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terça-feira, 29 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26741: Notas de leitura (1793): Um Trajeto de Vida, por Rui Sérgio; 5 Livros, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Há um bom par de anos, ao fazer determinada recensão, deplorei a imensidade de gralhas, no mínimo três por página, e ainda por cima a história era um tanto mirabolante e com dados etnográficos e etnológicos longe da verosimilhança. Caiu-me o Carmo e a Trindade, não se devem fazer reparos tais em ambiente de camaradagem, como se o trabalho da recensão fosse obra de amiguismos, nada de pôr a má literatura pelas ruas da amargura, havia que dourar a pílula. 

Aprendi com a lição, e com estes dois livros do Dr. Rui Sérgio o que posso dizer é que me surpreendeu que no meu tempo (1968/1970) ia-se a Galomaro de jipe entregar coisas e seguia-se para Bafatá para levantar o correio, era uma estopada, mas era tudo tomado como o recreio; a retirada de Madina do Boé deu imensa força ao PAIGC, e toda aquela região do Cossé, Badora e Duas Fontes tornou-se um vespeiro, a guerrilha atravessou o Corubal, inevitavelmente houve que fazer um forte investimento militar, Galomaro passou a ser sede de um batalhão, formaram-se pelotões de milícias para evitar mais desastres, a guerrilha destruía as tabancas Fulas. 

Nesse sentido, revela-se muito útil ver estas imagens que Rui Sérgio dá à estampa a propósito da sua estadia em Galomaro. Quanto a um trajeto de vida, limito-me a contar a história, não falo em nenhum pesadelo de gralhas nem na linguagem grosseira usada com os oficiais do quadro permanente que estiveram na Guiné.

Um abraço do
Mário



Rui Sérgio, médico em Galomaro, romancista com memórias guineenses

Mário Beja Santos

Graças ao apoio que me é dado pela Biblioteca da Liga dos Combatentes em Lisboa, tive acesso a duas obras de Rui Sérgio [foto à direita], aviso que há mais livros, todos eles publicados pela 5 Livros, no Porto. 

Começando por o livro mais recente, editado no início de 2023, ficamos a saber que este alferes miliciano médico estacionou sobretudo em Galomaro, então denominado setor L5, apoiou o BCAÇ 3872 e o BCAÇ 4518. 

A obra é fundamentalmente um álbum fotográfico, o autor não deixa de aludir à africanização da guerra, era no seu posto médico que se preparavam as unidades africanas para aprenderem a prestar os primeiros socorros. “Tinham todos de saber fazer um penso oclusivo, uma ligadura ou penso compressivo, um torniquete, um membro superior ou inferior, para impedir a sangria por feridas perfurantes, uma manápula, uma imobilização da tibiotársica. Saber injetar intramuscularmente substâncias farmacêuticas.” 

Seguem-se imagens associadas à reconstrução de aldeias, à atividade dos pelotões milícias na região de Galomaro, curso de primeiros socorros; e depois um conjunto apreciável de instantâneos sobre gente com quem Rui Sérgio conviveu, sobre a vida do quotidiano em Galomaro, imagens de lavadeiras, colunas de abastecimento, bem como imagens isoladas de Bagancia-Duas Fontes, Cancolim, Saltinho, Xitole e Dulombi.

O romance Um Trajeto de Vida foi publicado em finais de 2021, vamos ficar a saber que há um jovem que aos 24 anos tirou o seu curso superior de Medicina na Universidade do Porto com altas classificações, o autor dá-nos o retrato do Dr. Penedo Couto: 

“Nem gordo, nem magro, nem alto nem baixo, bem parecido, encafuado numas calças boca-de-sino, com um blazer de cor azul marinho de botões dourados e de trespasse sobre a camisa de riscas, com colarinho de bicos, com nó de gravata monocromática azul petróleo, envolvendo um pescoço de colo curto, segurando uma cabeça de testa alta, rosto redondo de lábios rasgados e mordisqueiros, com olhos castanhos-vivos e brilhantes a encimar uma face bem escanhoada, dividida por um nariz bem centrado de perfil helénico que confere uma harmonia estética que dá nas vistas.” 

Chama-se Rodrigo. É-nos apresentada a família, de posses, há motorista e há Jaguar, a criada de quartos é doida por este menino, ele tem uma irmã. O pai trabalha numa import-export. Há viagens, a gastronomia é farta e variada. Rodrigo irá conhecer Soraia Cruz, aluna das Belas Artes do Porto, seguem-se amores arrebatados em Paris, tiro e queda, há uma passeata por Londres, regresso a Paris, confirma-se uma atração sem limites, já estão no Porto, embora venham de famílias nitidamente conservadoras, resolvem viver juntos, a menina está grávida, o Rodrigo tem um internato exigente, nasce uma filha daquela paixão assolapada, a Bruna, em 10 de junho de 1971.

