Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Guné > Zona Leste > Região de Bafatã > Setor L1 (Bambadinca) > Finete > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) > 2ª metade de 1969 > Três militares da 4º Grupo de Combate, 2ª secção...
Da esquerda para a direita: (i) Furriel miliciano apontador de armas pesadas de infantaria, Luis M. Graça Henriques (a quem, não havendo armas pesadas na companhia, sediada em Bambadinca, foi "promovido" a "pião de nicas", tapando todos os buracos no comando de secções dos 4 Gr Comb); (ii), de joelhos, 1º cabo at inf, nº mecanográfico 82115569, José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951-2022), de etnia fula, natural de Amedalai, regulado do Xime, membro da nossa Tabanca Grande, nº 557; morreu em 2022, teria 71 anos; (iii) soldado at inf, nº mec 82115869, Umarú Baldé (c. 1953-2004), apontador de morteiro 60), de etnia fula, natural de Dembataco, que morreu em Portugal, de doença, na miséria, apenas ajudado por camaradas (metropolitanos) da CCAÇ 12.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Amedalai > 26 de Julho de 2006 > O José Carlos com a família. A Odete Cardoso, esposa do ex-alf mil Jaime Pereira, é madrinha da filha mais nova do Zé Carlos, agora com 18 anos e a viver em Lisboa (onde estuda numa "escola inclusiva" e está a frequentar o 9º ano de escolaridade).
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a dra. Ermelinda com o Zé Carlos Suleimane Baldé, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).
1. Ontem apanhei uma boleia do António Duarte (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971/72, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74) (foto à direita). e fui até Coimbra, para participar no 50º almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 12 e demais subunidades que passaram por Bambadinca entre 1971 e 1974 (*).
Darei oportunamente notícia desse convívio que se realizou nos claustros no antigo Colégio da Graça, Rua Sofia, 136, hoje sede do núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes.
Mas, para já, quero partilhar uma triste notícia, que lá soube, através da dra. Odete Cardoso, esposa do nosso camarada Jaime Pereira, um dos orgnizadores do encontro: o nosso 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé morreu o ano passado. Tem cá uma filha, por sinal muito bonita (a avaliar pela foto que me mostraram)... Tem 18 anos, está a estudar numa "escola inclusiva", frequentadno o 9º ano...
Fiquei triste, estimava-o muito...
Estive com ele em 2011, justamente em Coimbra e depois em Lisboa... Em 2011 foi a "vedeta" principal do convívído dos meus camaradas da 2ª e 3ª gerações da CCAÇ 12. A sua vinda a Portugal fora possível graças ao apoio do casal Jaime Pereira e Odete Pereira, mas também dos camaradas que comparticiparam com dinheiro para custear a passagem aérea. Outros camaradas, de Lisboa, também o receberam e levaram-no a passear: destaco os nomes do
António Marques Fernandes (e a esposa Gina) e ainda o José Luís Vacas de Carvalho (cmdt do Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1969/71), sem esquecer outros camaradas, como o Victor Alves, o Murta, o Patronilho, etc.
O Zé Carlos, em 2011. Foto: LG
Escreveu o Valdemar Queiroz, ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (1969/70): "o José Carlos Suleimane Baldé foi do meu Pelotão de Instrução, em Contuboel, deveria ter 70 anos, os meus sentimentos às filhas".
Depois de ter feito a recruta e jurado bandeira (em Bissau, na presença no gen Spínola), o Zé Carlos foi integrado na CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12). Em Contuboel fez connosco, em junho e julho de 1969, a instrução de especialidade e a IAO. Fazia parte do 4º Gr Comb.
Sabemos que, antes do final da guerra, fora dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (CCAÇ 12, 1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de setembro de 1969) ao posto de 1º cabo at inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe.
Tive ocasião de ouvir da boca dele, neste convívio de 2011 em Coimbra (e depois na visita que me fez à Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa, com o casal António F. Marques), o relato de alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas", as "hienas" e os "irãs maus" do PAIGC da zona leste, transformaram Bambadinca num permanente tribunal popular e num "matadouro humano"... (Bambadinca foi, depois da independência, um dos lugares trágicos dos "ajustes de contas" dos guineenses, vencedores, contra os guineenses, vencidos...) (**):
Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Intrução Militar (CIM) > CART 2479 / CART 11 > c. março/maio de 1969 > O instrutor (Valdemar Queiroz) e o recruta Umaru Baldé, "menino de sua mãe"...
