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terça-feira, 27 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26850: (De) Caras (232): Mamadu Baio & Amigos, 16ª edição do "Junta-te Ao Jazz", Palácio Baldaya, Benfica, Lisboa, 25 de maio de 2025... Como disse o Mamadu Baió (viola baixo, voz, compositor): "a música não tem fronteira, nem tem cor, não tem raça"


Vídeo: 2' 13" Fonte: You Tube > Luís Graça > @Nhabijoes (2025)



 


 Vídeo: 2' 50" Fonte: You Tube > Luís Graça > @Nhabijoes (2025)
 

Foto nº 1 > Em primeiro plano, três grandes músicos da "escola de Tabatô" (Bafatá. Guiné-Bissau): o Mamadu Baio (ao centro, voz e viola baixo, além de compositor), um Djabaté, primo do grande Kimi Djabaté (cora e voz) e o Demba (balafom)


Foto nº 2 > O Demba, bafalom (que o João Graça também conheceu em Tabatô, em dezembro de 2009)


Foto nº 3 > O Mamadu Baio, e em segundo plano um angolano (cujo nome não fixei, mas que trabalha também com o Paulo Flores, é  um musico talentoso que toca vários instrumentos)


Foto nº 4 > O único branco (oriundo dos "Melech Mechaya", extinto grupo de música klemer, toca violino)


Foto nº 5 > O Nhanhero... (uma relíquia)



Foto nº 6 > Cabeçalho da 16ª edição do festival "Junta-te Ao Jazz", Lisboa, Palácio Baldaya, 23-25 de maio de 2025


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Mamadu Baio

1. Nunca tinha ido ao Palácio Baldaya, em Benfica, Lisboa. Nem ao festival "Junta-te ao Jazz", organizado pela Junta de Freguesia de Benfica (*). Fui ontem, 25 maio, no último dia. E para ver e ouvir o Mamadu Baiô + Amigos... 

Pois, meus caros, foi um "show de música" (!), com a escola de Tabatô, cheia de jovens talentos, a vir ao de cima...

É tudo gente da diáspora africana... Tabatô tem 35 dezenas de referências no nosso blogue. Desde sempre temos apoiada a música e os músicos da Guiné-Bissau, dando nomeadamente a conhecer os seus trabalhos, atuações, espectáculos, projetos, etc.

 Contribuimos (alguns de nós) também numa campanha de angariação de fundos para a edição do 1º CD do Mamadu Baio, em Portugal. O dinheiro recolhido (mais de 3 mil euros) está em boas mãos e vai permitir que esse sonho se concretize.  Esperemos que em breve...Mas é tudo muito lento e difícil para estes nossos amigos africanos, ou se origem africana
 ( O Mamadu e português  pelo casamento.)

É uma pena que estes jovens músicos, que esperam musica por todos os opostos da ele, que começaram logo a beber música com o leite materno, tenham que andar a trabalhar na construção civil, para sobreviver, aqui (e no resto da Europa). (**)

Dois destes músicos são membros da Tabanca Grande, o Mamadu Baio (ex-Super Camarimba) e o João Graça (ex-Melech Mechaya). 

O João Graça, também médico, oncopsiquiatra, tem apoiado, de muitas maneiras maneiras, os nossos amigos guineenses músicos. É conhecido e acarinhado por todos eles. E há anos que toca com eles (e nomeadamente com o Mamadu Baio, que conheceu em Bissau, em dezembro de 2009).

Gostei do desempenho do Mamadu Baio e dos seus amigos. E o reportório que foi escolhido, estava adequado ao evento e ao local, ao ar livre,  em tarde de sol, mesmo que tenha coincidido com a final da Taça de Portugal em Futebol ( estavam as ruas desertas quando cheguei a casa).

Já sugeri, em tempos ao Mamadu (que canta em mandinga) que faça sempre antes, no início de cada canção, uma pequena sinopse ou resumo das letras: cada canção conta uma história. Tabatô é uma aldeia de "griots" ou "djidius" que no antigo império do Malu e depois no reino de Gabu eram trovadores, músicos ambulantes, levando as notícias às tabancas, divulgando as lendas e narrativas de reis, guerreiros e heróis... Em suma, eram as redes sociais daqueles tempos, anteriores à ocupação colonial dos europeus.

Recorde-se que o João Graça, quando esteve na Guiné-Bissau, em dezembro de 2009, passou  uma noite memorável em Tabatô. (***) Disse ele que foi uma das experiências mais marcantes da sua vida.  Nessa altura ele terá conhecido o melhor da Guiné, teve mais sorte que o pai, que quarenta anos antes conheceu o pior, ou seja, a guerra.


__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26840: Agenda Cultural (886): Entrada livre... O nosso grão-tabanqueiro, luso-guineense, Mamadu Baio & Amigos (incluindo o João Graça, violino, mais 5 guineenses), amanhã, dia 25, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lx, às 17h30, na 16ª edição do festival "Junta-Te Ao Jazz"... Encerra, às 18h30, com o grande Paulo Flores, a voz angolana do kizomba, do semba, da resiliência e da esperança

(***) Vd. poste de 13 de maio de 2011 > Guiné 83/74 - P8261: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (11): 15/16 de Dezembro de 2009, uma noite de magia e de emoções, entre os Jacancas de Tabatô, da família de Kimi Djabaté, com a mais universal das linguagens, a música

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26710: Boas amêndoas e melhores Páscoas de 2025 - Parte VI (Luís Graça, versos ao "compasso pascal")



O compasso pascal em Candoz, s/d (c. 1980). 
A Nita (1947-2023)  vinha à frente, do lado direito. 
Foto: LG



Madalena, Vila Nova de Gaia, 5 de abril de 2015.

A "Nita",  Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (1947-2023) 
faz as honras à casa....



... e lê os "versinhos ao compasso da Madalena"

Vídeos: L.G. (2015). Alojados em You Tube > Luís Graça


 
1. Uma seleção dos meus versos dedicados ao "compasso pascal": há 50 anos que venho ao Norte, nesta data, ao Porto, à Madalena (V. N. Gaia), a Candoz (Paredes de Viadores, Marco de Canaveses). Nesta e noutras datas festivas, como o Natal, o Carnaval, etc., ou trabalhos coletivos da quinta, como a vindima... 

De há 20 anos a esta parte, deu-me para escrever um versos ou umas prosas poéticas por ocasião do Natal e da Páscoa... São versos singelos, ao gosto popular, para serem lidos na ocasião (neste caso, aquando da visita pascal).  

Na pandemia de Covid-19, a família falhou a vinda ao Norte pela Páscoa por razões óbvias: daí não ter havido nem versos nem compasso em 2020 e 2021...

Em 2023 morreu a nossa querida "Nita" (1947-2023), e a partir daí não mais abrimos a casa de Candoz ao compasso... É um sinal de luto carregado na cultura das gentes de Entre Douro e Minho. Daí também não haver versos em 2024 e 2025... 

Em Paredes de Viadores, devido â dispersão geográfica das habitações, a visita pascal (compasso)  reparte-se por dois dias: no domingo de Páscoa, e no dia seguinte,  segunda . Em Candoz, é sempre à segunda...

Hoje o pároco já não preside, como antigamente, à visita pascal. Essa função é agora exercida por um leigo, que transporta a cruz, sendo acompanhado por outros membros da comunidade paroquial. Geralmente, um dos mais novos, vem munido de uma sineta cujo toque faz anunciar a chegada do compasso. 

