c- 1973/74 > O fur mil Manuel Oliveira Pereira com o fur mil Mealha  nas instalações da  Quinta do Fim do Mundo





Louvor ao fur mil Manuel Oliveira Pereira, exarado na sua caderneta militar, a pp.11 e 12,  atribuído pelo comandante da CCAÇ 3547, na data de 16 de junho de  1973,  por, sendo o delegado administrativo do Batalhão, o BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74), ter ajudado a criar e a desenvolver a "Companhia de Terminal" (Bissau, 1973.

Fotos (e legenda): © Manuel Oliveira Pereira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Manuel Oliveira Pereira, algures, no rio Geba,
ao serviço da Companhia de Terminal
(Bissau, 1973/74)

1. O Manuel Oliveira Pereira,  membro da nossa Tabanca Grande, desde 14 de outubro de 2006,  já nos explicou em tempos o que era a Companhia Terminal [ou de Terminal] (*):


(...) Conjuntamente com mais uns tantos camaradas fui fundador da "Companhia Terminal" que resultou da junção de todos os "Delegados de Batalhão" (---) a que se juntaram uns tantos "piras" - milicianos e malta dos pupilos do exército - vindos directamente de Lisboa (administração militar).

As nossas instalações [eram na] Quinta do Fim do Mundo, assim chamada por estar nas traseiras do cemitério da cidade [de Bissau:]  eram as da antiga fábrica de cana da Casa Gouveia. Ficavam bem por trás da Intendência e ao lado do armazém de medicamentos/produtos farmacêuticos do Batalhão Saúde.

(...) Os "Delegados" tinham total autonomia. A Delegação era formada normalmente pelos seguintes meios humanos e materiais: um Sargento ou Furriel, um Cabo, dois Soldados motoristas, um Unimog 404 e um Jipe. Esta era a minha formação (BCaç 3884, Bafatá), talvez a mais numerosa, contudo as diferenças, se existiam, eram poucas.

Com o avolumar da guerra, tornou-se necessária uma coordenação efectiva dos parcos meios humanos e logísticos - barcos, barcaças, viaturas e aviões. Todo era necessário!

As Delegações requisitavam e, devido à sua autonomia, qualquer um dos meios de transporte referidos quando bem entendesse. Por exemplo: em alturas diferentes ou quase em simultâneo seguia para Bambadinca carregamento para o sector de Bafatá, no dia seguinte para Nova Lamego e porque não para Piche?!...

Falei dos sectores Leste l e Leste ll como poderia falar da zona Sul ou de Farim/Cacheu.

Surge assim a Companhia Terminal com o objectivo de coordenar e planificar toda acção das diversas Delegações.

A Companhia Terminal não era uma verdadeira Companhia, pelo menos na sua organização e estrutura. É certo que tinha um Capitão SGE – Herman [Mendes] Schultz [ Guimarães], não como Cmdt, mas como Coordenador, coadjuvado por dois oficiais; uns quanto sargentos / furriéis piras e por todas as Delegações de Batalhão/Companhia. A esta grande equipa, foi ainda acrescentado todo o nosso parque auto.

A partir da sua formação, talvez outubro/novembro de 1972  - não tenho de momento a certeza  (...) -   todos os "abastecimentos" passaram a ser feitos em conjunto (na gíria actual "Serviços Partilhados"),  ou seja, abastecimento / carregamento de barcos ou aviões feito em simultâneo (ex. Bambadinca/Galomaro ou Bafatá/Nova Lamego ou Nova Lamego/Piche).

Qualquer combinação é possível. Já não servíamos o "nosso" Batalhão, mas qualquer um que necessitasse do nosso apoio. Se na minha anterior missão de Delegado, apenas requisitava, organizava, transportava e acompanhava as "coisas" para o meu Batalhão por barco até ao Xime ou Bambadinca e de avião para Bafatá, passei com a Companhia Terminal a ir, para além das referidos [destinos], a Aldeia Formosa, Nova Lamego, etc.

