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Nota do editor
Último post da série de 29 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25991: Parabéns a você (2316): António Bastos, ex-1.º Cabo At Inf do Pel Caç Ind 953 (Cacheu, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 3 de outubro de 2024
quinta-feira, 11 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25734: In Memoriam (506): Armando Carvalhêda (1950-2024), "um senhor da Rádio", que passou pelo Programa das Forças Armadas da Guiné, o "PIFAS", entre Abril de 1972 e Setembro de 1973, morre aos 73 anos (Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS - TSF)
IN MEMORIAM
ARMANDO CARVALHÊDA (1950-2024)
1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF (Piche e Bissau, 1970/72), com data de 10 de Julho de 2024:
Caros amigos,
Fiquei surpreendido pela notícia do falecimento deste nosso "camarada da Guiné" que esteve em Gadamael e depois no PIFAS.
Como radialista foi um grande divulgador da música portuguesa.
Não pertenceu ao nosso Blogue por incompatibilidades com outra pessoa.
Se acharem que é pertinente, podem usar, no todo ou nas partes que melhor considerem.
Se acharem que não tem cabimento ou tem pouco, pois então arquivem...
Abraços
Héder Sousa
SOBRE O ARMANDO CARVALHÊDA
Como já se devem ter apercebido, faleceu o Armando Carvalhêda1, nosso camarada da Guiné, que teve alguma notoriedade no PIFAS.
Natural de Almada, passou a infância e juventude em Setúbal. Teve a sua primeira experiência radiofónica na primeira rádio-pirata nacional, o Rádio Clube de Alcácer do Sal, onde esteve em 1967.
Foi mobilizado para a Guiné, colocado em Gadamael mas depois foi cooptado para O PIFAS.
Quando voltou acabou por integrar a Emissora Nacional e já mais recentemente dava corpo a um notável programa de defesa e divulgação da música portuguesa, designado por “Vivá Música”.
Amigos comuns aqui de Setúbal, que com ele partilharam aulas no então Liceu de Setúbal, recordaram-me que, para além de excelente amigo era um brincalhão compulsivo.
Entre várias peripécias, mais ou menos divertidas, contaram-me uma que se passou na época de Carnaval, em que o bom do Armando resolveu colocar várias “bombinhas de carnaval” numa sanita da Escola e, claro está, o excesso fez rebentar aquilo. Contactado o pai (naqueles tempos havia essa noção de responsabilidade…) para que a situação fosse reposta, o Armando foi “aconselhado” pelo pai a transportar a nova sanita às costas desde o local da compra até ao Liceu (cerca de 400 metros), o que ele fez perante o divertimento do pessoal discente, principalmente o feminino.
O Armando era também conhecido do “nosso outro Armando”, o Pires.
Tentei que entrasse ou colaborasse com o nosso Blogue, conforme podem apreciar na troca de mails que tivemos, mas o seu (dele) desentendimento com um outro elemento do PIFAS não lhe permitiu.
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2. Mail que enviei a 06/03/2012
Boa noite!
Peço desculpa duma intromissão deste tipo mas estou como uma curiosidade que não consegui conter.
E curiosidade sobre quê? Bem, sempre que me desloco de carro e como tenho quase sempre sintonizada a "Antena 1", ouço muitas vezes programas do "Armando Carvalhêda" e dou por mim a pensar: "será que eu o conheço?"...
É que tenho ideia de haver um "Armando Carvalhêda" que trabalhou na "Rádio Azul", em Setúbal e também em outros locais aqui à volta de Setúbal, onde vivo, e com o qual já tive contactos. E acresce ainda que esse mesmo "Armando" foi meu contemporâneo na Guiné, em Bissau, e era conhecido dum camarada meu aqui de Setúbal, chamado Nelson Batalha.
Acontece ainda que estou 'associado' a um blogue de pessoas que estiveram na Guiné, a que chamamos "Tabanca Grande", promovido por um tal Luís Graça, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, podendo também ser encontrado por "Luís Graça e Camaradas da Guiné" e acontece ainda também que, por estes dias, nesse blogue têm passado muitas recordações sobre um programa que por lá havia, o PFA (programa das Forças Armadas), mais conhecido na gíria por PIFAS.
Recordação atrás de recordação, veio inevitavelmente à baila o nome do João Paulo Diniz e também apareceu citado o "Armando".
Acresce que o JPDiniz, alertado pelo Joaquim Furtado sobre a existência do Blogue, foi lá espreitar e já entrou em contacto connosco propondo-se até para participar no nosso Encontro, o VII, que terá lugar em Monte Real em 21 de Abril.
Por isso, meu amigo, se for o "Armando " errado, peço desculpa pela intromissão e pelo atrevimento.
Se for o "Armando" certo, fico muito satisfeito e mais ficarei se houver 'volta do correio'.
Com consideração
Hélder Sousa
3. Mail recebido a 07/03/2012
Olá Hélder,
De facto sou eu mesmo esse tal Armando Carvalhêda. O que esteve no PFA na Guiné; o que passou em dois momentos diferentes pela Rádio Azul; e, ainda antes de tudo isto, o que estudou no Liceu de Setúbal e no Externato Frei Agostinho da Cruz; o que, enquanto estudante, ajudou a fazer (e a desfazer…) em 66/67, o Rádio Clube de Alcácer do Sal – RCAS.Emissor 225.
Pronto, 'foste descoberto', como dizes. Bem que tinha 'quase' a certeza que eras tu mas como já passou tanto tempo podia ser mais a vontade que fosses e não estava a querer 'dar barraca'.
De facto essa tua frequência do Liceu de Setúbal é que te deve ter dado o conhecimento do Nelson Batalha ("o Nelsinho de olho azul, o menino-bonito do Bairro da Conceição", como ele costumava dizer, e que casou com a namorada de sempre, a Zezinha, filha do Chico Primo, grande jogador do Vitória).
Na época eu não tinha relação com Setúbal, vivia em Vila Franca de Xira, só vim para cá 2 meses antes de 25 de Abril de 74 e foi portanto com o Nelson e através dele que eu estive contigo em Bissau algumas vezes. Nós pertencíamos às Transmissões, fizemos o curso do STM juntos, ele foi para Catió onde foi ferido e eu fui para Piche. Depois regressámos a Bissau e fomos integrar e desenvolver a "Escuta" donde enviávamos trabalhos para a ACAP, entre outras coisas.
Entretanto tenho também a ideia, como já disse, de ter estado posteriormente contigo na "Rádio Azul" e não sei ao certo mas talvez também na "Rádio Pal" ou qualquer coisa assim, nuns programas de divulgação de empresas de região, mas posso estar a fazer confusão.
Como te disse antes, o João Paulo Diniz, informado pelo Joaquim Furtado, consultou o tal Blogue de que te falei, quando na semana passada se fizeram vários 'post' e comentários sobre o PFA ou "PIFAS" como a malta mais genericamente se referia ao programa, e entrou em contacto através dos endereços que lá estão sendo que já se inscreveu para participar no nosso VII Encontro a ocorrer em Monte Real no sábado 21 do próximo mês de Abril. Muito sinceramente gostava de te ver por lá e acho até que seria muito engraçado e curioso essa 'reedição' do JP Diniz e Armando Carvalhêda. Tenho a certeza que muitas lágrimas furtivas haveriam de afluir a muitos olhos...
Entretanto, para não te maçar com estes revivalismos, fico por aqui.
Quando quiseres e tiveres paciência responde e diz qualquer coisa.
Um forte abraço
Hélder Sousa
Olá Hélder,
Pois é… como se vê, cada vez menos, é impossível viver isolado e passar despercebido. Neste caso, é saudável e permite retomar memórias que habitam as zonas mais “adormecidas” do nosso cérebro.
