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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25152: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (105): Na Morte do Coronel Nuno Rubim (Alfredo Pinheiro Marques / Centro de Estudos do Mar)

Cor Nuno Rubim (1938-2023). Foto de Luís Graça (2006)

1. Ainda a propósito do falecimento do Coronel Nuno Rubim, recebemos a seguinte mensagem com data de 31 de Janeiro de 2024, enviada pelo Director do CEMAR, Doutor Alfredo Pinheiro Marques:
De: CEMAR
Date: quarta, 31/01/2024 à(s) 11:17
Subject: Na Morte do Coronel Nuno Varela Rubim

Prezado Doutor Luís Graça, e demais responsáveis do Blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné":
Nesta mensagem e na seguinte remetemos um reencaminhamento das mensagens que enviámos para a lista de "mailing" do CEMAR acerca do falecimento do nosso Ex.º Amigo Coronel Nuno Varela Rubim, e em que nos socorremos de, e citámos, muita da informação que, pela V. parte, disponibilizam no vosso Blog (uma vossa iniciativa meritória, e merecedora dos maiores elogios, e pela qual felicitamos, e desejamos os melhores votos de continuidade do bom trabalho)


Com as melhores e mais cordiais saudações, e votos de tudo de bom neste novo ano 2024
Alfredo Pinheiro Marques
Director do Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR
(Figueira da Foz do Mondego - Praia de Mira)


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2. Início da mensagem reencaminhada:

De: INFORMAR
Assunto: Na Morte do Coronel Nuno Varela Rubim
Data: 30 de janeiro de 2024, 01:01:12 WET
Para: mail@cemar.pt

NA MORTE DO CORONEL NUNO VARELA RUBIM

Só agora tomámos conhecimento, através de notícias publicadas no Blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (o principal fórum de informação e discussão sobre a história da Guerra portuguesa no teatro de operações da Guiné-Bissau), na "Revista de Artilharia", e em outras fontes, da triste notícia do falecimento do nosso Ex.º Amigo, Coronel de Artilharia, Comando, na situação de reforma, Nuno José Varela Rubim (1938-2023), historiador militar que tivemos a honra de contar no número dos membros do Conselho Consultivo e Científico do CEMAR - Centro de Estudos do Mar, e pelo qual sentimos, e manifestámos, sempre, uma extraordinária admiração e um profundo respeito, em termos científicos e em termos humanos.

Nuno José Varela Rubim - a que as populações africanas chamaram o "Capitão Fula" (e cuja morte ocorreu, agora, no passado dia de Natal… em 25.12.2023) - foi um homem extraordinário, e com uma vida invulgar, e extraordinária, de heroísmo, de coragem, de lucidez e de inteireza.
Uma vida apontada, ao mesmo tempo, quer para o serviço militar quer para a compreensão do mundo e do seu país: para a História e para a investigação histórica. Provindo de uma tradição familiar apontada para o serviço do Exército Português, e mais concretamente para a Artilharia, ele veio a ser um militar de grande coragem, detentor de uma folha de serviços invulgar, e um historiador de grande lucidez e criticismo, o mais competente nas matérias específicas de História Militar a que se dedicou. De grande coragem científica, para além da coragem pessoal e humana.

Em nove anos em África, com quatro comissões de serviço, foi um dos militares mais condecorados do Exército Português no terrível teatro de operações da Guiné-Bissau, o mais duro e difícil para os Portugueses, na segunda metade do século XX. Comandou, lá, em comissões de serviço sucessivas, como Capitão, duas Companhias de Caçadores (CCaç 726, e CCaç 1424), e uma Companhia de Artilharia (CArt 644), e foi o criador, formador, e comandante, lá, dos "Comandos da Guiné" do Exército Português, entre 1964 e 1966.
As Companhias que comandou estiveram localizadas no aquartelamento de Guileje (Guiledje), na parte desse território que foi a mais problemática para os Portugueses, nas regiões do "Corredor da Morte" de Guileje, Gadamael e Guidaje, e das Matas do Cantanhez, e de Madina do Boé (onde, por fim, em 1973, o PAIGC acabou por proclamar unilateralmente a sua independência). Nessas regiões tiveram lugar alguns dos momentos mais penosos para o Exército Português. Nomeadamente quando, em Maio de 1973 (alguns anos depois de Rubim já lá não ser comandante), esse aquartelamento de Guileje chegou a ser abandonado pelas tropas portuguesas, e ocupado temporariamente pelas tropas do PAIGC (o único caso desse tipo, nas guerras africanas portuguesas da segunda metade do século XX).
Depois disso, entre 1972 e 1974, Nuno Varela Rubim ainda desempenhou também funções no Quartel-General português em Bissau, em serviços secretos de informações, transmissões e criptografia (CHERET), e já então promovido ao posto de Major (e, nessas funções, os serviços portugueses conseguiram decifrar os códigos das comunicações militares dos países vizinhos).
Esteve presente, desde o primeiro momento, lá, na Guiné, na conspiração do "Movimento dos Capitães" que levou ao 25 de Abril de 1974.
Depois, em Portugal, nas convulsões políticas do pós-25 de Abril, esteve envolvido nas difíceis situações que confluíram no 25 de Novembro (1975), no seguimento do qual viu a sua carreira militar ser bloqueada, e esteve preso em Custóias e em Caxias. Alguns anos depois, reconstituída essa carreira, e concedida a mais do que merecida promoção a Coronel (sem ter tido que ser, como então disse, "a título póstumo"…), foi passado à reserva e veio a dedicar-se sobretudo à sua paixão pela História e pela investigação de temas militares, sobretudo de História da Artilharia.

Foi Director de Investigação no Museu Militar de Lisboa, exerceu funções de docência na Academia Militar, na Universidade de Lisboa, etc. (de facto, exerceu-as em toda a espécie de escolas, desde escolas universitárias até humildes escolas primárias e profissionais). Publicou na "Revista de Artilharia" e em outras revistas militares. Organizou exposições e instalações museológicas de grande significado e qualidade (Museu da Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas, Artilharia da Fragata Dom Fernando II e Glória, Artilharia do Forte de Oitavos em Cascais, etc.). Deu-nos a honra de, na Figueira da Foz, ter sido um dos membros do Conselho Consultivo e Científico do nosso Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque (CEMAR), desde Novembro de 2012.
Teve, sobretudo, um interesse muito especial, e competente dedicação, à história do "Príncipe Perfeito", o Príncipe e Rei Dom João II "próprio e verdadeiro coração da República" (nomeadamente à sua invenção do tiro naval rasante), à arquitectura naval, e às fortificações marítimas costeiras (Torre de Belém, etc.).

Na primeira década do século XX (em 2006-2008) — em parceria com a organização de cooperação AD-Acção para o Desenvolvimento, com o supracitado Blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné" dedicado aos combatentes portugueses e guineenses da guerra da Guiné-Bissau, e com entidades oficiais desse país independente de Língua Oficial Portuguesa —, Nuno Rubim esteve presente na celebração no Projecto Guiledje, de reencontro entre Portugueses e Guineeenses, nas suas várias vertentes ("triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da historia"...).
Esteve presente, nomeadamente, no Simpósio Internacional de Guiledje, em Março de 2008, em Bissau (onde foi um dos oradores), e na criação de um Núcleo Museológico de Guiledje (Guileje), para o qual construiu carinhosamente, pelas suas próprias mãos, e levou consigo, para oferecer, um precioso diorama constituído por um modelo à escala 1/72, de grandes dimensões, do aquartelamento português de Guileje tal como ele era na década de 60 do século XX (1966), quando ele próprio, e muitos dos combatentes de ambos os lados dessa guerra, lá haviam estado, e lá haviam combatido.

O Coronel Nuno José Varela Rubim teve um carinho muito especial pela Guiné, e pelas suas gentes, onde havia vivido durante uma década. E teve como esposa uma Ex.ª Senhora africana, de lá originária, que agora deixou viúva, e à qual devemos apresentar as mais sentidas condolências.

Quando, em 2008, voltou à Guiné, e regressou a Guileje e Mejo, foi reconhecido e acarinhado por muita gente que ainda se lembrava dele de há 41 anos atrás (!), e se lembrava da sua sensibilidade e proximidade com as populações locais, que logo então haviam dado origem ao seu cognome de então, de "Capitão Fula".

E, em Bissau, visitou o cemitério, onde estão sepultados centenas de militares do Exército Português, e alguns desconhecidos, e alguns pertencentes a Companhias que por ele haviam sido comandadas.

Muita informação sobre este notável militar e historiador português, e homem de grande carácter, pode ser encontrada em muitas das páginas do tão meritório Blog na Internet, criado por Luís Graça, que já aqui citámos "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (em https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com).


