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sábado, 26 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18680: (D)outro lado do combate (30): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - III (e última) Parte (Jorge Araújo)


Foto 1 – Guiné-Bissau >  Formatura após a chamada militar numa manhã de 1974 na base de Hermangono, na Frente Norte, onde estacionavam os Corpos de Exército do PAIGC. Foto: Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Nota do editor LG: temos dificuldade em localizar no mapa este topónimo, "Hermangono", tanto no Senegal como na Guiné-Bissau; e não há nenhuma referência a este topónimo no Arquivo Amílcar Cabral, disponível no portal Casa Comum / Fundação Mário Soares; pode tratar-se de um erro de transliteração, por parte do fotógrafo e médico holandês Roel Coutinho]


Foto 2 - Guiné-Bissau > Escolta armada transportando uma pessoa ferida para a fronteira do Senegal, onde se encontrava uma ambulância. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)


Foto 3 - Guiné-Bissau > Primeira ambulância do hospital de Ziguinchor (Senegal) com motorista. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Fotos da série PAIGC Military, Guinea-Bissau, Coutinho Collection 1973-1974.  Fonte: Wikimedia Commons. O fotógrafo, Roel Coutinho é um  prestigiado médico, epidemiologista  e professor, hoje jubilado,  de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis;  holandês, nasceu em 1946, licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74,  especializou-se em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas; pelo apelido, pode ter ascendência portuguesa, e inclusive ter antepassados judeus sefarditas, marranos ou cristãos-novos, idos de Portugal para Amsterdão no séc. XVII; era uma comunidade prestigiada, pela cultura,  o dinheiro e o poder: a Grande Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, chegou a ter 3 mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a 350 pessoas; espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa",  do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amasterdão] [LG]
©O titular dos direitos de autor destes ficheiros, Roel Coutinho, autoriza o seu uso por qualquer pessoa para qualquer finalidade, com a condição de que a sua autoria seja devidamente atribuída. A redistribuição, obras derivadas, uso comercial e todos os demais usos são permitidos.
Atribuição: Roel Coutinho





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM  >BAIXAS E ESTUDO SOCIODEMOGRÁFICO DO BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971) DO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70  (III Parte)
 

1.  INTRODUÇÃO

Com o presente texto, o último de três fragmentos (*), concluímos o balanço resumido dos combates entre as NT e o PAIGC no Sector de Farim, tendo por protagonistas, de um lado, a Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533] e a Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14] e, do outro, o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), um dos quatro bigrupos de infantaria do Corpo de Exército 199-B-70, este liderado pelos Cmdts  Braima Bangura, Joaquim N'Top e Benjamim Mendes.

Para além das duas unidades anteriormente referidas, houve necessidade de identificar, agora, mais algumas, em particular aquelas que estiveram envolvidas nas missões operacionais das NT de contra-penetração dos diferentes bigrupos do Corpo de Exército 199-B-70 do PAIGC, em trânsito das bases existentes na zona de fronteira com a República do Senegal, na Frente Norte, nomeadamente ao longo dos "corredores" de Lamel e Sitató, e que, numa relação causa/efeito, ficaram ligadas, historicamente, às ocorrências relacionadas com as baixas constantes no relatório do Cmdt Braima Bangura, documento que está na origem deste trabalho de investigação - (vidé P18551 e P18638).

Para finalizar esta introdução, recorda-se que é a partir da segunda metade do ano de 1970 que o PAIGC evolui para um novo modelo de organização militar, adaptando as suas estruturas a uma nova visão da sua luta armada. Partindo do conceito "bigrupo" e da união com mais unidades deste tipo, de infantaria e artilharia, são criados os "Corpos de Exército" identificados com o "n.º 199", ao qual lhe

foi adicionada uma letra do alfabeto latino (A, B, C, D) e o ano da sua criação.


2. MISSÕES, BAIXAS E UNIDADES ENVOLVIDAS (NOVAS)

Os episódios já referidos nas narrativas anteriores visaram contextualizar a questão de partida da investigação, tendo por base, no início, as missões levadas à prática por duas Companhias de Caçadores – a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 – em particular nas situações de combate com os elementos do PAIGC que actuavam no Sector de Farim, no caso particular o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan. As primeiras ocorrências (emboscadas) tiveram por cenário o território situado no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro caso envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo caso a CCAÇ 14 (30Dez1970).



No mapa acima [Frente Norte], indicam-se os aquartelamentos das NT alvo dos vários ataques, umas vezes de infantaria, outras com recurso a artilharia pesada com "GRAD", e outros ainda à participação das duas armas, envolvendo a participação do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, durante um ano: de Dez'70 a Dez'71. Na esmagadora maioria dos casos, os ataques iniciavam-se depois das 18h30.



Citação: (1971), "Comunicado - Cumbangor [Frente Norte]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40606 (2018-5-03) [prova do envolvimento do Cmdt Ansú Bodjan nos ataques aos aquartelamentos supra]

Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquyivo Amílcar Cabral (om a devida vénia...)

Quanto a baixas do lado do PAIGC, nos fragmentos anteriores já demos conta de nomes e respectivas datas em que tombaram alguns dos guerrilheiros. Para não nos alongarmos muito, apenas iremos fazer referência a mais dois casos.

1.º  caso:   Lamine Suana.

Este elemento do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 7 de Abril de 1971, 4.ª feira, na sequência dos ataques a Guidage e Bigene, ao tempo da CCAÇ 19 e CCAV 2721, respectivamente.

2.º caso: Ansú Bodjan, Cmdt do bigrupo do CE 199-B-70

O Cmdt do bigrupo do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 14 de Novembro de 1971, domingo, na sequência da «Operação Dura Espera», projectada pelo BART 3844 (1971/1973) sediado em Farim. Foi levada a efeito no "corredor de Sitató" durante três dias – de 14 a 16 de Novembro de 1971 – nela tendo participado forças das seguintes Unidades: CCAÇ 2753, CART 3358, CART 3359, CCAÇ 14, CCAÇ 2681, 27.ª CCmds, C Mil Cuntima, CART 2732 e CCAÇ 3476 [HU; CAP II, p3, da CCAÇ 3476].

3. ANSÚ BODJAN, CMDT DE BIGRUPO DO CORPO DE EXÉRCITO

Aproveitando o acesso e posterior consulta a mais uma lista [mapa] elaborada pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra, esta relacionada com a composição do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, elaborada em finais de 1970, avançámos para a realização de mais um estudo sociodemográfico, o primeiro a um bigrupo considerado de «grupo especial» ou de «elite» no contexto da estrutura militar do PAIGC. Trata-se de um colectivo criado a partir de guerrilheiros já experientes no contexto da guerra, com provas dadas e com um mínimo de quatro anos de combatente [igual a duas comissões das NT].

Quanto ao Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), este nasceu no Morés, região do Oio, em 1944. Era casado. Só durante o segundo ano do conflito armado é que "aderiu" à guerrilha. Tinha, então, vinte anos e a 2.ª classe, como habilitação escolar. Morreu aos vinte e sete anos no "corredor de Sitató".

No seu bigrupo, três em cada quatro elementos (n-23=76.7%) eram naturais da sua região (Oio), 10% (n-3) da região do Cacheu e 13.3% (n-4) de Tombali, a região mais a Sul, conforme dá-se conta no Quadro 1.



Quadro 1 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-30)

4. ESULTADOS DO ESTUDO

Partindo dos dados contidos na lista apresentada na "Parte II" (*), que consideramos como os casos da investigação ou a "amostra de conveniência", procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do "bigrupo de Ansú Bodjan" sobre os quais se pretende retirar conclusões.

Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de "adesão" ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de "adesão" ao PAIGC, idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito e estado civil).


Quadro 2 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 2, verifica-se que os anos de nascimento com maior percentagem são dois; 1941 e 1943 (13.8%) com 4 casos, seguido de 1942, 1944, 1945 e 1946 (10.4%) com 3 casos. Em terceiro, com 2 casos (6.9%), 1935 e 1940.

Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-14) estão nos nascidos entre 1943 e 1947 (48.3%) (grupo central), entre 1935 e 1942 (n-12= 41.4%) (grupo dos mais velhos), e entre 1949 e 1951 (n-3=10.3%) (grupo dos mais novos).


Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior "adesão" ao PAIGC foi 1963 com 17 casos (58.6%), seguido de 1964, com 7 casos (um dos quais Ansú Bodjan) (24.2%). Os anos de 1964 e 1965 registaram 2 casos cada (6.9%).

Quando analisados os anos antes e após o início do conflito, a percentagem está próxima da totalidade em relação à segunda premissa (n-28=96.6%), ou seja, existe um só caso onde a "adesão" aconteceu antes.


Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 4, verifica-se que a idade com maior percentagem de "adesão" ao Partido é 18 anos, com 5 casos (17.3%), seguida dos 20 e 21 anos, com 4 casos cada (13.8%). As idades de 14 e 19, com 3 casos, valem 10.4% cada.

Quando analisada a "adesão" ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre as idades de 18 e 21 anos (55.2%), seguido pelos grupos de idade, entre os 22 e 28 anos (mais velhos), com 8 casos (27.6%). Os mais novos, entre 14 e 16 anos, representam 17.2% (n-5).

Analisada a "adesão" ao Partido entre os 18 e 23 anos, os valores apontam para uma maioria absoluta com 19 casos (65.6%), seguida por 5 casos (17.25) cada nas idades inferiores e superiores às anteriores.


Quadro 5 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a "adesão" individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 5, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a idade mais alta era de 35 anos (n-2) e a mais baixa de 19 anos (n-1). O Cmdt Ansú Bodjan tinha 26 anos, vindo a falecer com 27 anos. À morte do seu líder os restantes elementos teriam a idade assinalada com sombreado azul.


Quadro 6 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a "adesão" ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 6, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a maioria dos combatentes do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-24=82.8%) tinham entre 6 e 7 anos de experiência, enquanto os mais novos de idade (n-4=13.8%) tinham já entre 4 e 5 anos de experiência.


Quadro 7 – distribuição de frequências em relação ao "estado civil" de cada bigrupo

Da análise ao Quadro 7, verifica-se que o número entre "casados" e "solteiros" do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan é favorável aos segundos com mais um caso. Do grupo dos "sorteiros" nascidos após 1946 (n-7=46.7%), mantiveram esse estado civil, pelo menos até final de 1971.

5. CONCLUSÕES


Chegado a este ponto, e partindo da análise aos resultados apurados e apresentados nos quadros acima, é possível concluir que a maioria dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan:

(i) Eram originários da sua região (Oio);

(ii) Nasceram em 1941 e 1943;

(iii) A participação na luta armada iniciou-se em 1963;

(iv) Tinham 18 anos;

(v) Aquando da constituição do CE [, Corpo do Exército,] a idade mais alta era de 35 e a mais baixa de 19 anos;

(vi) Aquando da constituição do CE, o número de anos de experiência na guerrilha variava entre os 7 e os 4 anos;

(vii) Quanto ao estado civil, a diferença entre "casados" e "solteiros" era apenas de uma unidade favorável aos segundos.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
18MAI2018.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2018 >  Guiné 61/74 - P18638: (D)outro lado do combate (29): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte II (Jorge Araújo)