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quinta-feira, 9 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24131: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXI: Finalmente, Bafatá, a minha linda princesa do Geba...


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital,  do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp,  il., edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote,  facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.


Recorde-se aqui o passado militar do autor:

(i) começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor auto-rodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii)  depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido,  por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal (**), para o BCAV 757; ficará em Bafatá até final de 1969, altura em que vai integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló.


 

Capa do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bafatá   (vd. carta de 1955, escala 1/50 mil) > Vista aérea da "princesa do Geba" > Em primeiro plano, o rio Geba, à esquerda, e a piscina de Bafatá (que tinha o nome do administrador Guerra Ribeiro e foi inaugurada em 1962, tendo sido construído - segundo a informação que temos - por militares de uma unidade aqui estacionada ainda antes do início da guerra).

Ainda do lado esquerdo, o cais fluvial, uma zona ajardinada, a estátua do governador Oliveira Muzanty (1906-1909)... Ao centro, a rua principal da cidade. Ao fundo, ao alto da avenida principal, já não se chega a ver o troço da estrada que conduzia à saída para Nova Lamego (que ficava a nordeste de Bafatá); havia um a outra, alcatroada, para  Bambadinca, a oeste, mas também com acesso à estrada (não alcatroada) de Galomaro-Dulombi, povoações do regulado do Cossé, que ficava a sul. À entrada de Bafatá, havia uma rotunda. ao alto. Para quem entrava, o café do Teófilo, o "desterrado", era à esquerda..

Do lado direito pode observar-se as traseiras do mercado. Do lado esquerdo, no início da rua, um belo edifício, de arquitetura tipicamente colonial, pertencente à Casa Gouveia, que representava os interesses da CUF, e que, no nosso tempo, era o principal bazar da cidade, tendo florescido com o patacão (dinheiro) da tropa. Por aqui passaram milhares e milhares de homens ao longo da guerra,. que aqui faziam as suas compras, iam aos restaurantes e se divertiam... com as meninas do Bataclã.

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.] 


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um    luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXI:   

Finalmente, Bafatá, a minha linda princesa do Geba 
(pp. 147-153)


Foi só em agosto [de 1966] que apanhei o barco para Bafatá.

Enquanto vou reescrevendo estas histórias da minha vida militar, vêem-me à memória outros factos que ocorreram.

Vou voltar a falar do exame de condução em Bissau. Éramos quatro, dois 1ºs cabos e dois soldados. Eu era o único negro, os outros eram todos brancos. O examinador era um tenente.

À saída do quartel, com um cabo europeu ao volante, quando chegámos às vielas da Achada, o tenente mandou-lhe fazer inversão de marcha. Concluído o exame, mandou entrar outro. Um soldado europeu, que pertencia ao batalhão de Bafatá, o mesmo para onde eu ia como adido, ocupou o lugar. Então, o tenente perguntou-lhe se ele tinha precedência sobre os outros.

Ele não respondeu e o tenente disse para ele olhar bem e ver se havia alguém que tinha direito a ir à frente dele. Ele olhou para trás e manteve-se mudo. Então o tenente, virando-se para mim, chamou "N
osso cabo!!,  e mandou-me entrar. Fiz o exame na vez que me competia, fiquei apto, o outro a seguir também ficou e ele ficou inapto.

Esse militar europeu ficou tão aborrecido que, quando eu já estava em Bafatá, nunca me falou, nem os olhos dele me viam bem.

Cerca de uma semana depois da minha chegada a Bafatá um soldado europeu disse-me que eu tinha faltado ao serviço no dia anterior.

 Não consultaste a escala de serviço?

 
  Sim, claro que consultei!

 
  Então, por que faltaste?

Chegou o furriel e disse-me a mesma coisa, que eu tinha faltado ao serviço. Eu não sabia que tinha estado de serviço. Então ele disse-me que o acompanhasse ao gabinete do 1º sargento.

 
  Este é o cabo que faltou ontem, meu primeiro !

O nosso primeiro pegou em mim e levou-me ao gabinete do nosso major [1], o 2º comandante.

 Então, que se passa?

 O 1º cabo que faltou ao serviço, ontem, meu major!

 Onde foste, para faltar?  perguntou-me.

 Meu major, eu não sabia que um 1º cabo fazia serviço de soldado. Eu sou cabo para fazer reforço.

- Aqui os cabos africanos fazem reforço, meu major   
 cortou o nosso primeiro.

Então, o major virou-se para o 1º sargento:

– Ele tem razão ou não?

O 1º sargento queria voltar a explicar e o major mandou-nos sair, dizendo:

 Ele tem razão, é cabo, não é soldado!

No dia seguinte estive de cabo de guarda. Apresentei-me na parada, como deve ser, passados 5 dias fiquei de cabo de dia, correu tudo normal também. Até que, alguns dias depois, às 08h45 rendi o colega, um cabo europeu, na Ponte. Eram cerca de 10h00, estava eu a ajudar um rapaz a pescar, chegou um jipe com um cabo europeu para me render.

 
  O que terá acontecido? Por que entrei de serviço às 08h45 e às 10 aparece um colega para me render?

Tomei o lugar no jipe, algo preocupado. Quando cheguei, o sargento mandou-me entregar todos os materiais e disse-me para depois ir falar com ele. Entreguei o material e voltei, então, ao 1º sargento que me levou ao gabinete do nosso major. Aqui, o sargento retirou-se e eu fiquei só com o 2º comandante.

 Agora, passas a sair comigo e com o nosso comandante. Amanhã de manhã, às 07h30, estás aqui para irmos a Fajonquito.

A partir dessa data fiquei como guarda-costas e intérprete dos oficiais.

Uns dias depois, chegou um tenente miliciano, João Pereira da Cruz, que veio a ser o oficial de informações do Batalhão de Caçadores 1877, e passei a trabalhar com ele. Passados uns dias, o tenente foi promovido e acompanhei-o até ao fim da comissão dele Passámos os dois por situações difíceis de esquecer. E ficámos amigos até aos dias de hoje.