No Natal o Rodrigo recebe a convocatória para o serviço militar, soldado-cadete em Mafra, Rodrigo aproveita para dizer que Portugal era governado na altura em que começou a guerra por um líder de grande craveira e com um jogo de cintura e maleabilidade a todos os títulos invejáveis. Portugal era respeitado em qualquer parte do mundo e a nossa moeda muito apreciada. 

Finda a recruta fez a especialidade no Hospital da Estrela e na Escola de Saúde Militar em Lisboa. Numa tentativa pedagógica, com a preocupação de inserir o leitor sobre as doenças tropicais, vai falar-nos da Guiné e do centro de deteção de doenças parasitárias, segue de avião para Bissau, abre-se a porta do avião e é um calor de estufa, apresenta-se ao chefe de serviço de saúde civil. Ficamos a saber qual a atividade deste alferes miliciano médico. 

“O meu trabalho consistia em pesquisar em lâminas, da picada de sangue de militares, a maioria de regresso à metrópole, de manifestações palúdicas no cumprimento do serviço militar obrigatório.”

Fala-nos da cidade, não faltarão as comezainas, muitas ostras, militares por toda a parte. E o Rodrigo cheio de saudades da Soraia e da Bruna, dos pais, da irmã, das tias e dos amigos. Procura esclarecer-se sobre aquela guerra, diz ele orquestrada por países de Leste, Cuba e também pela Suécia. 

Rodrigo arranjou habitação, Binta fazia a limpeza da casa, iremos saber que se tinha perdido de amores por um soldado metropolitano, o João Madeira morreu mas deixou a Binta grávida. Havia um jardineiro, o Braima, e passou a ser importante na vida do Rodrigo o Joãozinho, o filho da Binta. Habituou-se às chuvas tropicais, à praga de gafanhotos, à multiplicidade de cores, cheiros e pregões.

O chefe dos serviços de saúde civil apresentou ao general Spínola o plano de deteção de doenças tropicais a quatro batalhões de regresso à metrópole, havia que ir a Teixeira Pinto, Bolama, Bambadinca e Nova Lamego, as primeiras correram muito bem, seguiram do Xime para Bambadinca e a 30 km de Nova Lamego houve emboscada. 

Enquanto faz o seu trabalho no Leste, Rodrigo cogita sobre as crueldades e os horrores da guerra, como é que é possível haver gente a instigar as guerras, como é que ele podia acreditar em gente cuja ideologia era fomentar guerras? As ideologias marxistas eram as principais fomentadoras da guerrilha, chineses, checos e russos fomentavam todo o tipo de atrocidades, os outros países não reagiam, havia muita gente interessada em vir comer os despojos. 

E regressa a Bissau, a Soraia vem visitar o seu apaixonado, o pai de Rodrigo também vem, seguem-se as preocupações de regularizar a situação do Joãozinho, legalizou-se a Binta Camará, o passo seguinte seria o pedido da pensão de sangue para o Joãozinho. Depois o casal e o pai de Rodrigo viajaram até aos Bijagós, o médico ia fazer a sua itinerância de saúde civil a Bubaque, foram umas férias deliciosas, mais comezaina com ostras fresquíssimas, presunto fatiado, não falta farinheira de Arganil e linguiça.

A guerra recrudescia, chegaram os mísseis terra-ar, surgiu a guerrilha urbana, isto é, estoirou uma bomba na esplanada de um restaurante em Bissau. Começaram os planos para levar a Binta Camará e o Joãozinho para a metrópole. Entretanto, estava em formação o Movimento dos Capitães, o autor fala numa tremenda rivalidade entre os milicianos que iriam fazer parte de um quadro especial de oficiais e os meninos da Academia, onde não faltavam os oficiais do ar condicionado, são tratados por cagarolas e traidores ao juramento que tinham feito para com a pátria. O autor informa que em Bissau se liam capítulos de um livro que o general Spínola tinha em preparação, onde se preconizava uma saída política para acabar com a guerra.

A família de Rodrigo regressa a Lisboa, o pai de Rodrigo viaja até à Madeira para falar com os pais do falecido João Madeira e dá-lhes a saber que há um neto e há a Binta Camará, mais comezaina, o casal madeirense houve a história com os olhos marejados de lágrimas, depois sentam-se todos à mesa e temos a lista do ágape: espetada de vitela em pau de louro, acompanhada de batata-doce e rodelas de ananás e banana frita, depois doce de maracujá e tudo regado com vinho maduro tinto do Douro.

A guerra toma nova dimensão, agudiza-se com os acontecimentos de Guidaje, Guileje e Gadamael. Na varanda da casa de Rodrigo discute-se o futuro da Guiné, ficamos a saber que os meninos da Academia Militar eram na sua maioria uns esquerdalhos. Rodrigo vem de férias em Agosto de 1973, os oficiais do quadro permanente já estão a movimentar-se, Soraia está novamente grávida, Rodrigo, em Bissau, fica a saber que Mariama, a substituta de Binta, gosta de Braima e Braima gosta de Mariama, haverá um final feliz para esta história. 

