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quarta-feira, 8 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19764: Tabanca Grande (477): Carlos Soares, ex-fur mil inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68); mora nas Caldas da Rainha; e passa a sentar-se à sombra do poilão mais famoso da Net, sob o nº 788.



Foto nº 1


Foto nº 2 > Furriéis da CCAÇ 1585, a bordo do navio T/T


Foto nº 3 >  Pessoal da CCAÇ 1585, a caminho no rio Cacheum, a caminho de Farim, ou no regresso, para Quinhamel


Foto nº 4 > Postal de Natal, possivelmente de 1966


Foto nº 5 > O cap Cravidão, numa operação, é o primeiro da esquerda, em segundo plano


Foto nº 6 > Parada cap Cravidão, em Farim


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 1585 (1966/68) > Fotos diversas do Carlos Soares, enviadas sem legenda... A Parada Cap Gravidão, morto em combate em 4/6/1967


Fotos (e legendas): © Carlos Soares (2019(. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de 2 do corrente, do Carlos Soares, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68), e novo membro da Tabanca Grande, com o nº 788:

Amigo Luis Graça junto lhe envio algumas fotos para publicação no seu Blogue,

Quanto ao assunto acerca da Operação Cacau, a transcrição que consta do Blogue é exatamente igual, pois deve ter sido retirado do livro, que é a cópia fiel do livro oficial,enviado ao Ministério do Exército para arquivo.

Há algum tempo mandei fazer alguns exemplares para distribuir aos meus Camaradas , e foi concerteza, a partir dai ,alguém compilou os textos que para alguns teria interesse.

Se achar que tem interesse para o blogue, eu enviar-lhe-ei um a titulo de empréstimo, para poder compilar. Estou à disposição para nos encontrarmos em qualquer local, e conversarmos.

Aproveito para lhe enviar o folheto do nosso próximo convivio, o qual agradecia que o publicitasse no seu blogue. (*)

De momento sem outro assunto envio-lhe um enorme abraço.

Vou preparando novas fotos.

Agradeço que me inscreva e que a partir de agora passe a fazer parte da Tabanca Grande de Luis Graça. (**)

2. Comentário de LG:

Caro Carlos: já falámos ao telefone, e eu fiquei a perceber que és lisboeta, vives nas Caldas da Rainha há mais de 40 anos, e és um dos dinamizadores dos convívios anuais da vossa companhia, a CCAÇ 1585, cujo primeiro comandante foi o tenente e depois capitão de infantaria José Jerónimo da Silva Cravidão, morto em combate no dia em que fazia 25 anos e em que fora promovido a capitão (Op Cacau). Tu não participaste nessa operação, estavas em Bissau, mas mencionaste o nome do alf mil João Agostinho João, que mora hoje na Anadia, e que seria um dos alferes da confinaça do capitão.  Foi temporariamente o comandante da companhia, depois da morte do cap Cravidão. Outra testemunha da morte do cap inf Cravidão foi o vosso fur mil enf António Nicolau Pereira, que vive na Covilhão

Outro alferes que mencionaste, na conversa ao telefone, foi o Filipe José Ribeiro, saiu para ir comandar os "Roncos de Farim", com os 1ºs cabos  Marcelino da Mata e o Cherno Sissé como braços direitos, a comandar cada um a sua secção. Terá sido condecorado com uma cruz de guerra, voltando à CCAÇ 1585, no regresso à metrópole.

 Haveremos, por certo, de falar com mais tempo e vagar. Para já senta-te à sombra do poilão da Tabanca Grande, sob o nº 788. És o primeiro representante da tua companhia na Tabanca Grande. Também já convidei, em tempos, a viúva do cap Cravidão (1942-1967) para se juntar a nós.  Vou um dias destes falar-te ao telefone.

Segundo as nossas regras de convívio, tratamo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos. E neste blogue partilhamos memórias (e afectos) à volta da Guiné, onde fizemos a nossa comissão de serviço militar, em tempo de guerra, no período de 1961 a 1974.  Podes consultar as nossas regras editorias  aqui. Falamos de tudo o que diz respeito à Guiné e ao nosso tempo de meninos e moços. Só não falamos de política, religião e futebol.

Aguardo mais memórias tuas. Tens o nosso endereço de email. Vai dando notícias, Ficas desde já apresentado aos camaradas e amigos da Guiné. Somos quase 800, dois batalhões. Sê vindo e fica por cá ainda muitos anos. Bom convíviio, no dia 18, em Buarcos (*). Dá um abraço nosso aos teus camaradas todos e fala-lhes do nosso blogue e do nosso XIV Encontro Nacional, em 25 de maio, em Monte Real, para o qual estão todos convidados.

PS - O teu nome, Carlos Soares, passa a figurar, a partir de agora, na lista alffabética dos membros da Tabanca Grande, constante da coluna (estática) do lado esquerdo.
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terça-feira, 7 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19754: Convívios (892): CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68): 19º Convívio, 51º aniversário do regresso à metrópole: Buarcos, Figueira da Foz, 25/5/2019 (Carlos Soares)


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 1585 (1966/68) > Parada Cap Gravidão, morto em combate em 4/6/1967

Foto (e legenda): ©  Carlos Soares  (2019(. Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].






25 DE MAIO DE 2019  51º ANIVERSÁRIO DA CHEGADA Á METRÓPOLE > 19 º CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES  1585

ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO EM BUARCOS, FIGUEIRA DA FOZ


Local de Reunião

11 . 00 horas - IGREJA DE SÃO PEDRO - BUARCOS
11 . 30 horas - Missa em Memória dos Camaradas Falecidos
12 . 30 horas - Visita ao Museu do Mar
13 . 30 horas - Almoço nas instalações do GIS - Grupo de Instrução e Sport, em Buarcos


Carlos Soares
E M E N T A

Entradas : Petingas fritas – Tiras de Raia – Pataniscas Bacalhau
Sopa : Sopa de Peixe á GIS
Prato Principal : Bacalhau á Espiritual
Prato Alternativo : Bife á Pescador ou da carta
Sobremesa : Pastéis de Lavos – Arroz Doce – Fruta da Época
Vinhos : Branco e Tinto de Silgueiros ou Ermelinda
Digestivos e Café e Bolo da Companhia
Animação Musical (durante e após almoço )

Preço por pessoa ( adulto) 22.50 Euros (Tudo incluído )

Marcações : Chico Buarcos - 968 301 971 | Justino João - 919 231 842 | Carlos Soares - 918 245 449

[Pedido de publicação enviado pelo Carlos Soares, ex-fur mil da CCAÇ 1585 (Farim e Quinhamel, 1966/68),  que vive nas Caldas da Rainha, e é um dos habituais organizadores do convívio anual do pessoal da companhia. Aceitou o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, em cujas "moranças" não havia ainda, até agora, nenhum representante da CCAÇ 1585. Faremos a sua apresentação dentro de dias.]
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Nota do editor:

Último poste da série >  6 de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19751: Convívios (891): CCAÇ 3398, Buba, 1971/73 - XXIV Convívio, Pedrógão Grande, 27/4/2019

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)


Quartel da Atalaia - Vista geral, 2010
Com a devida vénia a Património Cultural


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Maio de 2019:


In illo tempore:

Em que a nossa servidão ao Exército Português foi iniciada no CISMI, Tavira, sujeitos de tratamento abaixo de escravos, os seus oficiais da AM eram da “geração de Abril”, e, quase seis décadas passadas, lembramos alguns e evocamos o malogrado e então alferes José Cravidão[1].