 Cantacunda 
[tem 40 referências no nosso blogue, pertencia ao subsetor de Geba], a cerca de 13 kms a nordeste de Bafatá, foi atacada com grande violência ao início da madrugada de 11 de abril de 1968 [2]. Alguns militares [3] foram capturados pelo PAIGC [4]. No ataque morreu um cabo europeu [5], um milícia e um civil. A tabanca ficou a arder, toda destruída.

Em Bafatá ouvimos os rebentamentos. Logo pela manhã, uma coluna, comandada pelo capitão Cruz, pôs-se em movimento, em direcção a Cantacunda. Chegámos ao cruzamento do Geba, onde nos aguardava a companhia [6] de que os militares sequestrados faziam parte.

Continuámos a marcha até que vimos Cantacunda, num silêncio total, arrasada. Seguimos o rasto do PAIGC, vimos latas e garrafas vazias de todo o tipo de bebidas e fomos andando até que o capitão decidiu regressar ao aquartelamento e depois a Bafatá.

Às 21h00 do domingo, dia 8 de setembro do mesmo ano, o PAIGC atacou o aquartelamento de Sare Banda, na antiga estrada de Bafatá para Mansabá. Com os militares daquele destacamento da CArt 1690 vivia apenas um civil, já idoso. O ataque foi bem combinado, da mesma forma como tinham feito em Cantacunda.

Aproximaram-se e foram contornando o aquartelamento, dispondo as forças de maneira a tentarem fechar a saída para Bafatá e Geba. Deixaram uma única saída para o mato. O aquartelamento era rodeado por duas fiadas de arame farpado.

Quando acabaram de preparar o cerco abriram fogo cerrado. O ataque começou com um tiro de canhão [7] contra uma tenda onde estava um alferes [8] e um furriel com um petromax aceso, que tiveram morte imediata. O petromax do posto de comando apagou-se. 

Animados com o ataque, os guerrilheiros, no meio da escuridão avançaram até à primeira fiada do arame, gritando “para Jobel, para Jobel!”. Era para aí, para Jobel que queriam que os atacados se dirigissem. Em Jobel estava o mais forte acampamento do PAIGC, em todo o sector de Bafatá. Depois de ultrapassarem a primeira fiada, atacaram a segunda, intensificando o fogo.

Quando a guerrilha começou a tocar na segunda fiada do arame farpado, começaram a acender-se luzes. Militares do aquartelamento estavam a acender algumas garrafas com petróleo que costumavam dependurar no arame farpado. Foi como um relâmpago que nunca mais se apagava. Surpreendidos já muito perto dos abrigos, alguns dos atacantes foram dizimados à queima-roupa [9]. Os sobreviventes fugiram como puderam abandonando o local de qualquer maneira, deixando corpos amarrados ao arame, alguns a gemerem até de manhã.

Este ataque também foi ouvido por nós em Bafatá. No dia seguinte saímos em coluna para Sare Banda. Depois de chegarmos, seguimos os rastos da retirada. No meio de sangue que fomos vendo, demos com duas sepulturas frescas, ainda acabadas de fazer.

O soldado Saliu Baldé [10] foi apresentado ao General Spínola como a “máquina defensiva” de Sare Banda, um dos heróis daquela noite. Mas todos os que lá ficaram a resistir foram heróis, menos o 1º cabo Bari que, ao que parece, fugiu, sempre a correr até ao Geba. Mais tarde disse que tinha saído do quartel para pedir reforços.

Os visitantes pensaram repetir, em Sare Banda, a vitória que tinham tido em Cantacunda, mas tiveram uma derrota inesquecível. E para os prisioneiros de Cantacunda, a derrota não foi definitiva. Dois anos passados, foram libertados da prisão de Conackry, pelas nossas tropas que foram lá abrir-lhes as portas para regressaram às suas famílias [na sequência da Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970]  . Sorte que não tiveram os que morreram em Cantacunda e em Sare Banda.

O pelotão que tinha recebido as instruções para a defensiva, em Sare Banda, aplicou-as bem e ganharam. É por isso mesmo que temos de saber aplicar as regras, de estabelecer um novo plano, e lembrarmo-nos que surpresa é só a primeira vez, à segunda já não é surpresa. Há que preparar um novo plano e cumpri-lo. E vai ser sempre assim, enquanto houver guerra. Por isso, eu disse atrás, que a guerra aumenta o conhecimento do homem, porque a guerra precisa sempre de novas artes para vencer e não ser vencido.

(Continua)
________

Notas do autor ou do editor VB:

[1] Nota do editor: Major Joaquim Ribeiro Simões?

[2] Nota do editor: 5ª feira Santa.

[3] Nota do editor: um dos militares capturados, o Soldado cozinheiro Luís dos Santos Marques, morreu no cativeiro em Conakry. Os outros dez foram libertados, aquando da operação “Mar Verde”. Um outro, Luís Francisco da Silva, radiotelegrafista, passou-se para o PAIGC e nunca mais foi visto desde que chegaram à prisão.

[4] Nota do editor: Furriel miliciano José Neto Vaz, comandante interino do destacamento; primeiros-cabos José Manuel Moreira Duarte e José da Silva Morais; soldados António Ângelo Duarte, Armindo Correia Paulino, David Nóbrega Gouveia Pedras, Domingos Noversa da Costa, Francisco Gomes da Silva, João da Costa Sousa, José dos Santos Teixeira, Luís Salvador Antunes de Almeida Vieira, Luís dos Santos Marques e Luís Francisco da Silva, radiotelegrafista.

[5] Nota do editor: 1º Cabo João Aguiar, morto à facada à saída do abrigo.

[6] Nota do editor: CArt 1690

[7] Nota do editor: o relatório do ataque diz:

 “O ataque iniciado com um tiro de canhão s/recuo e dois LGF, dirigidos contra a cantina e depósitos de géneros, atingiram mortalmente o alferes, comandante do destacamento, e um furriel e provocaram ferimentos num soldado. Estes tiros iniciais do IN atingiram e destruíram o mastro da antena horizontal do rádio, ficando assim o destacamento com as comunicações cortadas com toda a rede de Geba. 

"No seguimento da acção o IN atingiu com uma granada incendiária uma barraca coberta por 2 panos de lona de viaturas pesadas, onde costumavam dormir vários elementos das NT por não caberem todos nos abrigos, o que provocou a destruição de todo o material lá existente e a iluminação das posições das NT.” 