O compasso é isso mesmo: a visita, ao redor da freguesia, em cortejo, a todas as casas das famílias cristãs, que sinalizam,  com urzes e pétalas de flores, o caminho que leva à casa, nas zonas rurais, ou com colchas (brancas) o andar da família que quer receber o compasso, nas vilas e cidades.

Em termos religiosos e sociais, a função principal do compasso é: (i) anunciar a ressurreição de Cristo; (ii) partilhar a alegria da Páscoa entre família, amigos e outros convidados; e (iii) benzer a casa e os presentes (que em geral representam duas ou mais gerações).

O cortejo vai andando de casa em casa. O mordomo que transporta o crucifixo, entrega-o em geral  ao "homem (ou mulher) da casa" que faz uma ronda, dando a beijar  a imagem de Cristo... (por razões de higiene pública, depois da pandemia, o beijo tende a tornar-se simulado).

Depois de uma breve oração, segue-se a oferta de alguns doces e bebidas ao compasso e aos demais presentes. No Norte, as famílias fazem também ofertas em dinheiro (que reverte para o padre; o peditório para o foguetório é feito uns tempos antes: 20 minutos de fogo pode custar 20 a 30 mil euros). 

Os do compasso têm de ser polidos, comedidos e frugais: se bebessem em todas as casas, estavam "feitos"!... (mas antigamente era assim, nalguns sítios: o compasso recolhia à igreja, já bêbado que  nem um cacho!).

À saída do compasso, a caminho da próxima casa, é frequente deitar-se um ou mais foguetes, pagos pelo dono da casa que acabou de ser visitada.  No final do dia, "juntam-se as cruzes" (no caso das freguesias grandes) e, em muitas partes, há fogo de artifício (em geral muito vistoso, aqui no Marco de Canaveses e em Baião).

 Parte do dinheiro recolhido é para gastar em fogo. Por razões de segurança, o uso de  fogo de artifício tradicional (com foguetes de cana), não estando proibido,  está sujeito a uma estrita  regulamentação.

Resta-me fazer aqui uma recolha dos versos que publiquei no blogue da família, "A Nossa Quinta de Candoz". Aqui vão, com votos, para todos os  nossos amigos e camaradas da Guiné, de uma feliz e santa Páscoa de 2025. LG

_________________


Viva o compasso pascal
Desta linda freguesia,
Fizeram-nos muito mal
Estes dois anos de pandemia.


Faltam beijos e abraços,
Mas lá iremos ao normal,
Hoje damos mais uns passos,
Viva o compasso pascal!

É uma antiga tradição
Que nos enche de alegria,
E reforça a união
Desta linda freguesia.

Andámos todos com medo
E com máscara facial,
Duas Páscoas sem folguedo
Fizeram-nos muito mal.

Sem compasso nem foguetório,
Sem convívio nem folia,
Nem sequer houve peditório
Nestes dois anos de pandemia. 

 (...) Quinta de Candoz, 18 de abril de 2022
____________________

Mais um ano, mais uma visita
Deste compasso pascal,
É uma festa bem bonita,
E que nunca é igual.

E que nunca é igual,
Logo vem outro, se falta algum,
Renova-se o pessoal,
Que aqui somos todos por um.

Que aqui somos todos por um,
Na alegria ou na tristeza,
Na fartura ou no jejum,
Cabendo todos à mesa.

Cabendo todos à mesa,
Onde não falta o anho assado,
Nesta casa portuguesa,
Onde honramos o passado.

Onde honramos o passado,
O presente e o futuro,
Se alguém está adoentado,
Tem aqui um porto seguro.

Tem aqui um porto seguro,
Damos valor à amizade,
Às vezes o rosto é duro,
Mas o resto é humildade.

Mas o resto é humildade,
Viva o compasso pascal,
E a nossa fraternidade!...
Boa Páscoa, pessoal!

Boa Páscoa, pessoal,
Boa saúde e longa vida,
À Ti Nitas, em especial,
Que nos é muito querida!

Quinta de Candoz,
segunda feira de Páscoa,

22 de abril de 2019


_________________


Já lá vem, em festa, p’la estrada fora,
O compasso pascal da freguesia,
Chega à nossa casa mesmo na hora,
E a todos saúda com alegria.

Mais do que a tradição, 
é a certeza
De que a Páscoa é também renascimento,
E há sempre mais um lugar à mesa,
Para nosso geral contentamento.

Se não for preenchido, é o dos ausentes,
E, em especial, dos nossos mortos queridos;
Aos que vieram e estão aqui presentes,

Saibam que nós ficamos muito honrados.
E, aos do compasso, diremos, reconhecidos:
Tenham um dia feliz, mesmo… estoirados!


Quinta de Candoz, 2 de abril de 2018

____________________


Aleluia, Cristo ressuscitou!,
Apregoa o compasso pascal,
Que hoje nesta casa nos visitou,
E a todos nos juntou neste local.

É uma das ruas da Madalena,
Que tem nome do nosso primeiro rei,
E eu, quando não posso vir, tenho pena,
Porque a Páscoa é aqui, isso eu sei.

Lá vai o compasso pela rua fora,
Sem freima, com prazer e devoção,
Com ordem, em festiva procissão.

À frente vai a cruz e uma senhora,
E outra porta se abre, ali na hora…
Até p’ró ano… e viva a tradição!

Madalena, V. N. Gaia,
domingo de Páscoa,

16 de abril de 2017

_____________________


Olha o compasso pascal,
Visitando a freguesia,
Nesta casa, é bom sinal,
Traz-nos a fé e a alegria.

Traz-nos a fé e a alegria,
Que todos bem precisamos,
É a Santa Páscoa o dia
Em que as forças renovamos.

Em que as forças renovamos,
Como seres humanos e cristãos,
Boas festas desejamos,
Pais, filhos, amigos, irmãos.


Pais, filhos, amigos, irmãos,
Vizinhos da Madalena,
Mais os de longe que aqui estão,
E quem não veio vai ter pena.

E quem não veio vai ter pena,
De neste ano faltar,
Mas fez esta cantilena,
Para com vós partilhar.

Para com vós partilhar
As coisas boas do Norte,
E a amizade reforçar
Com um abraço bem forte.


Lisboa e Madalena, V. N. Gaia, domingo de Páscoa,
27 de março de 2016, 10h30
__________________


Vem em abril este ano
O nosso pascal compasso,
Vem o sicrano e o beltrano,
A todos damos um abraço.

É já forte a tradição,
Desta gente aqui do Norte,
Abre a porta, pede a bênção,
A todos deseja sorte.

É um povo hospitaleiro,
Que sabe receber e dar,
Se na fé é o primeiro,
Não fica atrás no folgar.

Obrigados, nossos vizinhos,
Pela visita pascal,
E aceitem com carinhos
… As amêndoas deste casal.

(...) Madalena, 5 de abril de 2015
 
____________________

Páscoa em março, fome ou mortaço,
Diz o povo… Mas em Candoz,
Não há Páscoa sem compasso,
E não há gente como… nós!

Viva o compasso pascal
Que nos vem visitar,
Franqueando nosso portal,
Santas bênçãos nos quer dar.

Páscoa é festa com mensagem:
Triunfa a vida sobre a morte;
Segue o compasso a viagem
E a todos deseja…sorte.

Viva o compasso pascal
Que nos faz esta visita,
Vem por bem, não vem por mal,
Mas traz um saco prá… guita!

