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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27446: Memórias dos últimos soldados do império (9) : os "últimos moicanos" - Parte VI: A Retirada Final, em 14 e 15 de outubro de 1974 (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)



Guiné > Bissau >  c. out 1974 > Lancha de Fiscalização Grande (LFG) Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.



Guiné > Bissau >  c. out 1974 >  4 Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, npoucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro de 1974. É visível o N/M Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.




Guiné > Bissau >  Setembro de 1974 > Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( LDM ) ao fundo do lado direito.. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné-Bissau.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.



Guiné-Bissau > 14 de outubro de 1974 > A LFG Lira, depois de abandonar o Rio Geba na Guiné, a escoltar os T/T Uíge e Niassa até águas internacionais. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.

 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
 
 




 Luís Gonçalves Vaz e  Manuel Beleza Ferraz



A Retirada Final: Os  Últimos Militares Portugueses a Abandonar a Guiné (14 e 15 de Outubro de 1974)  
 
por Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz (*)



Os últimos aquartelamentos a serem entregues ao PAIGC foram:

  • o Complexo Militar de Santa Luzia, onde se encontrava o QG/CTIG (Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné);
  •  e o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné) instalado no histórico Forte da Amura,  que se localizava mesmo em frente à ponte-cais em Bissau. (#)

A entrega destes dois últimos redutos das Forças Armadas Portuguesas na Guiné foram “negociados” em 11 de outubro (apenas 3 dias antes da saída dos últimos militares portugueses deste território), numa reunião no Forte da Amura com os comandantes do PAIGC, Gazela, Bobo Keita e o comandante Correia, sob a coordenação do então CEM/CTIG (Chefe do Estado-Maior do CTIG), coronel cav CEM Henrique Gonçalves Vaz.

Os “Planos de Entrega destes Aquartelamentos” foram realizados pelo  cor Henrique G. Vaz com a colaboração do  major Mourão, e entregues ao brigadeiro graduado Carlos Fabião no dia 10 de outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. 

A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia foi efectuada no dia 13 de outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português”,  foi entregue apenas no dia 14 de outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné.





Guiné > Bissau > Forte da Amura > Entrada do lado sul (frente à ponte-cais). Era aqui que estva instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné), o último reduto militar portuguès a ser entregue ao PAIG, em  14 de outubro de 1974.


Foto: © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Como tal foi concentrado aí, na véspera da partida, o último contingente do Exército Português . No entanto a cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, já tinha decorrido em Mansoa, em 9 de setembro. Estiveram presentes nesta cerimónia:

(i) a CCS / BCAC  4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos:

(ii) o comandante do batalhão, tenente coronel Américo Costa Varino;

(iii) um bigrupo de combate do PAIGC;

(iv) um grupo de pioneiros do mesmo partido;

(v) Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho;

(vi) o comissário político do PAIGC, Manuel Ndinga;

(vii) e, em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG),  o tenente-coronel Fonseca Cabrinha (informações dadas pelo próprio militar que arriou a nossa bandeira em Mansoa, o nosso coeditor Eduardo José Magalhães Ribeiro, fur mil Op Esap / Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74 ).




Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Uma foto para a história: o ex-fur mil OE/Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro,. hoje nosso coeditor, CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, abr - out 1974), a arriar a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.





Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné, que decorreu em 9 de setembro de 1974, aquando da entrega do aquartelamento de Mansoa ao PAIGC, e troca de cumprimentos entre o Comandante do BCAÇ 4612/74, tenente coronel Américo da Costa Varino e os comandantes do PAIGC presentes na cerimónia.

Fotos do álbum do Eduardo José Magalhães Ribeiro,  fir mil OE/Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74, (Cumeré,. Mansoa e Brá, 1974)

Fotos (e legendas): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

.

O que vos vou passar a relatar será uma pequena narrativa, dos últimos momentos da nossa “retracção do dispositivo militar”, deste último reduto de militares portugueses, para os navios da Armada Portuguesa e para o navio Uíge (o navio Niassa já se encontrava ao largo de Bissau) , que se encontravam frente à ponteis, mas a alguns metros do cais, com os motores ligados (pairavam todos os navios).

Esta descrição foi-me feita pelo meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista da Armada Portuguesa, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, que fazia parte da guarnição da LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Lira, um dos navios que fez a segurança de retaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.




Guiné > Bissau >  c. out 1974 > O Manuel Beleza Ferraz. LFG  Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Uma testemunha-.chave, um dos "últimos moicanos". 




Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine >  s/d  > Evacuação de pessoal civil  (cuja origem se desconhece, náo devendo ser de Gadamael nem de Jemberé,m), passagem dos civis de uma Lancha de Desembarque, para a LFG Lira, em pleno Rio Cacine, muito abaixo da “marca lira”.


Guiné >  LFG Lira > s/l > c. out 1974 :> O marinheiro radiotelegrafista Manuel Beleza Ferraz, no  seu navio navio, à espera da missão da “Retirada Final"


Guiné > LFG Lira > c. ou 1974 _ Elementos da guarnição do NRP Lira, em convívio na sala comum/refeitório. Foram estes os marinheiros que no dia 14 de outubro de 1974, nos seus lugares de combate e outros, asseguraram a operacionalidade da NRP Lira, no que diz respeito ao apoio e segurança na evacuação do último contingente militar do território da Guiné.

Estima-se que seriam algumas centenas de militares dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas. Neste grupo estavam representadas as várias Especialidades do navio, nomeadamente, Artilheiros, Eletricistas, Telegrafistas e Manobras. Este navio, o NRP Lira, sob o comando do 1º tenente Martins Soares, teve um papel importante na missão de “Retirada Final”, já que era o navio de apoio de retaguarda que se encontrava mesmo em frente à Ponte cais de Bissau, como tal o navio mais próximo do Forte da Amura. O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz é o que está a olhar para o fotógrafo.

