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sábado, 22 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27451: Efemérides (474): Foi há 55 anos a Op Mar Verde, a invasão anfíbia de Conacri... Uma das vítimas colaterais foi Mamadou Barry, "Petit Barry" (n. 1934), colaborador próximo de Sékou Touré, encarcerado 7 anos em duas das mais sinistras prisões do regime


Capa do livro de Mamadu Barry, "Petit Barry" - "Camp Boiro: Livre 1: Sept  ans sous le Mont Gagan: Récit d'un prisonnier politique sous Sékou Touré" (2022, 298 pp.) 



Mamadou Barry 

1. Desde 26/10/2024, temos sido contactados por Lamine Bah, sobrinho de Mamadou Barry (n. 1934), uma das vítimas colaterais da Op Mar Verde, a invasão de Conacri em 22 de novembro de 1970, faz agora justamente 55 anos. 

Tem-nos falado do seu tio e dos livros que vai publicando com as suas memórias como prisioneiro político sob o regime de Sékou Touré, e de que ele foi um dos braços direitos... até cair em desgraça. 

Recomendou o nosso blogue ao seu tio, que também é conhecido pela sua alcunha de criança, "Petit Barry" (e que é hoje um alto quadro das Nações Unidas, reformado).  


Mensagem de Lamine Bah, dirigida ao nosso blogue e ao seu tio Mamadu Barry:

Data - sexta, 2/05/2025, 22:12

 (...) Caro Luís Graça, gostaria de aproveitar esta oportunidade para apresentar o sr. Mamadou Barry, conhecido como "Petit Barry", uma das vítimas de Sékou Touré, que ficou detido durante anos no Campo Boiro. 

Ele foi acusado de ser cúmplice na agressão portuguesa que vocês chamam de Operação Mar Verde, em 22 de novembro de 1970. Ele foi submetido a torturas e tratamentos desumanos, degradantes, que vocês podem imaginar, para fazê-lo "confessar" crimes que não cometeu.

Naquela época, ele era o chefe de Gabinete de Imprensa da Presidência da República da Guiné, ou seja,  um colaborador muito próximo de Sékou Touré. Isso significa que ele acompanhou de perto os acontecimentos de 22 de novembro de 1970, estando na rádio "La Voix de la Révolution ("A Voz da Revolução", em português).

Ele escreveu um livro que será o primeiro de uma série sobre as suas condições de detenção no Campo Boiro e depois em Kindia. Este livro "7 Anos Sob o Monte Gangan" (traduzindo o título original, em francês, para português) está (ou estava na altura) disponível na Amazon e é descrito nos seguintes links:

https://www.visionguinee.info/sept-ans-sous-le-mont-gangan-recit-dun-prisonnier-politique-sous-sekou-toure/

https://www.amazon.fr/Sept-ans-sous-Mont-Gangan/dp/B0B4KFSP51

Ele planeia escrever um livro sobre o 22 de novembro de 1970, como  testemunha do ocorrido.

Caro tio Mamadou Bowoi Barry, apresento-lhe também o sr. Luís Graça, um ex-militar português que se interessa pelas guerras coloniais travadas pelo exército português nas suas colónias, particularmente na Guiné-Bissau. Ele é um dos animadores de um blogue criado por eles para relembrar suas ações nas colónias portuguesas, nomeadamente na Guiné-Bissau. Já lhe dei o endereço deste blogue que é uma fonte interessante de informações sobre 22 de novembro de 1970. (...)
 
Ao preparar a continuação do seu livro, você poderá ter informações em primeira mão sobre esse episódio doloroso da nossa história. (...)
 
Lamine Bah


2. Outra mensagem, de que reproduzimos a versão em português:

Data - terça, 6/05/2025, 22:26

Luís Graça, as minhas saudações para ti,

Obrigado pelo teu acolhimento e resposta.

A Op  Mar Verde, pelo facto de se ter passado na Guiné-Conacri, teve repercussões muito graves para centenas de pessoas, acusadas, sem provas, de cumplicidade com  os portugueses.

Os vossos testemunhos no blogue permitiram dar uma outra versão dos acontecimentos que não a do governo da República da Guiné. (...)

Lamine Bah

3. Mas falemos do autor e do seu primeiro livro, de 2022,  que, segundo julgamos crer, não foi traduzido para português. Foi apresentado em Paris em 23 de maio de 2023. 

Uma sinopse do livro e da vida do autor está aqui disponível, assinada por  Alpha Sidoux Barry. Vamos apresentar, em português, alguns excertos selecionados (na realidade, o essencial do texto, com a devida vénia).

Sept ans sous le Mont Gangan : Récit d’un prisonnier politique sous Sékou Touré…
Vision Guinnée Info > Mai 15, 2023


Mamadou B. Barry (n. 1934), mais conhecido pelo seu "petit nom"  "Petit Barry", encontrava-se, em 2023, reformado como alto funcionário das Nações Unidas, e acabava de publicar uma obra intitulada "Sete anos sob o monte Gangan" que narra os seus longos anos como prisioneiro político durante o regime de Sékou Touré, passadas no anexo do sinistro campo Boiro, e depois na prisão civil de Kindia.

Antigo diretor do Gabinete de Imprensa do primeiro presidente guineense, Sékou Touré, e simultaneamente ex-diretor do serviço internacional da "Voz da Revolução" e deputado á Assembleia Nacional (portanto, um dos "meninos bonitos" do ditador), ele acabou por ser vítima da repressão, cega e selvagem, que se seguiu aos trágicos acontecimentos  de 22 de novembro de 1970 (Invasão de Conacry, Op Mar Verde, de que temos uma centena de referências no blogue)

"Sept ans sous le Mont Gangan" (em francês), "Sete anos sob o Monte Gangan" (traduzindo para português) é o primeiro de sete volumes da série "Campo Boiro", que ele está a redigir e que irá publicar aos poucos como testemunha ocular e vítima do regime de terror, instaurado por Sékou Touré na Guiné-Conacri, durante a Primeira República (1958-1984). (...)

O autor fez, ele próprio, o seguinte resumo da sua história de vida.

O presente Livro, primeiro da série 'Campo Boiro', é um relato-testemunho que abrange um período de sete anos, desde 14 de junho de 1971 (data da sua detenção) até 25 de maio de 1978 (data de libertação ao Campo Boiro, em Conacri, dos 15 últimos sobreviventes da prisão civil de Kindia).

Os acontecimentos narrados no livro ocorreram quase todos na prisão civil de Kindia, que era dominada pelo Monte Gangan, cuja crista careca, semelhante ao bico de um "jagudi" gigante, sobrepunha-se à cidade. Esta montanha mágica, que se alimentava do sangue humano, aguardava as suas próximas vítimas. De fato, era ao pé desta montanha que eram executados os prisioneiros políticos.

A sua estadia nesses lugares proibidos permitiu ao autor descobrir o lado obscuro e trágico do carismático líder da Revolução guineense, Ahmed Sékou Touré, e dos seus colaboradores, cínicos e cruéis, que agiam na escuridão.

"Petit Barry", o editorialista da "Voz da Revolução" (a rádio da Guiné-Conacri), conhecia o herói, ou uma das suas facetas, que ele batizou num dos seus  programas como "Filho do Povo". Ele irá descobrir, "o outro lado", tenebroso, o tirano e o destruidor de homens.

O autor fala de si mesmo, de suas relações com Sékou Touré e com os seus colaboradores mais próximos, alguns dos quais se tornaram torturadores, autoconfiantes, convencidos da sua força, invencibilidade e impunidade. 