(i) esteve sentado no banco dos réus, e chegou a estar encostado ao "poilão dos fuzilamentos
de Bambadinca, valendo-lhe a influência do seu pai e o peso dos demais "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que ele, Zé Carlos, era um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta, apesar de ter sido um "cachorro dos tugas";
(ii) foi obrigado a assistir à execução pública de um cipaio (polícia administrativa) em Bambadinca, bem como à execução de "sete irmãos", em Bissorã, etc.;
(iii) descreveu as torturas horrorosas a que foi submetido o nosso "bom gigante", o Abibo Jau (do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, e que depois transitou para a CCAÇ 21, do Jamanca e do Amadu Djaló) antes de ser executado;
(iv) andou também fugido pelo Senegal, como tantos outros camaradas nossos guineenses, e tentou ir de avião para Angola, acabando por ser apanhado e recambiado para a sua terra;
(v) o seu sonho é que dois dos seus filhos
conseguissem ir viver e trabalhar em Portugal;
(vi) em 2011 era agricultor em Amedalai, perto do Xime, trabalhando no duro com as suas
mulheres e filhos para sobreviver;
(vii) uma bandeira portuguesa forrava uma das paredes da sua humilde morança.
Em 15 de maio de 2012, passou a integrar a Tabanca Grande (***).
Integrar o Zé Carlos e depois o Umaru Baldé na nossa Tabanca Grande foi, no meu entendimento, um gesto de homenagem, de reparação moral, de solidariedade e de camaradagem. Ambos foram um exemplo paradigmático da desgraça que aconteceu a todos aqueles guineenses, fulas e não só, que acreditaram no sonho de uma Pátria Portuguesa onde todos podiam caber, e que combateram nas nossas fileiras... Spínola foi o arauto desse sonho mas também o seu coveiro... A História nos julgará a todos!
O Zé Carlos era ligeiramente mais velho que o "puto" Umaru Baldé (c. 1953-2004). Em 1969, eu dar-lhe-ia 17/18 anos. Terá pois nascido em 1951/52. Que descanse em paz, sob o poilão sagrado da sua tabanca de Amedalai (****).
PS - Tanto o Zé Carlos como o Umarú, na época de 1969/71, pertenciam à 2ª secção, 4º Gr Comb, comandada pelo Fur Mil At Inf António Marques:
Fur Mil 11941567 António Fernando R. Marques 1º Cabo 17714968 António Pinto 1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (Fula) Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (Fula) Soldadado 82110469 Mamadú Baldé (Fula) Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60) (Fula) Sold 82118769 Alá Candé (Mun Mort 60) (Fula) Sold 82118569 Mamadú Colubali (Futa-Fula) Sold 82119069 Mamadú Baldé (Fula)
hoje sedc do Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes
Claustros do antigo Colégio da Graça
ALMOÇO DA CCAÇ 12, PELOTÕES DAIMLER E CAÇADORES AFRICANOS
50º Almoço de Confraternização – 2023
1. Mensagem do nosso tabanqueiro António Duarte, comunicando-me a realização, em Coimbra, no próximo dia 27, do 50º almoço de confraternização da CCAÇ 12, e divulgando o respetivo programa que lhe chegou por via de um dos coorganziadores, o Jaime Pereira, ex-alf mil, CCAç 12 (Bambadinca, 1971/72):
Caros Companheiros:
Vamos realizar o nosso 50º almoço de Confraternização Anual, no dia 27 de Maio no Claustro do Colégio da Graça, localizado na Rua da Sofia nº136 em Coimbra.
Este colégio foi mandado construir por D. João III em 1542 tendo sido integrado na Universidade de Coimbra em 1549. Em Maio de 1834, Joaquim António de Aguiar, conhecido como o “Mata Frades”, decretou a extinção das Ordem Religiosas e entregou o vasto complexo edificado aos militares, funcionou como Hospital ao serviço das tropas absolutistas de D. Miguel, tendo em 1834 sido nacionalizado e incorporado no património do Estado.
Funcionou como quartel durante muitos anos, era lá que se realizavam as inspeções de todos os militares do concelho de Coimbra que eram chamados para prestar serviço militar, até que em 1998 o Quartel da Graça foi extinto e as instalações foram entregues à Liga dos Combatentes.
A Liga dos Combatentes decidiu rentabilizar o espaço, realizando almoços de confraternização para Grupos nos claustros do antigo Colégio da Graça com ampla vista para o jardim e é neste cenário que vamos realizar o nosso almoço de 2023, organizado este ano pelo nosso companheiro José Sobral com a preciosa ajuda da filha Joana Sobral.