O CISMI de Tavira foi o maior viveiro de sargentos da guerra ultramarina, não só do EP, mas também dos Movimentos de Libertação, lembro-me do monitor e inefável furriel “charrua” Jorge Tembe, que foi ministro da Agricultura do primeiro governo da FRELIMO.

A segunda incorporação de 1963 arregimentou cerca de 1500 mancebos, dos quatro cantos de país, distribuídos por 4 Companhias de Instrução, comandadas pelos tenentes, Dias Pinto (miliciano), que transitará para Comandante da Guarda-Fiscal na fronteira de Vila Real de Santo António, Bernardo, que passará do posto de comando na Pontinha do MFA para perseguido deste, Serro, com prestação na descolonização de Angola e Branco, de quem perdi o rasto.

A instrução era ministrada por cerca de 20 alferes da AM [Academia Militar], logo durões, exigentes e até sadistas, e a caserna tributou alcunhas a quatro dos que mais que se distinguiam: o Cadete era o “Patilhas”, o Simões era o “Bem-amado”, o Portugal era o “Cagarim” e o Cravidão era o “Escravidão”, esta mais por metafonia que pelo seu perfil.

O nosso trabalho, tão duro e exigente, isento de horário, dia e noite, era correspondido com péssimo passadio, a raiar a fome, e só não chegamos à subnutrição, a esqueletos humanos, graças ao “negócio” da cantina regimental e às idas aos tascos da cidade que, na circunstância, também não nos correspondia com a melhor hospitalidade.

Os programas da instrução eram comuns, era-se sargento ou oficial consoante a escolaridade formal de cada um, 2.º e 3.º ciclo liceal, respectivamente.

Além da Ordem Unida e da Ginástica de Aplicação Militar, éramos dia e noite industriados em Organização Militar – Táctica Geral – Combate – Protecção contra ataques aéreos, forças aerotransportadas, blindados e ABQ – Armamento - Tiro – Organização do Terreno – Topografia – Informações – Transmissões – Higiene – Escrituração Militar.

E ficamos versados em todas estas matérias em 4 meses! Houve poucos chumbos, teremos sido os melhores do mundo – e massivamente! Haja em vista que Hitler foi comandante-chefe das FA da poderosa Alemanha e o maior patrão da II Guerra Mundial, andou 5 anos na tropa e não passou de 1.º cabo R/D…

No referente ao passadio, o grão-de-bico chegava à boca do caldeirão autoclave em sacos de juta dependurado num cadernal, levantava uma nuvem de pó enquanto era esvaziado e por regra era servido cru; as batatas eram descarregadas aos sacos em máquinas de descasque, praticamente podres; o feijão e arroz tinham gorgulho (bichos) e este era servido como argamassa. Mas o café da manhã e o casqueiro eram aceitáveis

Os sanitários eram formados por uma bateria de bacias turcas de grés, de noite a parada era atravessada por fantasmas em pelote para os frequentar e só eram limpas e desinfectadas a creolina quando a imundice fisiológica passava da porta de acesso ao espaço. Num contexto de sururu em surdina, um lavatório colectivo amanheceu com a válvula entupida e com um grande “cagalhão” flutuante e anónimo. O alferes Cravidão estava de oficial de dia, soubemos ter posto água na fervura, a companhia mereceu o epíteto de “Companhia do Cagalhão”, mas escapou ao castigo colectivo.


José Cravidão,

alf inf
O acesso ao refeitório era por turnos e em fila indiana, havia um lavatório colectivo junto do portão de entrada, eu e outro demos conta que um brincalhão metera lama nas nossas chávenas polivalentes de alumínio, que levávamos dependurada no cinturão e saímos da fila para os lavar. O oficial de dia era o alferes Cravidão, regressado de lua-de-mel, mais calmo e sereno, a conduzir um Simca 1000, de design arredondado e novinho em folha, estava de olho em nós e ordenou, com o seu peculiar sorriso, a descair para o cínico:

- Oh, “funcionários”! Tu, tu e tu venham aqui ao paizinho. Quem os autorizou a sair da fila?

Deixou-nos pregados ao chão e já toda a gente comia quando, dando-nos o seu recado, no sotaque alentejano mais autêntico.~

- Para a próximas ides comer “raspas de cornos”!

Se tivesse acontecido com o “Patilhas”, este não perdoaria a ida e volta em cambalhota em frente, do refeitório, junto a porta da Atalaia à Porta de Armas.

O tradicional juramento de caserna de “juro e jurarei, que ao pré e ao rancho nunca faltarei”, não funcionava no CISMI desse tempo.

Enquanto soldados-instruendos, percebíamos o pré de 40$00. No primeiro mês não só não recebemos como tivemos de pagar 2$50; no segundo mês, idem, e tivemos de pagar 1$00. Éramos a flor da Nação, sem a condição de escravos, mas no tempo da escravatura legal, o dono do escravo podia passar privações, mas ele era alimentado de 3 em 3 horas, por exigência da produção. Só pagava com o corpo; não pagava mais nada!

O comandante elitista foi rendido pelo major Cardeira da Silva, ex-prisioneiro da invasão da Índia Portuguesa - e tudo mudou rapidamente, para melhor, não só fomos logo reembolsados do que nos fora sonegado e cobrado, como também passamos a receber 60$00 mensais, e seremos aumentados para 90$00, após a promoção a cabos milicianos. [90 escudos, em 1963, equivaleria a 38 euros, a preços de hoje.]

Soubemos que os relatórios de oficial de dia do alferes Cravidão tinham influenciado essa melhoria.

Descansa em paz, malogrado Capitão José Cravidão!

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 26 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19718: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXII: José Jerónimo Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) (Arraiolos, 1942 - Bricamal / Farim, Guiné, 1967)... Morreu, heroicamente, em combate, no dia em que fazia 25 anos... Ninguém lhe deu uma condecoração, por mais singela que fosse.