Mais à frente, lê-se no mesmo relatório: 

“Refira-se ainda que o facto do destacamento de Sare Banda ter ficado sem comunicações, logo no início do ataque, permitiu que Geba só tivesse conhecimento do sucedido cerca das 09H0209SET68, através de 2 praças do destacamento que haviam vindo a pé voluntariamente comunicar a ocorrência.”

[8] Nota do editor: Alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto e Furriel Raul Canadas Ferreira.

[9] Nota do editor:

 “O destacamento era comandado pelo Alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto, sendo eu próprio, alferes António Moreira, nessa altura, Comandante da CArt 1690. O aquartelamento tinha sido construído no mês anterior, em Agosto de 1968, pelo meu grupo de combate, reforçado com granadeiros e auto-metralhadoras do Esquadrão de Cavalaria 2350 de Bafatá e elementos de Engenharia, sob o meu comando directo. Construímos seis abrigos subterrâneos, com 2 fiadas de arame farpado, a interior armadilhada. 

"Fui ali visitado pelo General Spínola, que me forneceu, em menos de uma semana, todo o material de guerra e de logística que lhe solicitei. No edifício do comando, numa palhota no centro do destacamento, onde tínhamos os aparelhos de rádio e a cantina estavam o Alferes, dois furriéis e dois ou três soldados a petiscarem, com o petromax aceso. O primeiro tiro foi uma canhoada, directa a esta luz, que, de imediato, fulminou o Alferes Peixoto, sendo o Furriel Raul Canadas Ferreira atingido mortalmente com vários estilhaços que lhe cortaram a veia jugular. Veio a falecer cerca das quatro horas da manhã do dia seguinte, completamente esvaído em sangue, nos meus braços e de dois guarda-costas meus. 

"Quem dirigiu a reacção ao ataque, na sequência da baixa do alferes, do furriel Canadas e do outro furriel, que ficou em pânico e se meteu num abrigo até ao fim, foi um cabo pára-quedista, chamado António da Costa Pacheco, que tinha sido colocado na CArt 1690, por castigo, em substituição de outro, caído em combate. Este pára era um excelente operacional e foi ele quem me foi chamar à sede da Companhia, onde chegou às 3 horas, de 09Set68, a pedir socorro. Fez o percurso sozinho, a pé, percorrendo cerca de 14 quilómetros, pela picada, até Geba. Fui eu próprio quem o propôs para uma Cruz de Guerra. 

"Reuni de imediato uma força de cerca de 40 a 50 homens que avançou, sob o meu comando, para Sare Banda, que alcançámos pelas 4 horas. Pelas 5 horas, ao raiar da aurora, iniciamos um reconhecimento à volta do quartel, por fora do arame farpado. Encontramos dois cadáveres de guerrilheiros e um terceiro com as pernas esfaceladas, que ao ver-nos aproximar, ainda tentou empunhar uma G-3 e varrer-nos com uma rajada, a mim e aos dois guarda-costas, que me ladeavam. De imediato um destes meus guarda-costas, um madeirense de nome Jaime, disparou-lhe uma rajada que lhe cortou a cavidade craniana em 2 faces, deixando-o com “os miolos” à vista e a fumegar. 

"Este guerrilheiro era o enfermeiro e possuía uma excelente bolsa de medicamentos, muito mais moderna e sofisticada que as nossas, de origem chinesa, e a arma que empunhava, a G3, pertencia à nossa Companhia, que tinha sido retirada do cadáver do Alferes Fernando da Costa Fernandes, no dia 18 Dezembro de 1967, durante o ataque a Sinchã Jobel. 

"A coluna que veio de Bafatá e alcançou Sare Banda, era comandada pelo Major de Cavalaria Vergas Rocha, e chegou a este destacamento cerca das 08h30. O PAIGC sofreu aqui um forte revés, pois encontrámos rastos de sangue, o que denota que tiveram várias baixas que ainda recuperaram, à excepção daquelas três que não conseguiram. 

"De iluminação, possuíamos apenas umas garrafas de cerveja vazias, com petróleo, dependuradas no arame farpado, com uma torcida de pano acesa a improvisar um candeeiro. Quando se iniciou o ataque, mal vimos rebentar o primeiro tiro de canhão, apagámos o petromax do edifício do comando, e acenderam-se, momentos depois, algumas das tais garrafas de cerveja, no interior dos abrigos e no abrigo do morteiro 81, para orientar o tiro.” 

Depoimento escrito por António Moreira, Alferes miliciano na CART 1690 durante os 23 meses de comissão na Guiné. Foi o único alferes que cumpriu a totalidade do tempo de comissão. Dos outros, três foram feridos e dois morreram em combate. Após regressar da Guiné, António Moreira licenciou-se em Direito e é, há muitos anos, advogado com escritório em Torres Vedras.

[10] Nota do editor: Saliu Baldé tinha sido ligeiramente ferido e o General levou-o no helicóptero para Bafatá. Depois de recuperado foi para o grupo do Marcelino da Mata. Posteriormente foi condecorado com a Cruz de Guerra de 3ª classe.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Subtítulo / Parênteses retos com notas: LG]
___________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 22 de outubro de 2022 >  Guiné 61/74 - P23728: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte IV: Infância e adolescência

segunda-feira, 6 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24122: S(C)em comentários (5): E no Geba, às portas de Bafatá, cantava-se, em 1967: "Oh! São, oh São / E o vento mudou / E ela não voltou / E ela partiu / P... que a pariu, Nunca mais ninguém a viu..." (A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF)

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > "Aqui era a nossa discoteca... Aqui cantávamos a Sandie Shaw e o Eduardo Nascimento... E bebíamos uns 'shots' valentes", diz o A. Marques Lopes (o terceiro a contar da esquerda).


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > Igreja de Geba, onde já ninguém ia rezar... Devia ser de meados dos anos 30 do séc. XX, e estava em estado de grande degradação. Havia um projeto da ONG Viver100Fronteiras para a sua reconstrução.

Fotos do álbum de A. Marques Lopes, um dos históricos do nosso blogue, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). 

