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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27347: A nossa guerra em números (43): afinal, a nossa ração diária de vinho era de 0,5 litros... O melhor assistente de IA, em matéria dos nossos comes & bebes, é o nosso vagomestre... Aníbal Silva (ex-fur mil SAM, CCAV 2483 / BCAV 2867, Nova Sintra e Tite, 1969/70)

 



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) >  "Porto fluvial" (!) de Fulacunda (a 3/4  km do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, bidões de combustível e de vinho, artigos de cantina, etc.; como não havia pontão, ou cais, a descarga era feita manualmente para as viaturas da tropa (GMC, Berliet, Unimog...). Uma tarefa penosa, feita na maré-cheia, dentro de água...

 Fulacunda era reabastecida, através do rio Grande de Buba  e do seu afluente, na margem direita, o rio Fulacunda (que ficava a sul),  com recurso a LDM (Lancha de Desembarque Média) ou barco civil (popularmente conhecido como "barco-turra").

Na foto acima, com pormenores assinalados a amarelo, veem-se bidões: 2 deles, de 1 cor verde e outro azul, podem ser de combustível, petróleo branco e gasóleo, respetivamente; um outro, com tampo branco,  com círculo amarelo mais pequeno, pode ser de vinho... Mas pergunta-se: como se descarregavam, nestas circunstâncias, bidões de 200 litros ?
  
 Fotos do álbum do Jorge Pinto  (parte dos "slides" que temos aqui publicados são dele ou do Armando Oliveira: generoso e solidário como ele, não faz questão de reclamar os créditos fotográficos: considera o seu álbum como património de todos os fulacundenses).


Fotos (e legenda): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda, afluente do Rio Grande de Buba, que ficava a sul > Chegada de uma LDP com reabastecimentos, vinda diretamente de Bissau.. A LDP e LDM eram mais práticas, podendo abicar na praia,o que facilitava a descarga de bidões e barris,

[ Foto do álbum de Jorge Pinto, ex-alf mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), professor de história reformado; natural de Alcobaça, vive na Grande Lisboa e é também membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca da Linha]


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O melhor assistente  de IA  para sabermos coisas sobre os nossos comes & bebes na Guiné ? São os nossos "intendentes" e os nossos "vagomestres", pois claro. 

Infelizmente são poucos, os que integram a Tabanca Grande e estão ainda vivos. Mas felizmente que temos o nosso Aníbal   Silva (ou Aníbal José da Silva, como está registado na Tabanca Grande) que tem sido inexcedível na sua vontade em partilhar informação (oral e escrita) sobre estas matérias, que já estão tão esquecidas da maior parte da malta... Além disso, ele é o autor da notável série "Vivências em Nova Sintra", de que se publicaram 16 postes,  desde 4/3/2025  até 17/6/2025.

Perguntei a alguns de nós se se lembravam do "per diem", a verba para a nossa alimentação diária... Já ninguém se lembrava da quantia em escudos (24$50), que o gen António Spínola, no relatório do comando relativo à situação em 1971, propunha que passasse para 33$00 (um aumento de mais de 1/3), face ao agravamento do custo de #géneros de 1ª necessidade" bem como dos "transportes da Metrópole para a Província". (Não sabemos se até ao final da guerra houve alteração da verba para a alimentação diária no CTIG.)

Era com esses 24$50 que o vagomestre  tinha de nos alimentar diariamente (3 refeições).

Além de informador privilegiado como vagomestre e como gestor da cantina de Nova Sintra, ao tempo em que esteve com a sua companhia, CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), o Aníbal Silva é um excelente e afável contador de histórias e lembra-se de coisas do arco da velha.

O Aníbal (que fez a Escola Comercial e foi técnico de seguros) tem especiais competências em matéria de literacia e numeracia: só podia, pois, ser o homem certo no lugar certo. E ainda hoje guarda (o que é incrível!) documentação daquela época, rekatcionadas com a alimentação e atigos de cantina, e que faz questão de partilhar com o nosso blogue.

Mensagem recente, de 22/10/2025, 09:10 

Bom dia, caríssimo Luís

Depois da nossa conversa telefónica de ontem, que muito me honrou, procurei e encontrei o livro sobre a alimentação, o "missal" dos vagomestres, que tem umas dezenas de páginas e do qual envio em anexo meia dúzia dessas páginas, digitalizadas. 

Numa delas, relativa às ementas, verifico que a quantidade de vinho que cada militar tinha direito por dia era de 0,5 litros  (0,2 ao almoço e 0,3 ao jantar). 

Tenho também uma sebenta que para além das questões da alimentação, aborda outros assuntos, tais como: prestação de contas; fardamentos; vencimentos e até armamento. Na sebenta fui encontrar o protótipo do mapa modelo 1, o tal lençol de que te falei.

Caso pretendas, para os teus estudos e análises, posso enviar-te pelo correio os dois "documentos". Na afirmativa, fico a aguardar que me facultes o teu endereço. (...)


Capa do "missal dos vagomestres":  1º Grupo de Companhias de Administração Militar: Gabinete de Estudos - "Elementos sobre o Serviço de Alimentação no Exército" (Compilados de apontamentos editados pela EPAM em 1962).



