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terça-feira, 12 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24644: Documentos (43): Panfleto dos "Soldados da Guiné", datado de 16 de Maio de 1974, com um apelo às suas famílias para que não os abandonem (Abílio Magro)

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), com data de 5 de Setembro de 2023, trazendo em anexo um panfleto dos chamados "Soldados da Guiné" com um apelo patético, digo eu editor, às suas famílias aqui na metrópole, para forçar o regresso imediato dos militares ali em serviço.

Bom dia caro ex-camarada Carlos Vinhal:

Espero que essas molas e esses amortecedores se encontrem em acelerada recuperação e que brevemente estejas apto a correr a meia-maratona de Matosinhos-Leça (para já só a meia, ok?).

Entretanto, tendo eu andado a vasculhar no baú encontrei dois pequenos jornais da Voz da Guiné de 7 e 10 de setembro de 1974, cujo director era um tal Duran Clemente que julgo tratar-se do capitão de Abril.

Se, por acaso, entenderes que o que por lá se dizia naquele tempo tem algum interesse para o blogue, diz que eu tentarei, por partes, digitalizar tudo ou transcrever os textos mais importantes.

Encontrei também um apelo escrito, assinado pelos “Soldados da Guiné” que envio em anexo.
Nestas andanças vieram-me à memória alguns acontecimentos que julgo poderem trazer alguma luz sobre a data da bomba no café Ronda.

Então é assim: recordo-me, muito ao de leve, de ter lido algures que o café que se situava na avª da República, um pouco abaixo do cinema UDIB e do outro lado da rua, não se chamava Ronda, mas que assim era conhecido e o nome foi sendo passado entre militares, mas também não me recordo de lá ter visto qualquer referência ao seu nome e que o verdadeiro café Ronda era um pequeno café junto (ou dentro?) do pilão onde aos fins de semana havia uns bailaricos com pouca gente.
Nesse café, em 1974, teriam rebentado duas granadas que poucos estragos fizeram e nunca mais ouvi falar no assunto.

No café “Ronda” da avª da República, por volta de setembro de 1973, rebentou uma bomba que se encontrava dentro de uma mochila que foi deixada abandonada.

Eu e o meu irmão Álvaro andávamos ali por perto. O ex-Fur. Mil Carlos Filipe Gonçalves estava de férias em Cabo Verde em setembro de 1973 e recebeu a notícia desse acontecimento e quando regressou de férias foi ver os estragos naquele café.

Um abraço,
Abílio Magro



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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24525: Documentos (42): "Acordo Missionário", de 7 de maio de 1940, celebrado entre a Santa Sé e a República Portuguesa

quarta-feira, 2 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23043: Fotos à procura de... uma legenda (161): Transportes públicos de Bissau: nos anos 50, operava a empresa A. Brites Palma (ABP), e os autocarros chamavam-se "ambulâncias"... Depois da independência, formou-se a empresa pública Silo Diata... (Mário Dias / José Colaço / Albertino Ferreira / Carlos Filipe Gonçalves / Cherno Baldé)

 


Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Anos 50 > O novo edifício dos correios. Anteriormente os CTT eram no edifício que se encontra do lado direito e onde continuou funcionando a Emissora da Guiné (1º andar ). De notar a curiosa viatura que era um dos “luxuosos” autocarros da época que, pela semelhança, eram conhecidos por ambulâncias

Esta ambulância  que aparece na foto (, assinalada com cercadura a amarelo), pertencia à firma A. Brites Palma. Havia ainda, tanto quanto me recordo, outras duas empresas de transportes que faziam carreiras de autocarros (ambulâncias) para toda a Guiné. Eram o “Costa”, sedeado em Bissau e o “Escada” em Teixeira Pinto (Canchungo). Tenho a vaga ideia de existir uma outra na região de Bafatá-Gabú,  propriedade de um libanês mas não tenho a certeza. Talvez alguém me possa ajudar nesta dúvida. De notar as árvores recentemente plantadas, fruto da alteração do traçado da avenida que referi neste texto. (*)

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementa: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


«

Foto nº 2 > Guiné > Bissau > s/d [1971/73 ] > Um autocarro dos transportes colectivos de Bissau, carreira Bissau/Bissalanca!...  A empresa era a  ABP... Foto do nosso saudoso Victor Barata (1951-2021), o "Vitinho". (**)

Foto (e legenda): © Victor Barata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementa: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto nº 3 > Guiné > Bissau > 1964 > Um autocarro, que fazia a carreira Bissau-Mansoa,  da empresa A. Brites Palma. As bagagens, incluindo animais vivos (cabras, etc.) iam no tejadilho.  Fotograma de filme de 8 mm feito pelo ten mil médico Rogério Leitão, da CCAÇ 557.

Foto (e legenda): © José Colaço (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementa: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O José Botelho Colaço foi o primeiro a dar uma pista, enviando-nos  uma foto de um autocarro (Foto nº 3), no ano  de 1964 (**)... Embora  com "pouca qualidade"(trata-se de fotograma de um filme de 8 mm, depois digitalizado),  o autocarro pertencia à empresa "Brito Pais ou Brito Palma, com sede em Bissau", e fazia a carreira Bissau-Mansoa. O filme foi feito pelo tenente miliciano médico  Rogério Leitão, da CCAÇ 557, já falecido, membro da Tabanca Grande a título póstumo

O Albertino Ferreira, ex-alf mil da CCAÇ 4540/72 (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74), veio acrescentar, também em comenário ao poste P23011 (**):

"Eram os transportes públicos de Bissau, transportavam tudo, desde pessoas até animais, como cabras e galinhas; a sigla quer dizer A. Brites Palma, e não Brito. Algumas viaturas mais antigas traziam este nome estampado na carroçaria (Foto nº 1); tenho pena de não ter fotografias." (*)

O José Colaço trouxe mais uma informação adicional sobre a referida empresa: a  "A. Brites Palma", também "tinha uma escola de condução onde tirei a carta de condução numa Bedford verde velhinha, de caixa aberta" (...) "Ficava numa rua ao centro de Bissau, perpendicular á avenida principal... Quanto aos táxis em Bissau, no seu tempo (1963/65), havia-os já " e prodeminavam as carrinhas Peujeot 404".

No nosso blogue,  no poste P611, de 15 de março de 2006 (*), encontrámos a confirmação: o Mário Dias, que comheceu bem a Bissau dos anos 50, e fez parte do 1º Curso de Sargentos Milicianos, em 1959, tendo sido depois "comando", confirma e documenta a existência desta empresa de transportes públicos (Foto nº 1). E, tanto quanto se recorda, ainda havia mais duas ou três: o “Costa”, sedeado em Bissau,  e o “Escada” em Teixeira Pinto (Canchungo),,,


2. O Carlos Filipe Gonçalves, jornalista aposentado, natural de Cabo Verde (que fez a tropa em Bissau, como furriel mil amanuense, QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74, e ficou lá depois da independência, como radialista), deu-nos a seguinte informação:

"Durante o tempo da tropa, 1973/74, nunca utilizei os transportes públicos (que os havia), porque tínhamos o autocarro militar que prestava bom serviço… Utilizei o táxi algumas vezes e claro tinha muitos amigos (guineenses e cabo-verdianos) com popó, logo quando das farras, pela Bissau «by night», eram eles que me davam boleia.