Não sei o que é feito do Nelson, meu companheiro do Liceu e do Colégio, mas também meu vizinho – visto eu ter morado perto de sua casa no Bairro da Conceição – e ainda companheiro de músicas. Ele tocava teclados e eu tinha a mania, entre outras, que tocava bateria. Depois dessa vivência conjunta em Setúbal, reencontrámo-nos em Bissau.
Andava eu a dizer mal da minha vida, após ter desembarcado e sido “abandonado”, aguardando colocação – viria a sair-me em sorte a “bela estância turística” de Gadamael –, encontrei o Nelson que me proporcionou um luxo verdadeiramente principesco: um duche numa vivenda que ele tinha alugado com outros companheiros de Transmissões, ali para os lados do QG.
O que um e-mail pode espoletar…
Já agora, fui de facto contemporâneo do J. Paulo Diniz no PFA mas, ao contrário das boas recordações que o Nelson me suscita, em relação a ele nada de bom retenho. São, enfim, histórias antigas, e algumas até dolorosas, já com quatro décadas de “pó” acumulado nas prateleiras da memória.
Um abraço grande do
Armando Carvalhêda
Olá, Armando!
Retomemos então as nossas informações e memórias.
Começo por te agradecer o que escreveste, que me avivou ainda mais a memória e, sem nostalgias, ajuda a recarregar baterias.
Falo agora do Nelson.Pois o nosso amigo Nelson, mercê da nossa vivência, amizade e companheirismo, acabou por ter bastante influência no facto de eu ter vindo trabalhar para a Sapec e viver em Setúbal. Eu sou 'produto' da margem norte do Tejo. Nascido numa aldeia perto do Cartaxo, Vale da Pinta mais exatamente, mas logo com 3 meses a seguir para Vila Franca de Xira onde bebi toda a formação que aquela boa terra me foi capaz de possibilitar e eu de absorver.
O Nelson e a mulher, a namorada de sempre, a 'Zezinha' filha do Xico Primo, acabaram por ser os meus padrinhos de casamento, melhor dizendo, da cerimónia religiosa ocorrida em 1998, já que o casamento civil ocorreu em 1972 quando ainda estava na Guiné.~
Referiste o 'banhinho' que te proporcionaram lá numa vivenda.... tudo certo, apenas que não era uma vivenda alugada pelo Nelson e amigos mas sim alojamentos proporcionados pelo Agrupamento de Transmissões a sargentos e furriéis. Se te conseguires lembrar e visionar era um conjunto de três edifícios separados, cada qual com três fogos. O fogo do meio, do edifício do meio, era onde funcionava a "Escuta", onde na ocasião o Nelson, eu e mais uns quantos desempenhávamos funções. Olhando da estrada de acesso ao conjunto para a frente desses edifícios, o fogo à direita da "Escuta" era onde, num dos três quartos que cada fogo possuía, eu e o Nelson tínhamos o nosso poiso. Portanto, na época, o quarto tinha dois ocupantes, eu e ele (e umas osgas, e baratas e mosquitos, e...).
Dos conhecidos do Nelson, aqui de Setúbal, para além é claro, também estive lá com um tal João, sobrinho do 'Isidro dos frangos' mas lembro-me de pouco. Ele também me falou de um tal Pedro 'qualquer coisa', também morador no Bairro da Conceição, salvo erro na Av. Jaime Cortesão, que vai dar lá abaixo ao Quebedo e que o pai dele era (ou foi depois) diretor da Alfândega. Para não falar do Vítor Raposeiro, que ele chamava de Vítor 'Caniços' e que era guitarrista num dos conjuntos que havia na época e que foram aos 'concursos yé-yé'. Sei que também foste colega do António Justo Tomaz, que também esteve na Guiné e que foi requisitado para a Câmara de Bissau e mais tarde Presidente do Vitória.
Do Nelson posso falar-te de mais coisas com amizade, respeito, consideração, pois tenho muitas histórias dele e/ou passadas com ele.
O problema é o Nelson atual e foi por isso que demorei mais tempo a responder. Vacilei em dar-te as notícias mas agora acho que as coisas são como são e há que falar francamente. O nosso amigo Nelson está com um problema de 'alzeimer', que se tem vindo a agravar progressivamente e agora está muito complicado. Quando falamos com ele, às vezes lembra-se, outras não, e o tipo de linguagem é quase só 'pois, pois, pois', 'o dinheiro, pois, pois, o dinheiro' (está a chamar dinheiro a tudo por lhe faltar o vocabulário).
Enfim, amigo, uma nota triste, mas achei preferível dar-te conhecimento.
Agora, um outro assunto. Com que então Gadamael... não podias ter tido melhor sorte... local arborizado, perto dum rio, com muito fogo de artifício, nada de monotonias.... quando hoje se conta um bocadinho dessas autênticas epopeias a malta nova não acredita e pensa que se está a exagerar. Enfim, espero que não tenham que passar por nada semelhante.
Relativamente ao resto.... pois, sendo uma coisa que não te é agradável, não falo disso. Apenas gostava que desses então uma olhadela no tal Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné" (ou então procura por "Tabanca Grande") e diz-me qualquer coisa. O meu interesse é que gostava de ter alguma intervenção tua em termos de recordação da tua participação na Guiné (em geral, ou no PIFAS em particular, se possível). Isso pode ser entrando diretamente em comunicação para o Editor de acordo com os endereços lá disponibilizados ou então para mim que posso veicular, já que sou um "colaborador permanente".
Já agora, que estou numa de escrever... talvez pudesse ser para ti uma proposta de trabalho ires repescar o que fazem (individualmente ou ainda como grupo) as várias 'bandas' ou conjuntos desses tempos dos concursos no Monumental...
Um forte abraço.
Hélder Sousa
Meu amigo Armando
Aqui te envio um texto (um 'post') saído na passado sábado no Blogue de que te já falei, "Luís Graça e Camaradas da Guiné". (trata-se do “post” 15449).
É a propósito da tua intervenção no programa das músicas do tempo da guerra, do Marinho.
Vê se gostas.
Acho que está bem...
Abraço
Hélder Sousa
Olá Hélder,
É sempre bom recordar momentos marcantes da nossa vida. E como a Guiné nos marcou a todos…
Obrigado pelo que escreveste sobre o que tem sido o meu percurso profissional.
Um abraço forte do
Armando Carvalhêda
Antena 1
Depois disto não houve mais troca de mails.
É que tenho ideia de haver um "Armando Carvalhêda" que trabalhou na "Rádio Azul", em Setúbal e também em outros locais aqui à volta de Setúbal, onde vivo, e com o qual já tive contactos. E acresce ainda que esse mesmo "Armando" foi meu contemporâneo na Guiné, em Bissau, e era conhecido dum camarada meu aqui de Setúbal, chamado Nelson Batalha.
Acontece ainda que estou 'associado' a um blogue de pessoas que estiveram na Guiné, a que chamamos "Tabanca Grande", promovido por um tal Luís Graça, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, podendo também ser encontrado por "Luís Graça e Camaradas da Guiné" e acontece ainda também que, por estes dias, nesse blogue têm passado muitas recordações sobre um programa que por lá havia, o PFA (programa das Forças Armadas), mais conhecido na gíria por PIFAS.
Recordação atrás de recordação, veio inevitavelmente à baila o nome do João Paulo Diniz e também apareceu citado o "Armando".