Sem guita não há foguetes,
Que é coisa que o povo adora,
Sem ovos não há omeletes,
Sem folar não me vou… embora!

Páscoa é festa da nossa vida,
É tradição cá do Norte,
Não há gente tão querida,
Alegre e de altivo… porte.

É casa de boa gente,
É povo abençoado,
Que gosta de dar ao dente
E se pela por anho… assado!

Parabéns às cozinheiras
Desta bíblica iguaria,
Elas são também obreiras
Desta nossa… alegria.

A todos, muito obrigados:
Sem uma farta e grande mesa,
Sem amigos e convidados,
Páscoa seria… tristeza!

(...) Quinta de Candoz, 1/4/2013

________________________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26708: Boas amêndoas e melhores Páscoas de 2025 - Parte V ( Mário Beja Santos / Miguel Torga, 1907-1995)

quinta-feira, 27 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26622: Ser solidário (280): O que se passa com o caudal de água da Fonte Frondosa / Sanjuna, de Empada ? (Henk Eggens / Vincent Kuyvenhoven / Luís Graça / José Teixeira / Inês Allen / Arménio Estorninho)





Foto nº 1 e 1A > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1983 > Fotografia da Fonte Frondosa com a esposa Anke (holandesa) no meio das lavadeiras.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > s/d > A nascente da Fonte Frondosa (cuja construção data de 1946, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues)



Vídeo (00:22) > s/d > A "sanjuna" entupida




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > s/d > A Fonte Frondosa / Sanjuna, na língua local. Imagem do sítio da ONGD Sanjuna.nl


Sobre a ONGD Sanjuna.nl ver também o vídeo  Sanjuna in 100 sec (01' 40'') (em neerlandês)
 

Fotos, vídeo (e legendagem):  © Vincent Kuyvenhoven  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Do nosso amigo, Henk Eggens, holandês (ou neerlandês) (que vive em Portugal, em Santa Comba Dão, tendo trabalhado como médico, cooperante, na Guiné-Bissau, em Fulacunda e em Bissau, de 1980 a 1984) recebemos a seguinte mensagem, com data de 21 do corrente:


Olá, Luís,Tudo bem contigo?

Estou na minha terra natal, curtindo filhas, netinh@s e amigos.

(...) Tenho um pedido para publicar no blogue, pedir informação aos tabanqueiros sobre a Fonte Frondosa,  no Empada, sul da Guiné.

O tabanqueiro José Teixeira escreveu uma história cómica  (*) sobre os soldados, atormentados pelos "hormónios"  
[o português é tramado. ó Henk, querias dizer... "hormonas"] da juventude, observando as bajudas a tomar banho naquela fonte.

Provavelmente (era) a visão dos soldados naquela época.

Minha pergunta é a seguinte:

Meu amigo e colega Vincent Kuyvenhoven trabalhou como médico na Guiné, baseado em Empada (1983-1986). Gostou (junto com a esposa Anke) da experiência e o ambiente. Decidiram apoiar a população de Empada, até agora. Criaram uma fundação chamada Sanjuna.

Sanjuna é o nome local da Fonte Frondosa.

Um breve resumo em português dos principais pontos do relatório anual de 2023 da Fundação Sanjuna:

Introdução
- 2023 foi o nono ano completo da fundação desde a sua criação em abril de 2014
- O coordenador Vincent Kuyvenhoven fez duas visitas a Empada para acompanhar projetos

Atividades Apoiadas
- Foco principal em educação, água potável, saúde e desporto
- Financiaram bolsas de estudo, construção de escolas, formação de professores
- Construíram tanques de água em várias aldeias
- Apoiaram cuidados de saúde comunitários e formação de agentes de saúde
- Contribuíram para torneios de futebol locais

Finanças
- Receitas totais: €36.100
- Despesas totais: €29.200

Vincent e Anke costumam visitar Empada pelo menos uma vez por ano.


Azulejo da Fonte Frondosa, cuja construção
é de 1946, do tempo do governador 
Sarmento Rodrigues




A pergunta deles é sobre a bacia de água atrás do quadro de azulejos e torneira.

Vincent me escreveu o seguinte:

"A fonte está a degradar-se um pouco em 2 aspectos: poluição da bacia de água (cuja função não me é clara) e drenagem dificultada, que veio à tona na época das chuvas."

Veja o clipe em anexo que mostra a situação atual na época da chuva.

Será que alguém dos tabanqueiros que viveram na Empada podem esclarecer a função  
desta bacia? 

Os homens grandes e mindjeres grandes lá não podiam esclarecer a função da mesma.

Agradeço se achas oportuno publicar esta pergunta no blogue. (...)

Um AB desde Holanda,
Henk

2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Que bom, Henk, a nossa terra é sempre a melhor do mundo... Boa estadia. O tempo por aqui não está grande coisa, chegou ontem a primavera...

Vamos ajudar os teus amigos...Vou-te pôr em contacto com dois tabanqueiros nossos, que têm uma forte ligação a Empada, a Inês Allen (filha de um antigo combatente, já falecido) e o José Teixeira ( e coordenador da ONGD Tabanca de Matosinhos, já lá voltou â Guiné-Bissau meia dúzia de vezes, foi enfermeiro durante a guerra)...

Ver aqui a página do Facebbok da Inês Allen.

Sobre Empada temos 185 referências no nosso blogue:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Empada

A carta de Empada (1961) (Escala 1/50 mil) está disponível aqui:

https://arquivo.pt/wayback/20170222021858/http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial51_mapa_Empada.html

Diz-me se posso reencaminhar para a Inês e o Zé o teu mail... Conhecem a gente atual da tabanca de Empada... Aqui fica o pedido dos teus amigos (já visitei o "site" da Sanjuna, tenho que traduzir para inglês...)

Boa saúde, bom descanso... Luís

3. Comentário do editor LG:

Henk, com a tua devida autorização aqui tens a nossa troca de mensagens no blogue, com enfoque nos problemas da Fonte Frondosa /Sajuna, de Empada. 

Já falei com o Zé Teixeira, que ficou radiante com a hipótese de poder ser útil ao teu amigo Vincent, o mesmo é dizer, à população de Empada. Ele, tal como a Inês Allen, mantem fortes laços afetivos com Empada, que se traduzem também em ajuda material. Ele e ela vão gostar de poder falar contigo. Seguem os endereços de email dos dois.

Falei com a Inês, que é uma linda menina, e com um grande coração, tal como o falecido pai, Xico Allen (1950-2022). Esteve em maio de 2024, em Empada, na inauguração do campo de futebol que tem o nome do pai. Já então o problema da "Sajuna" fora-lhe abordado pela população, que a adora. Conta lá voltar para o ano...

Quanto ao Zé Teixeira, disse-me que já em 2015, quando passou por lá, a fonte estava com menos água...Ele acha que a diminuição do caudal tem a ver com as alterações climáticas... E, infelizmente, esse problema não é exclusivo de Empada...A água doce na Guiné - Bissau é um bem escasso. Temos essa dolorosa experiência, que nos vem do tempo da guerra, nomeadamente no tempo seco. A água era salobra e ferrosa. Bebiamos água engarrafada (Vichy e Perrier) com uísque... Até o gelo era horrível...

No nosso tempo, há 50/60 anos, chovia muito mais. O Zé é de 1968/70, um ano mais velho do que eu...Ambos conhecemos a guerra "pura e dura", ele na região do Forreá (Buba, Empada, Quebo, Mampatá...).