Filmes com parte da sessão do Simpósio Internacional de Guilege, em Março de 2008, em Bissau, com Nuno Varela Rubim e Carlos Matos Gomes, ambos Coronéis, Comandos, do Exército Português, em que o primeiro explica o isolamento em que foi deixado cair o quartel português de Guileje e o aparecimento no teatro de operações da Guiné dos mísseis terra-ar Strela que iriam mudar o curso da guerra, e o segundo explica o agravamento da situação militar no ano de 1973 para as tropas portuguesas, nas vésperas do 25 de Abril de 1974:

https://www.youtube.com/watch?v=rd8O523REL4
https://www.youtube.com/watch?v=CceUuqHQCc4


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"HISTÓRIA, MEMÓRIA E EXEMPLO DO PASSADO, PARA LIBERTAÇÃO DO FUTURO"

"(…) Ser ignorante do Passado é como ser uma criança para sempre (…)”… [ Marco Túlio Cícero, 106 a.C - 43 a.C]
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)”… [ Aldous Huxley, 1959 ]

https://www.youtube.com/user/CentroEstudosDoMar


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Centro de Estudos do Mar - CEMAR
Rua Mestre Augusto Fragata, 8 - Buarcos
3080-900 - FIGUEIRA DA FOZ - PORTUGAL
e-mail: cemar@cemar.pt
tel.: (351) 969070009
(telemóvel)
tel.: (351) 233434450
(chamada para a rede fixa nacional)

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Nota do editor

Vd. post anterior de 8 de Fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25149: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (104): O Coronel Nuno Varela Rubim e o CEMAR (Centro de Estudos do Mar)

sábado, 11 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3295: Ser solidário (21): Do Projecto Sementes ao Museu de Guiledje (Pepito)

São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 19 de Agosto de 2008 > O casal Carlos Schwarz Silva e Isabel Levy Ribeiro (mais a matriarca da família, a mãe do Pepito, Clara Schwarz da Silva), recebem dois ilustres Gringos de Guileje (CCAÇ 3477, Guileje, Novembro de 1971/ Dezembro de 1972): o ex-Cap Mil Abílio Delgado e o ex-Fur Mil Trms José Carioca, que se fizeram acompanharam das respectivas esposas.

O Zé Carioca, aqui à esquerda, em primeiro plano, tem sido o líder do projecto de recolha de sementes para os agricultores da Guiné-Bissau, em cooperação com a AD - Acção para o Desenvolvimento, a Organização Não-Governamental (ONG) fundada e dirigida pelo Pepito. O Abílio - aqui na foto, ao meio - mora na Ericeira e o Zé Carioca em Cascais. O Pepito ficou muito sensibilizado com a oferta, para o futuro museu de Guileje, que o Abílio lhe fez: os seus galões de capitão, o mais jovem capitão do Exército Português que passou pela Guiné...

Também apareceu um amigo dos Gringos de Guileje, o Diamantino Figueira (na foto, à esquerda). Ele foi connosco à Guiné, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008), juntamente com o seu filho. É dono de um restaurante na zona de Cascais . Para eles e para todos nós, foi uma semana inolvidável na Guiné-Bissau. Recorde-se que ele pertenceu ao BIG (Batalhão de Intendência Geral), Bissau, 1971/73. Telefone de contacto: 214752070.

São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 19 de Agosto de 2008 > As esposas do Zé Carioca, do Abílio Delgado e do Diamantino (não sei a ordem é esta...), conversando com a mãe e a esposa do Pepito.


São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 7 de Agosto de 2008 > Convívio com a família de Luís Graça: na foto, à esquerda, o João Graça, a meio o Luís Graça, e à sua direita, Isabel e o Pepito.

São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 7 de Agosto de 2008 > Da esquerda para a direita: a esposa do Ivan, filho do Pepito e da Isabel, a Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), o João (filho de ambos), um amigo do Ivan, a Isabel e a sua mãe, Levy Ribeiro.

São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 7 de Agosto de 2008 > A Isabel e o Luís Graça.

São Martinho do Porto > Casa de verão do Pepito e da Isabel > 7 de Agosto de 2008 > O João Graça e a neta do Pepito e da Isabel, filha do Ivan (que vive em Portugal).

Fotos: © Carlos Schwarz (Pepito) (2008). Direitos reservados. (Legendas: L.G.)


1. Mensagem do Pepito, enviada de Bissau, com data de 24 de Setembro último:

Amigo e Companheiro Luís:

Com muito atraso em relação ao que te prometi, aqui seguem alguns apontamentos sobre a evolução do Projecto de Guiledje:


1- Durante as minhas férias em Portugal encontrei-me várias vezes com o Luís Graça, a Alice, o João e a Joana, em Lisboa, S. Martinho do Porto e Lourinhã, todos de uma amizade e entrega contagiantes, absolutamente fora de série e que nos deram mais força e ideias para avançar com este programa.

Os Gringos, os últimos a aparecer, já ocupam o primeiro lugar da pool position. Liderados pelo Zé Carioca têm desenvolvido uma série de iniciativas, tanto ligadas à reabilitação de Guiledje, como de apoio ao desenvolvimento das populações de Cantanhez. Adiantaram com algumas ideias, parte delas já em execução:

(i) Fornecimento de mais de 10 Kg de sementes hortícolas às mulheres de várias tabancas do sul de Cantanhez (Cabedú, Catesse, Cafine, Cadique, Iemberém e outras): vários Gringos compraram sementes de alface, feijão, tomate, cebola, pimento, couve, melancia e outras cultivares. Trouxe-as de Lisboa para Bissau e no final de Outubro (quando as chuvas acabarem) serão lançadas à terra. Muitos amigos compraram estas sementes, entre eles o José Rocha, o José Teixeira e o jornalista Fernando Mendes (Jornal de Notícias, do Porto). Criaram um fundo que alimentará no futuro a compra de mais sementes. Esta é uma resposta a um compromisso que o Zé Carioca e o Abílio tomaram quando estiveram a inaugurar um fontanário em Cabedú durante o Simpósio. Promessa feita, promessa cumprida. Os nossos agradecimentos serão feitos com o envio de fotos dos campos cultivados.

(ii) Fornecimento de roupa para a AD distribuir: o Zé Carioca, o Diamantino e outros amigos conseguiram recolher mais de 50 cartões contendo roupa para a AD distribuir à população no próximo Natal. Os cartões já embarcaram e deverão chegar a Bissau já em Outubro.

(iii) Cooperação com a Associação Cultural Confluência: ficou decidida a ida a Portugal do Grupo Cénico guineense Os Fidalgos para a apresentação da peça O Lutador, para fazer uma tournée em algumas cidades, entre elas Cascais e Loulé. Em 2009 virá à Guiné-Bissau o Grupo de Teatro da Confluência, acompanhado de escultores, cantores e poetas.

(iv) Geminação Bedanda-Cascais: criou-se uma dinâmica para promover a geminação entre Bedanda e Cascais, tendo como ponto de partida o facto de serem zonas turísticas e poderem ser materializadas através de Guiledje e Iemberém. O Zé Carioca e o Dr. Carimo Baldé, juiz guineense reformado, serão os motores de sensibilização junto da Câmara Municipal de Cascais. Uma das iniciativas a implementar é a da criação de uma Praça central em Iemberém, designada de Confluência, onde se virão encontrar 4 ruas: da Guiné-Bissau, de Portugal, de Cabo Verde e de Cuba.

(vi) inauguração do Museu de Guiledje: foi sugerida a ideia de se fazer uma cerimónia especial para a inauguração do Museu, onde viriam participar novos ex-militares portugueses que estiveram nesta zona e que têm manifestado o desejo de lá regressar. Dentro do ex-quartel vai-se designar cada passeio com nomes de ex-militares e outras pessoas que lá viveram e que muito se envolveram na iniciativa de Guiledje.

2- O Governo Japonês manifestou interesse em apoiar a remoção de obuses, bombas e outros engenhos explosivos que ainda existem em Guiledje e que, de certa forma condicionam a reconstrução dos antigos edifícios que serão destinados ao Museu, Escola Rural, sede do Parque Natural Transfronteiriço, e bungalows para o ecoturismo. Tudo indica que a remoção deste material de guerra possa ter início em Janeiro de 2009 e se prolongue por 3 meses.

3- O actual Primeiro-Ministro do Governo guineense, Carlos Correia, que participou assiduamente no Simpósio de Guiledje, prometeu que tudo iria fazer para que, até Novembro, o antigo quartel passasse a estar sobre a gestão da AD para se incrementar todas as iniciativas previstas.

4- Apadrinhamento de criança guineense: o Xico Allen propôs servir de intermediário para conseguir que um casal do norte de Portugal apadrinhasse uma criança da zona de Cantanhez. Com o acordo dos pais foi seleccionada a Sabá, de 7 anos, natural de Cadique e actualmente a estudar a 2ª classe em Bissau. O apadrinhamento traduz-se num apoio à sua educação escolar.

Seguem algumas fotos de momentos de grande amizade.

As esposas do Abílio, Diamantino e Zé Carioca, pessoas formidáveis como os maridos, partilharam comigo e com a minha família uma tarde inesquecível em S. Martinho do Porto.

Um abraço
pepito

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2428: Guiledje: Seminário Internacional (1-7 de Março de 2008) (7): Programa

Banner da página oficial de Guiledje: Seminário Internacional (1 a 7 de Março de 2008, Bissau, Guiné-Bissau).

Para conhecimento dos amigos e camarada da Guiné que visitam o nosso blogue, aqui ficam os links directos para uma informação, mais fácil e detalhada, do ambicioso e estimulante programa deste evento (1), que se insere no âmbito do Projecto Guiledje, o qua tem tido desde praticamente o princípio da sua divulgação, em Outubro de 2005, o nosso mais entusiástico e fraternal apoio (2).