Fotos do álbum do marinheiro radiotelegrafista 812/70 Manuel Beleza Ferraz.

 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



No dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de “Arriar da Bandeira Portuguesa”, ao qual se seguiu o “Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau” (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de Outubro de 1974, sem cerimónia oficial) como tal nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12, em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento 
da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

Nessa cerimónia encontrar-se-iam o Governador (brigadeiro graduado Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Galvão de Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), outros oficiais, alguns sargentos e praças. Os primeiros depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios que se encontravam ao largo no estuário do Rio Geba, seguiram para o Aeroporto, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra.

Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a “segurança de rectaguarda” mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

Encontravam-se também ao largo em missão de Segurança um patrulha (NRP Cuanza) e o navio NRP Comandante Roberto Ivens, este último a comandar as operações navais desta missão de “Retirada Final”. No próprio navio Uíge estava montado discretamente um dispositivo de segurança pronto a abrir fogo, caso o PAIGC se lembrasse de abrir alguma hostilidade contra o último pessoal militar a abandonar a Guiné, com algumas metralhadoras HK-21, além de todos os militares estarem armados com as suas G-3 e as respectivas munições.

 Após o “Arriar da Bandeira Portuguesa”, as tropas portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, presentes na referida cerimónia, logo de seguida, foram transportadas em zebros e LDM (lanchas de desembarque médias) para o navio Uíge, que os aguardava no meio do Rio Geba, a cerca de 400 metros afastados do cais, onde se encontrava já com as máquinas em pleno funcionamento (pairavam) por razões de segurança.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, fonte destes testemunhos históricos, aqui relatados, informou-me ainda de que as ordens vindas do Comando Naval, com apenas 24 horas de antecedência, foram entregues em mão aos comandantes das duas LFG (Orion e Lira) e do patrulha Cuanza, presentes ao largo do cais, no caso do seu navio, o patrulha Lira, recebeu directamente o seu Comandante, 1º tenente Martins Soares.

Como tal, os comandantes destes três navios que constituíam nesse dia, a “força naval” em frente ao cais de Bissau, receberam ordens expressas “para se posicionarem em postos de combate”, com todas as peças Bofors de 40mm, devidamente municiadas e preparadas para realizarem fogo, como apoio de retaguarda à retirada das nossas tropas, de terra para os navios, nomeadamente o Uíge.

Felizmente tudo correu bem, não sendo preciso fazer fogo nenhum, já que a retirada se desenrolou como o previsto, sem altercação de qualquer natureza. 

De seguida, no final dos transbordos, os zebros e as lanchas (LDM) foram presas numa boia em frente ao cais (abandonadas), e imediatamente a flotilha portuguesa escoltou os navios Uíge e Niassa (este já navegava mais à frente) até águas internacionais, seguindo a maioria dos navios da Armada para Cabo-Verde, de onde alguns deles partiriam pouco depois, em direcção a Angola.

O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, ainda informou que a flotilha que rumou em direção a Cabo-Verde, além dos navios já referidos (NRP Comandante Roberto Ivens, LFGs Orion e Lira e patrulha Cuanza) faziam parte também as LDG Ariete, Alfange e Bombarda, tendo estes navios da Armada atracado em 20 de outubro no porto de Mindelo na ilha de S. Vicente, Cabo Verde

A comitiva constituída pelo Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (Brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (Coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos “Planos de Retirada”, elaborados pelo CTIG/CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Às 2h30m do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea). Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos “seus antigos inimigos”, e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos.

Mas antes de finalizar este artigo, gostaria aqui de referir o árduo trabalho atribuído ao último CEM/CTIG, coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz, já que foi o responsável, por “despacho escrito do Brigadeiro/Governador”, Carlos Fabião, pela elaboração dos “Planos de Retirada do nosso Exército”, da “Carta sobre a Redução de Efectivos e Comissões Liquidatárias”, dos “Planos de entrega dos Aquartelamentos da Ilha de Bissau”, do “Estudo da Comissão Liquidatária do QG/CTIG em Lisboa”, das "Cargas dos aviões", entre outras responsabilidades.


Enfim o brigadeiro Carlos Fabião determinou que este oficial do Corpo do Estado-Maior e Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG, coronel Henrique Gonçalves Vaz, se responsabilizasse por todos estes assuntos, como tal fica aqui a minha homenagem a ele, bem como a todos os oficiais, sargentos e praças, que sob o seu comando, o ajudaram a realizar essa importante tarefa, nomeadamente o senhor tenente-coronel de artilhgaria Joaquim José Esteves Virtuoso, o senhor major Mourão, o senhor capitão Lomba, e outros oficiais, sargentos e praças, que colaboraram nesta última missão militar no TO da Guiné, a “Retirada Final”, a todos eles, a minha homenagem, o meu respeito e uma grande admiração, pois ficaram neste episódio da longa história portuguesa.


20 de Fevereiro de 2012
Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro nº 530 e filho do último CEM/CTIG)

(Uma primeira versão deste texto já tinha sido pubpicada sob o poste P9535, de 26/2/2012. Nova versão, com revisão / fixação de texto, edição de imagem e negritos: LG)


2. Comentário de  Albano Mendes Matos:

Caro Amigo Luís Gonçalves Vaz,

Só agora li o seu comentário ao meu escrito sobre o último a sair da Guiné.

Vou confirmar a data do último avião a sair da Guiné. No meu registo, consta saída em 14 de outubro pela 01h00. Pelas 13h00, do dia 13 ou 14, já não havia portugueses no QG, quando um comandante do PAIGC me deu boleia para Bissau. Julgo que fui o último a sair do QG. Nas ruas de Bissau, fui a andar. Estavam, ao largo, navios, com tropas, para zarparem para Portugal, logo que o último avião, onde eu vim, levantasse do aeroporto de Bissalanca.

