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terça-feira, 8 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23770: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte VI: os primeiros ataques a Farim, em 1963


Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Farim (e dos seus bairos  Nema e Morocunda), além de K3 e Bricama. Recorde-se que cada centímetro da carta corresponde a 500 metros no terreno.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022).


1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do Amadu Djaló, que a morte infelizmente já nos levou em 2015, aos 74 anos. 

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. E muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro, nem muito menos o privilégio de conhecer o autor, em vida.


O nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965, e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) fez generosa e demoradamente as funções de "copydesk" do livro do Amadu Djaló. Temos vindo a introduzir pequenas correcções toponímicas ao texto  impresso, a ter em conta numa eventual (se bem que pouco provável) 2a. edição. 

Recorde-se, aqui sumariamente, os primerios vinte e poucos anos do Amadú Djaló (1940-2015), a partir dos excertos que já publicámos (**):

(i) o Amadu Djaló era, em 2010, quando o seu livro foi lançado (no Museu Militar en Lisboa) um dos raros sobreviventes que podia falar de todos os anos que durou o conflito, como muito bem lembrou o Virgínio Briote;

(ii) Futa-Fula, natural de Bafatá, oriundo de famílias da antiga Guiné Francesa, Amadu escolheu um dos lados, combateu no Exército Português, juntando-se a milhares de guineenses; mas o seu pai  que era empregado de balcão de um comerciante libanês, em Bafatá, o Assad,  tivera antes o sonho de o levar até ao Senegal, onde dois sobrinhos-netos eram militares do exército francês, ambos 2º sargentos e antigos combatentes da guerra da Indochina; após consulta a um vidente, passou a sonhar com uma carreira militar brilhante para o filho, coisa que ele na Guiné portuguesa, em sua opinião,  nunca poderia ambicionar:

(iii) recenseado pelo concelho de Bafatá, o Amadu acaba por ser  alistado em 4 de janeiro de 1962, como voluntário, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(iv) depois da recruta em Bolama, segue-se o CICA/BAC, em Bissau, ponde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas:

(v) é colocado depois em  Bedanda, na 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), em finais de 1962:

(vi) é tranferido, a seu pedido para a 1ª CCaç (mais tarde CCAÇ 3) em Farim, em meados de 1963.

O excerto que hoje publcamos é referente a esse período em Farim   (segundo semestre de 1963, pelas nossas contas). Mantemos a ortografia original.
  



Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense,  Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O início da guerra em Farim, no segundo semestre de 1963

(pp. 64-70)

por Amadu Bailo Djaló



Uma coluna de Farim a Susana em cerca de 20 horas

Cerca de um mês depois houve ordem para recolher os pelotões que se encontravam nos destacamentos. A nossa companhia 
[a 1ª CCAÇ]  tinha dois pelotões, um em Porto Gole e outro em Susana.

A minha viatura, depois de descarregada, ficou preparada para fazer parte da coluna com destino a Susana 
[na região de Cacheu]  . Partimos por volta das 08h30, andámos todo esse dia e toda a noite, debaixo de chuva torrencial, numa estrada difícil e lodosa, que exigia muita perícia e um andamento muito cauteloso.

De Farim até Bigene e Barro a estrada não estava muito mal, o pior foi depois, os carros patinavam e atascavam-se a toda a hora.

Quando chegámos a Susana, às 4h00 da madrugada, o pessoal já estava cansado de tanto esperar. Tivemos que carregar tudo rapidamente e por volta das 6h00 iniciámos o regresso a Farim.

Quando passámos pelo Ingoré, vi o alferes Almeida algo preocupado. Andava a ver se arranjava qualquer coisa para dar de comer ao pessoal que estava faminto, já que não comíamos nada desde que tínhamos saído de Farim. Vi-o regressar de mãos vazias. Compreendemos e resignámo-nos, não havia outro remédio.

Para acrescentar, a jangada estava avariada e tivemos que aguardar até às 19h00, que foi quando ficou pronta. Atravessámos o rio 
[Cacheu , seguimos para Bula, onde chegámos à noite, por volta das 21h00.

Aqui, o alferes ganhou esperança em encontrar comida. Mas, tal como no Ingoré,  veio com as mãos a abanar. Não havia nada a fazer e pusemo-nos a caminho de Binar e Bissorã. Em Binar, nem parámos, só quando chegámos a Bissorã descansámos, já passava das 3h00 da madrugada

Refeitos, prosseguimos, primeiro para o Olossato e depois para o K3 e aqui o alferes recebeu uma mensagem para rumar para Mansabá, onde nem parámos e depois para Mansoa.

Desde Susana, trazia de reboque um Unimog “gripado”. Em Mansoa ficámos a aguardar o pelotão que vinha de Porto Gole [1].

Quando chegaram de Porto Gole as duas viaturas, um jipe e um Unimog, a coluna pôs-se finalmente em marcha de regresso a Farim.


Bricama, uma tabanca de pouca confiança


Na tabanca de Bricama, viviam homens válidos para pegar em armas. O comandante da 1ª CCaç, um capitão cujo nome não recordo, era uma pessoa já com certa idade, tratava-me por cunhado, entendeu entregar ao chefe da tabanca dez armas Mauser, para a autodefesa da tabanca. E se tudo corresse bem estava na intenção de entregar, mais tarde, espingardas G-3.

Um mandinga, chamado Malan Injai, também conhecido por Manjai, andava, de tabanca em tabanca, a vender cola e aproveitava para colher informações, que depois passava à tropa. Um dia disse que a tabanca de Bricama não era de confiar e a tropa decidiu recolher as armas.

Um certo dia, Malan Injai entrou no quartel exausto e com ar de sofrimento. Apresentou-se ao oficial de dia e mostrou-lhe as costas em chagas provocadas por chicotadas que lhe tinham dado na mata de Bricama, onde fora preso por uma patrulha do PAIGC, que o acusou de prestar informações à tropa.

Depois de aprisionado e apresentado ao chefe e à população da tabanca, como informador da tropa e traidor, foi levado para um acampamento, onde foi julgado e condenado à morte, por fuzilamento, quando amanhecesse.