Último poste da série de 6 de março de 2019 > Guiné 63/74 - P19557: (Ex)citações (351): Manel Pereira, amigo e camarada. Reencontro em Monte Real. (José Saúde)

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19727: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (3): Em homenagem, póstuma, ao cap inf José Cravidão (1942-1967) (Claudina Cravidão)

Cap inf José Cravidão (1942-1967)
1. Mensagem, de 28 de maio de 2013, de Claudina Cravidão, viúva do cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão (Arroiolos, 1942- Farim, Guiné, 1967), cap inf, cmdt CCaç 1585 (Nema, Farim e Quinhamel, 1966/68), morto em combate em 4 de Junho de 1967 (*). 

Mobilizada pelo RI 2, a CCAÇ 1585 embarcou em 30/7/1966 e regressou à metrópole em 9/5/1968; era uma companhia independente; teve dois comandantes, o cap inf José  Cravidão e o cap mil inf Vitor Gama.

O cap inf José Cravidão era natural de Arroiolos, e é um dos muitos camaradas nossos injustamente esquecidos nos Dez de Junho destes anos todos, antes e depois do 25 de Abril. 

Fizemos questão de o lembrar, em 10 de junho de 2013, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se comemorou justamente em Elvas, a terra que acolheu os seus restos mortais. Deixou viúva e 2 filhas, uma médica e outra enfermeira (**)

A mensagem da viúva chegou-nos pelo mail do Jaime Silva [, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, meu amigo do peito, grande camarada, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (e residente em) Seixal, Lourinhã, professor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à direita, acima]




2. Palavras da Claudina Cravidão [, Maria Claudina Marçal Lopes Silva], licenciada em educação física, colega do Jaime Silva, de curso, e amiga de Luanda, onde conviveram, antes do 25 de Abril] (**)


Jaime, muito obrigada, pela tua intervenção neste assunto. Andei um bocado em baixo, porque já sabes que estas coisas doem e, quando mexemos nelas, doem ainda mais, porque se tornam mais presentes.No entanto aconteceu e o inevitável não tem solução. Já reuni outras homenagens, como o terem dado o nome dele a um largo, ao fundo da rua onde ele morava, em Arraiolos [, Largo Capitão José Cravidão] , assim como uma lápide, bastante grande, na parada do quartel, em Farim [, Guiné], também com o seu nome.


Está tudo digitalizado, aliás mandei digitalizar numa casa de artigos fotográficos, mas as letras são muito pequenas, não sei se estarão bem legíveis. Penso que não pode ser de outra forma. Nestas coisas da Net, não sou nenhuma expert e, o que sei, são os netos que me ensinam.

Pensei 2 vezes, em ir com isto para a frente. O meu marido era um homem que não ligava nada a homenagens e a outras coisas do bem parecer... Ligava, sim, à verdadeira essência das coisas, por isso discordava muitas vezes da opinião dos chefes, que passavam o tempo nos gabinetes e nem sequer conheciam os locais por onde eles andavam. Sei que os homens [, da CCAÇ 1585,] o admiravam e gostavam muito dele, porque ele os tratava como homens, e não como carne para canhão.

Mas, depois de muito pensar, achei que não seria mal nenhum publicitar as homenagens que lhe fizeram. Como eu própria as publiquei no semanário "Linhas de Elvas", penso que as datas devem lá estar.


A última, a que a Sara (filha mais nova) te mandou e a mais completa, saiu no semanário "Linhas de Elvas" a 31 de dezembro de 2012. A do soldado de Pinhel foi publicada no boletim paroquial "O Falcão", em outubro de 1967. A foto da lápide deve ter sido enviada ainda em junho de 1967. A carta do furriel Joaquim Pedrosa, em 6 de junho de 1967, assim como muitas mais, mas são muito extensas, por isso só referi algumas frases mais marcantes.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva
Cravidão (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal Linhas de Elvas
Afinal estou com a foto da lápide, de 20 de agosto de 1967. Também há outros depoimentos, como o do capitão miliciano que o foi substituir [, cap mil inf  Vitor Brandão Pereira da Gama], assim como um alferes com quem ele se dava bem e que o tentou convencer a não ir a essa operação (, visto fazer 25 anos nesse dia), mas ele teimou e disse que iria com eles e foi.

A operação chamava-se Cacau, deslocaram-se de lancha toda a noite, até atingirem o objectivo: Bricama, uma base pesada dos turras. Estes, emboscados na outra parte da bolanha, deixaram que destruíssem as moranças e as queimassem e, já na retirada, quando se iam deslocar, para outro local, rebentou um violento tiroteio e foi quando ele foi atingido.

Segundo o alferes, quando se propagou a notícia, entraram em loucura [, os militares da CCAÇ 1585,] e, se ele não tivesse segurado os homens, seria uma carnificina, muitos mais teriam morrido. 


Foi uma única bala, entrou na parte da frente, atravessou o fígado, causando hemorragia interna e saiu nas costas. Era a hora dele. Conforme ele dizia, estava escrito.

Para não te incomodar com todas estas coisas e, visto vires para baixo no fim do mês, estava a pensar enviar directamente as coisas para o teu amigo, pois tenho o mail dele. Diz-me o que queres que eu faça. O livro do teu amigo [, não sabemos de quem se trata... (LG)] deve chegar amanhã, pelo correio, à cobrança. 


Quando fico mais em baixo, digo para mim mesma "não penses nisso, pensa nos momentos bons que viveram" e tu faz o mesmo, umas vezes resulta, outras não, mas cada um carrega a cruz à sua maneira. Não é uma questão de catolicismo, mas acredito mesmo que nada acaba aqui. Só a carne morre, o espírito vive, se algum dia pudermos falar, verás que é assim.

Vou escrever ao Luís Graça, só para lhe agradecer a disponibilidade e a gentileza que tem mostrado. Fotos, vão muito poucas, porque as muitas outras que possuo, são pessoais e essas não se publicam. 


Podes reencaminhar o mail, para o teu amigo, para não escreveres tanta coisa, ou então sintetiza,mas eu queria saber se mando o que está digitalizado, para ele ou para ti. 


Um abraço grande para ti e para a Dina (minha homónima, pois também há muita gente que me chama Dina - é a terminação dos nossos nomes.). 

Beijinhos. (***)


3. Comentário, de 3/6/2017, 00h15,  de Carlos Alberto Alves Soares  ao poste P11691 (****) [, infelizmente, ainda não consegui contactá-lo, mas é amigo do Facebook da Tabanca Grande].


Amigo Luis Graça, eu sou Carlos Alberto Alves Soares, ex-Furriel Miliciano da Companhia  de Caçadores 1585, gostaria de saber o seu contacto telefónico para o contactar e falar da situação que a minha Companhia viveu na Guiné de Agosto de 1966 a Maio de 1968 e levar-lhe o livro verdadeiro que contém toda a vida da 1585, pois fui eu próprio que a escrevi e a cópia da que foi enviada ao Ministério do Exército,sou eu que a tenho.