Eu dependia do seu falecido pai. O seu pai saiu, pela manhã, para o Palácio do Governo ou para a Base Aérea da Bissalanca. Quando cheguei ao aeroporto, pelas 23h15, já todos os militares lá estavam.
Tenho jornal que tem a notícia da chegada do avião com os últimos militares da Guiné, que vou procurar, para confirmar a data. Tem a foto do general Galvão de Figueiredo.
´
Pelos vistos, o meu registo deve estar errado.
Os meus cumprimentos.
Albano Mendes de Matos
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014 às 21:21:18 WET

3. Resposta do Luís Gonçalves Vaz:

Caro sr tenente-coronel Mendes Matos:

(...) Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta. Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico", que como tal merece toda a minha credibilidade. 

Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230Out, como o embarque do Cmdt Chefe e elementos do QG. 

"Informa também" que foi no dia 13 de outubro que o QG/CTIG (Santa Luzia)  foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade. Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora e, além de pedir desculpa a todos pela minha incorreção, quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "Às 23 horas do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné...",  quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...)

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230Out, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG (Fortaleza da Amura), é 142300OutT, não o será, pois o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDG (no cais de embarque) pelas 23h00 (142300Out), executado diretamente da fortaleza da Amura para os navio Uíge e Niassa e, como tal,  devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??). 

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000Out, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). 

Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço

Luís Gonçalves Vaz
domingo, 2 de março de 2014 às 15:14:43 WET

_________________

Notas do LGV:

(#) Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), com data de 21 de fevereiro de 2012:

Caros Editores:

Conforme o prometido, segue em anexo finalmente, o meu artigo sobre "A Retirada Final: Os Últimos Militares Portugueses a Retirar da Guiné   (Dia 14 de Outubro de 1974)".

Para este artigo, além de consultar as notas pessoais do meu falecido pai, também entrevistei um primo meu,  que era na altura Marinheiro Radiotelegrafista da Guarnição do Patrulha Lira (LFG Lira), com quem estive ainda na Guiné, mas que ficou lá até ao último dia, o dia 14 de outubro de 1974, juntamente com muitos outros militares, um deles, o meu falecido pai, o último CEM/CTIG.

Este meu primo, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, relatou-me na primeira pessoa as últimas horas da retirada para o navio Uíge, dos militares portugueses ainda presentes nesse dia em terra, para assegurarem a última cerimónia, o "Arrear da Bandeira Portuguesa", bem como me forneceu um conjunto de fotografias, que ilustram o poste (...)

Espero que não tenha "distorcido muito" estas últimas horas da nossa "Retirada Final" da Guiné, se o fiz, foi sem intenção. Por outro lado, peço desculpa não "elencar o nome" de todos aqueles militares que nesse mesmo dia, "deram o seu máximo" para não manchar o Bom Nome da Nação, numa altura difícil da nossa longa história... se um de vós lá estava, então deixe aqui "o seu depoimento", pois assim enriquecerá este relato de mais um dos "episódios históricos da descolonização portuguesa".

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz

 
PS - Como recebi mais informações do camarigo Magalhães Ribeiro, sobre este dia histórico e também do dia 9 de setembro de 1974, aquando da cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, em Mansoa, onde fiquei a saber que o meu falecido pai não esteve, pois em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG), esteve o tenente-coronel Fonseca Cabrinha, como tal fui naturalmente compelido, a corrigir e complementar este artigo, que almejo que se transforme num "agregar de vários testemunhos, daquele dia 14 de Outubro de 1974", dia histórico para os portugueses, e que representa simultaneamente o fim do Império Português nestas paragens.

(##) Um agradecimento especial:

(i) ao meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, marinheiro da guarnição de um dos últimos navios a abandonar as águas da Guiné, o Patrulha Lira;
e também

(ii) ao Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/Ranger da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974, pois sem os seus testemunhos, não poderia ter dado parte importante das informações, relatadas nesta minha pequena narrativa sobre a “retirada final da Guiné”.

Aos dois, que foram testemunhas deste momento histórico, o meu muito obrigado.

____________

Nota do editor LG:



quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27278: Memórias dos últimos soldados do império (7): os "últimos moicanos" - Parte IV: "Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação." (Albano Mendes de Matos, ex-ten SGE, GA/ e QG/CTIG,1972/74, hoje ten cor ref e escritor)




O então tenente SGE em Bissau, no QG/CTIG, c. 1972/74

Foto (e legenda): © Albano Mendes de Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Albano Mendes de Matos:

(i)  nasceu em Castelo Novo, Fundão, em 1932;

(ii)  é tenente-coronel do Exército na reforma;

(iii) há muito que, infelizmente, não temos notícias dele;

(iv) é membro da Tabanca desde 2008 (nº 652, ao lado do Silvério Dias), tendo 25 referências no nosso blogue;

(v) fez  2 comissões em Angola como sargento (em 1961/63 e em 1965/68), tendo  frequentado depois a  antiga Escola Central de Sargentos, em Águeda;

(vi) esteve no CTIG, já como tenente SGE (GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74);

(vii) na Guiné, a par das tarefas militares, organizou festivais de poesia e representações teatrais, bem como os «Cadernos de Poesias POILÃO», com autores guineenses, cabo -verdianos e portugueses da metrópole;

(Viii) já em Angola, havia publicado,  em 1973, o caderno de contos africanos «O Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;

(ix) é  também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;

(x) foi professor na Universidade Moderna;

(xi) estreou-se no romance em 2008, com a obra «A Casa Grande» (Prémio Literário Aquilino Ribeiro);


 
1. Os nossos "cronistas" do "fim do império", no nosso blogue, são:

  • o Eduardo Magalhães Ribeiro (nosso coeditor) (ex-fur mil OE, CCS / BCaç 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá; seguiu para a Guiné já depois do 25 de Abril, tendo regressado na última viagem, no T/T Uíge, em 15/10/74; de alcunha, "o pira de Mansoa);
  • o Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina (CSJD), QG/CTIG, março 1973/ setembro 1974);
  • o Albano Mendes de Matos, entáo tenente SGE, GA/ e QG/CTIG - Secçáo de Milícias e Chefe de Contabilidade, 1972/74, hoje ren.cor ref; natural do Fundão, vive em Oeiras,.