Rodrigo volta a fazer uma itinerância militar em Bafatá a fim de rastrear um batalhão que regressava à metrópole. Depois a vida volta ao normal e na varanda da casa dele discute-se o futuro da Guiné com outros personagens. O Rodrigo vai ser evacuado com uma hepatite. Virá o 25 de Abril, Rodrigo e família não se entendem com aquela revolução e toma-se a decisão de Rodrigo se ir especializar m oncologia hematológica e transplantes medulares num hospital parisiense.

E finda aqui a história.


Rápidos de Cusselinta, rio Corubal
O posto médico de Galomaro
Uma coluna de abastecimento ao Xitole
O médico Rui Sérgio no seu quarto em Galomaro

Cinco imagens tiradas do livro Para memória futura, Guiné 1973-1974, 2023
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Nota do editor

Último post da série de 25 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26726: Notas de leitura (1792): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: As turbulentas duas primeiras décadas na Guiné, ainda é difícil falar dela como colónia (6) – 2 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22900: Tabanca Grande (530): José Carlos Rocha da Silva, ex-Fur Mil Inf da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73 (Dulombi e Nova Lamego, 1974) que se senta no lugar 857 da nossa tertúlia

1. Mensagem enviada ao nosso camarada e novo tertuliano José Carlos Rocha da Silva (foto à direita), ex-Fur Mil Inf da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, (Dulombi e Nova Lamego, 1974), em resposta a uma mensagem sua deixada no Formulário do Blogger:

Caro camarada de armas José Carlos:

Muito obrigado pelo teu contacto.

Teremos o maior gosto em receber-te na nossa Tabanca Grande onde reservamos desde já um lugar bem à sombra do nosso poilão sagrado.
Manda-nos por favor uma foto actual e outra dos tempos de Guiné assim como nos diz qual foi a tua especialidade e os locais por onde andaste, tanto quanto sei a companhia foi desmembrada em pelotões.

Já que pertences à geração do fim da guerra, poderás contar-nos a tua experiência de contacto com o ex-IN na fase de entabulamento de conversações e entrega de aquartelamentos.
Se tiveres fotos, também serão bem-vindas. Digitaliza-as e envia-nos acompanhadas das respectivas legendas que, se possível, deverão indicar os locais, datas e fotografados.

Contamos com a tua colaboração já que da tua Companhia nada sabemos. Manda as tuas coisa para este meu endereço e para o do editor Luís Graça (luis.graca.prof@gmail.com).
Para saberes o que temos sobre o teu Batalhão, acede a este marcador:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/BCA%C3%87%204518

Ficamos a aguardar o teu novo contacto.
Segue um abraço em nome da tertúlia e dos editores
Carlos Vinhal


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2. No mesmo dia recebemos esta resposta do José Carlos:

Chamo-me José Carlos Rocha da Silva, nascido na freguesia de Lagoa, concelho de Vila Nova de Famalicão, a 19 de Março de 1952.

Fui incorporado a 22 de Janeiro de 73, no RI 5.

De Abril de 73 a Junho do mesmo ano, frequentei o curso de Sargentos Milicianos no CISMI, especialidade de atirador de infantaria.

De Julho a Setembro de 73 estive no RI 8, em Braga, a ministrar uma recruta.

Em Setembro de 73 fui para o RI 15, em Tomar, onde formei o Batalhão 4518.

Em 29 de Dezembro de 73 embarquei no navio NIASSA, com destino à Guiné. Aqui, inicialmente o batalhão foi para a ilha de Bolama, onde tivemos a formação do IAO. Depois a CCS ficou em Galomaro e a nossa companhia, a 1.ª do batalhão, foi colocada em Dulombi.

Em Março de 74 o quartel do Dulombi foi abandonado e a nossa companhia passou a companhia de intervenção da CAOP 2, em Nova Lamego, donde regressámos em Setembro de 74.


José Carlos Silva, "hoje"
José Carlos Silva, "ontem"
Um momento de lazer na piscina de Bolama
À porta de armas do quartel de Nova Lamego
O momento da entrega de um dos nossos quarteis a elementos do PAIGC
As lavadeiras na bolanha de Nova Lamego

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3. Comentário do editor:

Caro camarada de armas e amigo José Carlos, estás apresentado formalmente à tertúlia. És mais um antigo combatente da Guiné a engrossar as fileiras do nosso Blogue, no ano passado muito desfalcado por motivo do falecimento de alguns dos nossos companheiros que nos acompanhavam há anos.

Como te disse já, a tua 1.ª CCAÇ não estava representada na Tabanca Grande, logo cabe-te a responsabilidade de construir a sua história aqui.

Vai-nos mandando as tuas memórias e as tuas fotos, que nesta página ficarão para memória futura. Cabe-nos a responsabilidade de contarmos nós a história da guerra vivemos na primeira pessoa, antes que outros, que nunca lá estiveram, o façam por nós.

Ficas com o lugar 857 da nossa tertúlia, igualzinho a todos os outros porque aqui não se destaca ninguém, seja pelo posto militar, formação académica ou profissão. O teu nome, José Carlos Silva, passa agora a constar na badana do blogue, a coluna estática do lado esquerd
o: Vê em dos TABANCA GRANDE - LISTA ALFABÉTICA DOS 857 AMIGOS & CAMARADAS DA GUINÉ, na secção dos Josés (que são, contigo, 83).

Deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores e colaboradores permanentes deste Blogue.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"


Foto nº 1 


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto  nº 2B

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem esquerda (do lado de Finete e Missirá)...

Parece que a grua do nosso tempo (novembro de 1969, a autogrua Galion)  terá sido substituída (?)... Ou então não aparece na foto... È possível que, com o aumento do tráfego fluvial, o porto de Bambadinca se tenha modernizadio em  termos de equipamentos... A grua, com cabine, era mais potente que a Galion (?)... Pelo menos parece ter um braço maior....


Foto nº 2 C


Foto nº 2 D

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem direita

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do extenso e valioso álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, com família do lado materno na Lourinhã (Miragaia e Marteleira), hoje bancário aposentado, cicloturista, o Luís Mourato Oliveira esteve na Guiné, em rendição individual de 1972 1974. Foi, portanto, um dos últimos "guerreiros do Império"... 

Foi, seguramente, o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão em agosto de 1974. Também visitava Bambadinca (a cujo batalhão estava adido) e Fá Mandinga e dava a devida importância aos convívios (entre militares e entre estes e a população).

Em meados de 1973 (por volta de julho), o Luís Mourtao Oliveira veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, para fazer formação específica antes de ir comandar, em agosto, o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá, subunidade que era composto maioritariamente por fulas. Enfim, terras que vários de  nós conheceram bem, do "alfero Cabral" ao Beja Santos, do Joaquim Mexia Alves ao Henrique Matos.

Recorde-se que a missão principal do destacamento do Mato Cão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. As condições de alojamento e segurança eram precárias.

Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime.

O Luís Mourato Oliveira conheceu os dois últimos batalhões de Bambadinca, o BART 3973 (1972/74) e o BCAÇ 4518/73 (que "fechou  a guerra").

Pelas fotos acima publicadas, fica-se com uma ideia da dimensão (e importância) do porto fluvial de Bambadinca que, a par do Xime, era o grande porto de entrada de abastecimentos do leste. O porto fluvial de Bambadinca eram sobretudo demandado pelas embarcações civis, fretadas pela Intendência. Os lendários e heróicos "barcos turras", como a tropa lhes chamava, que tinham passar por pontos sensíveis como a Ponta Varela e o Mato Cão, no Geba Estreito... . Na foto nº 2C são visíveis as amplas instalações (armazéns) do pelotão de intendência de Bambadinca.

Ao Xime aportavam sobretudo as LDG (Lanchas de Desembarque Grande) com homens e material (incluindo viaturas, armamento, equiamentos mais pesados, etc.) que depois seguiam a estrada (alcatroada) do leste que, no final da guerra, ia praticamente até à fronteira com a Guiné-Conacri: Xime, Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche, Buruntuma...
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Nota do editor:

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16175: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (102): no convívio deste ano, do pessoal do BCAÇ 3872, quem é que eu vou reencontrar? O meu antecessor, o hoje ilustre prof Pereira Coelho, bem como o Ussumane Baldé que estagiou comigo quando eu era subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)


Convíívio do pessoal do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > O momento do reencontro dos dois grandes médicos do batalhão de Galomaro... Entre os dois o ex-alf mil trms Mário Vasconcelos


Os drs,  Pereira Coelho e Rui Vieira Coelho, mais o  Juvenal Amado

Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2016). Todos os direitos reservados

1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-almil méd,  BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74):

Assunto - Libaneses

Luís, uma vez questionaste se havia Libaneses nas regiões em que estávamos aquartelados.

Em Galomaro eu sabia que sim, só que não me recordava do nome. Um estabelecimento que vendia de tudo, era do Sr Antoine Faran que vivia com a sua esposa, dois filhos e com o seu pai que se chamava Zamir Faran. 

Foi num convívio do Batalhão 3872, há pouco mais de 3 semanas,  que eu vim a tomar conhecimento daquilo que me parecia já esquecido.

Reencontrei o meu antecessor,  o Professor Pereira Coelho que já não via há cerca de 42 anos e que me emocionou bastante. Voltar a abraçar o percursor em Portugal da inseminação artificial deu ao encontro uma grandeza ainda maior

No meio disto tudo o Prof Pereira Coelho vinha acompanhado do Sr. Ussumane Baldé, que estagiou no Posto de Saúde Militar e na Saúde Civil onde eu era Sub-Delegado de Saúde da Zona de Galomaro- Cossé. 

 O Ussumane Baldé [, foto à esquerda,] mora na Praceta Henrique Pausao n 7,  4 E, 2745-123 Queluz Monte Abraão, mas ainda não apurei o que faz ou que necessidades eventualmente possa ter. 

Foi realmente um reencontro memorável e cheio de afectos, recordações de tempos conturbados mas com a certeza do acreditar numa Lusofonia que nos trouxe ensinamentos e amizades que se irão perdurar cosmicamente para todo o sempre.