Programa

1º dia - Sexta-feira, 29 de Fevereiro

2º dia - Sábado, 1 de Março

3º dia - Domingo, 2 de Março

4º dia - Segunda-feira, 3 de Março

5º dia - Terça-feira, 4 de Março

6º dia - Quarta-feira, 5 de Março

7º dia - Quinta-feira, 6 de Março

8º dia - Sexta-feira, 7 de Março

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Notas dos editores:

(1) Vd. post anterior:

9 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2423: Guiledje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (6): Como inscreveres-te ?

(2) O nosso primeiro post, sobre o Projecto Guileje, é de 5 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXI: Projecto Guileje (1): o triunfo da vida sobre a morte (Luís Graça / Jorge Neto)


(...) Notícias do nosso amigo Jorge Neto (um tertuliano de fresca data, e que trabalha, vive e sobrevive em Bissau).

Boa tarde a todos. Recebi na caixa de correio informação sobre uma ONG [Organização Não-Governamental] guineense que tem um projecto de reabilitação/restauro do histórico quartel de Guiledje [na região de Tombali, no sudoeste, na fronteira com a Guiné-Conacri]. Se alguém tiver interesse em conhecer o projecto bem como ver algumas fotos do que era e do que é, aqui fica o link.

http://www.adbissau.org/projectoguiledje.php (...)

(...) Comentário de Luís Graça:

Acabei de ler o documento, em formato.pdf, de seis páginas, intitulado 'Guiledje, ideias para um projecto de reabilitação'. Gostei, desde logo da citação: 'Salvaguardar a memória é a única forma da vida triunfar sobre a morte'.

Mais do que uma citação, é um programa de acção! Li e fiquei entusiasmado com as ideias apresentadas, a sua fundamentação, a sua metodologia de acção. E disse logo cá para mim mesmo: Ora aqui está um projecto à nossa medida, à medida destes ex-combatentes da guerra colonial da Guiné e dos demais amigos desta tertúlia.

Sinto que podemos fazer alguma coisa de concreto para viabilizar este projecto. Para já, podemos divulgá-lo e dá-lo a conhecer em Portugal. Penso que é um projecto, de grande interesse (histórico, cultural, económico, social e ambiental) para os guineenses, mas também para nós. Daqui uns anos os nossos netos e bisnetos irão aprender, na escola, onde ficava Guileje e discutir a sua importância para dois países que hoje se tratam como irmãos: Portugal e a Guiné-Bissau (...).

sábado, 8 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2334: Encontro de ex-combatentes, em Lisboa, no restaurante "Pelicano Dourado" (A.Marques Lopes)


Foto 1> Restaurante Pelicano Dourado de Joaquim Djassi, ontem combatente do PAIGC e hoje imigrante integrado na sociedade portuguesa. 


1. Mensagem do camarada Marques Lopes (1) do dia 4 de Dezembro, dando-nos conta de um jantar, de ex-combatentes da Guiné, em Lisboa, no Restaurante Pelicano Dourado. No dia 1 de Dezembro passado estivemos no Pelicano Dourado, restaurante que o Joaquim Djassi tem na Zona J de Chelas, em Lisboa.

  Foto 2> Os presentes: Marques Lopes, o António Pimentel, o Xico Allen, o Braima Baldé, o Hugo Moura Ferreira e, claro, o Joaquim Djassi.

Foto 3> António Pimentel, Marques Lopes, Braima Baldé (de pé) e Joaquim Djassi


Foto 4> O Xico Allen, à direita em conversa com o António Pimentel, Marques Lopes e Joaquim Djassi. Uns já são conhecidos, mas há que dizer quem são os desconhecidos: o fula Braima Baldé, que foi ferido em combate em Buba, foi soldado na CCAÇ 763, que foi substituída pela CCAÇ 1621 onde esteve o Hugo Moura Ferreira; o beafada Joaquim Djassi foi um guerrilheiro do PAIGC, sob o comando do Gazela, e foi um dos que entrou em Guiledje depois de nós sairmos. Diz ele que encontraram manga de cervejas, whisky e latas de conservas. O Braima Baldé continua com ligações à Guiné-Bissau, para onde se desloca com frequência. O Joaquim Djassi não. É doente renal (tinha regressado de uma sessão de hemodiálise quando nós chegámos) e diz com mágoa que se estivesse no seu país já tinha morrido certamente... Falámos de mais coisas, naturalmente.

  Foto 5> Para quem não sabe (eu também não sabia) este peixe chama-se "bentana". A D. Leontina Pontes (natural de Catió), mulher do Joaquim Djassi, explicou-nos que é um peixe que é apanhado nas bolanhas da Guiné-Bissau e vem para cá de avião. O prato é acompanhado com banana verde e mandioca. Mas foi o aperitivo, pois o prato forte foi chabéu de frango. 

 Fotos © de Xico Allen, Braima Baldé, Marques Lopes e Hugo M. Ferreira (2007) 

 Abraços A. Marques Lopes 

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 Nota de CV: 

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2305: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (5): O sítio oficial na Net e o diorama de Nuno Rubim


Guiné- Bissau > Simpósio Internacional, 1 a 7 de Março de 2008: Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau > Belíssima montagem digitalizada de Guileje, executada pelo Guedes, sobre fotografia a preto e branco do aquartelamento em Dezembro de 1964, antecipando a visão do espectacular diorama da povoação e aquartelamento no tempo da CCAÇ 726 (1965/66), feito por Nuno Rubim para o futuro Núcleo Museológico de Guileje.

Foto: Guiledje: Simpósio Internacional (2007) (com a devida vénia...).


1. Mensagem enviada para todos os amigos e camaradas da Guiné, pelo Engº Agrónomo Carlos Schwarz - o nosso Pepito -, na sua qualidade de Director Executivo da AD -Acção para o Desenvolvimento, Bissau:

Caro Amigo:

A partir de hoje terá à sua disposição o site sobre o Simpósio de Guiledje onde poderá acompanhar os preparativos e a organização do mesmo, bem como ter acesso a informações úteis sobre hoteis, restaurantes, centros culturais, boites, etc. (1)

Poderá conhecer os oradores e os temas de comunicação, o programa dia a dia, os promotores e patrocinadores e também terá uma rubrica [,um fórum,] onde poderá participar com sugestões ou lançando temas para debate.

Bem vindos a todos

Carlos Schwarz
Director Executivo da AD

Lisboa, Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 6 de Setembro de 2007 > Da esquerda para a direita, Nuno Rubim, Carlos Scharwz (Pepito) e Luís Graça.


No sítio oficial do Simpósio Internacional (que infelizmente foi descontinuado) havia um link, destacado, do nosso blogue, o que muito nos honrou... Para a comissão organizadora, o nosso blogue tfazia  a confluência de pessoas, memórias, sentimentos, ideias e afectos, ajudando a tornar possível a realização, em Março de 2008, desta grande iniciativa que muito nos honra, a todos, ex-combatentes de um lado e de outro...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


2. O futuro Núcleo Museológico de Guiledje


O Coronel de Artilharia, na reforma, Nuno Rubim, reputado especialista em história da artilharia, nosso amigo e camarada (2), com duas comissões de serviço na Guiné, durante a guerra colonial - uma delas tendo comandado, como capitão, a CCAÇ 726 - tem-se vindo a empenhar, árdua, competente e generosamente, há cerca de 2 anos a esta parte, à complexa mas bela e apaixonante missão de criação do Núcleo Museológico de Guileje e em especial ao diorama do respectivo quartel, "uma obra impar que estará disponível durante o Simpósio e que nos enche de orgulho, a todos quantos se abalançaram a esta iniciativa", diz o sítio oficial do Simpósio Internacional.

O Núcleo compreenderá um Centro Documental que disporá de um Diorama do quartel, um grande Poster com as posições militares do PAIGC no momento do assalto final a Guileje (em Maio de 1973), uma exposição de fotografias e um serviço de computadores contendo um arquivo digital, documental e fotográfico, onde através de um conjunto de entrevistas em formato DVD estarão registados os testemunhos de muitos dos participantes guineenses, caboverdianos, cubanos e portugueses que por lá passaram durante a guerra colonial (3).


O Diorama do Nuno Rubim: uma das joias da coroa do futuro núcleo museológico de Guileje

O Diorama foi projectado por Nuno José Varela Rubim e realizado por ele, com a colaboração de Carlos Miguel de Vasconcelos Tavares, Isabel Pereira Pimentel, Maria Júlia de Sousa Rubim, Maria Tereza Rubim, Nuno Emanuel e Marcela.

As fotografias que permitiram a feitura do Diorama foram cedidas, na sua grande maioria, por Alberto Pires (mais conhecido por Teco), ex-militar da CCAÇ 726, o qual foi incansável na sua pesquisa. Outras foram enviadas por Carlos Guedes, também da mesma Companhia. Ambos também forneceram informações sobre vários aspectos importantes da configuração do quartel. Foram ainda aproveitadas várias fotografias do saudoso Capitão José Afonso da Silva Neto - o nosso saudoso Zé Neto (1929-2007) - que pertenceu à CART 1613 (1967/68), onde exerceu funções de 1º sargento.

Foi também importante o levantamento topográfico efectuado em Guiledje em 2005, por Fidel Midana Sambú.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma das beldades locais, fotografadas pelo nosso saudoso Zé Neto (1929-2007)

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso co-editor Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se ofereceu, como voluntário, para os comandos, onde foi camarada do Briote nos comandos... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores (4).


