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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25530: O Cancioneiro da Nossa Guerra (18): CCAÇ 5, Canjadude: (i) o Hino dos Gatos Pretos; (ii) Binóculos de Guerra (José Martins, 1968/70; João Carvalho, 1973/74)


Guiné > Região do Gabu > Canjadude  (carta de Cabuca, 1959, escala 1/50 mil)> CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > 1973 > Interior do "Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude"... O ex- fur mil enf João Carvalho, um histórico da nossa Tabanca Grande, é o terceiro a contar da esquerda... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr....

Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacamento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... o mítico campo fortitificado de Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de setembro de 1973, não em Madina do Boé, na vasta e desertificada região do Boé, junto à fronteira (se não mesmo para lá da fronteira...), o PAIGC proclama "urbi et orbi", numa  "jogada de mestre", a independência unilateral da nova República da Guiné-Bissau: foi um verdadeiro xeque-mate à diplomacia portuguesa...  O aquartelamento de Madina do Boé, como se sabe, foi retirado pelas NT em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios).

Foto: © João Carvalho (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (1973/74) > O  fur mil enf João Carvalho (1973/74)  junto a ao Morteiro 81 mm: uma arma poderosa, eficaz, mortífera, quando bem manejada, e apontada para as linhas inimigas... O nosso camarada é hoje farmacêutico.

Foto: © João Carvalho (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Carta geral da antiga Província da Guiné Portuguesa (1961) (Escala 1/500 mil) > Posições relativas de Nova Lamego, Cabuca, CanjadudeBéli, Ché-Ché (ou Cheche), e Madina do Boé (as duas últimas posições,  na margem esquerda do rio Corubal)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)



"Canções da Guerra!", um programa de Luís Marinho, que passou todos os dias, desde meados de outubro de 2015, de 2ª a 6ª feira, na Antena Um, às 14h55. Havia mais de meia centena de canções disponíveis "on line" do portal da RTP. Infelizmente já não há...  Os "podcasts" já não estão "on line" *) 


1. Podemos dizer que há um Cancioneiro da Guiné, o Cancioneiro da Nossa Guerra, composto por letras, de diferentes épocas e sítios, que são sobretudo letras de "canções parodiadas", e com músicas conhecidas, da época: tinham um propósito, não tanto de "contestação, resistência e denúncia", como sobretudo de "humor negro" e "resiliência".

Um ou outro de nós, em pequenos grupos, às tantas da noite, já com uns uísques ou cervejas no bucho, éramos capazes de cantar, tocar ou cantalorar "coisas proibídas" ou "censuradas", como era o caso de algumas canções da guerra colonial / guerra do ultramar que foram recuperadas e relembradas no programa do Luís Marinho, na Antena Um, no último trimestre de 2015 (*)...


2. O nosso camarada, amigo e colaborador permanente do nosso blogue, José Martins (ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)  [foto à direita ], colaborou com o Luís Marinho no programa "Canções da Guerra", com duas canções do Cancioneiro da Nossa Guerra, o Hino dos Gatos Pretos e Binóculos de Guerra (integradas no Cancioneiro de Canjadude). (**)

O José Martins recordou, na altura, no programa,  o "making of" destas duas canções. 

Da nossa parte, continuamos recuperar e a juntar numa só série, "O Cancioneiro da Nossa Guerra" (***),  os nossos vários "cancioneiros" (Bambadina, Bedanda, Cachil, Canjadude, Empada,  Gadamael, Gandembel,  Mampatá, Xime, etc.,)  dispersos pelo blogue... 


2.1. CANÇÕES DA GUERRA: Programa da Antena Um

Portal da RTP > Antena Um > "Canções da Guerra": programa de rádio, 2015 > Passava todo os dias, de 2ª a 6ª,  na Antena Um, às 14h55, no último trimestre de 2015.. 

Sinopse:

(...) "A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções.

"Desde o hino 'Angola é Nossa', criado após o início da rebelião em Angola, que levou a uma guerra que durou 14 anos.

"As canções ligadas à guerra, falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam de forma mais dissimulada ou mais directa, a própria guerra.

"De 2ª a 6ª feira, às 14h55 na Antena1, ou nesta página, escute as canções da guerra colonial, enquadradas por uma história. Que pode ser a da própria canção, do seu autor ou de um episódio que com ela esteja relacionado.

"Um programa: António Luís Marinho | Produção: Joana Jorge".