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lembram-se da Sandie Shaw, e da sua "Pupet on the string" (Marioneta, à letra, em português), um dos grandes êxitos do "hit parade" musical do ano de 1967? Foi com esta canção que a provocante inglesa Sandie Shaw (n. Londres, 1947) ganhou o Festival Eurovisão da Canção de 1967, em Vienba... Ainda por cima teve a irreverência de cantar desçalça, naquela época, por protesto, dizia-se, pela conservadora BBC ter pensado seriamente em "tirar-lhe o microfone" depois descobrir que a rapariguinha andava envolvida numa cena de adultério... 

Com 20 aninhos, imaginem, e aquelas hormonas todas a fervilhar!... Ficou no goto dos rapazes de Geba que deviam ter sensivelmente a mesma idade que ela ...e tinham testosterona para dar e vender...


2. Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (nascido em Angola, em 1944) era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz uma infâmia: que terá ido ao Festival Europeu da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo...

(...) Líder do conjunto angolano Os Rocks, participou num dos concursos de música ié-ié, realizados no Teatro Monumental, em Lisboa. Em 1967 perenizou-se com o tema O Vento Mudou, vencedor do Festival RTP da Canção

A música foi representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado em Viena, ficando em 12º lugar (ex-aequo com a Finlândia), entre dezassete países. 

Eduardo Nascimento foi o primeiro negro a pisar os palcos da Eurovisão. Dizia-se na altura que tinha sido Salazar quem quisera que Eduardo Nascimento representasse Portugal, para provar que não era racista. O tema viria a ser gravado pelos Delfins, por Adelaide Ferreira e pelos UHF. 

Com Os Rocks Nascimento gravou ainda dois EP (...). O cantor continuou a actuar com Os Rocks até 1969, altura em que voltou para Angola e abandonou a carreira musical. Posteriormente veio a exercer funções na TAP." (...)

Os rapazes do Geba, às portas de Bafatá, cantarolavam, em 1967, uma paródia de "O Vento Mudou", numa típica manifestção de bom humor de caserna: 

"Oh! São, oh São, 
E o vento mudou, 
E ela não voltou....
E ela partiu,
P... que a pariu,
Nunca mais ninguém a viu..." 
 
3. O nosso camarada Nuno Nazareth Fernandes, autor da música, ex-alf mil, BENG 447 (Brá, Bissau, 1972/74), radialista em Bissau, no PIFAS, membro da nossa Tabanca Grande, nº 684,  já aqui desmentiu categoricamente essa "boca foleira" (que vai ficar na Wilipédia!), afirmando que no Festival RTP da Canção de 1967, "o Eduardo Nascimento ganhou com o todo o mérito, porque era a melhor canção, e rompia com o chamado nacional cançonetismo", e sendo  falso que o Salazar tenha imposto o seu nome para ir ao festival da Eurovisão (**).

Reiteramos as nossas desculpas ao Eduardo Nascimento e ao Nuno Nazareth Fernandes. 

S(C)em Comentários (***). 

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

(***) Último poste da série > 5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

sexta-feira, 11 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23069: Fotos à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70


Guiné > Região de Quínara > Sector de Tite > Jabadá  > CCAV 2484 (1969/70) >  Uma cantora actuando para as nossas tropas, numa iniciativa seguramente do Movimento Nacional Feminino. Foto do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)


1. É uma foto relativamente rara, que nos enviou o Manuel Antunes, dos "Dragões de Jabadá" (*).  Os espectáculos, em quartéis do mato, realizados pelo Movimento Nacional Feminino, com cançonetistas da metrópole, relativamente conhecidos, como a Flobela Queiroz,  não estão bem documentados no nosso blogue. 

A única exceção é o Conjunto Académico João Paulo, que tem vários referências no blogue (**). Mas os seus elementos, originalmente estudantes, estavam a cumprir o serviço militar. 

Facto desconhecido para muitos dos nossos leitores, foi a Cecília Supico Pinto  quem "conseguiu que os músicos do 'Conjunto João Paulo' cumprissem o serviço militar actuando no mato em digressões pelas 'províncias' ", revelação feita na sua biografia, escrita por Sílvia Espírito Santo ("Cecília Espírito Santo,o rosto do Movimento Nacional Feminino, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008, pp. 144). 

Ela sabia, de resto, da experiência norte-americana na II Guerra Mundial, da importância que podia ter, sobre o moral das tropas em África, as atividades de natureza lúdica, como os espetáculos musicais ao vivo, feitos por artistas em voga, vindos da metrópole. 

Não sabemos quem era a artista (vd. foto supra) que está de costas, a atuar em Jabadá, c. 1969/70. Talvez algum leitor a consiga identificar e sobretudo queira comentar, "acrescentando uma legenda à foto" (***).

Houve muito boa gente, do mundo do espectáculo, incluindo a Amália Rodrigues, que colaborou com o Movimento Nacional Feminino, quer na edição dos famosos discos de Natal (1971 e 1973), quer participando inclusive em digressões pelos quartéis do mato ou em concertos na metrópole para angariação de fundos.

Além dos músicos do Conjunto Académico João Paulo, talvez o caso mais conhecido terá sido o da cançonetista (e actriz)  Florbela Queiroz.

A Florbela Queiroz (nascida em Lisboa, em 1943) não sei se passou pela Guiné, mas diz ela que andou no mato 8 meses, em 1967 e 1968. "Nunca fui tão respeitada por toda a gente. Eu era nova, tinha 21 anos, era uma miúda gira, e andava lá no mato no meio dos soldados, comi da ração deles. Foi a época em que mais me realizei" (cit. por Sílvia Espírito Santo - "Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, pág. 144).




O João Paulo Agrela, ao centro, o fundador do grupo. Está fardado, e era furriel, tendo morrido em 23/4/2007, mas o elemento mais conhecido do grande público era o vocalista Sérgio Borges (1943-2011).


Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 > 24 de agosto de 1968 > O conjunto musical João Paulo em digressão pela Guiné... Tal como no caso de  outros artistas populares na época, como a Florbela Queiroz, a digressão à  Guiné do Conjunto Académico João Paulo era uma  iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF). Este  conjunto fez digressões também por Angola e Moçambique, durante a guerra colonial, além de países estrangeiros como os EUA. (Por exemplo, um ano depois, estavam em Moçambique a atuar para o BART 2838, 1968/70).