Acresce que o JPDiniz, alertado pelo Joaquim Furtado sobre a existência do Blogue, foi lá espreitar e já entrou em contacto connosco propondo-se até para participar no nosso Encontro, o VII, que terá lugar em Monte Real em 21 de Abril.
Por isso, meu amigo, se for o "Armando " errado, peço desculpa pela intromissão e pelo atrevimento.
Se for o "Armando" certo, fico muito satisfeito e mais ficarei se houver 'volta do correio'.
Com consideração
Hélder Sousa
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3. Mail recebido a 07/03/2012
Olá Hélder,
De facto sou eu mesmo esse tal Armando Carvalhêda. O que esteve no PFA na Guiné; o que passou em dois momentos diferentes pela Rádio Azul; e, ainda antes de tudo isto, o que estudou no Liceu de Setúbal e no Externato Frei Agostinho da Cruz; o que, enquanto estudante, ajudou a fazer (e a desfazer…) em 66/67, o Rádio Clube de Alcácer do Sal – RCAS.Emissor 225.
É assim: acabamos sempre “descobertos” e chamados a “prestar contas”…
Um abraço do
Armando Carvalhêda
Direção de Programas Rádio
armando.carvalheda@rtp.pt
Ora então, muito boa tarde, ou melhor, boa noite! e... "VIVÁ MÚSICA!"
Armando, foi com bastante emoção que vi e li a tua resposta ao meu mail 'exploratório'.
E antes de continuar quero-te pedir desculpa por não ter reagido logo de imediato, mas tive um problema com o carro e outras coisas e só agora estou então a dar seguimento.
Um abraço do
Armando Carvalhêda
Direção de Programas Rádio
armando.carvalheda@rtp.pt
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4. Mail enviado a 12/03/2012Ora então, muito boa tarde, ou melhor, boa noite! e... "VIVÁ MÚSICA!"
Armando, foi com bastante emoção que vi e li a tua resposta ao meu mail 'exploratório'.
E antes de continuar quero-te pedir desculpa por não ter reagido logo de imediato, mas tive um problema com o carro e outras coisas e só agora estou então a dar seguimento.
Pronto, 'foste descoberto', como dizes. Bem que tinha 'quase' a certeza que eras tu mas como já passou tanto tempo podia ser mais a vontade que fosses e não estava a querer 'dar barraca'.
De facto essa tua frequência do Liceu de Setúbal é que te deve ter dado o conhecimento do Nelson Batalha ("o Nelsinho de olho azul, o menino-bonito do Bairro da Conceição", como ele costumava dizer, e que casou com a namorada de sempre, a Zezinha, filha do Chico Primo, grande jogador do Vitória).
Na época eu não tinha relação com Setúbal, vivia em Vila Franca de Xira, só vim para cá 2 meses antes de 25 de Abril de 74 e foi portanto com o Nelson e através dele que eu estive contigo em Bissau algumas vezes. Nós pertencíamos às Transmissões, fizemos o curso do STM juntos, ele foi para Catió onde foi ferido e eu fui para Piche. Depois regressámos a Bissau e fomos integrar e desenvolver a "Escuta" donde enviávamos trabalhos para a ACAP, entre outras coisas.
Entretanto tenho também a ideia, como já disse, de ter estado posteriormente contigo na "Rádio Azul" e não sei ao certo mas talvez também na "Rádio Pal" ou qualquer coisa assim, nuns programas de divulgação de empresas de região, mas posso estar a fazer confusão.
Como te disse antes, o João Paulo Diniz, informado pelo Joaquim Furtado, consultou o tal Blogue de que te falei, quando na semana passada se fizeram vários 'post' e comentários sobre o PFA ou "PIFAS" como a malta mais genericamente se referia ao programa, e entrou em contacto através dos endereços que lá estão sendo que já se inscreveu para participar no nosso VII Encontro a ocorrer em Monte Real no sábado 21 do próximo mês de Abril. Muito sinceramente gostava de te ver por lá e acho até que seria muito engraçado e curioso essa 'reedição' do JP Diniz e Armando Carvalhêda. Tenho a certeza que muitas lágrimas furtivas haveriam de afluir a muitos olhos...
Entretanto, para não te maçar com estes revivalismos, fico por aqui.
Quando quiseres e tiveres paciência responde e diz qualquer coisa.
Um forte abraço
Hélder Sousa
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5. Mail recebido a 13/03/2012Olá Hélder,
Pois é… como se vê, cada vez menos, é impossível viver isolado e passar despercebido. Neste caso, é saudável e permite retomar memórias que habitam as zonas mais “adormecidas” do nosso cérebro.
Não sei o que é feito do Nelson, meu companheiro do Liceu e do Colégio, mas também meu vizinho – visto eu ter morado perto de sua casa no Bairro da Conceição – e ainda companheiro de músicas. Ele tocava teclados e eu tinha a mania, entre outras, que tocava bateria. Depois dessa vivência conjunta em Setúbal, reencontrámo-nos em Bissau.
Andava eu a dizer mal da minha vida, após ter desembarcado e sido “abandonado”, aguardando colocação – viria a sair-me em sorte a “bela estância turística” de Gadamael –, encontrei o Nelson que me proporcionou um luxo verdadeiramente principesco: um duche numa vivenda que ele tinha alugado com outros companheiros de Transmissões, ali para os lados do QG.
O que um e-mail pode espoletar…
Já agora, fui de facto contemporâneo do J. Paulo Diniz no PFA mas, ao contrário das boas recordações que o Nelson me suscita, em relação a ele nada de bom retenho. São, enfim, histórias antigas, e algumas até dolorosas, já com quatro décadas de “pó” acumulado nas prateleiras da memória.
Um abraço grande do
Armando Carvalhêda
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6. Mail enviado a 26/03/2012Olá, Armando!
Retomemos então as nossas informações e memórias.
Começo por te agradecer o que escreveste, que me avivou ainda mais a memória e, sem nostalgias, ajuda a recarregar baterias.
Falo agora do Nelson.Pois o nosso amigo Nelson, mercê da nossa vivência, amizade e companheirismo, acabou por ter bastante influência no facto de eu ter vindo trabalhar para a Sapec e viver em Setúbal. Eu sou 'produto' da margem norte do Tejo. Nascido numa aldeia perto do Cartaxo, Vale da Pinta mais exatamente, mas logo com 3 meses a seguir para Vila Franca de Xira onde bebi toda a formação que aquela boa terra me foi capaz de possibilitar e eu de absorver.
O Nelson e a mulher, a namorada de sempre, a 'Zezinha' filha do Xico Primo, acabaram por ser os meus padrinhos de casamento, melhor dizendo, da cerimónia religiosa ocorrida em 1998, já que o casamento civil ocorreu em 1972 quando ainda estava na Guiné.~
Referiste o 'banhinho' que te proporcionaram lá numa vivenda.... tudo certo, apenas que não era uma vivenda alugada pelo Nelson e amigos mas sim alojamentos proporcionados pelo Agrupamento de Transmissões a sargentos e furriéis. Se te conseguires lembrar e visionar era um conjunto de três edifícios separados, cada qual com três fogos. O fogo do meio, do edifício do meio, era onde funcionava a "Escuta", onde na ocasião o Nelson, eu e mais uns quantos desempenhávamos funções. Olhando da estrada de acesso ao conjunto para a frente desses edifícios, o fogo à direita da "Escuta" era onde, num dos três quartos que cada fogo possuía, eu e o Nelson tínhamos o nosso poiso. Portanto, na época, o quarto tinha dois ocupantes, eu e ele (e umas osgas, e baratas e mosquitos, e...).