Na concepção do Diorama foram tidos em consideração os seguintes elementos:

- Na povoação de Guileje estiveram instaladas unidades militares portuguesas desde Fevereiro de 1964 até Maio de 1973;
- Assumida a decisão de ser feito um diorama, foi necessário determinar a data que o mesmo iria representar, dado que ali estiveram instaladas 11 Companhias, além de outras unidades (pelotões, etc.);
- No decurso desse período, e sobretudo a partir de 1969, o aquartelamento sofreu alterações significativas;
- Escolheu-se a data de 1965/66 pela seguinte razão de ter sido nessa altura que aí esteve sediada a unidade com maior tempo de permanência, a CCaç 726 (a qual, juntamente com a unidade que se lhe seguiu, a CCAÇ 1424, foi também a Companhia que efectuou mais operações no sector e sofreu mais baixas em combate);
- O Diorama (maqueta) pretende pois representar o aquartelamento e a tabanca nesse período;
- A escala escolhida foi a de 1/72, permitindo desse modo adaptar modelos em miniatura comercializados;
- Após aturado trabalho de estudo, recolhendo fotografias e declarações de ex-militares que ali estiveram no período em causa, foi possível desenhar um plano à escala para aí serem inseridas as localizações de edifícios, cubatas, abrigos e outros detalhes;
- Estes, depois de também serem desenhados à escala, foram construídos utilizando plástico, madeira, metal e resina, e depois pintados de forma a representá-los tão exactamente quanto possível;
- No diorama poderão ser observados, além das infraestruturas, modelos de viaturas, depósitos, diversos utensílios, etc…
- E até uma aeronave, uma DO-27, que trazia frescos e correio, proporcionando desse modo talvez o único momento de alegria para as tropas portuguesas e seus aliados...

No núcleo museológico haverá ainda um espaço de exposição para armamento, equipamento e outro material, português e do PAIGC, que está a ser (ou venha a ser) cedido, tal como:

- um Unimog e um Pentenclas, meios de transporte de referência de um lado e outro da barricada;
- armas do PAIGC: uma RPG-7 (ou RPG-2), um morteiro de 82mm (ou 120 mm), uma metralhadora pesada Degtyarev (ou Goryunov), uma ligeira Degtyarev, pistolas-metralhadoras - PPSH (a famososa costureirinha), Thompson, M23 - , espingardas semi-automática e automáticas (AK-47 Kalashnikov, Simonov, Mosin-Nagant) e pistolas (Tokarev e Ceska).
- armas de Portugal: espingardas automáticas G-3 e FN, uma metralhadora MG-42, uma espingarda Mauser, LGF e Dante, morteiroa (60mm, 81mm e 10,7cm), pistolas (Parabellum e Savage).

3. Comentário de L.G.:

Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau... É com regozijo que o nosso blogue se associa a esta bela iniciativa e sauda fraternalmente a sua comissão organizadora... Este simpósio internacional, que também podia ser realizado em Portugal, não celebra a derrota de ninguém, mas sim a vitória de dois povos que continuam ligados por laços históricos, afectivos, culturais e linguísticos... Como de um lado e de outro temos dito, esta iniciativa faz parte de um projecto mais vasto de desenvolvimento integrado e sustendo - o projecto Guiledje -, e no essencial representa o triunfo da vida sobre a morte, a vitória da paz sobre a guerra, a primazia da memória (viva) sobre o esquecimento e o branqueamento da história, a afirmação da esperança no futuro, o reforço da amizade e da solidariedade entre os nososs povos (5)...

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 6 de Setembro de 2007 > Simpósio Internacional (1-7 Março de 2008) (1): Uma iniciativa a que se associa, com orgulho, o nosso blogue

(2) Vd. posts de:

18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

(3) Vd. por exemplo os seguintes posts:

Vd. as memórias do Cap Zé Neto:

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba

Vd. ainda a correspondência do J. Casimiro Carvalho:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

(4) Vd. post de 12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

(5) Sobre o nosso apoio ao Projecto Guiledje, vd. entre outros o post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXII: Entrevista a Fernando Pereira, correspondente do Expresso, sobre o Projecto Guileje (Luís Graça)


Declarações de Luís Graça ao jornalista Fernando Pereira, correspondente do Expresso em Bissau, em 23 de Maio de 2006:

"Em cerca de 735 posts (ou textos) publicados no nosso blogue, no espaço de um ano, uns 10% foram dedicados ou fazem referência a Guileje (ou Guiledje, segundo a grafia da Guiné-Bissau).

"Guileje, o aquartelamento de Guileje, o corredor da morte de Guileje, a Mata do Cantanhês, mas também Madina do Boé, Gandembel e Gadamael, entre outros locais no sul, têm ainda hoje, passados mais de trinta anos sobre o fim da guerra colonial, uma enorme carga mítica, simbólica e afectiva para os ex-combatentes portugueses na Guiné...

"A retirada de Madina do Boé saldou-se por um trágico acidente que vitimou quase meia centena de camaradas nossos; mas Guileje é considerado o único aquartelamento da Guiné que fomos compelidos a abandonar por razões militares e psicológicas: a pressão da guerrilha do PAIGC era de tal ordem que a situação se tornou insustentável...

"Tanto para as tropas portugueses como para o PAIGC é um momento, se não de viragem
(militar), pelo menos carregado de simbolismo...

"Eu estive destacado, na zona leste, em Bambadinca, numa companhia africana, a CCAÇ 12, de Junho de 1969 a Fevereiro de 1971. Não conheci Guileje nem Gandembel. Mas no meu tempo contavam-se muitas estórias (falsas ou verdadeiras) sobre a degradação da situação militar no sul, e em especial em Guileje, Gadamael, Gandembel. Por exemplo, era extremamente popular a letra do Hino de Gandembel.

"Cantarolávamos, para espantar os nossos medos, exorcizar os nossos fantasmas e
denunciar o absurdo daquela guerra a que estava condenada toda a juventude de
um país, as quadras do Hino de Gandembel:

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

(...) Temos por v'zinhos Balana ,
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três te protege

(...)

"Numa primeira fase, apoiamos o projecto Guileje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, dando-o a conhecer, divulgando-o na Internet, recolhendo documentação sobre a presença militar portuguesa em Guileje (incluindo testemunhos de militares que por lá passaram)...

"(...) Citando o líder da AD e autor da ideia, Pepito, o projecto Guiledje representa o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história...

"É importantíssimo que a Guiné-Bissau recolha e preserve os testemunhos dos guerrilheiros do PAIGC que lutaram pela independência, e que pertencem a uma geração que está a desaparecer... É importante igualmente ouvir o depoimento dos ex-combatentes e das autoridades militares portuguesas...

"(...) Há uma crescente interesse pela Guiné-Bissau, por parte de uma geração como a minha que fez a guerra colonial e que hoje tem disponibilidade, vontade e poder de compra para ir à Guiné, juntar o útil ao agradável: fazer a sua romagem de saudade, exorcizar os seus fantasmas, visitar os lugares e as gentes que estão na sua memória, reconciliar-se com o passado, evocar os seus mortos, fazer o luto, conhecer o país de hoje, contribuir também para o seu desenvolvimento através de projectos integrados e inovadores como me parece ser este, liderado pelo Pepito e a AD" (...).

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2171: Álbum das Glórias (30): O seu a seu dono: o monumento da CCAV 8350, os Piratas de Guileje (A. Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Abril de 2006> O monumento, em forma de pirâmide, construído em 1973 pelo pessoal da CCAV 8350, Os Piratas de Guileje. O trabalho de restauro e preservação é da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense, fundada e dirigida pelo nosso amigo Pepito, no âmbito do Projecto Guiledje.

Fotos: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.



1. Mensagem do A. Marques Lopes:

A fotografia colocada hoje no P2170 não é de Barro (1). É da CCAV 8350, os Piratas de Guileje, mobilizada no Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz. É um monumento em forma de pirâmide, que ainda está em Guileje, e eu, em Abril de 2006, tirei estas fotografias às três faces.


2. Comentário dos editores:

O Blogue errou. Damos a mão à palmatória. Aqui fica a correcção. Obirgado mais uma vez ao A. Marques Lopes, sempre atento, oportuno e... solidário.

______

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2170: As Duas Faces da Guerra: Espero ver alguns de vós na estreia do filme em Lisboa (Diana Andringa)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P2007: Três homens de Guileje: Nuno Rubim, J. Casimiro Carvalho e Abel Quintas

Maia > Maio de 2007 > Três homens de Guileje: Nuno Rubim, José Casimiro Carvalho e o Abel Quintas. Estes dois últimos respectivamente Fur Mil Op Esp e Comandante da CCAV 8350, os Piratas de Guileje.

Maia > Maio de 2007 > O Nuno Rubim em casa do José Carvalho.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do José Casimiro Carvalho, com data de 28 de Maio último: Para que conste: Cor Nuno Rubim, Cap Quintas e eu, claro... Minitertúlia na minha casa, àcerca de Guileje".


2. Ainda muito recentemente (26 de Julho), o nosso co-editor Virgínio Briote mandou a seguinte mensagem ao Coronel Nuno Rubim, seu antigo comandante do tempo dos comandos.

Viva "Capitão" Rubim!

Quando nos encontramos, então para um almoço? Já pedi ao Luís Graça para combinar consigo um almoço. Fico a aguardar notícias.

Estou a par da sua intensa actividade no Projecto Guileje (1).

O Vilaça foi enterrado no Natal, o "cabo" Tudela no mês passado.