Infelizmente já não está disponível "on line".

https://arquivo.pt/wayback/20151117234402/http://www.rtp.pt/play/p1954/e213787/cancoes-de-guerra


2.2.O Hino dos Gatos Pretos | Antena Um, 17 de novembro de 2015.


Sinopse:

No Leste da Guiné, entre Madina do Boé e Gabu, na altura Nova Lamego, estava instalada, em Canjadude, a Companhia de Caçadores 5.

Eram os Gatos Pretos. O ex-furriel José Martins, conta-nos a história desta companhia e também a do seu hino.


2.3. Binóculos de Guerra | Antena Um, 16 de novembro de 2015

Sinopse: 

Num quartel na região leste da Guiné, Canjadude, numa zona de grande atividade da guerrilha do PAIGC, estava uma companhia africana do exército português, a de Caçadores 5.

A maioria dos oficiais e sargentos era oriunda da metrópole e, nas horas de descanso, criavam-se canções.

O ex-furriel José Martins, que esteve na Guiné entre 1968 e 1970, foi um dos autores de algumas destas canções.

Enviou-nos uma delas, Binóculos de Guerra,  e contou-nos também como nasciam …

(Fonte: Media > RTP  > Canções da Guerra... Com a devida vénia)

Infelizmente já não está disponível "on line" o podcast:

https://arquivo.pt/wayback/20151116232440/http://www.rtp.pt/play/p1954/e213611/cancoes-de-guerra


3. Fichas de unidade > CCAÇ 5

Companhia de Caçadores N.o 5
Identificação:  CCaç 5
Crndt: Cap Mil Inf João Alberto de Sá Barros e Silva | Cap Cav José Manuel Marques Pacífico dos Reis | Cap Inf Manuel Ferreira de Oliveira | Cap Inf António José Guerra Gaspar Borges | Cap Inf Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira  | Cap Cav Fernando Gil Figueiredo de Barros | Cap Mil Inf José Manuel de Matos e Silva de Mendonça

Início: 1abr67 (por alteração da anterior designação de 3* CCaç) | Extinção: 20ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 1abr67, foi criada por alteração da anterior designação de 3ª CCaç.

Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local. 

Continuou instalada em Nova Lamego, onde detinha a responsabilidade do respetivo subsetor e se integrava no dispositivo e manobra do BCaç 1856, tendo então pelotões destacados em Canjadude, Cabuca e Ché-Ché.

Ficou sucessivamente na dependência dos batalhões que assumiram a responsabilidade do Sector L3.

Em 14Ju168, foi deslocada para Canjadude, no mesmo sector, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsetor, então criado, tendo então um pelotão destacado em Cabuca até meados de fev69 e sendo substituída mais tarde em Nova Lamego, em 9ago68, pela CCaç 2403. 

Por períodos variáveis, destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente em Nova Lamego, de meados de abr70 a 21nov70, em Buruntuma, de 21nov70 a 18jun70, em reforço do BCav 2922 e de Copá, de 3ljan71 a princípios de mar71 , em reforço do COT1. 

Efectuou diversas operações de que se destaca a captura de 70 granadas de armas pesadas, 10 minas e 650 quilos de munições de armas ligeiras, na região de Siai.

Em 20ago74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Canjadude ao PAIGC, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade referente ao período de 1jan70 a 3lju173 (Caixa n."
130 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 629

_______________
 


(...) O isolamento em que nos encontrávamos, a necessidade de ocupar a mente com algo diferente que não fosse a actividade operacional, a tentativa de encurtar a distância que nos separava da metrópole, o sentido de improvisação e muitas mais razões, levaram a que os militares tomassem como suas as músicas em voga, na época, e lhes dessem nova vida, com factos que lhes estavam mais próximos e, sobretudo, que ajudavam a manter um espírito de corpo.

Os textos das canções ou poemas que se seguem, quando não identificam o autor, devem ser considerados de criação colectiva, pois que, se sempre há quem lance a ideia e lhe dê uma forma inicial, será o conjunto a sancioná-la e a transmitir-lhe a forma definitiva. (...)