Foto (e legenda): © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] (*)

2. Relativamente ao Conjunto Académico João Paulo... Foram fundadores do grupo, madeirense, pioneiro da música "rock" em Portugal (a par de Os Sheiks, Os Conchas, Chinchilas, Duo Ouro Negro, Quarteto 1111 e Demónios Negros, entre outros) os seguintes elementos:   

(i) João Paulo Agrela (1942-2007) (teclas);
(ii) Carlos Alberto Lomelino Gomes (guitarra) falecido no Funchal em 2020);
(iii) Rui Brazão (guitarra ritmo);
(iv) Ângelo Moura (baixo);
(v) José Gualberto (bateria, falecido em 2004);
(vi) e Sérgio Borges (1943-2011) (vocalista).  

Não sabemos se todos estes participaram nesta digressão à Guiné, em 1968 ou se estavam na altura a cumprir o serviço militar na Guiné... Três ou quatro elementos do grupo passaram pelo EPI (Mafra), onde fizeram a recruta, no turno de setembro de 1966... Como se vê, dois anos depois  ainda estavam na tropa... Do tempo de Mafra, ficou a canção (pouco conhecida) O Salto (disponível no You Tube).

O grupo extingiu-se em princípios da década de 1970.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23066: Tabanca Grande (531): Manuel Antunes, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2484 - "Dragões de Jabadá" (Jabadá, 1969/70)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 858

(**) Vd., por exemplo, 

25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15406: (Ex)citações (302): O conjunto João Paulo, em 1968, em Susana... No fim do concerto apanhámos com umas valentes morteiradas (Domingos Santos, ex-fur mil, CCAÇ 1684, Susana e Varela, 1967/69)

22 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)

21 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15389: (Ex)citações (299): Atuação do Conjunto Académico João Paulo, no "600", em Bissau, em abril de 1968 (Manuel Coelho, ex-mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22849: Notas de leitura (1402): Memórias de um alferes, Leste da Guiné, 1967-1969: A CART 1690, uma das mais sinistradas, em toda a Guerra da Guiné (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Aqui fica o relato que António Martins Moreira dedicou à sua CART 1690, de vida tão atribulada, no setor de Geba, nunca pensei que os meus vizinhos para lá da ponte do rio Gambiel atingissem tal nível de sofrimento. No início da guerra houve uma separação radical da população no regulado de Mansomine, região onde o PAIGC passou a dispor de algumas bases como Sinchã Jobel, e mais para o interior Sara-Sarauol, confinando, um pouco mais abaixo, com Belel, aqui estacionavam, tal como em Madina, os meus atacantes. Ficamos a dever a António Martins Moreira um belo depoimento, ele não se cansa de afirmar que comandou gente de bravura e de enorme capacidade de sacrifício. Veio a tempo, felizmente, uma importante narrativa para que não se esqueça o que foi a vida dura no setor de Geba entre 1967 e 1969.

Um abraço do
Mário



Memórias de um alferes, Leste da Guiné, 1967-1969:
A CART 1690, uma das mais sinistradas, em toda a Guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição do Município de Idanha-a-Nova, com data de 2018, são as memórias do então alferes António Martins Moreira, que combateu na região de Geba, entre 1967 e 1969, não quis o destino que nos conhecêssemos, éramos vizinhos, ele estava para lá da ponte do Rio Gambiel, eu para cá, e quando ele diz que a paisagem era deslumbrante, estou à vontade para o confirmar. Este nativo de Penha Garcia foi para Mafra em janeiro de 1966, onde permaneceu até julho, promovido a aspirante foi transferido para o Regimento de Infantaria em Abrantes, e aqui mobilizado e colocado na CART 1690, do BART 1914, frequentou o curso de operações especiais, em Lamego, ainda andou por Lisboa, Torres Novas e Oeiras, desembarcou no Pidjiquiti em 15 de abril de 1967, quem comanda a companhia é o Capitão Manuel Carlos Guimarães. Faz-se a viagem sacramental até Bambadinca, seguem para Bafatá, é-lhes atribuído o setor de Geba. Nesta localidade substituem a CCAÇ 1426. A Companhia dissemina-se por quatro destacamentos. A 17, avança para Banjara, que ele classifica como pior destacamento a seguir a Madina do Boé. “Banjara era um destacamento de alto risco, situado na estrada de Bafatá-Mansabá, a cerca de 40 quilómetros de Geba, e outros tantos de Bafatá, na mata do Oio”

Descreve Banjara e o seu perímetro. O destacamento era um verdadeiro inferno se bem que só tenha havido uma flagelação, era o isolamento, não havia população civil, os abastecimentos e o correio chegavam uma vez por mês. Banjara tinha um grupo de combate, reforçado por uma seção de autometralhadoras, Granadeiros da Cavalaria de Bafatá, um Esquadrão de Reconhecimento, 15 milícias, uma seção de armas pesadas, num total de 70 a 80 homens. “Lá passámos os 8 mais longos meses da nossa juventude”. Descreve as atividades desenvolvidas em Banjara.

Em 21 de agosto morre o comandante da Companhia e o seu guarda-costas, caíram num campo de minas anticarro e antipessoal na estrada de Geba-Banjara, depois de terem ultrapassado o destacamento de Sare Banda. O Alferes Domingos Maçarico passou a comandar a Companhia, Martins Moreira e Maçarico trocam posições, Martins Moreira vai para Geba. O histórico desta unidade militar é marcado por várias infelicidades, para além da morte do Capitão Guimarães, os alferes Maçarico e Marques Lopes foram evacuados com ferimentos em combate. Recorda situações penosas como quinze dias de alimentação sem sal e depois dá-nos uma descrição do destacamento de Cantacunda, a cerca de 35 quilómetros para norte, refere os efetivos, não esquecem o nome do comandante do pelotão de milícias, Samba So, o destacamento tinha população civil e régulo. 