Capítulos 1 e 2 (pp. 1-14)


Capítulos 3,4,5,6 e 7 (pp. 15 -28)


Capítulos 8, 9 e 10 (pp. 29 -40)

Índice do livro, de 40 pp. Cada página corresponde a uma ficha





De acordo com as ementas nºs 5 e 6.  a ração diária de vinho, dos militares, nos anos da guerra do ultramar, era de 0,5 l (0,2 l ao almoço, e 0,3 l ao jantar).



A famigerado mapa modelo 1 (que era o quebra-cabeças do vagomestre). Como curiosidade, repare-se no preço (unitário) do vinho: 6$00 (em 1969/70); em 1974 era já   quase o dobro (11$60). O mesmo se  verifica com outros bens essenciais: arroz (6$50, que passa para 14$50); batata (5$00 | 8$20)... O açúcar mantem-se (6$00 | 6$70). 

Fotos (e legendas): © Aníbal Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Aníbal Silva, ex-fur mil SAM,
  CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70)

2. O que transcrevo a seguir é um apanhado das conversas que vou tendo com ele ao telemóvel (ele vive em Arcozelo, se não erro, freguesia de Vila Nova de Gaia, já prometemos encontrarmo-nos quando eu for à Madalena).

2.1.  São João, frente a Bolama, era abastecido diretamente por Bissau. Tite também. E Fulacunda. E Bambadinca. E, claro, Nova Sintra,

 A via fluvial ainda era a mais rápida, económica e relativamente segura (rio Cacheu, na zona Oeste; rio Geba, na zona Leste; canal do Geba e de Bolama, para a região de Quínara; o rio Cumbijã  e o rio Cumbijã e o rio Cacine, para a região de Tombali).

O vinho era transportado de Bissau em barris de 100 litros (mais tarde bidões de 200 l, mas já não é do tempo do Aníbal Silva, nem do meu, somos de 69/71,.

2.2. Em Nova Sintra, era através de um afluente do rio Grande de Buba.

Como não tinham outro sítio para os guardar os barris de 100 litros, utilizava um antigo galinheiro, que estava vago; claro que era um sítio de fácil acesso aos "ladrões de vinho" (não havia "guarda á adega").

Uma vez aberto  um barril, durava dois a très dias... E a opinião que a malta ainda hoje tem é que vinho que se bebia em  Nova Sintra  até era de boa qualidade, tinha bom paladar; e de resto toda a gente bebia vinho. 

E interessante a informação de que um barril de 100 l dava só para 2 ou dias. Ou seja, não havia risco de oxidar.Utilizava-se um tubo de borracha para encher recipientes mais pequenos como garrafões. Também já não é do seu tempo o uso de garrafões de 10 l, empalhados, para o transporte de vinho (deve ter sido prática dos primeiros anos de guerra).

2.3. Claro que também aqui havia pequenos furtos: havia sempre ums "jeitosinhos" que, com uma broca manual,  fazia um furinho na tampa, e com uma borrachinha ia lá encher o cantil.. "Pró petisco".

Tal como havia malta que, no dia de descascar batatas para o rancho levava as calças de camuflado para encher os bolsos..."pró petisco". Os iam de calções, que era o traje habitual...

Tal como havia malta que era capaz de, numa coluna logística ao porto fluvial, no reabastecimento mensal, e antes da chegada ao quartel,. , "desviar uma ou duas caixas de cerveja", gurdá-las no mato em sítio seguro e  ir lá depois buscá-las, passadas 24 ou 48 horas.

2.4. Mas também havia a ração de aguardente. A meio da comissão,  a Intendência mandou perguntar se a companhia tinha barris de aguardente. O Aníbal disse que não. Passados uns tempos, foi abrir um barril (que julgava ser de vinho) e  viu que era aguardente. Havia 300 litros (3 barris) de aguardente, em "stock", intactos!...  Bom, deu para o resto da comissão,  enquanto a malta esteve em Nova Sintra antes de ir para Tite. Uma ração de aguardente passou a ser distribuída pelos abrigos.

2.5.  O Aníbal, vagomestre, tirou a especialidade em Póvoa do Varzim, na antiga Escola Prática de Administração Militar (hoje Escola de Serviços do Exército)  ficou também, em Nova Sintra, com a cantina, ao tempo do segundo capitão da companhia que detectou irregularidades na gestão anterior. 

Havia um "buraco" nas contas que era preciso sanear... E que ele saneou... (Como "prémio", ficou, no fim, na "comissão liquidatária" da companhia e do batalhão, um "pincel" que ninguém queria, podendo atrasar o regresso a casa.)

Não havia máquinas de calcular, naquele tempo, as contas eram feitas à mão, uma, duas, três, quatro vezes, até baterem certas. E havia um lençol, o famigerado mapa modelo 1, que era um a quebra-cabeças para qualquer vagomestre.


2. Falando há dias com um antigo comandante de companhia, hoje cor art ref, o nosso grão-tabanqueiro Morais da Silva, disse ele que "nunca bebeu vinho em Gadamae
l" (onde comandou a CCAÇ 2796, entre jan 1971 e fev 1972). Nem ele nem os seus alferes e furriéis,. Bebiam cerveja. Aliás, deixou de beber vindo desde que  veio de Angola. onde fez o  curso de comandos.

Já não se lembrava do "per diem" nem da ração de vinho diária...Vai perguntar ao vagomestre que é hoje um quadro superior do BCP, reformado.  Gaba-se de ter tido excelentes colaboradores em todos os setores de apoio, da saúde (onde teve um  1º cabo aux enf  excecional, e de quem toda gente perdeu o rasto) às transmissões,  da intendência ao material.

