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quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22198: Blogues da nossa blogosfera (159): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (4): Descrição das Operações realizadas na zona de Bula no dia 5 de Maio de 1973 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)



Do blogue PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963-1974), que estamos a seguir e que é editado pelo nosso camarada José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974.


DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES REALIZADAS NA ZONA DE BULA – GUINÉ BISSAU

NO DIA 05 DE MAIO DE 1973


1 - A descrição dos factos ocorridos na Zona de Acção do Batalhão de Cavalaria 8320, sito em BULA (GUINÉ BISSAU) no dia 05 de Maio de 1973 foi em tempos motivo de publicação nas redes sociais e, a sua autoria atribuída ao então Capitão Salgueiro Maia.

Conhecendo bem Salgueiro Maia tendo tido oportunidade de com ele conviver desde 1965 na AM (Academia Militar), EPC (Escola Prática de Cavalaria) e, mais tarde na GUINÉ na qualidade de Comandante da Companhia de Cavalaria 3420 (Intervenção) colocados em BULA afirmei em comentário que mantenho e reitero:-

“ NÃO ACREDITO QUE SALGUEIRO MAIA SEJA O AUTOR DESTE ARTIGO “

“O MAIA pela sua conduta e serviços prestados na sua intensa actividade operacional não necessita de chamar a SI o protagonismo de uma Operação em que não teve intervenção, mas sim colaborou voluntariamente e de forma relevante no auxílio à recolha e evacuação de mortos e feridos”.

2 - Já este ano 2021 foi novamente publicado o mesmo texto acrescentando actividade em GUIDAGE.

Tomei a mesma posição acima descrita com a diferença de não me referir à actuacão de CCav 3420 quando da missão que lhe foi atribuída – ESCOLTAS para GUIDAGE (quando aguardava embarque por ter terminado a comissão) não porque dela não tivesse conhecimento.

Situação idêntica aconteceu ao então, também Capitão Infantaria Manuel Ribeiro de Faria. Se a elas me referisse, ou por aí enveredasse, teria que fazer referência a outros intervenientes que tiveram acções muito relevantes e, não esquecidas como tive oportunidade de o verificar pelo pedido de contacto telefónico de um camarada do meu curso Joaquim Reis (ao tempo Tenente e Comandante da Escolta de Segurança - Viaturas AML/PANHARD) por parte do hoje Coronel Manuel Ribeiro Faria.

3 - Em tempos tive oportunidade de fazer uma descrição dos acontecimentos numa página do Faceebook – AML/PANHARD e foi com alguma admiração que na sua transcrição/publicação é referido que “embora não tivesse o valor do que publicado em livro…………”.

Tal descrição (embora ligeira) teve única e simplesmente a intenção prestar a MINHA HOMENAGEM aos MILITARES da “METRÓPOLE” e naturais da GUINÉ-BISSAU que nessa Operação perderam a VIDA, foram FERIDOS e CAPTURADOS.

4 -Tendo plena consciência de que as interpretações variam com os observadores não envolvidos directamente (alguns sem conhecimento técnico-militar necessário e da situação) entendam fazê-lo “romanceando”; outros conhecedores das circunstâncias que conduzem a Operações desta envergadura, mas também desconhecendo tudo (informações, movimentação, indícios, etc, etc a que ela conduziu) decidam descrever com menos precisão a realidade.

Mesmo nestas condições o maior respeito quanto mais não seja por terem deixado uma referência a situações que NUNCA devem ser ESQUECIDAS.

Importa agora debruça-nos sobre as OPERAÇÕES realizadas no dia 05 de Maio de 1973 em simultâneo.


OPERAÇÃO GRANDE BURACO EM PONTAMATAR E OPERAÇÃO REALEZA NO CHOQUEMONE.

Não elaborando uma Ordem de Operações (que à época existiu) por forma a facilitar uma melhor e mais fácil compreensão (evitando terminologia militar com a qual nem todos estão identificados) não posso deixar de pontualmente a ter que utilizar.

1 - SITUAÇÃO GERAL

a. NT (Nossas Tropas)

Há época durante o período houve uma modificação sensível no dispositivo do Sector:-

Assim com a ida da CCav 3420 para BISSAU por haver terminado a Comissão de Serviço, a 1.ª CCav /BCav 8320 assumiu a posse do Sub-Sector de PETE destacando para os Destacamentos pertencentes a este Sub-Sector (PETE, CAPUNGA, JOÃO LANDIM), continuando os pelotões de Milicias em PONTA CONSOLAÇÃO E AUGUSTO BARROS.