(***) Último poste a série > 13 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25515: O Cancioneiro da Nossa Guerra (17): "Isto é tão bera"! (Letra do sportinguista e "caça-talentos futebolísticos", Aurélio Pereira, música da canção cubana "Guantanamera") (Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

domingo, 21 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25418: 20º aniversário do nosso blogue (6): Alguns dos nossos melhores postes de sempre (V): Canjadude, pânico no abrigo Norte: Ei!!!!!… malta… um Crooocoodiiiloooo!!!... (José Corceiro, ex-1º cabo trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", 1969/71)

Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 5, "Gatos Negros" (1969/71) >  Fotos do álbum do José Corceiro

Fotos (e legendas): © José Corceiro  (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do poste P5669 (*), do José Corceiro, ex-1º cabo trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos"(Canjadude, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 25/12/2009 (**)

(...) Estarei certo se afirmar que, nos dois anos e tal que passei na Guiné, na CCAÇ 5, em Canjadude, em situações normais (excluindo doença ou descanso por trabalho nocturno) não me deitei na cama meia dúzia de vezes no período entre as 12.00h e as 15.00h, o chamado “almoço e dormir a sesta”, é um hábito que nunca consegui adquirir e nunca senti falta dele.

Nesse período do dia (considerado de descanso) eu, se o tempo o permitisse, após o almoço era frequente ir até às rochas de Canjadude (Foto nº 2), que me ajudava a suavizar o desconforto da tensão do passar dos dias, alentando-me a escrever uns aerogramas, cartas, ou outras escritas que para mim eram essenciais. Era neste local de inspiração, expansão e tranquilidade, que eu amenizava a minha paz interior. (...)


José Corceiro
Encontrava amenidade ao ir até à Tabanca, ilusão de porta aberta que me deixava partir para a descoberta da terra da fantasia que eu sonhava, onde alguém por mim esperava. Envolvia-me com o seu povo, a tentar compreender e analisar os seus costumes, vivências e necessidades, que despertavam no meu íntimo, sentimentos consistentes de amizade e solidariedade. 

Deleitava-me, nesta hora, ir até à bolanha para ter contacto de proximidade com as lavadeiras, apreciar a destreza e desembaraço com que amanhavam a roupa.

(...) O dia 8 de Novembro de 1969, vá lá o diabo saber porquê,        o meu relógio biológico, neste dia, não me despertou para após o almoço ir para as rochas, Tabanca, ou   Bolanha e fiquei no abrigo                                                  Norte,   o meu hotel de 5 estrelas, todo refastelado no 1.º andar do beliche,                                  esparramado na minha cama, descontraído e absorto a ler o livro A Selva,                                      do Ferreira de Castro. 

Era perto das 13.30h, os alojados do abrigo estavam quase todos nas suas camas deitados, cada um a ruminar o seu abrolho, uns a cabecear, a sonhar, a ninar, a ressonar, a rosnar, outros a sonhar acordados, praticamente silêncio nocturno!

Eis senão, quando no meio deste sossego, agitando toda a tranquilidade, ouve-se uma voz aflita e horrorizada, dar um grito de alerta e perigo:
Brasão da
CCAÇ 5


- Ei!!!!!… malta… um Crooocoodiiiloooo!!!!!…..

Tudo alarmado olha e fica apavorado, pois toda a minha gente vê um crocodilo 
dentro do abrigo!!!!!.. Entra tudo em pânico, cria-se ali colossal agitação e sobressalto, com a inesperada visão do arrojado e assustador visitante, ouvem-se gritos de alvoroço por todo o lado. 

Num abrir e fechar de olhos transforma-se o abrigo em abrupta balbúrdia, que mais parece uma capoeira, cujos galináceos se excitam e aterrorizam com a entrada duma raposa matreira, no poleiro.                    Os aquartelados das camas do rés-do-chão, do beliche, quais macacos trapezistas começam a trepar emaranhados, para as camas do andar de cima,                        para encontrar protecção e afastar-se do perigo de tão ameaçador intruso. Outros, pegam na G3, posição em riste, dedo no gatilho, enquanto outros, de granada numa das mãos e a outra orientada para argola da cavilha, preparam-se para o assalto final ao temível e tímido bicho. Este, por sua vez, tentava descobrir refúgio e ocultação, procurando alguma toca debaixo das camas onde se pudesse abrigar e aninhar. 

Eu, curioso e incrédulo, observo com olhar mais atento e vejo parte do bicho, pois era descomunal, certifico-me que já em tempos tivera, nas rochas, contacto com um irmão deste, em tudo igual, ainda que de tamanho inferior. Daí, o meu grito sedativo:

- Ei!!!… rapaziada, tenham calma, que o réptil é da família das Iguanas, é um lagarto,  não faz mal a ninguém…!

Mas, o meu alerta de apelação para amainar o rebuliço, não surtiu efeito nenhum, palavras caídas em saco roto, estavam todos tão apavorados que só viam ameaças e perigo de vida, causada pelo indefeso animal.