Tem ideia, sim, que a malta se queixava que a Intendência punha uns "pozinhos no vinho". 

O Humberto Reis, ex.fur mil op esp /ranger, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e colaborador permanente do nosso blogue também confirma que os nossos soldados, pro serem resarranchados, recebiam mais 750$00 por mês.

 Quando o Gr Comb dele, o 2ª, ia para o destacamento do rio Undunduma, o pessoal metropolitano recebia o seu rancho, confeccionado em Bambadinca, mas a viatura também trazia os "tachos de arroz" que as mulheres dos nossos soldados cozinhavam para eles na tabanca... Cada um tinha um lenço da sua cor.... Em operações no mato, também levavam a sua "marmita" (arroz cozido embrulhado num lenço)...

___________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27340: A nossa guerra em números (42): com um "per diem" (verba de alimentação diária) de 24$50 (hoje 4,10 euros) dava para fazer uma... ometela simples mas saborosa!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26394: Humor de caserna (97): O anedotário da Spinolândia (XV): O comandante do destacamento de Cabedu... a quem Spínola perguntou pelo plano de defesa (Rui A. Ferreira, 1943-2022)



1. Mais uma história (daquelas "rocambolescas da guerra"...) contada pelo nosso saudoso camarada Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), ten cor inf ref, que fez duas comissões no CTIG, a última como cmdt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72): além de ter sido um grande operacional, foi também um talentoso escritor, tendo-nos deixado três livros de memórias; natural de Angola (antiga Sá da Bandeira, hoje Lubango), viveu parte da sua vida em Viseu, cidade que muito amava, onde tinha muitos amigos  (como o protagonista desta história) e onde faleceu.


O comandante do destacamento de Cabedu... a quem Spínola perguntou pelo plano de defesa (*)

por Rui A. Ferreira (1943-2022)



O meu amigo Manuel Cerdeira (**), atualmente coronel reformado da administração militar, cumpriu uma comissão na Guiné, como alferes miliciano atirador de infantaria.

Tendo saído do barco que o transportou até Bissau, diretamente para uma lancha da marinha, que o foi depositar, a si e ao seu grupo de combate, no aquartelamento de Cabedu, cuja guarnição era então composta por dois pelotões de atiradores e, sendo que, como era o mais antigo, passou nestes termos a ser o comandante militar de Cabedu.

Passados uns tempos, recebeu a visita do próprio general Spínola, que a certa altura lhe perguntou:

− Então, e o plano de defesa ?

Ao que o bom do Cerdeira respondeu:

− Não sei o que é isso.

− Então, quando são atacados o que é que fazem ?

− Fazemos fogo.

− Para onde ?

− Para onde pensamos que eles estão.

− Então, e não veio cá ninguém ajudá-lo a fazer um plano de defesa ?

− Não, senhor, o meu general foi o único até agora.

Spínola voltou para o helicóptero, foi à sede do batalhão (***), fez subir para o mesmo o comandante e foi largá-lo em Cabedu  e deixou-lhe TPC (trabalho de casa):

− Daqui a 15 dias volto cá a buscá-lo,quando o plano de defesa estiver pronto.

Para concluir a história, foi o comandante punido com uns quantos dias de prisão e devolvido à metrópole.


Fonte: Excerto de Rui Alexandrino Ferreira - "Quebo: nos confins da Guiné". Coimbra: Palimage, 2014, pág. 348.

( Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, itálicos, título: LG)


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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26391: Humor de caserna (96): "O mê Zé disse isso ?!"... O epílogo engraçado da história do impaludado (Alberto Branquinho)

Vd. poste de 4 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26348: Humor de caserna (91): O anedotário da Spinolândia (XIV): "Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!"... (Mário Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gandembel e Ganturé, 1967/69)


Cor SAM ref Manuel C. A. G. Cerdeira 
(1946-2023)

(**) Trata-se do cor SAM Manuel Carlos de Almeida Guerra Cerdeira, natural de Viseu (1946- 2023)(Curso de Saída da AM: 1974); foi alf mil at inf, OE, tendo cumprido uma comissão de serviço no CTIG, em Cabedu,  no subsetor de Catió (1969/70), comandando dois Gr Com da CART 2476  (Catió e Cabedu, 1969/70), setor S3 (Catió, BART 2865).

Ingressou depois  na Academia Militar em outubro de 1970 (Patrono do Curso: “Major Neutel Simões de Abreu”), concluindo a parte curricular do Curso de Administração Militar (AdMil) em 1973, sendo, após frequência do tirocínio na Escola Prática de Administração Militar (EPAM/Lisboa - 1973/1974), promovido a alferes.

Elemento da primeira hora do MFA, integrou o grupo de oficiais que assumiu o comando da Escola Prática de Administração Militar (EPAM/Lisboa) na madrugada de 25Abril74 bem como o grupo de comando que  garantiu a  ocupação e a defesa dos Estúdios da RTP no Lumiar, no âmbito na “Operação Fim de Regime”.

Fez depois a sua normal carreira militar: tenente (1974), capitão (1977), major (1986), tenente-coronel (1994) e coronel (1996). Destaque para uma Comissão de Serviço na Bósnia e Herzegovina, integrado no Destacamento de Apoio de Serviços (DAS) da Força Nacional Destacada “FND-IFOR/BÓSNIA” (1996).