Chegada da Companhia de Cavalaria 8353 (Intervenção) para rendição da Companhia de Cavalaria 3420.

b. IN ( Inimigo)

Neste período o IN mostrou-se particularmente activo aumentando os efectivos habituais nas suas bases/refúgios na Zona do CHOQUEMONE.

2 - SITUAÇÃO PARTICULAR

Em Março de 1973 assume as funções de Oficial de Operações do BCAV 8320 o então Tenente de Cavalaria Rui Santos Silva por designação do Comando do Batalhão.

Em Abril foram recebidas no Batalhão espingardas FN recondicionadas destinadas ao rearmamento dos Pelotões de Milícias.

Foram submetidas a verificação tendo sido detectadas diversas e frequentes avarias que na maioria dos casos não permitiam mais do que um tiro.

Seleccionadas as consideradas em condições foram distribuídas a um pelotão de 30 homens (Mílicias).

Quando da saída de qualquer força para qualquer tipo de acção o Comandante de Batalhão e Oficial de Operações estavam ser presentes podendo estar apenas um dependendo apenas efectivo e importância da missão.

Nesse dia coube ao Oficial de Operações que deparou com a seguinte situação. Pelas 03h00 (hora de saída) dos 30 homens do Pelotão de Milícias compareceram apenas 14 “armados” com paus de vassouras ou semelhantes. Situação resultante da desconfiança que as armas FN recondicionadas tinha provocado.

Decidi mandar abrir uma arrecadação e armar os 14 homens com o melhor armamento disponível acompanhando-os na missão.

Tratou-se da montagem de uma emboscada no CHOQUEMONE sem contacto. Retiramos do local efectuando uma pequena incursão pela zona do PETABE e HORTA DO ANANASES tendo sido recolhidos na estrada BULA – BINAR (junto a um local designado por Placa) por duas viaturas UNIMOG escoltadas por duas AML/PANHARD.

Uns dias depois sou informado pelo Senhor Comandante de Batalhão TENENTE-CORONEL ALFREDO FERREIRA DA CUNHA que nesse dia tínhamos sido observados por um Grupo do PAIGC (com efectivo de cerca de 150 homens) que só não reagiu dada a proximidade do Destacamento de CAPUNGA.

O efectivo normalmente presente no CHOQUEMONE era substancialmente mais baixo.

Tratava-se dum local de refúgio/base muito importante, um local de passagem para OESTE da GUINÉ com destino à CABOIANA e outros refúgios/bases ou para preparação de ataques a aquartelamentos do sector de BCav sito em BULA e, com alguma probabilidade a tentativa de aproximação a BISSAU fazendo a travessia no Rio MANSOA.

Equacionadas estas modalidades/intenções entendeu o COMANDO DO BATALHÃO actuar.

3 - MISSÃO

Executar acções tendo como objectivos as bases do IN no CHOQUEMONE e PONTAMATAR

À CCav 8353 atribuir a zona de PONTAMATAR. Designada por “OPERAÇÃO GRANDE BURACO”

Na zona do CHOQUEMONE actuação de tropas conhecedoras do terreno e com elevada experiência operacional. Designada por “ OPERAÇÃO REALEZA”

4  - EXECUÇÃO

OPERAÇÃO GRANDE BURACO

A CCav 8353 (a 2 pelotões) reforçada com um pelotão da 1ª CCav/BCav 8320 ( 1 ano de actividade operacional ) deslocou-se para a zona de PONTAMATAR cerca das 03h00 do dia 05 de Maio iniciando a actividade cerca das 07h00 que foi dada por terminada pelas 10h30. Não houve contacto com o IN.

OPERAÇÃO REALEZA

As informações do possível aumento dos efectivos presentes no CHOQUEMONE obrigaram ao planeamento de uma Operação de Grande Envergadura com Unidades que conhecessem muito bem a zona e tivessem grande experiência de Combate recorrendo aos Pelotões de Milícias sob a dependência do Batalhão, bem como à Companhia Africana sediada em BINAR.

A CCav 3420 comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (ainda em quadrícula) estava a aguardar a ida para BISSAU por ter terminado a sua Comissão. A não ser em última instância é que o Comando do Batalhão a aplicaria na Operação.