Um abraço,

vb


3. Comentário de L.G.:

Deixem-me fazer aqui uma especial saudação ao ex-capitão Quintas, comandante da CCVA 8350, gravemente ferido em Guileje no dia 1 de Junho de 1973 (2). Fica a porta aberta para a sua entrada da nossa tertúlia ou Tabanca Grande, se for esse o seu desejo e vontade.

Aproveito também para desejar umas repousantes férias ao nosso amigo Pepito que tem andado, por aí, entusiasmadíssimo e incansável, em busca de apoios para seu/nosso Projecto Guiledje e para a realização do Simpósio Internacional sobre a Memória de Guileje (ou Guiledje) na Luta pela Independência da Guiné-Bissau.

Já falámos ao telefone e já combinámos encontrar-nos na Praia... ou de São Martinho do Porto (a dele) ou da Areia Branca (a minha), duas belas praias do Oeste Estremenho (respectivamente, dos concelhos de Alcobaça e Lourinhã). O convite é extensivo ao Nuno Rubim, que o Pepito (e todos nós) tem em alta estima... O almoço com o V.B., se calhar só poderá ser para Setembro... a menos que se proporcione um encontro a quatro em São Martinho do Porto ou na minha terra (Lourinhã: vou lá estar em Agosto, na Rua da Misericórdia, mesmo no centro da vila, a 100 metros do Museu dos Dinossauros que - passe a publicidade - vale a pensa ser visitado, se alguém passar por aqueles lados...).

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

14 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - 1949: Simpósio Internacional "A memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné-Bissau", Bissau, 1-7 de Março de 2008 (Pepito)

(2) Posts com referências ao Capitão Abel dos Santos Quelhas Quintas:

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)

2 Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)

Vendas Novas > Museu da Escola Prática de Artilharia > 2004 > Diorama do sistema de defesa artilhada da Barra do Tejo no final do Séc. XV, da autoria de Nuno Rubim (o primeiro, à esquerda).

Foto: © Nuno Rubim (2006)

Retransmissão do último email que enviei ao Pepito:

Caro Pepito

Quanto à(s) maqueta(s) não haveria grandes dificuldades (1). Um dos meus hobbies é o modelismo, embora agora já não tenha tempo para a ele me dedicar. E no caso de se avançar precisaria de ajudantes...

Mas dirigi a execução de vários dioramas, à escala, de que lhe envio uma foto do último, referente à defesa artilhada da Barra do Tejo no final do Séc. XV ( o 1º sistema desse tipo montado no Mundo ). Está em exposição no Museu da Escola Prática de Artilharia, Vendas Novas, museu esse que foi também por mim implementado há perto de vinte anos, mas que tenho melhorado de vez em quando.

Na foto sou o velhote mais à esquerda...

Os materiais que tenho utilizado são a esferovite, plasticard, coberturas vegetais que em lojas da especialidade, tintas Humbrol, etc., etc.

No caso de Guileje duas opções se poderiam colocar : escalas 1/72 (ou HO ) ou 1/35. Estas escalas são as mais adequadas, pois há várias empresas no estrangeiro que comercializam kits (armamento de várias origens ) e soldadinhos que podem ser adaptados e pintados.

No 1º caso teríamos um diorama de cerca de 1,5 x 1, 5 m, no 2º de 3 x 3 m.

Claro que se porventura se viesse a optar pela representação do ataque de 1973, então as dimensões teriam de ser maiores já que, forçosamente, teria de ser incluído o dispositivo do PAIGC o que, por sua vez, exigiria contactos com combatentes da época.

Nada mais fácil do que executar, por exemplo, um morteiro de 120mm ou mesmo um canhão sem recuo B10, em plasticard. Tenho fotografias deles e estou certo que conseguiria desenhos à escala.

Quanto à consulta e participação no blogue por parte de alguns ex-militares da CCAÇ 726 (e estou certo que o mesmo acontecerá com a 1424 )... pois não tenho grandes esperanças. Dos que lá estavam só dois estão ligados à Internet... É bem verdade que alguns netos já navegam..., mas mesmo assim...

O sistema é pois partir pedra com conversas directas e colecta das fotografias possíveis.

Um abraço
Nuno Rubim
___________

Nota de L.G.

(1) O Pepito tinha anteriormente respondido ao Nuno Rubim, nestes termos (11 de Junho de 2006):

"Caro Nuno Rubim:

"Quanto à maqueta é uma excelente ideia. Ocorreu-me isso há muito tempo, mas deixei cair por não saber quem a poderia fazer.

"Para a história do quartel seria óptimo se houvesse as duas: uma antes do grande ataque e outra já a da fase final (1973). Aliás, em termos de reconstrução de edifícios, nós vamos basear-nos nesta última.

"Agora, um aparte: a minha mãe que tem 91 anos, vai todos os dias à Internet (até ao nosso blogue) e diz que se diverte imenso (fala ao telefone com os filhos espalhados pelo mundo através do Skype). Convença os seus camaradas de Guiledje [, da 726,] a frequentarem o nosso blogue". (...)

Guiné 63/74 - P869: O encontro da CCAÇ 726 e a reconstrução de Guileje (Nuno Rubim)

Texto de Nuno Rubim:

Ontem, como já sabem, decorreu o encontro da CCAÇ 726 e, naturalmente aproveitei a ocasião não só para colocar o pessoal ao corrente do Projecto Guiledge, como também informá-los sobre o blogueforanada. Foram, na maioria dos casos..., os netos de alguns camaradas que tomaram nota dos endereços electrónicos....

Das conversas, que terminaram tarde..., resultaram várias conclusões para mim importantes. A mais significativa prende-se com o facto de o quartel de Guileje ter sido praticamente reconstruído depois do grande ataque que sofreu antes de eu lá ter chegado. As obras continuaram durante a minha estadia.

A planta que vos enviei é pois posterior ao ataque, mas ontem prometeram-me uma anterior.
Também ficou alinhavado um encontro meu com dois camaradas que estão a estudar a disposição interna dos edifícios, pelo que em breve teremos novidades.

Esta questão leva-me a uma importante interrogação. Tal como nos projectos de recuperação em que participei, Fragata D. Fernando e Forte de Oitavos, Cascais, é imperativo que se estabeleça a data em que, caso o projecto prossiga, se pretende que seja representado o quartel de Guiledge, já que ao longo da sua história sofreu numerosas obras, ao que me parece.

Evidentemente que também se pode considerar a ideia da feitura de uma (ou mais ) maquetas à escala.

Abraços
Nuno Rubim

Guiné 63/74 - P865: Ecoturismo, memória, história e vida em Guileje: os tertulianos serão bem-vindos (Pepito)

Texto do nosso amigo Pepito, com data de 9 de Junho de 2006:

Caro Nuno Rubim:


Obrigado pelo seu interesse no Projecto Guiledje.

Caso tenha tido oportunidade de visitar o site da AD, ficou a conhecer as diferentes componentes desta iniciativa e poderá seguir melhor as informações que lhe dou de seguida:


1. Reabilitação do Quartel:

Iniciámos há mais de um ano a limpeza do antigo quartel com o apoio entusiástico dos antigos militares guineenses que lá estiveram e de jovens (naquela altura) que lá viveram. Paralelamente às fotos vitais fornecidas pelo Capitão Neto, foi determinante o envolvimento de quem lá viveu durante anos para identificar as casa da população, do régulo, a mesquita, abrigos, posto de transmissões, capela, pista de helicóptero, etc., bem como inúmeras histórias da tropa contadas com sotaque português e em puro vernáculo.

Deste trabalho recuperaram-se alguns marcos, ainda em bom estado (não esquecer que o quartel foi mandado bombardear pelo Spínola e nem um edifício ficou de pé), identificaram-se as fundações de quase todas as instalações e recolheram-se objectos da altura (garrafas de cerveja típicas daquele tempo e que já não se fabricam, garrafas de larangina, pratos metálicos, etc.).

Tivemos que atrasar os trabalhos devido aos inúmeros UXO, isto é, bombas que estavam nos paióis e que podem ser perigosas. Aguardamos que as equipas anti-minas da ONU, que por cá andam há anos a caçá-los, lá cheguem para a remoção.

Entretanto um arquitecto já visitou o local e propôs um plano de reabilitação (ver documento em formato.pdf que mandámos, por e-mail, para a tertúlia) que irá procurar ao máximo respeitar a disposição inicial das casas, mesmo se com outras finalidades:

- centro de documentação-museu;

- bungalows para ecoturistas, na antiga zona de habitação da população;

- restaurante, na antiga cantina, etc.

Em função do levantamento das bombas, ir-se-á dar inicio à reconstrução das infraestruturas, havendo um projecto financiado pela ONG portuguesa IMVF [ Instituto Marquês Valle Flor] com apoio da União Europeia que irá assegurar este trabalho.

2. Centro de Documentação-Museu:

Vai ser uma das grandes apostas desta iniciativa. Estamos por um lado, a recolher depoimentos dos antigos guerrilheiros do PAIGC que por lá passaram antes e durante o assalto final, bem como de militares guineenses destacados em Guiledje. Conseguimos um excelente conjunto de fotos do Capitão José Neto [CART 1613], apenas referentes ao período em que lá esteve (1967/68) e do Abílio (1970/71)[CCAÇ 2617]. Precisamos de ter fotos de outros períodos para finalizar o dossier fotografias.