Bem, depois de Setembro de 1974, quando passei à disponibilidade, morava na Rua de Cacheu, aí na zona da cidade… Logo não precisava de transporte público, ia a pé para a Rádio Bissau/RDN e nas farras (poucas) que havia, se era longe ia com amigos que tinham popó!

Quando fui de férias a Cabo Verde, em Outubro de 1973,  beneficiei do pequeno autocarro da agência de viagens, que apanhava a malta na messe e levava a Bissalanca.

Todo este historial, para confessar a minha ignorância a este respeito, mas, perguntei a amigos do tempo de Bissau, disseram-me que havia duas: “Brites Palma”  e “Lulula”, e já antes da independênia.

Depois da independênciam  autocarro da  foto [nº 2] era já da Silo Diata, empresa, governamental que foi fundada (nacionalizada?) depois da Independência, o primeiro director foi Gino Mané."

Em 1979, o nosso amigo Cherno Baldé fez a viagem de Bafatá a Bissau, já não de barco, como no nosso tempo (1961/74), mas por via terrestre, em autocarro da empresa pública, Silo Diata, seguindo por uma estrada tortuosa que atravessa o Óio, passando por Banjara, Mansabá e Mansoa. Nessa altura as vendedeiras de sandes, as "bideiras de rua", enxamevam a estrada de saída para Bissau. (***)


(***) Vd. poste de  22 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23016: Memórias do Chico no Império dos Sovietes (Cherno Baldé) - Parte I: De Bissau a Kiev, como estudante bolseiro ou o poder da "sétima sorte": É Deus quem afasta as moscas da vaca sem rabo...

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22208: (D)o outro lado do combate (66): As sabotagens do PAIGC, em Bissau, no início de 1974 (Jorge Araújo)


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG > Foto da Piscina da messe de Oficiais, com o ecrã de cinema ao fundo. Foi aí que aconteceu o episódio muito bem descrito no Blog pelo camarada Abílio Magro com o titulo – "Bomba" no Clube de Oficiais do CTIG”.

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

- AS SABOTAGENS DO PAIGC EM BISSAU NO INÍCIO DE 1974 -  

► ADENDA AO P22202 (15.05.21) (*)




1.   - INTRODUÇÃO


A elaboração da presente adenda ao poste P22202 (15.05.21) pretende ser um contributo para clarificar algumas das dúvidas que teimosamente persistem na historiografia dos "factos" ocorridos durante a "guerra" no CTIG. Estão neste caso os episódios relacionados com os "atentados" ou as "sabotagens" verificados (as) em 21 de Janeiro e em 22 de Fevereiro de 1974, em Bissau, e que "continuam a suscitar grande confusão", segundo a narrativa do camarada Abílio Magro, autor do poste sobredito.

Esta iniciativa é, também, a minha resposta ao "desafio" sugerido pelo camarada Valdemar Queiroz em comentário ao mesmo poste.

Com efeito, de acordo com a "curta" investigação efectuada ao espólio disponível na CasaComum, Fundação Mário Soares, em particular nos arquivos de Mário Pinto de Andrade, recuperámos ("do outro lado") informação relevante em dois comunicados elaborados pelos «Serviços de Informação e Propaganda do PAIGC», escritos na língua francesa, e que abaixo reproduzimos, acompanhados da respectiva tradução da nossa responsabilidade.



◙ O "CASO" OCORRIDO EM 21 DE JANEIRO DE 1974 (2.ª FEIRA)


A descrição deste episódio foi publicada em Comunicado do PAIGC, datado de 09 de Fevereiro de 1974, dezoito dias após a sua ocorrência, com a seguinte justificação:

"No coração da capital, os nossos militantes da cidade de Bissau assinalaram o primeiro aniversário do cobarde assassinato do camarada Amílcar Cabral [1924-1973], fundador, Secretário-Geral e activista n.º 1 do nosso Partido, por acções directas contra a presença de tropas de agressão portuguesas no nosso país.

Assim, no dia 21 de Janeiro [de 1974, 2.ª feira], pelas 20h45, junto ao Clube dos Sargentos do Exército colonialista, na rua Sá Carneiro [actual rua Eduardo Mondlane], dois autocarros Mercedes da Força Aérea Portuguesa foram totalmente destruídos pela explosão de engenhos colocados pelos militantes do nosso Partido. Na mesma noite, um carro da Polícia Política Portuguesa (PIDE/DGS) foi também destruído pela explosão de outro engenho, em frente à residência de um dos seus agentes, na avenida Gago Coutinho. Este carro tinha o número de matrícula - BI 7598 - e os dois autocarros os números AM-19-03 e AM-19-30."

  


Citação: (1974), "Communiqué (PAIGC)", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade,  Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_83995, com a devida vénia.


◙ O "CASO" OCORRIDO EM 22 DE FEVEREIRO DE 1974 (6.ª FEIRA)


A descrição deste episódio foi publicada em Comunicado do PAIGC, datado de 27 de Fevereiro de 1974, cinco dias após a sua ocorrência, com a seguinte justificação:

"Os militantes do nosso Partido, cumprindo estritamente a "palavra de ordem" da Direcção Superior do PAIGC de intensificar a nossa acção directa nos centros urbanos e em particular na cidade de Bissau, contra as tropas de agressão portuguesas, voltaram a atacar o inimigo com força:

No dia 22 de Fevereiro [de 1974, 6.ª feira], por volta das 19 horas, explosivos instalados pelos nossos combatentes explodiram dentro do edifício principal do Quartel-General da tropa de agressão portuguesa, em Bissau. As instalações e arquivos deste edifício, que albergava o Estado-Maior, o comando operacional e uma secção de justiça militar, sofreram enormes prejuízos.

As acções dos nossos combatentes nos centros urbanos são realizadas principalmente contra a infraestrutura militar do inimigo e contra os criminosos de guerra. Temos uma preocupação óbvia em salvar vidas humanas e direccionar sempre a nossa luta de libertação contra o principal inimigo: os colonialistas portugueses e as suas tropas de ocupação.

Esta acção de sabotagem contra o centro vital da agressão portuguesa na Guiné, a poucas centenas de metros do Palácio do Governador e Comandante-em-Chefe das forças colonialistas, aumenta a desmoralização que há muito se apodera dos soldados portugueses nas camadas dominantes do regime colonial na sua desastrosa aventura no nosso país."

 



Citação:
(1974), "Communiqué (PAIGC)", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_83995, com a devida vénia.

 

● QUESTÃO DE PARTIDA:

   – CONFLITO DE DATAS APRESENTADAS PELO ABÍLIO MAGRO:


Citando Abílio Magro: (…) "O certo é que eu estava no cinema UDIB [no dia 22Fev74?] e o meu irmão Álvaro estava lá por perto, mas em 26/02/1974 já não estava na Guiné…" Então a data não pode ser outra – a de 22Fev74. Será assim?