Assim a missão foi atribuída aos Pelotões de Milícias 291, 293, 341 (a 35 homens cada) e à Companhia de Caçadores 17 (Africana) sita em BINAR com 2 pelotões posicionadas de forma a evitar uma possível incursão/acção sobre o Aquartelamento em Binar.

DESENROLAR DA OPERAÇÃO

Montado o dispositivo, cerca das 07h00 foram ouvidos alguns disparos e conjuntamente com o Comandante de Batalhão ( com quem me preparava para tomar o pequeno almoço) fomos de imediato para a Sala de Operações e do Posto Rádio – anexo à Sala – entrei em contacto rádio procurando saber o que se estava a passar.

O radiotelegrafista responde-me solicitando um instante porque se preparava para disparar sobre um elemento IN (elemento participante de patrulha de segurança ao Grupo IN acampado na zona).

De imediato ouviu-se um tiroteio de alguma intensidade fruto do contacto com o Pelotão de Milícias 341 (coord. Bula 5 B4.51) sem consequências para as NT. IN resultados desconhecidos. Pelas 07h30 novo contacto com IN desta vez com enorme intensidade em consequência da fuga para Norte do Grupo IN (em acampamento provisório com um efectivo calculado em cerca de +/- 100 elementos ) que deparou com o Pelotão de Milícias 293 ( coord. Bula 5 A4.64 ).

NT 03 mortos e 01 desaparecido e desmembramento do pelotão.

IN mortos prováveis e feridos confirmados.

Conseguiu-se novo contacto rádio e fui informado pelo radiotelegrafista que estava sozinho, mas avistando ainda alguns camaradas.

Informei-o de que se deviam dirigir ao SOL (Sul) e aguardassem recolha na Estrada para BINAR.

Com a concordância do Comandante do Batalhão foi solicitado o apoio ao ESQUADRÃO AML/ PANHARD para que se dirigisse à Estrada BULA-BINAR que de imediato se deslocou para o local.

Dado o distanciamento do Posto de Comando em BULA sugeri que fosse criado um Posto de Comando Avançado (PC 2), sito em CAPUNGA – aquartelamento de um dos pelotões da CCav 3420 a uma distância da área de acção de cerca de 3 km e, por decisão e delegação do Comando do Batalhão desloquei-me para o local onde permaneci até ao final da Operação.

Em coordenação com o PC 1 e, como conhecedor do posicionamento das NT (coube-me o planeamento da Operação com a aprovação do Comando) iniciei as acções necessárias por forma a ter uma noção o mais exacta possível das NT tendo como intenção o pedido de utilização da Artilharia o que se tornou impossível após os contactos já referidos e ao desmembramento do Pelotão de Milícias 293.

Pelo Pelotão 341 foi localizado o acampamento da Força IN ( entre as coordenadas Bula 5 B4.51 e Bula 5 A4.64 ).

Informando o PC 1 foi solicitado o apoio da Força Aérea (Fiat’s), mas como à época já era utilizado o míssil Terra-Ar STRELA a nossa Força Aérea dava apoio a 5.000 pés de altitude.

Chegados ao local estabeleceu-se dialogo com um dos pilotos a quem dei as coordenadas e me solicitou informação de que não haveria NT num raio de 3 Km em relação ao OBECTIVO.

Foi efectuado um único lançamento (penso de bomba de 750 libras) que foi observado no PC 2. Da eficácia falarei mais à frente.

Entretanto os contactos já com menos intensidade iam acontecendo havendo necessidade de reforços.

Assim pelas 10h30 da manhã o Comando do Batalhão deu por terminada a Operação GRANDE BURACO em PONTAMATAR e com o apoio uma vez mais do Esquadrão AML/PANHARD foram recolhidos na Estrada BULA – S. VICENTE com destino a CAPUNGA.

Pelas 13h00 compareceu em CAPUNGA o 2.º Comandante de Batalhão (MajCav César Monteiro) que recebeu a CCav 8353 comandada pelo Capitão Miliciano Calado.

O estado de espírito da Companhia depois de uma Operação que apesar de não ter tido consequências não deixou de ser o primeiro contacto com a mata e a realidade da Guerra não era o melhor para enfrentar uma situação de risco elevado. É tomada a decisão de um Grupo de Combate entrar em acção perto de um local denominado Horta dos Ananases.