No passado dia 27 de Maio de 2017 efectuámos mais um almoço convívio em Caldas Rainha, correu tudo bem. Duas semanas antes escrevi á Srª D.Claudina Cravidão a convidá-la para assistir ao convívio, já que no próximo dia 4 de junho [de 2017] faz 50 anos que o esposo faleceu. A Srª escreveu-me,  dizendo da sua impossibilidade. A Companhia tem um "site" no Google com alguma atividade (,muito pouca). O meu contacto telefónico é 918 245 449 e o email é : carlitosarelho@gmail.com. 


(**) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19718: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXII: José Jerónimo Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) (Arraiolos, 1942 - Bricamal / Farim, Guiné, 1967)... Morreu, heroicamente, em combate, no dia em que fazia 25 anos... Ninguém lhe deu uma condecoração, por mais singela que fosse.





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

Sobre o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, ver os postes já publicados no nosso nosso blogue. (**)


Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: zona  de Bricama,  a leste de Farim, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967., no dia em que fazia 25 anos. A sua morte abalou profundamente o moral do seu pessoal, por quem era muito estimado e respeitado. Nunca foi condecorado.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
________________


(**) Vd. postes de:


10 de junho de  2013 > Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16285: Notas de leitura (856): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte III: onde se faz referência à possível operação das NT, no corredor de Sambuiá, onde terá morrido o cap inf QP José Jerónimo da Slva Cravidão, da CCAÇ 1585, em 4/6/1967 (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)


Guiné > 1970 > s/l > Algures, numa enfermaria do mato, um guerrilheiro do PAIGC ferido, em tratamento. Uma das célebres fotos de Bara István, o fotógrafo húngaro, nascido em 1942, que esteve 'embebed' com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70. É hoje um vulgaríssimo fotógrafo comercial, mas contnua  manter,   na sua página na Net, na sua galeria, esta e outras fotos que documentam bem a dura realidade da vida dos guerrilheiros do PAIGC e da população sob o seu controlo,

Título da imagem em húngaro: "0076_Bara Istvan_Sebesult PAIGC harcos, Guinea Bissau_1970.jpg",,,

Estamos gratos a este conhecido fotógrafo magiar pelas imagens sobre a guerra colonial / guerra de libertação na Guiné-Bissau que disponibilizou na sua página. Partimos do princípio que estas imagens são do domínio público. Tentámos em tempos contactá-lo por e-mail, mas nunca recebemos resposta, para obtermos autorização para divulgação de mais fotos da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria > Guiné-Bissau (com a devida vénia / with our best wishes...)


1. Terceira parte das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo, e enviadas a 28 de junho último. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato e as limitações do blogue.  Reproduzimos aqui a sua mensagem que serve de introdução:

Caros tertulianos:  apresento-vos o terceiro de quatro fragmentos em que foi dividida a publicação, no nosso blogue, da entrevista ao cirurgião Domingo Diaz Delgado, médico do primeiro grupo de nove clínicos cubanos chegados em junho de 1966 à Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau], para apoiarem o PAIGC na sua luta pela independência [, o outro lado do combate]. 

Trata-se de um trabalho realizado pelo jornalista e investigador cubano Hedelberto López Blanch e que consta no seu livro, escrito em castelhano, com o título «Historias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp. Disponível na Net em versão preliminar, em formato pdf .

No que concerne aos clínicos que cumpriram a sua missão na Guiné são três as entrevistas publicadas nesse livro, cada uma delas relatando algumas das suas experiências, vividas na primeira pessoa por cada um deles, a saber: (i) Domingo Diaz Delgado (médico-cirurgião); (ii)  Amado Alfonso Delgado (médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia); e (iii) Virgílio Camacho Duverger (médico militar, especialista em cirurgia geral). 

O conteúdo de cada fragmento respeita aquela ordem, assim como a estrutura dos guiões utilizados pelo autor nas três entrevistas.

Porque se trata de uma tradução e adaptação para português, não farei juízos de valor sobre os diferentes depoimentos, apenas colocando entre parênteses rectos algumas notas avulsas de enquadramento socio-histórico ao que foi transmitido com recurso a imagens desse contexto retiradas da Net e dos arquivos deste blogue (e, nalguns casos, da própria publicação, ou da versão disponúivel em formato pdf).


[Foto à esquerda:

 O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo:  (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].


2. O CASO DO CIRURGIÃO DOMINGO DIAZ DELGADO - Parte III

Para melhor compreensão da contextualização deste 3.º fragmento, referente ao cirurgião Domingo Diaz Delgado, sugere-se a leitura dos P16224  e P16234 (*): o primeiro relacionado com a preparação para a missão africana, viagem e inclusão na estrutura do PAIGC; o segundo de explicação/caracterização da paleta de actividades clínicas presentes no quotidiano de um médico naquela guerra de guerrilha, das condições logísticas vividas em bases improvisadas, provisórias e de parcos recursos, ora socorrendo os guerrilheiros feridos nos combates, ora cuidando das maleitas apresentadas pela população sob o seu controlo.

Em função dos itinerários percorridos a pé por Domingo Diaz, no interior do território da Guiné durante os primeiros seis meses da sua missão [2.º semestre de 1966], este teve a oportunidade de conhecer quase todas as bases do Norte, como sejam os casos de Liador, Sambuia, Naga, Maqué, Morés e Sará.

Considerando este facto, um militar das NT, cuja identidade se desconhece e utilizando uma cópia do mapa da Guiné existente à época, assinalou em 1968 a localização de bases dos guerrilheiros, de zonas de infiltração destes a partir dos países circunvizinhos, de áreas onde a acção da guerrilha era mais intensa e dos aquartelamentos das unidades militares portuguesas.

Dando conta desse levantamento, reproduzimos abaixo uma dupla imagem: o original retirado do P14391 e a cópia extraída do livro de Renato Monteiro & Luís Farinha, (1990),  Guerra Colonial - Fotobiografia. Lisboa. Publicações Dom Quixote, Circulo de Leitores e Autores. pp. 130/131, com a devida vénia. [ O Renato Monteiro é membro da nossa Tabanca Grande e passou pelo Xime e Enxalé,  ao tempo da CART 2520,  em 1970, sítios por onde também passarei dois anos depois...]



Mapa da Guiné (original e cópia). A cópia refere-se à localização de bases dos guerrilheiros, de zonas de infiltração destes a partir dos países circunvizinhos, de áreas onde a acção da guerrilha era mais intensa e dos aquartelamentos das unidades militares portuguesas, elaborado por militar das NT em 1968, e encontrado um ano depois num dos aquartelamentos no interior do território.

Fonte: Renato Monteiro & Luís Farinha, (1990),  Guerra Colonial - Fotobiografia. Lisboa. Publicações Dom Quixote, Circulo de Leitores e Autores. pp. 130/131. (Com a devida vénia...)

