CCS/BCAÇ 1861 (Buba, 1965/67), com um cobra pitão (ou "irã-cego"), enviada através do endereço do nosso camarada Júlio César [membro da nossa Tabanca Grande desde Julho de 2007, ex-1º Cabo, CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905, Cacheu, 1970/71]. Como comentámos na altura, parece tratar-se de uma cobra pitão africana, uma Phyton sebae, popularmemte conhecida como "irã cego". na Guiné-Bissau...
Pode atingir os 6 metros de comprimentos, não é venenosa e não constitui um perigo real para os seres humanos... A nossa malta na Guiné chamava-lhe erradamente jibóia... (As jiboias só existem no Novo Mundo, ou seja, na América Central e na América do Sul).
Nova Sintra, um destacamento desterrado no sector do Quínara, com uma população escassa, apenas algumas “cubatas” ladeavam, interiormente, o nosso aquartelamento militar.
Todas as manhãs, por escala, grupos de militares deslocavam-se a um poço para trazer água nuns bidões geralmente para a cozinha, embora houvesse um outro poço, protegido em cimento armado e com um tampo em cimento, para tapar a abertura do mesmo, perto do aquartelamento, que era para a população se reabastecer..
Numa manhã, pelas 10 horas, o furriel Barros, acompanhado de quatro soldados, deslocaram-se num Unimog com quatro bidões para se reabastecerem no poço..
Chegados ao local, em direcção à estrada de Lala, a viatura parou e algo nos apareceu à nossa frente: Nada mais, nada menos, que uma cobra com quase quatro metros de comprimento. Era comprida mas bastante estreita.
Nota do editor:
Último poste da série > 11 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21533: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (11): O morcego e a cria, ou um "desastre.. da caça"
Foto (e legenda): © Boaventura Alves Videira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mais uma pequena história do Carlos Barros:
(i) é um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;
(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 15 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.
A cobra e o soldado António Cruz…
por Carlos Barros (*)
Nova Sintra, um destacamento desterrado no sector do Quínara, com uma população escassa, apenas algumas “cubatas” ladeavam, interiormente, o nosso aquartelamento militar.
Todas as manhãs, por escala, grupos de militares deslocavam-se a um poço para trazer água nuns bidões geralmente para a cozinha, embora houvesse um outro poço, protegido em cimento armado e com um tampo em cimento, para tapar a abertura do mesmo, perto do aquartelamento, que era para a população se reabastecer..
Numa manhã, pelas 10 horas, o furriel Barros, acompanhado de quatro soldados, deslocaram-se num Unimog com quatro bidões para se reabastecerem no poço..
Chegados ao local, em direcção à estrada de Lala, a viatura parou e algo nos apareceu à nossa frente: Nada mais, nada menos, que uma cobra com quase quatro metros de comprimento. Era comprida mas bastante estreita.
Foi um pânico momentâneo e o ofídio abriu a boca, tentando atacar, ou melhor, ameaçar! O soldado António Cruz, num ápice, pega na G3 e dispara quatro tiros, a pequena distância, tendo dois deles, atingido a coluna do bicho e um outro perto da barriga. Com a boca ferida, escorrendo sangue, a cobra ficou paralisada e nós acabamos por matá-la.
Enchemos os bidões de água, pegamos na cobra já morta e trouxemos para o aquartelamento, onde os nossos companheiros nos esperavam porque a notícia já tinha chegado…Era o regresso a pé. À frente da viatura.
Foi o espanto geral quando, no aquartelamento, mostrámos o nosso “troféu”. E lá contámos a história, sendo o herói o soldado Cruz, do 3º grupo de combate, que revelara uma afinada pontaria…
A cobra foi mostrada em procissão, a todos os militares e até o Capitão Cirne se revelou espantado com a rapidez e coragem do Cruz, soldado muito alegre e sempre bem humorado, com ele presente nunca havendo tristezas.
O primeiro sargento “Rasteiro” soube da notícia, mas não saiu da secretaria, talvez tivesse medo da cobra morta…
Passados vinte minutos, fizemos uma cova funda, no meio do capim, e enterrámos a cobra que, penso, não chegou a beber a água onde nós nos abastecemos….
O furriel Barros levou os soldados para a cantina e pagou umas cervejas e umas "fantas", servidas pelo simpático Gonçalves, o “cantineiro” de Nova Sintra.
Para ilustrar a história para os nossos vindouros, tirámos uma fotografia, numa máquina fotográfica Olimpus Pen F que nos foi emprestada.
Enchemos os bidões de água, pegamos na cobra já morta e trouxemos para o aquartelamento, onde os nossos companheiros nos esperavam porque a notícia já tinha chegado…Era o regresso a pé. À frente da viatura.
Foi o espanto geral quando, no aquartelamento, mostrámos o nosso “troféu”. E lá contámos a história, sendo o herói o soldado Cruz, do 3º grupo de combate, que revelara uma afinada pontaria…
A cobra foi mostrada em procissão, a todos os militares e até o Capitão Cirne se revelou espantado com a rapidez e coragem do Cruz, soldado muito alegre e sempre bem humorado, com ele presente nunca havendo tristezas.
O primeiro sargento “Rasteiro” soube da notícia, mas não saiu da secretaria, talvez tivesse medo da cobra morta…
Passados vinte minutos, fizemos uma cova funda, no meio do capim, e enterrámos a cobra que, penso, não chegou a beber a água onde nós nos abastecemos….
O furriel Barros levou os soldados para a cantina e pagou umas cervejas e umas "fantas", servidas pelo simpático Gonçalves, o “cantineiro” de Nova Sintra.
Para ilustrar a história para os nossos vindouros, tirámos uma fotografia, numa máquina fotográfica Olimpus Pen F que nos foi emprestada.
Em Bissau, o rolo foi revelado e concretizou-se assim o registo desta história, bem real, e que poderá ser testemunhada por alguns militares que foram protagonistas nesta situação, com um desfecho natural porque foi em legítima defesa, numa contexto em que era necessária uma intervenção rápida e eficaz.
Esta história poderia ter outro desfecho?
Naturalmente que poderia, contudo, ao vermos aquele enorme ofídio em posição de ataque, houve a natural resposta que terminou com a morte trágica do animal.
Esta história poderia ter outro desfecho?
Naturalmente que poderia, contudo, ao vermos aquele enorme ofídio em posição de ataque, houve a natural resposta que terminou com a morte trágica do animal.
Nova Sintra, 1973
Carlos M. Lima Barros,
ex-furriel miliciano
2. Comentário do editor LG:
O autor da série não nos mandou a foto da tal cobra com "quase quatro metros de comprimento". Pelo comprimento poderia ser uma cobra pitão-real (Python regius), um das mais pequenas dos pitões... Mas não costuma ultrapassar os dois metros... (lê-se no portal do Jardim Zoológico). Provavelmente, seria um exemplar, juvenil, do "irã-cego" (ou pitão africano), da qual temos, no nosso blogue, várias estórias...
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Último poste da série > 11 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21533: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (11): O morcego e a cria, ou um "desastre.. da caça"