Em situações desta natureza em que o IN se encontra “encurralado” é sabido que para se protegerem se aproximam das NT ou dos nossos Aquartelamentos procurando evitar a acção da Artilharia e Morteiros.

Também quando em retirada após emboscada nunca fugiam na perpendicular, mas sim para as zonas laterais (esquerda ou direita).

Cerca das 13h30 chega a CAPUNGA o Capitão Salgueiro Maia vindo de PETE (sede da Ccav 3420) que comandava. Atento, Solidário e Incapaz de se manter como observador veio fazendo jus à sua experiência operacional dar o apoio possível à situação que se vivia que se veio a tornar imprescindível e muito relevante.

Pelas 14h00 o Grupo de Combate da Ccav 8353 inicia o movimento para o local atrás indicado. A distância era pequena com pouca arborização e deparam com um Grupo com pessoal branco e camuflados idênticos aos nossos (NT).

Os segundos de hesitação e infelizmente a inexperiência foram fatais. Tratava-se de um Grupo IN que de imediato reagiu causando 04 mortos (1 furriel) e 08 feridos (05 graves).

IN com mortos e feridos prováveis.

O Capitão Salgueiro Maia foi com 2 Unimog’s resgatar os feridos e mortos. Procurámos por todos os meios fazer um garrote a um dos feridos, mas todos os esforços foram em vão.

Mais uma vez a Força Aérea esteve presente com 3 Heli-Canhões, mas nada puderam fazer.

A evacuação de feridos fez-se a partir da pista ou heliporto de BULA.

A OPERAÇÃO continuava e cerca das 16h30 novo contacto em Bula (Coord. A4.64) após entrada no acampamento (bombardeado pela Força Aérea) onde foram recolhidos peças de fardamento e equipamento, utensílios, diversos documentos, munições de armas ligeiras e acessórios de armamento.

Encontrados também muitos géneros alimentícios que foram destruídos e observadas grandes manchas de sangue.

Na ausência de evacuações pela Força Aérea da mata deslocou-se à zona integrado num Grupo de Combate o médico do Batalhão, Alferes Ribeiro que assistiu no local o ferido resultante do contacto acima referido. Com o aproximar do fim do dia foi decidido fazer regressar todos os efectivos empenhados dando como terminada a OPERAÇÃO REALEZA.

Pelas 18h50 BULA foi flagelada com 08 foguetões 122 com provável base de fogos localizada em Bissauzinho.

Reagimos com Artilharia 14, morteiros 10,7 e um Pelotão do Esquadrão AML/ PANHARD deslocou-se para a Estrada BULA – S. Vicente impedindo qualquer aproximação de BULA que só podia ser feita antes do km 4 ou após o km 10 ( do Km 4 ao Km 10 existia um campo de minas com 100 metros de profundidade ).

Todos os foguetões caíram na periferia do Aquartelamento provocando 05 feridos (graves) população e incendiando algumas tabancas.

À chegada ao aquartelamento em BULA tive conhecimento da permanência de uma Companhia de Paraquedistas ( enviada para reforço ), mas que não chegou a intervir.

Cerca das 0h00 fui acordado pelo Comandante de Batalhão para me deslocar novamente a CAPUNGA onde foi colocada a Companhia de Paraquedistas que aí pernoitou.

No dia seguinte 06 de Maio fomos visitados pelo Comandante do COP 1 (Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO), sito em MANSOA de quem o BCav 8320 dependia manifestando a sua admiração pela brilhante actuação do BCav e de todas as Forças empenhadas.

Autor
Rui Borges Santos Silva
Coronel de Cavalaria na Reforma (ao tempo Oficial de Operações do Batalhão 8320)
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Notas do editor

Poste anterior de 21 de Janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21792: Blogues da nossa blogosfera (147): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (3): Nos dias da guerra: As Panhard em Guidage (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22139: Blogues da nossa blogosfera (158): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (67): Palavras e poesia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21792: Blogues da nossa blogosfera (147): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (3): Nos dias da guerra: As Panhard em Guidage (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)



Do blogue PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963-1974), que estamos a seguir e que é editado pelo nosso camarada José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974.