O meu relato do encontro do Batalhão serve para responder a várias interrogações e tornar a Tabanca Grande cada vez Maior.

Um abraço do
Rui Vieira Coelho
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Notas do editor:

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14738: Os nossos médicos (85): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (15): Africanização Portuguesa

1. O nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74) enviou-nos a mensagem que se publica, com mais um texto de Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho [foto à esquerda], (ex-Alf Mil Médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74).

Como se uma ordem fosse, encaminho, retransmitindo, o texto entregue pelo ilustre amigo e camarada Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Médico, dos BCAÇ 3872 e 4518, sediados em tempos idos, em Galomaro-Guiné.

O texto aborda a problemática da "Africanização do Exército Português no CTIG".
Adicionam-se algumas fotos em sintonia com o escrito recebido.

Abraço e saudações nossas para todos os camaradas.
Que a saúde, e a alegria de vida, sempre vos acompanhe.
Mário Vasconcelos




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Notas do editor:

- As fotos referidas chegaram ao blogue sem o mínimo de qualidade para serem publicadas. Aguarda-se o envio de outras em substituição.

Último poste da série de 22 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13782: Os nossos médicos (84): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): Onde se fala de doenças sexualmente transmissíveis (con destaque para a blenorragia) mas também de perturbações psíquicas como a depressão e o stresse pós-traumático de guerra

domingo, 13 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12977: Os nossos médicos (76): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (9): O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 7 de Abril de 2014:

Como habitualmente venho procedendo, junto o texto enviado pelo nosso Tabanqueiro n.º 624 - Rui Vieira Coelho, ex Alf. Mil. méd. do BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, sediados, que foram, em Galomaro - Guiné.
Ele, e eu, formulamos votos de boa recuperação para o camarigo Luís Graça e de amizade para todos em geral.

Um alfa-bravo para todos.
Mário Vasconcelos


MEMÓRIAS DO DR. RUI VIEIRA COELHO

9 - Fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

Rui Vieira Coelho

Costumo dizer aos meus doentes deprimidos, aflitos com o desemprego e a resseção económica, com a desintegração social e familiar e que dizem estar "no fundo do poço", pois olhe que eu já passei por situações muito piores quando estive na guerra da Guiné e depois de ter estado no Inferno, tudo aqui me parece o Céu.
Depois enumero algumas situações dramáticas por que passei e que assisti no teatro de guerra e a seguir começam a sentir que os problemas por que estão a passar, não serão tão graves, comparados com as descrições que eu lhes fiz.
Por fim é necessário, após acalmarem, enumerar soluções para os seus problemas de uma maneira prática, enlevando -lhes a auto-estima, o sentido de humor e a esperança de tempos melhores que por certo acabarão por vir, não deixando de afirmar sempre o apoio, o "ombro amigo" a disponibilidade de saber ouvir e o "tempo ao dispor".

Na Tabanca dos Melros, a recordação dos tempos bons e maus da Guiné, as conversas entre nós servem de terapia e de divisão de problemas antigos de lá trazidos, as saudades de locais e gente boa que conhecemos, e para as quais algumas não há retorno, como o meu amigo Tenente Jamanca, comandante (comando africano) da CCaç 21 de Bambadinca, injustamente fuzilado e que tantas vezes nos protegeu as costas em operações quer em Galomaro, Dulombi, Cancolim e Saltinho.

O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos", que iludiram dizendo que estes iriam constituir a Tropa de Elite do Novo País agora libertado. 
Ouvi isso mesmo já em Bissau quando estava de urgência no Hospital Civil, hoje denominado de Simão Mendes, no período de transição e de viva-voz do Tenente Justo e do Capitão Saiegh, que acompanhavam o Dr Bualdi, responsável pela Saúde do novo País (angolano e era casado com a Dra Niquita Bualdi que estava nomeada para Comissionária da Educação) e que veio reunir com os médicos sediados em Bissau, pedindo para ficarmos mais algum tempo, dizendo que tínhamos um dever histórico para com o Povo da Guiné.

O Tenente João Bacar Djaló rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos.

A maior parte de nós recusou o "convite" pois não estávamos em condições psíquicas, no fim da comissão de permanecer no território até à reorganização dois serviços de saúde.
Lembro-me de dizer ao Capitão Saiegh e ao Tenente Justo, que se fosse a eles, viria para a Metrópole, pois não me acreditava na ilusão criada pelo PAIGC e abarcaria com ambas as mãos a oferta de integração plena no Exército Português. Foi a última vez que os vi.

Posteriormente já cá, soube das atrocidades contra todos eles cometidas. A todos os massacrados do Batalhão de Comandos Africanos curvo-me com todo o respeito e rezo à minha maneira.

O Inferno que vos criaram, trará o CÉU para todos vós.  
Benditos sejam.