Continuação da entrevista com Diaz Delgado (no docuemto em pdf, a que tivemos acesso, as páginas não estão numeradas. mas o total da entrevuista corresponde, no pdf, ao cap X (pp. 65/78). O Diaz Delgado regressou a Cuba em janeiro de 1968.

Para ligar o presente texto com o anterior,  a questão n.º 17 (xvii, na nossa rnumeração romana) foi repetida. Tradução, fixação de texto, negritos,  itálicos e realces a cor são da nossa responsabilidade bem como todas as notas em parênteses retos.

Este documento merece ser conhecido e parcialmemte partilhado com os nossos leitores, e em especial os camaradas e amigos da Guiné.

Cuba terá mandado cerca de 60 "voluntários internacionalistas" para apoiar a luta do PAIGC, entre 1966 e 1974 (entre os quais 9 ou 10 médicos).  A mortalidade foi elevada (cerca de 15%), apesar das grandes preocupações de Amílcar Cabral com a sua segurança. Conhecemos pelo menos os nomes de 9 combatentes "internacionalistas cubanos" mortos ao lado dos guerrilheiros do PAIGC:  tenente Raúl Pérez Abad, Raúl Mestres Infante, Miguel A. Zerquera Palacio, Pedro Casimiro Llopins, Radamé Sánchez Begerano, Eduardo Solís Renté, Felix Barriento Laporte, Radamés Despaigne Robert e Edilberto González...

O primeiro a tombar em combate foi Félix Barriento Laporte, em 2 deJulho de 1967, no ataque ao quartel de Beli, a nordeste de Madina do Boé. 


(xvii) Tem outras memórias da estadia 
em Sará?

Um dia, pela madrugada, chegou à nossa tabanca (assim se chamam as aldeias ali, nas quais existem várias construções que podem ser 7, 8 ou 10) um miúdo que se chamava Kumba [imagem ao lado, a ser assistido pelo cirurgião Domingo Diaz], com aproximadamente quatro anos. Estava em boas condições gerais, mas com uma grande ferida na perna direita onde se tinha lesionado, vendo-se o osso e as artérias, pois foi na face anterior. Impressionou-me o estado anímico em que chegou, com naturalidade, sem uma lágrima, nem um sinal de dor.

(…) Foi tratado pelo ortopedista Teudi Ojeda e por mim. (…) Durante o tratamento sem anestesia, Kumba manteve-se igual, sem uma lágrima e sem manifestar dor. A esta situação já nos tínhamos habituado particularmente na população adulta.




(xviii) A que se deve essa resistência?

Creio que é um problema de cultura, de formação, das condições duras que se vive naquele país. Por uma razão de formação e de valentia, os habitantes desta parte de África controlam e resistem à dor. Fizemos operações de abdómem sem anestesia a pacientes conscientes, que não se queixaram. Isto também acontece nos países asiáticos como o Vietname. Doentes com uma perna partida são tratados e não expressam a dor. Resistem. Guardo uma foto de Kumba, quando o tratámos no acampamento,




(xix) Quantas cirurgias realizou 
nesse tempo?

A frio realizei umas quantas, em patologias que necessitavam como hérnias, inguinais, umbilicais, enguino-escrotais. Operei umas vinte hérnias com anestesia elementar que me proporcionava o doutor Pedro Labarrere, o clínico que às vezes fugia da anestesia, porque o sistema chamado éter rainha ou éter gota-a-gota, que se realiza primeiro com uma indução de cloro de etilo para que o paciente perca a consciência rapidamente e depois se aplicava o éter gota-a-gota. Este tipo de anestesia, que inclusivamente, nessa época, era muito frequente nos hospitais de Havana, provocava muita secreção, e depois teríamos de lhes dar atropina por administração parental, para a diminuir.

Não tivemos nenhuma complicação, mesmo sem a administração de antibióticos. Nesta região, por estarem virgens os organismos dos seus habitantes, com uma dose mínima de antibiótico se pode controlar facilmente qualquer infecção. Também vimos doentes com hérnias sujas que não se infectavam e que no início não o entendíamos.

A isto se adiciona o clima desfavorável com um calor insuportável no verão [, estação das chuvas], embora no inverno [, estação seca,] fizesse bastante frio. Apesar do grande calor, as feridas não se infectam. Esta situação era-nos favorável, porque a quantidade de antibióticos que dispúnhamos era mínima e vinham do exterior, com as consequentes dificuldades de transporte, uma vez que em Sará estávamos a cinco dias de caminho até à fronteira com o Senegal, cujo governo não ajudava a guerrilha do PAIGC, tornando muito complicada a obtenção de medicamentos através desta via.

Inclusivamente transportar guerrilheiros feridos para o Senegal era um problema e muitas vezes havia que fazer um grande percurso por terra, contornando toda a fronteira até chegar a Koundara, no Norte da República da Guiné, para depois os levarmos a Conacri, onde recebiam o apoio médico. No total, entre o ortopedista e eu, realizámos umas cento e cinquenta operações a civis e militares, incluindo hérnias, feridas de balas, fracturas e outras urgências.



(xx) Quando deixou o bigrupo? 

Com o bigrupo continuei a acompanhá-lo permanentemente pela Zona Norte, mas mais tarde comecei a ter vários problemas importantes de saúde como paludismo crónico, viroses, e uma lesão infiltrativa tuberculosa. Por essa razão o chefe da missão, que naquela altura era já o comandante Víctor Dreke (Moja), decidiu retirar-me até ao meu restabelecimento total.

Mas antes da saída e ainda na base de Sambuiá  [,  Zambulla, no original], quase todos os dias as tropas portuguesas nos atacavam com morteiros e canhões que caíam muito perto de nós. Essa base portuguesa ficava somente a quinze minutos a pé. Mas uma noite notámos que as canhoadas caíam mais longe, passando-nos por cima e sentindo o som, caindo muito mais longe. Eu estava com o chefe do grupo da Frente Norte, o tenente Alfonso Pérez Morales (Pina), surgindo-nos a dúvida de que estas canhoadas tão longe queriam dizer que as tropas estavam avançando por terra para nos surpreender. Esta nossa percepção estava certa, uma vez que pelas quatro da manhã uma companhia constituída por portugueses e naturais começaram o ataque.

Por sorte, os primeiros tiros foram do nosso lado, na sequência de uma ronda que estava a ser feita por dois guerrilheiros que, ao detectarem a presença do inimigo,  reagiram e acabaram por matar o comandante da companhia. [Possível referência à Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos, se bem que o médico cubano refira outra data, março de 1967, quando foi a seguir evacuado para Conacri com paludismo,, regressando ao fimd e 3 meses: no período em que o Diaz Delgado esteve na Guiné,  na frente norte, entre agosto de 1966 e janeiro de 1968, não temos informação de mais nenhum comandante de companhia morto em combate numa operação] (**).

