Guiné > Bissalanca > 1966 > Comandos a caminho de Bafatá, junto ao Dakota para operações na região do Xitole.
Marcelino da Matam, então 1º cabo, é o primeiro da esquerda, na segunda fila, de pe. O alf mil Briote é o segundo, a contar da esquerda, da primeira fila. O Capitão Rubim (hoje cor art na reserva) é o 6º da primeira fila, também a contar da esquerda.
Guiné > Bissalanca > 1966 > Comandos a caminho de Bafatá, junto ao Dakota para operações na região do Xitole. São essencialmente elementos do Gr Cmds Diabólicos, de que era comandante o nosso querido amigo, camarada, grã-tabanqueiro e editor (jubilado) Virgínio Briote, para quem mandamos um xicoração fraterno e que esperemos reencontrar em Monte Real, no dia 14 de junho próximo.
Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
1. Vai fazer 50 anos, para o ano, o célebre baile dos finalista da Escola Técnica de Bissau (e não propriamente do Liceu Honório Barreto), que ficou bem gravado na memória de alguns dos camaradas que pertenceram aos comandos do CTIG (Brá, 1965/66) como foi o caso dos nosso grã-tabanqueiros Virgínio Briote (, um histórico do nosso blogue, como autor e coeditor), João Parreira e Luís Raínha...
O Virgínio e o João já publicarm, na I Série, em 2005, a sua versão dos acontecimentos dessa noite, em que um grupo de militares, comandos e outros, forçaram a entrada no baile, por vol,ta das 2 h da manhã, e travaram-se de razões com os organizadores. Os desacatos que se seguiram obrigaram à intervenção da Polícia Militar e da PSP. No final, acabou tudo à boa maneira portugesa, com umas porradas para uns bodes expiatórios e pedidos de desculpa do governador Schulz à Associação.
Não nos compete julgar o comportamento de nenhuma camarada nosso, de acordo com o espírito e a letra das nossas normas editoriais. Cenas destas passaram-se na metrópole, envolvendo civis e militares. Mas. neste caso, estamos num território em guerra, e numa cidade, Bissau, ainda em pleno desenvolvimento, mas com sinais de crispação entre os militares, metropolitanos, e a elite crioula...
Juntamos aqui 3 depoimentos, de camaradas nossos que estavam lá nessa noite: além do Virgínio e do João, o Luís Rainha (que é também o fundador., administrador e editor principal do blogue Comandos da Guiné- 1964 a 1966, co-editores: Júlio Abreu e João Parreira, os três também membros da nossa Tabanca Grande).
Os acontecimentos tiveram lugar na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau, mesmo nas barbas do Governador Arnaldo Schulz.
Não encontrámos até à data nenhuma versão da parte dos civis, organizadores do baile ou da direção da associação, muito menos do PAIGC (que ocupa hoje este edifício, de resto o melhor edifício da Bissau colonial, segundo a conceituada especialista em arquitetura colonial estadonovista, a Ana Vaz Milheiro, já aqui vátias vezes falada).
Não sabemos de eventuais ligações, nesta época, ao PAIGC; por parte da direção ou de alguns membros dos corpos sociais da Associação Comercial e Industrial de Bissau, como parece insinuar o Luís Rainha no seu depoimento. O EliséeTurpin foi secretário-geral desta Associação, de 1973 a 1976, e não em 1965 (como já escreveu algures o Virgínio Briote), O que é mais espantoso é como é que o homem conseguiu escapar às malhas da PIDE/DGS, vivendo à luz do dia em Bissau... Nunca foi preso... Afinal tratava-se, nada mais nada menos, de um dos fundadores do PAIGC, em 1956!... Só há uma explicação, quanto a mim: a escola de resistência do PCP-Partido Comunista Português, de que o Elisée Turpin também era (ou tinha sido) militante...
Esta junção dos três textos, para além de uma homenagem aos seus autores (e muito em particular ao nosso editor jubilado Virgínio Briote que superou um grave 'roblema de saúde, do foro oftalmológico, ainda não há muito tempo) , é também uma forma de dar a conhecer melhor, aos nossos leitores mais recentes (ou "piras"), o ambiente que se vivia em Bissau, em meados de 1965, no tempo do Arnaldo Schulz, o general que antecedeu o António Spínola.
Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal). O melhor edifício da cidade, segundo Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura colonial estadonovista. É hoje sede... do PAIGC!
Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (20q0). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
Guiné > Brá (?) > Setembro de 1965 > Virgínio Briote, ao centro, tendo à sua esquerda o Marcelino da Mata e o Azecedo e *a sua direita o Black e o Valente
Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
(i) A versão (ligeiramente ficcionada) do Virgínio Briote,
ex-alf mil, comando, cmdt do Gr Cmds
Diabólicos (CTIG, Brá, 1965/66)
[Os parênteses retos, em itálico, são da responsabilidade do editor, LG]
Morreu um tipo de um país qualquer, o Salazar decretou 3 dias de luto e lá estamos nós a ouvir música de mortos com a nossa bandeira a meia haste. Custa-me engolir estas histórias quando os nossos mortos estão a ser ignorados.
Fala-se no próximo baile de finalistas, que vai ser uma festa de arromba! Alguns dos nossos vão roncar com as namoradas ou com os arranjinhos. O Uva [, João Parreira,] anda todo satisfeito, até o Quintanilha, aquele alferes dos páras, mandou vir da metrópole um fato de cerimónia.
Quando estive de férias na metrópole logo a seguir à formação dos grupos, os Fantasmas accionaram uma mina e foi o que se sabe, 9 dos nossos já lá estão. Entre eles, o meu grande amigo Artur. Morrem-nos 9 homens e a Emissora Nacional continua a twist e ié-ié. É isto que me custa engolir, estão a ouvir? E ainda por cima, cabo-verdianos e alguns sectores guineenses não vêem com bons olhos a nossa presença nas festas deles!