Felizmente para o Malan, no grupo que o prendeu, havia um patrício dele que se condoeu e o soltou por volta da meia-noite. Malan pôs-se em fuga e caminhou na mata até Farim, onde chegou mais morto que vivo. Muito emocionado, relatou tudo o que tinha acontecido.

Quando Malan se apresentou ao capitão da 1ª CCaç, em Farim, este, prudentemente, optou por recolher as Mausers que estavam em poder do chefe da tabanca de Bricama.

Para o efeito encarregou o alferes Almeida, do esquadrão de Bafatá 
 [2], para executar a diligência no dia seguinte, na qual eu também participei.

Chegados à tabanca de Bricama fomos acolhidos por pouca gente, ao contrário das outras vezes. O alferes perguntou pelo chefe da tabanca. Veio um filho que informou que o pai se tinha deslocado a Farim, chamado pelo administrador.

– E onde estão as armas?

–  Não posso mostrar. Quando o meu pai sai, fecha a casa e leva as chaves com ele.

–  Por onde passou o teu pai? Não o vimos no caminho!

–   Nós costumamos seguir a corta-mato, que é mais rápido.

Perante esta resposta e como não convinha demorar, o alferes resolveu regressar. Chegados a Farim, fomos directamente à casa do administrador, que informou o alferes Almeida de que o chefe da tabanca tinha ido a casa de Braima Baio, chefe da tabanca de Farim, e que desconhecia se ele ainda regressava naquele dia a Bricama ou se dormia em Farim. O administrador prontificou-se a enviar o motorista a casa de Braima, no bairro de Morocunda, incumbindo-o de trazer o chefe da tabanca, caso ele lá se encontrasse, o que não sucedeu. O motorista, quando regressou, disse que o chefe já tinha regressado à tabanca. E o alferes Almeida prontamente deu a informação ao nosso comandante.

No dia seguinte, de manhã, voltámos a Bricama e encontrámos o chefe da tabanca. Após os cumprimentos, o alferes quis saber dos motivos que o tinham levado a Farim, a casa do administrador, ao que ele respondeu que era devido ao atraso nos pagamentos do imposto. E o alferes continuou:

– Viemos cá, para falarmos sobre esta questão: o chefe tem entre 60 a 80 homens aptos a usarem armas. E, dentro de algum tempo, nós vamos receber mais armas. Assim temos que recolher todas as Mausers, que estão à sua guarda, a fim de serem substituídas por G-3, que são muito superiores. E, logo que seja possível, entregaremos mais algumas.

De imediato, o chefe da tabanca dirigiu-se a casa e, pouco depois, surgiu com nove armas.

– Não são nove. Pela relação que tenho, são dez Mausers!

A arma que faltava tinha já sido recolhida pelo cabo da arrecadação, uma vez que se tinha verificado anteriormente que a arma não estava em condições. Resolvida a questão, regressámos a Farim.


Os dois primeiros  ataques do PAIGC a Farim, no 2ºseemstre de 1963

Quatro ou cinco meses depois de ter sido transferido para Farim, a 1ª CCaç deslocou-se numa coluna de quatro viaturas, à serração de Carés, que ficava perto de Fajonquito, na linha da fronteira com o Senegal. 
[Carés, topónimo que não existe, mais provavelmente trata-se de Caresse]

Quando chegámos arrumei o meu carro junto de outras viaturas. Na minha viatura vinham soldados africanos, nas outras que me seguiam vinham soldados africanos e europeus, que pertenciam ao esquadrão de Bafatá e que estavam destacados na 1ª CCaç, em Farim.

Quando acabámos de estacionar, fui surpreendido por uma voz conhecida. Era o 1º cabo Eurico.

 Eh, pá, não há como na tropa! Um dia separámo-nos em Cacine, junto à fronteira com a Guiné-Conakry, nunca pensei voltar a encontrar-te na Guiné quanto mais neste local, junto à fronteira com o Senegal!

Chamou os colegas [3], fizemos uma grande festa e perguntei onde estavam agora colocados.

 Em Canhamina    responderam.   [Canhamina ,a seguir a Fajonquito, a nordeste, já na carta de Tendinto, que nos falta].

Pouco tempo depois,
 Carès passou a ser terra de ninguém. Num dia, o proprietário da serração, temendo ser atacado, comprou armas e munições para a defender. Mas não resistiram ao ataque do PAIGC. O dono da serração morreu no local e a serração fechou e foi transferida para Bafatá, para um local perto da minha casa [4].

Estava uma noite de luar. Eu tinha-me deslocado ao bairro de Sinchã e estive a divertir-me com alguns colegas. Com a noite já adiantada, resolvi regressar ao quartel. No caminho, quando estava a chegar ao bairro de Nema, vi o pelotão de milícias formado à porta do régulo Made Sissé. Estavam a preparar-se para se dirigirem para os locais de vigilância à segurança do bairro. Passei por eles, sem me dirigir a ninguém, pois estava com pressa de chegar ao quartel, que não ficava a mais de meio quilómetro.

Uns metros andados fui surpreendido por barulho de tiros e de rebentamentos, que me pareceram atingir toda a vila.

– Mas que é isto?  interroguei-me, espantado, sem saber bem o que fazer.

Se tentasse deslocar-me para o quartel, algum militar que me visse a aproximar, baleava-me logo. Por outro lado não me parecia que regressar ao local de onde tinha partido, fosse uma boa solução. As milícias armadas tinham-se espalhado pelo bairro e o perigo para mim era o mesmo. Agachei-me, colei-me ao chão, a pensar no que havia de fazer. O fogo abrandou e a correr alcancei o bairro de Mancanha, já muito próximo do quartel. Vi uma casa e abriguei-me na varanda. O tiroteio recrudesceu e eu bati à porta.

– Quem é?

– Abra a porta!

– Não!

– Se não abrir, vou ter que arrombar!

– Tenho medo!

– Não tem que ter medo, sou militar!

Vendo a porta aberta, entrei precipitadamente, fechei-a e fiquei com a chave na mão. Era um velho que vivia sozinho.