Região de Quinara > Empada > 1969 > "Eu, tomando banho à fula, na Fonte Frondosa, principal zona de banhos e de lavadouro". Foto do álbum do Arménio Estorninho, ex-1º cabo mec auto, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(**) Último poste da série > 13 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26580: Ser solidário (279): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à Afectos com Letras - ONGD


domingo, 9 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26567: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (55): Rachar cibes para a cobertura para a minha casa de praia, em Varela, que ardeu



Vídeo 0' 15'' > Trabalho da execução das rachas de cibe.
Até parece fácil...o martelo pesa de 15 a 20 kg
O rachador usa duas cunhas, uma em madeira e outra em metal...



Foto nº 1 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe (1)



Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Região de  Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe (2)


Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela > Catão > 5 de março de 2025 > Casa felupe > Troféus...Na foto, da varanda de uma casa Felupe...podem ver (desta vez) diversas queixadas de porco...(Fazem parte do cerimonial do pedido de casamento das meninas de 6 ou 7 anos aos respetivos pais, pelos rapazes com 18 a 20 anos, mas os casamentos só são celebrados quando elas têm 20 anos !)



Fotro nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela >   Maio de 2021 > A minha casa ao entardecer, às 6h30



Foto nº 5 > Guiné- Bissau > ERegião Cacheu > Varela > 5 de março de 2025 > A minha "datcha" felupe... E tudo o fogo levou...







Foto nº 6B, 6A e 6 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela >  5 de março de 2025 > Rachar cibes, para a cobertura da minha casa (1)



Foto nº 7 > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela >  5 de março de 2025 > Rachar cibes, para a cobertura da minha casa (2)





Foto nº 8 e 8A > Guiné- Bissau > Região Cacheu > Varela >  5 de março de 2025 >  Os famosos cibes...

 Vídeo e fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado desde criança em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola (1969/72), a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda; é um "histórico" nossa Tabanca Grande (que integra desde 6/1/2006): é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses; é o nosso "embaixador" em Bissau, colaborador permanente para as questões de ambiente, geografia e economia, autor da série "Bom dia, desde Bissau" (*)



1. O Ribeiro Patrício mandou-nos, no passado dia 5,  uma série de fotos da sua morança,  em Varela, que está  a ser reconstruída, depois de consumida pelo fogo, além de um pequeno vídeo sobre o trabalho de "rachar cibes", com cunha  e martelo...


Luis: Tentei enviar algumas fotos que não sei se passaram todas, a Net em Varela não é uma ciência excata. ciência exata.

As fotos nº 1 e 2 mostram casas felupes em Catão, nos arredores de Varela.

Na foto nº 3, na varanda de uma casa Felupe, podem ver (...desta vez) diversas queixadas de porco...São usadas nas cerimónias de  pedido de casamento das meninas de 6 ou 7 anos aos respetivos pais, pelos rapazes com 18 a 20 anos... (Mas os casamentos só são celebrados quando elas têm 20 anos !)
 
Na foto nº 4 (tirada em maio de 2021), eis  como era minha querida palhota na praia de Varela... Ardeu, com o fogo que veio do mato sem controle....Eis o que resta, ao fim de 27 anos, da minha casa de praia (Foto nº 5)... A palha é bonita...mas aconteceu também a uma tabaca Felupe próxima. Este ano tem estado vento muito forte, são as alterações climáticas.

Estou a reconstrui-la. E ficam a saber como se arranja "rachas de cibes" (que eram utilizadas nos reordenamentos). É a forma, muito antiga, de arranjar barrotes para cobrir as casas. É um trabalho difícil, duro (Fotos nºs 6 e 7).  O produto final  serve para cobrir 90% das casas da Guiné (Foto nº 8).

Envio também um pequeno vídeo. Até parece que é fácil rachar cibes...Mas  martelo pesa de 15 a 20 kg.
 
Fiquem também com uma informação metereológica: Carnaval em Varela durante o dia, 28 graus, à noite muito, frio 18 graus... Para quem não tem roupa quente passa mal.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26476: Por onde andam os nossos fotógrafos (37) ?: Zeca Romão, de Vila Real de Santo António, ex-fur mil at inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3963 e CCAÇ 16, Teixeira Pinto e Bachile, 1971/73) - Parte II

 



Vídeo (4' 20'') > You Tube / Romão José (2014) | "Eecordando o meu percurso pelo exército português de 6 de abril de 1970 a 24 de outubro de 1973" | Video de Zeca Romão | C. 35 mil visualizações desde 18/11/2014.

Ligar o som... Música: Canção "Vou levar-te comigo", do Duo Ouro Negro, numa interpretação de um grupo que não identificámos  (Reprodução do vídeo, com a devida autorização do autor....)

Vídeo: © José Romão (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O nosso camarada José Romão é natural de Vila Real de Santo António, onde é uma figura muito popular e um cidadão interveniente... Sobre ele escreveu o seu e nosso camarada Eduardo Estrela (que é de Faro mas vive em Cacela) (*):

"O camarada Zeca Romão, amigo e companheiro do blogue, é um cidadão pelo qual tenho uma grande estima. Faz-me o favor de ser meu amigo há muitos anos, temos amigos em comum e um igual amor pelo teatro amador. O Zeca foi amador de teatro no grupo de teatro António Aleixo de Vila Real de Santo António, grupo pelo qual o GT Lethes de Faro tem um especial carinho. Daqui lhe mango um fraterno abraço Eduardo Estrela."

O Zeca Romão como é carinhosamemnte tratado pelos seus amigos e conterrâneos, tem um especial apego à sua terra, um grande amor pelas s suas gentes, as suas tradições, o seu património... E tem uma segunda terra, a Guiné-Bissau, com destaque para o  "chão manjaco", do qual guarda "recordações inesquecíveis" do tempo em que foi fur mil at inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73.

Tem c. 20 referências no nosso blogue. É membro da Tabanca Grande desde 20/6/2010. Tem página no Facebook. Foi atleta na sua juventude. É um fotógrafo compulsivo. Disponibiliza centenas de fotos no seu Facebook. 

Estamos a recuperar as da Guiné, todas dispersas. Serão reeditadas e publicadas no blogue, com a devida vénia.  O seu tempo de tropa na metrópole (Tavira, Amadora, viagem para a Guiné, etc,) pode ser melhor acompanhado por este "vídeo" que ele postou na página do Facebook da Tabanca Grande, com fotos do seu álbum.

Obrigado, Zeca, também passei pelo CISMI, Tavira, e também fui no T/T Niassa para o CTIG. E também me calhou uma "africana" (CCAÇ 12) como tu (CCAÇ 16). 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26454: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (52): A antiga Cervejaria Solmar, na Av Domingos Ramos, perto do mercado novo e da Segurança Social




Fotos nºs 1 e 2 Guiné- Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > A antiga Cervejaria Solmar

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > "Mais um artéria da cidade, em obras"... a Av Domingos Ramos... E do outro lado, à esquerda, o edifício da antiga Cervejaria Solmar... Fotograma do vídeo do Paulo Cacela, " A transformação de Bissau...", disponível aqui no You Tube. (A imagem é obtida a partir da entrada do Novo Mercado...)