Também não  podemos esquecer o valioso contributo  do nosso amigo  Luís Gonçalves Vaz,  membro da nossa Tabanca Grande (nº 530)  e filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74) (que deixou Bissau, às 2h30 do dia 14 de outubro de 1974, tendo viajado nos TAM com o brigadeiro graduado Carlos Fabião e restantes militares 


; tinha 13 anos e estava em Bissau quando se deu o 25 de Abril; teve acesso privilegiado a documentos classificados dessa época bem como ao diário do seu pai). Já não estva lá em 14 de outubro de 1974 (o pai recambiou a família para a metrópole, na devida altura...) mas traz-nos  também , para o blogue, fotos e outras recordaões do seu primo Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz,  ex-Marinheiro Radiotelegrafista  812/70, membroda guarnição da LFG "Lira", preciosa  testemunha da Missão “Retirada Final” em 14/10/1974... Vamos ter oprotunidade de repubicar esse poste, P16461 (*). 

A NRP "Lira" foi uma das unidades que fez a segurança de retaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.

A qualquer deles, incluindo o Manuel Belexa Ferraz, se aplica a expressão " o último dos moicanos" (leia-se: soldados do império): o Abílio Mgro, rgressado a casa em fins de setembro, nos TAM; o Albano Mendes Matos, a 14, também de de avião; e o Eduardo, a 15, no T/T Uíge.

O texto que republicamos a seguir, agora nesta sérien (*), é um dos textos mais pungentes que eu já li sobre sobre a saída das NT. Escrito com rigor jornalístico, mas também grande sensibilidade, ou não fora o autor um escritor de talento



Memórias dos últimos soldados do império (6): os "últimos moicanos" - Parte III:  "Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação." 

por Albano Mendes de Matos



Foi um momento emocionante o meu último dia na Guiné-Bissau, em 13 de outubro de 1974.

O pessoal que restava do meu serviço, Contabilidade, saiu para o aeroporto de Bissalanca, logo pela manhã, como quase todos os militares que ainda lá se encontravam. Levaram rações de combate para as refeições. Creio que com receio de algum acontecimento. 

Permaneci no local do meu serviço, para entregar as instalações e materiais às tropas do PAIGC, com guias de entrega e tudo, como estava combinado.

Fiquei apenas com um jipe e um condutor, militar português, para me transportar  do Quartel-General de Santa Luzia (QG/CTIG) para Bissau e, depois, para o aeroporto.

Cerca das 11 horas, chegaram 6 negros, escoltados por uma secção das tropas do PAIGC, a pedirem os vencimentos a que tinham direito, porque tinham sido soldados portugueses. Tinham direito aos vencimentos de abril a dezembro de 1974, como fora acordado. 

Os ex-soldados portugueses tinham fugido para o Senegal após o 25 de Abril, porque tinham receio que os prendessem ou fuzilassem.

As famílias avisaram esses ex-soldados para se deslocarem a Bissau, para exigirem o pagamento. Eu tinha pedido à Emissora da Guiné para avisar todas as pessoas, militares e civis, e as empresas que tivessem a receber alguma coisa do Exército Português, que o comunicassem até, creio, ao dia 10 de outubro [de 1974].

Interessante foi o caso de uma Casa de Instrumentos Musicais pedir o pagamento de 6 clarins que tinham sido fornecidos ao Comando Militar da Guiné... em 1940.

Disse aos ex-soldados que já não havia dinheiro e o tesoureiro já se encontrava em Portugal.

Responderam-me que eu queria era ir para Portugal gozar com o dinheiro deles. Levei-os à tesouraria e mostrei-lhes os cofres abertos, sem dinheiro.

Disse-lhes que poderia promover o envio do dinheiro, quando chegasse a Portugal, para a Embaixada na Guiné. Tomei nota dos números, nomes e da Unidade a que pertenceram. Entreguei-lhes uma declaração assinada por mim e pelo comandante da secção militar do PAIGC.

Em novembro/dezembro [de 1974] enviei o dinheiro devido ao 6 militares, não tendo conhecimento se o receberam.

Chegadas as 13 horas, sem que tivesse aparecido qualquer elemento do PAIGC, nem o meu condutor, como lhe havia dito, para me conduzir a casa de um locutor da Emissora, português que ficou na Guiné, para almoçar. [Tratava-se do 1º srgt Silvério Dias, ex-locutor do PIFAS, nosso grão -tabanqueiro nº 651]. 

Com uma pequena mala, resolvi ir, a pé, para o forte da Amura, junto ao Cais do Pindjiguiti, onde tinha a minha bagagem.

Quando, na estrada, me preparava para caminhar, surgiu um jipe com um militar do PAIGC, mulato, de meia-idade, que me disse:

 −  Camarada, para onde vai?

Contei-lhe o sucedido e logo se prontificou levar-me à Amura, mas que lhe ensinasse o caminho, porque só tinha ido a Bissau, durante a guerrilha, uma vez, de noite, ao cinema na UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). 

Perguntando-lhe quem era, respondeu que era um comandante do Exército do PAIGC, que fora ver as instalações do Comando do Quartel-General, onde se iria instalar, ainda nesse dia.

Conduziu-me no jipe,  não à Amura, mas a um restaurante de um primo do meu condutor, português a quem o Governo da Guiné pediu para não sair, porque era o chefe da fábrica de descasque de arroz, situada numa ilhota, no rio Geba, em frente de Bissau  [, o ilhéu do Rei ].