Desconfiados, mantivemo-nos algum tempo a olhar um para o outro. Não me sentia confiante no meu companheiro e, por isso, resolvi não dormir, embora os olhos se me quisessem fechar. Não o deixei sair, nem para urinar, permaneci toda a noite sentado e só resolvi sair, quando as armas se calaram, o que aconteceu por volta das 5 da manhã. Entreguei-lhe a chave, mostrando-lhe que, em mim, não havia qualquer má intenção, apenas queria abrigar-me do tiroteio.

Dirigi-me a um posto de vigilância, próximo dos Correios, e aguardei a viatura que estava a recolher os vários militares dispersos pelos postos de vigilância.

Quando cheguei ao quartel, viviam-se os momentos habituais depois de um ataque. Cada um falava e contava como tinha sido. Emoções e lembranças surgiam a cada passo. As recordações do acontecido duraram poucos dias. Mas estávamos certos que o 1º ataque, de que houve memória, do PAIGC a Farim se iria repetir.

Uma semana depois da recolha das armas em Bricama, o nosso comandante entendeu estar na altura de ver como a população da tabanca estava a reagir. A minha GMC, carregada de soldados,  abria uma pequena coluna de quatro viaturas. Íamos com destino a Bricama, uma localidade atravessada por um ribeiro com muita água e sobre o qual havia uma ponte de troncos de palmeiras.

A tabanca estava na outra margem, a pouco mais de 50 metros. Quando nos aproximámos da ponte, foi com surpresa que verifiquei que tinha sido queimada.

– Siga, continua    gritou-me o alferes Almeida.

– Então e a ponte, meu alferes?

Vendo-me parado a olhar para os restos calcinados da ponte, avançou com o jipe.

– Toca a saltar cá para baixo, menos os condutores    ordenou.

Verificando que a travessia não se podia fazer, mandou o pessoal embarcar novamente e regressámos a Farim.

Esta foi a última saída a Bricama e também o adeus à população da tabanca, que julgávamos nós estava libertada da influência do PAIGC. A partir deste acontecimento, redobrámos a vigilância, as vias de acesso a Farim passaram a ser mais controladas e tivemos consciência que a zona de Farim estava a entrar numa nova fase da guerra.

Não ficámos muito admirados, quando dias depois, Farim voltou a ficar debaixo de fogo. Não foi tão violento, nem tão prolongado como o primeiro. Não houve vítimas do nosso lado, do outro não sei. Também desta vez, me encontrava fora do quartel, estava de serviço aos Correios.

 (Continua)

______________

Notas do autor:

[1] Da CCaç 413, comandado por um alferes que me disseram mais tarde ser sobrinho do Brigadeiro Arnaldo Schulz, nomeado Governador-Geral em 29 março de 1964, quando eu me encontrava ainda em Farim.

[2] ERec 385

[3] Do Pel Caç 870

[4] Depois de 25 de Abril de 1974 a serração acabou por ser abandonada.


[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos /  negritos / parênteses rectos, com ntas adicionais, para efeitos de edição deste poste: LG. ]

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(**) Vd. os outros postes anteriores:

22 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23728: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte IV: Infância e adolescência

16 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23713: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte III: Colocado em Farim, na 1ª CCAÇ, em junho de 1963, fica logo encantado com as beldades femininas locais e convida-as para ir a uma sessão de cinema do senhor Manuel Joaquim

14 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23615: Bedanda, região de Tombali, no início da guerra - Parte I: Testemunho de Amadu Djaló (1940-2015), relativo ao período de dezembro de 1962 a junho de 1963

5 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23671: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte II: 1962, recruta em Bolama e instrução de especialidade no CICA / BAC, Bissau: o racismo primário do cmdt da CART 240

22 de setemebro de 2022 > Guiné 61/74 - P23638: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte I: Não fomos todos criminosos de guerra: Deus e a História nos julgarão

22 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14282: Os Nossos Camaradas Guineenses (41): Amadu Bailo Jaló (Bafatá, 14/11/1940- Lisboa, 15/2/2015): 13 anos ao serviço do exército português (1962-1975), "em perigos e guerras esforçado mais do que prometia a força humana" (Virgínio Briote)


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15950: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - VII Parte: VI - Por Terras de Portugal: (i) Tavira...

Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, Estoril, Cascais, 2000). E tem prefácio do nosso camarada António Graça de Abreu:

(...) "No seu livro Pami na Dondo (2005) a partir de uma história verídica Mário
Vicente ficciona as agruras, desventuras e algumas alegrias de uma jovem guerrilheira do PAIGC, capturada pelas tropas portuguesas em meados das décadas de sessenta. Pami na Dondo, o nome da guerrilheira, acabaria por gradualmente se inserir no seio da população africana na aldeia controlada pelos portugueses e por ter um relacionamento singular e extremado com alguns militares estacionados no pequeno mas importante aquartelamento de Cufar.

"O outro título saído da inteligência e da pena de Mário Vicente é Putos, Gandulos e Guerra (2000). Reformulou, aumentou e melhorou esse texto e publica-o agora como Do Alentejo à Guiné, Putos, Gandulos e Guerra.

"Com laivos e tintas biográficas, este livro fala-nos de um menino nado e criado na aldeia de Vila Fernando, no Alentejo profundo, Calças de Palanco – este o original nome do puto – que será o gandulo e o homem na esteira e por dentro da guerra na Guiné. Eram as malhas que o então estertor do Império entretecia. Na preparação como militar, o rapaz faz o curso de sargentos milicianos em Tavira e depois conclui a especialidade de Ranger em Lamego. A aprendizagem para a guerra é impiedosa e dura. Mas necessária, em África o conflito agudiza-se." (...)

A pré-publicação desta versão, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor.  Neste cap VI,  ele, o Vagabundo, revisita as terras de Portugal por onde passou, na tropa, antes de ser mobilizado para o TO da Guiné: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras... Recorde-se,  por outro lado, que o nosso Vagabundo é natural de Vila Fernando, Elvas. A Colónia a que ele se refere no texto a Colónia Correcional de Vila Fernando (instituição de internamento de jovens delinquentes que ali funcionou entre 1895 e 20079. Era também uma herdade agrícola com mais de mil hectares de suiperfície (em 1967). No período de 1955 a 1976 foi seu diretor o engº Manuel Joaquim da Silva Rente.