(***) Catió, sector S3, englobando 3 subsetores, Catió, Cufar e Bedanda, e posteriormente (em out69) mais 3, Cacine, Gadamael e Guileje. Nesta altura, a responsabilidade do setor S3 era do BART 2865 (fev 69 / dez 70), que teve dois comandantes: TCor Art Mário Belo de Carvalho e TCor Art António José de Melo Machado.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18734: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXV: Como se faz um alferes milicinao do Serviço de Administração Militar (III)


Foto nº 1 > Em Mafra,  EPI,  uma das primeiras fotos, Jan 67


Foto nº 2 > - Mafra, EPI; uma das  primeiras fotos, Jan-fev 67


Foto nº 3 > Mafra,  exercícios de aplicação militar, Fevereiro 67.


Foto nº 4 > Mafra, Malveira, Exercícios Finais,  Março 67.


Foto nº 5 >  - Mafra, EPI: o meu Pelotão, do Ten Peixeiro, Março 67.


Foto nº 5 A


Foto nº 5 B


Foto nº 6 > Mafra, EPI: Juramento Bandeira, frente ao Convento de Mafra, Março 67.


Foto nº 7 > EPAN, Lisboa > Exercícios finais na Carregueira, Junho 67.


Foto nº 8 > Lisboa, EPAM: o meu pelotão, Junho 67.


Foto nº 9 > Lisboa, EPAM: o último dia de cadete, Junho 67.


Foto nº 10 > Foto para o BI militar, Porto, Junho 67


Foto nº 11 > BI Militar: frente


Foto nº 12 > Caderneta Militar (pormenor)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue.
GUINÉ 1967 /69 1967/69 > ÁLBUM DE TEMAS > T001 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO > CURSO DE OFICIAIS MILICIANOS (COM) > EPI | MAFRA; EPAM | LUMIAR, LISBOA - Parte III (e última)

(ii) O meu percurso no COM até final

EPI – MAFRA:

Assentei praça em 3 de Janeiro de 1967, passando a ter o meu novo número de identificação – Soldado Cadete nº 10, do 1º pelotão da 3ª Companhia. Fico instalado na caserna nº 13, no 3º piso, e são muitas escadas até lá chegar.

O nosso pelotão tem como instrutor um Tenente de Infantaria, Inácio Pólvora Peixeiro, não era nenhum garoto acabado de sair da Academia Militar.

O nosso pelotão era segundo parece, constituído pelos cadetes mais velhos, de 22 anos até 26 anos, por isso fomos tratados como gente mais decente.

Fiz os exercícios finais – vulgo semana de campo – lá para os lados da Malveira e outros locais. Terminado isso foi o juramento de bandeira na última semana de Março de 67.

Daqui recebo Guia de Marcha para Lisboa, EPAM.

EPAM – LUMIAR, LISBOA:

Apresento-me nos primeiros dias de Abril de 67, na Escola Prática de Administração Militar – EPAM, e dou início ao curso da especialidade de administração.

O nosso Comandante de Companhia – o Capitão NOGA – era assim chamado, era muito duro para toda a companhia, e tivemos pior tratamento do que em Mafra.

Fiz os exercícios finais na Carregueira, uma semana de campo, e em finais de Junho de 67 acabo a especialidade e sou promovido a Aspirante Miliciano.

Fico mais um mês para fazer o Estágio junto do CA da EPAM, mas não concluo nada porque não há meios para continuar, e acabo por sair em meados de Julho de 67.


BC10 – CHAVES:

Sou enviado para Chaves a fim de iniciar um estágio naquela unidade, mas também não é sequer iniciado, estava tudo de férias e acabo por ficar sem nada fazer. Permaneço ali durante um mês, entre Julho e Agosto de 67.


RC4 – SANTA MARGARIDA:

Recebo uma Guia de Marcha para me apresentar no CIM de Santa Margarida e juntei-me ao Batalhão já formado o Batalhão de Caçadores 1933, e acabo por também participar no IAO levado a efeito naquele Campo Militar. Chego ali em 11 de Agosto de 67, e em 10 de Setembro vou gozar os 10 dias de licença militar, partindo para a Base Aérea de Figo Maduro em 19 de Setembro, acabando por embarcar de avião, um DC6, em 20 de Setembro chegando a Bissau em 21 de Setembro de 1967.

... E ASSIM SE FORMOU UM OFICIAL MILICIANO DO SAM.

Virgílio Teixeira

Em, 16-05-2018


2. Notas e legendas das fotos da tropa (COM, EPI Mafra, e EPAM, Lisboa)

Foto 1 – Esta seguramente será a primeira foto que tenho com farda. É em Mafra, talvez na Tapada, e será de Janeiro de 67.  Pelas roupas mal-amanhadas, apercebo-me que nem sequer foram à costureira para arranjar, estão largas parece uma foto de palhaço, e com aquele penico em cima da cabeça, tem o seu ar de ridículo.

Foto 2 – Também esta é uma das primeiras fotos, continuo a dizer que pode ser na Tapada de Mafra, na Escola Prática de Infantaria, em Janeiro/Fevereiro de 1967.  A farda já está mais ao jeito do meu corpo, já tenho botas pretas, a arma Mauser, o Quico na cabeça, já começa a desenhar-se um futuro militar.

Foto 3 – Numa aula de aplicação militar, o celebre ‘salto ao galho’ que era o terror de tantos candidatos a militares, é uma foto de Fevereiro de 1967.