NOS DIAS DA GUERRA: AS PANHARD EM GUIDAGE

O ano de 1973 trouxe ao conflito que nos opunha ao PAIGC, novos desenvolvimentos no terreno com a introdução por parte destes de novo armamento, nomeadamente dos misseis terra-ar Strela-2M e que viriam a condicionar a ação dos meios aéreos. Mas igualmente dos seus objetivos de luta criando uma maior pressão sobre as unidades de quadrícula, ao qual o PAIGC somava vitórias no campo diplomático, e que procuravam igualmente criar condições para uma transição da guerra de guerrilha que até ai desenvolviam para uma guerra de carácter mais convencional. Intenção expressa no então desenrolar do designado INFERNO DOS 3 Gês: GUIDAGE, GUILEJE E GADAMAEL.

Durante o mês de Maio, desse ano o PAIGC desencadeou no Norte da Guiné a “Operação Nô Pintcha” mantendo o aquartelamento de Guidage sobre flagelação com a finalidade de o isolar, levando ao seu abandono e à sua posterior ocupação, através de um cerco realizado por um grande número de forças equipadas com meios de infantaria artilharia, foguetões, morteiros e mísseis.

Para concretizar esse objetivo foram também deslocados um elevado número de elementos e de meios para neutralizar a circulação entre Binta e Guidage através de ações que impedissem qualquer tentativa de abastecimento da unidade.

Ao fim de mais de um mês de cerco e de seis colunas de reabastecimento a Guidage, apenas em Junho o PAIGC voltou a flagelar o aquartelamento, o que indiciava que desistira desse objetivo, agora centrado a Sul em Guileje.


MISSÕES DO ESQUADRÃO

“Ao Esquadrão foram atribuídas diversas missões, em especial, escoltas e proteção a colunas, ações de presença, vigilância móvel dos itinerários e segurança a pessoal em trabalho num campo de minas.”

“Um pelotão foi destacado para reforço do BCaç 3832 até 16Jul72, instalando-se em Jugudul e Mansoa. Por períodos variáveis, cedeu ainda pelotões para reforço de diversos batalhões os quais foram destacados para Bissorã, de 05Out72 a 20Abr73, na dependência do BCaç 4610/72:”

“Para Catió, de 20Abr73 a meados de Set73, na dependência do BCaç 4510/72 e para Mansoa, a partir de 14Set73, na dependência do BCaç 4612/72, com vista a colaborar na segurança e proteção dos trabalhos das estradas em construção e das colunas de reabastecimento e de transporte de materiais.”


Fonte: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) (2002). 7.º Volume – Fichas das Unidades - Tomo II – Guiné. Lisboa: Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). 1.ª Edição.

Como missão específica atribuída, a este ERec, destaca-se a proteção do pessoal da Tecnil na construção das seguintes estradas:

Catió – Cufar
Bissorã – Mamedão
Jugudul - Bambadinca

Na sequência destes destacamentos um PelRec do ERec 3432, destacado em Mansoa, terá integrado uma coluna de reabastecimento a Guidage.

Nota: as fotos publicadas foram retiradas de a "Guerra" Episódio 32, de Joaquim Furtado - RTP1.

Em 15Jun saiu uma coluna auto de Guidage com destino a Binta, abrindo novo itinerário. A força era constituída por 1 GComb/1.ª/BCaç4512/72, Pel Sap do BCaç 4512/72, GMil 342, 1 Sec AM “Panhard” do ERec 3432, Pel Caç Nativos 56 e 65.

Fonte: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) (2015). 6.º Volume – Aspectos da Actividade Operacional - Tomo II – Guiné. Livro III, Lisboa: Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). 1.ª Edição.

Esta referência confirma a ida deste Pel Rec, embora se refira apenas à sua saída.

Esta é também descrita pelo ex. Fur Mil Cav Armando Lopes, ao Correio da Manhã num texto intitulado “A Minha Guerra”.

“Numa operação, tocou-nos dar proteção a uma coluna de reabastecimento para Guidage – um aquartelamento da nossa tropa, praticamente em cima da fronteira com o Senegal, país onde o PAIGC tinha instaladas as bases de apoio. A zona de Guidage escondia as principais rotas dos guerrilheiros para o interior da nossa província. Dias antes da operação, estalara um violento combate entre a nossa tropa e a guerrilha. Quando seguimos para Guidage, colados à coluna de reabastecimento, encontrámos pelo caminho as marcas dessa batalha: vimos as enormes crateras na picada e os destroços calcinados e retorcidos de camiões Berliet de transporte de pessoal. Soubemos, depois, que a tropa portuguesa tinha conseguido aguentar o ataque mas deixou para trás algumas viaturas. A Força Aérea bombardeou as Berliet abandonadas para impedir que caíssem nas mãos dos guerrilheiros. Chegámos sem problemas a Guidage, onde passámos a noite, e no dia seguinte segui com o meu esquadrão a caminho de Mansabá.”