Mas que raio estava aqui a fazer? A Guiné não lhe estava a dizer nada, não a sentia como sua, até se sentia um intruso. Até com os civis brancos, poucos, duas dúzias se tanto, sentia-se sem convite.
Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu [, ou melhor, Escola Técnica de Bissau]. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir?
Dentro da Associação, no enorme salão de baile, finalistas e familiares todos animados a dançarem, com o Toni ao piano. Quando os viram entrar em fila, alto lá e pára o baile!... Depois, ninguém soube bem como tudo começou…
A princípio, as frentes pareciam bem delimitadas, os participantes em festa de um lado e a meia dúzia de intrusos do outro. Com o decorrer das hostilidades, as duas partes em confronto clarificaram-se ainda mais. Entre vivas ao camarada Presidente Amílcar, um pelotão da PM entrou por ali dentro, despachou tudo o que lhe apareceu pela frente, trinta e tal tipos com escoriações para o hospital, a polícia civil e a pide também metidas. Vidros e loiças em cacos, cadeiras e mesas partidas, uma noite que nunca mais acabava.
Mesmo em frente ao Palácio do Governo, onde, soube-se depois, da janela, o Governador [, gen Arnaldo Schulz,] via aqueles gajos darem-lhe cabo da psico. Uma vergonha!
Os acontecimentos na Associação Comercial alteraram o ambiente na cidade. A desconfiança entre a população negra, cabo-verdiana e a tropa, os nervos crispados, a porcaria mais ou menos submersa, subiu tudo. Tentava-se levar a vida normal, mas via-se pouca gente nas ruas, sobretudo à noite. A PM aumentara os patrulhamentos. O PAIGC, como lhe competia, aproveitava e tirava dividendos.
Nos dias a seguir ao sucedido choveram exposições no Palácio, sete, dissera todo cheio de importância o ajudante de campo do Governador. O General Shulz recebera numerosas individualidades civis, apresentara desculpas formais à Associação Comercial e aos finalistas, prometera pagar os prejuízos, tomar providências enérgicas, o habitual nestes casos.
Em Brá, o capitão [, da CCmds / CTIG, Nuno Rubim,] interrompeu os desenhos que estava a fazer quando o viu entrar. Começou por lhe dizer que as saídas para a cidade estavam proibidas. Depois, pediu-lhe explicações. Que se tudo tinha acontecido como se contava, que não tivesse dúvidas que haveria consequências. O Governo da Província estava a ver o programa de pacificação a andar para trás, que aguardasse o auto de averiguações, que era tudo, chutara o capitão, cada vez mais longe dele e dos outros. Logo a seguir deu-lhe ordem para ir para o Xitole, o grupo deveria manter-se lá até nova ordem, sem mais detalhes. Bater a zona, procurar o IN, dar-lhe caça, para que é que havia de ser?
Embarcaram num Dakota até Bafatá, depois apanharam boleia numa coluna auto que os levou para Fá, rumo ao Xitole, numa coluna a abarrotar de abastecimentos.
Até Fá Mandinga o percurso foi-se fazendo. Depois, até ao Xitole, foram sempre debaixo de chuva, os quilóemtros nunca mais acabavam, as viaturas civis que aproveitaram a boleia não estavam preparadas, metiam-se na lama até à carroçaria. O Corubal parecia o Atlântico quando o atravessaram. Chegaram no outro dia à noite, com os reabastecimentos reduzidos a metade, alguns destruídos pelas águas, outros desapareceram, ninguém soube dizer como.
Mantiveram-se lá quase 3 semanas, contactaram com o IN nas proximidades do Galo Corubal, em Satecuta [, subsetor do Xitole, na maregm direita do Rio Corubal] , sem consequências para além de trocas de tiros à distância.
Da estadia no Xitole o que os marcou mais foi a chuva. E o toque a silêncio, tocado à noite por um profissional da corneta. Um solo de requinta, de arrepiar!
Percurso inverso, quase a mesma história, com a diferença de ter sido feito a pé até Bambadinca.
Dias depois em Brá, um capitão procurou-o, queria ouvi-lo para o tal processo que estava a decorrer, já tinha ouvido os outros, só faltava ele. O que tinha acontecido, como, quando, porque é que, quem fora o cabecilha, leia, assine aí em baixo, alferes Gil Duarte [, alter ego do autor.,]se estiver de acordo.
À noite fora até Bissau, encontrar-se com os companheiros do costume. Passaram-lhe para as mãos a Plateia, uma revista de cinema que saía em Lisboa. Folheou-a, os olhos na Brigitte Bardot a fazer festas no focinho de um burro, um pé da Sofia Loren num banco a tirar a meia preta com um tipo qualquer deitado numa cama, à espera. Parou numa página. Crónica da Guiné na Plateia, ora deixa ver! Uns arruaceiros tinham invadido as instalações da Associação, interromperam a festa dos finalistas e partiram tudo, à boa maneira dos teddy-boys de Liverpool e Manchester, escrevia escandalizado o correspondente [, que assinava Joaão Benamor]. Olharam uns para os outros, calados.
Fica assim, perguntou alguém? Que não, que era melhor falar com o correspondente, esclarecê-lo, tirar-lhe as dúvidas. Bissau era pequeno, foram até à esplanada do [Café] Bento [, a 5ª Rep], disseram que ele devia estar lá para cima, no café Império.
Encontraram-no, estiveram com ele, explicaram-se uns aos outros. Não foi logo na Plateia seguinte, mas a rectificação leram-na dois meses mais tarde, acompanhada de um cartão com os melhores cumprimentos.
Entraram no gabinete, fizeram-lhe a continência e puseram-se os 5 em linha, aprumados [, 2 alferes e 3 furrieis, todos dos Cmds / CTIG]. O Brigadeiro Sá Carneiro, Comandante Militar, mexia nuns papéis em cima da secretária, não encontrava, abriu gavetas, ah, estão aqui, satisfeito. Quando levantou os olhos para eles, mudou de cara.