Fotograma (e legenda): © Paulo Cacela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Patrício Ribeiro, nosso amigo e camarada (foi fuzileiro em Angola, 1969/72), histórico membro da Tabanca Grande, nosso "embaixador em Bissau",  cicerone, autor da série "Bom dia desde Bissau"; fundador da empresa Impar Lda; vive na Guiné-Bissau há 4 dezenas de anos; tem mais de 180 referências no blogue.


1. Mensagem do Patrício Ribeiro (*), com data de ontem,  por volta dads 23h00:

Solmar... Morei em mesmo cima, durante 5 anos. (Aliás, a sede da Impare Lda, é nesta artéria.)

Nunca mais abriu como restaurante. Propriedade do jovem António Carvalho que já fez 90 anos. E que passa o inverno de Lisboa em Bissau.

O edifício foi alugado para comércio a um amigo, fuzileiro do destacamento de fuzileiros especiais, DFE  nº 8,  da nossa idade, que aqui fez uma comissão e por aqui anda há mais de 2 dezena de anos.

A rua anda em obras.. Vai levar asfalto novo. Fica junto ao mercado novo, o velho ardeu. Em frente ao edifício da Segurança Social (INSP - Institituto Nacional de Previdência Social, AvDomingos Ramos, nº 12).




Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > O mercado municipal, aliás, "Mercado Central" (entre a Av Domingos Ramos e a R Vitorino Costa)... A mesma tabuleta esmaltada de há trinta e tal anos atrás... Ardeu entretanto, foi construído um novo nno mesmo sítio. (Devia ser o nº 376 da antiga Av. Carvalho Viegas) (*) (A Av Domingos Ramos é paralela  à Av Amílcar Cabral, do lado direito de quem desce para o cais do Pidjiguiti).

Recorde-se que o antigo mercado,  construido na época colonial, ficou fechado durante 16 anos devido aos bombardeamentos de que foi alvo durante a guerra de 7 de Junho 1998, tendo sido reabilitado um ano depois, mas, em 2006, um incêndio voltou a destruí-lo por completo. Os feirantes acabaram por montar o seu negócio ao longo das ruas adjacentes... 

O novo mercado foi inaugurado em 26/12/2023, é um edifício de três pisos contando com 360 lugares para venda e com capacidade para albergar 480 comerciantes. (Vd. fotohgramas  do "youtuber" Paulo Cacela, umportuguês que vive em Cabo Verde:  vd. poste P24853 (***).

Foto (e legenda): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(***) Vd. poste de 16 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24853: As nossas geografias emocionais (16): O novo rosto da "nossa" Bissau Velha: fotogramas de vídeo recente de @PauloCacela, ciceroneado por Tita Pipoka e Liliana Correia

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26312: Convívios (1011): 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74), em Mora, no passado dia 25 de maio (António Duarte)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Bolo comemorativo dos 52 anos do regresso dos graduados de especialistas a segunda geração (1971/72)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Em primeiro plano, de perfil, o ex-alf mil  at inf, José Sobral (hoje médico, vivendo em Coimbra), a cantar com o resto do pessoal  o hino da CCAÇ 12,  atuação  que termina com um bom manguito à moda do Bordalo, o genial criador do Zé Povinho.


No vídeo abaixo pode ver-se um grupo de "coralistas", entoando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que o visado seria o 2º comandante do BART 2917 (o então major art Anjos de Carvalho, conhecido na "caserna" como o "alma negra"; militarista, parecia estar ali deslocado na "Spinolândia"; gostava de comandar operações "by air", ou seja, através do PCV - Posto de Comando Volante, em DO-27; por sorte, acabou a comissão antes do aparecimentos dos Strela nos céus da Guiné)




Mora > Fluviário > 25 de maio de 2024 > 51º almoço-convívio  da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > O hino da CCAÇ 12. (**)

Fotos e vídeo  (e legendas): © António Duarte (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Duarte, um histórico do nosso blogue para o qual entrou em 18/2/2006 (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1971/74; formou-se em economia; ex-quadro bancário; vive em Paço d'Arcos, Oeiras):

Data - 24/12/2024, 13:23

Assunto - 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (*)

Boa tarde,  Luís

Segue esta gracinha do último convívio feito, da nossa CCAÇ 12,  com gentes da segunda geração e eu da terceira (Bambadinca e Xime, 1971/74).(**)

Foi no passado dia 25 de maio, em Mora, organizado pelo Vitor Marques, Juntaram-se ainda dois ex-furriéis mil do Pelotão de Artilharía, de 10,5 cm, que coexistiram com a CCAÇ 12 no Xime no ano de 1973.

Grande Abraço para ti e restantes camaradas,
António Duarte

Cart 3493 e Ccaç 12 (de dez 71 a jan 74)


_______________

Notas do editor:

(**) Vd. postes de:


31 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

30 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26259: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte IV: Um dos santuários do PAIGC (1966-1972)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina do Cantanhez, perto da "barraca" (acampamento) Osvaldo Vieira (que eu visitei em 2 de março de 2008) > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 >  A silhueta de um "dari" (chimpanzé) descendo uma árvore ... 

Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, ainda com relativa abundância como o macaco fidalgo ("fatango", em crioulo). O Cantanhez ainda era, em 2009, uma das últimas florestas primárias do planeta. É imperioso que os guineenses e todos nós as saibamos proteger e salvar. O João Graça que esteve cinco dias como médico, voluntário,  em Iemberém (a nossa antiga "Jemberém"), teve o privilégio de observar "in loco"  um chimpanzé do Cantanhez (depois de se levantar muito cedo e caminhar um bom par de horas, com um guia). Outro habitat do "dari é o Boé (agora ameaçado com a prospeção e eventual exploração da bauxite, entregue a uma empresa chinesa).

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Farim do Cantanhez > 9 de Dezembro de 2009 > 17h06 >  Resto de mangas de um ou mais "daris"...

Com mais de 100 mil hectares (mil quilómetros quadrados), este parque é muito importante, segundo o IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Areas Protegidas, com sede em Bissau:

"Grande diversidade da fauna e da flora com a existência de várias florestas húmidas onde se destacam sobretudo as essências raras e únicas, tais como: copaifera, salicaunda, 'pau' miseria, mampataz, 'pau' de veludo, tagarra, faroba de 'lala' e outras. Ainda alberga diferentes espécies de fauna (elefante, búfalo, baca branco, sim-sim, chimpanzé, macaco fidalgo, porco de mato), entre outros: é reconhecido por WCMC como um dos 9 sitios importantes do ponto do vista da bioiversidade. Cantanhez é igualmente uma das 200 eco-regiões mais importantes do mundo identificadas pela WWF."

Fotos (e legendas): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Península de Cubucaré / Cantanhez > Carta de Cacine (1960) (Escala 1/50 mil)  > Durante 6 anos, de 1966 a finais de 1972, o Cantanhez foi um "santuário" do PAIGC. O único destacamento das NT era Cabedu (parte do setor S3, Catió) (e Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine). Depois da Op Grande Empresa (dez 72 / jun 73), vão ser instalados aquartelamentos das NT em Jemberém, Cafine, Cafal, Cadique, e outros (que este excerto do mapa não mostra, como Caboxanque, Chugué e Combumba)  (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Antes da Op Grande Empresa (*), houve outras operações de envergadura, com tropas terrestres, marinha e força aérea... Mas a verdade é que o PAIGC encontrou na península de Cubucaré condições ideais para construir um dos seus santuários, no interior da Guiné... 