(... Aqui vão alguns dos nomes que de momento me vêm à memória: Cap Schultz, Alf Neves, Furriéis Catana, Mealha, Grenho, Botelho, Mestre, Ferreira, Aarão, Pinheiro, Soldados Soares, Melo e Pereira. Mantenho, com alguns deles fortes laços de amizade nomeadamente com o Catana, o Mealha, o Grenho, o Aarão, Soares e o Melo. (...) (*)


2. O Manuel Oliveira Pereira foi louvado pelo seu comandante [, da CCAÇ 3547], em 16 de junho de 1973 pelo elevado empenhado e grande competência com que exerceu funções na "Companhia de Terminal", permitindo que esta efetuasse carregamentos em mais de setenta (70) barcos, no curto espaço de dois meses (o que dava em média mais de um barco por dia). (**)
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Vd. também postes de:

12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

(...) Telefonou-me o ex-Fur Mil Daniel Vieira, que fez parte da Companhia Terminal, sediada em Bissau, mais exactamente na antiga Fábrica da Cana de Açúcar, por detrás do Cemitério, em instalações que outrora terão pertencido à Casa Gouveia. Lembram-se ?

Eu nunca ouvira falar desta Companhia Terminal, cuja missão era fazer os reabastecimentos das unidades espalhadas pelo TO da Guiné, por ar, terra, rio e mar… Iam a todo lado, de Buba a Bambadinca...

Pois bem, pelo que o Daniel Vieira me contou ao telefone, e que eu aqui reproduzo, ele chegou à Guiné, em rendição individual, em março de 1973 e foi um dos últimos militares a abandonar o território, em outubro de 1974.

Pelo meio, aí por volta de 12 ou 13 de março de 1974, foi ferido no Rio Geba, por ocasião de um ataque do PAIGC, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca, a um batelão carregado com 24 toneladas de munições. Morreu um cabo da Companhia Terminal, para além de 13 ou 14 africanos (civis ou militares, não faço ideia). Ele depois poderá contar mais pormenores: não sei se o batelão foi ao fundo, se houve explosões em cadeia, etc. /...)

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20267: Controvérsias (140): é verdade que Contuboel, na zona leste, região de Bafatá, nunca foi atacado ou flagelado ? ( Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, 1972/74)



Foto nº 1 > A velha ponte de madeira, sobre o rio Geba (Estreito), em Contuboel


Foto nº 2 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... O Manuel Oliveira Pereira, à proa, à direita... É bom lembrar que ele foi um dos co-fundadores da famosa Companhia Terminal (Bissau,1973/74) (*) devendo ter feito várias viagens nos "barcos turras", com abastecimentos para o seu batalhão e outros do leste...


Foto nº 3 > No "barco turra", a navegar no rio Geba.. À direita, na margem direita do rio, no sentido Xime / Bamadinca, palmares típicos das margens do rio...


Foto nº 4 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... Não parece ser a mesma viagem, o "artista" vai de camuflado... 


Foto nº 5 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... O Manuel Oliveira Pereira, para onde iria, em farda nº 3 ?... 


Foto nº 6 > No "Barco turra", a navegar no rio Geba... Comendo a "ração de combate", que a viagem era longa... Adivinham a marca da lata de sumo de fruta...


Foto nº 7 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... Noutra viagem, de camuflado e de G3...

Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74) > O Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Fotos de álbum do Manuel Oliveira Pereira, cortesia da página do Facebook  da Companhia de Caçadores 3547 - Os Répteis de Contuboel, página criada em 2011.

Fotos (e legenda): © Manuel Oliveira Pereira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário do Manuel [Oliveira] Pereira,   ex-fur mil, CCAÇ 3547, "Os Répteis de Contuboel", (Contuboel 1972/74), subunidade que pertencia ao BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74); hoje advogado, vive em Ponta de Lima (**)


Meu caro Zé Saúde, camarada e amigo. Como me sinto lisonjeado com as tuas palavras. Na verdade, estivemos tão perto (Nova Lamego e Madina Mandinga) e ao mesmo tempo nunca nos encontramos. Depois, já na vida civil, trabalhamos na mesma secção, tivemos cumplicidades múltiplas e viemos também a residir no mesmo prédio.

Foste ao meu casamento, os meus filhos tiveram, durante algum tempo, por "ama" uma tia tua e nesse tempo NUNCA abordámos,  e até julgo desconhecermos, a nossa situação de combatentes e percurso nas "fileiras". Foram precisos anos, muitos anos, para nos "reencontrarmo-nos"!...


Lido o teu texto, aqui vão algumas achegas: A minha Unidade Operacional pertencia ao BCaç 3884 sediado em Bafatá, e tinha por perímetro de acção o sector de Contuboel. Era a CCaç 3547,  conhecida por "Os Répteis de Contuboel" que, devido à sua localização e, não havendo "guerra", funcionava como Centro de Formação de Milícias. 