Ora bem, meus senhores, antes de mais, devo manifestar-lhes a pena que tenho de os ter aqui nestas circunstâncias. Já tive convosco manifestações de apreço, quando o mereceram, o que não é o caso desta vez, infelizmente. Relatar aquilo que ficou apurado, é desnecessário…
Puno o alferes comando…., olhava primeiro para o citado, escrevia depois, três, cinco dias de prisão simples, o critério nunca se soube, porque no dia tal, às tantas horas,…grave prejuízo para a tranquilidade e bem-estar públicos…contrariando os esforços que o governo da Província…a lenga-lenga igual para todos.
Não sabia porquê, tinha apanhado três dias de prisão, a pena mínima, sabia lá, cara fechada para o Justo [1º cabo, guineense, do Gr Cmds Diabólicos, mais tarde, oficial graduado da 1º CCmds Africanos] que lhe perguntava porquê uma pena tão reduzida.
Desciam a escadaria quando o ouviu chamar outra vez, ó Gil, então, quando vais de férias?
(ii) Depoimento do João Parreira (ex-fur mil comando, Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)
[Foto à esquerda: O Joâo Parreira e o Vassalo Miranda, Bél+e, mo dia 10 de junho de 2010. Fotp de L,.G..]
[Os parênteses retos, em itálico, são da responsabilidade do editor, LG]
Conforme o prometido, passo a descrever a minha participação e os acontecimentos que deram origem à narração do V. Briote em 13/11/05 (*) sobre o baile dos Finalistas da Escola Secundária [, Escola Técnica, e não Lice«u], realizado em Bissau, no Sábado, em 5 de Junho de 1965.
Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena, uma moça cabo-verdeana, que era o que se costuma dizer uma “brasa” e andava todo entusiasmado.
Na véspera do baile, a Helena que era finalista, disse-me que me ia arranjar um convite para assim poder ir com ela . No próprio dia encontrei-me com ela da parte da tarde e ela disse-me que não tinha conseguido obter um convite, mas que me tinha comprado um bilhete. Assim dei-lhe os 100 pesos correspondentes ao preço do bilhete.
Estava a dançar com ela, já devia ser madrugada quando ouvi um grande borburinho, virei-me e reparei que o motivo era a entrada sem bilhete de vários militares desconhecidos e logo a seguir uma cara conhecida.
A música não parava de tocar e os pares continuavam a dançar. Várias finalistas e familiares encontravam-se sentadas em cadeiras que tinham sido colocadas junto às paredes. Alguns dos recém-chegados dirigiram-se de imediato a estas finalistas a pedir para dançar, mas não tiveram sorte.
No salão enorme, junto a uma das janelas encontrava-se uma mesa rectangular bastante comprida que dominava todo o salão e que estava totalmente ocupada com africanos e cabo-verdeanos que presumi serem os professores e o Principal [ , diretor] da Escola [Técnica].
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1965 > O Furriel Miliciano Comando João Parreira, já depois de ter saído da CART 730... "Esta foto foi tirada numa esplanada em frente ao Hotel Portugal, creio que se chamava Café Universal".
Foto: © João Parreira (2005).Todos os direitos reservados
Notava-se que os ocupantes desta mesa ficaram furibundos com a intrusão. O alf Godinho, um dos “velhinhos”, foi um dos últimos a entrar, pelo que dirigiu-se logo para essa mesa e foi falar calmamente com um dos que se encontravam sentados no centro da mesa.
Desconheço o teor da conversa, mas o certo, pois eu estava a dançar perto, é que um deles lhe atirou com uma garrafa à cabeça. De imediato, vindo da mesma mesa, ouviu-se um deles gritar e logo a seguir outros a fazerem coro: "Se o nosso chefe estivesse aqui, e não em Conacri, nada disto acontecia”.
Com esta agressão e com as palavras insultuosas o ambiente ficou desde logo muito tenso.
Com todo este reboliço entraram de rompante 2 ou 3 camaradas que tinham ficado à porta do edifício, já que o porteiro não os tinha deixado entrar.
O Furriel V[assalo] Miranda alheio à situação e que na altura andava a passear o seu inseparável whisky, deixou-o ficar no hall de entrada à guarda de um porteiro, e também entrou.
O contacto físico em vários pontos do salão, não muito distante da pista de dança, começou já passava das 03h00 e prolongou-se por bastante tempo.
Apesar do que se estava a passar, a música não parava de tocar e parecia que todos os pares queriam estar alheios à situação. Como não podia deixar de ser, parei de dançar e pedi à Helena para não sair da pista pois ia ajudar os meus camaradas, e depois voltava.
Ela, que foi fantástica, disse-me para não ir pois podia ficar magoado, mas eu tranquilizei-a dizendo-lhe que em Lisboa tinha praticado boxe em clubes e tinha entrado em vários combates públicos.
Assim , por 3 ou 4 vezes, dava um pezinho de dança, atravessava a pista por entre os pares, ia a uma das zonas da pancadaria, envolvia-me como podia no meio de um dos grupos em contenda dava uns bons pares de murros e, quando me sentia satisfeito lá voltava novamente para junto da moça para continuar a dançar.
Dado o reboliço que se gerou também entraram no salão vários paraquedistas para darem uma ajuda aos que se encontravam em minoria. Entretanto alguém deve ter chamado a PM que entrou mais tarde e começou logo a tirar os nomes à rapaziada.
Tive mais sorte que o VB [, Virgínio Briote,]
e os outros camaradas pois logo que vi a PM entrar na nossa direcção apressei-me, sorrateiramente, a atravessar o salão pelo meio dos pares, a fim de ir ter com a Helena (a minha tábua de salvação) que estava a dançar sòzinha e agarrei-me logo a ela, pelo que a PM não deve ter percebido que eu também tinha andado no barulho.