Dos conhecidos do Nelson, aqui de Setúbal, para além é claro, também estive lá com um tal João, sobrinho do 'Isidro dos frangos' mas lembro-me de pouco. Ele também me falou de um tal Pedro 'qualquer coisa', também morador no Bairro da Conceição, salvo erro na Av. Jaime Cortesão, que vai dar lá abaixo ao Quebedo e que o pai dele era (ou foi depois) diretor da Alfândega. Para não falar do Vítor Raposeiro, que ele chamava de Vítor 'Caniços' e que era guitarrista num dos conjuntos que havia na época e que foram aos 'concursos yé-yé'. Sei que também foste colega do António Justo Tomaz, que também esteve na Guiné e que foi requisitado para a Câmara de Bissau e mais tarde Presidente do Vitória.
Do Nelson posso falar-te de mais coisas com amizade, respeito, consideração, pois tenho muitas histórias dele e/ou passadas com ele.
O problema é o Nelson atual e foi por isso que demorei mais tempo a responder. Vacilei em dar-te as notícias mas agora acho que as coisas são como são e há que falar francamente. O nosso amigo Nelson está com um problema de 'alzeimer', que se tem vindo a agravar progressivamente e agora está muito complicado. Quando falamos com ele, às vezes lembra-se, outras não, e o tipo de linguagem é quase só 'pois, pois, pois', 'o dinheiro, pois, pois, o dinheiro' (está a chamar dinheiro a tudo por lhe faltar o vocabulário).
Isto custa-me muito, a impotência de fazer qualquer coisa, está a rebentar com os nervos dos familiares, como calculas. Já não estou com ele há mais de um mês, embora telefone com regularidade a saber dele.
Enfim, amigo, uma nota triste, mas achei preferível dar-te conhecimento.
Agora, um outro assunto. Com que então Gadamael... não podias ter tido melhor sorte... local arborizado, perto dum rio, com muito fogo de artifício, nada de monotonias.... quando hoje se conta um bocadinho dessas autênticas epopeias a malta nova não acredita e pensa que se está a exagerar. Enfim, espero que não tenham que passar por nada semelhante.
Relativamente ao resto.... pois, sendo uma coisa que não te é agradável, não falo disso. Apenas gostava que desses então uma olhadela no tal Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné" (ou então procura por "Tabanca Grande") e diz-me qualquer coisa. O meu interesse é que gostava de ter alguma intervenção tua em termos de recordação da tua participação na Guiné (em geral, ou no PIFAS em particular, se possível). Isso pode ser entrando diretamente em comunicação para o Editor de acordo com os endereços lá disponibilizados ou então para mim que posso veicular, já que sou um "colaborador permanente".
Já agora, que estou numa de escrever... talvez pudesse ser para ti uma proposta de trabalho ires repescar o que fazem (individualmente ou ainda como grupo) as várias 'bandas' ou conjuntos desses tempos dos concursos no Monumental...
Um forte abraço.
Hélder Sousa
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7. Mail enviado mais tarde, a 07/12/2015Meu amigo Armando
Aqui te envio um texto (um 'post') saído na passado sábado no Blogue de que te já falei, "Luís Graça e Camaradas da Guiné". (trata-se do “post” 15449).
É a propósito da tua intervenção no programa das músicas do tempo da guerra, do Marinho.
Vê se gostas.
Acho que está bem...
Abraço
Hélder Sousa
********************
8. Mail recebido a 09/12/2015Olá Hélder,
É sempre bom recordar momentos marcantes da nossa vida. E como a Guiné nos marcou a todos…
Obrigado pelo que escreveste sobre o que tem sido o meu percurso profissional.
Um abraço forte do
Armando Carvalhêda
Antena 1
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Depois disto não houve mais troca de mails.
Cheguei a tentar combinar com o Armando Pires aparecer num dos programas ao vivo do “Vivá Música” mas por diversas razões nunca aconteceu.
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
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Notas do editor:
[1] - Vd. post de 5 DE DEZEMBRO DE 2015 > Guiné 63/74 - P15449: O PIFAS de saudosa memória (19): O Armando Carvalhêda no programa "Canções da Guerra", do Luís Marinho, na Antena Um: "O PIFAS, o Programa das Forças Armadas, era mais liberal do que a Emissora Nacional"...:
1. O Armando Carvalhêda é outro dos grandes senhores da rádio (*) que passou pelo Programa das Forças Armadas, o popular PIFAS, entre abril de 1972 e setembro de 1973, conforme ele recorda em conversa com o Luís Marinho, no programa da Antena Um, Canções da Guerra. O seu depoimento pode ser aqui ouvido, em ficheiro áudio de 4' 55''.
Segundo o Armando Carvalhêda, o PIFAS, transmitido pela Emissora Oficial da Guiné, era "mais liberal" do que a estação oficial, transmitindo canções de "autores malditos", como José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Zeca Afonso, que não faziam parte da "playlist" (como se diz agora) da Emissora Nacional, em Lisboa.
Eram os próprios radialistas, os locutores de serviço, jovens a cumprir o serviço militar e coaptados para a Rep Apsico, para o Serviço de Radiodifusão e Imprensa, que faziam "a pior das censuras", que era a autocensura...
O Armando dá um exemplo, com o LP do José Mário Branco, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (que tinha sido editado em Paris, em 1971)... Havia um consenso tácito sobre algumas músicas que não deviam passar no PIFAS. Neste LP, era, por exemplo, o "Casa comigo, Marta!"...
Último post da série de 5 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
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Notas do editor:
[1] - Vd. post de 5 DE DEZEMBRO DE 2015 > Guiné 63/74 - P15449: O PIFAS de saudosa memória (19): O Armando Carvalhêda no programa "Canções da Guerra", do Luís Marinho, na Antena Um: "O PIFAS, o Programa das Forças Armadas, era mais liberal do que a Emissora Nacional"...:
1. O Armando Carvalhêda é outro dos grandes senhores da rádio (*) que passou pelo Programa das Forças Armadas, o popular PIFAS, entre abril de 1972 e setembro de 1973, conforme ele recorda em conversa com o Luís Marinho, no programa da Antena Um, Canções da Guerra. O seu depoimento pode ser aqui ouvido, em ficheiro áudio de 4' 55''.
Segundo o Armando Carvalhêda, o PIFAS, transmitido pela Emissora Oficial da Guiné, era "mais liberal" do que a estação oficial, transmitindo canções de "autores malditos", como José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Zeca Afonso, que não faziam parte da "playlist" (como se diz agora) da Emissora Nacional, em Lisboa.
Eram os próprios radialistas, os locutores de serviço, jovens a cumprir o serviço militar e coaptados para a Rep Apsico, para o Serviço de Radiodifusão e Imprensa, que faziam "a pior das censuras", que era a autocensura...
O Armando dá um exemplo, com o LP do José Mário Branco, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (que tinha sido editado em Paris, em 1971)... Havia um consenso tácito sobre algumas músicas que não deviam passar no PIFAS. Neste LP, era, por exemplo, o "Casa comigo, Marta!"...
Último post da série de 5 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00
segunda-feira, 6 de maio de 2024
Guiné 61/74 - P25485: Os 50 anos do 25 de Abril (17) : Conversas sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra", com Marta Martins Silva e 3 antigos combatentes, Hélder Sousa, Luís Graça e Jaime Silva. 3ª feira, dia 7 de maio, no ISCSP-ULisboa, Campus Universitário do Alto da Ajuda
Campus Universitário do Alto da Ajuda
Rua Almerindo Lessa - 1300 - 663, Lisboa
+351 213 619 430 | +351 213 619 442
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Às 16h00 de amanhã, 3ª feira, dia 7 de maio, haverá uma conversa sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra". Os convidados são Marta Martins Silva (jornalista e escritor), e os antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial Hélder Sousa e Luís Graça (TO da Guiné) e Jaime Silva (TO de Angola).