Por outro lado, as tropas portuguesas reagiram ao fogo e praticamente devastaram todas as palhotas da base, onde conviviam os guerrilheiros com a respectiva população. Só tive tempo, pois ouvia a fala dos atacantes, de dar uma volta à minha cama (recordo que estava com uma crise de paludismo) e rastejar até desaparecer no meio das explosões das granadas de morteiro e dos disparos. Aquilo transformara-se num inferno.

Mas, como quase sempre sucedia, quando havia tiros de resposta, não avançavam, pois não estavam dispostos a combater. Esta base era dirigida por Campané, um homem muito valente e que se bateu com afinco detendo o ataque. Certo é que, se [as tropas portuguesas] têm avançado,  não teria ficado nada.

Na rectaguarda do acampamento passava um rio no qual entrei com água pela cintura cerca de três horas, embora as balas me passassem por cima. De qualquer maneira mantinha a pistola, pois o meu desejo era de nunca ficar prisioneiro.

Posteriormente começaram a sobrevoar a zona alguns helicópteros, baixando para recolher os mortos e os feridos. Passava do meio-dia, regressei à base que estava completamente destruída e não pude recuperar nenhum dos meus bens, nem tampouco os ténis. Este tipo de calçado era mais aconselhável para aquele contexto, pois como tínhamos de atravessar muitos rios e riachos, secavam mais rápido que as botas e eram mais leves.




Guiné > Região do Cacheu e região do Oio > Os nossos aquartelamentos junto à fronteira com o Senegal e a Frente (do PAIGC) São Domingos / sambuiá. Fonte: SUPINTREP nº 31, fevereiro de 1971.


(xxi) Quando saiu para a República da Guiné?

No dia seguinte ao do ataque a Sambuiá,  inicio a viagem pelo mesmo caminho por onde tinha entrado havia oito meses [a povoação de Yiriban, rumo a Ziguinchor]. Isto aconteceu em março de 1967. Volto a Conacri onde permaneci cerca de três meses em recuperação. O comandante Víctor Dreke, que era o chefe da missão militar cubana, deu-me um apoio muito bom.



(xxii) Recorda outros factos interessantes da sua primeira etapa no norte da Guiné-Bissau?

Tenho muitos para contar. Por exemplo, nas primeiras caminhadas que fiz perdi todas as unhas dos dedos dos pés. Ficaram pretas e caíram porque não estava preparado para esse desempenho, uma vez que os pés se mantinham quase todo o tempo húmidos e as travessias eram intermináveis. Depois de ter perdido peso, e com o treino diário, consegui ter mais resistência. Fiquei tão fraco que parecia uma “corda de violino”. Mas fiquei com o hábito de andar e em Cuba percorro cinco quilómetros todos os dias.

Noutra ocasião, quando me encontrava na base de Liador, também no Norte, recebi uma mensagem num pequeno papel escrito por Francisco Mendes,  um dos chefes militares da zona a quem chamavam de Chico Mendes ou Chico Té. Ele, atraído pelo triunfo da Revolução, foi o primeiro presidente da Assembleia do Poder Popular desse país e morreu depois num acidente. Nesse papel solicitava-me que fosse ver uma mulher que estava com sinal de parto e em dificuldade de parir.

Essa noite saí com outro companheiro e um guia até uma aldeia um pouco distante e nos perdemos. No trajecto cruzamos dois corredores com muito cuidado e com a arma na mão, pois por ali passavam regularmente viaturas com portugueses. Quando chegámos, encontramos uma mulher aparentando uns vinte e quatro anos (e com aquela idade era quase uma velha pois a esperança de vida, naquela época, era de quarenta anos). Estava no chão, rodeada de galinhas e uns porquitos e já havia parido um dos bebés, pois tinha gémeos.

Eu tinha bastante experiência em partos, porque durante a minha carreira fiz as práticas no Hospital da Maternidade Obrera [Operária], aonde realizei mais de uma centena. Como este bebé se encontrava emperrado, sabia que devia introduzir a mão para o retirar. Ao ver que o bebé estava em boa posição,  lá o conseguir extrair sem problemas.

A mãe tinha feito um quadro psiquiátrico e que me pareceu ter contraído tétano. Começou por dizer que o primeiro filho não era seu, mas só o segundo, e queria matar o primeiro, no que foi impedida pelos seus familiares. 

No entanto, administrei-lhe dez milhões de penicilina nos dias seguintes e o trismo, que é a contracção da mandíbula que se vê nos tétanos, cedeu. Ela sobreviveu, embora mantendo o quadro psiquiátrico.

Continua.
 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriors:

22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16224: Notas de leitura (850): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte I: a partida de La Habana e os primeiros contactos com o PAIGC (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

24 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16234: Notas de leitura (851): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte II: a vida dura nas base de Sara, na região do Oio (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

(**) Vd. postes de:

24 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Guiiné 63/74 - P12699: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (16): Não gostaria de regressar ao passado e muito menos em Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)


Foto nº 1252

Foto nº 1246

Foto nº 1293


Foto nº 1267



Foto nº 1284



Foto nº 1280

Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Tavira: o rio Gilão, a ponte romana, o CAT - Centro Auditivo de Tavaira (fotos nºs 1280 e 1284; à esquerda, o edifício da Câmara Municipal de Tavaira

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 7 do corrente, do nosso camarada  Manuel Luís Lomba (ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; auitor do livro "Guerra da Guiné_ A batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp.) [Capa, imagem à esquerda]


Olá, Carlos Vinhal e um grande abraço, extensivo a toda a comunidade tabanqueira!

Manuel Luís Lomba


2. Memórias do quartel de Tavira

por Manuel Lu+is Lomba [, foto atual à direita]


Vou aproveitar a boleia da narrativa ilustrada do nosso patriarca Luís Graça para revisitar o quartel da Atalaia de Tavira, que o marquês de Pombal mandara construir, que nos serviu de CISMI e nos servirá de antecâmara à nossa Guerra da Guiné.

Entrei como recruta para essa ”escola do crime” de Tavira, parafraseando o Manuel Alegre, não como poeta mas como radialista da propaganda antiportuguesa em Argel, em Agosto de 1963, e saí cabo-miliciano atirador pouco antes do Natal, sem nunca haver abraçado uma G3 (abraçá-la-ei pela primeira vez a treinar desembarques, no ilhéu do Rei, defronte a Bissau) e após termos aguentado uma semana de campo, em exercícios de patrulhamentos, escoltas, vanguardas, guardas de flanco, cercos e assaltos, por montes lá para as bandas de S. Brás de Alportel, sob chuva torrencial dia e noite, estoicamente, durante a qual os corpos não gozaram de linha enxuta, nunca nos deitamos a dormir, sem rações de combate, as cozinhas rodadas sem funcionar e o estado de fome agravado pela deserção dos vendedores ambulantes.