Acabado o baile fui levar a Helena a casa, mas depois destes acontecimentos o ambiente não era propício pelo que vi gorados os projectos que tinha idealizado em Quinhamel.
Ao fim e ao cabo, feitas as contas tive sorte a dobrar pois livrei-me de ser punido e como tal de ter que ir passar uns tempos ao mato.
Domingo, 6 de Junho de 1965, às 19h00 dirigi-me com o V [assalo] Miranda e alguns fuzileiros para a Praça do Império onde se encontravam vários grupos de africanos em atitudes provocadoras e hostis, para tentarem tirar, talvez, ainda mais dividendos dos acontecimentos daquela madrugada.
Não sei bem como tudo começou, mas um deles apanhou o Miranda distraído e aplicou-lhe um tremendo murro que fez com que ele vacilasse, e depois fugiu. Corremos atrás dele mas não o apanhámos na rua pois foi refugiar-se no cinema UDIB. O porteiro, cabo-verdeano, que estava já a correr a porta de lagartas para o proteger não o conseguiu fazer, já que, com a ajuda do meu cinturão foi persuadido a não a fechar, e assim o Miranda entrou e ficou a sós com o seu agressor.
Voltámos para a Praça do Império onde o número de africanos tinha aumentado de uma forma incrível e notavam-se as mesmas atitudes agressivas. Como estávamos, mais uma vez, em grande desvantagem numérica, e com o intuito de os intimidar e evitar o confronto, mandei pedir a Brá para quem nessa altura estivesse disponível viesse ao nosso encontro.
Passada meia-hora chegou um jeep com o condutor e um Alferes (o único que vinha armado para o que desse e viesse) e logo atrás uma Mercedes com mais pessoal.
Infelizmente a intenção não deu resultado pois, ao aperceberem-se da chegada, os africanos atiraram-se a nós à tareia usando os punhos e os pés.
Assim cada um de nós estava a ser agredido por 3 ou 4 pelo que, para evitar o pior, decidimos resolver o assunto com a máxima rapidez, e para esse fim usámos os nossos cinturões a torto e a direito, o que teve o condão de os obrigar a fugir.
(iii) Depoimento do Luís Raínha, ex-alf mil, comando,
cmdt do Gr Comandos Centuriões, CTIG,
Brá, 1965/66 (***)
A minha narrativa vai ser um pouco diferente, pois, eu fui ao baile convidado por uma Família de um dos finalistas, ou seja, todo o mundo sabia, sabe e sempre soube que eu tive uma grande paixão e amor por uma moça da família Barbosa. Uma das famílias mais importantes da Guinè, a Lu, como carinhosamente a tratava e ainda hoje a lembro com saudade.
Muitas coisas se fizeram contra este amor, a tudo ele foi resistindo, mas houve uma altura que caíu.
Bem, vamos ao que interessa, que é o Baile de Finalisatas do Liceu Honório Barreto de Bissau. Já lá vão cerca de quarenta e cinco anos e ainda me parece que foi ontem.
Pelas 19H00 do dia 05Jun65, o condutor do meu Grupo foi-me levar a Bissau e perguntou-me se era necessário ir-me buscar. Respondi que não, pois eu me arranjaria. Deixou-me junto à porta de casa de minha namorada e foi-se embora, dizendo um breve , até amanhã.
Fui buscar a Lu e fomos jantar ao Grande Hotel e de lá fomos para o baile. Não há que contar novamente tudo, pois os meus camaradas já o fizeram e como tal interessa só o que se passou connosco, o que vi e ouvi.
Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos é criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds / CTIG) sendo nomeado seu comandante o Cap Art "Cmd" Nuno Varela Rubim. Em 20 de Fevereiro de 1966 é nomeado comandante da CCmds / CTIG o Cap Art.«Cmd» José Eduardo Garcia Leandro.
O 2º.Curso de Comandos tem início em 7 de Julho de 1965, terminando em 4 de Setembro do mesmo ano, com a formação de 4 Grupos de Comandos designados por:
«Diabólicos» Alf. Mil. «Cmd» Virgínio Silva Briote
«Centuriões» Alf. Mil. «Cmd» Luís Almeida Rainha
«Apaches» Alf. Mil. «Cmd» Neves da Silva
«Vampiros» Alf. Mil. «Cmd» Pereira Vilaça
O 3º. Curso de Comandos, realizado pela CCmds / CTIG aquartela da em Brá, tem início em 9 de Março de 1966 terminando a 28 de Abril de 1966, constituído por militares voluntários pertencentes a Unidades sediadas na Guiné e que se destinavam a recompletamento de Grupos de Comandos.
(...) Com a chegada a Bissau da 3ª.Companhia de Comandos, vindos do CIOE - Lamego, é extinta em 30 de Junho de 1966, a CCmds / CTIG, ficando, somente em actividade, até finais de Setembro de 1966 o Grupo de Comandos «Diabólicos», data em que a maioria dos militares que o integravam terminava a sua comissão de serviço.
Fonte: Regimento de Comandos > História dos Comandos > CCmds / CTIG, Brá, Guiné
(******) Vd. poste de 2 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)
(...) Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.
Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados. (...)
Guiné > Brá (?) > Setembro de 1965 > Virgínio Briote, ao centro, tendo à sua esquerda o Marcelino da Mata e o Azecedo e *a sua direita o Black e o Valente
Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitios reservados [Edução: LG]
(i) A versão (ligeiramente ficcionada) do Virgínio Briote,
ex-alf mil, comando, cmdt do Gr Cmds
Diabólicos (CTIG, Brá, 1965/66)
[Os parênteses retos, em itálico, são da responsabilidade do editor, LG]
Morreu um tipo de um país qualquer, o Salazar decretou 3 dias de luto e lá estamos nós a ouvir música de mortos com a nossa bandeira a meia haste. Custa-me engolir estas histórias quando os nossos mortos estão a ser ignorados.