RVC
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12955: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (19): Na guerra colonial, Guiné, numa aldeia do fim do mundo chamada Cancolin (Manuel Vitorino)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vitorino*, Jornalista, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74, com data de 24 de Março de 2014:

Amigo Luís Graça, boa noite
Não resisti à frase do Baptista-Bastos "Onde estavas no 25 de Abril?" - E escrevi uma crónica.
Há 40 anos permanecia na Guiné como furriel miliciano de Infantaria (Minas e Armadilhas). Hoje sou jornalista.
Aqui vai crónica.

Abraço
MV


ONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL? 

Manuel Vitorino 
Jornalista

Vista aérea do aquartelamento de Cancolim

Foto: © Rui Baptista (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: CV]

Há 40 anos estava na guerra colonial, Guiné-Bissau, numa aldeia do fim do mundo, em Cancolim, longe de Bafatá.
Quando a madrugada mais luminosa aconteceu já levava várias operações no mato, quilómetros de caminhadas por entre trilhos de floresta sempre à espera de um balázio, uma mina debaixo da árvore, um ataque do PAIGC.
Aparentemente, no país dos “coronéis de lápis azul” o Fascismo estava para lavar e durar.
Não existiam mortos nem feridos. Antes “baixas em combate”, notícias a uma coluna de jornal.

Até ao 25 de Abril vivia num país de partido único, salazarento, cinzentão, liberdades vigiadas por legionários e pides.
Dizer mal do António de Santa Comba Dão só em voz baixa. O delator tanto podia ser o vizinho “bufo” como o colega de trabalho.
Ler o Avante dava direito à perda de emprego.
Distribuir um panfleto de apoio aos presos políticos à prisão. Tudo era literalmente proibido. Até um beijo na rua.

Naquela manhã do dia 25 de Abril acordei cedo e a telefonia só transmitia marchas militares, notícias sobre um “golpe de Estado” em Portugal feito por militares. “Aqui posto de comando das Forças Armadas” ouvi vezes sem conta a par de siglas únicas e inimagináveis: “MFA”, “O Povo Unido….”

Estou em África, no meio do nada, fico inquieto, ansioso. Já só queria aterrar em Lisboa, viver dia e noite, fazer parte da História. Sintonizo a Emissora Nacional, depois a BBC, mais a Deutsche Welle, a Voz da Alemanha e nas várias estações oiço sons de gente sedenta de Liberdade, reportagens de multidões nas ruas de Lisboa e do Porto, exigências de “Libertação dos Presos Políticos” e “Abaixo a guerra colonial”

Subitamente, o país está em catarse colectiva, em festa. E fico colado à rádio de todas as ondas hertzianas. Pelo microfone de um repórter estimado, Adelino Gomes oiço as primeiras declarações do capitão Salgueiro Maia, o mais generoso de todos aqueles que ousaram restituíram o país à dignidade, retenho gritos de Liberdade, o cerco ao quartel do Carmo – onde Tomás e Marcelo se refugiam antes do exílio dourado para a Madeira e depois o Brasil - a chegada de Spínola ao palco dos acontecimentos.
E digo com os meus botões: “A Guerra Acabou”.

E assim aconteceu. A 2.ª companhia do BCAÇ 4518 ainda fez mais duas ou três incursões pelo mato, mas poucos dias depois da “Revolução dos Cravos” uma coluna de “temíveis guerrilheiros” do PAIGC ultrapassou o arame farpado e veio fraternalmente ao nosso encontro.
E por magia tanto as Kalashnikov como as G3 calaram-se de vez.

No quartel o tempo foi vivido em festa, emoções e lágrimas. Abraços calorosos e confidências.
“Nós sabíamos quem vocês eram e o que faziam em Cancolim”, disse-me um combatente das tropas de Amílcar Cabral. Depois das cervejas, decidimos continuar a conversa pela noite dentro, trocar de farda e emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol.
A minha competição foi outra.
A guerra da Guiné só podia ser ganha pelo PAIGC.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 10 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12425: O nosso livro de visitas (171): Manuel Vitorino, ex-Fur Mil do BCAÇ 4518 (Cancolim, 1973/74)

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11511: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (18): Canquelifá, Pirada, Bissau, Gadamael (Carlos Costa, Carlos Ferreira, Mário Serra Oliveira, C. Martins)

Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2014, o nosso tertuliano Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), mandou-nos mais uma memória dos tempos em que exerceu medicina na Guiné:


COLEGAS MEUS

Braima era ferreiro, curandeiro, feiticeiro de Galomaro, a quem eu jocosa e pomposamente chamava de "Meu Colega", já que ambos procurávamos tratar das maleitas dos doentes, com armas diferentes e processos também .
As mésinhas, beberagens, infusões e rezas eram as alternativas aos processos médicos clássicos e à terapêutica medicamentosa e cirúrgica estabelecida.

Invariavelmente quando não surtiam efeitos, nos doentes locais, os procedimentos utilizados, lá vinha o "Meu Colega"e o paciente na procura de um diagnóstico e de uma terapêutica diferente que lhe pudesse aliviar o sofrimento que a doença produzia.
É um princípio basilar médico, quando não se sabe envia-se a quem possa saber e resolver a situação, pois uma "vida não tem preço".  O que era um facto é que cada vez mais gente da população local recorria aos serviços de saúde militar e civil, provavelmente devido à confiança de procedimentos implementados por todos os meus antecessores e pela melhoria das instalações e atendimento.