► Fontes consultadas:

Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 04315.002.026. Título: Communiqué (PAIGC). Assunto: Comunicado do PAIGC. Comemoração pelos militantes do PAIGC no coração de Bissau do 1.º Aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, fundador, Secretário-Geral e militante n.º 1 do PAIGC, com acções directas contra a presença de tropas portuguesas, nomeadamente destruição de dois autocarros Mercedes da Força Aérea e um carro da Pide/DGS. Acções noutras zonas da Guiné. Data: Sábado, 9 de Fevereiro de 1974. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental:

Documentos.

Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 04315.002.028. Título: Communiqué (PAIGC). Assunto: Comunicado do PAIGC. Palavra de Ordem da Direcção Superior do PAIGC de intensificação da acção directa nos centros urbanos, nomeadamente na cidade de Bissau, contra as tropas portuguesas de agressão, continua a ser posta em prática. Alvo: infraestruturas militares do inimigo e criminosos de guerra. Ataque, 22 FEV1974, ao quartel-general em Bissau. Data: Quarta, 27 de Fevereiro de 1974. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Documentos.

Com um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.

Jorge Araújo.

16Mai2021
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Nota do editor:

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22191: Casos: a verdade sobre ...(22): A deflagração de um engenho explosivo no Café Ronda, em Bissau, em 26 de fevereiro de 1974 (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde)



Guiné > Bissau > Café Ronda > Interior e exterior > s/d> Fotos de Francisco Carrola (, da página do Facebook), recolhidas por Hélder Sousa, com a devida vénia...

 Teor da mensagem (classificada como confidencial) enviada pelo Com Chefe da Guiné ao Ministério da Defesa Nacional, em 27 de fevereiro de 1974:

Em 26 de fevereiro [ 1974] , pelas 22h10, deflagrou um engenho explosivo no café “Ronda”, principalmente frequentado por militares de várias patentes. É uma café situado na principal artéria da cidade [ de Bissau] . Da explosão resultaram 1 morto civil africano,  14 feridos civis, sendo um grave, e 49 feridos militares, sendo cinco graves.

A análise dos estilhaços leva a admitir com probabilidae elevada que o engenho fosse constituído por 1 ou 2 granadas defensivas F-1 (russa), com espoleta de retardamento, MUV-2 , do mesmo tipo dos engenhos colocados no autocarro da FAP  em 21 de janeiro [ de 1974] e em viatura miliatr em Bula em 24 de agosto de 1972.

Iniciadas averiguações pela PSP local,  DGS-Bissau  e autoridades militares, Comando da PSP difundiu  comunicado geral de informação. Não houve o menor incidente durante festejos do Carnaval. Idêntico comunicado segue para o Ministério do Ultramar.


[Revisão / fixação de texto: LG ]


Informação errada no nosso blogue: o atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital... 

Felizmente que a incursão pela "guerrilha urbana" ficou por ali...mas foi o suficiente para causar algum alarme entre os militares e suas famílias, que viviam em Bissau... (Resta saber se Amílcar Cabral, se fosse vivo, aprovaria este tipo de escalada da guerra, com recurso a atentados cegos, causando vítimas também entre a população civil.) 





I. Mensagem do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74, natural de Cabo Verde (n. São Vicente, Mindelo, 1950), radialista, jornalista, músico, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde, membro da Tabanca Grande, nº 7901
 
Date: quarta, 5/05/2021 à(s) 15:06
Subject: Disparidades de datas da ocorrência: Bomba no Café Ronda em Bissau
 

Caro amigo e camarada:

Como já sabes,  estou a finalizar o meu livro "Heróis do Mar, Bombolom, Cimboa" sobre a minha estada na Guiné, entre 3 de Março de 1973 a 22 de Agosto de 1975 quando regressei a Cabo Verde e os primeiros cinco anos aqui.  

Grosso modo, a 1.ª parte, Heróis do Mar, é essencialmente a minha vivência do último ano da Guerra em Bissau, pois cheguei em 3 de Março de 1973; a 2.ª parte é já a situação depois do 25 de Abril de 1974, a retirada da tropa portuguesa, o meu trabalho na Rádio Bissau (inicialmente Rádio Libertação); a 3.ª parte é a minha experiencia na Rádio Voz di Povo, depois Emissora Oficial, aqui na Praia, Cabo Verde. 

Comigo, estão vários convidados, pessoas que comigo viveram muitos acontecimentos, tudo com o apoio de documentação, jornais, etc. Na primeira parte, socorri-me de muitos dos depoimentos/testemunhos de acontecimentos de 1973/74 narrados no teu Blog, assim como documentos que foram publicados. Obrigado pois ao Blog, que permite esta comunicação entre antigos militares e obrigado ao seu coordenador/moderador, que me deu a possibilidade de utilizar muita dessa informação publicada, citando é claro a fonte, um dever sagrado do jornalista.

Posto isto, devo dizer que entrei numa fase de verificação, reverificação, confirmação de fontes, datas, etc. e é justamente por isso que agora entro em contacto contigo para te expor o seguinte, sobre o acontecimento que foi a explosão de uma bomba no Café Ronda, em Bissau:

1.  Na seguinte página do nosso  blog,

6 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13698: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (9): 7 de Abril de 197

 https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/10/guine-6374-p13697-os-ultimos-anos-da.html  

 encontram-se várias efemérides e na parte «Acontecimentos no período relacionados com a Guiné», diz o seguinte: 

"26 de Fevereiro de 1973 explosão de uma granada de mão no Café Ronda em Bissau causando 1 Morto e 62 feridos."

2. Na seguinte pagina do nosso blog

27 de fevereiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/02/guine-6374-p11164-um-amanuense-em.html

o meu camarada Abílio Magro, que comigo esteve em Santa Luzia, no QG, diz nas suas recordações: 

(...) Bomba no Café Ronda

O Cafe Ronda situava-se na Av da República, um pouco mais abaixo do cinema UDIB e do lado contrário ao deste. Segundo me recordo, possuía uma espécie de esplanada coberta e ali se juntavam muitos militares (uns fardados, outros trajando à civil) que lá bebiam o seu cafézinho ou "bejeca", entre outras coisas. Tinha também um pequeno balcão que dava para uma rua transversal e onde também se podia beber o "cimbalino" ou a "bejeca", de pé e do lado de fora, com um atendimento muito mais célere.

Numa determinada noite do ano de 1973, eu e mais dois ou três camaradas meus, tomamos o nosso cafézinho no balcão referido e seguimos de imediato para o cinema UDIB para assistir à exibição de um qualquer filme que por lá andava.

Poucos minutos depois do início da exibição do filme, dá-se um tremendo rebentamento lá fora e, quase de seguida se ouvem diversas viaturas com buzinadelas e sirenes, indiciando haver constante transporte de feridos. É interrompida a exibição do filme e surge uma voz aos altifalantes do cinema, solicitando a todos os médicos que,  eventualmente,  por ali se encontrassem, o favor de se dirigirem de imediato ao Hospital Militar.