 Lá encontrei o meu condutor com uma grande bebedeira, não podendo conduzir o jipe. Disse-lhe que não se embebedasse mais, porque às 11 horas da noite tinha que estar junto do jipe, em frente do restaurante do primo, para irmos para o aeroporto.

Almocei e jantei na casa do referido locutor [o Silvério Dias].  e andei pelas ruas e pelos bares de Bissau. Só encontrava guineenses que me cumprimentavam e desejavam boa viagem e muita sorte.

Dei por mim a olhar para as memórias portuguesas que ficavam por aquelas paragens: edifícios, estátuas, toponímia. E a recordar a história que me tinham ensinado, com navegadores, guerreiros, missionários e pacificadores. Imaginei os primeiros portugueses a chegar àquelas terras. E eu, agora, o último a passear pelas ruas de Bissau, no fim do Império.

Estavam lá mais portugueses, o Governador e alguns militares, mas não saíam à rua.  Às 23 horas  [do dia 13 de outubro de 1974, domingo ]. , foram sob escolta para o aeroporto. 

Também estava um navio com um Batalhão nas proximidades do porto  [aliás dois, o T/T Niassa e o T/T Uíge]. , para zarpar quando o último avião da Guiné estivesse no ar, para a última viagem aérea de uma parte do Império.

Um pouco depois das 11 horas da noite, dirigi-me para o jipe. O condutor estava melhor da bebedeira. Com ele estava o primo. Alguns negros param a olhar para nós. Aproximaram-se. O jipe arrancou. Os guineenses ficaram a acenar, de braços levantados. Descemos pela avenida principal, subimos pelo lado do campo de futebol.

Sentia uma sensação estranha. Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação.

Já perto do aeroporto, o condutor perguntou-me:

   Meu tenente, onde deixo o jipe?

 Atira-o para uma barreira!

Parámos à entrada do parque do aeroporto. Desci com a pequena mala. O condutor colocou uma sacola no chão, subiu para o jipe e conduziu-o até uma pequena ladeira, ao lado da estrada, um pouco antes do aeroporto, para onde o encaminhou com um pequeno empurrão.

No aeroporto, para entrarem no último avião da Guiné, estavam o Governador, o Comandante Militar, alguns militares coadjuvantes, oficiais, sargentos e meia dúzia de soldados.

Para apresentarem cumprimentos de despedida, chegaram alguns chefes militares do Exército do PAIGC e o Presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Era o fim da colónia ou província portuguesa da Guiné, já independente desde o mês de Agosto.


Albano Mendes de Matos

(Revisao / fixação de texto, título: VB/LG)
__________

Notas do editor LG:



(*) Último poste da série > 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27277: Memórias dos últimos soldados do império (6): os "últimos moicanos" - Parte III: a viagem Bissau-Lisboa, a bordo do T/T Uíge, em 15 de outubro de 1974 (Eduardo Magalhães Ribeiro / Luís Graça)

 Vd. postes anteriores:



Guiné 61/74 - P27277: Memórias dos últimos soldados do império (6): os "últimos moicanos" - Parte III: a viagem Bissau-Lisboa, a bordo do T/T Uíge, em 15 de outubro de 1974 (Eduardo Magalhães Ribeiro / Luís Graça)

 




Documento nº 1 


Documento nº 1A


Documento nº 1B



Documento nº 2




Documento nº 3



Documento nº 4

T/T Uíge, viagem Bissau - Lisboa, de 15 a 20 de outubro de 1974. Documentação distribuída a bordo.



Fotos (e legendas): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Sabemos que esta foi a última viagem do T/T Uíge, de Bissau a Lisboa, ao serviço do Exército. Oficialmente... 

Levou os "últimos soldados do império". O nosso amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro, coeditor do blogue, foi um dos passageiros da "classe turística", reservada aos sargentos. E guardou, no seu baú, esta documentação preciosa, respeitante a essa viagem histórica.

Ao que se sabe (mas não por esta documentação),  o navio, T/T Uíge, que estava ao largo (houve outro, o T/T Niassa, que também zarpou de Bissau nesse dia),  deixou a zona às 10h00 do dia 15 de outubro.

Não sabemos quantos militares levava (e de que unidades). O T/T Niassa, por exemplo,  transportou pessoal da 2ª Companhia do BCAV 8320/73. 

Boa parte do pessoal que foi no T/T Uíge deviam ser militares do QG/CTIG (Santa Luzia) e do QG/CCFAG (Amura), as últimas instalações das NT a serem entregues ao PAIGC, os "novos senhores da guerra". 

Deduz-de que o T/T Uíge ia a "rebentar pelas costuras". Havia 4 refeições a bordo (para oficiais e sargentos), em horários diferidos:

  • 08h30 | 13h00 | 17h00 | 20h00 (para os oficiais, que eram em menor número)
  • 07h30 | 11h30 | 16h00 | 19h30 (para os sargentos, que eram em maior número)

As praças, que iam no porão, comiam por turnos: havia 4 mesas... Os horários iam das o7h00 (pequeno almoço) (1ª mesa) às 20h15 (jantar) (4ª mesa), com intervalos de 30 m (pequeno-almoço) e 45 m (almoço e jantar)... A 1ª mesa jantava às 18h00, a última às 20h15...

O consumo de água (banhos, lavagens...)  e a barbearia também tinham horários estipulados, de acordo com o documento nº 4. Em suma, logística complicada. 

O capitão de bandeira era o cap-ten Alexandre de Carvalho Wandschneider.

Mas tudo correu bem (serviços a bordo e comportamentos dos militares), a avaliar pelo teor da mensagem de despedida, com data de 20 de outubro de 1974, à chegada a Lisboa, assinada pelo comandante militar de bordo, o cor António A. Marques Lopes (documentos  nº 2 e 3).