O programa do almoço e da sessão cultural é o seguinte:
(1) Encontro às 12h00 no local do almoço
A Liga dos Combatentes permite a entrada dos carros através do portão da antiga porta de armas, localizado imediatamente a seguir à Igreja e autoriza o estacionamento no parque interior.
Entradas: Queijos e enchidos regionais, salgadinhos, moelas e outros
Sopa: de legumes ou outra.
Prato peixe: Bacalhau à Combatente, alourado no forno com legumes e batata assada.
Prato de carne: Lombo de porco assado com batata a murro e arroz.
Bebidas: Vinhos branco, tinto ou rosé da Quinta dos Termos, Refrigerante ou Água.
Sobremesa: Fruta ou doce.
Café.
(3) Às 15h45 partida a pé para a visita à Igreja de Santa Cruz, onde estão sepultados os dois primeiros Reis de Portugal.
O nosso companheiro José Sobral e a filha Joana solicitaram à Camara Municipal de Coimbra a indicação de um Guia-Intérprete para nos acompanhar na visita. Aguardamos resposta.
(4) Passeio pela Baixa de Coimbra
Após a visita à Igreja, para quem desejar, propomos um passeio pela Baixa de Coimbra até ao Parque da cidade, onde podemos tomar uma bebida e continuar a confraternização, agora com vista para o espelho de água do açude do Mondego e para a colina do Mosteiro de Santa Clara situada na margem esquerda do Rio. (5) O preço é de 20€ por pessoa adulta, as crianças até aos 4 anos não pagam e as dos 5 aos 9 anos pagam 10€.
Este preço é referente ao almoço, a visita guiada será objeto de um ligeiro aumento que informaremos logo que tenhamos dados concretos sobre os custos das entradas na Igreja e da guia-interprete.
Como habitualmente convidamos para este encontro as esposas dos nossos companheiros já falecidos, os ex-militares da CCAÇ12, pelotões Daimler e Caçadores Africanos e todos os amigos e companheiros do BART 2917 e BART 3873 que se quiserem associar e participar neste nosso convívio anual.
O convite é igualmente extensivo às esposas, namoradas, madrinhas de guerra, filhos e netos que desejem associar-se a este encontro.
Conversem com as vossas famílias e reservem o dia 27 de Maio para estarem presentes no nosso almoço anual, confraternizarem com os amigos e companheiros de guerra e reviverem os momentos da nossa juventude passados na Guiné.
Não faltem… Contamos com as vossas marcações até ao dia 22 de Maio, através do contacto do organizador, José Sobral (ex-alf mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1970/72) (coadjuvado pelo Jaime Pereira).
2. Mensagem posterior do Jaime Pereira, datada de 12 de maio de 2023, 13:34
Caros Companheiros
Aproxima-se a data para a realização do nosso 50º almoço e ainda há ex-combatentes que não se inscreveram…
Este é um ano muito especial porque comemora 50 anos de regresso para alguns de nós e inicio da nossa vida civil fora do regime militar, por isso não podem faltar… Aguardo pelas inscrições dos que estão em falta durante a próxima semana.
Aproveito para informar que já temos informação precisa sobre o preço da visita à Igreja de Santa Cruz, razão pela qual vamos ter que acrescentar 1€ ao preço que indicámos para o almoço que passa a ser de 21,00€ para os adultos e 11,00€ das crianças entre os 4 e os 9 anos. (*)
Um abraço para todos e até breve… Jaime Pereira
3. Comenmtário do editor LG.
No mesmo dia, 27 de maio próximo, e na mesma cidade, embora em locais diferentes, realizam-se dois convívios de antigos combatentes que passaram pela CCAÇ 12 (e outras unidades e subunidades, que estiveram sediados ou aquartelados em Bambadinca, de 1968 a 1974)...
(i) é o caso da malta de 1971/74 (2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana, da CCAÇ 12, que esteve em Bambadica (e depois no Xime), ao tempo do BART 2917 (1970/2), BART 3873 (1972/74);
(ii) e da CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e ainda CCS/BART 2917, e outras subunidades adidas a estas dois batalhões, que passaram por Bambadinca entre 1968 e 1971 (**).
Espero poder dar, no dia 27, um abraço fraterno a esta malta toda... (O António Duarte teve o gesto nobre e solidário de me mandar boleia, passando pela Lourinhã, e seguindo depois pela A8 e A17 até Coimbra.)
O José Sobral (que organiza este encontro, no antigo Colégio da Graça, na baixa coimbrã) autporizou-me a publicar os seus contactos.