Sabemos que a reivindiação de 2/3 de áreas libertadas foi sempre "show-off" do Amílcar Cabral para impressionar os seus financiadores externos e fornecedores de armas, bem como reforçar a "moral" da sua tropa, militantes e simpatizantes... Nunca correspondeu à verdade... Não havia recanto da Guiné onde a tropa portuguesa não pudesse chegar, com maior ou menor dificuldade... 

Isso não nos impede de reconhecer, também por mor da verdade, que  o Cantanhez , o Oio e o Boé foram três santuários do PAIGC: o primeiro , de 1966 a 1972, o segundo, durante toda a guerra, o terceiro. depois do abandono de Béli,  Madina do Boé e Cheche, em 6 de fevereiro de 1969... 

Mas a população que lá podia viver no Cantanhez era, afinal,relativamente  escassa: no final da Op Grande Empresa, as NT  conseguiram recuperar não mais do que 3,5 mil habitantes, sobretudo  mulheres, velhos e crianças, que foram "reordenadas"...

No ReI Ac Psic n° 4/72 (citado, pela CECA, 2015, pág. 186), e no que diz respeioto à "População", escreve-se:

(...) "O aspeto mais significativo no período foi a recuperação de cerca de 3.500 elementos da população balanta em Caboxanque e Cadique que após a implantação das NT naqueles locais, franca e abertamente, se acolheram à nossa proteção, colaborando na construção dos aldeamentos locais imediatamente iniciados.

"Esta atitude, manifestada por uma população há anos sob controlo IN, para além de revelar um fraco índice de contaminação subversiva, confirma o quadro de desequilíbrio psicológico a nosso favor vindo há muito manifestar-se pela generalidade da população controlada pelo inimigo em consequência dum cansaço de guerra, pesadas exigências do Partido e precárias condições da vida no 'mato'. " (...)

Onde estavam, afinal,  os  trezentos e tal mil habitantes  da Guiné, que o PAIGC controlaria nos tais 2/3 do "território libertado" ? 

Na altura,em 1970,  a Guiné tinha c. de 595 mil   habitantes; na melhor das hipóteses, o PAIGC controlava, direta ou indiretamente,  dentro e fora do território, 15% a 20% da população, incluindo a população refugiada dos dois países vizinhos, o Senegal e a Guiné-Conacri.

Recorde-se aqui os números apurados pelo jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues,  em meados de 1972, aquando da sua visita à Guiné em missão de reportagem, a convite pessoal de Spinola:

(i) "Bissau afirma controlar 487 448 habitantes (foram os que se deixaram recensear em 1970)",

(ii)  "mantendo-se outros 27 174 em 'zonas de duplo controle' ".

(iii) "no Senegal vivem 60 000 refugiados, e na Guiné (Conacri) 20 000, segundo informa o Comando-Chefe, apoiando-se em  dados da Comissão de Refugiados da ONU";

(iv) "a ser assim, 89,5 por cento dos guinéus viveriam no interior do TO (teatro de operações) e 82 por cento do total estariam sob controle português."

(v) "numa população que em 1970 era de 594 622 habitantes";

(vi) "os dois mil combatentes que (...) actuam dentro das fronteiras, manobram a partir das 'zonas sob duplo controle' (...), situadas ao longo do corredor florestal e particularmente nas proximidades de Bissorã / Mansabá / Canjambari, confluência do Geba/Corubal, e sobretudo na zona ao sul do rio Buba, à volta de Catió".

(vii) "outra zona 'quente' situa-se perto do Cacheu, junto ao rio do mesmo nome, alastrando pelas florestas ao norte do Bachile e do Pelundo";

(viii) "calculam-.se em 7 000 os combatentes do PAIGC atuando a partir de 25 bases da fronteira senegalesa e de 8 da República da Guiné, incluindo aqueles que se encontram dentro do TO" (**)


2.Reveja-se, aqui, em síntese, o que foi, no sector Sul 3 (S3), a Op Safari, em 3 e 4 de janeiro de 1966:
 
(...) "Teve como finalidade, aniquilar e destruir os grupos inimigos e as suas instalações localizadas nas regiões do Cantanhez, entre os rios Ualche e Macobum, particularmente as de Calaque, Cafine e Cafal. 

"Executaram a operação forças da CCaç 728, 763(-), 1423, 1424 e 1427(-), CPara, 4 DFE, 5° e 6° Pel / BAC (4 obuses), com apoio aéreo e apoio naval.

"As NT atacaram a 'Base Central', a sul do cruzamento de Cafal, tendo-a destruído.

Em Missida Jauiá foi assaltado um acampamento; o lN sofreu 1 morto e 1 prisioneiro, tendo-lhe sido apreendidas I metralhadora pesada e outra ligeira, 1 espingarda, 1 carabina e 1 pistola metralhadora, além de outras baixas não confirmadas. Foi apreendida documentação diversa. Foram destruídas grandes quantidades de arroz e de gado.

"As NT sofreram 4 mortos e 14 feridos."

 Comentário à Op Safira (Fonte: Relatório de Comando do CTIG n'º 1/66, pp. 109-110):.

(...) "Ressalta no período, pela sua importância, quanto a efetivos empenhados, meios de apoio de fogos, apoio aéreo e naval, pela duração e pelo prazo e, especialmente, pelo valor atribuído ao lN na zona de ação escolhida, a operação 'Safari'.

O Cantanhez é uma área de densa arborização e difícil acesso às NT, onde o lN mantém uma liberdade de ação quase absoluta, sofrendo apenas esporádicas ações de flagelações da FA, Artilharia e de curtas incursões por elementos combatentes.

"A Op Safari teve o condão de levar a essa área importantes efectivos das NT, que percorreram distâncias apreciáveis, causando ao lN baixas e danos materiais que não estão, ainda hoje, avaliados. As NT permaneceram na zona de ação durante a noite de 4/5 de janeiro, período que era considerado crítico, sem que o lN tivesse comprometido a sua segurança. 

"Desta operação colheram-se bons ensinamentos para futuras ações na mesma área e verificou-se a viabilidade de ali se levarem a efeito ações de desgaste do lN. "(...)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014), pp.  387/388 (Negritos nossos) (Com a devida vénia...).


3. Da leitura do livro da CECA,  6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa, 2015), abrangendo o período de 1967 a 1970, vai-se percebendo que para o então Com-Chefe, gen Schulz, o Cantanhez é um osso duro de roer e não há condições para uma grande contra-ofensiva das NT... Vem o Spínola, em meados de 1968, e só quatro anos e meio depois (!), é que é possível planear e executar a Op Grande Empresa.

Temos de recuar no tempo, ao princípio da luta armada  (ou início da subversão, como diziam as autoridades portuguesas) para perceber por que razão só muito tardiamente as NT conseguiram pôr algumas bandeirinhas no mapa do Cantanhez: Jemberém, Cafine,Cafal,Cadique, Caboxanque, Chugué e Cobumba...


Vídeo nº 1  (4' 52 ''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. 

Alojado em: You Tube >Nhabijoes



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (*) > 


Neste vídeo (nº 1), um dos homens grandes da região conta como foram "os primórdios da luta"...  Era de etnia nalu, a  "dona  do chão". Chamava-se 
Mussá Camará  (e irá morrer uns meses mais tarde).

Entrou no mato, como ele diz, logo em 1962. Ou seja: passou à clandestinidade, depois de aderir ao PAIGC. 