Também enquanto estive em Galomaro consegui que o Chefe de Posto da Administração local me desse uma habitação degradada que eu juntamente com os maqueiros Santos e André, que sabiam de construção civil, recuperámos e a transformámos na Maternidade de Galomaro com três camas para parturientes e com instalações sanitárias e sala de partos e acomodações para uma Enfermeira-Parteira que veio no fim da minha comissão.

Em Galomaro também existia uma Missão de Sono com internamento e tratamento de doentes com tuberculose e lepra predominantemente, com doença de hansen (Sono) só um.
A malária, a desenteria amebiana a desidratação eram debeladas com relativa facilidade. No campo da saúde pública o programa de vacinação já estava bastante avançado: tuberculose, cólera, difteria, tétano e tosse convulsa assim como poliomielite estavam implementados como na metrópole, em toda a população. A hepatite, essa era endémica.

A higiene e a salubridade da população local eram muito reduzidas, dado não haver esgotos nem saneamento nem fossas sépticas. Os únicos seres que tratavam dos restos alimentares dos dejectos, ratos, cobras, animais mortos e lixeiras eram os Jagudis que eram. os guardiões da saúde pública na Guiné, pois limpavam o terreno de uma maneira exemplar e que estavam protegidos por lei que impediam de os molestar ou matar.
Para quem não sabe, os Jagudis são uma espécie de abutres, verdadeiros (Colegas) dos médicos de Saúde Pública.

Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > O abutre ou jagudi (corruptela do crioulo jugude). 
Foto: © João/Paulo Santiago (2006). Direitos reservados.

O aquartelamento de Galomaro era relativamente novo e tinha instalações sanitárias adequadas, com esgotos cobertos e fossas sépticas.
Como "Colegas" tínhamos também os milhares de Morcegos que todas as noites, quando se ligavam os focos de iluminação para o exterior do aquartelamento, se alimentavam de milhões de insectos que se dirigiam para a luz.

Morcego, mamífero da ordem das Chiroptera e da família das Megachiroptera
Com a devida vénia a CulturaMix.com

A todos eles o meu agradecimento sincero.
Aos Morcegos, aos Jagudis e principalmente ao meu amigo Braima, todos eles "Meus Colegas"que me ajudaram durante a minha comissão a debelar muitas enfermidades e a preservar a saúde dos meus camaradas de armas e da população que me estava confiada por ser Delegado de Saúde da Zona de Galomaro-Cossé.

Alfa bravo do
Rui Vieira Coelho
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

1. Em mensagem do dia 11 de Março de 2014, o nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem não é demais agradecer a sua disponibilidade e colaboração, fez chegar até nós mais memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

As minhas cordiais saudações a todos: editores, leitores e camaradas em geral. 
Um pouco, no cumprimento do meu antigo cargo, volto às transmissões, enviando o texto/conto, da autoria do nosso ex-Alf. Mil Médico, Dr Rui Vieira Coelho, tabanqueiro n.º 624, BCAÇ 3872 e 4518. 

Um alfa-bravo encriptado com amizade. 
Mário Vasconcelos


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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12717: Os nossos médicos (73): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (6): Em Bubaque, como subdelegado de saúde

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12676: Os nossos médicos (72): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (5): Arquipélago dos Bijagós

1. Enviada por mensagem de 3 de Fevereiro de 2014 do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem mais uma vez agradecemos, chegou até nós esta memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

Caros camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,
As minhas cordiais saudações e votos de saúde.
Junto mais um texto, que vai intitulado, BIJAGÓS, autoria do nosso tabanqueiro nº 624 - Dr. Rui Vieira Coelho, ex. Alf. Mil. Médico do BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, Guiné.
Se houver alguma deficiência de envio, solicito a vossa indicação para mim, pois como sabem, faço um pouco de retransmissor.

Um abraço de amizade.
Mário Vasconcelos




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Notas do editor

Último poste do dr. Rui Vieira Coelho de 14 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12037: Os nossos médicos (68): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (4): Bacar

Último poste da série de 24 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12425: O nosso livro de visitas (171): Manuel Vitorino, ex-Fur Mil do BCAÇ 4518 (Cancolim, 1973/74)

1. Mensagem com data de 29 de Novembro de 2013, enviada ao Blogue pelo nosso camarada Manuel Vitorino (ex-Fur Mil do BCAÇ 4518, Cancolim, 1973/74), jornalista, editor do Blogue Mau tempo no Canal, a propósito da sua recente viagem à Guiné-Bissau:

Amigo Luís Graça, boa noite
Acabei de chegar da Guiné-Bissau onde estive quase um mês. E estou a escrever várias crónicas no meu blogue: Mau tempo no Canal
Se puder poderá partilhar no seu cobiçado blogue as crónicas. Agradeço. Sou Jornalista e tenciono escrever mais textos sobre o país e suas gentes.