Se menciona os algozes, Mamadou Barry também apresenta ao leitor, como contraponto, os retratos de algumas belas e nobres figuras da nova Guiné, homens dignos e humildes que contribuíram de forma inestimável para a reconstrução de um país livre e orgulhoso, mas cujos corpos já estavam todos enterrados em valas comuns.

Este livro é também uma homenagem à sua família que contribuiu para que ele se tornasse o que é hoje: seu venerável pai El Hadj Thierno Abdoulaye Barry, a sua mãe Maimouna Hann, a sua avó materna conhecida como ‘Maama Daguia’ (...) 

A mãe e a avó eram duas pessoas que lhe eram particularmente caras, mas que ele não voltaria a ver, pois ambas morrerão antes de sua libertação em 1978.

O livro também apresenta ao leitor a bela figura de Ngalou (que significa "Tesouro", em fula), de seu nome de batismo Adama Doukouré (filha do ilustre mestre da escola Aboubacar Doukouré, chamado familiarmente de "Papa Douk"), a jovem noiva que o autor deixou do lado de fora, e que assombra e encanta o prisioneiro do Monte Gangan, permanecendo o seu sorriso gravado em sua memória, como um doce raio de sol, durante todos esses anos de dor e luto.

Nascido em Labé, de pai funcionário público, originário de Mamou, Mamadou Bowoi Barry carrega o nome de seu tio paterno que fundou a povoação  de Bowoi, localizada na subprefeitura de Dounet a 30 km de Mamou (antigamente chamada de ‘Gare Ballay’, em homenagem ao primeiro governador e criador da Guiné francesa).

Foi na escola primária de Labé-Kourola, que o eminente professor Korka Maléah Diallo o apelidou de ‘Petit Barry‘ quando, saltando o curso elementar da segunda série (CE2) a pedido de seu mestre Tounkara Jean Faraguet, ele se foi juntar ao seu irmão mais velho Alpha Amadou Oury, conhecido desde então como ‘Grand Barry’, no curso médio da primeira série (CM1). Depois, ingressou no liceu de Conacry onde passou as duas secções do "Bac" (secção  Letras clássicas: latim e grego; e seção Filosofia) (1954-1955).

Em seguida, partiu para o Senegal e frequentou o Instituto de Altos Estudos de Dacar, onde fez o seu propedêutico.  Irá, entretanto,  prosseguir os seus estudos em França, na Faculdade de Letras da Universidade de Toulouse e depois de Grenoble. 

Concluiu-os na Suíça em 1964 na Universidade de Genebra (Faculdade de Ciências Económicas e Sociais) e no Instituto de Altos Estudos Internacionais (HEI), da grande metrópole helvética.

Mamadou Barry também é graduado pelo Centro Universitário de Ensino de Jornalismo de Estrasburgo, onde teve como professor Hubert Beuve-Méry, fundador em 1944 do famoso diário da tarde “Le Monde”. O conhecido jornalista (sob o pseudónimo Sirius) ensinava lá arte do editorial.

Durante a sua carreira estudantil em França, "Petit Barry"  tornou-se membro ativo da Federação dos Estudantes da África Negra em França (FEANF), a qual representou na União Internacional dos Estudantes (UIE) em Praga, na Checoslováquia, de 1958 a 1960, como vice-presidente. Foi também membro da equipa de redação de "L’Étudiant d’Afrique noire", órgão da FEANF que circulava em Toulouse.

Enquanto isso, ele representou a UIE em Pequim, em 1959, durante o 10.º Aniversário da República Popular da China. Nessa ocasião, teve a honra de ser apresentado, com outros estudantes da África e da Ásia (incluindo o linguista senegalês Pathé Diagne), ao "grande líder" Mao Zedong.

Terminados os seus estudos, Mamadou Barry regressa à Guiné, onde se coloca à disposição do governo guineense. É inicialmente nomeado, em 1965, chefe de divisão na Direção-Geral da Cooperação Internacional do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Dois anos mais tarde, torna-se diretor do Serviço Internacional da "Voz da Revolução", a Emissora Nacional da República da Guiné, acumulando igualmente as funções de diretor do Gabinete de Imprensa do Presidente da República.

Em 1968, Sékou Touré nomeia-o deputado à Assembleia Nacional, ao abrigo de uma disposição da Constituição de 1958 que autorizava o chefe de Estado a nomear 15 altos quadros como deputados, entre os 60 que compunham o Parlamento. Importa notar que, dessas 15 personalidades, 14 seriam detidas e tornar-se-iam, assim, pensionistas do campo Boiro.

Para tirar partido das suas múltiplas competências, "Petit Barry" é ainda nomeado professor ("pro bono") no Instituto Politécnico Gamal Abdel Nasser (IPGAN), em Conacri, a universidade guineense da época.

Na sequência da agressão portuguesa contra a Guiné, a 22 de novembro de 1970, e à semelhança de milhares de quadros guineenses, será injusta e arbitrariamente detido seis meses depois,  em 14 de junho de 1971.

É encarcerado primeiro no sinistro Campo Boiro e depois no seu anexo, na prisão civil de Kindia, a 135 km de Conacri. 

Singular marca de negação da justiça: a sua imunidade parlamentar não foi sequer levantada antes da sua detenção.

Entretanto, será milagrosamente libertado a 22 de novembro de 1978, após sete anos e meio de detenção abusiva em condições mais do que desumanas, comparáveis às descritas em O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler, ou em O Arquipélago Gulag, de Aleksandr Soljenítsin.

Como sobrevivente deste terrível campo de detenção, é membro fundador da Associação das Vítimas do Campo Boiro (AVCB).

Beneficiário, após a sua libertação, de uma bolsa médica concedida pela República Socialista da Hungria em 1979, decide, após uma estadia médica de seis meses em Budapeste, não regressar à Guiné.

Obtém um cargo de funcionário internacional no escritório das Nações Unidas em Viena, Áustria, e posteriormente na Secretaria das Nações Unidas em Nova Iorque, dois centros onde irá servir durante 15 anos (1980-1995).

De 1996 a 2010, o sistema das Nações Unidas em geral, e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em particular, bem como a Comissão Europeia, recrutaram-no como consultor em matéria de governação, prestando serviços a cerca de quinze países africanos.

Desde 2011, Mamadou Bowoi Barry é consultor internacional independente no âmbito da sua agência “Barry Consulting”. É analista político, especialista em democracia e governação e autor de vários artigos e estudos sobre os desafios da transição democrática em África.

Casado e pai de sete filhos, dez netos e três bisnetos, atualmente reformado, dedica-se à redação das suas memórias e partilha a sua experiência com as novas gerações. 

Nesse sentido, prevê criar “O Blogue do Patriarca”, cujo objetivo será promover um diálogo fecundo entre gerações.

Depois de Sete anos sob o Monte Gangan, seguirá o Livro II, intitulado Regresso ao Campo Boiro, que será publicado em breve. Esta obra descreve a sua segunda estadia no Campo Boiro, de 25 de maio a 22 de novembro de 1978, a sua libertação, saída da Guiné e entrada nas Nações Unidas.

O Livro III aborda Os acontecimentos de 22 de novembro de 1970, dos quais é uma das testemunhas oculares.

Intitulado Vigílias sob o Monte Gangan, o Livro IV descreve como os detidos, encerrados 24 horas por dia, ocupavam o seu tempo. 

O quinto livro versará sobre Sékou Touré, tal como eu o conheci. O sexto, Memórias da minha infância foutaniana, relata a sua feliz infância junto da avó Maama Daguia, na bela aldeia de Daguia, a 7 km de Labé. 