Parecia calmo e seguro, mas era profundamente vulnerável, como se comprovou em abril de 1968, um numeroso grupo do PAIGC apanhou a guarnição descontraída, tomou de assalto a caserna e os abrigos, aprisionou 12 elementos, assassinou um à facada. Muitos militares conseguiram escapar e chegaram a Geba depois deambularem pelo mato uma noite inteira. Dez destes prisioneiros virão a ser resgatados em 1970, no âmbito da Operação Mar Verde.

O novo comandante da CART 1690 passou a ser o Capitão Sarmento Ferreira, é chamado a Bafatá onde lhe entregam uma ordem de operações para uma batida de Sinchã Jobel, uma importante base do PAIGC, vão dois destacamentos, a CART 1690 com três grupos de combate, Martins Pereira está em Banjara, mas dá-nos a versão dos acontecimentos. Quando os efetivos chegaram as imediações do objetivo já estavam bem referenciados pelas sentinelas, as nossas tropas caíram numa emboscada brutal, procuraram reagir abatendo os atiradores que estavam na copa das palmeiras, mas o embate era fortíssimo, retiraram deixando para trás alguns mortos e feridos e cerca de 25 desaparecidos que só se conseguiram recuperar, completamente extenuados e famintos, no dia seguinte. 

O Alferes Fernandes foi assassinado a sangue frio, conforme testemunhou o seu guarda-costas, que nessa ocasião se fingiu de morto. O Alferes Fernandes tinha substituído o Alferes Marques Lopes, ferido em 21 de agosto. O resultado desta operação foram nove mortes e cerca de vinte feridos.

O autor refere que faltavam cerca de 25 elementos, no rescaldo desta ida a Sinchã Jobel foi recuperar os desaparecidos, na manhã seguinte. Ao amanhecer, estavam em frente ao objetivo, foram aparecendo soldados a correr em grupos, completamente exaustos, um deles vinha gravemente ferido. Teve apoio aéreo e um dos pilotos avisou que à frente, a cerca de 2 quilómetros, aguardava-os uma forte emboscada, inverteram a marcha, novo aviso que há emboscada à frente, então afastam-se da picada e embrenham-se na mata até à margem do rio Geba.

 Repetiu-se a operação de resgate no dia seguinte, ainda faltavam 9 ou 10 homens, recuperaram todos com exceção do assassinado Alferes Fernandes e de um capturado, gravemente ferido e levado para Ziguinchor. “Ficou ainda o Armindo Correia Paulino, o magarefe da Companhia, também assassinado, fria e cobardemente, à facada por vários elementos do PAIGC, depois de o terem cercado e aprisionado”.

Fazendo o balanço da situação, o autor estima que em maio de 1968 a sua unidade vivia numa situação muito difícil, o comandante Companhia morto em combate, dois alferes evacuados, o Alferes Fernandes assassinado, em abril passado o assalto a Cantacunda com resultados trágicos, a Companhia estava desmoralizada. 

Em junho, o destacamento de Sare Banda, na estrada Bafatá-Mansabá, com quarenta milícias, foi tomado de assalto pelo PAIGC, com a cumplicidade do chefe de tabanca. Os guerrilheiros incendiaram todas as moranças. “Sare Banda era um destacamento vital que nos garantia a progressão a poente na direção de Mansabá até ao nosso destacamento de Banjara, o mais isolado. Retornava-se, pois, imperioso reocupar, reconstruir e reforçar este destacamento. Foi esta a missão que recebemos”

E dá-nos conta dos trabalhos de reconstrução, ergueram-se seis abrigos subterrâneos, construiu-se uma autêntica fortaleza. Findas as obras, Martins Moreira regressa a Geba. Em 12 de junho, o PAIGC ataca Sare Gana, o pelotão de milícias reage com bravura, houve que recuar, PAIGC instalou-se, na manhã seguinte as nossas tropas puseram os atacantes em debandada. Ao fim de 19 meses no setor de Geba, a CART é transferida para Bissau, teve uma comovente despedida em Geba, os últimos 4 meses foram relativamente tranquilos, fazendo colunas, rusgas, preceitos da rotina, várias emboscadas sem confronto, em 2 de março de 1969 embarcam para Lisboa. Há ainda alguns textos soltos, a completar a missão.

Um relato bem sentido da história de uma unidade militar que conheceu o martírio e o pleno sofrimento, muitos mortos, sequestros, homens devastados e perdidos depois de uma tempestade de fogo. E enternecedor, atenda-se que António Martins Moreira já não é criança, mas exigiu-se ao dever da memória, fielmente cumprido.

António Martins Moreira, no lançamento do seu livro na Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
Bafatá
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22828: Notas de leitura (1401): "Adeus... até ao meu regresso": livro de memórias fotográficas de 56 antigos combatentes, naturais de Vila Real, incluindo o Miguel Rocha, ex-alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) - Parte I

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22438: Alferes Miliciano Fernando da Costa Fernandes, da CART 1690/BART 1914, que morreu vítima de ferimentos em combate durante a Op. Invisível, em Sinchã Jobel, no dia 18 de Dezembro de 1967, cujo corpo não foi possível recuperar


Alferes Miliciano Fernando da Costa Fernandes

- Partiu para a Guiné em rendição individual em 1966.
- Foi colocado numa Unidade estacionada em Nhacra, ficando destacado em João Landim.
- Seguidamente foi colocado no BCAV 1905, sediado em Teixeira Pinto.
- Mais tarde foi para a CART 1690 a fim de substituir o Alf Mil António Marques Lopes, ferido e evacuado em consequência do rebentamento de uma mina anticarro.
- Faleceu em 18/12/67, vítima de ferimentos em combate durante a Op Invisível.

- O seu corpo não foi recuperado.


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2. Comentários do editor

- No nosso Blogue, o Cor DAF ref Marques Lopes, a propósito do seu livro "Cabra Cega" (, cópia da capa acima, edição brasileira), no Poste 15202 de 5 de Outubro de 2015[*], descreve as circunstâncias da morte do Alf Mil Fernando da Costa Fernandes durante a Op Invisível.

"Este alferes Fernando da Costa Fernandes, natural de Santo Tirso, tinha vindo para a CART 1690, para substittuir o A. Marques Lopes, entretanto evacuado para o HMP, na sequência da mina A/C acionada em 21/8/1967, na estrada Geba-Banjara, que vitimou mortalmente o Cap Art Manuel Guimarães. O Fernandes será "dado como desaparecido" em campanha, nesta Op Invisível, em 19 de Dezembro de 1967... Na realidade, foi morto e o seu corpo nunca foi recuperado".