Este salto que para muitos era impraticável, já eu o fazia em menino quando brincava aos Índios nas bouças dos lavradores e em tantas brincadeiras de crianças. Nunca deixei de fazer qualquer tipo de exercício, apenas um me recusei, o túnel, pois era tapado no final e eu tinha horror à claustrofobia.

Aqui reconheço alguns dos meus camaradas de pelotão, mas não me lembro quase de nome de nenhum. Pode ver-se uma das excepções, no chão a olhar com riso, o meu futuro amigo Faria, já homem de posses, vinha do Porto de Volvo, namorava e mais tarde veio a casar-se com a filha do dono da Auto Sueco no Porto. Casou bem. Cheguei a fazer a viagem de ida e volta Mafra-Porto, uma ou duas vezes, pois a maioria vinha nas Camionetas, em excursões do Barraqueiro.

O Faria voltaria a encontra-lo mais tarde em 1969, quando após chegar da Guiné, comecei a trabalhar numa fábrica para os lados de Vila do Conde, de origem Sueca, o agora sogro dele, era além de dono da Auto Sueco, também era o procurador da empresa sueca para onde fui trabalhar e tive muitos contactos com eles e reencontrei o Faria na Volvo – Auto Sueco.

Depois mais tarde veio a convencer-me para entrar na ‘Família Volvo’ e entrei, já nos anos de 1985. Comprei lá 9 carros da marca Volvo, 3 da série 340, 3 da série 440, 3 da série 460 e um da série 740. Disse que comprei, mas não é bem assim. Fui trocando uns pelos outros, apenas cheguei a ter 2 Volvos ao mesmo tempo. Os outros eram para substituir os sinistrados, pode dizer-se que foram uns atrás dos outros até 1991. Nunca era da nossa responsabilidade os acidentes, e assim com o seguro contra todos os riscos, trocava logo de carro com qualquer acidente, por pequeno que fosse, não pagava nada, era troca por troca. Com excepção do 740 que nunca tive acidente nenhum. Nem era eu, eram os 3 filhos, a minha mulher, e os outros que batiam contra nós. Os carros eram trocados quase novos com pouquíssimos quilómetros. Quem ganhava com isto tudo era a Auto Sueco, na venda de novo carro, e nas reparações dos outros, foram uns anos loucos, chegamos a pensar que era bruxedo e acabar com a Volvo. Mas não era assim, porque os filhos também tiveram vários acidentes com outros carros de várias marcas. Uma curiosidade, como andava sempre com carros novos, naquela parvalheira para onde fui morar – Vila do Conde – as pessoas durante décadas associaram-me como sendo um dos donos da Volvo, soube isso muito tempo depois, ninguém acreditava.

Foto 4 – Esta foto representa como todos bem sabem, a última semana da recruta, ia tudo fazer a semana de campo, ou seja os exercícios finais, por isso se vê as marmitas, e os montes, nós fizemos na Malveira, e saímos de Mafra do quartel, debaixo de uma chuva torrencial. Ainda pensamos que iria ficar sem efeito, mas lá foi tudo estrada fora para os montes a dezenas de quilómetros do quartel. Não era nada que eu ficasse traumatizado, eu gostava mesmo era destas aventuras, parecia uma criança. Foto da última semana de Março de 67.

Estes colegas de pelotão lembro-me das caras deles, não sei os nomes nem de onde vinham, era gente mais ou menos da minha idade, e a maioria ia nos seus carros particulares. Nenhum deles do meu pelotão era conhecido de antes, só no depois ainda falei com alguns, a maioria perdi-lhes o rasto.

Foto 5 – A foto de família, com todo o pessoal do 1º Pelotão da 3ª Companhia, encabeçada pelo nosso instrutor, Tenente de Infantaria, Inácio Pólvora Peixeiro, um nome difícil. Pode ver-se o Tenente Peixeiro pela farda e pela idade. Está na segunda fila a farda é mais clara e não tem os arreios que todos temos. Eu estou nessa fila, o 3º a contar da esquerda. Também não é difícil, pelo ‘porte’ de 43 kg de gente. Talvez até já tivesse mais.

Pode ver-se além do Faria que reconheço, o Rendeiro que viria a ser famoso, por ser irmão do nosso jogador de Hóquei, viria a encontra-lo no Porto várias vezes e nos Bancos onde ele trabalhou. O irmão chegou a estar em minha casa, eles viviam em Lisboa, a filha dele foi muito amiga da minha filha mais velha, ainda em solteira, e do seu actual marido, eram visitas muito frequentes, ela ficava por vezes em nossa casa e vice-versa. Quando a minha filha casou, visitaram-se muitas vezes, ainda hoje mantêm uma certa amizade à distância, claro.

Se analisarmos a foto, pode ver-se que a maioria é malta com mais de 22 anos, alguns com 23,24,25 ou mais, muitos eram já formados, e gente de posses. Muitos eram de Lisboa e arredores e até iam comer e dormir a casa, tinha carros e facilidades diversas, não se via o mesmo nos outros pelotões, por isso a nossa instrução foi sempre muito serena.

Tirando meia dúzia que cheguei a vê-los mais tarde, a maioria nunca mais os vi, nem sei por onde andaram, nem sequer se estão todos vivos.