Fala-se no próximo baile de finalistas, que vai ser uma festa de arromba! Alguns dos nossos vão roncar com as namoradas ou com os arranjinhos. O Uva [, João Parreira,] anda todo satisfeito, até o Quintanilha, aquele alferes dos páras, mandou vir da metrópole um fato de cerimónia.
Quando estive de férias na metrópole logo a seguir à formação dos grupos, os Fantasmas accionaram uma mina e foi o que se sabe, 9 dos nossos já lá estão. Entre eles, o meu grande amigo Artur. Morrem-nos 9 homens e a Emissora Nacional continua a twist e ié-ié. É isto que me custa engolir, estão a ouvir? E ainda por cima, cabo-verdianos e alguns sectores guineenses não vêem com bons olhos a nossa presença nas festas deles!
Mas que raio estava aqui a fazer? A Guiné não lhe estava a dizer nada, não a sentia como sua, até se sentia um intruso. Até com os civis brancos, poucos, duas dúzias se tanto, sentia-se sem convite.
Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu [, ou melhor, Escola Técnica de Bissau]. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir?
Dentro da Associação, no enorme salão de baile, finalistas e familiares todos animados a dançarem, com o Toni ao piano. Quando os viram entrar em fila, alto lá e pára o baile!... Depois, ninguém soube bem como tudo começou…
A princípio, as frentes pareciam bem delimitadas, os participantes em festa de um lado e a meia dúzia de intrusos do outro. Com o decorrer das hostilidades, as duas partes em confronto clarificaram-se ainda mais. Entre vivas ao camarada Presidente Amílcar, um pelotão da PM entrou por ali dentro, despachou tudo o que lhe apareceu pela frente, trinta e tal tipos com escoriações para o hospital, a polícia civil e a pide também metidas. Vidros e loiças em cacos, cadeiras e mesas partidas, uma noite que nunca mais acabava.
Mesmo em frente ao Palácio do Governo, onde, soube-se depois, da janela, o Governador [, gen Arnaldo Schulz,] via aqueles gajos darem-lhe cabo da psico. Uma vergonha!
Os acontecimentos na Associação Comercial alteraram o ambiente na cidade. A desconfiança entre a população negra, cabo-verdiana e a tropa, os nervos crispados, a porcaria mais ou menos submersa, subiu tudo. Tentava-se levar a vida normal, mas via-se pouca gente nas ruas, sobretudo à noite. A PM aumentara os patrulhamentos. O PAIGC, como lhe competia, aproveitava e tirava dividendos.
Nos dias a seguir ao sucedido choveram exposições no Palácio, sete, dissera todo cheio de importância o ajudante de campo do Governador. O General Shulz recebera numerosas individualidades civis, apresentara desculpas formais à Associação Comercial e aos finalistas, prometera pagar os prejuízos, tomar providências enérgicas, o habitual nestes casos.
Em Brá, o capitão [, da CCmds / CTIG, Nuno Rubim,] interrompeu os desenhos que estava a fazer quando o viu entrar. Começou por lhe dizer que as saídas para a cidade estavam proibidas. Depois, pediu-lhe explicações. Que se tudo tinha acontecido como se contava, que não tivesse dúvidas que haveria consequências. O Governo da Província estava a ver o programa de pacificação a andar para trás, que aguardasse o auto de averiguações, que era tudo, chutara o capitão, cada vez mais longe dele e dos outros. Logo a seguir deu-lhe ordem para ir para o Xitole, o grupo deveria manter-se lá até nova ordem, sem mais detalhes. Bater a zona, procurar o IN, dar-lhe caça, para que é que havia de ser?
Embarcaram num Dakota até Bafatá, depois apanharam boleia numa coluna auto que os levou para Fá, rumo ao Xitole, numa coluna a abarrotar de abastecimentos.
Até Fá Mandinga o percurso foi-se fazendo. Depois, até ao Xitole, foram sempre debaixo de chuva, os quilóemtros nunca mais acabavam, as viaturas civis que aproveitaram a boleia não estavam preparadas, metiam-se na lama até à carroçaria. O Corubal parecia o Atlântico quando o atravessaram. Chegaram no outro dia à noite, com os reabastecimentos reduzidos a metade, alguns destruídos pelas águas, outros desapareceram, ninguém soube dizer como.
Mantiveram-se lá quase 3 semanas, contactaram com o IN nas proximidades do Galo Corubal, em Satecuta [, subsetor do Xitole, na maregm direita do Rio Corubal] , sem consequências para além de trocas de tiros à distância.
Da estadia no Xitole o que os marcou mais foi a chuva. E o toque a silêncio, tocado à noite por um profissional da corneta. Um solo de requinta, de arrepiar!
Percurso inverso, quase a mesma história, com a diferença de ter sido feito a pé até Bambadinca.
Dias depois em Brá, um capitão procurou-o, queria ouvi-lo para o tal processo que estava a decorrer, já tinha ouvido os outros, só faltava ele. O que tinha acontecido, como, quando, porque é que, quem fora o cabecilha, leia, assine aí em baixo, alferes Gil Duarte [, alter ego do autor.,]se estiver de acordo.
À noite fora até Bissau, encontrar-se com os companheiros do costume. Passaram-lhe para as mãos a Plateia, uma revista de cinema que saía em Lisboa. Folheou-a, os olhos na Brigitte Bardot a fazer festas no focinho de um burro, um pé da Sofia Loren num banco a tirar a meia preta com um tipo qualquer deitado numa cama, à espera. Parou numa página. Crónica da Guiné na Plateia, ora deixa ver! Uns arruaceiros tinham invadido as instalações da Associação, interromperam a festa dos finalistas e partiram tudo, à boa maneira dos teddy-boys de Liverpool e Manchester, escrevia escandalizado o correspondente [, que assinava Joaão Benamor]. Olharam uns para os outros, calados.