Assim os seus Grupos de Combate (Pelotões) [, da CCAÇ 3547,] andavam sempre destacados em reforço de outras unidades. Foi deste modo que a CCaç 3547 fez, nos seus quase 28 meses de Guiné,  um "périplo turístico" por Bafatá, Bambadinca Tabanca, Sonaco, Sare Bacar, Nova Lamego, Madina Mandinga, Galomaro e Dulombi. 

Outra curiosidade que também desconheces, talvez, o teu ex-cmdt de Batalhão,  ten-coronel Castelo e Silva, veio a ser meu cmdt, e de quem eu fui  (e continuo a ser) amigo. Vive actualmente em Valpaços. 

Como vez, muitas coincidências! Esqueci de referir que a partir do 3º mês de Guiné e, enquanto operacional, fui sempre Cmdt de Pelotão e em funções administrativas Delegado de Batalhão.

Um abraço. Manuel Oliveira Pereira, Fur Mil,  BCAÇ 3884/CCAÇ 3547.


2. Comentário de Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 11,
(Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) 
(**):

Contuboel, um caso interessante na guerra da Guiné.

De Fevereiro a Maio de 1969 estive em Contuboel e não houve o mínimo indício de guerra a não ser ruídos noturnos de outras tabancas a 'embrulhar' e também não tive conhecimento de anteriormente ter havido.

Depois, no resto do ano de 1969 e até Dezembro de 1970, quer em Nova Lamego ou em Paunca, nunca tivemos conhecimento de nenhum ataque a Contuboel.

Agora venho a saber que até 1974, ou seja, até ao final da guerra, Contuboel nunca foi atacada.

3. Comentário do editor LG:
Eu e o Renato Monteiro,
o "homem da piroga", no rio Geba,
com a ponte de madeira ao fundo...,
e que lhe ia seno fatal!

Foto (e legenda): Luís Grça (2005)

É verdade. Zé Saúde e Manel Pereira ? Trabalharam juntos, e nunca tinham falado da Guiné e da guerra , até se encontrarem em Monte Real, num Encontro Nacional da Tabanca Grande ? 

Manuel, Contuboel (, o quartel e a tabanca,)  nunca foi mesmo atacado ou flagelado pelo PAIGC em todos estes anos de guerra ?  Ou, pelo menos, no teu tempo ?

O Valdemar e eu estivemos lá, no 1º trimestre de 1969, na altura Contuboel era um CIM (Centro de Instrução Militar) e e eu descrevia como um "oásis de paz" a ponto de termos feito a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) nas suas imediações, em farda nº 3, com as nossas praças, do recrutamento local (, refiro-me à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) apenas com balas de salva nas cartucheiras da G3... Só os graduados levavam bala real (***).

Contuboel era local de passagem para quem ia comprar vacas a Sonaco... Quem, da malta do leste, não foi pel menos uma vez a Sonaco ? De facto, também nunca me constou que o quartel tenha sido atacado ou flagelado pela guerrilha do PAIGC, tanto o de Contuboel como o de  Sonaco. É verdade ? (****)

Contuboel tem mais de noventa referências no nosso blogue.

Um abraço especial para o Manel, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora. Conhecemo-.nos no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de outubro de 2006, já vão 13 anos!...
_____________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 2 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3264: A Companhia Terminal , Bissau, 1973/74 (Manuel Oliveira Pereira)

(**) Vd. poste de 21 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 – P20265: Memórias de Gabú (José Saúde) (88): Manel Pereira, um amigo. (José Saúde)

(***)  Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P86: No oásis de paz de Contuboel (Junho de 1969) (Luís Graça)

(****) Último poste da série > 21 de setembro de  2019 >  Guiné 61/74 - P20165: Controvérsias (139): louvor, em ordem de serviço, do comando do BART 733 (Farim, 1964/66), aos seus militares, pelo pronto, abnegado e eficiente socorro prestado às vítimas do atentado terrorista de 1 de novembro de 1965 (João Parreira, ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66)

domingo, 21 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19999: Efemérides (309): Há 50 anos o homem chegava à lua... e eu ia caminho de Bissau, num "barco turra" que parou, no Geba Estreito, com uma avaria...Valeu-nos o proverbial "desenrascanço tuga"... Viagem inesquecível até ao fim da minha vida! (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 21 de julho de 1969 > Efeméride: no dia que o homem chegou à Lua, eu descia o rio Geba (Bambadinca-Bissau, com passagem no célebre Mato Cão e depois na não menos temível Ponta Varela, a seguir ao Xime)... Era um barco fretado para levar material usado da tropa. Estivemos parados várias horas: primeiro por causa da maré, depois devido a avaria no motor do barco só resolvido (desenrascado) com uma peça sacada dum carro que seguia no barco para sucata. Viagem inesquecível, até ao fim da minha vida!