Estão mesmo a ver onde este vosso camarada se dirigiu para ver o resto do filme, né? Pois, acertaram! Direitinho às Instalações Militares de Santa Luzia, onde se encontrava implantado o seu maravilhoso "T2"!

Tinham colocado uma bomba no Café Ronda, que explodiu quando este se encontrava repleto de clientes, tendo causado alguns mortos e muitos feridos. Nesse atentado ficou gravemento ferido um "piriquito" com 2 ou 3 dias de Guiné e que eu tinha conhecido no dia anterior, pois tratava-se do "pira" que ia substituir na CSJD o meu camarada Fur Mil Costa que terminara a sua comissão e tinha já viajado para a Metrópole. Aquele "piriquito" acabou por ser evacuado para Lisboa e soubemos mais tarde que aí falecera. Recordo-me do nome - Romão. (...)

3 . O meu colega jornalista Nelson Herbert refere no nosso blog

26 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9401: Memória dos lugares (171): A minha Bissau, nas vésperas do 25 de Abril de 1974 (Nelson Herbert)

 https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9401-memoria-dos-lugares.html

(...) Tive vários colegas portugueses, grandes amigos de infância que gostaria um dia poder rever (...)  

Entre esses amigos, recordo-me perfeitamente do Zé (ligeiramente mais velho, 1 a 2 anos pelo menos), do Becas, seu mano mais novo, da minha idade... colega das pescarias no lodoçal das bolanhas, junto ao quartel da Marinha! O pai era militar... habitavam uma residência, mesmo em frente à messe dos sargentos da Força Aérea, por sinal meus vizinhos. Hoje calculo que o pai fizesse parte da "psico", contavam ingenuamente os filhos, ante a inocência geral...
 
(...) Era precisamente, no muro frontal dessa residência, que o pessoal da Forca Aérea aguardava pelo autocarro azul que os levava às sessões nocturnas de cinema na base aérea de Bissalanca... E mais seria esse mesmo muro frontal da residência em questão, a escassos 100 metros da minha casa, o alvo de um dos atentados a bomba relógio registado durante a guerra em Bissau... (entre 73 a 74, por aí) (...).

Armadilhado pelas células clandestinas do PAIGC, numa bela noite, o muro foi-se pelos ares… Isto, minutos depois do autocarro azul ter partido do local para a viagem do costume! Nesse dia felizmente bem mais cedo que o habitual! 

Não houve vítimas, nem entre o pessoal da Forca Aérea nem entre a "meninada" que nas redondezas costumava brincar ao cair da noite!!! (...)
 
4. No nosso blog também se pode  ler

18 de janeiro de 2018 >  Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I) 

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9368-situacao-militar-no-to.html

(...) A partir de Janeiro de de 1974, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizava pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo Nordeste do Teatro de Operações onde desenvolvia a Operação “Abel Djassi” (pseudónimo de Amílcar Cabral) e a outra a sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta Zona, o Comando Sul (...)

(...) Nas restantes áreas do Teatro de Operações da Guiné aumentava igualmente de modo significativo a atividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e ações de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital (Bissau). 

Como exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos Aquartelamentos ou Povoações, num único dia (20 de Janeiro de 1974, data do aniversário da morte de Amílcar Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26 de Fevereiro de 74) que provocou um morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (em 22 de Fevereiro de 74), onde parte do edifício principal foi destruído. (...)

5. Nma reportagem na RTP intitulada Canquelifá, a última operação dos Comandos - YouTube  já no final aparece esta imagem que refere a data 27Fev74 !!!!

Vd. fotograma do vídeo reproduzido acima e cujo teor é reproduzido


6 Na minha recordação, a Bomba no Café Ronda aconteceu em 1973, pouco tempo antes de eu ir de férias a S. Vicente, em Cabo Verde, a partir de 1 de Outubro…. portanto em Setembro daquele ano… 

Lembro-me que a noticia não foi escondida, e várias pessoas em S. Vicente-Cabo Verde, me perguntaram sobre isso. No dia desse acontecimento, eu, estava de serviço de Guarda na porta principal das instalações de Santa Luzia; no dia seguinte estava de folga, fui a Bissau, vi que cobertura de zinco do Café Ronda, estava todo entortado e voltado para cima, o que demonstrava a força do sopro da explosão! O Café estava fechado. Ouvi na messe, as «estórias» do que aconteceu… disseram que houve pessoas, que foram projectadas, sentadas na cadeira, para o outro lado da rua! Não sei se é verdade, porque como disse não presenciei!

Caro Luis, face a tantas datas e desencontros, estou na dúvida quanto à minha recordação! Poderei estar errado! Eis porque entro em contacto contigo e com os camaradas, talvez consiga mais algum depoimento/informação sobre esse acontecimento…. 

 Chamo atenção, como jornalista, para o facto de o relatório «sobre a situação militar no TO da Guiné no ano de 1974» ter a data de 1975, logo ter sido elaborado pelo menos 3 anos depois.... A mensagem confidencial  que envio, leva a varias interrogações, sobre a hora e a data do acontecimento… Será que houve duas, ou mais, explosões no Café Ronda?!

Espero que este assunto possa despertar algum interesse e eu possa receber alguma luz.

Apresento melhores cumprimentos e desejos de muita saúde

Forte abraço

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

II. Resposta do editor LG:

Meu caro Carlos Filipe: obrigado pelo desafio que nos colocas... Tens toda a razão, vai por aqui um grande trapalhada de datas... E tu próprio estás equivocado. 

A análise da mensagem (confidencial) que o Com-Chefe do CTIG manda para Lisboa, não deixa qualquer dúvida: o engenho eplosivo (uma ou duas granadas de mão defensivas, de origem russa,com espoleta ao retardor) lançada no Café Ronda foi no dia 26 de fevereiro de 1974, portanto ao tempo do gen Betencourt Rodrigues e não do Spínola.

Tanto o José Martins como o Abílio Magro apontam o ano de 1973. A informação está errada.  O atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital...  Mas parece que nesta altura as BR - Brigadas Revolucionárias, da Isabel do Carmo e do Carlos Antunes, também deram um arzinho da sua graça, colocando um engenho explosivo no QG, em Santa Luzia (quatro dias antes...). O seu a seu dono.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22142: Fotos à procura de... uma legenda (149): Mas eu conheço esta mesa em U, do antigo Palácio do Governador, na cidade da Praia, Cabo Verde!... A foto (do poste P19232) nunca poderia ter sido tirada em Conacri! (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo)



Foto nº 1 > República da Guiné > Conacri > c. 1963-1973 > Reunião de responsáveis do PAIGC [Comité Executivo da Luta]. Da esquerda para a direita: (i) Lourenço Gomes, (ii) Honório Chantre, (iii) Victor Saúde Maria, (iv) Abílio Duarte, (v) Pedro Pires, (vi) Luís Cabral e (vii) Aristides Pereira.

Foto (e legenda): Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Pasta: 05247.000.074 (adapt por Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2018, com a devida vénia...)