Dito por si:
No dia 15, na classe turística sabemos que foi servido ao almoço (documento nº 1): 

(i) sopa de coentros; (ii) peixe: bacalhau à Gomes de Sá; (iii) entrada: fígado com arroz de manteiga | pastelão à portugesa; (iv) queijo, fruta, chá, café, leite... 

Nada mau, para desenjoar da comida da tropa, do rancho, da ração de combate...

A vida a bordo também foi  "animada" nesse dia da partida: no bar da classe turística, às 16h30 havia jogo do loto... E à noite, às 21h30, "cinema ao ar livre"...

O filme em cartaz, "As 4 chaves" (documento nº 1B)... Erro tipográfico:  devia ser o filme brasileiro de 1971, "As Quatro Chaves Mágicas", do realizador Alberto Salvá.  Filme do género aventura & fantasia,  "é uma recriação do conto de fadas João e Maria, dos Irmãos Grimm"...

E assim tudo acabou: a guerra, a Guiné ("verde-rubra"), o Império, o Uíge, o Niassa... E nós, também estamos a acabar, nós, a geração dos últimos soldados do império, os "últimos moicanos"...

2. Comentário do editor LG:

Em 2/2/1974. o N/M Uíge passou a pertencer à CMT - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos SARL, por fusão da CCN - Companhia Colonial de Navegação (criada em 1922) com a Empresa Insulana de Navegação (mais antiga, de 1871).  

Fez 4 viagens às Ilhas em 1974, e ainda em junho de 1975 a única que realizou a Moçambique (fretado pelo Exército, para transporte de tropas). 

Em 23/11/1975 fez também a última viagem a Angola, a  sua ultima também como T/T, ao serviço do Exército. 

Ainda fará 3  viagens a Cabo Verde para repatriamento de cidadãos portugueses, cabo-verdianos, também fretado pelo Exército. 

Ao fim de 2 dezenas de anos (tinha sido lançado ao mar em 1954), tem o destino cruel de todos os navios: em 1976 fica imobilizado no Mar da Palha, no estuário do Tejo...Será desmantelado no Cais Novo de Alhos Vedros, em 1979/80...
__________________

Nota do editor LG:

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27225: Memórias dos últimos soldados do império (4): os "últimos moicanos" - Parte I (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, Bissau, mar 1973/ set 74)





Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Uma foto para a história: o ex-fur mil op ersp / ranger, Eduardo Magalhães Ribeiro,. hoje nosso coeditor, CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, abr - out 1974), a arriar a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.


Foto (e legenda): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

1.   "O Prisioneiro da Ilha das Galinhas", da autoria do Abílio Magro,  é uma das crónicas "divertidas" da série "Um amanuense em terras de Kako Baldé" (de que se  publicaram  15 postes enter janeiro de 2013 e março de publicada em 2016, e que estamos agora a revisitar). 

O título é enganador: o "prisioneiro" personifica aqui, metaforicamente falando, o "último dos moicanos"... 

A cena passa-se em Bissau, em finais de setembro de 1974, com os últimos militares portugueses a fazerem  a "comissão liquidatária" do império (a destruir papéis, a arrumar caixotes, a deitar fora a tralha da guerra, a transferir serviços, a fazer as malas para regressar a casa, a beber as últimas "basucas", etc.).

 Faz sentido republicar agora,  na efenéride dos 51 anos, esta história na série "Memórias dos últimos soldados do império" (*)

A República da Guiné-Bissau já tiha sido reconhecida por Portugal, "de jure et de facto", em 10 de setembro. O brigadeiro graduado Carlos Fabião, último governador e comandante-chefe,  ainda era, até 14 de outubro desse ano, formalmente, o representante do Governo português, do território. 

Sabe-se que  no dia 14 de Outubro, pelas 3 da manhã, o comandante-chefe Carlos Fabião partiu do aeroporto de Bissalanca, juntamente com os comandantes do CTIG, da Zona Aérea, do seu Estado-Maior (onde se encontrava também o seu CEM, Henrique Gonçalves Vaz) e os oficiais da Comissão Coordenadora do MFA na Guiné. Este voo representou o penúltimo contingente das nossas tropas, e não o último. 

No aeroporto encontravam-se representantes do PAIGC em Bissau, nomeadamente Juvêncio Gomes, Vítor Monteiro, Constantino Teixeira, Paulo Correia e Silva Cabral (nome de guerra, "Gazela").

O então comodoro Vicente Manuel de Moura Coutinho de Almeida D´ Eça tinha passado a ser, entretanto,  a partir de 14 de Outubro, à uma hora, o  comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no TO da Guiné.  

Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça, em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas) (**)

O comandante das Forças Terrestres a embarcar foi o coronel de infantaria António Marques Lopes: este sim o último contingente militar a abandonar o TO da Guiné, no T/T Uíge,  em 15 de outubro (chegado a Lisboa, a 20; nele veio também o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro) (*).


2. Recordemos a cronologia desses últimos dias do Império, no que diz respeito à Guiné... Garantida a independência pela Lei n.º 7/74, o período (de 30 de julho a 15 de outubro de 1974) foi caracterizado por "ausência significativa de pressão política ou militar", destacando-se no entanto, as seguintes acções mais relevantes (estamos a citar a CECA- Comissão para o Estudo das Campanhas de África) (***)

(i) desmobilização, até final de agosto,  das forças de recrutamento local, que lutaram a nosso lado contra o PAIGC, razão pela qual o seu desarmamento e desmobilização constituíram período crítico na fase final da nossa permanência na Guiné;

(ii) a retirada das nossas forças do teatro de guerra, sua concentração em Bissau e transporte das últimas unidades para Lisboa, em 15 de Outubro;

(iii) neste período, o potencial relativo de combate das NT  relativamente às do PAIGC era-nos desfavorável, pelo que se tornou necessário gerir o evoluir da situação com o maior tacto político e militar, garantindo sempre o máximo possível de segurança para as nossas tropas.