Os testemunhos e vivências pessoais, como a que o Capitão Zé Neto (1) fez, dos contos do João Tunes e das inúmeras crónicas que têm saído no nosso blogue, são o que seria interessante ter. Podem ser aerogramas enviados de Guiledje, ou lá recebidos. Tudo que mostre a quem não esteve lá, o que era a vida naqueles tempos. Estes relatos são extensivos a Gandembel, Bedanda, Gadamael, entre outros.

3. Ecoturismo:

Começámos já a formação dos primeiros 12 guias ecoturísticos e de 7 jovens artesãos para o fabrico de esculturas de madeira. Começaram-se a identificar alguns percursos e caminhadas, aliando o histórico com o ambiente (mata de Cantanhez lindíssima e animais selvagens: chimpanzés, búfalos e elefantes) e cultural (danças étnicas).

Temos recebido manifestações de interesse de algumas pessoas que lá querem ir ou voltar. Embora estejamos no início e não se possa falar verdadeiramente de ecoturismo organizado, os tertulianos e ex-militares que estiveram em Guiledje têm a prioridade absoluta se cá quiserem vir, disponibilizando a nossa organização, a AD, o apoio para as visitas e acolhimento local.

Aliás, a população pergunta-me sempre quando é que vocês cá voltam de novo. Tenho a certeza que para muitos vai ser um momento emocionante, tanto para vocês como para os antigos viventes locais de Guiledje.

Em resumo, neste momento gostaríamos de ter recordações vossas do tempo que lá estiveram (fotos, crónicas, cartas, testemunhos, etc.) e que farão parte do acervo documental do Museu.


Um abraço

pepito

_____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 5 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXIX: José Neto, outro senhor de Guileje (CART 1613, 1967/68)

terça-feira, 23 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P783: Entrevista a Fernando Pereira, correspondente do Expresso, sobre o Projecto Guileje

1. Mensagem de Fernando Pereira, correspondente do semanário Expresso na Guiné-Bissau:

Caro senhor:

Sou Fernando Pereira, jornalista guineense, correspondente do semanário Expresso na Guiné. Estou a preparar um artigo sobre o projecto Guiledje, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento. Nesse âmbito, queria saber o seguinte:

(i) Que tipo de apoio o senhor e os participantes do blogue-fora-nada pensam atribuir ao projecto ?

(ii) O que os atrai nesta iniciativa ?

(iii) Já agora, quantas pessoas participam no fórum do vosso blogue ?

(iv) Acha que a reconstituição do quartel de Guiledje e o lançamento de um turismo ecológico poderiam atrair visitas portuguesas a essas paragens ?

Se for possivel, agradecia uma resposta, o mais urgente possivel, a estas questões.

Cordialmente
FPereira

2. Respondi-lhe na volta do correio. O jornalista foi simpático, agradecendo-me de imediato "a atenção, assim como as interessantes evocações e opiniões".

P - Tipo de apoio que o senhor e os participantes do Blogue-fora-nada pensam atribuir ao projecto ?

Em cerca de 735 posts (ou textos) publicados no blogue, no espaço de um ano, uns 10% foram dedicados ou fazem referência a Guileje (ou Guiledje, segundo a grafia da Guiné-Bissau).

Guileje, o aquartelamento de Guileje, o corredor da morte de Guileje, a Mata do Cantanhez, mas também Madina do Boé, Gandembel e Gandamael, entre outros locais no sul, têm ainda hoje, passados mais de trinta anos sobre o fim da guerra colonial, uma enorme carga mítica, simbólica e afectiva para os ex-combatentes portugueses na Guiné...

A retirada de Madina do Boé saldou-se por um trágico acidente que vitimou quase meia centena de camaradas nossos; mas Guileje é considerado o único aquartelamento da Guiné que fomos compelidos a abandonar por razões militares e psicológicas: a pressão da guerrilha do PAIGC era de tal ordem que a situação se tornou insustentável...

Tanto para as tropas portugueses como para o PAIGC é um momento, se não de viragem
(militar), pelo menos carregado de simbolismo...

Eu estive destacado, na zona leste, em Bambadinca, numa companhia africana, a CCAÇ 12, de Junho de 1969 a Fevereiro de 1971. Não conheci Guileje nem Gandambel. Mas no meu tempo contavam-se muitas estórias (falsas ou verdadeiras)
sobre a degradação da situação militar no sul, e em especial em Guileje, Gadamael, Gandembel. Por exemplo, era extremamente popular a letra do Hino de Gandembel.

Cantarolávamos, para espantar os nossos medos, exorcizar os nossos fantasmas e
denunciar o absurdo daquela guerra a que estava condenada toda a juventude de
um país, as quadras do Hino de Gandembel:

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

(...) Temos por v'zinhos Balana ,
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três te protege

(...)

Numa primeira fase, apoiamos o projecto Guileje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, dando-o a conhecer, divulgando-o na Internet, recolhendo documentação sobre a presença militar portuguesa em Guileje (incluindo testemunhos de militares que por lá passaram)...

P - O que os atrai nesta iniciativa ?

Citando o líder da AD e autor da ideia, Pepito, o projecto Guiledje representa o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história...

É importantíssimo que a Guiné-Bissau recolha e preserve os testemunhos dos guerrilheiros do PAIG que lutaram pela independência, e que pertencem a uma geração que está a desaparecer... É importante igualmente ouvir o depoimento dos ex-combatentes e das autoridades militares portuguesas...

P - Quantas pessoas participam no forum do vosso blogue ?

Temos já uma lista de cem membros com endereços por e-mail...Por outro lado, o nosso blogue tem uma média de 3 mil visitas por mês... Há um crescente número de pessoas que o visitam, dentro e fora do país...

P - Acha que a reconstituição do quartel de Guiledje e o lançamento de um
turismo ecológico poderiam atrair visitas portuguesas a essas paragens ?


Há uma crescente interesse pela Guiné-Bissau, por parte de uma geração como a minha que fez a guerra colonial e que hoje tem disponibilidade, vontade e poder de compra para ir à Guiné, juntar o útil ao agradável: fazer a sua romagem de saudade, exorcizar os seus fantasmas, visitar os lugares e as gentes que estão na sua memória, reconciliar-se com o passado, evocar os seus mortos, fazer o luto, conhecer o país de hoje, contribuir também para o seu desenvolvimento através de projectos integrados e inovadores como me parece ser este, liderado pelo Pepito e a AD...

segunda-feira, 20 de março de 2006

Guine 63/74 - P625: Projecto Guileje (10): obus 14, procura-se! (Hugo Moura Ferreira)

Guine > Guileje > c. 1970 > Dois militares portugueses, junto ao Obus 140. Segundo informação do Carlos Schwarz (mais conhecido por Peito), fundador e director executivo da AD, esta fotografia do Obus 14 foi-lhe dada por um militar português que lá esteve entre 1970 e e 1971, e qpe pertencia à CCAÇ 2617. É um dos militares que aparece na imagem, de seu nome Abílio Alberto Pimentel da Assunção. A esta companhia seguiu-se a CCAV 8350 (1972/73), a que pertenceu o Fur Mil Op Especiais Carvalho, membro da nossa tertúlia (José Casimiro Carvalho), e que foi a última, a defender Guileje.

Foto gentilmente cedida por © AD - Acção para o Desenvolvimento > Projecto Guileje (2005)


Texto do Hugo Moura Ferreira:

Caros tertulianos, Carlos Schwarz (Pepito), Jorge D. Neto e José Neto:

Como tertuliano que também sou e interessado em tudo o que se relaciona com a nossa Guiné-Bissau, viajo muito para ali através da Net, mas como são tantos os locais relacionados, de certo modo, me perdi.

Parece-me ter lido algures, no que se refere à reabilitação do quartel do Guileje, que algum dos intervenientes teria solicitado informação de alguém que soubesse onde podia existir um Obus 14, para que pudesse ali ser colocado (1).

Depois de ter lido essa solicitação (?), estive uns dias afastado da Net e próximo de um quartel de artilharia. Mais propriamente o do Campo Militar de Sta Margarida.

Ocorrendo-me precisamente o que tinha lido, desloquei-me ali e pedi informações acerca da melhor forma de obter o pretendido. Fui então levado à presença de um Major que, por impossibilidade de me facultar informação objectiva, me colocou em ligação directa com o EME [Estado Maior do Exército].

Fui atendido por um Capitão que me informou, após ouvir as minhas explicações e qual o objectivo que se pretendia, que para se obter o material em questão e outro que porventura fosse necessário (o que, em função da conversa, se me afigurou absolutamente viável), teria que ser dirigido ao Exmº. General Chefe do Estado Maior do Exercito, à atenção do Exmº. Ten-Cor Pimenta Couto, o pedido formal, por quem detenha a responsabilidade da execução do projecto.

Mais me disse que tal pedido poderia ser enviado por correio electrónico para o seguinte endereço: info@mail.exercito.pt.

Espero ter dado alguma ajuda, pois essa foi a intenção.

Abraço.
Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf.Mil.Inf. (1965/1968)
CCaç.1621 e CCaç 6
_____________

Nota do autor:

A CCAÇ 1621, depois de estar em Cufar e Cachil, foi terminar a comissão em Sangonhá (2). Portanto tembém está de certo modo ligada a este projecto. Eu para ali não acompanhei a Companhia porque fui transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª CC) (3)(4).