Por fim, "Petit Barry" prevê publicar, no sétimo volume das suas memórias e da série “Campo Boiro”, os seus poemas de prisão sob o título Espinhos.

Uma contribuição excecional e insubstituível para a descrição da feroz e implacável ditadura sekouturiana (neologismo criado pelo Dr. Charles Diané, paz à sua alma!), inspirada no sistema prisional de tipo soviético que causou tamanha desgraça a todos os povos que lhe foram submetidos.

Alpha Sidoux Barry

(Seleção, adaptação/ tradução livre, revisão / fixação de texto:  LG)
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Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de:


4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26230: Casos: a verdade sobre ... (50): António Lobato, sete anos prisioneiro de Amílcar Cabral e Sékou Touré / L' affaire Antonio Lobato, sept années prisionnier d' Amilcar Cabral et de Sékou Touré

(**) Último poste da série > 15 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27426: Efemérides (473):"O T de Teixeira - com o mesmo T se escreveu tragédia", no dia em que se cumpre mais um aniversários sobre a morte do soldado PelRec Teixeira

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte I




Capa de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992. 143 pp.)



Gráfico nº 1 > Distribuição por anos (1958-1974) das incorporações de cadetes da Reserva Naval 

Fonte: Adapt de  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.26



1. Com a morte do Manuel Lema Santos (MLS) (Barrancos, 1942 - Cascais, 2025) (*),  fomos redescobrir nas nossas estantes este livro, que ele havia oferecido ao blogue, em 2012, em Monte Real, por ocasião do VII Encontro da Tabanca Grande.

O MLS era do 8º CEORN (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval) (data de alistamento: 9/10/65). Sendo um "filho da Escola", sempre manifestou um especial carinho pela Reserva Naval e criou inclusivamente um blogue, com esse nome, "Reserva Naval". 

https://reservanaval.blogspot.com/ 

Também fez parte, se não erro, dos corpos sociais da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

A Reserva Naval foi criada ou reformulada pelo Decreto-Lei nº  41399, de 27 de novembro de 1957. (Neste diploma foram definidos os diferentes quadros das reservas da Marinha, designadamente a: 
  • RA - Reserva da Armada, 
  • RN - Reserva Naval, 
  • RM -  Reserva Marítima; e 
  • RL - Reserva Legionária.)

No que respeita à RN, era estabelecido que os indivíduos a ela destinados seriam alistados provisoriamente, na idade militar, em contingentes a solicitar ao Ministério do Exército e fixados anualmente pelo Ministério da Marinha para as diferentes especialidades.

Esses contingentes eram constituídos por indivíduos que frequentassem ou tivessem frequentado as seguintes escolas (ou cursos):

  • Faculdade de Ciências;
  • Faculdade de Engenharia e Instituto Superior Técnico /cursos de Engenharia Civil,  Mecânica, Eletrónica, Química Industrial e Máquinas);
  • Faculdades de Medicina;
  • Escolas de Farmácia;
  • Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (cursos de  Ciências Económicas e Financeiras, Economia e Finanças);
  • Faculdade de Economia;
  • Instituto Superior de Agronomia.

Era dada preferência aos "voluntários e oferecidos" (sic) e  aos que possuíssem conhecimentos náuticos (titulares de carta de Patrão de Costa ou de Patrão de Alto Mar),

Finalmente, o referido Decreto-Lei remetia para o Ministro da Marinha a responsabilidade pela expedição das instruções necessárias à sua execução. Era então ministro da Marinha (havia um ministério da Marinha em 1957! ) o futuro presidente da República (e último do Estado Novo), o vice-almirante Américo Tomás (1894-1987).

Em 27 de Maio de 1958, através da Portaria no. 16.714 foram estabelecidas as condições de recrutamento e de prestação de serviço dos reservistas da Reserva Naval.

Esta Portaria, sucessivamente adaptada às realidades e necessidades da Marinha, constitui o instrumento regulador mais relevante da atividade da Reserva Naval. 

O livro em apreço  faz um breve historial da Reserva Naval e passa em revista os 25 CEORN / CFORN (Cursos de Especiais, até ao 8º, e depois Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, do 9º ao 25º).

Os CFORN foram interrompidos em 1975 e retomados em 1976. 

 Neste poste queremos destacar  que entre 1958 e 1974 foram realizados 25 CEORN/ CFORN e formaram-se 1712 oficiais RN, com destaque para;
  • a classe de Marinha (N) (n=612) (35,7%), 
  • seguida da classe Fuzileiro Naval (FN) (n=465) (27,2%), 
  • Técnicos Especiais (TE) (n=246) (14,4%) 
  • e Administração Naval (AN) (n=243) (14,2%);
  • estas quatro classes  representavam mais de 90 % do total (Quadro nº 1).

 


Quadro nº 1 - CEORN / CFORN, data de alistamento, total de cadetes. e quantitativos por classes, de 1958 a 1974

Legenda: M=Marinha; MN = Médicos Navais; EMQ = Engenheiros Maquinistas Navais; AN= Administração Naval; FZ = Fuzileiro Naval; ECN = Engenheiros Construtores Navais; TE = Técnico Especialista; FN = Farmacêutico Naval.


Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.25.


O gráfico acima, nº 1, pode ter vária leituras: até 1966 (9º CFORN) (1966), a incorporação anual de cadetes da RN (n=459) representou apenas 26,3% do total. A partir de 1967 e até 1974  disparou (n=1262( 73,7%)

Houve um aumento da oferta e da procura a partir de 1966) 1966:


(vd. Gráfico nº 1)

Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992). pág.25.

(Cintinua)

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Notas do editor LG:

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27290: Notas de leitura (1846): "O Último Avô", de Afonso Reis Cabral, Publicações Dom Quixote, 2025 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
Vai para dez anos que li o primeiro romance de Afonso Reis Cabral, "O Meu Irmão", uma verdadeira apoteose numa escrita adulta contando-nos a relação entre dois irmãos, um deles portador de deficiência, uma luminescência literária, algo de inesperado, um jovem de vinte e poucos anos era capaz de chegar ao osso da vida e de nos levantar ao céu. Este seu romance, que aqui saúdo, vem quebrar um juízo sobre os tempos atuais da literatura da Guerra Colonial, tinha para mim que os antigos combatentes só se interessariam por passar a escrito as memórias e que os mais novos estavam a leste do que os avós ou os pais viveram naqueles teatros de guerra. Esta obra avassaladora, que confirma Afonso Reis Cabral como um dos maiores vultos da sua geração, faz-me pensar que chegou a hora dos mais novos se ocuparem daquela guerra que fez mudar a história de Portugal.

Abraço do
Mário



Um notável romance onde não faltam enigmas sobre a Guerra Colonial

Mário Beja Santos

Foi recentemente publicado o romance O Último Avô, de Afonso Reis Cabral, nas Publicações Dom Quixote. Sobre a essência da obra não me vou pronunciar agora, mas anuncio que a literatura sobre a Guerra Colonial está em festa, afinal este subgénero literário que me parecia confinado à literatura memorial aparece esplendente num texto literário seguramente de referência e destinado a sucessivas edições. Atenda-se ao que se escreve na contracapa:
“Quando Augusto Campelo, o mais genial escritor português, queima o manuscrito no qual trabalhou durante anos, deixa para trás um mistério: seria o tão esperado romance sobre a experiência traumática da Guerra Colonial de que tantas vezes falava, mas à qual nunca dedicou um livro? Subsiste a dúvida: o escritor morre uma semana depois”.