Fui Furriel miliciano Atirador (mais Minas e Armadilhas) e fiz parte do BCaç 4518, em Cancolim, frente Leste, próximo de Bafatá. Estive na guerra entre 1973 e 1974.

Agora, 40 anos depois, regressei ao país de Cabral. Sem saudosismo, memórias de guerra, ou qualquer tipo de catarse. Fui em missão de paz através de uma ONG, o Mundo a Sorrir e porque aquela gente merece ser feliz.
O resto vem nas crónicas do blogue. No futuro outros trabalhos darão à estampa.

Grande abraço
Manuel Vitorino


2. Comentário do Editor:

Já fui espreitar o Blogue "Mau tempo no Canal" do nosso camarada Manuel Vitorino.
Além de outros temas, a ler, tem uma série de textos e fotos imperdíveis relativas à Guiné-Bissau, fruto da sua recente viagem àquele país irmão. As postagens dividem-se entre o dia 1 - Regresso à pátria de Cabral -, aqui reproduzido com a devida vénia, e o dia 18 de Novembro de 2013 - Futebol e circo, mais circo do que pão.
Aconselho vivamente uma visita e leitura atenta.

Aceitando a oferta do nosso camarada, partilhamos hoje o poste do dia 1 de Novembro.
Prometemos voltar lá e dar à estampa os restantes artigos sobre a Guiné de hoje.

Aproveito para deixar aqui o convite ao Manuel Vitorino para fazer parte da nossa tertúlia. Poderá colaborar connosco com textos e fotos do seu tempo combatente na Guiné, assim como da Guiné-Bissau de hoje.

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Em Bafatá, num casa humilde nasceu Amílcar Cabral. O edifício é hoje um centro de estudo e memórias. 

Estou a pouco menos de 24 horas de aterrar na pátria de Cabral, um dos heróis da minha juventude, o único merecedor de honrarias em toda a história (trágica) da Guiné-Bissau, o líder incontestado deste pequeno país de África. Cabral não foi só o líder do PAIGC que desafiou a Ditadura de Salazar/ Caetano ao declarar a independência nas matas de Medina de Boé, antes o visionário e sonhador de um país livre, fraternal e independente, o guerrilheiro e intelectual admirado pela comunidade internacional. Infelizmente, a Guiné-Bissau volatizou-se. Em golpes e contragolpes, transformou-se numa placa giratória do tráfico internacional de droga com níveis de pobreza extremos, onde a esperança média de vida ronda os 50 anos, onde falta quase tudo. Só a palavra esperança não foi riscada do mapa.

Um aviso à navegação: não vou à Guiné-Bissau por nostalgia ou recordação de alguma façanha de guerra. Sou anti-herói. Estive na guerra colonial entre 1973/74 (Batalhão Caçadores 4518, 2ª Companhia de Caçadores, Cancolim, Bafatá) mas o destino e a sorte andaram de mãos dadas: durante o tempo em que por lá andei nunca dei um tiro, nunca o aquartelamento teve um ataque do PAIGC, nunca a companhia sofreu uma emboscada. Nada de nada. Adianto um pequeno pormenor: caso o PAIGC tivesse colocado as suas armas na mira de Cancolim as nossas tropas não tinham qualquer hipótese de sobrevivência. Morríamos todos. Não tínhamos preparação, estratégia, força anímica, capacidade de resposta. Por isso, quando aconteceu o 25 de Abril – o dia mais feliz da minha vida – e meses depois zarpei de Bissau em direcção a Lisboa (onde a bordo do Uíge ouvi vezes sem conta “Wild World”, de Cat Stevens) senti um enorme alívio, um sentimento único de Liberdade, a certeza que os dois povos tinham muito a aprender em termos de cultura, conhecimento, partilha, história. E um património linguístico que os sucessivos governos até hoje têm desbaratado.

Quarenta anos depois vou regressar, finalmente, a Bissau. Na bagagem transporto muitas memórias deste pedaço de África, um povo maravilhoso, humilde, fraternal, amigo, mais as cores e aromas da paisagem, as mangas e as papais que saboreei em doses duplas para enganar a fome e revejo as lavadeiras com os seus trajes coloridos a caminho da bolanha, a luta diária pela vida travada pelas mulheres, as crianças subnutridas à entrada do aquartelamento e por instantes, recordo a manhã onde escutei pela primeira vez os gritos lancinantes da jovem vítima de circuncisão genital. Está tudo gravado na minha memória. Como o futuro começa hoje decidi voltar à Guiné-Bissau com vontade de aprender, ajudar quem mais precisa e perceber como se pode viver com tão pouco a troco de quase nada. Se calhar vou ficar mais rico. Cabral ka muri/mori (Cabral não morreu).



Publicado 1st November por Manuel Vitorino
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12391: O nosso livro de visitas (170): O crachá da CCAÇ 1498, Có, Binar e Bissau (Joaquim Vidigueira Ferreira, ex-fur mil, Amadora)