Guiné > Região de Bafatá > Contuboel  > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 21 de julho de 1969, dia em que o homem chegou à lua... O Valdemar vai a caminho de Bissau, num barco civil, daqueles a que chamávamos, depreciativamente, "barco turra". (*)


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


1. A CHEGADA DO HOMEM À LUA E A ARTE DO DESENRASCA

por Valdemar Queiroz 


- Estamos tramados, partiu-se uma peça do motor. Não vamos sair daqui tão cedo
- Estou a ver que sim. Talvez se desenrasque alguma peça naquela sucata.

Diálogo entre o mestre do barco e um soldado da metrópole, depois de estarmos parados há algum tempo e já noite dentro, no meio do rio Geba, antes de passarmos no Xime, apenas interrompido pela transmissão na rádio da chegada do homem à Lua.

- É um pequeno passo para o homem e um salto de gigante para a humanidade - disse o astronauta americano Neil Armstrong ao pisar o solo lunar.

Faz hoje 50 anos. Foi nas primeiras horas dia 21 de Julho de 1969

Durante o dia 20, em Contuboel, completada a nossa CART 2479 (futura CART 11 e, mais tarde, CCAÇ 11), com os soldados africanos que tinham acabado a instrução, seguiu para Piche e eu fui destacado para ir a Bissau entregar material já usado,  utilizado na instrução de recrutas africanos.

A viagem rio Geba abaixo, de Bambadinca a Bissau, foi feita num barco civil de carga/passageiros (vulgo ‘barco turra’) que rebocava, em comboio, mais dois barcos pequenos carregados de várias mercadorias, sacos de mancarra, automóveis sinistrados e passageiros civis e alguns militares em serviço, de regresso ‘à peluda’ ou de férias.

O barco parou com problemas no motor pouco tempo depois da saída de Bambadinca, na zona do Geba Estreito, parando ao cair da noite e antes de se passar no Xime. Estávamos parados, já há horas, sem ninguém se aperceber do motivo, aproveitando para ouvir na rádio a pilhas a chegada do homem à Lua.

Alguns de nós não acreditavam no que ouviam, outros davam mais importância ao local em que nos encontrávamos sem saber se alguém nos fazia segurança em terra, apenas apercebendo-.nos de estarmos próximo das margens, avistar uma luz brilhante no meio da mata e sem paciência para afugentar os mosquitos.

O nosso soldado lá conseguiu desenrascar uma peça, julgo que seria um parafuso, num dos carros sinistrados,  que, talvez por ter sido sacada dum Peugeot e o motor do barco ser de marca francesa, adaptou perfeitamente para pôr o motor a trabalhar, embora continuássemos parados, aguardando a maré favorável.

E lá seguimos viagem, com a luz brilhante na mata que aparecia e desaparecia cada vez mais longe (o serpentear do percurso do rio fazia com que se avistasse o mesmo local de distância diferente), entrando no Geba largo, já ao nascer do dia,  e ainda faltando algum tempo de Bissau à vista, para o desembarque.

Não me recordo bem de ter ouvido alguém falar dos avanços da Ciência com a chegada do homem à Lua ou outra conversa sobre a atribulada viagem, mas hoje, passados 50 anos, posso gabar-me de ter ouvido a chegada do homem à Lua no meio da rio Geba, na Guiné, e presenciado um momento alto da extraordinária arte do desenrasca dos portugueses.

Inesquecível. (**)

Valdemar Queiroz


2. Nota sobre a CCART 2479 / CART 11:

(i) a CART 2479 [tem mais de meia centena de referências no nosso blogue):

(ii) constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês;

(iii) o percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969;

(iii) passou por Contuboel, Bissau, Contuboel, Piche, Nova Lamego, Piche;

(iv) comandante: cap mil art Analido Aniceto Pinto (1/6/1934- 27/2/2014) (trabalhou na Galp Energia);

(v) foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11 [, tem cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue];

(vi) em maio de 1972 a CART 11 (tem mais de 90 referências no blogue) passou a designar-se CCAÇ 11 [tem cerca de 4 dezenas de referências]. 