Recorde-se as datas-chave:;

  •  26 de agosto, em Argel, assinatura do acordo entre o Governo Português e o PAIGC para a independência da Guiné-Bissau, tendo-se assentado nos seguintes pontos essenciais: (a) independência em 10 de setembro de 1974; (b) retirada das Forças Armadas Portuguesas até 31 de outubro; (c) cessar fogo "de jure" desde a mesma data;
  • de 4 a 9 de setembro, chegada a Bissau de vários membros do Governo e responsáveis do PAIGC; no dia 9, chegou também o primeiro contingente militar do novo Estado;
  • 10 de setembro, em Lisboa, cerimónia formal de reconhecimento da independência da Guiné-Bissau por Portugal;  na mesma data, em Bissau, iniciava-se a transferência dos principais serviços públicos para a responsabilidade da administração do novo Estado;
  • 15 de outubro, retirada dos últimos contingentes das forças militares portuguesas estacionadas em Bissau; regresso nos TAM e no T/T Uíge e navios da marinha;
  • no total, regressaram a Lisboa cerca de 23.800 combatentes do efectivo metropolitano.

  Os nossos "cronistas" desse tempo são o Eduardo Magalhães Ribeiro, o Albano Mendes de Matos e... o Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina (CSJD),  QG/CTIG, março 1973/ setembro 1974).  

O Abílio Magro também  um dos últimos "moicanos" (leia-se: soldados do império), tendo regressado  a caso em fins de setembro, nos TAM. O ten cor Albano Mendes Matos, a 14, também de de avião. O Eduardo, a 15, no T/T Uíge.

O Abílio Magro é o nosso grão-tabanqueiro nº 600, tendo ingressado formalmente no blogu em 13/1/2013. Tem 73 referências.




Os "últimos moicanos" - Parte I

por Abílio Magro


A azáfama fazia lembrar uma tarde de fim de feira numa qualquer terra do interior de Portugal, onde as embalagens vazias de cartão se amontoam ao lado de cada tenda e os feirantes se apressam a recolher os artefactos e produtos não transacionados para, na madrugada seguinte, regressarem à estrada e ocupar novamente as “montras” numa outra feira qualquer.

Estávamos em finais de setembro de 1974 e o recinto da “feira” era a pequena “parada” defronte do edifício do QG/CTIG.

Com efeito, havia muita movimentação de pessoas e bens e o asseio parecia ter sido algo descurado. Notava-se algum nervosismo e pressa em fazer malas. Lembrava o término de um qualquer período de férias de Agosto no Algarve em que havia necessidade de andar lesto, a fim de se evitar as longas filas de trânsito das estradas algarvias daqueles tempos.

As entradas e saídas do Quartel-General eram constantes e respirava-se, efetivamente, um fim de feira com desfazer de tendas. A grande maioria das Unidades Militares que tinham estado sediadas no interior do território, já tinha regressado à Metrópole e era agora chegado o momento dos últimos “moicanos”, nomeadamente os militares metropolitanos que se encontravam presos na Ilha das Galinhas.

A pequena Ilha das Galinhas, com apenas 50 km² de área,  é uma das oitenta e oito ilhas que compõem o Arquipélago de Bijagós. Durante o período colonial funcionou nesta ilha uma prisão, designada por "Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas".

Esta colónia estava destinada, essencialmente, a presos políticos, incluindo elementos do PAIGC, alguns dos quais ali estariam em trânsito para a prisão do Tarrafal (Ilha de Santiago, Cabo Verde).

Os prisioneiros andavam soltos pela ilha e a maioria trabalhava na bolanha (cultivo de arroz) e nas plantações de ananás e mancarra (amendoim) que havia pelo campo.

Nos finais de setembro de 1974, um desses prisioneiros, militar metropolitano, andava por ali no recinto da “feira” do QG/CTIG a aguardar não se sabia muito bem o quê.

Fazia-se acompanhar por um corpulento macaco-cão que segurava por uma trela de corrente de aço.
Este “prisioneiro à solta” apresentava uma tez bastante avermelhada, indiciando excesso de sol recente (ou algum excesso de aguardente) e trajava de um modo demasiadamente informal para um militar naquele local; camisa, calções e sapatos de ténis militares. Na cabeça, sempre descoberta, ostentava uma farta cabeleira arruivada e encaracolada e, nas pernas e coxas, várias tatuagens “pornográficas” a necessitarem de “bolinha vermelha”.

Era de poucas falas e parecia andar por ali apenas com o intuito de desafiar “altas patentes”, digo eu.

Com efeito, dava-me um certo gozo ver majores, tenentes-coronéis, coronéis, etc., que entravam ou  saíam do QG, depararem-se com aquela figura acompanhada do “seu animalzinho de estimação” e, pasmados, fitando o “moicano”, receberem em troca um olhar ostensivamente desafiador que os desarmava por completo e os “aconselhava” a prosseguir o seu caminho, o que faziam sem pestanejar.

Com muito custo lá conseguimos chegar à fala com o “moicano” e, segundo recordo, ele aguardava autorização para trazer o “companheiro” para a Metrópole, mas, confrontado com a nossa convicção de que isso não seria possível, logo afirmou que “então cortava o pescoço ao símio!”

Eram dias de muita rebaldaria e, lá fora, na estrada que passava em frente ao QG/CTIG, era constante o movimento de negros alombando para suas tabancas “troféus de guerra” diversos, tais como: colchões, frigoríficos, aparelhos de ar condicionado, etc.

Alguns capitães conduziam jipes bastante “mal-tratados” que avariavam constantemente e era vê-los a empurrar a “sucata” com a ajuda de um ou outro militar…

Enfim, imagens vivas do fim do Império Colonial Português!

Uns dias depois é chegada a hora do meu regresso a casa e lá estava no aeroporto de Bissalanca o “moicano”, sem macaco. Viajou connosco e disse-nos que o tinha matado (??).