A sua última jornada constava da passagem pela carreira de tiro, na estrada Tavira-Olhão, para exercícios de fogo de bazuca e morteiro de 60. O rancho era cozinhado durante as deslocações, o grão-de-bico começara a ser servido cru pela enésima vez, não obstante a proximidade do quartel e da disponibilidade da sua cozinha e foi então que alguns corajosos - que pena não me lembrar dos nomes - despejavam as marmitas nos caldeirões logo que servidos e nem foi obedecida a tão sacramental ordem de “sentido!” vociferada pelo oficial de dia - o truculento alferes Matos, que verá o braço preso e rodeado de indignados, dispostos a tudo, por ele ousar levantar o punho para o que lhe estava mais próximo. Os seus alferes usaram de argumentos apaziguadores e a tensão distendeu-se. Uma das maiores cenas de virilidade e valentia, das ocorridas na minha vida militar...

Mas a indignação, não. Ao lado da carreira de tiro havia uma cerâmica tijoleira, a miséria da vida patente nas suas jornaleiras, a trabalhar descalças, vestidas de trapos de chita cobertos de lama vermelha, que coexistia com a bonita moradia do seu dono, a campear sobre um extenso laranjal. Encharcados até à medula dos ossos, cheios de fome e a tremelicar de frio, algum apontador terá tremelicado mais que de frio e um ou dois disparos pareceram ter a chaminé da fábrica como alvo (falhado), enquanto a malta que podia se “desenfiava” a “desalaranjar” as árvores tão cuidadas e de tão preciosos frutos, pela comiseração tácita daquelas pobres que o patrão destacara para nos vigiar... Os pobres sem pobres são pobrezinhos - sentença de um Guerra Junqueiro. O capitão Salgadinho São Brás era o diretor da instrução, entendeu dar por terminadas essas marchas finais e mandou vir camiões Morris, do quartel, para carregar os mais debilitados. Aquela saga acabou no refeitório, com uma cadeirada de lulas, bem quente e bem apurada, meio casqueiro e um caneco de vinho per capita.

As participações foram retiradas e sem lugar a “porradas”, por recomendação do comandante major Cardeira da Silva.

Em Janeiro de 64 apresentei-me no RI 13, em Vila Real, começamos a andar pelo Marão a afrontar e o gelo, no entanto reconfortados pela aguardente que aquela gente fazia questão que aceitássemos e, em Maio, apresentei-me em Cavalaria 7, onde a fome se apresentou mais refinada e onde formamos o BCav 705 com destino à Guiné, para onde embarcamos em Agosto e donde regressamos, em Maio de 1966.

Fui um dos 1200 soldados-instruendos que foram encurralados no CISMI de Tavira e muitos viremos a ser estivados no cargueiro Benguela, tal e qual o gado, com destino à Guiné. Os tetos falsos das suas casernas (o 1º andar será acrescentado mais tarde) eram formatados pelo colmo das canas próprias para foguetes, bons como refúgio dos percevejos, que nos aterravam nas fuças, por gravidade. A abundância de pasto era tal que até esses hemípteros algarvios não se davam ao esforço de abrir as asas.

A ausência de instalações sanitárias seria a mais grave deficiência do CISMI: a previsão de nos esticar à fome talvez valesse de razão suficiente para haver apenas 6 sanitas “turcas” de grés, ao lado do “parque-auto” - com o rácio de uma para cada 200! Durante a noite, a parada era continuamente povoada de fantasmas em trajos menores, em demanda das sanitas. E entre a malta circulava a palavra de ordem “cagar para a tropa”, como forma de luta contra aquela indecência. Havia ativistas a sacrificar o seu tempo de rua para a cumprir. O amontoado daquela “matéria” só não chegava a passar da sua porta de acesso geral, porque os faxinas tinham a preocupação de não a deixar transbordar para a parada.

Após toque de alvorada do dia em que o tenente-coronel comandante (indígena tavirense) era rendido pelo major Cardeira da Silva, um ex-prisioneiro da Índia, foi dado o alerta de “cagalhões” a nadar nos lavatórios coletivos à entrada do refeitório e no da caserna contígua, creio que era da 2ª Companhia. O que boiava no lavatório desta apresentava tais dimensões que se gerara um movimento de turismo interno para a sua contemplação. Era um dia de festa castrense, a malta sem fazer a higiene pessoal, sem aceder ao refeitório e a unidade em alvoroço, próximo da prevenção. A primeira inspeção feita por quele pequeno major, que se revelará grande homem e grande militar foi a esses locais, mandando logo desonerar os soldados-instruendos do evento. A partir daquele dia a vida do quartel entrou em melhorias. A creolina recendia por todo o lado e as obras da requalificação e ampliação sanitária arrancaram. Relatório de baixas: o sargento do rancho, o sargento da limpeza - e os percevejos!

Aquela companhia era a melhor em futebol, em cujas pelejas pontificavam, entre outros, o Crispim, da Académica e o Lourenço, um terrível forcado. Começamos a gozá-los como a “companhia do cagalhão”. A sua malta assumiu o epíteto, apurara-se para a final, que decorreu no campo da Atalaia, com outra unidade daquela da Região militar, no galhardete entregue ao capitão da equipa adversária figurava um grande “cagalhão”, o qual não reparou e mandou entregar de lembrança ao brigadeiro segundo-comandante...

Naquele meu tempo, a generalidade dos oficiais e dos furriéis do CISMI revelavam-se gente decente, militares exigentes mas dignos. Lembro-me dos tenentes Dias Pinto, Branco, Cerro e Bernardo, comandantes das companhias; lembro-me do alentejano alferes [José Jerónimo da Silva] Cravidão, que virá a morrer em combate na Guiné [, com o posto de capitão,] e dos alferes Mota Freitas, Portugal e sobretudo do Simões, comandante do meu pelotão, uma alma excecional como homem e como militar. Lembro-me do moçambicano Jorge Tembe, um furriel “charrua”, que será o ministro da Agricultura do primeiro governo da Frelimo.

E não poderia esquecer o alferes Cadete, o Patilhas, o mais militarista e o mais fundamentalista, com a sua sádica tendência em dar a ginástica de aplicação militar nas salinas. Casado de fresco com uma beldade tavirense, quando o casal se cruzava connosco, ele reagia alto e bom som aos nossos olhares cobiçadores a proferir expressões, impróprias de serem reproduzidas neste blogue de gente grisalha...Aqueles oficiais terão visibilidade no contexto do 25 de Abril, com patentes mais elevadas.