Texto e foto: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados



Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra

VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras... 

Tavira (pp. 27-28)

por Mário Vicente [, foto atual à direita]

Tavira!... Oh!... doce Tavira! Terra linda!... Montes cobertos de amendoeiras, de figueiras e alfarrobeiras, com os teus belos vales enfeitados de laranjais, és mesmo um encanto!... Apenas um senão te rouba a encantadora beleza, terra de lindas capelas e igrejas: o nauseabundo cheiro expelido pelos esgotos do teu belo e sinuoso rio Gilão, quando a maré vazante os deixa a descoberto.

A tua bela ilha de fina areia branca, afagada por salgadas ondas transparentes, onde nas dunas se espreguiçam lindas mulheres de tez escura, sangue mourisco e olhos amendoados, como moiras encantadas que de quando em vez se transformam em sedutoras sereias, deixando presos incautos marinheiros, melhor dizendo militares, atirados para a escola do CISMI, onde se perde a vergo­nha e se aprende a vivência no "Canil da Vida". Terra de loucuras e de prazer.

Chegou aqui criança, menino de coro virgem para a safadice! Daqui saiu sem vergonha e malandro, perfeitamente enquadrado com a vida militar, como Vagabundo. Confirmando, em pouco tempo, aquilo que o professor da Colónia lhe tinha aconselhado:
– Rapaz,  olha e tem calma! Nem bom cavalo, nem bom soldado!... Se és bom cavalo, todos te querem montar. Se és bom soldado, todos te querem mandar.

Verdade matematicamente confirmada: dois mais dois, igual a quatro. A arte de como aprender a roubar foi facílima! Primeira revista à companhia de instrução. O protector de boca, da Mauser, tinha-se misteriosamente evaporado: foi ao ar. Para além de o pagar e comprar outro na Feira da Ladra, levou um corte de fim-de-semana. Nunca mais voltou a acontecer. Como os gatos, um olho aberto outro fechado o militar aprendeu a caçar. Protector de boca sempre no bolso, só na hora da revista apare­cia na espingarda. Mas, mesmo assim numa ida aos balneários quase em cima da revista, ficou pela segunda vez sem o famige­rado protector. Meus amigos, paciência, outro terá de arder!... Vagabundo roubou o que mais a jeito estava e na revista, a sua arma estava completa. Resultado: tudo mais fácil, limpo, sem grande trabalho e nada dispendioso!...

Aprendeu nas salinas a mergulhar na lama! Desgraçados do cabo Baidalo, do Churro, e outros, já homens de certa idade, cabos aprovados que para singrarem na Guarda [Nacional] Republicana ou no Exército tinham de tirar a especiali­dade, assim eram integrados no Curso, juntos àquela malandragem toda. Coitados, já não tinham idade para entrar naquilo!
– O quê?
– Os gajos não querem? Malta a eles!

Incitava o Suiças, acabadinho de sair do tirocínio em Mafra. A malta lançava-se sobre os desgraçados como alcateia de lobos sobre a presa, e eram obrigados pela matula a chafurdarem tam­bém na lama das salinas.

Na Atalaia muitas coisas aprendeu para além da ordem unida e armamento. Aprendeu vendo! Como se destrói um ho­mem,  despersonalizando-o e  transformando-o em farrapo. O tripeiro Pintainho com fobia das alturas, ser obrigado a subir ao muro alto, mão direita erguendo os restos de velha vassoura transformada em facho, lágrimas de raiva contida rolando pela face ser obrigado a gritar:
– Eu sou o Maior, eu sou o Melhor!

Degradante!... Vergonhoso, não só por ver um miúdo homem bom, sincero e honesto ser obrigado a descer tão fundo, anulação completa da sensibilidade humana!
– Não!

Com o ex-seminarista Clemente, frequentou nos primeiros tempos as belas igrejas de Tavira aos domingos. Entretanto, viu o Doutor,  vindo do Instituto de Reeducação (onde esteve internado) metido nisto, fazendo leituras na missa misturado com a alta sociedade da terra. Achou demais para tal figurão e infelizmente acertou. Pouco tempo depois falou com o Doutor  pelas grades da prisão e verificou que estaria com graves problemas. Só que ali já não seria a transferência para Leiria, mas sim o Forte da Graça em Elvas, ou outro presídio militar, o que seria bem mais complica­do. Vagabundo teve pena do Doutor.

Na sua metamorfose constante, Vagabundo transforma-se em abutre. Monte Gordo! Marie Luise! Filha de mãe france­sa e de pai emigrante português. Treinou um pouco o francês e não só. Momentos de loucura! A menina de Lyon, em férias e o militar Vagabundo, rolaram nas areias finas da praia e mergulharam nas quentes águas do Atlântico,  influenciadas pelo Mediterrâneo. A sensibilidade de Marie Luise transformou Vagabundo,  aprendeu comme il faut doucement. L´étalon! Pourquoi être mâle latin!? [, O garanhão ! Porquê ser macho latino ?!].

Em pouco tempo as reservas que tinha levado, evapora­ram-se. Houve que mandar um SOS para os velhotes, solicitando papel. Neste espaço de pede e recebe, é apanhado por um fim-de-semana, completamente limpo. Com Abledu, saiu dando umas voltinhas pelos cafés junto ao jardim e um saltinho ao outro lado do Gilão, para visitar uns familiares do camarada e amigo elvense. Sábado à noite regressa sem dispensa de fim de semana e de recolher à sua caserna.