Abílio Magro

(Revsião / fixação de texto, título: LG)


2. Na altura,  o editor LG tinha deixado o seguinte comentário no  poste P15618;


Há algo de pungente na tua descrição, tão singela, ingénua e ao mesmo tempo tão realista e quase cinematográfica dos últimos dias de Bissau... São pinceladas, são apontamentos, são "flashes", são pequenos detalhes de uma atmosfera, única, a da véspera de se partir, definitivamente, para casa e deixar atrás a tralha da História, e as ruínas de uma guerra, que vai, contudo, continuar a arder em lume brando...

Acho que, quem como tu, foi um dos últimos guerreiros do império, mesmo tendo sido um honestíssimo e patriótico amanuense, não mais poderia esquecer esses últimos dias, essas últimas horas...

O teu "prisioneiro da ilha das Galinhas" é um "boneco" bem apanhado!... Estou a imaginar a cara de desagrado, confusão e impotência dos nossos "maiores" (tenentes coroneis e majores) ao tropeçar, à portas do QG, com o teu "moicanho"... Mas todos foram, "chefes e índios", tristes figurantes do filme em que os "tugas" sairam de cena... daquela parte de África aonde justamente tinham sido os primeiros, dos europeus, a chegar, em meados do séc. XV!...

Obrigado, mano Magro, por mais este delicioso naco de prosa!..

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016 às 22:04:00 WET 
____________


(...) Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), pp. 420/423-

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26337: O nosso blogue em números (99): em 2024, ultrapassámos as nossas melhores espetativas, publicando 1307 postes, cerca de 3,6 por dia




Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Esperando que o 2025 seja melhor do que o de 2024  (sonhar e ter esperança ainda não pagam imposto...), vamos por estes dias fazer o balanço da nossa atividade bloguística ao longo do ano (bissexto)  de 2024, em que também comemorámos ( sem pompa nem circunstância, acrescente-se)  os 20 anos da nossa existência na Net. 

É já um saudável hábito fornecer alguns elementos do nosso "relatório & contas", aos nossos grão-tabanqueiros (isto é, aos membros registados no blogue da Tabanca Grande, na verdade os "nossos sócios" ou "acionistas", ou "shareholders", em inglês), incluindo os nossos editores, autores, colaboradores permanentes, comentadores, leitores e todos os demais "stakeholders" (aqueles  para quem o nosso blogue é também uma valiosa fonte de informação e conhecimento: estudantes,  professores, viajantes, jornalistas, investigadores, etc.)

É também uma forma de  cultivar a nossa "memória" como antigos combatentes da Guiné que têm direito a deixar um rasto da sua existência e da sua história de vida, quer como oficiais e sargentos do exército português do quadro permanente ou do quadro de complemento quer como praças, sargentos e oficiais do contingente geral.

 E começando pelo Gráfico nº 1, vê-se que "ainda continuamos vivos", ao fim de 20 anos a "blogar" (na realidade, a data de nascimento do blogue foi 23/4/2004, embora nesse ano só tenhamos publicado... quatro postes!).

Nenhum de nós provavelmente estava à espera de uma tão grande longevidade para o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Como reconhecem os especialistas, vinte anos na Internet é uma eternidade. Alguns dirão que já somos um "fóssil"... Apesar do nosso envelhecimente, da !jubilação", da doença ou da morte de alguns dos nossos melhores colaboradores, do nosso cansaço generalizado, da progressiva depreciação do filão das nossas memórias,etc., acabámos de publicar em 31 de dezembro de 2024 o poste P26331. 

 2. Como, de resto, já aqui assinalou o nosso querido  coeditor Carlos Vinhal em poste anterior, o número de postes publicados, durante o ano de 2024, foi de 1307, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior (1089 em 2023). E ultrapassou mesmo o ano de 2017, o melhor dos últimos oito anos (*)

Como é sabido,  o nosso recorde, inultrapassável, foi o ano de 2010, em que atingimos um valor máximo, histórico, de 1955 postes publicados (!) (cerca de 5,4 postes por dia)...  

A partir daí, verifica-se  uma tendência descrescente, que faz parte da "ordem natural das coisas"... (No Gráfico nº 1, dá para perceber a "montanha"que subimos, desde o início, e que agora estamos a descer, naturalmente; entrámos em "velocidade de cruzeiro" a partir de 1 de junho de 2006)...

Em 2024, subimos a média mensal de postes (108,9) e a média diária (3,57). Bem melhor do que o ano anterior (em que o número médio mensal das publicações foi de 91, ou seja 3 por dia) (**)... 

Nada disto seria possível sem a persistência, a lealdade, a dedicação, a carolice... do núcleo duro de uma pequena equipa de editores, autores, colaboradores permanentes (onde é justo destacar o nome do Carlos Vinhal, um dos nossos "históricos": está connosco desde março de 2006, há quase 19 anos!)...E, claro, sem o estímulo, o apoio e a crítica dos amigos e camaradas da Guiné que lêm, comentam  e divulgam o nosso blogue. Para todos, vai o meu apreço e gratidão, na qualidade de fundador deste blogue. 

PS - Pode haver pequenas discrepâncias entre os meus números e os números do Carlos Vinhal: cada um tem as suas "bases de dados" (em excel), com que trabalha, e que ainda não foram ao "aferidor"...Por exemplo, em relação a 2017 ele aponta para 1262 o nº de postes publicados (***), e no meu gráfico aparecem mais uns vinte (1282). O erro é seguramente meu: são os números do Blogger (e que devem incluir alguns postes publicados já no princípio de 2018) mas ainda não tive tempo (nem pachorra...) para o corrigir . (Fá-lo-ei amanhã ou depois.) Espero que ele me perdoe, mesmo sabendo eu que ele é uma pessoa intelectualmente honesta e rigorosa. Mas fica aqui, para já, a confissão (pública) de um pecadilho meu...