Em 2011 passei, na casa do casal José Sobral (estomatologista) e Ermelinda Sobral (obstetra) uma tarde inesquecível, por ocasião do convívio desse ano do pessoal da 2ª geração da CCAÇ 12 (1971/73). Tive também ocasião de conhecer o casal Jaime Pereira e Odete Pereira (***). Os dois casais já foram, em tempos à Guiné-Bissau, tendo passado por Bambadinca e conhecido a família do José Carlos Suleimane Baldé.
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal José Sobral e Ermelinda Sobral ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra e ginecologista... > Da esquerda para a direita, a Ermelinda, o Rui (enfermeiro, amigo e colega da Ermelinda no Hospitalar Universitário de Coimbra, se não me engano), o Sobral e o Ferreira (eles dois, alferes milicianos da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72, vivendo o Ferrreira hoje em Felgueiras, sendo professor do ensino básico aposentado)...
A chanfana, em Coimbra, não podia faltar e não faltou: estava uma delícia... Pelo menos na casa do casal Sobral. Obrigado, cara amiga Ermelinda, obrigado, caro camarigo Sobral, grandes anfitriões!
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a dra. Ermelinda com o Zé Carlos Suleimane Baldé, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Um momento de grande emoção, proporcionado pelo Jaime Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72): o reencontro do Zé Carlos com o seu primeiro comandante de secção, a 2ª do 4º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)...
Na foto, em primeiro plano, o nosso amigo e camarada António Fernando Marques e o Zé Carlos... Em segundo plano, o Jaime Pereira e um camarada da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) cujo nome me escapou...
Lisboa, 2 de Junho de 2011 > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidadfe NOVA de Lisboa > A Gina, o António Marques e o Zé Carlos Suleimane Baldé.
Em 2011, a "vedeta" principal do convívído foi o nosso camarada guineense José Carlos Suleimane Baldé, cuja vinda a Portugal foi possível graças ao apoio do casal Jaime Pereira e Odete Pereira...
O Zé Carlos pertenceu à CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) e à CCAÇ 12, desde Junho de 1969 até Agosto de 1974. Já no final da guerra, foi dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de Setembro de 1969) ao posto de 1º Cabo At Inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe.
Tive ocasião de ouvir da boca dele, neste convívio em Coimbra (e depois na visita que me fez à Escola Nacional de Saúde Pública com o casal António Marques e, alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas", os as "hienas" e os "irãs maus" do PAIGC da zona leste, transformaram Bambadinca numa permanente tribunal popular e numa "matadouro humano"... (Bambadinca foi, depois da independência, um dos lugares trágicos dos "ajustes de contas" dos guineenses, vencedores e vencidos...). (***)
O Zé Carlos (por quem eu sempre tive um grande apreço, estima e amizade) esteve sentado no banco dos réus, e chegou as estar encostado ao "poilão dos fuzilamentos de Bambadinca, valendo-lhe a influência do seu pai e o peso dos demais "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que ele, Zé Carlos, era um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta, apesar de ter sido um "cachorro dos tugas"...
Mesmo assim, foi obrigado a assitir à execução pública de um cipaio (polícia administrativa) em Bambadinca, à execução de "sete irmãos" em Bissorã, etc... Descreveu as torturas horrorosas a que foi submetido o nosso "bom gigante", o Abibo Jau (1º Gr Comb da CCAÇ 12, e que depois transitou para a CCAÇ 21, do Jamanca e do Amadu Djaló) antes de ser executado...
Andou também fugido pelo Senegal, como tantos outros camaradas nossos guineenses, e tentou ir de avião para Angola, acabando por ser apanhado e recambiado para a sua terra... O seu sonho é que dois dos seus filhos consigam vir viver e trabalhar em Portugal... Em 2011 era agricultor em Amedalai, perto do Xime, trabalhando no duro com as suas mulheres e filhos para sobreviver...
Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Intrução Militar (CIM) > CART 2479 / CART 11 > c. março/maio de 1969 > O instrutor (Valdemar Queiroz) e o recruta Umaru Baldé, "menino de sua mãe"...
Resende > Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71) > 1999 > O Umarú Baldé, à esquerda, 30 anos depois da foto de cima, com o Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) e outro camarada guineense que não foi possível identificar. Na altura, foi o Virgílio Encarnação quem levou o Umaru Baldé e o colega até Resende. O Encarnação também foi um dos que, a par do João Gonçalves Ramos, arranjou trabalho ao Umaru Baldé na Expo 98 / Parque das Nações.