- Ainda sobre a morte do Alferes Fernandes, na página do nosso camarada António Pires, UTW Terra Web - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, podemos ler o recorte de um artigo da autoria de António Martins Moreira, ex-Alf Mil Op Esp da CART 1690, com o título "Fernando da Costa Fernandes, Alferes Mil (o Aznavour) - Companhia de Artilharia 1690 - Batalhão de Artilharia 1914 - Tombado em Combate no Dia 18 de Dezembro de 1967", publicado em 3 de Fevereiro de 1995 no jornal Badaladas, de Torres Vedras.
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Nota do editor:

[*] - Vd. poste de 5 DE OUTUBRO DE 2015 > Guiné 63/74 - P15202: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte V): a partir da Op Invisível, de 18-19/12/1967, passa a ser uma ZLIFA (Zona LIvre de Intervenção da Força Aérea)... O alf mil Fernando da Costa Fernandes, de Santo Tirso, é morto, não sendo possível resgatar o seu corpo, e o soldado Manuel Fragata Francisco, de Alpiarça, é gravemente ferido, aprisionado e levado para Ziguinchor onde é tratado pelo dr. Mário Pádua e mais tarde, em 15/3/1968, entregue à Cruz Vermelha Internacional

sábado, 22 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19909: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIV: Manuel Carlos Conceição Guimarães, cap art (Lisboa, 1937 - Geba, Guiné, 1967)


Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães,  primeiro comandante da CART 1690 (Geba, 1967), então com 29 anos. Foi um dos 26 capitães que morreram no TO da Guiné (*). Neste caso, em comabte,  na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967, na sequência de deflagração de uma mina A/C. Tem 4 referências no nosso blogue. (**)

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (***)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

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Notas do editor:



terça-feira, 18 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19899: 15 anos a blogar desde 23/4/204 (9): o ataque a Sare Banda, destacamento da CART 1690 (Geba, 1967/69), em 8 de setembro de 1968: o alf mil Carlos Alberto Trindade Peixoto e o fur mil Raul Canadas Ferreira jogavam às cartas, à luz de petromax, foram mortos por uma roquetada (A. Marques Lopes)



Guiné > Região de Bafatá >  Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamentos e aquartelamentos > 1968 > A CART 1690, com sede em Geba, tinha vários destacamentos: Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Sare Ganá... Os destacamentos não tinham luz eléctrica e as condições de segurança eram precárias. O IN tinha uma importante base em Sinchã Jobel, a oeste de  Geba, a sul de Banjara, a sudeste de Mansabá. (*)

Infografia: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados.





Guiné > Região de Bafatá >  Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O destacamento não tinha população civil e era defendido por um pelotão da CART 1690. Distava 45 km de Geba. O ataque a Banjara, a 24 de julho de 1968, às 18h00, já aqui foi descrito há 14 anos por A. Marques Lopes.


As instalações que se veem na foto pertenciam à antiga serração do empresário Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira,
um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925,  dono de modernas serrações mecânicas aqui, em Fá Mandinga e em Bafatá, a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e figura respeitável na colónia em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960...




Guiné > Região de Bafatá > Sector L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O abastecimento das NT era deficiente, pelo que se recorria aos "produtos naturais" da região...

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Bafatá > Sare Banda > 2001 > Restos do antigo destacamento de Sare Banda > Na foto, o ex-presidente da Câmara Municipal de Chaves Altamiro Claro, membro da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884 (Geba, 1972/74).

Foto (e legenda): 
© Altamiro Claro (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sinchã Jobel > 22 de abril de 2006 > Uma bomba da FAP (Força Aérea Portuguesa), das muitas que foram lançadas sobre a base do PAIGC, durante a guerra colonial, e que não chegaram a explodir. Na foto, o nosso amigo e camarada A. Marques Lopes. Em finais de 1967, Sinchã Jobel passou a ser uma ZLIFA (Zona Livre de 
Intervenção da Força Aérea). Ficava no regulado de Mansomine, entre Mansabá e Bafatá. A foto, histórica, é do organizador desta viagem, do Porto a Bissau, em abril de 2006, o Xico Allen [ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, Os Metralhas, Empada, 1972/74]. Levou o jipe, que lá ficaria para futuras viagens. O grupo regressaria depois de avião. Acompanhou, em 22 de abril de 2006, o A. Marques Lopes neste regresso, emocionante, à mítica Sinchã Jobel. (*)

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Bafatá > Sare Banda > 2001 > Restos do antigo destacamento de Sare Banda > 22 de abril de 2006, "a caminho de Sinchã Jobel"


Fotos (e legenda): © A, Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Um ataque a Sare Banda, em 8 de setembro de 1968

por A. Marques Lopes


(i) amigo e camarada, um histórico da nossa Tabanca Grande, com 240 referências no blogue;

(ii) lisboeta, filho de pais alentejanos, que vive em Matosinhos;

(iii) cor art DFA, na reforma, ex-alf mil art, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68)];

(iv) ferido em combate e evacuado para o Hospital Militar Principal, na Estrela, onde esteve em tratamento durante nove meses, voltando depois ao TO da Guiné para completar a sua comissão de serviço; 

(v) em abril de 2006, (re)visitou Guiné-Bissau, num viagem de grupo organizada pelo Xico Allen; 




Sare Banda estava perto de Sinchã Jobel, e é natural que fosse atacada. O alferes morto foi o Carlos Alberto Trindade Peixoto, o meu segundo substituto [, o "Aznavour", por ser parecido com o Charles Aznavour, sendo natural de Moçamedes, Angola]. O outro morto foi o fur mil Raul Canadas Ferreira [, natural da metrópole]. Mas as circunstâncias da morte deles não estão devidamente relatadas. (**)


Foi assim: este, como todos os destacamentos da CART 1690, não tinham luz eléctrica, nem mesmo um miserável gerador. Eles estavam os dois numa tenda a jogar às cartas, com um petromax aceso. Para os guerrilheiros foi muito simples, foi só apontar o RPG. 