Fica assim, perguntou alguém? Que não, que era melhor falar com o correspondente, esclarecê-lo, tirar-lhe as dúvidas. Bissau era pequeno, foram até à esplanada do [Café] Bento [, a 5ª Rep], disseram que ele devia estar lá para cima, no café Império.
Encontraram-no, estiveram com ele, explicaram-se uns aos outros. Não foi logo na Plateia seguinte, mas a rectificação leram-na dois meses mais tarde, acompanhada de um cartão com os melhores cumprimentos.
Entraram no gabinete, fizeram-lhe a continência e puseram-se os 5 em linha, aprumados [, 2 alferes e 3 furrieis, todos dos Cmds / CTIG]. O Brigadeiro Sá Carneiro, Comandante Militar, mexia nuns papéis em cima da secretária, não encontrava, abriu gavetas, ah, estão aqui, satisfeito. Quando levantou os olhos para eles, mudou de cara.
Ora bem, meus senhores, antes de mais, devo manifestar-lhes a pena que tenho de os ter aqui nestas circunstâncias. Já tive convosco manifestações de apreço, quando o mereceram, o que não é o caso desta vez, infelizmente. Relatar aquilo que ficou apurado, é desnecessário…
Puno o alferes comando…., olhava primeiro para o citado, escrevia depois, três, cinco dias de prisão simples, o critério nunca se soube, porque no dia tal, às tantas horas,…grave prejuízo para a tranquilidade e bem-estar públicos…contrariando os esforços que o governo da Província…a lenga-lenga igual para todos.
Não sabia porquê, tinha apanhado três dias de prisão, a pena mínima, sabia lá, cara fechada para o Justo [1º cabo, guineense, do Gr Cmds Diabólicos, mais tarde, oficial graduado da 1º CCmds Africanos] que lhe perguntava porquê uma pena tão reduzida.
Desciam a escadaria quando o ouviu chamar outra vez, ó Gil, então, quando vais de férias?
(ii) Depoimento do João Parreira (ex-fur mil comando, Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)
[Foto à esquerda: O Joâo Parreira e o Vassalo Miranda, Bél+e, mo dia 10 de junho de 2010. Fotp de L,.G..]
[Os parênteses retos, em itálico, são da responsabilidade do editor, LG]
Conforme o prometido, passo a descrever a minha participação e os acontecimentos que deram origem à narração do V. Briote em 13/11/05 (*) sobre o baile dos Finalistas da Escola Secundária [, Escola Técnica, e não Lice«u], realizado em Bissau, no Sábado, em 5 de Junho de 1965.
Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena, uma moça cabo-verdeana, que era o que se costuma dizer uma “brasa” e andava todo entusiasmado.
Na véspera do baile, a Helena que era finalista, disse-me que me ia arranjar um convite para assim poder ir com ela . No próprio dia encontrei-me com ela da parte da tarde e ela disse-me que não tinha conseguido obter um convite, mas que me tinha comprado um bilhete. Assim dei-lhe os 100 pesos correspondentes ao preço do bilhete.
Estava a dançar com ela, já devia ser madrugada quando ouvi um grande borburinho, virei-me e reparei que o motivo era a entrada sem bilhete de vários militares desconhecidos e logo a seguir uma cara conhecida.
A música não parava de tocar e os pares continuavam a dançar. Várias finalistas e familiares encontravam-se sentadas em cadeiras que tinham sido colocadas junto às paredes. Alguns dos recém-chegados dirigiram-se de imediato a estas finalistas a pedir para dançar, mas não tiveram sorte.
No salão enorme, junto a uma das janelas encontrava-se uma mesa rectangular bastante comprida que dominava todo o salão e que estava totalmente ocupada com africanos e cabo-verdeanos que presumi serem os professores e o Principal [ , diretor] da Escola [Técnica].
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1965 > O Furriel Miliciano Comando João Parreira, já depois de ter saído da CART 730... "Esta foto foi tirada numa esplanada em frente ao Hotel Portugal, creio que se chamava Café Universal".
Foto: © João Parreira (2005).Todos os direitos reservados
Notava-se que os ocupantes desta mesa ficaram furibundos com a intrusão. O alf Godinho, um dos “velhinhos”, foi um dos últimos a entrar, pelo que dirigiu-se logo para essa mesa e foi falar calmamente com um dos que se encontravam sentados no centro da mesa.
Desconheço o teor da conversa, mas o certo, pois eu estava a dançar perto, é que um deles lhe atirou com uma garrafa à cabeça. De imediato, vindo da mesma mesa, ouviu-se um deles gritar e logo a seguir outros a fazerem coro: "Se o nosso chefe estivesse aqui, e não em Conacri, nada disto acontecia”.
Com esta agressão e com as palavras insultuosas o ambiente ficou desde logo muito tenso.
Com todo este reboliço entraram de rompante 2 ou 3 camaradas que tinham ficado à porta do edifício, já que o porteiro não os tinha deixado entrar.
O Furriel V[assalo] Miranda alheio à situação e que na altura andava a passear o seu inseparável whisky, deixou-o ficar no hall de entrada à guarda de um porteiro, e também entrou.
O contacto físico em vários pontos do salão, não muito distante da pista de dança, começou já passava das 03h00 e prolongou-se por bastante tempo.
Apesar do que se estava a passar, a música não parava de tocar e parecia que todos os pares queriam estar alheios à situação. Como não podia deixar de ser, parei de dançar e pedi à Helena para não sair da pista pois ia ajudar os meus camaradas, e depois voltava.
Ela, que foi fantástica, disse-me para não ir pois podia ficar magoado, mas eu tranquilizei-a dizendo-lhe que em Lisboa tinha praticado boxe em clubes e tinha entrado em vários combates públicos.
Assim , por 3 ou 4 vezes, dava um pezinho de dança, atravessava a pista por entre os pares, ia a uma das zonas da pancadaria, envolvia-me como podia no meio de um dos grupos em contenda dava uns bons pares de murros e, quando me sentia satisfeito lá voltava novamente para junto da moça para continuar a dançar.