Estava convencido que a designação deste acampamento ("Osvaldo Vieira") não tinha nada a ver com a verdade fática, histórica, que seria apenas uma homenagem, póstuma, a um dos heróis (não de todo consensual...) do PAIGC, cujos restos mortais repousam na Amura, a antiga fortaleza colonial de Bissau transformada em panteão nacional.. Mas não, o  Osvaldo Vieira atuou no Oio (Frente norte), mas também ao que parece no Cantanhez (Frente sul). 

Abramos aqui um parênteses, para dizer que já em 2008 eu tinha dúvidas (eu e outros participantes portugueses no Simpósio) sobre o seu papel no complô contra Amílcar Cabral de que resultara o seu miserável assassinato em 20 de janeiro de 1973.  Osvaldo Vieira e o executante do crime, o Inocência Cani,  eram próximos e críticos do líder histórico e da tese da unidade Guiné-Cabo Verde. Mesmo assim foi dado o seu nome ao Aeroporto Internacional de Bissau. Também tinha relações de parentesco com 'Nino' Vieira. De qualquer modo, repousam lado a lado no panteão nacional, ele e o Cabral, o " pai da Pátria".

Mas voltando ao vídeo (nº 1): o antigo guerrilheiro  fala num crioulo difícil. O Pepito vai traduzindo. Vê-se que nem sempre percebe o antigo guerrilheiro...

"Éramos só sete nessa altura. O comandante do grupo era o José Condição. Ficámos no mato de Caboxanque, aqui perto. Numa barraca, parecida com esta"... 

E a narrativa continua: Até que chegou à região de Tombali o Capitão Curto.  Esse Cap Curto ficou com a fama de mandar cortar cabeças. .. No filme-documentário "As Duas Faces da Guerra", de Flora Gomes e Diana Andringa, um dos entrevistados, antigo combatente do PAIGC, também evoca esse  Cap Curto... A crer no depoimento do antigo guerrilheiro, o Cap Curto cortava as cabeça dos seus prisioneiros e, depois ia apresentá-las às mães das vítimas, nas suas tabancas... (o que nos parece macabro e fantasioso demais).

Enfim, não tive, no Cantanhez, oportunidade de confirmar esta história nem saber mais pormenores sobre eventuais métodos de trabalho sujo, resultantes da colaboração entre Exército, PIDE, polícia administrativa, etc., nos "anos de chumbo" que antecederam a guerra... 

Também não achei apropriado o momento, que era de festa e de reconciliação, para falar deste e de doutros homens que, a ser verdade o que deles se contava,  não podem ser tomados como representativos do exército português, e muito menos dos militares portugueses que fizeram a guerra, entre 1963 e 1974... Mas é importante ouvir as diferentes narrativas da guerra, que ajudam a compor o "puzzle" das histórias de um lado e do outro...

Na mesma altura apareceu o 'Nino' Vieira. O tal Cap Curto cercou Darsalame, entrou aos tiros na tabanca, mandou toda a gente pôr as mãos na cabeça… (Esta história já parece bater certo com outras que temos ouvido da atução do cap José Curto, cmdt da  CCAÇ 153, e carrasco do comandante do PAIGC, Vitorino Costa, formada na academia chinesa de Nanquim.) 

Das cinco da tarde às cinco da manhã, a aldeia esteve cercada e as pessoas foram interrogadas… O 'Nino' ficou muito preocupado e quis saber o que se passava. Reuniu os camaradas, entre eles o "Mão de Ferro", com a missão de ir a Darsalame saber o que se estava a passar e tentar ajudar o povo. Não deixou ir o José Condição. Foi também nessa altura que o grupo, que tinha aumentado, já não cabia em Caboxanque. 

“Este mato é pequeno. Não vamos ficar aqui, disse eu… E foi então que fomos para o mato de Cantomboi” (um dos catorze atuais matos do Canhanez)…


 

Vídeo nº 2 (0' 55''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijões


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (*) 


"Cabral fala sábi"...A memória de Cabral (que, dizem, conheceu bem a região de Tombali, como engenheiro agrónomo, antes de se ter tornado o fundador e o líder histórico do PAIGC) bem como as marcas da luta de guerrilha estão ainda bem vivas entre as mulheres e os homens do Cantanhez... Uma das mulheres, presentes nesta visita, canta uma das canções revolucionárias da época, dando vivas à Guiné e ao... Partido (vídeo nº 2).

 Mas será que alguma vez  elas o viram ao vivo  a a cores por estas paragens  durante a "guerra de libertação" ?  Duvido.  

Contrariamente ao ' Nino', o Cabral nunca foi um comandante no terreno, não era um "cabra-matcho"  como os guineenses gostavam. Era um bom teórico, estratega, político, diplomata ( e poderia ter sido um grande estadista, ou não ?)... Mas nunca foi um com-chefe, um general,  como o Spinola,  próximo dos seus homens no mato, na guerra.  


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guileje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (***) 

"A unidade foi a melhor arma nos momentos difíceis dos camaradas" - pode ler-se num pequeno monumento, tosco, de cimento, encimado pela estrela negra, erguido na antiga barraca da guerrilha, o acampamento "Osvaldo Vieira" (agora reconstituído)... 

Testemunho do passado, recado para o presente, pensa a Alice que, como muitos portugueses e portuguesas, não fazia a mínima ideia das reais condições do terreno (e do clima) onde se operava a guerrilha e a contra-guerrilha na Guiné.... São florestas-galeria onde mal entra o sol...

Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O que pensarão estes miúdos ? Quais são os seus sonhos ? Para onde estão a olhar ? O que serão daqui a 15/20 anos ? O que sabem da luta pela independência, levada a cabo pelos seus avós ? Quem serão hoje os seus ídolos, os seus heróis ? E estas mulheres grandes ? Que recordações têm da luta armada ? E da dor, do sofrimento e da tragédia que foi toda aquela guerra estúpida e inútil ? Qual é a sua situação hoje, do ponto de vista social, económico e sanitário ? O que poderão ainda esperar do futuro ?

Foto nº 3 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje> Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Sabotagem ? Provocação ?... Não, é apenas uma camisola do craque do Manchester United e da Selecção Nacional de Futebol de Portugal, Cristiano Ronaldo, um "herói' do mundo global e mediatizado de hoje... 


Foto nº 4 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

À esquerda, o prof  Luís Moita  (1939-2023) e o Paulo Santiago seguem com atenção, desvelo e carinho, o inédito espectáculo de representação teatral que nos ofereceram, a todos, os antigos guerrilheiros e a população local do Cantanhez...

Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)


Um dos antigos "combatentes da liberdade da pátria", um antigo comandante,  explica, em crioulo (com tradução para português, feita pelo Pepito) como é que os guerrilheiros do PAIGC se apoiavam em (e articulavam com) a população local...

Com um brilhozinho nos olhos, fala das 3 fases da organização político-militar do PAIGG...  (Á esquerda, sentados, e de máquina fotográfica em punho, o Paulo Santiago e o Silvério Lobo.)


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

... Tem um papel, sabe ler...  Insiste em afirmar, perante os convidados estrangeiros, que aqui nunca se lutou com o povo português, mas sim contra o colonialismo de Salazar e de Caetano de acordo com a retórica do Partido.

Fotos nº 7 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um verdadeira lição, ao vivo, de história, de antropologia, de ciência política, de arte da guerra, de gestão, de humor, de humanidade, de sobrevivência, de dignidade, de amizade, de esperança no futuro... 