Foto 6 – No juramento de Bandeira. Esta era a turma dos ‘aleijadinhos’. Os dois da ponta ainda têm as canadianas, no meio aparecem outros com fardas diferentes, deviam ser da aviação, na ala esquerda estou eu, o mais baixo e mais magro. Existe uma foto geral, mas não sei dela, um dia talvez a encontre, pois estas não estavam juntas às da Guiné, fui encontrando uma a uma junto com as da família. Foto em frente ao mosteiro de Mafra, na última semana de Março 67.

Pela minha parte eu estou fora da Companhia, porque estava ainda a usar de vez em quando as canadianas. Tive um acidente de viação, nos fins de Fevereiro, quando vinha para o Porto no carro de um colega, ele aí na zona de Águeda numa ultrapassagem mal calculada, bateu de frente e à bruta com um Mercedes, nós íamos num Austin. Como eu ia atrás a dormir e com os pés debaixo do assento, quando batemos em cheio, fui projectado para a frente e fiquei com os dedos entalados no banco da frente, tendo-se partido os dois polegares, um de cada pé. Andei com gesso uma ou duas semanas, estava ameaçado de perder esta recruta e isso não me interessava, por isso deitei de lado o gesso e andarilhos, e comecei a fazer todos os exercícios normalmente, tive o custo de nunca ficar bom, os dedos continuam sem dobrar, ficaram assim calcinados, e só fui fazer Fisioterapia em finais de Junho. Hoje não sinto nada, mas não posso jogar futebol é claro.

Mais uma curiosidade mórbida, esse companheiro do Porto, que está na foto de família mas não consigo identifica-lo, tinha os dias contados, infelizmente. No final do curso foi para Vendas Novas para a Escola Prática de Artilharia, e na instrução uma granada rebentou ao sair do tubo, morreu esfacelado, soube isso mais tarde, ainda estava eu em Lisboa.

Foto 7 – Agora é pessoal da EPAM – Escola Prática de Administração Militar. Esta cena faz parte dos exercícios finais da semana de campo, que foi para os lados da Carregueira, na zona da carreira de tiro. Aqui já está calor, é Junho, tempo bem quente, aliás pode ver-se, eu estou de cerveja na mão, como sempre. Esta malta é toda do Porto, mas havia mais alguns que não estão aqui. Foto na última semana de Junho 67.

Pode ver-se ao meu lado esquerdo, esse peitudo, era o Artolas nº 1, chama-se Policarpo, o pai tinha um tasco e restaurante mesmo ao lado da Estação de São Bento no Porto, na Rua da Madeira. Encontrei-o mais tarde na Guiné, em Bissau, ele aparece em algumas fotografias do meu tema de Bissau I. Outro atrás a fumar depois encontrei-o uns anos mais tarde na Faculdade de Economia, onde penso ter acabado o curso. Os outros raramente os via, eu tinha mudado de cidade, e muito raro encontrei alguém.

Também não haviam grandes amizades, nunca consegui cimentar uma amizade verdadeira com ninguém. Não acredito muito em verdadeiros amigos. Há colegas, vizinhos, conhecidos, interessados,
oportunistas, mas amigos do coração não creio.

Foto 8 – A foto de família do meu pelotão da EPAM. É no fim do curso, após as marchas finais. Pertencíamos a uma Companhia comandada pelo Capitão ´NOGÁ´, não sei o nome dele, era assim conhecido, tinha uns pulmões e uma voz de trovão. Fez a vida negra a todos, na parte de instrução física, ginástica e aplicação militar não dava tréguas, foi muito mais dura do que a recruta em Mafra. Foto da última semana de Junho de 67.

Eu estou na segunda fila, o 3º., pode ver-se pela estatura, e ao meu lado direito está um quase amigo, fomos depois colegas em Economia, do outro lado o Policarpo – o Artolas - agarrado ao pescoço de outro. Lembro-me de algumas caras, mas os nomes muito poucos.

Foto 9 – Nas instalações da EPAM no Lumiar, o último dia de Cadete, no dia seguinte somos promovidos a Aspirantes Milicianos. com divisas na diagonal, e direito a continência. Estava vestido com a farda nº 1 daquela época. Fins de Junho de 67.

F10 – A minha foto tirada para o Bilhete de Identidade Militar, já como Alferes Miliciano, uns dias antes de embarcar para a Guiné. Porto, Setembro de 1967.

O Boné foi-me oferecido pela minha namorada, que também me ofereceu os primeiros galões de alferes, comprados numa casa da especialidade do Porto, na Rua de Santo António. Não é o Casão Militar que ficava na Rua da Boavista, aí era tudo mais fraco e comprei lá os fardamentos de 2ª, os camuflados e outras coisas.

Ali na Rua de Santo António, mais abaixo desta loja, e já com a farda de gala, isto é, o Casaco, possivelmente do meu irmão mais velho, ou até do meu pai, tirei esta foto num fotógrafo profissional, pois nunca andei vestido com esta Farda de Gala, aliás não tinha sequer as calças.

Ao ver esta foto, penso porque não estou de óculos, pois desde os 18 anos que já os usava sempre, já eram 6 anos com esse acessório indesejável. Talvez porque ficava melhor, ou porque os óculos eram demasiado feios e antiquados? Nunca saberei a razão. O Boné, utilizado uma única vez, nunca mais soube dele, quando cheguei a casa em 1969, não encontrei nada e hoje gostaria de o ter comigo como recordação, mas não tenho.