Dado o reboliço que se gerou também entraram no salão vários paraquedistas para darem uma ajuda aos que se encontravam em minoria. Entretanto alguém deve ter chamado a PM que entrou mais tarde e começou logo a tirar os nomes à rapaziada.
Tive mais sorte que o VB [, Virgínio Briote,]
e os outros camaradas pois logo que vi a PM entrar na nossa direcção apressei-me, sorrateiramente, a atravessar o salão pelo meio dos pares, a fim de ir ter com a Helena (a minha tábua de salvação) que estava a dançar sòzinha e agarrei-me logo a ela, pelo que a PM não deve ter percebido que eu também tinha andado no barulho.
Acabado o baile fui levar a Helena a casa, mas depois destes acontecimentos o ambiente não era propício pelo que vi gorados os projectos que tinha idealizado em Quinhamel.
Ao fim e ao cabo, feitas as contas tive sorte a dobrar pois livrei-me de ser punido e como tal de ter que ir passar uns tempos ao mato.
Domingo, 6 de Junho de 1965, às 19h00 dirigi-me com o V [assalo] Miranda e alguns fuzileiros para a Praça do Império onde se encontravam vários grupos de africanos em atitudes provocadoras e hostis, para tentarem tirar, talvez, ainda mais dividendos dos acontecimentos daquela madrugada.
Não sei bem como tudo começou, mas um deles apanhou o Miranda distraído e aplicou-lhe um tremendo murro que fez com que ele vacilasse, e depois fugiu. Corremos atrás dele mas não o apanhámos na rua pois foi refugiar-se no cinema UDIB. O porteiro, cabo-verdeano, que estava já a correr a porta de lagartas para o proteger não o conseguiu fazer, já que, com a ajuda do meu cinturão foi persuadido a não a fechar, e assim o Miranda entrou e ficou a sós com o seu agressor.
Voltámos para a Praça do Império onde o número de africanos tinha aumentado de uma forma incrível e notavam-se as mesmas atitudes agressivas. Como estávamos, mais uma vez, em grande desvantagem numérica, e com o intuito de os intimidar e evitar o confronto, mandei pedir a Brá para quem nessa altura estivesse disponível viesse ao nosso encontro.
Passada meia-hora chegou um jeep com o condutor e um Alferes (o único que vinha armado para o que desse e viesse) e logo atrás uma Mercedes com mais pessoal.
Infelizmente a intenção não deu resultado pois, ao aperceberem-se da chegada, os africanos atiraram-se a nós à tareia usando os punhos e os pés.
Assim cada um de nós estava a ser agredido por 3 ou 4 pelo que, para evitar o pior, decidimos resolver o assunto com a máxima rapidez, e para esse fim usámos os nossos cinturões a torto e a direito, o que teve o condão de os obrigar a fugir.
Com a Praça vazia usámos os mesmos veículos e regressámos a Brá.
(iii) Depoimento do Luís Raínha, ex-alf mil, comando,
cmdt do Gr Comandos Centuriões, CTIG,
Brá, 1965/66 (***)
A minha narrativa vai ser um pouco diferente, pois, eu fui ao baile convidado por uma Família de um dos finalistas, ou seja, todo o mundo sabia, sabe e sempre soube que eu tive uma grande paixão e amor por uma moça da família Barbosa. Uma das famílias mais importantes da Guinè, a Lu, como carinhosamente a tratava e ainda hoje a lembro com saudade.
Muitas coisas se fizeram contra este amor, a tudo ele foi resistindo, mas houve uma altura que caíu.
Bem, vamos ao que interessa, que é o Baile de Finalisatas do Liceu Honório Barreto de Bissau. Já lá vão cerca de quarenta e cinco anos e ainda me parece que foi ontem.
Pelas 19H00 do dia 05Jun65, o condutor do meu Grupo foi-me levar a Bissau e perguntou-me se era necessário ir-me buscar. Respondi que não, pois eu me arranjaria. Deixou-me junto à porta de casa de minha namorada e foi-se embora, dizendo um breve , até amanhã.
Fui buscar a Lu e fomos jantar ao Grande Hotel e de lá fomos para o baile. Não há que contar novamente tudo, pois os meus camaradas já o fizeram e como tal interessa só o que se passou connosco, o que vi e ouvi.
Já durante a jantar fui ouvindo que se estava preparar algo contra os brancos, informo que a minha Companheira era morena - muito bonita, pois não os iam deixar entrar no referido baile, como mais tarde aconteceu.
Depois do jantar, como era cedo ainda passámos por casa e os rumores continuavam; chegando ao ponto da própria me alertar de que podia ir descansado pois estava convidado. Chegados ao baile fomos à mesa que nos estava reservada e a seguir fomos dançar, mas o ambiente era tenso e ainda nem sequer se via nada de anormal. Cerca das duas horas da manhã é que as coisas começaram a azedar com a entrada em cena da tropa branca, que logo foi rodeada pelos cabo-verdianos aos gritos e insultos.
Estava declarada a guerra há tanto tempo esperada pelos cabo-verdianos. O pior de tudo é que os nossos Chefes não viram ou não quiseram ver as coisas como elas eram e estavam a acontecer. Enviaram as PM e a Policia civil para dar em tudo que fosse branco.
Eu, a única coisa que fiz foi proteger a senhora que estava comigo, por consequência à minha guarda. Colocando um dos meus braços por cima dos seus ombros e com o cartão de oficial do exército lá fui abrindo caminho pelo meio da multidão e dos Policias, estes distribuindo cacetada por tudo quanto era sítio, não poupando ninguém, tentavam aclamar os ânimos.
Quando íamos a caminho de casa vimos o General Shulz à varanda em pijama a ver o espectáculo.
Claro, que quando os cabo-verdianos quiseram a coisa acabou.