Augusto Campelo não desdenhava falar da guerra em ambiente familiar e dizia nas suas entrevistas, no país e no estrangeiro, que tinha intenção de lhe dedicar uma prosa de fulgor. E ninguém lhe podia mexer na secretária nem naquele caderno que constava ser a tal memorável recordação da guerra. Um dia dirigiu-se ao neto, também de nome Augusto, deste modo:
“Quando entro na selva da memória de África, quantas histórias levantam voo como as borboletas azuis dos troncos caídos daquelas matas… Nós éramos miúdos que achavam que eram homens. A recruta bárbara meteu-nos na cabeça que éramos homens. Mas éramos miúdos que, ao fim de seis meses de uma dureza insana, tinham de ir para a guerra a achar que eram homens. Ainda hoje os admiro, amo-os, aos meus camaradas. E de muitos nem me lembra o nome… Deram o que tinham, tantos deram tudo. E só tinham a juventude para dar.”
E, adiante:
“Em público, continuava a afirmar que o romance da guerra seria o próximo, sempre o próximo, mas antes precisava de se entender com as várias dezenas de baixas que o batalhão sofrera. E dizia que costumava acordar a meio da noite em busca da G3 para acudir aos camaradas. Nunca me livrarei dos meus mortos.”


E Afonso Reis Cabral talvez seja o autor que até hoje com mais incisão e contundência homenageia os antigos combatentes, nunca li texto tão enternecedor:
“Restam uns trezentos mil soldados da velha guerra. A estatística manda que os encontremos na rua, na sucursal do banco ou dos correios, nos cafés. Frequentam os transportes públicos e sentam-se ao nosso lado na Loja do Cidadão. São eles que conversam entre si durante horas nos bancos de jardim. Uns falam alto, outros perderam a voz. Suspeito de que muitos dos que agarramos pelos pulsos e tornozelos às camas dos hospitais, e que bradam como cercados pelo inimigo, também sejam antigos combatentes. Alguns escondem-se à paisana de velho e à paisana de soldado: como ninguém lhes dá mais de setenta anos, não parecem velhos o suficiente e ninguém desconfia de que combateram em África. Outros entraram em lares.
Vivem nas nossas casas, comem da nossa comida, bebem da nossa água e despejam os mesmos autoclismos. Usam o nosso papel higiénico. Se os observarmos com amor e algum cuidado, espantamo-nos e compreendemos que são nossos pais e avós e que, enquanto não morrerem, estão vivos; ao mesmo tempo vivos e invisíveis, porque são velhos e não olhamos, porque são veteranos e não ligamos.”


Há uma desmesura neste Augusto Campelo, tirânico, confabulador, medularmente mistificador; há uma enleante relação entre o gigante literário e o seu neto, também de nome Augusto, que pesará sobremaneira como a metáfora da transmissão de segredos que os antigos combatentes querem ver passar às novas gerações. Como antigo combatente e apreciador do talento de Afonso Reis Cabral, acho que temos aqui um livro surpreendente, e que a todos nós pertence. Convido-vos à sua leitura.
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Nota do editor

Último post da série de 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27276: Notas de leitura (1845): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte III: "A minha Pátria é o Hélder" (Luís Graça)

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27221: Notas de leitura (1838): "Uma Outra Perspectiva", por Rui Sérgio; 5livros.pt, 2023 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Quando leio as narrativas do escritor Rui Sérgio, que foi alferes-médico num batalhão sediado em Galomaro, interrogo-me sobre o que aconteceu no Leste da Guiné desde agosto de 1970, altura em que regressei a casa, e os acontecimentos que ele descreve vividos predominantemente em 1973 e 1974. A partir de novembro de 1969, passei à intervenção em Bambadinca exclusivamente com um pelotão de caçadores nativos. Íamos corriqueiramente cumprir missões através de cimento, transporte de doentes a locais como Galomaro (então sede de companhia), Madina Bonco, Afiá, Madina Xaquili e outros pontos que Rui Sérgio aqui refere como autênticas operações, isto enquanto nós percorríamos estas regiões com num Unimog 411, ao nível de secção, impensável recorrer à picagem da estrada. Cumpríamos a coordenação das colunas que se organizavam a partir de Bambadinca até ao Saltinho, exatamente nos mesmos termos que Rui Sérgio descreve, só com a distinção que não parávamos em Mansambo, embora a tropa local picasse a estrada e ficasse em vigilância até à nossa passagem no regresso a Bambadinca. Muito provavelmente, o desaparecimento dos destacamentos de Béli e Madina de Boé deixaram o Boé mais permeável às investidas das forças do PAIGC. O régulo do Cossé, Mamadu Sanhá, tenente de 2.ª linha, dizia a quem o queria ouvir que ninguém do PAIGC se atrevia a molestar a vida dos habitantes do Cossé, isto até agosto de 1970. Vemos agora o batalhão em Galomaro, escusam de me dizer que a guerra não se tinha acentuadamente agravado no Leste.

Um abraço do
Mário



Há lembranças que aquele alferes médico não quer deixar apagar

Mário Beja Santos

É o mais recente livro de Rui Sérgio, intitula-se Uma Outra Perspetiva, 5Livros, 2023. São lembranças avulsas, por vezes releva o olho clínico, há queixumes e não menos azedumes, mas aquela natureza, as solidariedades, a sua atividade como alferes-médico colaram-se-lhe à pele, escreve como ninguém sobre a Guiné, mesmo quando aqui e ali se repete ou regressa à mesma história com outro pormenor. E momentos há em que narrador e leitor coincidem no olhar.

Logo as pragas, lembra uma praga de sapinhos, as viaturas a esborrachá-los, os gafanhotos, predadores terríveis, nuvens que quase encobrem o Sol; e os morcegos, a sair dos telhados do quartel, aos milhares, à noite era vê-los a comer os insetos, ótimo, eram menos picadas sobre nós. E recorda o Santos, maqueiro, que o chamou para ver o centro de saúde militar em Galomaro, centenas senão milhares de morcegos dependurados de cabeça para baixo nas traves do telhado, à procura de alimento, talvez insetos ou gafanhotos ou aranhas voadoras.

Não esquece as expedições ao Saltinho, de Galomaro a Bafatá, daqui a Bambadinca, aqui organizava-se uma grande coluna, pelo trajeto, que incluía Mansambo, a Ponte dos Fulas, Xitole e depois Saltinho, com inversão de marcha para evitar emboscadas e minas, ao longo do trajeto gente dos diferentes aquartelamentos ficavam e guardavam a passagem da coluna.

E vem o testemunho do profissional, a assistência médica no mato, ele fala na evacuação Yank (nós conhecíamo-la por Y), o alferes-médico e o cabo-enfermeiro seguiam no helicóptero como soros e mala de medicamentos. Rende uma homenagem aos anjos do céu, as enfermeiras paraquedistas. Volta a recordar Bacar, dava-lhe apoio no centro de saúde civil, ficara sinistrado numa mina antipessoal, era um intérprete de um médico, transmitia a sintomatologia do doente, filtrava a lista de doentes de acordo com as etnias. De igual modo, volta a lembrar o comandante Braima, um Futa-Fula alto e esguio, muito respeitado pelos seus pares (pisteiros e milícias).

O alferes-médico tinha em Galomaro a seu cargo a missão do sono e no pequeno hospital tratava tuberculosos e leprosos. Enuncia o tratamento dos leprosos, as dosagens, as manifestações, o que tomavam os tuberculosos, quais os seus sintomas e fala da vacinação das crianças.