Comentário de Carlos Filipe Gonçalves: "Sala de reuniões do Palácio da Presidência da Republica, antigo Palácio do Governador na cidade da Praia, nos anos de 1970/80. (...) Naquela mesa assentei-me imensas vezes… Eu era na época o repórter de serviço, estava sempre na Presidência… Bem, não acredito que houvesse em Conacri uma mesa idêntica… mas tudo é possível, posso estar errado. Mas, na minha opinião, a foto é de uma reunião na Praia, quando da visita de Luis Cabral em 1976".


Foto nº 2 > Cabo Verde > Praia > Palácio da Presidência da Republica > 1976 > "Conferência de imprensa, na mesma sala.  quando da única visita de Luís Cabral a Praia, se não estou em erro em 1976, teve encontro com a imprensa o Secretário Geral do PAIGC, Aristides Pereira, para dar conta do que se passou na tal reunião do CEL – Comité Executivo da Luta(...) Estou de frente, à direita, vê-se na parede ao fundo os tais quadros que aparecem na foto publicada no blogue, a Foto nº 1".


Foto nº 3 > Foto nº 2 > Cabo Verde > Praia > Palácio da Presidência da Republica > 1976 > "Conferência de imprensa: sentado na mesa o Aristides Pereira, Secretário Geral do PAIGC.  Estou à esquerda de costas."

Fotos (e legendas): © Carlos Filioe Gonçalves (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74 [, foto à esquerda], natural de Cabo Verde (n. São Vicente, Mindelo, 1950), radialista, jornalista, músico, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde, membro da Tabanca Grande, nº 790

Data - domingo, 25/04, 19:30 (há 21 horas)
Assunto . Foto do poste P19232 (*)



Olá,  Luis:

Antes de mais muita saúde! Vejo que o Blog continua activo sempre com publicações novas. Olha, tenho estado estes dias à procura de fotos, para ilustrar o meu tal livro, de modo que, todas as buscas me enviam sempre para teu nosso Blog, e de cada vez faço novas descobertas e sou surpreendido por novas revelações. E justamente acabo de ver uma foto constante do poste P19232, de 25 de novembro de 2018 (*)

Porquê a minha surpresa? A mesa que está na foto!!!  [Foto nº 1, acima]. Conheço-a e muito bem, é uma mesa em «U» que estava na sala de reuniões do Palácio da Presidência da Republica, antigo Palácio do Governador na cidade da Praia, nos anos de 1970/80. Conheço, porque estava numa sala onde eram dadas as conferências de imprensa de personalidades, logo em 1975/76…

E naquela mesa assentei-me imensas vezes… Eu era na época o repórter de serviço, estava sempre na Presidência… Bem, não acredito que houvesse em Conacri uma mesa idêntica… mas tudo é possível, posso estar errado. Mas, na minha opinião, a foto é de uma reunião na Praia, quando da visita de Luis Cabr al em 1976…. 

 Aqui vão duas fotos de uma conferência de imprensa, na mesma sala quando da única visita de Luís Cabral a Praia, se não estou em erro em 1976, teve encontro com a imprensa o Secretário Geral dp G do PAIGC, Aristides Pereira, para dar conta do que se passou na tal reunião do CEL – Comité Executivo da Luta. 

Na foto nº 2 [acima]  estou de frente, vê-se na parede ao fundo os tais quadros que aparecem na foto publicada no teu blog [Foto nº 1]. Presentes jornalistas nacionais de Cabo Verde, eu, da Guiné o Tony Tcheka, ele veio com Luis Cabral, e jornalistas estrangeiros. Na foto nº 3 [acima) estou à esquerda de costas.

Logo acho que não está certa a indicação da Foto nº 1 [acima]:  "República da Guiné > Conacri > c. 1963-1973".

Espero ter contribuído para a «exactidão» da informação. (**)

Um Forte Abraço e Muita Saúde

Carlos Filipe Gonçalves [, foto atual à direita]
Jornalista Aposentado


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Carlos Gonçalves, deves ter toda a razão. A legenda da foto é da responsabilidade da Fundação Mário Soares que, como sabes, salvou e tratou, e com grande profissionalismo, o valioso arquivo Amílcar Cabral... Em milhares de documentos (e nomeadamente fotos) é perfeitamente natural que surjam erros destes. Já temos detetado outros. Obrigado pela tua oportuna e preciosa intervenção. Ficamos à espera desse novo livro que tens em mãos. Vai dando notícias.

(**) Último poste da série > 23 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22126: Fotos à procura de... uma legenda (141): acidente com a jangada do Cheche, no passado dia 21... (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21045: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (73): Pesquisa documental para um filme sobre a Cesária Évora (Mindelo, 1941 - Mindelo, 2011)


Cabo Verde > Mindelo > Cesária Évora, na Rádio Barlavento,  20 de junho de 1971.
Foto: cortesia da página oficial de Cesária Évora


1. Mensagem da nossa leitora Rosa Silva:

Date: quinta, 14/05/2020 à(s) 17:58
Subject: Pesquisa documentário Cesária Évora

Olá, boa tarde a todos.

Em primeiro lugar espero que se encontrem bem de saúde.

Chamo-me Rosa Silva e estou a trabalhar na produção de um documentário sobre Cesária Évora. Trata-se de um filme,  de cariz cinematográfico, que propõe uma viagem ao universo de Cesária Évora.

Pensado para cinema, o filme pretende revelar a verdadeira história da mulher que, aos 50 anos, saltou da mais profunda miséria para o estrelato mundial, sendo uma das mais consagradas cantoras de um país de língua oficial portuguesa. 

Assim, temos levado a cabo uma vasta pesquisa de material de arquivo em diversos países. O filme conta com autoria e realização de Ana Sofia Fonseca, sendo produzido pela Carrossel Produções, em co-produção com a Até Ao Fim Do Mundo.

Encontrei este blog:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/09/guine-6374-p5021-meu-pai-meu-velho-meu.html

Estamos à procura de imagens do Mindelo anos 60/70 e também fotografias e vídeos que possam existir da Cesária Évora. Temos a informação que ela dava concertos nos barcos, bares. Por ventura têm imagens do que refiro ou têm conhecimento quem possa ter?

Ficaríamos muito gratas com a vossa preciosa ajuda.

Aguardo o vosso feedback. Obrigada,

Rosa Silva

rosasilva@ateaofimdomundo.com

Até ao Fim do Mundo - Imagens e Comunicação, Lda

Rua da Fraternidade Operária, nº4
2794-024 Carnaxide - Portugal
Tel: +351 21 425 47 77
Telm: +351 966 230 699
www.ateaofimdomundo.com

2. Resposta do nosso editor Luís Graça, em 24 de maio p.p.:

Rosa, olá. Obrigado pelo seu mail. Infelizmente, não sei se a poderei ajudar muito...Este blogue, coletivo, que eu fundei há 16 anos, administro e coedito, é sobre a(s) memória(s) da guerra colonial, em especial na Guiné, no período de 1961/74...