A participação destes três membros da nossa Tabanca Grande nasceu de um desafio (e convite) lançado ao "régulo" da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, no passado dia 14 de março de 2024. A professora associada, especialista em antropologia, do ISCSP, Sónia Frias, esteve pessoalmente com alguns de nós, já no fim do almoço do 55º convívio, em Algés.
Originalmente estavam previstos 3 nomes, o Hélder Sousa, o Luís Graça e o Virgínio Briote. Por razões de datas, o Virgínio Briote (que previa por esta altura ter que fazer uma operação a uma catarata) foi substituído pelo Jaime Bonifácio Marques da Silva (que vem trazer outra experiência como antigo alferes miliciano paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72). A conversa entre os três é centrada sobre a sua experiência pessoal como antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial.
O evento é aberto ao público. A conversa é moderada por dois alunos da prof Sónia Frias (cremos que um da licenciatura de antropologia, e outro de serviço social).
Segue-se, às 18h00, uma conferência sobre a "componente externa" do 25 de Abril, a cargo de Fernando Jorge Cardoso (UAL).
Recorde-se que o ISCSP (que tem diversos cursos e programas de licenciatura, mestrado e doutoramento em antrolopologia, serviço social, sociologia, ciência política, ciênicas da comunicação, relaçõe internacionais, gestão de recursos humanos, administração pública e políticas do território) é uma instituição já centenária, com forte ligação aos países de língua portuguesa.
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Nota do editor:
domingo, 14 de abril de 2024
Guiné 61/74 - P25383: No dia 25 de Abril eu estava em... (28): A viver na Bobadela, a trabalhar em Setúbal... Meti dispensa de serviço depois do almoço e fui a correr até ao Carmo, ainda a tempo de ver a saída da chaimite com o deposto Marcelo... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms, TSF, Piche e Bissau, nov 70/ nov 72)
Hélder Valério : ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, nov 70/nov 72; ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), engenheiro técnico electrotécnico: consultor na área da higiene e segurança no trabalho; vive em Setúbal; membro da Tabanca Grande de 11 de abril de 2007; tem 200 referências no nosso blogue; nosso colaborador permanente, é provedor do leitor...
Olá, venho aqui "à antena" para dar também algum testemunho, principalmente impulsionado pelo que escreveu o Eduardo Estrela quanto a essa coisa de "comissão liquidatária". (**)
Quando acabei a minha comissão, na primeira quinzena de Novembro de 1972, ao despedir-me do meu substituto na função, munido duma fé qualquer que não sei explicar, disse-lhe mais ou menos isto:
Era cedo, apanhei o barco para Cacilhas, tomei depois a camioneta para Setúbal e, aqui chegado, apanhei outro transporte para a Sapec onde tinha começado a trabalhar em Fevereiro.
Entretanto, pelo caminho encontrei um camarada que esteve no meu pelotão de instrução em Santarém, na EPC, e que ia trabalhar para a Setenave e dei-lhe conta do que entendi do que se passava.
Naturalmente, os acontecimentos eram a motivação de todas as atenções e assim, a seguir ao almoço, meti dispensa de serviço e vim para Lisboa a tempo de estar no Largo do Carmo aquando da saída da chaimite com o deposto Marcelo.
Depois.... bem, depois foi o natural turbilhão de emoções.
Hélder Sousa
12 de abril de 2024 às 14:32
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19725: No 25 de abril eu estava em... (27): Lisboa: naquele dia 25 de Abril de 1974, quinta-feira, tudo estava programado para ser um dia igual a tantos outros (Carlos Pinheiro)
(**) Vd. poste de 12 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25374: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XV: as ondas hertzianas também chegavam a Nhala, Gadamael, Pirada, Canquelifá...
1. Passaram 50 anos do 25 de Abril de 1974... O Movimento dos Capitães começou na Guiné. Clandestinamente.
Poucos de nós se aperceberam de que estava em marcha um golpe de Estado que iria derrubar um regime velho e caduco de quase meio século (nascido, também, ele, de um golpe de Estado, em 28 de Maio de 1926).
Poucos de nós suspeitavam ainda, no início de 1974, que o fim da guerra se aproximava. Alguns de nós estavam lá, na Guiné, Angola, Moçambique; outros já estavam cá, ainda na tropa, à espera de lá bater com os quatro costados; uma parte, dos que regressaram, tinha escolhido os duros caminhos da emigração, e nomeadamente para a França, mas também para os EUA e o Canadá (no caso dos nossos camaradas das "ilhas adjacentes da Madeira e Açores"...) para melhorar o seu futuro e o bem-estar da sua família... Mas a grande maioria, que já estava na "peluda", tratava da vidinha, no ramerrame do costume...
Havia gente que protestava e até lutava (em organizações clandestinas) contra o regime e a guerra. No dia 9 de abril de 1974, por exemplo, o nosso velho conhecido N/M Niassa, que transportava tropas para a Guiné, foi alvo de um atentado à bomba, felizmente sem vítimas pessoais: o embarque foi atrasado, o navio sofreu estragos materiais, quando se preparava para partir...
Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambujeira e Serra do Calvo aos seus combatentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013, numa iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira e Serra do Calvo.
Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-se], / Que eu hei-de regressar"... Infelizmente, nem todos regressaram.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís
Graça & Camaradas da Guiné]
Recorte da primeira página do "Diário de Lisboa",
edição de quarta-feira, 10 de abril de 1974,
nº 18424, Ano 54º; diretor: A. Ruella Ramos.
2. Desde 27 de abril de 2007 que temos vindo aqui a recolher respostas à sacramental pergunta do jornalista e escritor Baptista-Bastos (1937-2017): "Camarada (ou amigo/a), onde é que tu estavas no 25 de Abril de 1974 ?"...
Temos três dezenas de testemunhos, o que é pouco (*). O Hélder Sousa já cá estava, tinha regressado em novembro de 1972 da Guiné... Trabalhava na Sapec, em Setúbal. Conta-nos como foi esse dia na sua vida...
Estava a viver na Bobadela, a trabalhar em Setúbal... Meti dispensa de serviço depois do almoço e fui a correr até ao Carmo, ainda a tempo de ver a saída da chaimite com o deposto Marcelo...
por Hélder Sousa
Quando acabei a minha comissão, na primeira quinzena de Novembro de 1972, ao despedir-me do meu substituto na função, munido duma fé qualquer que não sei explicar, disse-lhe mais ou menos isto:
- É, pá, estou muito contente por me ir embora, só tenho pena é que tenhas vindo para a liquidatária e eu não esteja aí nesse momento, pois um ou dois desses gravadores ainda haveriam de ser para mim"...
E realmente ele veio para a "liquidatária", já que o 25 de Abril apanhou-o com ano e meio de comissão.
Quanto aos momentos do glorioso dia de 25 de Abril de 1974, fui vivendo de formas diferentes.
Quanto aos momentos do glorioso dia de 25 de Abril de 1974, fui vivendo de formas diferentes.
À data estava a viver na Bobadela e a trabalhar em Setúbal.
Apanhei o comboio cedo e fui até Santa Apolónia. Naturalmente que dali até ao Terreiro do Paço apercebi-me e vi o que se estava a passar. Por essa ocasião, e por algumas coisas que ia sabendo, intuí o que eram e quem eram as tropas que estavam no terreno, mas não dava ainda para saber qual seria o desfecho.