Há também a lembrança do Sr. Regalla, proprietário do restaurante Pescaria em Galomaro. Um dia o alferes-médico perguntou-lhe se era do PAIGC, o Sr. Regalla contestou, era cabo-verdiano, o alferes-médico ripostou: “Sr. Regalla, disseram-me que tem um filho que se chama Agnello que se encontra na Suécia, em Upsalla, na produção de livros escolares do PAIGC.” O Sr. Regalla disse que era tudo mentira, o alferes-médico confirmou posteriormente ser tudo verdade.

As recordações não param, a onda do macaréu a subir o rio Geba, os ataques de abelhas, o fanado, os acontecimentos de Guidaje e Guileje, as suas recordações chegam à Marinha e aos Fuzileiros, manifesta-lhes gratidão, alude à importância dos botes pneumáticos utilizados pelos Fuzileiros, os zebros, retorna aos agradecimentos à Marinha, pelo seu papel fundamental na logística no transporte através dos rios em lanchas de diverso porte, recorda um acontecimento que envolveu um parente seu:
“O patrulhamento do Cacheu através das lanchas de fiscalização grandes como a Hidra, comandada em 1973 por um meu primo direito, o 1.º Tenente Jaime Luís Vieira Coelho eram fiscalizações com certo risco, como aconteceu em 20 de maio de 1973, em que houve um ataque à lancha com rebentamentos e incêndio no convés do navio, imediatamente apagado. Ataque na curva de Jugali. Houve feridos provocados pelos rebentamentos com RPG 2 e 7 e que atingiram os cunhetes de munições da peça de artilharia Bofors do Levante.”
As suas recordações retornam às colunas de abastecimento ao Saltinho, local que ele considera paradisíaco, a água revolta dos rápidos centros rochedos, o marulhar das águas e o seu espelhado refletindo o Sol, sentiam-se acobertados de paz e sensação do repouso do guerreiro.

Uma boa parte da sua narrativa prende-se com a crítica que faz à descolonização, aos fuzilamentos da tropa africana, mostra-se favorável à criação de um exército europeu e à exploração que os chineses fazem das riquezas florestais, mais propriamente as madeiras exóticas da Guiné-Bissau.

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Nota do editor

Último post da série de 12 de Setambro de 2025 > Guiné 61/74 - P27212: Notas de leitura (1837): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 11 (Mário Beja Santos)

domingo, 14 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27218 Efemérides (467): Homenagem do povo de Vila do Conde, no passado dia 9, ao Padre Bártolo Paiva Gonçalves Pereira, capelão-chefe no CTIG (1966/67) e autor do recente livro de memórias "O Capelão Militar na Guerra Colonial" (Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, 1967/69)





Padre Bártolo  Paiva Pereira (n. 3 set 1935, Santo Tirso).
Foi capelão-chefe no CTIG (1966/67); 
é autor de diversas publicações, a última das quais o livro de memórias,
 "O Capelão Militar na Guerra Colonial" (2025).
 Vive em Vila do Conde.


1. Mensagem do Virgílio Teixeira, natural do Porto, a viver em Vila do Conde (foi alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

 
Data - terça, 9/09/2025 13:39  
Asunto - Homenagem ao nosso capelão-chefe no CTIG, Padre Bártolo (*)

Caros amigos,

Alguns aspectos da cerimónia de homenagem merecida ao nosso Padre Bartolo, nosso amigo, embora eu não corresponda com idas à missa, a minha mulher faz isso pelos dois.

A ordem (das fotos)  é aleatória, não tem critérios nenhuns.

Na minha apresentação do nosso Padre, esqueci um pormenor importantes, ele após o 25 de Abril, foi para Capelão nos Comandos da Amadora, tornando-se grande amigo do comandante Jaime Neves - já falecido - e no seu livro diz expressamente que foi o melhor militar, e que é "o seu herói" preferido.

Estive a ler a historia dos Capelães militares e a lista de todos e o Curriculum do Padre Bartolo.

Já sabia alguma coisa, mas agora sei muito mais.

Hoje não vou trabalhar mais nisto, porque o meu filho Bruno está a ser operado ao Joelho, e vamos estar ocupados.

Tinha já estas fotos, que envio, mas há mais.

Vila do Conde, 9 de setembro de 2025

Vt



Foto nº 1 > Vila do Conde > ) 9 de setembro de 2025 >  Aspecto geral do interior da igreja matriz. Ao fundo, o padre Bártolo a celebrar a missa


Igreja Paroquial de Vila do Conde / Igreja de São João Baptista IPA.00005249
Portugal, Porto, Vila do Conde, Vila do Conde

Arquitectura religiosa, gótica, manuelina, renascentista. Igreja tardo-gótica de planta em cruz latina com 3 naves de diferente altura e cabeceira tripla, com portal axial manuelino, muito semelhante ao da Igreja de Azuaga na Estremadura espanhola. Torre sineira renascentista. As paredes que formam a nave central e a capela-mor, em toda a sua extensão, estão coroadas por duas ordens de merlões. Grande torre sineira quadrangular, impondo-se à frontaria e a toda a igreja pelo volume e quase ausência de ornamentação, com excepção para o balcão de balaústres assente em mísulas. Pia manuelina. Capela lateral inteiramente forrada a azulejo do séc. 17. O janelão voltado a O. mostra uma cena de Cristo de fortes efeitos cromáticos. Vitrais do princípio deste século executados em Paris, representando a vida de S. João Baptista. (Fonte: SIPA - Sistema de Informação para o Patrim+onio Arquitetctónicvo



Foto nº 2 >  Fachada da Igreja Paroquial de Vila do Conde / Igreja de São João Baptista, monumento nacional desde 1910.

 



Foto n º 3 > Panorama do histórico convento de Santa Clara, visto apartir do hotel Santana do outro lado do Rio Ave, no monte Santana, É o ex-libris da cidade, temn 700 anos de história, é um hotek de 5 estrelas, do grupo Lince.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor LG:

(*) Vd. poste de 7 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27194: Efemérides (466): Homenagem do povo de Vila do Conde ao Padre Bártolo Paiva Gonçalves Pereira, Capelão Militar em Angola, Guiné e Moçambique, a levar a efeito hoje, dia 7 de setembro (Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM)

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

 




Foto nº 1A e 1


Foto nº 2

Amadora > Alfragide > Auditório do Estado‑Maior da Força Aérea > 26 de novembro de 2014 > Sessão de lançamento do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", coordenado por Rosa Serra e prefaciado por Adriano Moreira, cerimónia presidida pelo Vice‑Chefe do Estado‑Maior da Força Aérea, Tenente‑General Rui Mora de Oliveira. 

O livro foi publicado em 2014 pela editora Fronteira do Caos (Porto). Contudo, a apresentação oficial teve lugar no dia 26 de novembro de 2014, em Alfragide. 

Nas fotos, a Maria Arminda, um das coautoras, e o comandante Pombo, que veio expressamente do Brasil para assistir a este evento...(É nosso grão-tabanqueiro nº 752.)  

Na foto nº 2 vê-se em segundo plano o major general pqdt Avelar de Sousa (que esteve na Guiné, no BCP 12, como comandante da CCP 123, 1970/71,  tendo sido mais tarde  ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da república eleito democraticamente no pós 25 de abril.)


Fotos (e legenda): © Maria Arminda Santos  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Maria Atminda Santos
 (n. 1937)

1. A Maria Arminda a quem telefonei esta manhã por causa do seu efémero "professor" de pilotagem do DO-27, o "Pombinho" (*), e que estava a fazer a sua fisioterapia (acaba de ser submetida, com êxito, a uma artroplastia total da anca...), teve a gentileza, logo que chegou a casa, de me mandar  duas fotos do capitão piloto reformado, José Luís Pombo Rodrigues (1934 - 2017), um nome lendário da nossa FAP e da Base Aérea de Bissalanca, Bissau, Guiné... 