Estive uma semana hospedado no convento da Graça, que não era hotel, mas anexo e enfermaria do CISMI, por ter desconchavado uma mão, num salto ao plinto. A pista de obstáculos funcionava no seu logradouro. Na prova final para a classificação física tinta de saltar a paliçada com um saco de areia que pesaria quase tanto eu. O Guima, camarada da Foz do Douro, agachou-se junto a ela e alavancou-me de tal maneira que, em vez de saltar com o saco de inertes a cavalear-me, voei sobre a paliçada e espalhei-me a cavalear o saco. Salvé, meu inesquecível Guimarães!

Não vou omitir a referência ao 500, cão-mascote de quartel, invocado em todas as conversas de caserna, pela sua orientação sexual da preferência pelo mesmo sexo e tão sorna, que ladrava deitado!

Da cidade de Tavira não guardei boas recordações, ressalvando da praia da ilha e das grandes travessas de conquilhas, que custavam 2$50, não obstante um dinheirinho para os nossos rendimentos. No final do primeiro mês no CISMI, a mourejar que nem condenado, o Exército patrão nem um centavo nos abonou e ainda nos obrigou a pagar-lhe 2$50 e ao segundo mês 1$00. O nosso pré de 30$00/mês ia parar todinho ao bolso de alguém, acrescido desse reforço. O major Cardeira da Silva salvou-nos dessa ladroeira e salvou a honra da unidade.

Fui particularmente sensível ao facto de sermos descriminados nos cafés, que se pagavam por um copo de água da torneira. E as queixas chegadas ao quartel quando nas esforçadas patrulhas de instrução recorríamos a algum poço para matar a sede ou encher os cantis, magoavam ainda mais.

Não gostaria de regressar ao passado e muito menos em Tavira.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos


Guiné > região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: Região de Bricama, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1.  Reproduzido, com a devida vénia, do sítio do Carlos Silva, nosso querido amigo e camarada [, Guerra na Guiné 63/74]


Operação Cacau, 4/6/1967
por Carlos Silva

Tinha por finalidade actuar de forma profunda e em acções simultâneas na região de Bricama, Ponta Sinói e Maninhã. [Toda esta zona fica a Sul de Farim, na margem esquerda do Rio e encostada ao rio Canjambari].

As forças constituíram-se da seguinte forma:

Destacamento A – 2 Gr Comb da CCaç 1585, reforçada com o 1 secção Comp  Mil 5
Destacamento B – 1 Gr Comb CCaç.1585 reforçada com o Gr Comds Os Roncos. [O grupo foi comandado pelo Alf Falcão, em virtude do Alf Ribeiro se encontrar de férias na Metrópole ]
Destacamento C – CCaç 1565 (-)

O Dest A e o Dest B, embarcaram neste dia pelas 0 horas em Lanchas de Desembarque Médio (LDM) no cais de Farim, sendo colocados no ponto, Farim 3 B7 72, primeiro o Dest B que se internara na mata montando a segurança ao desembarque do resto das forças.

Feito o desembarque, a força iniciou a progressão em direcção à antiga tabanca da Bricama, sendo desde logo detectados trilhos utilizados pelo IN. Atingida a Bricama, as forças continuaram a progressão para Sul atingindo o objectivo sem ser detectadas, tendo o Dest A lançado o assalto, provocando ao IN 3 mortos confirmados e outros prováveis.

O IN reagiu com PMet,  LGFog e Mort 60. Foram destruídos meios de vida e capturados documentos e material diverso.

De seguida foi lançado o assalto ao segundo objectivo situado em Farim 6 B5 62, [ Ponta Sinói ],  tendo também aqui o IN reagido com PMet,  LGFog. e Mort 60, causando a morte do Cap Cravidão [, foto à esquerda,], Comandante da CCaç 1585 e dois feridos ligeiros.

Pedida a evacuação ao PCV, o Dest A, regressou ao ponto de embarque. O Dest B continuou a sua progressão em direcção Tencó. Contudo foi atingida a antiga tabanca de Farandito, situada mais a Sul, em virtude do guia confundir Tencó com Talicó, atitude que se tornou suspeita, o que levou à orientação pela bússola por parte do Comandnate do Dest B.

Em Farandito foram notados bastantes indícios de vida, mas não foram vistas moranças. Foi avistado 1 elemento IN que foi feito prisioneiro.

As NT continuaram a progressão em direcção a Talicó sem encontrar moranças, avistando numerosos rebanhos de ovelhas e manadas de vacas.

Daqui regressaram não seguiram para o outro objectivo em Maninhã, tabanca situada mais a Norte [“chão” dos meus amigos mandingas Dabó Dafé e Alaco “ Rosalina”],  ao longo do rio Canjambari para o ponto de embarque e antes de atingir Tencó, foram avistados 4 elementos IN que tentaram cambar o rio, sendo abatidos.

Em Tencó foi detectado um acampamento com cerca de 10 moranças, sendo destruído e capturado documentos de interesse.

Continuando a progressão em direcção à Ponta Sinói foram avistados 2 elementos IN que foram abatidos. Na bolanha de Ponta Sinói as NT sofreram uma emboscada, sem consequências, por um Gr. IN de cerca de 6 a 8 elementos armados com PMet.

Até à Ponta Furtado as NT sofreram mais duas emboscadas, sem consequências, tendo sido causado ao IN feridos prováveis. As NT atingiram o ponto de embarque onde foram recolhidas no mesmo dia 4 às 13 horas.

Nesta operação, foram provocadas as seguintes baixas ao IN:

9 mortos
1 prisioneiro
Vários feridos confirmados

Foi capturado ainda o seguinte material:

5 longas
10 cartuchos 7,9
Medicamentos
Documentos Material diverso

Foi morto em combate o Cap Inf  José Jerónimo da Silva Cravidão. A sua morte teve reflexos desfavoráveis na moral de todo o pessoal da sua companhia, pelo qual era muito estimado e respeitado. As cerimónias fúnebres,  realizadas no dia 5-06-1967,  em Farim,  constituíram sentida manifestação de pesar. O Cap Cravidão era natural de Arraiolos e ficou sepultado no cemitério de Elvas. (*)

Ficaram feridos:

1º cabo 76962/66 Manuel da Silva Santos
Sold nº 21952/66 António Monteiro Boavista

Distinguiu-se nesta acção o 1º cabo 90273/66 Manuel Genrinho dos Santos,  da CCaç 1585, pelo desembaraço revelado.

Fonte: História da CCaç 1585, pp. 64-65.



Cemitério de Elvas: Lápide funerária de José Jerónim da Silva Cravidão  (4-6-1942 / 4-6-1967). Cortesia do portal  Linhas de Elvas
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 10 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11688: In Memoriam (152): Cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate há 46 anos, em 4 de junho de 1967; natural de Arraiolos, os seus restos mortais repousam em Elvas; nunca foi condecorado (Claudina Cravidão / Jaime B. Marques da Silva)