1. Mensagem do nosso amigo e camarada Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; instrutor do CMI Contuboel] [, foto atual à esquerda]
Data: 27 de setembro de 2016 às 23:49
Assunto: As outras cartas da guerra... > Umaru Baldé
Ora viva, Luís Graça.
Como já escrevi no nosso blogue, encontrei-me em novembro de 1999, com o Umaru Baldé, a primeira vez na Damaia, Amadora [,onde ele tinha um quarto alugado, depois que entrou em Portugal, pela primeira vez, em 15/4/1999]. Encontrámo-nos ainda mais duas ou três vezes e também fui vê-lo a Torres Vedras [, ao Hospital do Barro, em 2000].
O nosso primeiro encontro foi surpreendente, pois estava à espera de ver o 'puto', mais crescido por certo, mas eis que aparece o Umaru com mais de 1,80. Embora passados trinta anos, conhecemo-nos logo e fizemos uma grande festa, mas já não me lembro do que falámos.
Nos encontros seguintes, o tema das nossas conversas era sempre o mesmo: ele arranjar documentos que comprovassem ter sido militar do exército português. Sei que fez vários requerimentos / exposições da sua situação sem conseguir o que pretendia.
Inclusive, tanto o Cap Analido Pinto como o Alf Pina Cabral e o 1º Sarg Ferreira Júnior [, da CART 2479 / CART 11] fizeram um documento, devidamente assinado, expondo a autenticidade de ele ter sido soldado recruta, com o seu número e tudo, da nossa CArt 2479. Mas de nada serviu.
Julgo, não me lembro, nunca termos falado do tempo da guerra [, ou seja, da CART 11 e da CCAÇ 12], a não ser que veio para transmissões em Bissau [, em 1972, já como posto de 1º cabo].
Não sei explicar como foi o processo do seu recrutamento na Guiné, por já não me lembrar a não ser o que ele conta numa das suas cartas [, já aqui publicadas: vd. poste P16525] .
Mesmo com pouco físico, [o 'puto' Umaru] era o homem do morteiro 60 e exímio apontador. Houve, na bolanha de Contuboel, um exercício de fogo real de morteiro, com a assistência do Gen Spínola, Cap Almeida Bruno e Maj Carlos Azeredo, em que os tiros do morteiro do Umaru foram de grande precisão, de tal modo que criaram grande espanto a todos os presentes.
De resto não me lembro de ter havido outro acontecimento relevante em que ele interviesse.
O resto já todos sabemos o que lamentavelmente aconteceu.
Um abraço
Valdemar Queiroz
Guiné > Setor L1 > Bambadinca >
CCAÇ 12 (1969/71) > O fur mil Henriques,
o José Carlos Suleimane Baldé e o Umaru Baldé,
em Finete, 2º trimestre de 1969.
Foto de LG
2. Comentário do editor:
Obrigado, Valdemar, pelos teus esclarecimentos adicionais. Ainda temos uma quarta (e última) carta para publicar, das que enviaste, escritas ou ditadas pelo Umaru Baldé e dirigidas a ti e, eventualmente, a outros camaradas da Guiné, da CART 11 e da CCAÇ 12 [como foi o caso do António Fernando Marques, seu comandante de seção, da secção nº 2, do 4º Gr Comb / CCAÇ 12; o João Gonçalves Ramos (ex-sold radiotelegrafista), o ex-1º cabo, do 4º G Comb. Virgílio S. A. Encarnação; ou o até o próprio cap inf, hoje cor ref, Carlos Alberto Machado Brito].
Quando o Umaru Baldé precisou da ajuda do nosso blogue, ele ainda não existia, tendo nós começado timidamente em 2004 (ano em que se publicaram os primeiros... quatro postes). Mas sinto que o Umaru Baldé (c. 1953-2004) deve ficar, entre nós, na Tabanca Grande, a título póstumo, por muitas razões, e até pelos seus contributos (póstumos), as cartas, o relato do seu infortúnio, a expressão do seu amor à "Pátria Portuguesa", a solidariedade que gerou..., contributos esses que são relevantes para a história da "africanização" da guerra e do processo de retirada das NT, bem como para a reconstituição do "puzzle" da nossa memória...
Dos originais militares guineenses da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1960/71), só temos, na Tabanca Grande, o nome do José Carlos Suleimane Baldé, vizinho do Umaru Baldé: o Zé Carlos era de Amedalai e o Umaru era de Demba Taco. Era, de resto, o único 1º cabo, do recrutamento local, que integrava a companhia: havia soldados arvorados que seriam promovidos a 1ºs cabos, logo que fizessem o exame da 3ª ou 4ª classe...