Conversa com Clemente, vai aos balneários e vê uma banca de batota montada. Lá estavam os amigos madeirenses doidos pelo jogo. Completamente limpo, volta para o beliche, e tenta cravar o ex-seminarista. Este adivinha do que se trata. Nega e dá-lhe um sermão. Insiste! Bondoso, Clemente acede e passa-lhe cinco “croas”. Vai direito aos balneários e troca a massa para durar mais tempo. Atira cinquenta centavos para um montinho. O banqueiro vira as cartas, debaixo dos cinquenta centavos estava um rei. Negoceia a banca por vinte paus. Já dá para fazer umas jogadas e passar o tempo. Agora arrisca cinco coroas e perde três vezes seguidas, mais cinco coroas e novo rei. Aqui faz bluff, cem paus pela banca ou fica banqueiro. Jogo de alto risco. Ele sabe que não tem dinheiro no bolso para suportar a banca. Arrisca mas pode dar bronca e pancadaria. Fica banqueiro e as coisas começam a correr bem. Vai ganhando e perdendo a banca. Meia noite, já à luz da vela, levanta-se e diz que para ele termina. Conta o dinheiro. Tem no bolso mil quatrocentos e cinquenta escudos, mais uns trocados. Vai-se deitar. Acorda Clemente e dá-lhe um rolo de cinco notas de vinte.
– Toma lá as cinco “croas”. Amanhã vamos almoçar a Vila Real, O.K.?

Tavira, o antigo CISMI. Fevereiro de 2014. Foto de LG
Universidade Aberta, vai aprendendo a sobreviver, no mundo cão. Razão tinha Niotetos (in "Pássaro fora da Gaiola"):
– Eu não devo nada ao cabrão do meu pai! Se sou o que sou, foi porque estudei. O gajo limitou-se a fazer-me numa noite de gozo.

Aula de táctica, mesmo com o estômago vazio, Vagabundo sentiu vómitos e uma forte dor no estômago. As entranhas embrulharam-se-lhe todas. Nunca tinha ouvido tal. Seria possível um indivíduo falar assim do próprio pai? Mais!... passeando com a mulher pela rua, virava-se para trás e, directamente para a malta, dizia:
– É boa, não é!? Mas é minha!

Assim, com estes professores, ia sendo formado um futuro furriel miliciano do Exército Português, em África. Quando em Dezembro de 1963 o já cabo miliciano Va­gabundo recebeu a guia de marcha para se apresentar no Bata­lhão de Caçadores n.º 8 em Elvas, onde tinha sido colocado, não ficava com muitas saudades do CISMI, antes pelo contrário criou uma certa alergia ao próprio Algarve.

 (Continua)
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sábado, 22 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3499: Controvérsias (10): Vi em 1961 chegarem, a Bissau, as primeiras tropas equipadas com a espingarda automática G3 (Mário Dias)




Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > O Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, da CCAÇ 84, com o capacete na mão, e o seu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro (*).

Foto: © Alberto Nascimento (2008) Direitos reservados


A G3, espingarda automática, de calibre 7,62 mm,de origem alemã, começou a aparecer na Guiné em meados de 1961... Com punho e fuste de madeira.


1. Resposta do Mário Dias a um pedido de esclarecimento do editor, Luís Graça, sobre a G3 e o início da sua introdução no TO da Guiné (vd. ponto 2).

Comandante Luís:

Mais uma vez me fazes "descalçar as tamancas e largar a ronceirice de gato enroscado no borralho" para responder às tuas dúvidas e lançar alguma luz sobre questões levantadas na nossa Tabanca Grande. Sobre elas recordo o seguinte:

I- Em 1959, ano em que "fui às sortes", ainda não havia "G3" na Guiné. Era a velha Mauser.

II- Vi as "G3" pela primeira vez a uma (duas?) companhia(s) que em 1961 chegou(chegaram) à Guiné,  constituindo a segunda vaga de reforço de tropas. Também duas companhias da Caçadores especiais que para lá foram em 1962 já iam armadas de "G3".

A primeira a ser enviada para a Guiné, ainda em 1959 no seguimento dos acontecimentos de Pidjiguiti, foi uma companhia mobilizada e pertencente ao Batalhão de Caçadores 5 (Campolide) cujo comandante era o capitão Ressano Garcia. Ainda iam armados com Mauser.

III- De facto os primeiros actos de guerra foram em 1961 na área de S. Domingos e Varela feitos pela FLING, organização cuja existência o PAIGC procura ignorar. Era precisamente a referida Companhia de Caçadores 5 que aí se encontrava e aguentou os ataques.

Quanto aos acontecimentos de Guidaje relatados pelo Alberto Nascimento (*) não me recordo deles nem me lembro de os ouvir comentar em Bissau onde tudo se ia sabendo, tal como aconteceu no caso de S. Domingos. Talvez por não ter chegado a haver "troca de tiros" entre os "beligerantes" conforme julgo entender da descrição feita. É possível que algo me tenha escapado pois nessa altura, 1961, já tinha passado à peluda e estava a trabalhar no Sindicato.

A controvérsia gerada sobre a data da utilização da "G3" na Guiné deve-se ao entendimento que alguns têm de, tendo essa arma começado a ser fabricada em Braço de Prata apenas em 1963, então só a partir dessa altura ela esteve disponível. Nada disso, pois as primeiras G3 que equiparam o exército foram cedidas (vendidas?) pela Alemanha e sobretudo pela Espanha e tinham a coronha e o guarda-mão de madeira ao contrário das fabricadas em Portugal que passaram a ser de material plástico. Alguns se lembrarão certamente de ver as primeiras a que me refiro.

Espero ter contribuído para o esclarecimento desta questão da "G3" e continuo à disposição para clarificar dúvidas que estejam ao meu alcance.

Um abraço para todos os "moradores da tabanca".

Mário Dias


2. Pedido de esclarecimento enviado anteriormente ao Mário Dias, pelo editor do blogue L.G.:

Mário:

Eu sei que queres que te deixem em paz, nas tuas tamanquinhas, à lareira, a curtir a tua musiquinha... Mas acontece que tu és o pai de nós (como dizem ainda hoje alguns guineenses, a nosso respeito, a respeito de nós, tugas...). Tu és o pai da velhice, uma testemunha privilegiada dos acontecimentos político-militares na Guiné entre 1959 e 1966... Na nossa Tabanca Grande tens o estatuto de Homem Grande, de mauro, de sábio, de marabu... Se fosses fula, tratava-te por Cherno (tio), Cherno Mário Dias...