Notas de L.G.:

(1) Vd post de 16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIX: Projecto Guileje (9): obus 14, precisa-se!

(2) Fica a sul de Gadamael Porto (vd mapa de Cacoca)

(3) Vd post de 22 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)

(4) Vd post de 10 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXVII: Cufar, a Bissalanca do Sul (Moura Ferreira)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P522: Projecto Guileje (9): obus14, precisa-se! (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Guileje > 2006 > O brasão da CCAV 8350 (Os Piratas de Guileje), novinho em folha... 
© AD - Acção para o Desenvolvimento (2006)

Como prometido, o Pepito está cá, em Lisboa. E esteve hoje connosco, pelo menos com o Zé Neto (de manhã, na Fundação Marquês de Valle For) e comigo (à tarde, no meu local de trabalho).

Foi muita gentileza, da parte dele, ter-se deslocado só para me conhecer pessoalmente, dar-me notícias da sua terra (que ele ama com um coração muito grande), falar-me, com entusiasmo contagiante, da menina dos seus olhos - que é o Projecto Guiledje (com dj, como ele gosta que se escreva) - e, ainda, presentear-me com o livro de contos do seu pai, Artur Augusto Silva (Ilha Brava, Cabo Verde, 1912- Bissau, 1983), um homem de leis e de cultura, amante da justiça e da liberdade, já aqui por nós justamente evocado (1). Noutra ocasião, farei a recensão bibliográfica de O Cativeiro dos Bichos, um colectânea de 25 contos, seleccionados pelos seus filhos (Henrique, João e Carlos Schwarz), alguns dos quais escritos na prisão de Caxias, em 1966. O livro acaba de ser editado em Bissau (Fevereiro de 2006, edição de autor).

A conversa, de cerca de 1 hora, que tive com o Pepito (ninguém o conhece por Carlos Schwarz, nem quando foi ministro dos transportes num governo de transicção) só pecou por ser curta... Mas deu para, de imediato, eu fazer mais um amigo guineense...

Bem razão tinha o Zé Neto: vou cometer aqui uma inconfidência - e eventualmente sofrer as consequências da ira do autor da confidência - mas é uma homenagem aos dois, ao Zé Neto e ao Pepito. Escrevia-me há um mês atrás o nosso capitão:

" (...) Eu conheço pessoalmente o Engº Carlos Schwarz da Silva, o nosso Pepito. Passei uma tarde a conversar com ele em casa do nosso amigo comum, Engº António Estácio. Eles foram colegas de infância e condiscípulos, pois o Estácio também é guineense.

"Tenho a pretensão de conhecer o carácter dos homens ao fim de dois dedos de conversa. Não tão cientificamente como tu, profissional do ramo, mas, como dizia o outro, raramente me engano.

"E asseguro-te que o Pepito é do melhor que há. Talvez um pouco sonhador, porque abdica duma vida confortável que poderia gozar cá em Portugal, em troca das mil e uma tarefas que desenvolve na sua querida Guiné em prol do seu povo. É fácil entender que o seu espírito superior choca com certo primitivismo que grassa naquela região, mas não desiste e essa é a qualidade que faz dele um amigo que muito admiro e a quem dispenso a minha modestíssima colaboração sem reticências.

"Quando ele vier, para o mês que vem, vais confirmar o quer te digo" (...).

Só posso subscrever - inteiramente - a opinião do Zé Neto, que é um grande conhecedor da natureza humana. Foi, de facto, um privilégio conhecer, ao vivo, uma pessoa com a qualidade humana do Pepito. Espero que outros tertulianos também possam vir a conhecê-lo, de preferência na nossa querida Guiné, e na companhia do maior número possível de amigos e camaradas...

Guiné-Bissau > Guileje > 2006 > "Laranjada Convento / Mafra / Marca registada"... © AD - Acção para o Desenvolvimento (2006)

Guiné-Bissau > Guileje > 2006 > "Composição: Sumo - Popa e óleo de laranja - Açúcar granulado - Água esterelizada / Corado artificialmente / Fabricado por Francisco Alves & Filho Lda / Venda do Pinheiro" © AD - Acção para o Desenvolvimento (2006)

E agora vamos a um pedido - quiçá um pouco insólito ! - que o Pepito me acabou de fazer, jà quase à despedida: ele precisa de um obus 14, para pôr no seu quartel de Guileje, agora em reconstrução... Algum de vocês sabe de um velho obus 14, para aí abandonado num qualquer ferro-velho da tropa ? Se souberem, digam-nos... Levá-lo até Guileje será outra carga de trabalhos, mas até lá folgam as costas...

O pedido justifica-se: ao que parece, Guileje foi o único quartel das NT bombardeado pelas... NT. Segundo o Pepito, o Spínola terá mandado arrasar tudo, posteriormente à retirada da CCAV 8350.
Nas limpezas e escavações que têm sido feitas, vão-se encontrando objectos do quotidiano dos tugas, alguns curiosos como garrafas de cerveja com o rótulo de papel intacto (!) ou garrafas de sumo de laranja - de um conhecido fabricante de refrigerantes de então, com sede em Venda do Pinheiro, Mafra... Publicam-se duas curiosas imagens de uma garrafa com inscrições pirogravadas... Em suma, isto já é quase arqueologia militar...

Divertidas, para o Pepito, têm sido as manifestações de humor (e de carinho) dos fulas para com os seus antigos aliados, os tugas: ele refere-se às gravações audio que estão a fazer e em que os antigas combatentes fulas, que estiveram do lado das NT, imitam descaradamente os tugas, quando estes estavam debaixo de pressão (na época ainda não se usava o termo stresse...):
- Seus c...! Seus f... da p...!

O Pepito prometeu-me depois mandar alguns excertos dessas gravações audio, reveladoras do superior sentido de humor fula... Ora quem diria! ... Eu, pessoalmente, sempre os achei inteligentes e com grande capacidade para negociar e estabelecer alianças estratégicas. O Pepito também corrobora este ponto de vista: os fulas são orientados para o poder, aliaram-se ao Spínola contra o Amílcar Cabral; e depois ao Luís Cabral, a seguir à independência, contra os balantas... Como diria o Príncipe de Salinas, protagonista do filme O Leopardo (Visconti, 1963), eles eram os leopardos, os leões, enquanto os novos vencedores - que se aliaram ao PAIGC - não passavam de chacais e de hienas... Mesmo assim, eles têm a consciência de que, presas e predadoras, têm de coexistir (mais ou menos pacificamente) naquela terra, que é a sua terra...

O Pepito mostrou-se, por outro lado, deveras impressionado com o que está a acontecer com o nosso blogue e o ritmo de produção das nossas memórias... Eu avancei com uma explicação de vulgata sociológica:

(i) a nossa geração, os machos, têm mais de ou quinze anos de esperança média de vida;

(ii) para muitos de nós, a experiência da guerra colonial terá sido porventura o acontecimento maior, talvez o amis emociante, das nossas vidas cinzentas;

(iii) tivémos a sorte de sobreviver e, ao fim de cinco anos, retomar a marcha do comboio, não contando com os que ficaram precocemente pelo caminho: os mortos, os traumatizados, os inadaptados, os desadaptados, os cacimbados;

(iv) muitos de nós já deixaram a vida activa e sentem o vazio do presente: os filhos que partiram, os netos que só se vêem nos dias festivos, as companheiras que sempre se recusaram a partilhar essa experiência, a guerra, que é uma actividade de machos;

(v) enfim, a memória selectiva do passado, a disponibilidade de tempo, a redescoberta da camaradagem, o apelo dos verdes anos...

O Pepito não dispensa a visualização diária do nosso blogue. Acha que este fenómeno (a vontade de abrir o livro, o baú da memória...) também está a acontecer na Guiné: os antigos combatentes sentem necessidade de falar do passado e passar a escrito (ou ao gravador) as suas memórias... A necessidade de falar da luta, na cidade ou nas matas, com alguém...

Grande parte da memória (escrita) de guerra de libertação, na posse do PAIGC, dos seus militantes e ex-militantes, desapareceu, foi destruída, extraviou-se ou foi parar à... Fundação Mário Soares. Há um sério risco da geração pós-independência ver amputada uma grande parte da memória do seu povo, a luta pela independência, a difícil construção da Guiné-Bissau, a revolução que devorou os seus filhos, a fabricação dos novos mitos, os ajustes de contas, o cinismo pós-revolucionário...

Daí que o Pepito e os seus colaboradores da AD - Acção para o Desenvolvimento estejam afanosamente a gravar depoimentos dos antigos combatentes e habitantes de Guileje... Começaram pelas bases, mais acessíveis e espontâneas... Numa segunda fase, esperam poder entrevistar os dirigentes, os comandantes operacionais, os comissários políticos, quando as defesas psicológicas e as pressões dos pares se começarem a quebrar...

Nós também cá temos esse problema: como diz o Jorge Cabral, há ainda muito boa gente (militar) com culpa e vergonha de ter feito (e perdido) a guerra da Guiné, a começar pelos nossos oficiais superiores... A hierarquia militar não me parece ainda disposta a dar a senha e a contra-senha de acesso aos arquivos militares da guerra colonial...

O que o Pepito e a sua ONG estão a fazer é um trabalho meritório e sobretudo patriótico, com dividendos para o futuro... Não há futuro para um povo que tenha perdido a memória e a identidade. E o tempo urge, porquanto a geração que fez a guerra colonial (ou a guerra de libertação, conforme os lados do campo ou da barricada), está a desaparecer... Mais rapidamente na Guiné, devido à menor esperança média de vida à nascença dos homens guineenses da geração da guerra(2)...