Na altura o Cherno Baldé saudou a nossa decisão de integrar, em 2012, o Zé Carlos na nossa Tabanca Grande nestes termos:
"A tua decisão de integrar o Suleimane na nossa Tabanca Grande terá, certamente, pouco efeito prático, mas reveste-se de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os ex-milícias e soldados africanos que serviram na guerra da Guiné que, como costumo referir, foram voluntários da sua própria desgraça." (**)
Integrar o Umaru Baldé na nossa Tabanca Grande tem o mesmo significado. É um gesto de homenagem, de reparação moral, de solidariedade e de camaradagem. O Umaru Baldé é outro exemplo paradigmático da desgraça que aconteceu a todos aqueles guineenses, fulas e não só, que acreditaram no sonho de uma Pátria Portuguesa onde todos podiam caber, e que combateram nas nossas fileiras... Spínola foi o arauto desse sonho mas também o seu coveiro... A História nos julgará a todos!
e dos demais camaradas da CCAÇ 12 e da CCAÇ 21, brancos e pretos, mortos em combate ou abandonados à sua sorte, depois do regresso a casa ou da independência da Guiné-Bissau;
ao José Carlos Suleimane Baldé, felizmente ainda vivo, espero, a morar em Amedalai, Xime (e o único camarada guineense da CCAÇ 12 a integrar a Tabanca Grande);
a todos os demais camaradas da Guiné que ainda hoje estão (sobre)vivos.
Foderam-te, meu irmão! Enganaram-te, irmãozinho!
Traíram-te, amigo!
Deixaram-te para trás, camarada!
Não, não era este país milenário que vinha no cartaz de promoção turística, com montes, vales e charnecas, com rios, praias e enseadas, com fama de gente patriótica, riqueza gastronómica e forte sentido identitário.
“I want you”, disseram-te eles, e tu respondestes sem hesitar: “Pronto!”.
Meu tonto, disseste "presente!", mesmo sem poderes avaliar todas as consequências presentes e futuras da tua decisão, em termos de custo/benefício.
Decidiste com o coração, não com a razão, deste um passo em frente, abnegado e generoso, mesmo sem saberes onde era o distrito de recrutamento, e sem sequer conheceres o teatro de operações, o estandarte, o fardamento, a ciência e a arte da guerra,
o comandante-chefe ou até mesmo a cara do inimigo.
Um homem não vai para a guerra sem fixar a cara do inimigo, sem reconhecer a voz do inimigo, pode ser que seja teu pai, mãe, irmão, irmã, vizinho, amigo, ou até mesmo um estrangeiro, um pobre e inofensivo estrangeiro, apanhado à hora errada no sítio errado.
Camarada, um homem não mata outro homem só porque é estrangeiro, ou só porque não pensa ou não sente como tu, um homem não puxa o gatilho ou saca da espada, sem perguntar quem vem lá!
Enfim, não se mata um homem, de ânimo leve, gratuitamente, só porque alguém o elegeu como teu inimigo.
Não, meu irmãozinho, não eram estes outdoors e muros grafitados, ao longo da picada, não, não era este trilho, que era pressuposto levar-te do cais do inferno às portas do paraíso.
Sim, porque no final, meu irmão, há sempre alguém a prometer-te o paraíso, o olimpo, o panteão nacional ou cruz de guerra com palma,
em troca da dádiva suprema da tua vida, do teu corpo, da tua alma.
Todos te querem, todos te queremos, “I want you”, sim, quero-te, mas por inteiro, quanto mais não seja para tirar uma fotografia contigo, não vales nada cortado às postas, decepado, decapitado, ou, pior ainda, perdido, errático, com stress pós-traumático sem bússola nem mapa, apanhado à unha pelo inimigo, ou fuzilado no poilão de Bambadinca ou de Madina Colhido. Fuzilado, és um cadáver incómodo, apanhado, és um embaraço diplomático, pior do que tudo isso, doente psiquiátrico.
Não, não foi este destino que compraste, com o patacão do teu sangue, suor e lágrimas, enganaram-te, os safados, os generais e os seus ajudantes de campo, os burocratas da secretaria, os recrutadores, a junta médica, os instrutores e até os historiadores.