Fonte: https://esquadraodebula.blogspot.com/search/label/Armando%20Lopes

Em conversa posterior, lembra-se que teriam ficado apenas uma noite, dormindo nas Panhard e saído no dia seguinte.
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Notas do editor:

Poste anterior de 3 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21220: Blogues da nossa blogosfera (135): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (2): Modelo à escala da Panhard AML 60, MX-03-19, do EREC 3432 (1972/74). Autor: João Tavares, da Associação de Modelismo do Montijo (José Ramos)

Último poste da série de 20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21666: Blogues da nossa blogosfera (146): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (57): Palavras e poesia

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21220: Blogues da nossa blogosfera (135): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (2): Modelo à escala da Panhard AML 60, MX-03-19, do EREC 3432 (1972/74). Autor: João Tavares, da Associação de Modelismo do Montijo (José Ramos)


Guiné > Região de Cacheu > Bula > EREC 3432 (1972/74) >  Panhard AML MX-03-19. Guarnição: Daniel Salgueira, aspirante miliciano cmdt; Ferreira Rosa, apontador; e Júlio Araújo (condutor)








Notável reprodução, em miniatura, da Panhard AML 60, matríula MX-03.19, do EREC 3432 (Bula, 1972/74). Cortesia do blogue do José Ramos, Esquadrão de Bula.


José Ramos
1. Do blogue Esquadrão de Bula, que estamos a seguir, e que é editado pelo  nosso camarada José Ramos,  ex-1º cabo cav, condutor de Panhard, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974 [, membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de outubro de 2018,  com o nº 778, vive na Lourinhã e  pertence à  Liga dos Combatentes-Núcleo de Torres Vedras]


28 de julho de 2020 > Modelismo militar

O  modelismo militar permite recriar em escala reduzida diferentes tipos de armamento, de que são exemplo os veículos militares.

João Tavares enviou-nos o seu modelo da Panhard AML 60, inspirada na que o seu amigo e nosso camarada Daniel Salgueira comandou na Guiné e onde,  para além dele, estão representados o Júlio Araújo (condutor) e o Ferreira Rosa (apontador).

Pelo magnífico trabalho e pela partilha um muito obrigado,  João.

2. Comentário do editor LG:

Descobri que o João Tavares pertence à AMM - Associação de Modelismo do Montijo, com página aqui no Facebook. E tem um porfólio notável no dominio do modelismo, civil e militar.

A AMM foi criada em 1998 e tem hoje como objetivo a partilha de saberes e experiências, mostrando que o modelismo é bem mais do que a “construção de miniaturas à escala”...

Para quem não sabe, é no Montijo que, anualmente, se realiza o maior evento nacional dedicado ao modelismo.

Tiro aqui o quico ao talento do João Tavares e fico grato pela generosa  partilha deste modelo da Panhard AML 60 nas redes sociais.
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Nota do editor

sábado, 22 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19036: Blogues da nossa blogosfera (105): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (1): Criado e editado por José Ramos, ex-1º cabo cav, EREC 3432 (1972/74)



1. Estava eu hoje no mercado municipal da Lourinhã, por volta das 11h00, quando fui abordado por alguém, que me tratou pelo nome...
 
Imaginei logo que fosse um camarada da Guiné, que me reconhecesse pelo blogue... E assim era: José Ramos, ex-1º cabo cav, apontador de Panhard, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974, juntamente com o nosso grã-tabanqueiro e escritor, Leonel Olhero, ex-fur mil cav 1971/73. Falámos logo de outros nomes ilustres da arma da cavalaria, que passaram por Bula, nesta época: o Salgueiro Maia, o Manuel Monge... Sobre o ERec 3432 temos apenas 5 referências no nosso blogue.

O José Ramos mora atualmente na Lourinhã, no Casal Santos, faz parte da direção do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes. Tem página, pessoal, no Facebook, e e criou em 2014 o blogue Panhard Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974. O blogue tem cerca de 18,8 mil visualizações de páginas.

Há referências a outros EREC: 2454, 2641, 8740/73, bem como aos Pel Rec Panhard 1106 e Pel Rec AML 202, e ainda aos BCAÇ 2926 e BCAV 8320/72.