É por isso que, de vez em quando, eu venho pedir-te dois cêntimos para este peditório: refiro-me às nossas blogarias, esta conversa mole e amigável, que vamos mantendo entre antigos camaradas de armas, que querem esclarecer (e esclarecer-se sobre) alguns aspectos da nossa história, a pequena e a grande...

Hoje as questões que eu te ponho, meu caro Cherno Mário Dias, são as seguintes:

(i) No teu curso de sargentos milicianos, em 1959, ainda não tinhas obviamente a G3, mas sim eventualmente a Mauser; certo ?

(ii) Em que data é conheceste a G3, menina que tu, de resto, nunca trocarias pela Kalash; (Publicámos um excelente poste teu, sobre as qualidades e as virtudes da menina G3):

(iii) Tens conhecimento de escaramuças, na região do Cacheu (Guidage) ou no Óio (Farim), em meados de 1961 ? O nosso amigo e camarada Alberto Nascimento, soldado condutor auto da CCAÇ 84 (1961/63), foi em coluna, a Farim, nesse mês e ano, a partir de Bissau, para socorrer os comerciantes e população de Guidaje... E já levava a G3, como testemunham inequivocamente as fotos que publicámos...

É um testemunho precioso que nos obriga a contestar a ficção do PAIGC que estabeleceu a data do ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963, como a data oficial do início da luta de libertação, se bem que a fundação do PAIGC (ou melhor, do PAI) seja de 1956...

As escaramuças de que eu já tinha ouvido falar, em 1961, eram as do chão dos felupes, em São Domingos e Varela, ligadas a gente da FLING... Confirmas ?

Para terminar: Sabes mais alguma coisa que queiras partilhar com os teus amigos e camaradas da Guiné ? E, já agora, por onde andavas em 1961 ? Sei que em 1960 andavas a dar instrução militar como 1º cabo miliciano...

Sei que és um homem de palavra, que medes as palavras, e que detestas as luzes da ribalta. Mas já em tempos tive que discordar de ti, quando me pediste discrição em relação à história do Domingos Ramos, alegando que os mais fantáticos do PAIGC nunca entenderiam o estranho comportamento dos dois amigos inimgos (tu e ele)...

Cito o qu então escrevi:

"Estou em total desacordo contigo neste ponto: acho que tens a 'obrigação' (histórica, moral…) de divulgar este momento (raro, se não único…) em que dois antigos camaradas e amigos se encontram, de armas na mão, em campos opostos... Esta história é fabulosa e diz muito dos grandes seres humanos (e dos grandes profissionais) que vocês eram (e tu continuas a ser, agora 'paisano')…


"Não creio que os 'fanáticos' do PAIGC ou dos teus 'comandos' saibam entender estas coisas da grandeza da alma... Que faria o Domingos Ramos, se fosse vivo ? Morreria com este segredo ? Eu acho que esta história já não te pertence mais, desde o momento em que a partilhas comigo ou com outros amigos… Fazia-te bem divulgá-la… Mas eu respeito inteiramente a tua decisão"...

Felizmente, tu reconsideraste, de imediato, a tua posiçáo, e eu tive a o privilégio de publicar, em 2 de Fevereiro de 2006, na I Série do nosso blogue, uma das histórias mais fantásticas e bonitas que eu já ouvi sobre a amizade entre homens, e que tocou muitos dos nossos amigo e camaradas da Guiné.

Um Alfa Bravo, querido Mário.
Luis

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nacimento)


(**) Sobre a G3, Hedder & Koch G3 ou HK G3 > Vd. Wikipédia

A G3 (em alemão: Gewehr 3, Espingarda 3) é uma espingarda automática fabricada pela Heckler & Koch (daí ser também conhecida por HK G3) e adoptada como a espingarda de serviço pela Bundeswehr (Exército Alemão) em 1959 (e até 2001), e depois por outros exércitos, nomeadamente dos países da NATO.

A G3 é tipicamente um espingarda, de calibre 7,62 mm, capaz de fogo semi-automático ou totalmente automático. Pode ainda ser anexada uma baioneta à G3. Foi desenvolvida pelos engenheiros da Mauser. A versão original da G3 era com punho e fuste de madeira.


Do mesmo fabricante é a HK 21, a metralhadoras em calibre 7,62, igualmente usada pelas NT nos TO da Guiné, Angola e Moçambique.

Face à Guerra do Ultramar, no incío dos anos 60, e ao embargo de armas imposto a Portugal pelo Governo Kenedy, uma nova arma. Por causa do embargo dos Estados Unidos, na época do Kenedy, a escolha acabou por cair num outro país da NATO, a Alemanha, disposto em transferir a tecnologia para a fabricação da arma em Portugal, neste caso para a Fábrica de Braço de Prata.

Quando chegou a África, em comparação com as antigas armas ligeiras das forças armadas a G3 era vista como extremamente sofisticada. Tratava-se de uma arma automática, que podia disparar rapidamente uma considerável quantidade de munição.

Foi necessário bastante treino de forma que a tropa se habituasse a entender que a posição normal da arma deveria ser a posição tiro-a-tiro, porque do ponto de vista operacional, gastar rapidamente a munição no meio do mato, seria um problema.

Em 1965, já o número de espingardas automáticas G3 tinha ultrapassado as 150.000 nas forças armadas, e mesmo assim, ainda existiam em funcionamento 15.000 espingardas automáticas FN, fornecidas de emergência pelo exército alemão, antes da introdução da G3.

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)

(...) Notas de L.G.:

(...) "Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra:

(...) "Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.

"Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.

"Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.

"A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada 'arma regulamentar'. (...)
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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

(i) Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > "Eu, à esquerda, com capacete na mão, e o meu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro"

Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > "Eu, num baga-baga, com a G3, a armar-me aos cucos"

Guiné > Bissau > 1961 > "Numa formatura, ainda em 1961, em Bissau, depois do meu pelotão regressar de Farim, frente ao palácio do governador, Peixoto Correia... já todos os camaradas estão equipados com G3".

Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Buruntuma > CCAÇ 84 > Fevereiro ou Março de 1962 > "Na zona dos Bucurés, a malta da companhia, com a G3"

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 84 > 1962 > "Mais uma pose para a fotografia, a G3 sem carregador".