Ele foi o seu esforçado, voluntarioso e amável, se bem que efémero, professor de pilotagem de DO-27, nos idos anos de 1963...Um  segredo bem guardado, até 2014,  por ela (e pela Zu, a Zulmira, que Deus já lá tem). Infelizmente, o número de aulas (teóricas e práticas) foi curto, e depois cada um foi à sua vida... 

Em 2014, o "Pombinho" veio expressamente do Brasil, onde vivia, para assistir, em 2014, à sessão de lançamento do livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (ed. lit. Rosa Serra) (Porto, Fronteira do Caos,  2014).


2. Mensagem da Maria Arminda Santos:

Data - 30/7/2025 | 11:25
Assunto - "Pombinho"

Olá, Luís. Obrigada por esta bela recordação do meu amigo e estimado "Pombinho". Não foi por muito tempo que nos deu aulas.

Foi pena  não termos podido completar a instrução. Agora é muito tarde e o "Pombinho" já partiu. Um amigo que jamais poderei esquecer.

Veio do Brasil ao lançamento do nosso livro. Que esteja em paz bem como a minha amiga e colega Zulmira. Eu cá vou fazendo a caminhada!... até completar o meu ciclo de vida.
 
Vou ver se aqui consigo pôr a última foto que tenho com o Pombo Rodrigues (Pombinho).

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27016: Notas de leitura (1819): "Guiné Destino Imposto", por Rui Sérgio; 5livros.pt, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Julho de 2025:

Queridos amigos,
Temos aqui uma nova narrativa, por vezes com histórias bem curiosas de um médico que assina com o nome de escritor Rui Sérgio. Andou por Dulombi, Cancolim e Saltinho, fez serviço médico nos Bijagós, assistiu ao fim do Império na Guiné. Em permanência, homenageia quem combateu na aspereza daqueles caminhos, recorda carinhosamente os seus colaboradores, lamenta do fundo do coração a hecatombe que se seguiu. O fio da memória está vivo, tão vivo que iremos ouvir falar dele nas terras da Guiné.

Um abraço do
Mário



Foi alferes médico em Galomaro e tem histórias para contar

Mário Beja Santos

Mais um comprovativo de que a literatura memorial está viva e recomenda-se. O título da obra é "Guiné Destino Imposto", por Rui Sérgio, 5livros.pt, 2020. Rui Sérgio é já um nosso autor conhecido, temos agora um punhado de memórias avulsas, lembra a sua partida para a Guiné, foi o segundo filho a marchar para a guerra, o irmão mais velho, também médico, esteve na 18.ª Companhia de Comandos em Moçambique. Em Bissau comunicam-lhe que irá para Galomaro, viajou do Pidjiquiti até ao Xime numa LDG, e começa por nos apresentar algum do pessoal que estava na sede do BCAÇ 3872, dele guarda recordações memoráveis, tanto do BCAÇ 3872 como do pelotão de reconhecimento e da CCAÇ 3491, vai elencando os nomes, desde os comandantes aos capitães e alferes, não esquecendo o tenente da secretaria e o padre capelão. “Fui substituir o António Pereira Coelho, que transitou para diretor do Hospital de Bafatá, e que é hoje professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se destacou como o homem da inseminação e procriação in vitro. Nesta guerra fui o alferes miliciano médico, Rui Vieira Coelho, licenciado na Faculdade de Medicina do Porto, com a especialidade hospitalar de Cirurgia Geral. Regressado, fui assistente da Faculdade de Medicina da cadeira de Clínica Cirúrgica.” Confessa que não esqueceu tudo o que por lá passou, as amizades que fez, os seus colaboradores diretos, aqui agradece-lhes muitíssimo, e não esquece o batalhão que substituiu o 3872, o BCAÇ 4518. E dá-nos seguidamente um quadro muito afetivo das suas lembranças.

Logo o Jamba, um encarregado civil pela limpeza do aquartelamento. “Era um homem de porte atlético, de etnia Mandiga, de olhos esbugalhados e com uma face de quase riso permanente, bem musculado e sempre com uma atividade acima do normal. Tinha uma grande liderança em relação à sua equipa de limpeza quer da parada quer dos refeitórios, ajudando em todos os serviços da cozinha, assim como no posto de saúde, a limpeza da enfermaria.” Um dia encontrou-o acabrunhado, ansioso, o médico ofereceu-se para conversar com ele. Jamba contou de sua justiça. “Há cerca de duas semanas, quando ia do quartel para casa, encontrei na porta uma galinha preta, sem cabeça e uma cruz de sangue na soleira, fora feito um grande feitiço, nunca mais fui homem.” Perdera todo o ensejo de fazer amor, perdera vontade de viver, pensava em fugir. O médico procurou descansá-lo, deu-lhe uma mezinha para beber, com a garantia de que passado uma hora ficaria mais homem do que alguma vez teria sido. O médico deu-lhe um comprimido efervescente de vitamina C, em frente dele deitou o comprimido no copo de água, Jamba bebeu e o médico disse-lhe para voltar à tabanca dentro de uma hora. Duas horas depois Jamba voltou alegre, cheio de vitalidade, a mezinha dera efeito.

Segue-se Bacar Djaló, antigo pisteiro, fora ferido em combate e perdera um olho, agora era o tradutor-intérprete do médico. Bacar apresentava-se no Centro de Saúde, organizava a vila nos doentes dentro da seguinte lógica: primeiro os Futa-Fulas, depois os Fula-Forros, mais adiante os Fula-Negros, seguiam-se todos os outros, terminando nos Biafadas. Como o médico considerava que deviam ser atendidos em primeiro lugar aqueles mais graves pediu explicações ao Bacar que respondeu que “Fula é conde! Mauro Dótor tem de entender que Fulas mesmo pequenino já fala e escreve três línguas. De manhã anda na escola portuguesa, sabe português e escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita. À tarde, menino vai na escola árabe e lê e escreve de baixo para cima, da direita para a esquerda, Fula tem inteligência na cabeça e, portanto, é conde, portanto fica em primeiro em qualquer fila.” Quando Bacar via o médico a cumprir rigorosamente os horários de trabalho, Bacar interpelava-o: “Calma, Mauro Dótor, não tem pressa no trabalho. Para quê trabalhar depressa se o trabalho nunca mais acaba?”.

O autor recorda as colunas para Dulombi, a 18 km de Galomaro, onde o médico ia com frequência, não esqueceu a picagem dos caminhos, a admiração que tinha por todos, por aquelas árduas caminhadas na época das chuvas, as picadas inundadas. Descreve a vida em Galomaro, os edifícios, os diferentes itinerários, e regressa às lembranças pessoais.

Logo, Binta, uma jovem lavadeira de riso e alegria contagiantes, foi uma heroína, recusou energicamente a mutilação genital. Ocorre-lhe a referência da quadrícula em que se inseria o seu batalhão, o setor L5, as unidades que o compunham, as companhias operacionais em Cancolim, Dulombi e Saltinho, a população predominante era a Fula; não esquece os pelotões de milícias e os pelotões de caçadores nativos e onde cumpriam a sua missão, na zona do batalhão operavam 15 pelotões de milícia, visitas frequentes do posto militar de saúde; lembra também a Marinha, as canseiras das colunas de abastecimento, sobretudo ao Saltinho. Refere os perigos da vida corrente, como a desidratação, as doenças que tratava, as de transmissão sexual. “Confiavam em mim e no segredo profissional que estava subordinado, servindo de intermediário válido entre eles e o comando. O medo e em alguns a ansiedade permanente levava por vezes a depressões quase todas de caráter reativo à situação de guerra por que passavam, que se agravava exponencialmente, com mortos e ou feridos, com a falta de notícias. O sentido de perigo constante fazia com que entre camaradas a amizades e a solidariedade fosse a melhor terapêutica para um bom equilíbrio emocional. Não é por acaso que o pessoal militar que passou pela Guiné tem um sentido tão gregário.” Como não será por acaso que se formaram organizações não-governamentais solidárias, na área da saúde e educação, predominantemente. Volta a falar nas doenças com que se confrontava, a malária, a disenteria amebiana, o programa de vacinação no campo da saúde pública (tuberculose, cólera, difteria, tétano e tosse convulsa, bem como a hepatite).

Guarda recordações dos Bijagós, ele era subdelegado de saúde da zona de Galomaro, competia-lhe prestar assistência médica no arquipélago, percorria Orango, Bubaque, a Ilha das Galinhas, guarda saudades. Refere depois um aeródromo de recurso, tudo usto já no final da guerra. Constava na boataria que estava para breve um assalto final a Bissau pelo PAIGC, os comandos decidiram que era necessário uma aeródromo de recurso no arquipélago dos Bijagós, concretamente na ilha Caravela, havia que instalar uma tenda de apoio médico, assistiu a todo aquele espetáculo de máquinas de terraplanagem a nivelarem as terras revolvidas, passadas todas estas décadas não sabe se aquele aeródromo de recurso da ilha Caravela chegou a ser concluído sem empréstimo.

Junta um vasto elenco de fotografias, despede-se homenageando todos os antigos combatentes da guerra.

Rui Sérgio
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Nota do editor

Último post da série de 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27003: Notas de leitura (1818): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 2 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 17 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26929: Agenda cultural (889 : Lourinhã, Salão Nobre da Câmara Municipal, sábado, 21, às 11 horas: sessão de lançamento do livro de Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"



Cartaz de lançamento do livro "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial", da autoria do lourinhanense Jaime Bonifácio Marques da Silva

Cortesia de: Página do facebook de Município da Lourinhã, terça, 17 de junho d2 2025, 13:00

 1. Estão convidados os nossos leitores para assistir à sessão de lançamento do livro, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhá mortos na guerra colonial".

O evento vai realizar-se na Lourinha, no Salão Nobre da Câmara Municipal, dia 21, sábado, às 11h00.

A edição do livro tem a chancela da Câmara Municipal da Lourinhã (2025, c. 230 pp.).  O autor é o nosso grão-tabanqueiro nº 643 (desde 31 de janeiro de 2014), Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72). 

O livro será apresentado pelos nossos tabanqueiros Joaquim Pinto Carvalho e Luís Graça. 

Na mesa terão ainda presentes, além do autor, o presidente da edilidade,engº  João Duarte (tem 3 irmãos antigos combatentes),  a profª Leonor Bravo (professora de história, do Agrupamento de Escolas João das Regras, Lourinhã) e ainda a profª Maria João Picão Oliveira (moderadora).






(i) nasceu em 1946, no Seixal,Lourinhã;

(ii) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72);

(iii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate;

(iv) viveu em Angola até 1974;

(v) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH);

(vi) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ;

(vii) autarca em Fafe, em três mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura;

(viii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, nº  643, desde 31/1/2014;

(x) tem uma centena de referências no nosso blogue.


(Fixação do texto e edição de fotos: LG)
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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26855: Facebok...ando (80): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte III: Feitos prisioneiros do PAIGC em 3/8/1968, foram libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22/11/1970: António Júlio Rosa, Geraldino Marques Contino e Victor Capítulo



Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > CCAÇ 3327  > c. 1971/72 > Jovens balantas en traje de festa.  Três anos depois da tragédia de Bissássema,  a CCAV 2765, com apoio de um destacamento de engenharia do BENG 447, deram início em 15 de janeiro de 1971 às obras da construção do quartel da nova tabanca de BissássemaEm 12 de Novembro de 1971, a CCaç 3327 / BII 17 fez deslocar dois pelotões para Bissássema onde foram substituir a CCav 2765. 

Foi a esta companhia açoriana que coube, para além da proteção das tabancas da sua zona,  a missão principal de a construir  um  reordenamento com 100 moranças e váriso equipamentos coletivos.

Foto do álbum do Rui Esteves, ex-furriel miliciano enfermeiro (CCAÇ 3327, Teixeira Pinto e Bissássema, 1971/73), e que vive em Vila Nova de Gaia; é um dos históricos da  nossa Tabanca Grande.


Foto (e legenda): © Rui Esteves (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Segunda parte do texto do antigo alf mil at inf da CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/69), J. M. Pais Trabulo, disponível na sua página do Facebook (João Manuel Pais Trabulo), e também reproduzido na página do CCAÇ 2314 - Agis Quod Agis.e e na página do BART Tite - Guiné (BART 1914).

Hoje Cor GNR ref, Pais Trabulho (natural de Meda, a viver em Gouveia), tem mantido viva a memória desse tempo que foi dramático, para quem nomeadamente esteve em Tite e Bissássema, em fevereiro de 1968 (CART 2314, CART 1743 / BART 1914, milícia e população, etc.).

Esta subunidade, a CART 2314 passou a estar representada na Tabanca Grande pelo ex-fru mil OE/Ranger, MA, Joaquim Caldeira (nº 905) (vive em Coimbra).


Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - 

Parte III: Feitos prisioneiros do PAIGC em 3/8/1968, foram libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22/11/1970:  António Júlio Rosa, Geraldino Marques Contino e Victor Capítulo 



Cor GNR ref Pais Trabulo
(Fonte: página do Facebook)

(...) Mais tarde, precisamente três anos depois, em 15 de janeiro de 1971, a CCAV 2765, com apoio de um destacamento de engenharia do BENG 447, deram início às obras da construção do quartel da nova tabanca de 
Bissássema.

Em 12 de Novembro de 1971, a CCaç 3327 fez deslocar dois pelotões para Bissássema onde foram substituir a CCav 2765. 

Para efeitos operacionais, em Bissássema, a CCaç 3327/BII 17 tinha adidos os Pelotões de Milícias 294 e 295.

Para além da proteção das tabancas da sua zona,  a Companhia tinha como missão principal a construção de 100 casas no reordenamento, construir ainda uma escola, um furo artesiano, eletrificar o perímetro do aquartelamento e uma Cooperativa Agrícola, entre outras iniciativas e ordens recebidas.

Esta CCaç 3327/BII 17 seria substituída em Bissássema pela CArt 6252/Bart 6520/72, tendo cessado as suas funções no TO da Guiné no dia 14 de Dezembro de 1972.

Mais uma vez entendemos recordar e divulgar o sacrifício que estes jovens militares portugueses tiveram no cumprimento do seu dever que, embora lhes tenha sido imposto, o desempenharam com o sacrifício da própria vida, para bem das populações autóctones e do País.

Na madrugada de 22 de novembro de 1970, no decurso da operação “Mar Verde”, estes e outros os prisioneiros portugueses, no total de 26, foram libertados da prisão Montanha por um grupo de combate do Destacamento de Fuzileiros Especiais (Africanos) nº 21, numa ação armada efetuada pelas Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Conacri, sob o comando de Alpoim Galvão.

António Júlio Rosa, alferes miliciano, natural da Abrunhosa, Mangualde, e mais dois seus militares, cabo cripto Geraldino Marques Contino e soldado Victor Manuel Jesus Capítulo, da CArt 1743, tinham sido  feitos prisioneiros, na madrugada de 3 de fevereiro de 1968, por forças do PAIGC.



Foto da autoria de Pais Trabulho
 (com a devida vénia...)

Sobre essa noite fatídica de Bissássema no seu livro "Memórias de um prisoneiro de guerra", o alferes miliciano António Júlio Rosa, entretanto falecido, relata-nos:

  • "Seria meia-noite, quando, quem estava já dormindo, e era o meu caso, foi despertado violentamente!... Os 'turras' estavam a atacar!... Ouviam-se rebentamentos e muitas rajadas. Era um fogo contínuo e feroz. O ataque tinha sido desencadeado, a sul, no lado da mata... Estavam lá os africanos de Tite e alguns de Empada. O tiroteio manteve-se muito intenso durante cerca de meia hora. Depois... diminuiu até cessar completamente.
  • "Quando o tiroteio acabou, ficámos convencidos de que o ataque tinha sido repelido. Contactei o Maciel para darmos uma volta pelos abrigos e ver se tudo estava bem. Deslocámo-nos até ao último abrigo do meu pelotão, situado a uns cinquenta metros e verificámos que tudo estava normal.
  • "Íamos prosseguir a nossa ronda para sabermos dos africanos, quando, a uns cinquenta metros, se ouviu uma rajada de pistola-metralhadora. O som parecia vir de dentro do nosso perímetro. Ficámos os dois perplexos porque não tínhamos armas que 'cantassem' assim!...
  • "Regressámos de imediato, à zona do comando e alertámos para a possibilidade do inimigo se achar no meio das nossas forças. Dentro do posto de comando encontrava-me eu, o Maciel, o Cardoso, o Gomes e três operadores das transmissões. De repente, apareceu, transtornado, o comandante da milícia de Tite. Só teve tempo de nos dizer que os ‘turras’ estavam dentro do perímetro e se dirigiam para o local onde nos encontrávamos. Mal acabou de falar fomos atacados. Não deu sequer tempo para se tentar encontrar uma solução!...
  • "Rapidamente, procurámos sair para o exterior. Quando cheguei à porta, seguido pelo Geraldino e pelo Capitulo, rebentou uma granada ofensiva mesmo à nossa frente. Com o sopro da explosão fui empurrado para trás e não via nada pois tinha os olhos cheios de terra. Com o estrondo, fiquei surdo!...
  • "Foi uma sensação horrível!... Pensei que ia morrer!... Foi impressão instantânea que passou em segundos. Entretanto, tive outra sensação!... Tive o pressentimento que ia ser abatido!... Sinceramente fiquei preparado para morrer!...
  • "(...) Senti-me agarrado, ao mesmo tempo que alguém me socava, violentamente, mas não sentia qualquer dor. Estava prisioneiro!... O Dino e o Capitulo tiveram a mesma ‘sorte’!... Seriamos levados para Conacri…”


Geraldino Contino (**)

Sobre o assalto a Bissássema pelo PAIGC, segundo conta o Geraldo Contino: 

  • (...) “Dois dias após a chegada ao terreno, pouco minutos a faltarem para a meia-noite, mais precisamente no dia 2 de fevereiro de 1968, (sexta-feira), um numeroso grupo IN, investiu em direção ao extenso e mal programado perímetro das nossas tropas, pelo lado do pelotão das milícias. 
  • "Estes não aguentando o ímpeto do ataque, acabaram por abandonar os seus postos, permitindo abrir brechas na defesa do terreno e possibilitar o cerco ao improvisado posto de comando. 
  • "A confusão surpreende as NT e, permite a captura dos europeus, o Geraldino Marques Contino, o Alf António Rosa e o Victor Capítulo.”

Ainda hoje, temos no nosso pensamento a visão dolorosa do estado dos nossos camaradas em fuga para Tite, bem como as lágrimas que corriam nas suas faces, os olhos cobertos de lama e a maioria descalços, ou mesmo nus, parecendo figuras de filmes de terror, apenas com forças para agarrarem, desesperadamente, a arma, a sua única salvação para manter a vida, quando em redor somente havia a morte…

Sabe-se que esta intervenção, em Bissássema, foi um fracasso para ambos os lados e que o PAIGC sempre ocultou no seu historial:

  • se, pelo lado português, para além dos três prisioneiros e dois desaparecidos e feridos, não se conseguiu concretizar os objetivos propostos; 
  • para o lado do PAICG, o elevado números de baixas levou a que  sempre escondesse as suas consequências, tendo, inclusivamente, sido considerado por alguns, como um dos maior desaires que sofreu o  movimento de libertação da Guiné.

Hoje podemos questionar-nos: será que valeu a pena o sacrifício e a vidas destes jovens?…

Eles não merecem ser esquecidos, cumpriram com o seu dever para com a Pátria!

Procurámos dar a conhecer o que viveram os militares da CCAÇ 2314, e completá-la o mais fiel possível com elementos de quem lá esteve de modo a dar a conhecer o ocorrido. 

Socorremo-nos da História da Unidade, do livro do saudoso alferes Rosa e de relatos do libertado cabo Contino,  como é referido no texto.

17 de Dezembro de 2021.

Cor Pais Trabulo


Capa da 2ª ed. do livro de memórias
do António Júlio Rosa (1946-2019):
"Memórias de Um Prisioneiro" (Lisboa, 
Edições Colibri, 2021, 172 pp.)


2. Nota biográfica de António Júlio Rosa (Mangualde, 1946-Lisboa, 2019:



(i) natural de Abrunhosa-a-Velha, povoação do concelho de Mangualde e distrito de Viseu, nasceu no dia 11 de maio de 1946;

(ii) chegada a idade militar, seguiu para Mafra, onde frequentou o Curso de Oficiais Milicianos; após o Juramento de Bandeira, entrou na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas,; aqui tirou a especialidade de atirador de Artilharia;

(iv) em 10 de dezembro de 1967, embarcou no T/T Alfredo da Silva, rumo à Guiné-Bissau; desembarcou no dia 20;

(vi) na madrugada do dia 3 de fevereiro 1968 foi levado para a Guiné-Conacri como prisioneiro do PAIGC; na Guiné-Conacri permaneceu um longo e doloroso cativeiro, até 21 de novembro de 1970;

(vii) nessa noite, um grupo de fuzileiros comandado pelo Sr. Comandante Cunha e Silva que integravam a "Operação Mar Verde" concebida pelo Sr. Comandante Alpoim Calvão (já falecido), restituiu os prisioneiros à liberdade;

(viii) antes de escrever o livro nunca se referia ao cativeiro, mesmo em conversa com os familiares ou amigos: o trauma jazia na sua mente; em janeiro de 2000, decidiu finalmente escrever o livro: "Memórias de um Prisioneiro de Guerra"; foi a libertação dos problemas psicológicos que o atormentavam;

(ix) faleceu no dia 6 de abril de 2019, em Lisboa.

Fonte: Edições Colibri, Lx.


(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas do editor LG:
 
(*)  Vd. postes anteriores da série > 



(**) 12 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18078: (De) Caras (101): Geraldino Marques Contino, ex-1º cabo op cripto, da CART 1743, ex-prisioneiro de guerra, aqui à conversa com outro camarada do seu tempo, com quem chegou a trabalhar no centro cripto de Tite, o Raul Pica Sinos (CCS / BART 1914, Tite, 1967/69)