Também falámos da actual situação económica, social e política da Guiné-Bissau. Dos medos e das esperanças que os guineenses sentem em relação ao futuro. Do retorno à pertença e à identidade étnicas, na ausência de um Estado de direito que garanta a protecção e o respeito do indivíduo e da sua família... Dos terríveis acontecimentos de 1998, que levaram o Pepito e a família a refugiar-se em Cabo Verde, terra de seu pai... E do doloroso regresso a Bissau, um ano e tal depois, o retorno à casa completamente pilhada, violada, destruída... Os livros, as fotografias, as memórias de uma vida... O que é espantoso é ouvir este homem, que é um profissional do optimismo, contar isto sem ódio, sem ressentimento, sem rancor, qause sem mágoa... Tem vindo a recuperar algumas coisas, com emoção: uns negativos, umas cartas, uns livros... E isso é suficiente para lhe dar alento...

Para além das suas obrigações como deputado (independente, creio eu), o que mais lhe dá gozo é viajar de jipe - apesar dos problemas de coluna de que já sofre, em consequência dos milhares de quilómetros feitos através das picadas da Guiné... E estar no sul, em Guileje, com os seus amigos e vizinhos... A Mata do Cantanhez, o futuro Parque Transfronteiriço do Cantanhez, é um espanto, com riquíssima fora e fauna - onde se incluem elefantes ! - e, felizmente, ainda ao abrigo, devido ao seu isolamento, dos apetites vorazes da clique político-militar no poder em Bissau e em Conacri...
Last but not the least, o Pepito também gostaria de ter contactos com todas as companhias que passaram por Guileje e, se possível, ter acesso a uma resumo da sua actividade operacional na região. Não creio que isso seja difícil de conseguir... Mais difícil será desencantar o raio do obus 14!...
__________

Notas de L.G.

(1) pots de 16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

"(...) Envio-te um conto de Natal, escrito por meu pai, Artur Augusto Silva que nasceu na Ilha da Brava, em Cabo Verde, e que foi advogado na Guiné-Bissau desde 1948, tendo defendido os presos políticos do PAIGC, em 61 julgamentos, um dos quais com 23 réus tendo tido apenas duas condenações.

"Em 1966, a mando do governador Arnaldo Schultz, foi preso pela Pide, no aeroporto de Lisboa, quando vinha de férias tendo ficado cinco meses na prisão de Caxias. Quando foi libertado, proibiram-no de regressar à Guiné e fixaram-lhe residência em Lisboa.

"Em 1976, quando me veio visitar a Bissau, o então Presidente Luís Cabral convidou-o a trabalhar como juiz do Supremo Tribunal de Justiça, tendo também leccionado Direito Consuetudinário na Escola de Direito de Bissau desde que ela foi criada e até a 1983, quando faleceu" (...).

(2) No âmbito do Projecto Guiledje, são consideradas acções prioritárias, entre outras, a recolha de documentos históricos, e nomeadamente:
(i) fazer entrevistas e tirar fotografias a testemunhas do tempo de guerra, recorrendo às rádios locais e à televisão comunitária, e pedindo o apoio a pessoas que possam identificar com facilidade testemunhas que viveram a batalha de Guileje;
(ii) criar um banco de fotografias com os marcos e as referências de guerra que ainda existam no antigo aquartelamento de Guileje;
(iii) recolher registo em suporte de papel, digital ou audivisual, com interesse documental sobre a época;
(iv) recolher canções de luta, em especial as referentes a Guileje, e editá-las para conservação em CD-ROM...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P349: Guileje, terra de fé e de coragem


Guiné> Guileje > Capela existente no tempo da CART 1613 (Junho de 1967/Maio de 1968).

Foto de José Neto, capitão reformado, cedida à AD - Acção para o Desenvolvimento, e enviada à nossa tertúlia pelo Pepito (2005).

Amigos & camaradas:

Chegam-nos novos documentos sobre o mítico aquartelamento de Guileje que, já no meu tempo (1969/71), na zona leste, era cantado pelos nossos soldados, a par de Gadamael... Contavam-se estórias, reais ou imaginárias, de fé e de coragem, dos nossos camaradas que aguentavam a frente sul... É pena terem-se perdido as letras dessas canções e o teor dos boatos e das notícias que nos chegavam, a Bissau, a Bambadinca, a Bafatá.

Guiné-Bissau > Guileje > 2004.
Restos de uma lápide, que pertencia à capela do aquartelamento, e onde se faz referência aos gringos açorianos (CCAÇ 3477, Dez 1971/Dez 1972; ou CCAV 8350, Dez 1972/Mai 1973 ?).

"Santo Cristo dos Milagres
Nesta capelinha oramos
Para sempre sorte dares
Aos Gringos Açorianos"

© Francisco Allen (2005)

O Albano Costa, que esteve no norte, em Guidage, mandou-nos fotos do sul, de Guileje:

"Aqui vão mais umas fotos com a devida autorização do autor, foram tiradas em 2004, aquando de mais uma ida, entre muitas, à Guiné pelo nosso amigo Francisco Allen, espero que sejam úteis para a reconstrução do destacamento".

Guiné > Guileje > 2004 > Restos de granadas de obus 14 cm

© Francisco Allen (2005)

O Francisco Allen é amigo do Albano e, pelo que sei, é fã da Guiné-Bissau. Pertenceu à CCAÇ 2381 (Empada, 1968/70). Publicamos hoje algumas das fotos que ele nos mandou, por intermédio do Albano. Faço votos para que ele aceite a minha proposta para percenter à nossa tertúlia, proposta essa que lhe dirigi através do Albano.

O Pepito, por sua vez, envia-nos "uma foto com uma nova placa que desenterrámos junto à antiga capela", a par de "uma foto do Capitão Zé Neto, com a capela [de Guiledje] ainda inteira"... Recorde-se que a unidade do Zé Neto, na altura, 2ºsargento, era a CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968).

Guiné > Guileje > 2005 > Lápide encontrada sob os escombros do antigo aquartelamento, e que pertencia à capelinha. Nela há os seguintes dizeres, gravados:

"A Ti, Deus Único E Senhor
Da Terra, Oferecemos Estas
Gotas De Suor Que Nos
Sobrararam da Luta Pela
Tua Palavra Eterna.
Soldados da C.A.R.T. 1613"

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Sobre este famosa lápide acrescenta o Zé Neto, nosso camarada de tertúlia e protagonista deste filme: "A placa da Capela foi feita em cimento forte e não em cobre. A dedicatória é minha e a inscrição em baixo-relevo foi obra do Furriel Miliciano de Transmissões Maurício Mota de Almeida, natural de Fornos de Algodres, mas radicado há muito nos EUA. Este moço veio de propósito a Portugal para estar presente no Almoço/Convívio da CART 1613 que teve lugar em Braga no passado dia 3 de Junho. Aliás é com muito orgulho que acrescento que dos meus 14 "excepcionais Furriéis" compareceram 12 (um falececeu há pouco), portanto só faltou um".

Ao ver estas novas fotos, fico na dúvida sobre quem eram, afinal, os gringos açorianos. A CCAV 8356, a companhia açoriana que lá estava em Maio de 1973, e que o comandante do COP 5, Major Coutinho e Lima, mandou evacuar para Gadamael, também era conhecida por "Piratas de Guileje". E o seu lema, que ficou gravado na pedra, era ironicamente: "Glória com Valor"...

Guiné > Guileje > 2005 > Monumento evocativo da CCAV 8356 (72/74) - "Piratas de Guileje"

© Francisco Allen (2005)

Estes homens, que foram obrigados a retirar de Guileje, sob o feroz cerco dos guerrilheiros do PAIGC, ainda transportam consigo o opróbio do abandono e da derrota...

Como é que eles sobreviveram a isto ? Não sei, um dia gostaria de ouvir o testemunho do valoroso combatente que foi o Casimiro Carvalho, ex-furriel miliciano "ranger", desta unidade, trazido a esta tertúlia pela mão de outro "ranger", o Magalhães Ribeiro (1)...

Também não sei como terão sidos os últimos destes valorosos acorianos, em Gadamael. Sabemos que tiveram 9 mortos e muitos feridos.

O Pepipo já identificou, até agora, muitos sítios, tais como (da esquerda para a direita): (i) abrigo subterrâneo da população; (ii) casa de fotos (?); (iii) paiol; (iv) gerador; (v) posto de sentinela; (vi) casa de sargentos (?) / geral; (vii) messe de sargentos/residência; (viii) messe de oficiais / residência; (ix) posto de socorros; (x) capela; (xi) administração (?); (xii) refeitório de soldados / cozinha


Guiné - Bissau > Guileje > 2005 >

Projecto de reconstrução do antigo aquartelamento (2)


O Pepito diz-me que, se tudo correr bem, estamos todos convidados para ir inauguar o seu projecto de ecoturismo e de museologia daqui a um ano. E se lá formos, todos ou alguns de nós, iremos certamente prestar uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de ouro, que em Guileje foram um exemplo de fé e de coragem: fé e confiança nos valores por que lutavam; coragem e valor nas acções em que estiveram empenhados...
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(1) Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)

(2) Vd. post de 10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLV: Projecto Guileje (7): recuperação do quartel