(vii) de 12 de narço a 24 de maio de 1969, no CIMC - Centro de Instrução Militar de Contuboel fizeram a recruta os seus futuros soldados, do recruramento local, bem como os da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12);

(viii) o juramento de bandeira  realizou-se em Bissau em 26/4/1969, na presença do Com-chefe, o gen Spínola;

(ix) as duas futuras companhias faziam parte da chamada "nova força africana" que estava então em formação e era muito acarinhada por Spínola;

(ix) em 18 de julho de 1969, a CART 2479 / CCART 11 foi colocada em Nova Lamego e emPiche, e a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 em Bambadincam, finda a instrução de especialidade e a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (,dadas no CIMC).

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (299): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

(**) Último poste da série >  9 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19961: Efemérides (308): Homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, do Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha na Guerra do Ultramar

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19818: (Ex)citações (354): A navegação fluvial no Geba e os "barcos turras" (Manuel Amante da Rosa / Arsénio Puim)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafaá >  Sector L1 > 1969 > O sortilégio e a beleza do Rio Geba, entre o Xime e e Bambadinca, o chamado Geba Estreito, numa das fotos aéreas magníficas do Humberto Reis, ex- Fur Mil Op Esp, CCA 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). nosso querido amigo e camarada Humberto que é também aniversariante este mês. (LG)


Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito e porto fluvial, em Bambadinca, na margem esquerda.


Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Bissau > Cais do Pidjiguiti > 1967 >  "Barcos turras", tripulantes, passageiros e esivadores


Foto (e legenda(: © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alferes mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (1968/70), Jaime Machado, num "barco turra" (que fazia ligação Bambadinca-Bissau-Bambadinca)

Foto (e legenda): ©Jaime Machado  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Recorde-se aqui três  excelentes nacos de prosa sobre a navegação fluvila na Guine e os "heróicos barcos turras", do nosso tempo (*).

 Dois são  comentários de Manuel Amante da Rosa, e o outro um excerto das memórias do Arsénio Puim.

"Barco turra", e não no "barco dos turras"... Chamavam-se assim as embarcações civis que faziam a carreira Bissau-Xime-Bissau ou Bisssau-Bambadinca-Bissau... O pai do Manuel Amante da Rosa tinha uma carreira diária para o Xime, com o "Bubaque"... É possível que elementos do PAIGC, militantes ou simpatizantes, também utilizassem este meio de transporte... Não havia outros, a não a ser aéreos. A avioneta (civil ou militar) era um luxo... Muitos de nós, quando íamos a Bissau, utilizávamos o "barco turra"... Fardados, mas desarmados... Sem escolta, confiando na segurança que se fazia no Mato Cão e na Pona Varela...

O nosso ex-alf mil capelão Arsénio Puim (CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) escreveu num das suas crónicas, sobre  "cruzeiro turístico" pelo Rio Geba abaixo... Vale a pena relembrar. Não sei se também se aplicava ao "Bubaque" o epíteto de "barco turra"... O Manuel Amante da Rosa já veio dizer aqui que o pai não tinha nenhum acordo com o PAIGC. Ele prestava um serviço público, de que todos beneficiavam de um lado e do outro (população, militantes e simpatizantes do PAIGC, militares portugueses...). Em 10 anos de navegação pelo Geba acima Geba abaixo, o "Bubaque" terá sido atacado uma vez, "por engano", em 1/6/1973, à uma e tal da manhã, em São Belchior, antes de chegar a Bambadinaca



O embaixador Manuel Amante da Rota, 2013.  Cortesia  da RTC - Radiotelevisão Caboverdiana].


Manuel Amante da Rosa (**)


[ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74 (embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália entre 2013 e 2018; membro da nossa Tabanca Grande; o pai, antes de se tormar empresário de trasnsportes fluvianets, tinha sido, até ao início da guerra, comerciante em Belim, Fulacunda.]


(...) a navegação fluvual e costeira na Guiné era complexa e sempre dependente do ciclo das marés. Fazia-se muito pelos canais, à vista, com pontos de referência, e de forma impírica. 