Em, 16-05-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
__________

Nota do editor:

(*) Vd. postes antreiores:

6 de junho de  2018 > Guiné 61/74 - P18715: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIV: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (II)

2 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18704: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (I)

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18646 Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXII: As minhas estadias por Bissau (v): março de 1968


Foto nº 49 A >  Bissau > Brá >Quartel dos Adidos > Frente à messe de oficiais, o Virgílio Teixeira, de motorizada Peugeot


Foto nº 49 >  Bissau > Brá >Quartel dos Adidos > Março de 1968 > Frente à messe de oficiais, o Virgílio Teixeira, de motorizada Peugeot


Foto nº 51 > Bissau > 11 de março de 1968 > Na estrada do aeroporto a caminho de Safim num domingo...


Foto nº 41 > Bissau > Março de 1968 > No bar "A Meta":  da esquerda para a direita: o soldado condutor Espadana, que servia à mesa na messe de oficiais do nosso batalhão;  outra pessoa que não me lembro quem é;  a seguir o alferes Policarpo (, Artolas, era o nome de guerra dele);  depois juntando, o Verde, o Cachadinha e eu, formávamos aquilo a que passou a denominar-se ‘o pelotão dos artolas’...


Foto nº 41A > Março de 1968 > No bar "A Meta" [...ou não seria antes o "Nazareno" onde havia fados e guitarradas ? No cartaz. acima das cabeças, pode ler-se: [fados] acompanhados à guitarra, Jorge Neto, e viola, Manuel Castro]


Foto nº 60 > Bissau, março de 1968 > Junto com os meus dois ajudantes do CA [Conselho Administrativo], Furriel Pinto e Furriel Riquito, junto a uma bolanha, no período de março de 1968 quando o BCAÇ 1933 estava de serviço nos Adidos em Brá.


Foto nº 69


Foto nº 69A > Bissau, março de 1968 > Um grupo de camaradas, numas matas, sem perigo, nos arredores de Bissau, no mês em que o BC1933 estava nos Adidos em Brá. Bissau.


Foto nº 68 A > Bissau, março de 1968 > Um grupo de camaradas, num domingo de passeio, na sombra de um frondoso e grande Poilão.

Guiné > Bissau > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já mais de meia centena de referências no nosso blogue.

Recorde-se que o Virgílio Teixeira, de acordo com o seu CV militar (corrigido e atualizado...):

(i) assentou praça, em Mafra, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em 3 de janeiro de 1967, ainda antes de completar os 24 anos de idade;  jurou bandeira em finais de março;

(ii) como habilitações literárias, tinha já os dois primeiros anos da Faculdade de Economia do Porto (, licenciatura que completou depois da tropa);

(iii) foi enviado para a EPAM  [Escola Prática de Administração Militar], em Lisboa, no Lumiar; acabou em junho a especialidade de SAM ], Serviço de Administração Militar]; promovido a aspirante, tinha uns dias de estágio, que acabou por não fazer por ter ido para o HMP,  na Estrela,  fazer Fisioterapia por cauda de acidente em fevereiro desse ano;

(iv) é mandado para o BC 10 em Chaves, onde deveria também fazer um estágio no CA, em julho, ("mas não fiz, pois não havia lá ninguém para me orientar; desenfio-me então porque não estava lá a fazer nada");

(v)  "sou mobilizado para a Guiné em 10Ago67 - curiosamente dois anos depois em 10Ago69 chego a Lisboa a bordo do UIGE -, mas ninguém sabe de mim; encontraram-me, fui a Chaves levei uma piçada do comandante, e só me disse que não me castigava porque já tinha um 'castigo maior', que era a Guiné...Fui com Guia de marcha para Santa Margarida fazer o IAO, e sei que o meu batalhão vai para a Guiné. Tudo bem, em vez de fazer alguma coisa para aprender mais da minha função, integro-me contra a vontade dos comandos, nas operações do IAO, e vou para a carreira de tiro onde utilizo todas as armas, até o dedo ficar esfolado"...

(vi) partiu de Figo Maduro, em 20 de setembro de 1967, num avião militar, com o comando avançado do BCAÇ 1933, para render o outro batalhão, o BCAV 1915, que seguiu para Bula ("embarco em 20 de setembro em Figo Maduro, chego a Bissau em 21, avanço para Nova Lamego  em 24 e regresso a Bissau em 27 de setembro, com objectivo de ir aprender mais alguma coisa na Chefia de Contabilidade, mas vou mais vezes para o Pilão e para a Piscina do Club em vez de ir para CC;  depois tenho de aprender sozinho, e cumpri as minhas funções sem nenhuma mácula."