“Guinea-Bissau, far from the Vietnam”,
alguém escreveu no poilão de Brá ou na estrada de Bandim, a caminho do aeroporto, tanto faz, “Tuga, estás a 4 mil quilómetros de casa”. Ou então foi imaginação tua, pesadelo teu, deves ter sonhado com essa placa toponímica, algures, numa noite de delírio palúdico, deves tê-la visto a sul do deserto do Sará.
Alguém sabia lá onde ficava a Guiné, longe do Vietname, alguém se importava lá com o teu prémio da lotaria da história, mesmo que em campanha te tenhas coberto de glória!
Acabaram por te meter num avião “low cost” ou num barco de lata, ferrujento, deram-te um pontapé no cu ou cravaram-te a tampa do caixão de chumbo. "Bye, bye, my friend. Fuck you, man”. Nem sequer te desejaram "Oxalá, inshallah, enxalé, que a terra te seja leve!"
“País de merda"... Tinha razão o polícia, racista, que te quis barrar a entrada no aeroporto de Saigão (ou era Lisboa ? ou era Amsterdão?).
Quem disse que os polícias de todo o mundo são estúpidos ? Até o polícia racista entende o sofisma do país de merda: “Pensando bem, soletrando melhor, país de merda, país de merda, só pode ser o meu”.
Os gajos estavam fartos de ti, meu irmão, meu camarada, meu amigo. Os gajos pagavam-te, se preciso fosse, para se verem livres de ti, vivo ou morto, devolvido à procedência.
“I want you, alive ou dead”, porque na contabilidade nacional tudo tem de bater certo, diz o cabo arvorado. Todo o que entra, sai, é o deve e o haver do escriturário, encartado, mesmo que seja merda: “Garbage in, garbage out”, se entra merda, sai merda.
Procuraram-te por toda a parte, do Minho ao Algarve do Cacheu ao Cacine, só te queriam bem comportado, escanhoado, ataviado,
de botas engraxadas, se possível herói de capa e espada, medalhado, condecorado, de cruz de guerra ao peito, mesmo que viesses amortalhado.
E tu ? Sabias lá tu o que era a pátria, onde ficava a tabanca da pátria, onde começava e acabava o chão da pátria ? Muito menos sabias a geografia da guerra, Aljubarrota, Alcácer Quibir, Vimeiro, Waterloo,
La Lys, lha do Como, Guidaje, Gadamael, Dien-Bien-Phu, Madina do Boé, Ponta do Inglês, Madina Belel...
Conhecias lá tu da pátria a anatomia e a fisiologia , o intestino grosso e delgado, o que é que a pátria comia, o que é que a pátria defecava, ou até mesmo o que é que a pátria sentia e pensava, se é que a pátria deveras sentia e pensava.
Queriam-te sedado, anestesiado, amnésico, de preferência, sobretudo amnésico. alienado, aculturado, desformatado, paisano, só assim eles te queriam de volta ao teu anódino quotidiano,
Meu irmão, meu pobre camarada, fizeste por eles o trabalho sujo que compete a qualquer bom soldado em qualquer guerra. Mas nem como soldado eles te trataram, nem sequer como mercenário te pagaram, em espécie ou em géneros.
Afinal a guerra acabou, como todas as guerras acabam, até mesmo a guerra dos cem anos teve um fim com o seu rol de mortos, feridos e desaparecidos. “Para quê mexer agora na merda, ó nosso cabo ?”, pergunta o sorja da companhia. “Boa pergunta, meu primeiro, mas há muito já que eu não cheiro, a guerra embotou-me os sentidos”.
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos > Da esquerda para a direita, Alauro, Boi, Saliu, Queiroz, Alseine e Adulo.
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos > Da esquerda para a direita, Alauro, Boi e Saliu
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos > Da esquerda para a direita, Queiroz, Alseine e Adulo.
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos (1)
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos (2)
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Escola de cabos (2)
1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau ... Texto e fotos enviadas, em 9 de fevereiro último, pelo Valdemar Queiroz, nosso novo tabanqueiro, nº 648 [, em Contuboel, 1969, à direita] (*)
Diz a última parte do texto, muito laconicamente:
"Depois, a partir de Nova Lamego, andámos em intervenção na zona leste, a nível de dois pelotões, por Cabuca, Cancissé, Madina Mandinga, Dara, Piche, Ponte Caium, Dunane, com permanência perlongada em Canquelifá, até nos fixarmos em Paunca e Guiro Iero Bocari."
Vamos apresentar fotos, com legendas destes vários lugares por onde passou o nosso camarada Valdemar Queiroz, esperando que ele e outros "lacraus" complementam esta informação.