Fotos e legendas: © Alberto Nascimento (2008) Direitos reservados

1. Mensagem, de 18 de Novembro, do Alberto Nascimento, a quem tinha, há dias, desafiado para me mandar fotos com a G3 (Alberto: Não tens uma foto tua... com a G3 ? Há malta incrédula com a tua história... G3 na Guiné em Julho de 1961 ?!... Um abração. Luís):

Amigo Luís

Para esclarecimento sobre o Caso G3, só posso confirmar o que escrevi para o blogue (*): Em Julho de 61 o meu pelotão recebeu a G3 e deslocou-se de urgência para Farim (**).

(i) Reenvio uma fotografia tirada juntamente com o camarada e amigo Maximino, (falecido em 2005), após um reconhecimento na zona. Do meu equipamento apenas tenho o cinto com os carregadores da G3 e o capacete, mas aquilo que o Maximino tem ao ombro é uma G3:

(ii) Envio outra fotografia, também de Farim, daquelas que se tiram “a armar aos cucos”, também com a G3;

(iii) Os restantes camaradas da companhia devem ter recebido a arma algum tempo depois, porque na formatura que fizemos ainda em 1961, em Bissau, depois do meu pelotão regressar de Farim, frente ao palácio do governador (Peixoto Correia), no render da parada, ou da guarda, ou coisa do género, já todos os camaradas estão equipados com G3;

(iv) Do destacamento seguinte, Buruntuma, Fevereiro ou Março de 1962, reenvio uma fotografia tirada na zona dos Bucurés, onde se pode verificar que os militares usam a G3;

(v) Do destacamento de Piche, mais uma pose só para a fotografia, com G3 mas sem carregador.

Do destacamento seguinte, Bambadinca, já falei de G3 quando relatei a operação Samba Silate (***), mas lamentavelmente não tenho fotografias com G3 para enviar.

Com ou sem licença, fabricadas ou não pela Fábrica Nacional de Braço de Prata, esta é a realidade e embora admita falhar quando menciono este ou aquele mês nas deslocações para os vários destacamentos, a ida para Farim e o recebimento da G3 são um dado que está absolutamente correcto, seja qual fôr a data convencionada para o início da história da guerra na Guiné e, com todo o respeito, as opiniões divergentes dos camaradas quanto a este assunto das G3.

Um Grande Abraço

Alberto Nascimento

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

(**) Vejam os seguintes comentários:

(...) Joaquim Mexia Alves

Não coloco obviamente em causa esta história, mas tenho de achar muito estranhas as datas. Não só por tudo aquilo que se julga saber, mas porque um meu irmão mais velho embarcou para Angola em 62 e, ao que me lembro, fez toda a comissão com a Mauser.Haveria já na Guiné a G3?Talvez, não digo que não!

Abraço camarigo
Joaquim Mexia Alves

José Colaço

É bem possível haver aqui um desfasamento de um ano porque só em 1962 é que a FMBP - Fábrica Nacional de Braço de Prata conseguiu licença para fabricar a HK G3. A minha companhia quando chegou a Guiné em Dezembro de 1963 recebeu a G3. Mas lembro que só na última semana quando estávamos a aguardar embarque, é que apareceu por lá uma G3a cheirar a nova para treino. Toda a instrução tinha sido com a velha mauser.

Um alfa bravo. Colaço


(**) Vd. último poste desta série 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? (José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)

(***) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63

domingo, 16 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)



Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Parece que em 1961 já havia tiros, um ano e meio antes de Tite, onde oficialmente começou a guerra, segundo a historiografia do PAIGC... Em 1973, em Maio, Guidaje vai tornar-se num inferno (parafraseando o título do jornal Público, em reportagem de 5 de Novembro de 1995).

Na foto de cima, um monumento funerário, evocando o Alf Mil Op Esp, António Sérgio Preto, da CCAÇ 19, morto em combate, no dia 29 de Junho de 1972...

Fotos: © Albano Costa (2008). Direitos reservados



1. Mensagem do Alberto Nascimento, membro da nossa Tabanca Grande, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (1961/63) (*), com data de 24 de Setembro, e reenviado a 10 de Novembro:

Amigo Luís:

Aí vai mais uma história, esta de Farim, de uma época de relativo sossego, que tu e os camaradas dos anos seguintes não tiveram a sorte de passar.

É uma das vantagens de ser velho...Um bocadinho mais velho.

Um Abraço
Alberto


2. Histórias da velhice (1) > O 1º Pelotão da Ccaç 84 em Farim


Bissau, Julho de 1961, meio da tarde.

O pelotão é formado com urgência e recebe as novas espingardas G3, para substituição da velha Mauser, corre para a carreira de tiro, recebe instruções sobre o funcionamento da arma: para desmontar tiram-se estas cavilhas, o carregador mete-se assim...com esta patilha nesta posição dá tiro a tiro, naquela tiro de rajada...vamos disparar uns tiros... estamos aptos.

Agora era só meter no saco o estritamente necessário para uso pessoal e desandar para Farim porque tinha havido um ataque em Bigene.

Saímos de Bissau cerca das 18 horas e fizemos rapidamente o percurso até Mansoa pelo único troço de estrada alcatroada que conheci (julgo que o único existente na Guiné da altura).

Com a época das chuvas já em pleno, as viaturas sem cobertura alguma, só com o camuflado em cima da pele, as estradas de terra completamente alagadas a ponto de os tabuleiros das pontes ficarem abaixo do nível da água e a nossa ainda incipiente experiência no terreno, a coisa não começava nada bem, mas após alguns atascamentos e velocidades vertiginosas de cinco milhas à hora em grande parte do percurso, conseguimos chegar ao destacamento de cavalaria instalado nos arredores de Farim, cerca das vinte e três horas.

Foi-nos servido um jantar engolido à pressa, e toca a correr para Bigene, onde passámos a noite à espera “que o assassino voltasse ao local do crime”, mas como não voltou, de manhã cedo voltámos a Farim.