De tudo isto, podem-se tirar várias conclusões, mas duas há que saltam logo aos olhos de qualquer pessoa medianamente inteligente. Toda a barraca foi muito bem preparada pelo PAIGC e os nossos Chefes da altura caíram que nem uns patinhos. E porquê? Por causa da ''psico-social', uma palermice em que os nossos governantes acreditavam ou queriam acreditar.
[Luis Rainha, foto atual à esquerda]
Assim, acabou um episódio (****)que podia ter facturado para o nosso lado, mas pela incompreensão dos Chefes Militares foi o adversários que ficou com os louros.
Mas, sempre foi assim, nós havemos de ser os eternos coitadinhos.
(iv) Punições a que foram sujeitos 4 dos 5 comandos alegadamente envolvidos nos incidentes do "baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau" (*****)
(Felizmente, estes incidentes entre nuilitares e civis não pocdem ser comparados com os que tiveram lugar, em Bissau, precisamente dois anos depois, envolvendo paraquedistas e fuzileiros, e de que resultaram 2 mortos) (******).
Cópias da Ordem de Serviço nº 70, de 27 de agosto de 1965, do CTIG em que são punidos com prisão disciplinar 3 furrieis milicianos e um alferes miliciano da CCmds / CTIG, Brá, 1965/66. Rasurados os seus nomes. (Cortesia do blogue Comandos da Guiné- 1964 a 1966).
________________
Notas do editor:
(*) Vd. I Série do nosso blogue > 13 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial [Virgínio Briote]
(***) Vd. blogue Comandos Guiné - 1964 a 1966 > 24 de abril de 2010 > G.C.G. - A0032: Uma histórica verídca de vez em quando- 2ª Parte > O Celebérrimo "Baile na Associação Comercail de Bissau"
(****) Último poste da série > 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P12094: Efemérides (151): Dia da Mãe... Para celebrar, hoje como ontem, com poesia (Joaquim Luís Fernandes)
(*****) Recorde.se aqui a criação e a extinção da CCmds / CTIG, Brá, 1965/66
Eu, a única coisa que fiz foi proteger a senhora que estava comigo, por consequência à minha guarda. Colocando um dos meus braços por cima dos seus ombros e com o cartão de oficial do exército lá fui abrindo caminho pelo meio da multidão e dos Policias, estes distribuindo cacetada por tudo quanto era sítio, não poupando ninguém, tentavam aclamar os ânimos.
Quando íamos a caminho de casa vimos o General Shulz à varanda em pijama a ver o espectáculo.
Claro, que quando os cabo-verdianos quiseram a coisa acabou.
De tudo isto, podem-se tirar várias conclusões, mas duas há que saltam logo aos olhos de qualquer pessoa medianamente inteligente. Toda a barraca foi muito bem preparada pelo PAIGC e os nossos Chefes da altura caíram que nem uns patinhos. E porquê? Por causa da ''psico-social', uma palermice em que os nossos governantes acreditavam ou queriam acreditar.
[Luis Rainha, foto atual à esquerda]
Assim, acabou um episódio (****)que podia ter facturado para o nosso lado, mas pela incompreensão dos Chefes Militares foi o adversários que ficou com os louros.
Mas, sempre foi assim, nós havemos de ser os eternos coitadinhos.
(iv) Punições a que foram sujeitos 4 dos 5 comandos alegadamente envolvidos nos incidentes do "baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau" (*****)
(Felizmente, estes incidentes entre nuilitares e civis não pocdem ser comparados com os que tiveram lugar, em Bissau, precisamente dois anos depois, envolvendo paraquedistas e fuzileiros, e de que resultaram 2 mortos) (******).
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Notas do editor:
(*) Vd. I Série do nosso blogue > 13 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial [Virgínio Briote]
(**) Vd. I Série do nosso blogue > 13 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)
(***) Vd. blogue Comandos Guiné - 1964 a 1966 > 24 de abril de 2010 > G.C.G. - A0032: Uma histórica verídca de vez em quando- 2ª Parte > O Celebérrimo "Baile na Associação Comercail de Bissau"
(****) Último poste da série > 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P12094: Efemérides (151): Dia da Mãe... Para celebrar, hoje como ontem, com poesia (Joaquim Luís Fernandes)
(*****) Recorde.se aqui a criação e a extinção da CCmds / CTIG, Brá, 1965/66
Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos é criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds / CTIG) sendo nomeado seu comandante o Cap Art "Cmd" Nuno Varela Rubim. Em 20 de Fevereiro de 1966 é nomeado comandante da CCmds / CTIG o Cap Art.«Cmd» José Eduardo Garcia Leandro.
O 2º.Curso de Comandos tem início em 7 de Julho de 1965, terminando em 4 de Setembro do mesmo ano, com a formação de 4 Grupos de Comandos designados por:
«Diabólicos» Alf. Mil. «Cmd» Virgínio Silva Briote
«Centuriões» Alf. Mil. «Cmd» Luís Almeida Rainha
«Apaches» Alf. Mil. «Cmd» Neves da Silva
«Vampiros» Alf. Mil. «Cmd» Pereira Vilaça
O 3º. Curso de Comandos, realizado pela CCmds / CTIG aquartela da em Brá, tem início em 9 de Março de 1966 terminando a 28 de Abril de 1966, constituído por militares voluntários pertencentes a Unidades sediadas na Guiné e que se destinavam a recompletamento de Grupos de Comandos.
(...) Com a chegada a Bissau da 3ª.Companhia de Comandos, vindos do CIOE - Lamego, é extinta em 30 de Junho de 1966, a CCmds / CTIG, ficando, somente em actividade, até finais de Setembro de 1966 o Grupo de Comandos «Diabólicos», data em que a maioria dos militares que o integravam terminava a sua comissão de serviço.
Fonte: Regimento de Comandos > História dos Comandos > CCmds / CTIG, Brá, Guiné
(******) Vd. poste de 2 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)
(...) Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.
Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados. (...)