Era cedo, apanhei o barco para Cacilhas, tomei depois a camioneta para Setúbal e, aqui chegado, apanhei outro transporte para a Sapec onde tinha começado a trabalhar em Fevereiro.
Entretanto, pelo caminho encontrei um camarada que esteve no meu pelotão de instrução em Santarém, na EPC, e que ia trabalhar para a Setenave e dei-lhe conta do que entendi do que se passava.
Naturalmente, os acontecimentos eram a motivação de todas as atenções e assim, a seguir ao almoço, meti dispensa de serviço e vim para Lisboa a tempo de estar no Largo do Carmo aquando da saída da chaimite com o deposto Marcelo.
Depois.... bem, depois foi o natural turbilhão de emoções.
Hélder Sousa
12 de abril de 2024 às 14:32
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19725: No 25 de abril eu estava em... (27): Lisboa: naquele dia 25 de Abril de 1974, quinta-feira, tudo estava programado para ser um dia igual a tantos outros (Carlos Pinheiro)
(**) Vd. poste de 12 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25374: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XV: as ondas hertzianas também chegavam a Nhala, Gadamael, Pirada, Canquelifá...
sábado, 16 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25277: Convívios (984): 55.º Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 14 de março de 2024 - Parte I
Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O João Crisóstomo (Nova Iorque) e filha Cristina (que presentemente vive e trabalha em Lisboa)
Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Lado direito da mesa em U: logo em primeiro plano, três "magníficos" e "históricos" da Tabanca da Linha: o António Fernandes Marques (Cascais) o Luís Moreira e a Irene (Mem-Martins)
Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O lado esquerdo da mesa em U: logo em primeiro plano, o Carlos Silvério (Lourinhã).
Fotos: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(...) Caros Magníficos, como estava previsto, realizou-se hoje mais um convívio do nosso grupo "A Magnífica Tabanca da Linha", com a presença de 36 valentes que apostam sempre na linha da frente.
Podia ter sido um pouco mais concorrido, mas as famigeradas maleitas atacaram alguns. Vamos em frente, porque estes convívios dão força ao nosso espírito.
O nosso "homenageado" João Crisóstomo ficou feliz com as presenças de muitos conhecidos de há quase 60 anos.
Bom, o próximo será a 23 de Maio, já reservei a sala do 2.º piso no restaurante para nós.
Para ver as fotos de hoje, clicar no link. (...)
2. Desta vez o nosso almoço foi servido na sala de jantar do r/c do restaurante Caravela de Ouro. Costuma ser no 2.º andar, em salão amplo, privativo, com vista magnífica para o Tejo... quando o número o justifica.
Não vamos repetir aqui as fotos do Manuel Resende, disponíveis na página do Facebook da Tabanca da Linha. Sabemos que ele teve seis "piras" (caras novas) mas não listou os seus nomes...
Para já deixamos aqui algumas caras mais conhecidas, de camaradas que são membros também da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas. As fotos foram editadas por nós, eliminando o fundo... Esperamos que o fotógrafo, e os próprios, não levem a mal esta "brincadeitra"... Num segundo poste publicaremos mais "caras", umas mais conhecidas do que outras... Nestas fotos, tiradas à mesa há sempre "poluição estética" a mais: copos, garrafas, talheres, guardanapos, pratos com comida...
O João Crisóstomo, à despedida, manifestou a sua alegria por este convívio entre camaradas e "irmãos"... "Ganhei o dia!", disse-nos ele. E para mais tinha a companhia da sua querida filha Cristina que tirou pelo menos duas horas à sua agenda sobrecarregada para estar com o pai e os seus velhos camaradas...
A Cristina, filha de mãe minhota, nasceu no Brasil, veio novinha para Portugal e só depois foi viver para Nova Iorque em meados dos anos 70, se não erro... Fala impecavelmente o português, o que é um motivo de orgulho para todos nós... (Vive no Chiado, queixa-se de estar ainda um bocado isolada...).
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Nota do editor:
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)
1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF (Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Fevereiro de 2024:
Caros amigos
No passado dia 16 deste mês de Fevereiro, integrei uma visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa.
Essa Linha ligará a estação existente do "Rato" à estação ferroviária do Cais do Sodré, sendo que para tal estão em fase adiantada de construção duas novas estações, a da "Estrela" e a de "Santos".
O túnel de ligação entre o Rato e a Estrela já está feito. O túnel da Estrela a Santos também está quase concluído.
A estação de "Santos" terá entrada pela Av. D. Carlos I, situando-se em espaço do Quartel dos Sapadores Bombeiros. A estação da "Estrela" terá entrada pelo Largo da Estrela e ocupa boa parte do espaço do antigo Hospital Militar Principal.
E é precisamente por isso que vos envio estas notas e as fotos, sendo que, embora não seja um assunto "da Guiné", tem muitos pontos de contacto com as vidas de algums, muitos, que por lá passaram.
Quem usufruiu dos préstimos ou prestou serviço nessas instalações poderá rever agora e avivar as suas recordações.
Nas fotos que anexo mostro o túnel que vem do "Rato" até ao poço da estação da "Estrela", bem como o troço que vai dela para a estação de "Santos".
Vê-se também o poço com o edifício ao lado esventrado e com o zimbório da Basílica da Estrela ao fundo.
A outra foto mostra o poço e o edifício ao fundo, o qual não é afetado pela estação mas que virá a ter outro(s) uso(s).
Espero que gostem e sintam que as situações têm as suas evoluções próprias.
Abraços
Hélder Sousa
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)
Caros amigos
No passado dia 16 deste mês de Fevereiro, integrei uma visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa.
Essa Linha ligará a estação existente do "Rato" à estação ferroviária do Cais do Sodré, sendo que para tal estão em fase adiantada de construção duas novas estações, a da "Estrela" e a de "Santos".
O túnel de ligação entre o Rato e a Estrela já está feito. O túnel da Estrela a Santos também está quase concluído.
A estação de "Santos" terá entrada pela Av. D. Carlos I, situando-se em espaço do Quartel dos Sapadores Bombeiros. A estação da "Estrela" terá entrada pelo Largo da Estrela e ocupa boa parte do espaço do antigo Hospital Militar Principal.
E é precisamente por isso que vos envio estas notas e as fotos, sendo que, embora não seja um assunto "da Guiné", tem muitos pontos de contacto com as vidas de algums, muitos, que por lá passaram.
Quem usufruiu dos préstimos ou prestou serviço nessas instalações poderá rever agora e avivar as suas recordações.
Nas fotos que anexo mostro o túnel que vem do "Rato" até ao poço da estação da "Estrela", bem como o troço que vai dela para a estação de "Santos".
Vê-se também o poço com o edifício ao lado esventrado e com o zimbório da Basílica da Estrela ao fundo.
A outra foto mostra o poço e o edifício ao fundo, o qual não é afetado pela estação mas que virá a ter outro(s) uso(s).
Espero que gostem e sintam que as situações têm as suas evoluções próprias.
Abraços
Hélder Sousa
Edifício Principal do antigo Hospital Militar Principal
Poço da Estação da Estrela
Túnel Estrela-Santos
Túnel Rato-Estrela
____________Nota do editor
Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
Guiné 61/74 - P25120: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte I: embarque de tropas expedicionárias para Cabo Verde, em junho de 1941.... "Partiram alegres e confiantes"...
Legenda (não há idicação do autor da foto): "Partiram alegres e confiantes os soldados que constituíam o último destacamento de tropas expedicionárias enviadas para o arquipélago de Cabo Verde". (Há aqui um lapso factual: depois deste embarque, em junho de 1941, houve pelo nenos um outro posterior, no mês seguinte, em 18 de julho, no T/T Mouzinho.)