Alguns dos meus camaradas de armas (incluindo eu próprio) também tiveram os pais em Cabo Verde, como expedicionários na altura da II Guerra Mundial, em São Vicente, Santo Antão e Sal, mais exatamente entre 1941 e 1944... Na altura também lá esteve o futuro escritor Manuel Ferreira. Mas a nossa querida Cesária Évora estava então  a nascer (Mindelo, 27 de agosto de 1941)...

Há, no entanto, um espólio fotográfico, no nosso blogue, que a vossa equipa pode usar, com uma única condição: citação da fonte, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Ver aqui descritores como:

Cabo Verde (335)
crioulo (72) 
Manuel Ferreira (12)
Meu pai meu velho... (85 referências)
Mindelo (39)
morna (14)
RI 23 (3)

E ainda:

Adriano Lima (15) (coronel, reformado, do exército português, oriundo do Mindelo...Acaba de publicar um livro sobre as tropas expedicionárias em Cabo Verde, na II Guerra Mundial)...

Disponha. Tem aqui o meu contacto: telem 931 415 277.

Boa saúde, bom trabalho, bom filme. Luís Graça

PS - Rosa, podemos publicar o seu apelo : temos vários camaradas que passaram por Cabo Verde durante a guerra colonial, 1961/74... Se autorizar, podemos publicar no blogue... Diga-me qualquer coisa...

3. Resposta da Rosa Silva, com data de 26 de maio p.p.:

Caro Luís,

Muito obrigada pela sua resposta e parabéns pelo seu trabalho. Guardar memórias, organizar o arquivo, é algo que considero muito valioso e dá sentido ao material recolhido

Quanto ao documentário sobre Cesária vamos continuar a pesquisar.

De qualquer modo, obrigado pelas suas  sugestões. Seria muito importante publicar no seu blogue e ficaria muito grata. Se quiser pode dar os meus contactos:

Mail rosasilva@ateaofimdomundo.com
Telem: 966230699


PS - Indicaram-me estes nomes de militares, mas mais do início dos anos 60,  que estiveram em S. Vicente. Dizem-lhe alguma coisa? Alguma sugestão para eu pesquisar e chegar até estas pessoas?

Coronel de Infantaria Fernando Gil Almeida Lobato de Faria
Coronel de Infantaria Domingos José Cravo
Coronel de Artilharia Humberto Rosa Neto
Tenente de Infantaria Joaquim Simões Duarte
Coronel António José Santiago Maia de Simas
Tenente Santiago Maia
Tenente Coronel, ao tempo, alferes, Manuel Augusto Gamboa de Matos, subalterno da Companhia de S. Vicente
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domingo, 16 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20658: Agenda cultural (741): "Bá D'al na Rádio: memórias da Rádio Barlavento", livro do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, nº 790, mindelense, jornalista e radialista, a viver na Praia, Santiago, Cabo Verde



Cartaz do evento. Cortesia de Carlos Filipe Gonçalves




1. Mensagem, de ontem,  do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/FTIG,  Santa Luzia, Bissau, 1973/74, radialista, jornalista, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde, membro da Tabanca Grande, nº 790 
(*):

Luís:

Desculpa, esta falha, pois tenho estado muito activo… foi o lançamento do livro sobre a Rádio Barlavento, em 31 de janeior, agora estou a braços com o próximo livro para abril ou maio, "Capitulos da Morna", este devia sair em dezembro por altura da consagração, mas atrasou-se… E claro, o livro sobre a Guiné está parado… mas brevemente te darei noticias deste outro trabalho…

Aqui vão o dados, que me pediste, sobre o livro que lancei recentemente na cidade da Praia. Se precisares de mais algum dado pede, se tiveres perguntas estou ao dispor. Segue também o cartaz, uma sinopse do livro e uma pequena nota biográfica sobre mim, bem como algumas opiniões sobre a obra.

Um forte abraço

Carlos Gonçalves

Jornalista aposentado

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Título: Bá D’al na Rádio – Memórias da Rádio Barlavento

Autor: Carlos Filipe Gonçalves

Editora : Livraria Pedro Cardoso – Bairro da Fazenda, Cidade da Praia, Cabo Verde.


O titulo é em crioulo, significa literalmente: Vai dar isso na rádio. Ou seja, vai difundir isso na rádio.

Trata-se uma frase jocos que surgiu depois da invasão / ssalto da Rádio Barlavento, na Ilha de S. Vicente, em Dezembro de 1974, em pleno período «revolucionário» após o 25 de Abril. É que o assalto ou «tomada da rádio», foi justificada, por uma «soit disant» democratização/pluralismo de acesso, o que na verdade não se verifica, porque todos os elementos contrários à «Unidade entre a Guiné e Cabo-Verde» foram presos poucos dias depois...


Teve início então uma avalanche de «comunicados revolucionários» depois das reuniões do comités do PAIGC, que eram enviados à rádio! Surgiu então esta frase jocosa, a criticar esta situação… Começou deste modo o «regime de Partido Único»…


Resumo: Carlos Filipe Gonçalves, que começou a trabalhar na Rádio Barlavento aos 16 anos, conta as recordações dele, de colegas e amigos que lá trabalharam, descreve o contexto social da época e traça o percurso histórico que culmina no assalto e encerramento daquela rádio e do Grémio Recreativo Mindelo em 1974: um acerto de contas numa luta de classes latente desde inícios do século XX que terminou com a nacionalização dos órgãos de comunicação social e um monopólio/situação dominante do Estado que vigora até ao presente.


2. Sobre o autor:

Carlos Filipe Fernandes da Silva Gonçalves, jornalista, músico:

(i) nasceu em Mindelo, S. Vicente em 12 de Outubro de 1950;

(ii) começa aos 16 anos a trabalhar na Rádio Barlavento, como discotecário, na realidade esteve a seu cargo por cerca de quatro anos a programação musical daquela estação emissora;

(iii) em 1971 deixa S. Vicente para cumprir o serviço militar em Portugal; foi mobilizado em 1973 para a Guiné, colocado em Bissau;

(iv) depois do 25 de Abril de 1974 toma contacto com amigos cabo-verdianos do PAIGC recém-chegados a Bissau, disponibiliza-se para dar o seu «contributo» como se dizia na época;

(v) trabalha como chefe da programação na Radio Libertação (entretanto deslocada para Bissau) transformada pouco depois em Radiodifusão Nacional da Guiné Bissau;

(vi) depois da Independência regressa a Cabo Verde, onde trabalha como chefe da programação na Radio Voz di Povo na Praia, também transformada logo depois em Emissora Oficial de Cabo Verde.;

(vii) a partir de 1980 estudou em Paris, no Instituto Nacional do Audiovisual;

(viii)  chefe de programação (1984/86) e director da Radio Nacional de Cabo Verde (1986/91); concebeu e criou a Rádio Comercial, que começou a emitir em 1999 e da qual foi director até 2013.

3. Sobre a obra (**):

Memórias muito interessantes e inclusivas pois que se estendem a nós, outros que também, vivenciámos esse tempo... Bem documentada a história de uma instituição (R+adio Barlavento) muito importante na vida destas ilhas de partidas de emigrantes, de separação inter-ilhas, da condição de ilhéu, em suma o que foi a Rádio. 