Muito raros eram os arrais, motoristas e marinheiros que sabiam ler ou escrever. Mesmo assim tornavam-se pela prática experientes navegadores e exímios maquinistas. Muitos deles eram ainda do tempo das lanchas à vela. Muitos bebiam é certo o que em certas épocas se tornava um perigo. Metê-los no porão era a melhor opção. Pude cconstatar isso por diversas vezes. Dessa vez com o meu Pai ausente e com uma tripulação quase toda bêbada de cerveja, porque os excursionistas apesar de avisados deram-lhes à vontade de beber, sem restrições, tive de ir para o leme à partida de Bubaque. 

Era um bom navio. De ferro. Dois pisos. Um antigo e batido cacilheiro, "O Amanhã" . Dotado de um potente e excelente Caterpillar que lhe fazia bater entre 10 a 12 nós em viagem. 

O meu Velho comprara-o anos antes ao Sr. Fausto, português de Setúbal, opositor do regime de Salazar, desterrado para a Guiné, nos anos 40, e que ali se tornará um reconhecido madeireiro. Era ligado ou pelo menos tinha ligações a alguns dirigentes do PAIGC. Teria sido ele a transportar Luis Cabral, durante uma noite, até à fronteira com o Senegal para que não fosse preso pela PIDE que lhe estava no encalço. Era pessoa conhecida e ter levado para Bissau uma boa embarcação e colocado o nome de "O Amanhã" diz muito. (****)

Na realidade existe muita semelhança com a navegação fluvial do Brasil. Lembro-me que a primeira coisa que fiz ao chegar um dia a Manaus foi ir para o Hotel e apanhar um táxi para o porto/mercado. revivi o Pidjiguiti tal às semelhanças. Pontão, navios no lodo, grande amplitude das marés, mesmos cheiros, gentes, embarcações parecidas e até mercadorias. Umas boas horas somente a observar, a conversar e a passar de um navio para o outro. 

Anos mais tarde em Amapá, norte do Brasil, foi a mesma constatação e subir o Amazonas de lancha ronceira até Afuá. Pormenores inesperados que refluem na memória que julgavámos há muito desgarrados. (...)



Arsénio Puim (***)




Arsénio Puim, ilha de São Miguel, Açores, 2019.
Foto: Arsénio Puim

[ açoriano, da Ilha de São Jorge, ex-alf mil capelão; foi expulso do seu Batalhão, o BART 2917, e do CTIG em maio de 1971, apenas com um ano de comissão; no final da década de 1970 deixou o sacerdócio, formou-se em enfermagem, casou-se, teve 2 filhos; vive na Ilha de São Miguel; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande; tem cerca de 40 referências no nosso blogue; é autor da série "Memórias de um alferes capelão", de que se publicaram doze postes]



(...) Mas as embarcações que circulavam no Geba Estreito são também barcos a motor, para transporte de pessoas e de carga, que faziam viagens regulares e prestavam um importante serviço entre a capital do território e Bafatá.

Vim, uma vez, num destes barcos da carreira civil desde Bambadinca até Bissau, numa longa e pitoresca viagem que hoje ainda recordo.

Alguns militares usavam, uma vez ou outra, este meio de transporte para se deslocarem à capital. Penso que o grande Machadinho e meu grande amigo [, alf mil Abílio Machado, nosso grã-tabanqueiro, e que pertencia igualmente à CCS/BART 2917], também ia nesta viagem, mas não tenho a certeza.

No «Bubaque», apinhado de pessoas – muitos africanos e africanas e alguns soldados portugueses –, galinhas, porcos, cabras, (tudo em muita paz), navegámos ao longo do Geba Estreito, ladeado de mato denso e misterioso e cheio de curvas muito apertadas que obrigavam o barco a manobrar bastante próximo das margens. Depois entrámos no Geba largo, cada vez mais espaçoso e aberto aos nossos olhos curiosos, de margens arborizadas e baixas, ponteado com os seus quarteis militares estrategicamente disseminados dum lado e outro do território.

Sete horas depois, agradavelmente vividas em conversação amena e, sobretudo, a olhar, profundamente, a terra da Guiné e desfrutar da sua natureza, o «Bubaque» havia passado a grande ria do Geba e entrava no porto de Bissau, quando eram cinco horas da tarde do dia 8 de Março de 1971.

Fácil se tornou para nós pensar que, não obstante serem alvo de um ou outro ataque esporádico, não seria possível estes pequenos barcos civis, indefesos e para mais trasportando elementos do exército português, circularem regularmente numa tão extensa e recôndita área fluvial se não existisse um acordo secreto entre a empresa e a guerrilha, como aliás era voz corrente.