(vi) faz o serviço no CTIG como alferes miliciano, sendo a sua especialidade o serviço de administração militar (SAM);  nessa qualidade, foi chefe do conselho administrativo (CA) do BCAÇ 1933, ou seja, o oficial mais perto do comandante de batalhão, que era um tenente-coronel;

(vii) não tendo sido um "operacional" propriamente dito, por isso, "contar muita coisa sobre operações em concreto, embora tivesse feito muitas colunas militares de reabastecimentos, quer por rio ou por estrada" [, a Madina do Boé, por exemplo], além de muitas patrulhas à volta dos aquartelamentos, e vivendo muitas vezes os bombardeamentos contínuos às posições [das NT]"

(viii) faz questão também de declarar que dá "um valor enorme ao sacrifício das nossas tropas": "conheço, por aquilo que leio agora, o que se passou e nós não sabíamos quase nada. Passaram mais de 40 anos até se perceber o que foi aquela guerra";

(ix) "esta reportagem - Bissau, parte I - pretende focar apenas a cidade e arredores de Bissau, as suas várias escapadelas, outras deslocações em serviço, as vivências e acima de tudo as loucuras da juventude, por esta cidade-capital, que, apesar de tudo, ficou marcada para o resto da vida";

(x) "os comentários que são feitos às fotos, são apenas de memória, o que veio à cabeça, e por consulta a vários elementos escritos, em especial aquilo que está escrito nas costas das fotos";

(xi) a esta parte o autor chama-lhe “As minhas Estadias por Bissau” ; deixa, para futura reportagem , o tema "Bissau – Parte II"; e aí sim, vai dar-lhe um nome sonante: “As minhas férias na Guiné”... que engloba tudo, Bissau, Nova Lamego e São Domingos, incluindo os aquartelamentos de Cacheu, Susana e as praias de Varela.

(xii) Comentário final do autor: "Mas sobre o CV falta lá o antes e o depois. Nada foi fácil, como se pode pensar, eu tenho no meu activo cerca de 60 anos de trabalho, e não parece, mas aos 12 anos já era contribuinte da segurança social - naquela época caixa de previdência - passei à situação de pensionista após 45 anos ininterruptos de trabalho e contribuições, por isso com 45 anos de descontos, dou de borla ao Estado 5 anos, pois só precisava de 40. Nem os aumentos de 100% da Guiné precisei deles. Mas nunca parei, e continuei na mesma vida, agora sem mais descontos e a receber a minha pensão. Neste momento apenas escrevo o Livro e comento nos Blogues, ajudo os filhos em burocracias quando eles precisam, pois tenho uma enorme experiência de muitas coisas"....


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T031 – Bissau - Parte 1 > (v) Março de 1968 > Legendagem (*)

F41 – No bar "A Meta" com um grupo de amigos e camaradas, no mês de Março quando o batalhão ], o BCAÇ 1933,]  esteve em Brá - Adidos - Bissau. Da esquerda para a direita: um soldado do batalhão, outro que não sei quem é, outro soldado irmão do Riquito, o Cabo Horta do CA [, conselho administrativo], a seguir eu, depois o Furriel Riquito do CA. Era o único lugar, bar ou pub, um clube privado, fechado, onde se poderia estar a beber uns copos tirando umas passas. Não havia mulheres nem raparigas, Só militares. Tinha uns jogos de carros para entretenimento. Bissau, Março68.

F49 – Estamos no Quartel dos Adidos em Brá, onde o batalhão [,o BCAÇ 1933,] passou o mês de Março 68. Estou de motorizada Peugeot, à porta da Messe de Oficiais. Em pé na porta o Espadana, que servia à mesa, era soldado condutor. Sentado atrás de mim, o nosso Capelão, já falecido entretanto, Alferes Graduado Moita. Bissau, Março 68.

F50 – Num bar – pub, chamado ‘A Meta’,  privativo, para sócios, com assinatura, com um conjunto de amigos e camaradas. Foi no período em que o meu Batalhão esteve um mês em Bissau – Março de 68 – e que deu origem a muitas visitas a quase todos os pontos da cidade. Eu tinha o movimento facilitado devido ao meu transporte privado – a minha motorizada, uma Peugeot e depois uma Honda, ambas com recurso ao crédito e a prestações.

Da esquerda para a direita, está o soldado condutor Espadana, que servia à mesa na messe de oficiais do nosso batalhão, outra pessoa que não me lembro quem é, a seguir o alferes Policarpo, (artolas, era o nome de guerra dele, depois juntando, o Verde, o Cachadinha e eu, formávamos aquilo a que passou a denominar-se ‘o pelotão dos artolas’ e partilhávamos a mesma tenda nas semanas de campo, em Mafra e na Carregueira). Ele fez a recruta em Mafra e especialidade na EPAM juntamente comigo e depois encontramo-nos em Bissau. Era do Porto, o pai tinha um restaurante na Rua da Madeira, ao lado da Estação de São Bento. Bissau, 25Mar68.

F51 – Na estrada do aeroporto a caminho de Safim num Domingo. A partir daqui depois de comer uns petiscos numa esplanada à beira da estrada, temos dois caminhos: Para a direita segue-se para Nhacra-Mansoa-Mansabá. Para a esquerda, para Bula, Binar. Acho que nesta altura porque ia outro atrás de mim, fiquei pela piscina de Nhacra. Mais tarde fui sozinho a caminho de Mansoa, quando fui mandado parar e regressar à base. Bissau, 11Mar68.

F60 – Junto com os meus dois ajudantes do CA, - Furriel Pinto e Furriel Riquito - junto a uma bolanha, no período de Março de 1968 quando o BCAÇ 1933 estava de serviço nos Adidos em Brá. Bissau, Março 68.

F68 – Um grupo de camaradas, num Domingo de passeio, na sombra de um frondoso e Grande Poilão, árvores enormes que seriam precisos 2, 3 ou 4 homens para a abraçar. Bissau, Mar68.

F69 – Um grupo de camaradas, numas matas – sem perigo - nos arredores de Bissau, no mês em que o BC1933 estava nos Adidos em Brá. Bissau, Março/68.
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