Tem um excelente capítulo sobre o nascimento e as condições vividas pela Radio Barlavento. Sobre o Grémio, fundamentos da instituição e o ambiente social à época, está muito interessante e bem conseguido. E ainda, excelentes contribuições, para a história da música da grande cidade musical que foi Mindelo! O autor tem um estilo coloquial, de leitura aprazível e que prende o leitor.

Ondina Ferreira

Leitura simplesmente deliciosa. As ideias estão muito claras e bem enquadradas.

Luís Guimarães Santos

Globalmente Carlos Gonçalves,  é a tua história, tua vivência da Rádio, sobretudo Rádio Barlavento, pelo que, o que posso dizer é que está bem contada e fiquei a conhecer sobretudo o teu percurso.

João Matos

Muitas memórias e escrita fluída.

Manuel Brito Semedo

(…) Pertinente o trabalho de investigação que estás a fazer para o livro sobre a Rádio Barlavento! (…) É bom reviver os bons momentos que vêm desse tempo, em que sobressaía a autêntica amizade!

Jorge Guimarães Santos

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20416: O que é feito de ti, camarada (8): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde... Está a escrever dois livros, um sobre a história da morna; outro sobre as suas memórias dos anos de 1973/75... E precisa de duas fotos: uma do QG em Santa Luzia, e outra da messe de sargentos no QG...

sábado, 14 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20450: (De)Caras (145): Maria Barba (1900-1975), a primeira embaixadora da morna, muito antes de Bana e de Cesária (Manuel Amante da Rosa / Onda Kryolu / Otília Leitão)


Nha Maria Barba, com um dos netos ao colo, em Bissau, c. anos 50, na sua casa em Bissau, na Rua Eng Sá Carneiro (hoje, Rua Eduardo Mondlane)... Nos anos 60/70, em frente da casa ficava a messe de sargentos da FAP.

Foto (e legenda): © Nelson Herbert (2019). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Manuel Amante da Rosa,  embaixador da República de Cabo Verde, que terminou há um ano a sua missão em Itália (e Malta),  mandou-nos a seguinte mensagem em resposta a um email dirigido a Carlos Felipe Gonçalves (*), com conhecimento a vários amigos e camaradas, nomeadamente de Cabo Verde que pertencem também, doravante , à Tabanca da Diáspora Lusófona, cujo régulo, designado, assumido e empossado, é o nosso querido amigo e camarada luso-americano João Crisóstomo.


Date: quinta, 12/12/2019 à(s) 14:32
Subject: A morna imortal "Maria Barba"

Luís:

Muito feliz por vos ver juntos. O meu Amigo Kalú, meu antigo Camarada na Chefia dos Serviços de Intendência no QG [, em Bissau,], é uma figura ímpar na Rádio de Cabo Verde. 

[Em resposta ao teu pedido,] retirei este trecho sobre a Maria Barba num posto do Facebook [Onda kryolu,  12/12/2019]


2. Muito antes do Bana e da Cesária, Maria  Barba foi a primeira embaixadora da morna  

por Onda Kryolu

Foi ela que, pela primeira vez, terá cantado a morna fora das ilhas, em 1934, no Palácio de Cristal da cidade do Porto, representando Cabo Verde com um grupo de músicos e cantadeiras na Primeira Exposição Colonial Portuguesa. (**)

Seis anos mais tarde, em 1940, terá cantado e encantado na Exposição do Mundo Português em Lisboa, tendo o sucesso sido tal que foi parabenizada  pelo próprio Presidente de Portugal, Marechal Carmona.


Seu nome? Maria da Purificação Pinheiro. Ou simplesmente Maria Barba [ foto de 1934 em Portugal, (à direita)].

Maria Barba fica na história como co-autora da letra de uma das mais simples e das mais belas mornas jamais ouvidas, uma morna que leva o seu nome e até hoje cantada por muitas  das mais nobres vozes do arquipélago.

Mas quem é essa mulher que não se conhecia o rosto mas cujo nome merece figurar no Livro de Ouro da história da morna?

Neste dia em que comemoramos a elevação da morna à categoria de Património Imaterial do Mundo vale a pena recordar sua vida, prestando homenagem a essa "pioneira" da internacionalização da morna e que foi, também, uma das maiores "cantadeiras de frente de todos os tempos" e uma das maiores intérpretes do seu tempo daquela que tornaria a "musica rainha de nos terra " e hoje uma das relíquias da humanidade.

Maria Barba nasceu, provavelmente, em 1900, na Povoação Velha, Boavista, ali mesmo no berço da morna... Criancinha começou a cantar, rezando a  a história que ela tinha que ser colocada de pé sobre uma cadeira. Cresceu, e sua fama de grande cantadeira também cresceu por toda a ilha e não só, sendo   sua presença requisitada em tudo quanto era festa e  cerimónia  oficial das entidades coloniais da ilha da Boavista dos anos 30.

Foi justamente numa festa oficial de despedida, na Povoação Velha, que o Tenente Serra, na hora da partida,  a terá pedido para cantar mais uma morna a que  Maria Barba simplesmente improvisou : "Senhor Tenente um ca podê canta más ".

Vida sofrida

Maria Barba casou cedo, com um rapaz de Santa Catarina, ilha de Santiago, que nunca foi aceite pela sua família. O casamento não deu certo e o marido voltou para a ilha de Santiago, ficando ela  com duas  filhas para criar (Clarise e Aldonsa ).

É talvez para estar junto das filhas e da mãe que era "fraca"  (o pai  era morto e não "malondre",  como Bana foi o primeiro a cantar)  talvez seja para estar junto da família que Maria Barba recusou  o convite de empresários musicais para ficar em Portugal, preferindo voltar, em 1940, para a sua Boavista natal onde  aliás só encontrou fome e desolação (era  mais uma das terríveis estiagens).  

No mesmo ano (1940)  pegou nas suas filhas e  embarcou  para  Bissau a bordo do navio Manito Bento (o mesmo que levava contratados para S.Tomé ).  Em Bissau Maria Barba "luta ku vida " durante 34 anos, sempre a cantar a morna e outras melodias da sua ilha,   sempre  divulgando a música da sua terra natal em serenatas e cerimónias oficiais, quase sempre acompanhado por Zezinho Caxote, um outro cabo-verdiano radicado em Bissau. Foi em Bissau que morreu aos 70 anos no dia 02 de Julho de 1975 ( nas vésperas da independência de Cabo Verde).


3. A filha de Maria Barba,  Clarisse Pinheiro, a viver em Portugal (, fazemos votos para que ainda seja viva!), é citada por Otília Leitão num "Postal de Lisboa", publicado no jornal "A Semana", de 20 de março de 2008, cujo URL já não está disponível na Net. Aqui vão alguns excertos que publicamos em 2014 (***)

A Semana > Opinião > Otília Leitão > Postal de Lisboa, 20 Março 2008:

(...) Clarisse [Pinheiro, a viver em Portugal] fala com emoção de sua “mãe Bárbara” ou da “Maria Barba”, a autora da morna com o seu nome, que a voz do grande Bana imortalizou. É uma das mais belas e mágicas músicas que eu, como muitas outras pessoas que conheço, interiorizei como uma grande paixão do oficial de cavalaria e engenheiro civil, Serra, obrigado a partir para Lisboa. Afinal, era uma desgarrada de despedida e saudade porque o amor era pela Victória, sua amiga, de quem o Tenente que habitava numa rocha, teve duas filhas que vivem actualmente na América. (...)