Mas além deste possível e mais ou menos controlado obstáculo humano, todo o movimento de barcos no Geba é condicionado por um interessante fenómeno natural que dá pelo nome de macaréu.
É, em linguagem simples, uma onda, provocada pelo choque da maré com a corrente fluvial, que avança rio acima, impetuosa e com grande ruído, operando à sua passagem a transição brusca e imediata da baixamar para a preiamar, numa amplitude que pode atingir dois metros ou mais.
Neste interior da Guiné, a mais de 100 quilómetros de Bissau, várias vezes me detive junto do grande Geba para ver passar o macaréu, poderoso e cheio de mistério, admirável e sempre benvindo. (...)


 Manuel Amante da Rosa (***)


(...) Caro Arsénio Puim, alegrou-me muito saber que fez uma viagem no "Bubaque" de Bambadinca para Bissau. Muito provavelmente, se a sua jornada foi num fim-de-semana eu deveria estar a bordo. Se assim foi, deveremos ter saído do sempre atulhado e improvisado cais de Bambadinca às 11 da manhã. Uma a duas horas antes da vazante. Factor regular (horário das marés) que muito nos preocupava para não ficarmos em seco no meio do Mato Cão. 

O Bubaque era do meu Pai que o adquirira à Marinha Portuguesa e o transformara em barco de passageiro com capacidade para 140 ou 180 passageiros, após ter sido abatido à carga. Teria sido antes uma trainera algarvia que foi transformada ainda em Portugal em Lancha Patrulha (o LP4) com uma pesada casamata blindada, em ferro, a meia nau e enviada para a Guiné em principios de 1960. 

Muito patrulhou os rios da Guiné tendo inclusivamente participado na batalha do Como. Com a chegada regular das LDM e LDP as 4 LP  tornaram absoletas e foram abatidas por Decreto do Ministro da Marinha. Eram robustas, aguentavam bem o mar e todas possuiam bons motores. 

O Bubaque era muito conhecido na região do Leste. Era a carreira mais regular entre Bissau e Bambadinca e exclusivamente destinada ao transporte de passageiros e suas cargas. Era também conhecido por “Djanta Kú cia” pela sua rapidez na jornada. Significava que se podia almoçar em casa e chegar ao seu destino ainda a tempo de jantar. 

Fiz muitas e muitas viagens nesse navio, mais de dia que de noite, algumas com acidentes e avarias graves no percurso mas, estando a bordo, nunca fomos vítimas de ataque. Meu Pai sim, numa madrugada em pleno Mato Cão, por erro de identificação. Não me parece que tivesse havido alguma vez um acordo ou pagamento de passagem. Era sabido que só transportavámos passageiros e muitos deles seriam familiares próximos de quem estava na luta quando não fossem mesmo guerrilheiros ou mensageiros a caminho de Bissau e vice-versa. Transportei muitas vezes militares que demandavam e/ou outro porto Sentiam-se seguros no "Bubaque". A viagem directa Bambadinca-Bissau demorava em média de 5 a 6 horas, duas das quais na “auto-estrada” do Mato Cão a parte que mais encanto me dava. A subir era sempre menos.

No Geba largo, no tempo das chuvas e tornados, a preocupação era evidente devido às vagas curtas, sempre de través e instabilidade da massa humana a fugir da chuva ou a agachar-se do vento a sotavento dele. Nessas ocasiões aproximavamo-nos da margem oposta passando por Jabadá e Enxudé até cortar directo para oeste de Cumeré, passar entre a ponte cais e o ilhéu do Rei e atracar no Pidjiguiti. No outro dia, a favor da mare, lá se iniciava uma outra jornada. Tenho ainda vivas as mesmas imagens que tão bem descreveu das margens do Geba apertado. (...) (*****)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 22 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19815: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXX: Viagem, de regresso, do Gabu a Bissau, em 26/2/1968: no 'barco turra', a partir de Bambadinca (II)



(**) Vd.comentário ao poste  17 de março de  2015 > Guiné 63/74 - P14377: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (29): A Ilha das Galinhas que eu conheci e a nostalgia da "prisão" com que o Zé Carlos Schwarz ou Zé Cabalo (, no meu tempo de liceu), nos surpreende, na letra e música de "Djiu di Galinha" (Manuel Amante da Rosa)

(***) Vd. psote de 12 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5453: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917. Dez 69/Mai 71) (5): O grande Rio Geba


(****) Vd. poste de 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (85): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

Vd. também postes de:

18 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13912: (Ex)citações (247): A embarcação "Bubaque", da carreira Bissau-Bambadinca-Bissau (Manuel Amante / Jorge Araújo / J. F. Santos Ribeiro)

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19815: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXX: Viagem, de regresso, do Gabu a Bissau, em 26/2/1968: no 'barco turra', a partir de Bambadinca (II)



Foto nº 1


Foto nº 2

Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 6A


Foto nº 7


Guiné > Comando e CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 26 de fevereiro de 1968 > Viagem de regresso a Bissau, atravessando as Regiões de Gabu e de Bafatá, em coluna militar, e depois de barco, a partir de Bambadinca. Até ao Xime e foz do rio Corubal ainda era região de Bafatá. Mato Cão ficava a seguir a Bambadinca, ainda no Geba Estreito (que ia até ao Xime). Jabadá já ficava na região de Quínara, na margem esquerda do rio Geba, no estuário do Geba, já muito depois da Foz do Rio Corubal. [Vd. carta de Tite]

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde; tem mais de 130 referências no nosso blogue- (*)



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:


  T047 – REGRESSO DAS TROPAS EM 26FEV68  -  O BCAÇ 1933  RIO GEBA ABAIXO  (2)


I - Introdução do tema:


Continuação da série de Temas para Postes, relativos à chegada do Batalhão à Guiné, as viagens para Gabu pelo Rio Geba acima, as colunas militares por estrada, as festas de despedida no Gabu com batuques e roncos à mistura, o regresso pelo mesmo caminho, Bambadinca, até Bissau, antes de partir novamente para o novo destino, São Domingos, Rio Cacheu acima, sem fotos.

Após as despedidas no Gabu, chegou o dia do regresso, em colunas militares, por terra, até Bambadinca, e por via fluvial, no Geba, até Bissau. A viagem correu normal, nada havendo a assinalar, excepto as más condições da viagem, e juntos com a população civil, que precisava também de boleia.

II - Legendas das fotos:

F01 – Passagem da coluna fluvial pela Mata do Oio [?], empoleirado no barco, de G3 em riste, como se estivesse a fazer um cruzeiro de férias e caça ao Burro. Acho que estamos na zona do Rio Geba Estreito, pois as margens estão perto, mas não sei. Espreitando melhor a foto, acho uma imprudência minha, a arma está carregada e de certeza com bala na câmara, um pequeno descuido, um tiro, com o cano encostado à cara, pelo menos ia a orelha e os óculos… Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

[Virgílio, querias dizer Mato Cão, mas não, já não é o Geba Estreito. já passaste o Xime, a caminho de Bissau... Aqui começa o estuário do Geba, podias ir tranquilo, a partir da Foz do Rio Corubal...LG]


F02 – No ‘Barco Turra’, o apetite aperta, e lá vai um pouco de ração de combate. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F03 – Depois do ‘almoço’ ou ‘jantar’ tocar viola para desanuviar o ambiente. Ao meu lado o soldado condutor Espadana, o nosso chefe de mesa na messe de oficiais. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F04 – Passagem da ‘coluna fluvial’ por um aquartelamento algures no caminho de Bissau. Está escrito no verso de outra fotografia que se trata de ´Jabadá’. Foi alguém que o disse. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F05 – Momento de atenção das tropas, porque o barco está a passar pela mata do Oio [?] e pelo que dizem os mais conhecedores, é perigosa. Por isso a arma G3 sempre presente. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

[, Virgílio, a avaliar pela distância da margem esquerda do Rio Geba, já estás longe do temível Mato Cão, e não Oio...LG]

F06 – População civil, viajando no mesmo ‘barco dos turras’ com a tropa. Dizem que assim era menor a probabilidade de serem atacados no rio. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu para Bissau, no dia 26 de Fevereiro de 1968.

F07 – A noite está a cair por volta das 18 horas da tarde, o barco está a entrar no ‘estuário do Geba’, em breve todos estão em terra firme e segura em Bissau. Na hora da refeição, tomando o petisco, as rações de combate, nada mau. Foto captada no Rio Geba, no regresso de Gabu e chegada a Bissau já noite, no dia 26 Fevereiro 1968.

Direitos de Autor:

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM.

Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI 15, Tomar,

CTIG/Guiné de 21 Set 67 a 04Ago69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos,».

Acabadas de legendar em 2019-03-19

Virgílio Teixeira



Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Jabadá, na margem esquerda do rio Geba, entre a foz do rio Corubal e Bissau.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


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