Passámos o primeiro dia uns a dormir no chão do alpendre da caserna dos camaradas de cavalaria, eu fazendo serviço da minha especialidade, e à noite, depois de mascarrarmos a pele visível com fuligem das panelas, fomos emboscar um grupo de inimigos que, segundo informações (não fidedignas, pelos vistos), ia infiltrar-se em Farim.

Deitados no capim a uns metros do caminho por onde era suposto passarem, suportámos chuvadas fortes e constantes com a água a correr por baixo dos corpos e quando a chuva acalmava vinham nuvens de mosquitos, que nos faziam rogar aos santinhos para que voltasse a chuva e muito vento.

Movimentos físicos, só respirar, para não denunciarmos a nossa presença.

Não apareceu ninguém, nem nessa noite nem em mais uma ou duas operações semelhantes, porque certamente eles tinham melhor serviço informativo que o nosso.

Continuávamos a dormir no chão do alpendre, mas a partir de certa altura os camaradas de cavalaria, bons alentejanos, já revoltados com a nossa situação, permitiram que esticássemos o corpo nas suas camas durante o dia. Para os que podiam dormir durante o dia...

Estivemos nesta situação durante uns dias até que fomos ocupar um armazém desactivado em Farim e nos concederam o privilégio de voltar a ter as nossas camas.

Estávamos a começar a entrar na rotina militar, quando se deu um ataque a Guidaje e lá fomos nós ver os prejuízos. Fomos acompanhados por um comerciante português vestido com farda militar que conhecia bem a zona (?).

Identificado com alguma dificuldade, o caminho para Guidaje, um caminho por onde só deviam passar viaturas no período de transporte da mancarra, a avaliar pelo mato que crescia nele, deparou-se-nos uma rudimentar ponte de madeira sobre um curso de água que, embora não muito largo, devido às chuvas corria com caudal bastante forte.

Foi com muita dificuldade que conseguimos atravessar passar para o outro lado, porque imediatamente antes do tabuleiro havia um lamaçal que fazia com que a frente do jipão se atolasse ficando o para-choques ainda mais baixo que o tabuleiro. Depois de muito trabalho muita lenha colocada na zona de lama e muitos impactos das viaturas contra a ponte, conseguimos passar e fazer o resto do percurso até Guidaje.

É obvio que nos limitámos a verificar as marcas deixadas pelos tiros que dispararam, a olhar para o armazém de mancarra parcialmente queimado e a conversar com alguns habitantes, após o que o comando da coluna decidiu, ao fim da tarde, regressar a Farim.

Na volta aguardava-nos uma surpresa, daquelas que, passados os instantes de espanto acabam em gargalhada. Da ponte que tanto nos custara a atravessar, restavam apenas umas estacas espetadas na margem do rio...O resto tinha-se desconjuntado com os impactos das viaturas e foi arrastado pela corrente.

Havia palmeiras muito próximo do rio e isso ajudou-nos a improvisar uma nova travessia à força de machadadas dadas com gana principalmente pelo cabo 957(?) também conhecido por Cabo Gordo pelos camaradas africanos, que a cada cinco machadadas derrubava uma palmeira. Depois desta demonstração das nossas capacidades na construção de pontes, ou mais precisamente na arte do desenrasca, e porque a fome já apertava, lá conseguimos chegar a Farim, tarde mas ainda a hora decente para o jantar, que continuava, tal como as outras refeições, a serem fornecidas pelo destacamento de cavalaria.

Entre reconhecimentos da zona, postos de guarda colocados em vários pontos da povoação e umas idas ao bar da piscina, explorado por um cabo-verdiano conhecido por Cuca, o tempo foi passando até que, com muitos protestos da população de Farim, que queria ter segurança e até se revezava para fazer chegar, durante a noite, aos postos de guarda as sandes e o café quente, recebemos ordem para regressar a Bissau...

É a tropa...Quem podia, mandava. A verdade é que até ao fim do ano a nossa vida, pelo menos a minha, foi uma pasmaceira e só à noite se animava, com a visita aos lugares onde se petiscava, bebia, confraternizava e, às vezes, também se arranjavam problemas com os camaradas da P.M. e não só...

O destacamento seguinte, já em 1962, foi Nova Lamego, tendo o meu pelotão sido dividido pelo triângulo Piche, Canquelifá e Buruntuma. À minha secção calhou Buruntuma.

Alberto Nascimento

3. Comentário de L.G.:

Em primeiro lugar, os meus parabéns. Tens uma memória invejável. De elefante! Feitas as contas, já se passaram... 47 anos!... (Só 47 anos, dirão alguns, afinal menos de meio século!)... E tu relatas a cena da ida, do teu pelotão, a Farim, Bigene e Guidaje, do teu pelotão, com a frescura dos teus 20 anos. Um espanto!

Em segundo lugar, as nossas desculpas (ou uma explicação). O teu mail, de 24 de Setembro, por qualquer razão não veio parar à nossa caixa de correio. Ainda bem que deste conta do lapso, se não tinha-se perdido uma história (com H...) mui preciosa, como diriam os nossos vizinhos da Jangada de Pedra...

Em terceiro lugar, os acontecimentos que tu nos relatas, obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue.

Pelo que tu nos contas, já usavas G3 em meados de 1961, em substituição da velhinha Mauser. E devias também usar capacete de aço! Imagino o suplício, com aquela torreira toda... Esta é, de facto, uma história da velhice mais velha! Portanto, em meados de 1961, os camaradas - possivelmente gente da FLING, e não do PAIGC - já andavama aos tiros aos nosssos comerciantes e aos seus armazéns de mancarra, lá na região do Cacheu , na fronteira com o Senegal, em Bigene e em Guidaje.

Este facto é historicamente importante. Estamos gratos pelo teu depoimento. Não hesistes em escrever, sempre que te der na real gana. O blogue é teu.

_________

Nota de L.G.:

(*) vd. postes de:

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (16): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63

(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).



(**) Sobre o ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963, e sobre a FLING, vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné (A. Marques Lopes)

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2826: FLING, mito ou realidade ? (2): Africanos contra africanos... (A. Marques Lopes)

7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2818: FLING, mito ou realidade ? (1) (Magalhães Ribeiro, Fur Mil Op Esp, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)