Capa da "Vida mundial ilustrada : semanário gráfico de actualidades": ano I, nº 6, 26 de junho de 1941. Preço: 1 escudo.
(A imagem foi reditada, com a devida vénia... LG)
(i) surgiu em 22 de Maio de 1941, em Lisboa, em plena II Guerra Mundial;
(ii) publicou-se até no final de 1946, totalizando 278 números;
(iii) teve como diretor José Cândido Godinho (Setúbal, 1890- Lisboa, 1950), e como editor e proprietário Joaquim Pedrosa Martins;
(iv) redação e administração: Rua Garrett, 80-2º Lisboa, telefone 25844.
(v) o nova publicação era apresentada como "documento vivo do que vai pelo mundo", um jornal que "pela ilustração, esclareça e informe e oriente o público - com esse poder de verdade que mais do que a palavra falada ou escrita, a imagem traduz".
Fonte: "Diário de Lisboa" (diretor: Joaquim Manso), sexta-feira, 18 de julho de 1941, p. 5, Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos. (*)
Citação: (1941), "Diário de Lisboa", nº 6700, Ano 21, Sexta, 18 de Julho de 1941, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_24851 (2017-8-29)
(Com a devida vénia...)
1. Lembrei-me, ao deparar-me com esta capa da "Vida Mundial Ilustrada", do "meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012) (*), que fez parte da força de 6 mil e tal homens que foram reforçar a defesa do arquipélago de Cabo Verde durante a II Guerra Mundial. Esteve sempre no Mindelo, São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943.
Foram também como "expedicionários" para Cabo Verde outros pais de camaradas nossos, como o Hèlder Sousa, o Luís Dias e o Augusto Silva Santos, ou o nosso amigo, guineense, de origem cabo-verdiano, Nelson Herbert Lopes. Mas também o tio do Mário Fitas. o Joaquim José Fitas.
Quem foi na mesma data, 18 de julho de 1941, e no mesmo navio, o Mouzinho, foi o sold aux enf, Porfírio Dias (1919-1988): lisboeta, integrava 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5, a mesma unidade do meu pai. Esteve lá dois anos anos e dez meses. É pai do nosso camarada Luís Dias.
Por sua vez, na Ilha do Sal, entre junho de 1941 e março de 1943, na 1ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11, esteve o 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989), pai do nosso camarada Augusto Silva Santos. Ele e os seus camaradas foram depois destacados para a ilha de Santo Antão (até dezembro de 1943).
O Nelson Herbert Lopes (que foi jornalista da VOA - Voz da América) também já aqui evocou o seu pai, Armando Duarte Lopes, uma antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Búfalo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB e do Benfica de Bissau, tendo sido também internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa:
(...) O meu velho entrou para a tropa a 15 de agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,Depois do juramento da bandeira (...) é transferido para Lazareto e São Pedro [na parte oeste, sudoeste da ilha].
Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam... (...) (**)
Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam... (...) (**)
Enfim, memórias que a visualização de uma velha foto (de há 83 anos!) nos traz... (LG)
___________
Notas do editor:
(**) Vd.poste de 15 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)
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domingo, 24 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24997: Boas Festas 2023/24 (12): Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887; José Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF e Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879
1. Mensagem natalícia, em forma de poema, do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68):
ANTIDEUTERONOMIO II
adão cruz
No tempo em que as sardinheiras das varandas dos pobres
faziam parte dos nossos sonhos
florindo em poemas de sol e de cor
no tempo em que as andorinhas
teciam grinaldas de vida nos beirais
no tempo em que os rios bordavam a terra de areia branca
no tempo em que a brisa sussurrava
por entre as flores
e as fontes murmuravam seus amores
a aurora da nossa inquietação tinha o cheiro a maçãs
e o pulsar das coisas vivas
e o levíssimo sorriso dos jardins do paraíso.
Tudo amávamos em nobre sentimento de exaltação
o mundo era transparente e fácil de amar
e cheirava a feno
a razão ondulava a frágil seara
em suave alento na quietude universal da liberdade
como harmoniosa mulher suspirando ao vento.
Tão inocente amor
tanta alegria
quem pensaria que os rios de pranto
haveriam de chegar um dia
em negra nuvem de calado voo.
Não podemos deixar que a nuvem negra
se abata sobre nós e o pensamento…
e o pensamento nos agarre no desértico silêncio
sentados ao vento
no falso sol da varanda da ilusão
e da erosão da consciência adormecida.
Não podemos deixar que a todos nos transforme
em filhos da morte
filhos de nenhum lugar e de toda a parte
figuras do vale das sombras
esgueirando-se nas sombras de outras sombras
sonâmbulos fantasmas
sem gestos de vida que nos façam acordar.
E quando for dia de sol bem alto
porque haverá sempre um dia
a rasgar a deuteronómica nuvem negra
que ameaça os campos do futuro
e o sereno assombro das pedras
e os peixes verdes dos poemas
e os rubros sorrisos que cheiram a mar
e os passos dos que aprendem a andar
e os rios que correm nos olhos de uma criança
e a memória sem tempo
jamais a exaltação da santidade
estará na morte e nas cinzas da cidade.
E não haverá espinhos nos olhos
e aguilhões nos flancos da vida…
E não haverá armas de destruição maciça
no coração das mães dos filhos exterminados.
Na diáfana manhã de um novo dia
apenas a plangente harmonia de um Stabat Mater.
********************
2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF (Piche e Bissau, 1970/72):
Meus amigos
Estamos em plena época de "Festas Felizes", "Boas Festas", "Feliz Natal", "Bom Ano Novo", etc., coisas do mesmo género, que se costuma ouvir muito por estes tempos.
São expressões sentidas?
São expressões vazias de sentido?
O que leva as pessoas a repeti-las, ano após ano, na maior parte das vezes sem darem conta do que podem realmente significar?
Repetem por simples impulso automático? Por hábito? Por convenção social?
Os meus amigos mais antigos já sabem que eu, por estas alturas, fico sempre um pouco menos sensível a esses tipos de manifestações.
Por isso, sinto-me menos propenso a veicular, a verbalizar (de viva voz, ou por escrito), tais desejos de aparente bondade, piedade, até de solidariedade.
Então, por tal, peço que me desculpem de não ser um "contributor da moda" e não interagir assim tanto nesse sentido, sendo que não tomo a iniciativa de desejar "Feliz Natal" e limitando-se a agradecer o que me enviam.
Com votos de boa saúde, para vós e familiares, e de um melhor Ano Novo, que se avizinha e que seja de facto um Novo Ano.
Saúdo-vos com um "Festas Felizes"
Hélder Sousa
********************
3. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71):
Meus Caros Amigos e Camaradas
Tabanqueiro Mor Luís e Carlos Vinhal
2023 - É Natal - A todos os meus amigos e camaradas da Tabanca Grande e seus familiares desejo um Feliz Natal e um Ano Novo 2024 com paz e saúde
Com um grande abraço
Carlos Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24994: Boas Festas 2023/24 (11): José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56; Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 14 e João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil do BENG 447
quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24954: S(C)em Comentários (23): João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo")
Lisboa > Fundação Calouste Gulbenkian > 11 de dezembro de 2023 > João Crisóstom,o, vencedor do Prémio Tàgides 2023, na categoria "Portugal no Mundo", uma iniciativa da All4Integrity-
Fotos: Cortesia da página do Facebook de Cristina Crisóstomo
1. Comentários recentes (*) sobre o tema, de alguns dos nossos camaradas... Os demais leitores podem também pronunciar-se (**)
12 de dezembro de 2023: Guiné 61/74 - P24945: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - Parte I
4 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24915: (In)citações (261): João Crisóstomo, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo", esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores, os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de muita outra gente da diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo
(**) Último poste da série > 13 de dezmbro de 2023 > Guiné 61/74 - P24948: S(C)em comentários (22): Caçadores de Angola...