Fotos nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Osvaldo Vieira, de origem cabo-verdiana,  foi dos que morreu justamente na reta final, a um mês do fim das hostilidades...   Os antigos guerrilheiros do Cantanhez também quiseram dar a esta 'barraca'  (acampamento temporário) o seu nome... 

Segundo me dirá o Manecas Santos outro lendário combatente do PAIGC, o homem dos Strela,  o Osvaldo nunca terá andado muito pelo sul... Fico na dúvida se o nosso homem esteve realmente aqui, neste sítio... Mas, para o caso, também não interessa. Os seus antigos camaradas tentaram, de maneira didática, simples, autêntica, reconstruir as condições em que se vivia e lutava durante os difíceis tempos da luta de libertação... (E tiveram que limpar aquele mato!)

Não sei se alguma vez foi identificado, atacado e destruído pelas NT este acampamento... Sabe-se que, desde 1966 até finais de 1972  as NT não ousaram penetrar, a pé, no coração do Cantanhez, com o claro objetivo da sua reocupação. No final do consulado de Spínola, aí sim, vai haver uma grande contra-ofensiva contra este santuário do PAIGC, a Op Grande Empresa.

O Pepito garantiu-me,  uns meses mais tarde, desfazendo as minhas dúvidas,, que  "o Osvaldo foi um combatente que viveu naquela 'barraca' (acampamento) e fez dela ponto de partida para numerosas acções de guerrilha".

Além disso, "as estórias dele naquele local são mais do que muitas, algumas até divertidas: quando lhe dava a sede, mandava um dos seus guerrilheiros comprar vinho no Quartel de Cacine. Uma vez o mesmo saboreado e estalada a língua de satisfação, recostava-se e dizia: ' 
Um dia ainda vamos chorar a partida dos portugueses, nunca mais beberemos bom vinho'  "… (Se calhar dizia "água de Lisboa", como os meus soldados, que não bebiam...)

Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de antigos guerrilheiros encenaram a sua atuação no tempo da guerra... Ei-los aqui vestidos de caqui e gorro, e empenhando imitações de madeira da famigerada Kalashnikov... Pertenciam ao Exército, já na 3ª fase da luta...

Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Nalguns casos recorreu-se mesmo a restos de armas que ficaram por ali, como por exemplo o cano do temível LGFog RGP-7....


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O grande terror dos guerrilheiros e da população do Cantanhez não eram os paraquedistas, ou o helicanhão, mas sim os Fiat, os aviões a jacto da Força Aérea Portuguesa... O aparecimento dos mísseis terra-ar Strela vieram dar outra confiança e ânimo aos homens do PAIGC...

Foto nº  12 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

 O papel das mulheres na guerrilha foi aqui ilustrado, exemplificado, exaltado...

Foto nº  13 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

As mulheres do Cantanhez exemplificaram como cozinhavam no mato, sem fazer fumo, iludindo a observação aérea das NT... Os combatentes tinham apenas direito a uma refeição por dia... Ainda hoje será difícil comparar a sua à nossa fome... Nas unidades de quadrícula ou nas operações no mato, o tuga sonhava com comida e sobretudo com bebida... Muita, fresca.

Foto nº  14 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de mulheres, camufladas com folhas de arbustos, mostrando como se deviam agachar e esconder quando no céu se ouvia o baralho de aeronaves...

Foto nº 15 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Atores, figurantes, assistência... Nos bastidores ou no palco.... As mulheres são parte fundamental da luta do povo da Guiné, ontem como hoje: pela paz, pela liberdade, pela democracia, pelo desenvolvimento, pelo direito à história....

Os tempos hoje são outros... As populações do Cantanhez, e nomeadamente as que apoiaram abertamente a luta de libertação (os nalus e os balantas), parecem assumir o seu passado, com orgulho, com dignidade, sem arrogância, sem ódio....

Claro que a narrativa é heróica... Em dia de festa, e para mais à frente de estrangeiros (e alguns antigos inimigos) não houve ocasião para se lembrar a violência que também se abateu do lado dos " libertadores", sobre a população mais vulneráveis, as crianças, as bajudas, os adolescentes, as mulheres, os idosos...que tinham de alimentar a guerrilha, garantir grande parte da logística, cultivar as bolanhas, sofrer as prepotências dos comandantes e comissários políticos, etc. 

Foto nº 16 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Uma guerra de libertação (ou subversiva, como diziam as nossas chefias militares...) não se faz sem as mulheres, como a antiga enfermeira do PAIGC, Francisca Quessangue, que participou na batalha de Guileje....

Francisca, uma mulher doce e tranquila... E no entanto  tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. 

O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabilidades políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de retaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. 

Foi uma das oradoras do Simpósio. Fez uma comunicação sobre os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guileje, no dia 6 de março. (...)

Foto nº 17 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um antigo comandante da guerrilha conduziu-nos, a mim, ao cor art ref Nuno Rubim, o "capitão-fula",  e a esposa, ao longo de uma das linhas de fuga que partiam do centro do acampamento, em plena floresta do Cantanhez, até ao tarrafo... Fortemente apoiados pelos nalus e pelos balantas, o PAIGC movia-se como peixe dentro de água nesta floresta-galeria, um emaralhado de lianas e vegetação perene, com árvores de alto porte, centenárias, uma amostra ainda riquíssima do que resta das florestas primárias do planeta...

Foto nº 18 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Paisagem de tarrafo...na maré vazia.


Foto nº 19 > 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

De acordo com as coordenadas do GPS do N  caor art ref Nuno Rubim (1938-2023), tiradas no centro da clareira onde decorreu a cerimónia, este sítio fica a 11º 12' 46" N - 15º 03' 10" W, ou seja, à esquerda da picada que vai de Iemberém (antiga Jemberém) para Cadique (a oeste) e Cabedu (a sudoeste), nas proximidades de Madina do Cantanhez, entre Iemberém e Cachamba Sosso (vd. infografia, ao alto do poste)... 

Uma das linhas de fuga do acampamento, que ficava numa pequena elevação, ia dar diretamente ao Rio Bomane, afluente do Rio Chaquebante, este por sua vez afluente do Rio Cacine, desaguando justamente frente a Cacine, perto de Cananime (onde iríamos almoçar nesse domingo).

Foto nº 20 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...) 

À entrada para o acampamento Osvaldo Vieira, junto a poucos quilómetros de Imberém, a sul... Na foto, a Alice Carneiro com o antigo guerrilheiro Dauda Cassamá, sob o olhar do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...


Foto nº 21 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de jovens, rapazes e raparigas, que cantaram o Hino da Guiné-Bissau no início da cerimónia ... O que será feito deles, hoje (2024) ?

Foto nº 22 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O Pepito, nosso anfitrião (infelizmente iria desaparecer 4 anos depois, deixando órfão a sua ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e fazendo falta a este povo e que ele tanto adorava) ,  aqui servindo de tradutor (do crioulo para o português)... Foi o génio organizativo e a alma deste Simpósio Internacional, que juntou os "inimigos de ontem" (faltaram apenas os cabo-verdianos, que ainda tinham um ódio de estimação ao 'Nino' Vieira e vice-versa)...

Concentraram-se, neste antigo acampamento do exército do PAIGC, naquela manhã de domingo, dia 2 de março, algumas centenas de pessoas, entre comitiva (participantes do Simpósio Internacional de Guileje, nacionais e estrangeiros) e população local...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > d7 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74), 14 de março de 2024

(**) Vd. poste de 3 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG
 
(***) Vd. postes de: