NRP Sagres > Partiu de Lisboa a 5 de janeiro de 2020 para a sua volta ao mundo, com 142 militares a bordo... Por causa da pandemia de COVID 19, a missão teve de ser cancelada, e o navio-escola teve de regressar à base naval do Alfeite... (Acima, magnífica foto dos/as nossos/as bravos/as marinheiros/as!)
Era esperado que a NRP Sagres servisse de "casa de Portugal" nos Jogos Olímpicos de Tóquio (, também foram adiados para 2021).
Deveriam ter sido 371 dias de viagem, em homenagem à viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1480-1521). Um português, injustiçado e durante muito tempo esquecido.
Deveriam ter sido 371 dias de viagem, em homenagem à viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1480-1521). Um português, injustiçado e durante muito tempo esquecido.
O magnífico veleiro da nossa armada acabou por voltar a Portugal 126 dias depois da partida, . A ordem de cancelamento da missão foi recebida quando a Sagres se aproximava já da África do Sul. Deveria chegar a Lisboa em 10 de janeiro de 2021,
(Foto do grupo do Facebook Volta ao Mundo do Navio-Escola Sagres, com a devida vénia...)
1. São 137 páginas do diário de bordo do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, na sua última viagem de volta ao mundo (janeiro - abril de 2020). Trata-se de uma pré-publicação: haverá, no dia 11 de setembro +róximo, o lançamento do livro que já tem editor, a Guerra & Paz, com sede em Lisboa.
O António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue] é poeta, escritor, tradutor, sinólogo, autor de livros de poesia (8), história (4), traduções (7), e viagens (3).
Por cortesia do autor, vamos reproduzir aqui, nesta nova série, dois ou três dos momentos dessa viagem com mais interesse para os nossos leitores e para a história de Portugal no mundo. São excertos selecionados pelo nosso editor LG.(*).. A série será retomada depois do lançamento do livro, em 11 de setembro de 2020.
2. Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos: parte II (pp. 7-12)
Marselha, França, 6 de Janeiro
Marselha, mais uma vez. Da Senhora da Guarda no alto abençoando as boas e más almas.
Marselha da ilha de If, lugar onde foi confinado o rinoceronte que o nosso rei D. Manuel ofereceu ao Papa Leão X, em 1516.
Marselha da mesma ilha de If com a terrífica prisão onde Alexandre Dumas colocou o conde de Monte Cristo apodrecendo aos poucos durante dez anos.
Marselha com Hector Berlioz, depois das sinfonias fantásticas, reorquestrando La Marseillesse, um hino à emancipação e à liberdade humana.
Marselha do Vieux Port, atulhado de barquinhos e os pescadores regressando do mar, com peixe fresco para grelhar ou preparar uma colorida e apaladada bouillabaise, a caldeirada francesa capaz de rivalizar com as nossas de Peniche ou de Sesimbra. (...)
Barcelona, Espanha, 7 de Janeiro
A minha ligação a Barcelona começou há 54 anos atrás, no Verão de 1966. Eu conto.
Como era comum entre muitos jovens da década de sessenta do século passado, aí desde os meus quinze anos correspondia-me com umas tantas donzelas espalhadas pela Europa e anexos, em inglês, trocando fotos, postais, selos, entendimentos, ideias e sonhos.
Num tempo quase sem televisão, quando a Net nem sequer como miragem existia, as cartas eram uma espécie de envio de curiosidades e afectos, em palavras simples que aproximavam os jovens de diferentes países.
Seria, no entanto, improvável chegar um dia a conhecer em pessoa, ao vivo, qualquer uma das penfriends, ou penpals, mas nada era impossível debaixo do céu. Entre as amigas da escrita, a menina de quem eu mais gostava, tinha nacionalidade alemã, vivia em Hamburgo, loira, de olho azul, Inge Balk, dezoito anos, linda de morrer na fotografia. (...)
Lisboa, Portugal, 9 de Janeiro
Sábado passado deixei Lisboa rumo a Roma, de avião, sob o comando do piloto Miguel Rodrigues, especialista nos mistérios do céu. Hoje, quinta-feira da semana seguinte, regressei à nossa capital num enorme navio, o Magnífica, sob o comando do siciliano Roberto Leotta, antigo capitão de petroleiros, dono de mil segredos do mar, de há uns anos para cá à frente de barcos de cruzeiro.
Em Lisboa, uma ida rápida a casa, sobre quatro rodas, para abraçar os filhos e trazer mais umas bugigangas para completar o enxoval necessário para a Volta ao Mundo.
A entrada em Lisboa, por mar, é sempre altura para originais encantamentos. Alarga-se o tamanho dos olhos, sente-se o borbulhar do coração. Estamos no Inverno, com um dia cinzento aberto por rasgões de luz, com algum sol a escorrer sobre o cabo Espichel, caindo sobre a encosta nebulosa que desce da serra de Sintra para o Guincho e Cascais. O navio a deslizar a seu modo, imponente, afectuoso, em busca dos braços do Tejo.
Leio que o nosso veleiro Sagres se lançou ao mar domingo passado, dia 5, para empreender exactamente uma viagem de circum-navegação bem mais demorada e extensa do que a que nos está destinada.
Para os marinheiros lusitanos preveem-se 371 dias de mar, 41.258 milhas náuticas e 6.782 horas de navegação. Tocarão 22 portos de 19 países que incluirão doze cidades da rede mundial das Cidades Magalhânicas.
A nossa Volta ao Mundo, no Atlântico, no Pacífico e no Índico, como iremos ver, irá cumprir grande parte do itinerário levado a cabo por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1521. Temos 43 portos de mar a visitar em 23 países diferentes ao longo de 117 dias, uma jornada mais curta do que a da Sagres, mas não menos interessante. (...)
[Seleção, revisão e fixação de texto, para efeitos de reprodução neste blogue: LG]
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1. São 137 páginas do diário de bordo do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, na sua última viagem de volta ao mundo (janeiro - abril de 2020). Trata-se de uma pré-publicação: haverá, no dia 11 de setembro +róximo, o lançamento do livro que já tem editor, a Guerra & Paz, com sede em Lisboa.
O António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue] é poeta, escritor, tradutor, sinólogo, autor de livros de poesia (8), história (4), traduções (7), e viagens (3).
Por cortesia do autor, vamos reproduzir aqui, nesta nova série, dois ou três dos momentos dessa viagem com mais interesse para os nossos leitores e para a história de Portugal no mundo. São excertos selecionados pelo nosso editor LG.(*).. A série será retomada depois do lançamento do livro, em 11 de setembro de 2020.
2. Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos: parte II (pp. 7-12)
Marselha, França, 6 de Janeiro
Xilogravura: o rinoceronte, de Durer (1515). Museu Britânico, Londres. Cortesia de Wikimedia Commons |
Marselha da ilha de If, lugar onde foi confinado o rinoceronte que o nosso rei D. Manuel ofereceu ao Papa Leão X, em 1516.
Marselha da mesma ilha de If com a terrífica prisão onde Alexandre Dumas colocou o conde de Monte Cristo apodrecendo aos poucos durante dez anos.
Marselha com Hector Berlioz, depois das sinfonias fantásticas, reorquestrando La Marseillesse, um hino à emancipação e à liberdade humana.
Marselha do Vieux Port, atulhado de barquinhos e os pescadores regressando do mar, com peixe fresco para grelhar ou preparar uma colorida e apaladada bouillabaise, a caldeirada francesa capaz de rivalizar com as nossas de Peniche ou de Sesimbra. (...)
Barcelona, Espanha, 7 de Janeiro
A minha ligação a Barcelona começou há 54 anos atrás, no Verão de 1966. Eu conto.
Como era comum entre muitos jovens da década de sessenta do século passado, aí desde os meus quinze anos correspondia-me com umas tantas donzelas espalhadas pela Europa e anexos, em inglês, trocando fotos, postais, selos, entendimentos, ideias e sonhos.
Num tempo quase sem televisão, quando a Net nem sequer como miragem existia, as cartas eram uma espécie de envio de curiosidades e afectos, em palavras simples que aproximavam os jovens de diferentes países.
Seria, no entanto, improvável chegar um dia a conhecer em pessoa, ao vivo, qualquer uma das penfriends, ou penpals, mas nada era impossível debaixo do céu. Entre as amigas da escrita, a menina de quem eu mais gostava, tinha nacionalidade alemã, vivia em Hamburgo, loira, de olho azul, Inge Balk, dezoito anos, linda de morrer na fotografia. (...)
Lisboa, Portugal, 9 de Janeiro
Sábado passado deixei Lisboa rumo a Roma, de avião, sob o comando do piloto Miguel Rodrigues, especialista nos mistérios do céu. Hoje, quinta-feira da semana seguinte, regressei à nossa capital num enorme navio, o Magnífica, sob o comando do siciliano Roberto Leotta, antigo capitão de petroleiros, dono de mil segredos do mar, de há uns anos para cá à frente de barcos de cruzeiro.
Em Lisboa, uma ida rápida a casa, sobre quatro rodas, para abraçar os filhos e trazer mais umas bugigangas para completar o enxoval necessário para a Volta ao Mundo.
A entrada em Lisboa, por mar, é sempre altura para originais encantamentos. Alarga-se o tamanho dos olhos, sente-se o borbulhar do coração. Estamos no Inverno, com um dia cinzento aberto por rasgões de luz, com algum sol a escorrer sobre o cabo Espichel, caindo sobre a encosta nebulosa que desce da serra de Sintra para o Guincho e Cascais. O navio a deslizar a seu modo, imponente, afectuoso, em busca dos braços do Tejo.
Leio que o nosso veleiro Sagres se lançou ao mar domingo passado, dia 5, para empreender exactamente uma viagem de circum-navegação bem mais demorada e extensa do que a que nos está destinada.
Para os marinheiros lusitanos preveem-se 371 dias de mar, 41.258 milhas náuticas e 6.782 horas de navegação. Tocarão 22 portos de 19 países que incluirão doze cidades da rede mundial das Cidades Magalhânicas.
A nossa Volta ao Mundo, no Atlântico, no Pacífico e no Índico, como iremos ver, irá cumprir grande parte do itinerário levado a cabo por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1521. Temos 43 portos de mar a visitar em 23 países diferentes ao longo de 117 dias, uma jornada mais curta do que a da Sagres, mas não menos interessante. (...)
[Seleção, revisão e fixação de texto, para efeitos de reprodução neste blogue: LG]
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Nota do editor:
(*) Vd. último poste da série > 23 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21102: Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos, parte I: Civitavecchia, 4 de janeiro de 2020...
(*) Vd. último poste da série > 23 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21102: Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos, parte I: Civitavecchia, 4 de janeiro de 2020...