As fotografias de Sare Banda que mando tirei-as em Abril 2006, quando a caminho de Sinchã Jobel, passando por Geba, Sare Ganá e Sinchã Sutu.

8 de setembro de 1968 : desenrolar da ação

(i) Acção inicial do IN

Em 8 de setembro de 1968, às 20h21, um numeroso grupo IN, estimado em cerca de 100 elementos instalados em semi-círculo nas direcções NE-SW e SE-NW, atacou o destacamento de Sare Banda com o seguinte armamento:

- Canhão s/recuo- Morteiro 82
- Lança granadas RPG-2
- Lança granadas P-27 "Pancerovka"
- Metralhadoras pesadas
- Metralhadoras ligeiras
- Armas automáticas
- Armas semi-automáticas



O ataque foi iniciado com um tiro ao canhão S/R e dois Lança Granadas Foguete, dirigidos contra a cantina e depósitos de géneros que atingiram mortalmente o Alferes, Comandante do Destacamento e um furriel e provocaram ferimentos numa praça. 

Estes tiros iniciais do IN atingiram e destruíram ainda o mastro da antena horizontal do rádio, ficando assim o destacamento de comunicações cortadas com toda a rede de Geba. 

No seguimento da acção do IN atingiu com uma granada incendiária uma barraca coberta por 2 panos de lona de viaturas pesadas, onde costumavam dormir vários elementos das NT por não caberem todos nos abrigos, o que provocou a destruição de todo o material lá existente e iluminação das posições das NT.


(ii) Reação das NT


a) Das forças do destacamento



Após a surpresa inicial, os elementos que se encontravam fora dos abrigos correram para os mesmos e reagiram imediatamente ao ataque IN. Não obstante terem ficado sem o seu Comandante e sem comunicações logo aos tiros iniciais, nunca perderam a calma e o moral, opondo tenaz resistência aos intentos do IN. 

Refira-se que, logo no início da reacção, as NT atingiram com tiros de morteiro a guarnição IN do canhão s/r,  calando-o definitivamente, e em determinada altura do ataque repeliram energicamente uma tentativa de penetração de elementos IN ao destacamento, que para o efeito haviam conseguido chegar junto da rede do arame farpado. 

Essa reacção, feita só à base de tiros de espingarda G-3 e granadas de mão em virtude de se ter avariado o Lança Granadas Foguete (bazuca, 8.9), foi verdadeiramente eficaz e decisiva para o desenrolar dos acontecimentos, pois o IN foi obrigado a recuar deixando no terreno 3 mortos, além de armamento e arrastado consigo outros elementos feridos e mortos.

O IN sempre perseguido pelo fogo das NT recuou cerca de 200 metros, instalando-se entre Sare Banda e Sinchã Sutu, donde continuou a flagelar o destacamento até cerca das 22h30 (1 hora e 30 minutos depois do início do ataque), altura em que desistiu dos seus intentos retirando definitivamente.

b)Das forças de Geba (CART 1690)

Em virtude das péssimas condições atmosféricas não foram ouvidos em Geba os rebentamentos de forma a poderem ter sido localizados. Refira-se ainda que o facto do destacamento de Sare Banda ter ficado sem comunicações logo de início do ataque, só permitiu que em Geba se tivesse conhecimento do sucedido cerca das 09h02, do dia seguinte,  de 9 de setembro de 1968, e através de 2 praças do destacamento que haviam vindo a pé voluntariamente comunicar a ocorrência.


Prontamente saiu de Geba uma coluna de socorro que, ao atingir Sare Banda às 017h45, fez um reconhecimento nos arredores seguido de batida de madrugada, mas já não conseguindo contactar com o IN, que havia retirado na direcção de Darsalame e se dirigindo para Sinchã Jobel. 

(iii) Resultados obtidos:

Baixas sofridas pelo IN: 8 mortos confirmados. Muitos feridos sendo possível que hajam mais mortos devido aos rastos de sangue encontrados no carreiro de retirada do IN.


Material capturado ao IN:


- 1 Espingarda semi-automática SIMONOV cal. 7,62 mm
- 1 Espingarda automática G-3 / 7,62 mm
- 1 Granadas de canhão s/r
- 2 Granadas de lança-granadas foguete
- 1 Granadas de morteiro 82 mm
- 2 Granadas de mão ofensivas RG-4
- 8 Carregadores de Met. Lig.
- 2 Fitas de Met. Lig.
- 2 Facas de mato
- 2 Bolsas p/transporte de munições
- 2 Cantis
- Diversas Munições de armas aut.

Além de uma bolsa de medicamentos, com o seguinte material:

- 3 Streptomycin. Sulphite-ampolas de 5.000.000 (Frascos)
- 1 Éter (frasco)
- 1 Mercúrio cromo (frasco)
- 1 Bálsamo (frascos)
- 10 Injecções (desconhecidas em ampolas)
- 178 Aspirinas comprimidos (carteiras)
- 96 Madexposte em comprimidos
- 6 Chinim Sulfur (comp. emb. de 5)
- 5 Codemel (carteiras de 10 Comprimidos)
- 1 Adesivo (rolo)
- 1 Algodão cardado (maço)
- 1 Garrote
- 20 Ligaduras de gaze de 10 cm x 5cm
- 1 Seringa de plástico c/agulha


A. Marques Lopes
Alf Mil da CART 1690 


[Revisão / fixação de texto: LG](***)

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


5 de outubro de 2015> Guiné 63/74 - P15202: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte V): a partir da Op Invisível, de 18-19/12/1967, passa a ser uma ZLIFA (Zona LIvre de Intervenção da Força Aérea)... O alf mil Fernando da Costa Fernandes, de Santo Tirso, é morto, não sendo possível resgatar o seu corpo, e o soldado Manuel Fragata Francisco, de Alpiarça, é gravemente ferido, aprisionado e levado para Ziguinchor onde é tratado pelo dr. Mário Pádua e mais tarde, em 15/3/1968, entregue à Cruz Vermelha Internacional



(***) Último poste da série > 13 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19887: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (8): O soldado Machado, de etnia cigana: 'Ó Barrelas, pagas-me uma bejeca ?!'... Uma "estória" bem humorada do Mário Pinto (1945.2019)