Hoje continuam a ser fotos de Nova Lamego, desta vez da "escola de cabos", onde o Valdemar Queiroz foi um dos instrutores.
2. Comentário do Valdemar Queiroz, em relação a estas fotos e outras fotos que nos mandou em 9/2/12014:
Curiosidades:
Na foto da Escola de Cabos, há uma foto semelhante no livro "Fotobiografia da Guerra Colonial", de que é coautor o Renato Monteiro, em que aparece o Cândido Cunha na mesma posição que eu, só se diferencia nos calções. Foi ele que 'tirou' a minha foto e eu a dele.. Mass homens são do meu pelotão.
'Esturrámos' as milenas do BNU (que tinha uma desvalorização de 10% em relação ao escudo do BP), em relógios de marca e outros compras. Regressei em 18/12/70, eu mais o Abílio Duarte, o Manel Macias e o Pais Sousa viemos de avião na TAP. Pagámos a diferença entre o valor da viagem de barco e de avião e viemos passar o Natal com a família. (22 meses depois!!!!)
3. Comentário de L.G.:
Valdemar, seria interessante saber qual foi o destino posterior destes militares da CART 2479/CART 11, aliás todos do teu pelotão... Tiveram aproveitamento ? Foram promovidos a 1ºs cabos ? Continuarama na CART 11 e depois na CCAÇ 11 ?
Enfim, o que lhes terá acontecido a seguir à independência ? Estarão ainda vivos alguns deles ?... E já agora, qual foi a duração do curso, que matérias foram lhes foraam ministradas e qual foi a taxa de aproveitamento escolar ?
Infelizmente, no que diz respeito à CCAÇ 12, no meu tempo (junho de 1969/março de 1971), não conseguimos montar nenhuma escola de cabos, em Bambadinca, por causa da nossa intensa atividade operacional, e o único soldado arvorado que foi promovido a 1º cabo foi o José Carlos Suleimane Baldé, que nos honra com a sua corajosa presença, na Tabanca Grande, desde 12 de maio de 2012, mas de quem infelizmente não tenho tido quaisquer notícias...
Vive em Amedalai, perto do Xime. Deves lembrar-te dele, deste a recruta em Contuboel.
[Foto à esquerda: José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo At Inf, nº mecanográfico 82115569, 4º Gr Comb, CCAÇ 12, Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74]
Guné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Finete > 2ª metade de 1969 > Três militares da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), 4º Grupo de Combate, 2ª secção... Da esquerda para a direita: (i) Furriel miliciano apontador de armas pesadas de infantaria, Luis M. Graça Henriques; (ii), de joelhos), 1º Cabo nº mecanográfico 82115569 José Carlos Suleimane Baldé, de etnia fula, que vive hoje na Guiné-Bissau, na região leste, e que é membro da nossa Tabanca Grande; (iii) soldado nº mec 82115869 Umarú Baldé, apontador de morteiro 60), de etnia fula, que morreu em Portugal, de doença, na miséria, apenas ajudado por camaradas (metropolitanos) da CCAÇ 12.
1. O nosso blogue, e mais concretamente o nosso editor Luís Graça, foi contactado pelo jornalista João Carlos, português, de origem santomense, correspondente da DW em Portugal, em 22 de agosto último, e nos seguintes termos:
(...) Sou jornalista, correspondente da Rádio DW a viver em Lisboa. Vi o seu/vosso blogue na minha pesquisa para um trabalho sobre a situação em que vivem os antigos combatentes guineenses em Portugal. Será mais uma reportagem sobre esta temática para a qual gostaria de contar com a sua colaboração, prestando um depoimento que, certamente, irá enriquecer o nosso trabalho.
A minha dúvida é se mora em Lisboa ou arredores. Caso seja o caso e queira colaborar na referida reportagem, aguardo pela sua resposta para, se possível, combinarmos um encontro.
Com os meus agradecimentos.
O correspondente em Portugal, João Carlos Jornalista-DW
2. Há dias foi possível encontrarmo-nos em Lisboa, tendo sido produzido um depoimento para a DW, de cerca de 3 minutos. Previsivelmente a peça jornalística que o João Carlos preparou irá para o ar na manhã ou noite do dia 24 de setembro, dia da independência da Guiné-Bissau. E também será colocada on-line. O nosso editor deu também o contacto do nosso camarada Jorge Cabral. O jornalista recolheu depoimentos de antigos combatentes guineenses que vivem na capital portuguesa.
O João Carlos também já foi correspondente da Voz da América (VOA), embora não conheça o nosso amigo Nelson Herbert, que está em Washington.