Este segue, e cita, entre outros o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Fui entretanto recuperar uma mensagem do José Ramos, de 8 de março de 2014 a que, lamentavelmente, não foi dada a devida resposta em tempo oportuno.  Fica aqui, para conhecimento dos nossos leitores, e com pedido de desculpas por parte do editor.

Reitero o convite que fiz ao José Ramos, na Lourinhã, para integrar a nossa Tabanca Grande, com todos os direitos e deveres que nos assistem. Somos já 777 membros, dos 3 ramos das Forças Armadas,  dos quais  66 falecidos. Mais camaradas da arma de cavalaria são, naturalmente, bem vindos.

Acrescente-se que o José Ramos, de acordo com a sua página pessoal: (i)  é coordenador da ação social da Liga dos Combatentes-Núcleo de Torres Vedras; (ii)  estudou Ciências Sociais Aplicadas em Universidade Aberta - UAb; e  (iii) estudou Serviço Social na mesma universidade.


2. Mensagem do nosso camarada José Ramos:

Data: sábado, 8/03/2014 à(s) 20:10

Assunto: Esquadrão de Bula

 Meus caros,

Venho acompanhando ao longo do tempo o vosso blogue, sempre na expectativa de ver mensagens sobre os Pel Rec e ERec que operaram as Panhards na Guiné, o que  espaçadamente foi aparecendo, através de camaradas que estiveram nas unidades ou de quem com eles conviveu ou viu as viaturas a operar no terreno.

Nunca participei no blogue pois tinha auto-proposto o desafio de  criar um que falasse do Esquadrão, onde estive de 1972-1974, das histórias e estórias em seu redor e da Panhard.

Algo que o tempo apenas agora permitiu, através do esquadraodebula.blogspot.pt que vos apresento.

Para documentar algumas mensagens venho solicitar a vossa autorização,  para pontualmente, citar algumas das vossa postagens ou usar fotos, com a devida referência, ficando desde já autorizado o contrário.

Com um abraço de camaradagem,
José Ramos

3. Ficha da unidade: EREC 3432 (reproduzida com a devida vénia do blogue Panhard, Esquadrão de Bula, poste de 8/3/2014):

(i) Unidade mobilizadora: Regimento de Cavalaria 7 (RC 7)
(ii) Comandantes:  Cap Cav Henrique António Costa de Sousa; Cap Cav Armindo José Pinto Machado
(iii) Divisa: Panhard
(iv) Partida/Regresso:  1ª Fase – Lisboa, 25Ago71(Bissau, 03Set71) / 05Out73 | 2.ª Fase – 30Mai72/06Jul74
(v) Síntese da Atividade Operacional:

“Em 07Set71, a 1.ª fase da subunidade integrou os efectivos do ERec 2641, em substituição da 1.ª fase desta subunidade, tendo-se instalado em Bula.

Em 30Mai72, após o desembarque, a 2.ª fase da subunidade seguiu para Bula, a fim de efectuar a adaptação e sobreposição com o ERec 2641.

Em 18Jun72, substituiu o ERec 2641, enquadrando a 1.ª fase da antecedente integrada neste, como subunidade de reserva móvel de intervenção do BCaç 2928 e depois do BCav 8320/72, ficando colocado em Bula.

Um pelotão foi destacado para reforço do BCaç 3832 até 16Jul72, instalando-se em Jugudul e Mansoa. Por períodos variáveis, cedeu ainda pelotões para reforço de diversos batalhões os quais foram destacados para Bissorã, de 05Out72 a 20Abr73, na dependência do BCaç 4610/72:

Para Catió, de 20Abr73 a meados de Set73, na dependência do BCaç 4510/72 e para Mansoa, a partir de 14Set73, na dependência do BCaç 4612/72, com vista a colaborar na segurança e protecção dos trabalhos das estradas em construção e das colunas de reabastecimento e de transporte de materiais.

A partir de 11Abr73, integrou a 1.ª fase do ERec 8740/72, então chegado para reforçar os efectivos da subunidade e depois render a 1.ª fase desta.

Em finais de Abr74, foi substituído pelo ERec 8740/72 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.”
Observações: Tem História da Unidade – só até 31Mar74 (Caixa n.º 127-2.ª Div/4.ª Sec do AHM)

Fonte: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) (2002). 7.º Volume – Fichas das Unidades - Tomo II – Guiné. Lisboa: Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). 1.ª edição.