(i) Eduardo Estrela (Faro):
Houve portugueses da história recente deste país que amamos, que desobedeceram a César por amor de Deus e da humanidade. Aristides de Sousa Mendes e o general Vassalo e Silva são exemplos de homens capazes de afrontar o mal oriundo de mentes agrilhoadas e obscuras.
13 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24947: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - II (e última) Parte
Houve portugueses da história recente deste país que amamos, que desobedeceram a César por amor de Deus e da humanidade. Aristides de Sousa Mendes e o general Vassalo e Silva são exemplos de homens capazes de afrontar o mal oriundo de mentes agrilhoadas e obscuras.
Bem hajam os que continuam a lembrar a integridade humana e intelectual desses homens, como é o caso do João Crisóstomo no que a Aristides de Sousa Mendes diz respeito.
A humanidade continua, cada vez mais, a precisar de vultos que se revoltem contra os poderes instituídos que espezinham, destroem, matam e reduzem a cinzas em nome de nada, os que somente aspiram a uma vida melhor. (...)
4 de dezembro de 2023 às 14:14
(ii) Valdemar Queiroz (Cacém / Sintra):
O nosso camarada da guerra na Guiné tem várias vezes me telefonado e enviado e-mails para saber como eu tenho passado da minha doença, e com o desejo de me visitar quando viesse a Portugal. Eu fico sempre muito sensibilizado com as suas preocupações, por não nos conhecermos de lado nenhum.
No último e-mail escrevi-lhe como o reconhecia, assim:
"João Crisóstomo a tua vontade de ajudar as pessoas é por seres um homem bom com sentimentos muito elevados. Tens-te como possuído por sentimentos religiosos 'amai-vos uns aos outros' para sentires essa vontade de ajudar os outros, que assim seja, não vejo a religião para outra coisa." (...)
4 de dezembro de 2023 às 16:53
(iii) José Câmara (Soughton, MA, EUA):
Confesso que gosto do João, da sua atitute. O telefone é a sua G3 na comunicação com os amigos. Aqui e ali, muito mais graças a ele, comunicamos. Para ele o mundo não tem fronteiras. Bem hajas João!
Abraço transatlântico.
O nosso camarada da guerra na Guiné tem várias vezes me telefonado e enviado e-mails para saber como eu tenho passado da minha doença, e com o desejo de me visitar quando viesse a Portugal. Eu fico sempre muito sensibilizado com as suas preocupações, por não nos conhecermos de lado nenhum.
No último e-mail escrevi-lhe como o reconhecia, assim:
"João Crisóstomo a tua vontade de ajudar as pessoas é por seres um homem bom com sentimentos muito elevados. Tens-te como possuído por sentimentos religiosos 'amai-vos uns aos outros' para sentires essa vontade de ajudar os outros, que assim seja, não vejo a religião para outra coisa." (...)
4 de dezembro de 2023 às 16:53
(iii) José Câmara (Soughton, MA, EUA):
Confesso que gosto do João, da sua atitute. O telefone é a sua G3 na comunicação com os amigos. Aqui e ali, muito mais graças a ele, comunicamos. Para ele o mundo não tem fronteiras. Bem hajas João!
Abraço transatlântico.
11 de dezembro de 2023 às 01:08
(iv) Luís Graça (Lourinhã):
João, tu mereces. Tu, o António Rodrigues e tantos outros luso-americanos que nunca esqueceram a terra que vos viu nascer.
Por certo que o júri (constituído por por personalidades que venceram o prémio nas duas edições anteriores) ficou impressionado não só com a competência, o empenhamento e a determinação que tens posto na defesa destas nobres causas, como também com a tua capacidade de mobilização e trabalho de equipa... Isto é liderança... Nada se faz sozinho, ninguém é herói solitário.
Fíco contente também por ti e pelos Crisóstomos & Crispins que te inspiram, e te deram exemplos e valores...
Afinal, quem disse que ninguém é profeta na sua terra ? Claro que Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, não tem a mesma visibilidade de Queens, Nova Iorque...
(iv) Luís Graça (Lourinhã):
João, tu mereces. Tu, o António Rodrigues e tantos outros luso-americanos que nunca esqueceram a terra que vos viu nascer.
Por certo que o júri (constituído por por personalidades que venceram o prémio nas duas edições anteriores) ficou impressionado não só com a competência, o empenhamento e a determinação que tens posto na defesa destas nobres causas, como também com a tua capacidade de mobilização e trabalho de equipa... Isto é liderança... Nada se faz sozinho, ninguém é herói solitário.
Fíco contente também por ti e pelos Crisóstomos & Crispins que te inspiram, e te deram exemplos e valores...
Afinal, quem disse que ninguém é profeta na sua terra ? Claro que Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, não tem a mesma visibilidade de Queens, Nova Iorque...
12 de dezembro de 2023 às 08:32
(v) António Carvalho (Carvalho de Mamaptá) (Medas / Gondomar):
Tenho muito orgulho em saber que tenho entre os camaradas da Tabanca Grande e combatente da guerra da Guiné um camarada com estes grandes méritos aqui referidos, entre outros que também terá. Parabéns, Crisóstomo, pelo que tens feito de extraordinário, nomeadamente pela causa das Gravuras do Coa e pela reabilitação e nobilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes. (...)
12 de dezembro de 2023 às 11:12
Tenho muito orgulho em saber que tenho entre os camaradas da Tabanca Grande e combatente da guerra da Guiné um camarada com estes grandes méritos aqui referidos, entre outros que também terá. Parabéns, Crisóstomo, pelo que tens feito de extraordinário, nomeadamente pela causa das Gravuras do Coa e pela reabilitação e nobilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes. (...)
12 de dezembro de 2023 às 11:12
(vi) Hélder Sousa (Setúbal):
Caros amigos: Todas as palavras elogiosas do João Crisóstomo e das suas obras não são demais. É com grande satisfação (e orgulho "por conta") que lhe reservo toda a consideração e estima.
É verdadeiramente um "bom homem" e um "homem bom". (...)
Caros amigos: Todas as palavras elogiosas do João Crisóstomo e das suas obras não são demais. É com grande satisfação (e orgulho "por conta") que lhe reservo toda a consideração e estima.
É verdadeiramente um "bom homem" e um "homem bom". (...)
(vii) Manuel Luís Lomba (Barcelos):
Felicitações ao João Crisóstomo, por mais esta distinção. Grande honra nossa de ter e privar com camarada desta dimensão.(...)
Felicitações ao João Crisóstomo, por mais esta distinção. Grande honra nossa de ter e privar com camarada desta dimensão.(...)
13 de dezembro de 2023 às 10:31
Ter alguém como o João Crisóstomo, que faz o favor de ser nosso amigo, é um privilégio.
(viii) Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos):
Ter alguém como o João Crisóstomo, que faz o favor de ser nosso amigo, é um privilégio.
Caro João, um abraço e votos de muitas felicidades.
13 de dezembro de 2023 às 18:49
(ix) Joaquim Luis Fernandes (Leiria):
Bem merecido o prémio Tágides 2023, a João Crisóstomo!
(ix) Joaquim Luis Fernandes (Leiria):
Bem merecido o prémio Tágides 2023, a João Crisóstomo!
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Notas do editor LG:
(*) Vd. postes de
13 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24947: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - II (e última) Parte
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