Os protagonistas que deram alma a esta morna cantada também por outras vozes da modernidade, já morreram. Ele em Lisboa. Ela, no dizer de Clarisse, uma “moça bonita” da Boa Vista que tinha a particularidade de ser “tão expressiva na alegria como na tristeza”, morreu, na Guiné-Bissau, ao fim de 34 anos, em 1974, no raiar da Independência. (...)

(...) Desde criança, Maria Bárbara cantava tão bem que era habitual vê-la em cima de uma cadeira, de vestido domingueiro, animando festas e convívios, conta Clarisse. “Eu era ainda bébé, nem tinha dentes, quando a minha mãe veio cantar ao Palácio de Cristal no Porto [, em 1934], e foi recebida e cumprimentada por Craveiro Lopes”,  diz a filha,  reportando-se a 1940 quando Maria Barba, em representação da colónia de Cabo Verde, participou na grande Exposição do Mundo Português. 

Pese embora a insistência de alguns empresários para que a sua mãe ficasse em Portugal, ela escolheu regressar à Boa Vista. Pouco depois parte para a Guiné.

Por causa da letra de “Maria Barba” - a morna mais antiga que faz uma referência a Lisboa e a primeira que foi gravada na sua versão integral e a duas vozes (Luís de Matos e Maria Alice) no CD “Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos” - não resisti a uma provocação: “Oh Clarisse! Quantas paixões silenciosas, por diversos motivos, não existiram?!”. Mas Clarisse foi convicta: “Não! Ele [, o tenente Serra,]  era casado com a Victória! Essa era a sua paixão!” e sorriu. 

É seguramente uma Morna de despedida e saudade de alguém muito estimado, mas que tem uma postura típica do período colonial em que Lisboa, a cidade que Hans Christian Andersen já em 1866 considerava “luminosa e bela”. Era o "Eldorado", de onde se esperava que viesse a salvação de todos os males do arquipélago.

Clarisse Pinheiro desmistifica a minha ilusão doce e diz-me que Maria Barba quer satisfazer o pedido do Tenente Serra em cantar mais nessa festa de despedida. Contudo tem uma tarefa a cumprir: ”Tinha que ir fazer uma matança de gafanhotos”, uma praga que afectava as culturas e que obrigava a que cada família cedesse uma pessoa para o fazer. Como o pai já tinha falecido e a mãe era “fraca”,  ela era a representante da família.

Testemunhos de vários artistas boavistenses, como António “Sancha” Neves e Noel Fortes, referem a existência de várias versões desta Morna do final do século passado, da qual a Maria Barba aproveitou a melodia para improvisar. A versão do grupo Djalunca da Boa Vista parece ser a mais fiel à letra original (...).

Clarisse Pinheiro que ouviu muitas vezes sua mãe cantar, disse que Bana se encontrou com Maria Barba na Guiné, onde ouviu pela primeira vez na rádio a sua morna. “Não há registo, não há direitos de autor, nunca foi reposta essa verdade”, observa a filha mais nova de Maria Barba que apenas conheceu Bana em Portugal, num espectáculo na FIL, movida por esse "animus" que lhe fora transmitido pela mãe. No entanto, explicou, "foi um cumprimento fugaz e banal, esfumando-se a expectativa de qualquer eventual reconhecimento", disse.

Clarisse nasceu em Santa Catarina, Santiago, em 1932, de um parto solitário,  executado pela sua própria “mãe Barba” e testemunhado pela sua irmã Aldônça, então com dois anos. Divergências entre o casal, ligadas ao facto da sua mãe, ainda menor, ter sido raptada pelo marido, e de um casamento mal visto pela família, fizeram Maria Bárbara regressar à Boa Vista, dias depois, de barco. Ainda em 1940, e porque a crise da segunda guerra mundial se fazia sentir no aumento do custo de vida, as três, aconselhadas por um tio escrivão, rumaram à Guiné num barco de Manito Bento que, antes de chegar ao destino, se perdeu pela Gâmbia. (..)
Tinha 16 anos quando sua irmã, que vivia em Bafatá, casou com um bisneto do governador Honório Barreto, e viveu na Guiné-Bissau até 1980. Geria uma farmácia do seu companheiro que conheceu na pele as perseguições da PIDE (polícia política do regime colonial). Actualmente, Fernando Lima, com 80 anos, é apenas seu amigo. Ali conheceu Amilcar Cabral, entre outras destacadas personalidades que recorriam aos seus serviços. 

“O pai de Aristides Pereira (primeiro presidente de Cabo Verde independente) era padre e baptizou os meus filhos”, recorda. Clarisse não conhece Cabo Verde. Apenas aqui voltou em 1957, aos 25 anos para descobrir no Tarrafal, seu pai, que entretanto já tinha onze filhos... Nunca mais voltou e as suas referências reportam-se essencialmente à Guiné-Bissau. 

Não resistindo à continuada degradação da sua vida, num período pós-revolucionário, fixou-se em Portugal onde estão também dois filhos e quatro netos, sem que alguma vez se tenha desligado desta triologia feminina: a mãe e as duas irmãs. (..,)

[Excertos reproduzidos com a devida vénia]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20328: Meu pai, meu velho, meu camarada (59): "Maria Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más... Uma morna imortal, numa homenagem à Morna, em vias de ser oficialmente consagrada como "património cultural imaterial da humanidade"

Vd. também 5 de dezembro de 019 > Guiné 61/74 - P20416: O que é feito de ti, camarada (8): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde... Está a escrever dois livros, um sobre a história da morna; outro sobre as suas memórias dos anos de 1973/75... E precisa de duas fotos: uma do QG em Santa Luzia, e outra da messe de sargentos no QG...

(**) Vd. último poste da série "De)Caras"  > 14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20343: (De)Caras )115): "Nha Maria Barba" ou Maria da Purificação Pinheiro (Boavista, 1900 - Bissau, 1975): expoente máximo da morna e da morabeza da Boavista, esteve no Porto, no Palácio de Cristal, em 1934, na 1ª Exposição Colonial Portuguesa: notas de leitura de um trabalho de pesquisa biográfica, feita por Antonio Germano Lima, da Universidade de Cabo Verde

Vd. também:

12 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20443: E as nossas palmas vão para... (20): A morna, património imaterial da humanidade

11 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20332: Historiografia da Presença Portuguesa em África (184): O modelo (Maria Barba) e o fotógrafo (José Bacelar Bebiano)... A propósito de uma morna "imortal"...Resta saber quem era o "senhor tenente Serra"...evocado na letra "Mária Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más...

(***) Vd. poste de 9 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)