O espaço no abrigo era acanhadíssimo, pois havia beliches de duas camas dum lado e do outro, um corredor estreitíssimo ao centro. A falta de espaço, aliada ao desalinho e confusão no abrigo, provocaram uma desarrumação caótica, devido às deslocações das camas e ao desorganizar objectos que se apoiavam nestas. O bicho encurralado movimentava-se naquela anarquia sem que ninguém o conseguisse imobilizar.

Eu, ao ver que os meus apelos lenitivos entravam por uma orelha a 5km/h e saiam pela outra a 100km/h e ao constatar que ninguém conseguia infundir um pouco de calma naqueles desgovernados militares, fiquei receoso e inseguro, pois temia que a todo o momento rebenta-se ali uma granada, que estavam distribuídase colocadas nos locais menos apropriados, ou que algum mais distraído, sentindo-se ameaçado começasse a dar tiro de rajada de G3. Ao ver-me envolvido em tamanha patacoada,  esgueirei-me dali, fui dar uma volta à Tabanca. Regressei passado meia hora, encontro o abrigo numa barafunda assustadora, até havia dificuldade para entrar, e, deparo-me com os meus haveres em displicência total, muitos deles caídos e espalhados pelo chão e o desgraçado do bicho já tinha sido sacrificado.

Logo depois de arrumar os meus objectos, que estavam num desmazelo de inspirar piedade, fui tentar investigar como chegou o “lagartão” ao abrigo. Consegui descobrir os últimos passos do atormentado animal, antes de se enfiar no corredor que o conduziu ao cadafalso.

Os répteis foram os primeiros vertebrados a libertar-se do meio aquático. São quanto à temperatura do corpo, devido ao seu sistema circulatório, ectotérmicos (calor vem de fora) isto quer dizer o seguinte: são animais que para regular (subir ou baixar) a temperatura do corpo, procuram ambiente adequado para equilibrá-la. Se têm o corpo muito quente, intuitivamente, acção de sensores, procuram sombra, se tem o corpo frio, procuram Sol, fonte de calor. Esta particularidade está definida no seu código genético e têm sensores que determinam o agir comportamental, mediante a temperatura do organismo.

O nosso “lagartão”, da ordem dos sáurios (esquamates), deve ter-se empanturrado de calor em cima de alguma rocha, (as rochas são concentradoras de calor e os répteis procuram-nas para se aquecer) às tantas, porque aqueceu excessivamente, teve necessidade de encontrar sombra para se refrescar, vai daí, deixou-se cair para dentro de uma das valas (trincheira) que ia desde as rochas à porta do abrigo Norte. Sendo assim, entrou no corredor que o conduziu, sem pedir licença, à porta da forca. Foi uma aventura sem retorno para o nosso animal ectotérmico.

Na foto do lagarto, que tinha quase dois metros de comprido, à frente do lado direito, são visíveis as pegadas do lagarto que confirmam os passos até cair na vala. Depois de cair nesta, não tinha capacidade de sair pelos próprios meios, pois a vala tinha mais dum metro de profundidade e era estreita de paredes na vertical. (Esta foto, não dá a real corpulência do animal porque foi tirada de muito longe, para grande enquadramento e agora teve que ser reduzida)


PS - Legenda da Foto n.º 1  > "O lagarto que procurou refúgio no abrigo Norte. Tinha cerca de 2m de comprido a foto devido a ter sido tirada de longe não dá a real corpulência do animal. Lado direito é visível as pegadas do bicho."

(Seleção, revisão / fixação de texto, edição das fotos: LG)


2. Comentário do editor LG:


Na Guiné, viu-se de tudo: manadas de elefantes junto ao arame farpado,  ou de gazelas a comer a mancarra da tropa, mulheres a alimentar ao peito cabritinhos órfãos, "jacarés" (que é coisa que não há), "mabecos" (que também não há), etc., para além de Mig 17 a sobrevoar Bissau à noite... E até "foguetões" a cair na sopa...

A história que o José Corceiro nos contta é uma delícia, e merece ser conhecida de todos... Podemos pô-la no anedotário da Spinolândia... Mas o soldado português não tinha que saber tudo, nem teve tempo, na recruta, na especialidade e na IAO, de aprender a distinguir a diferença entre um "lagarto" e um "lagarto preto"... (animais, de resto, de difícl observação).

Quanto ao bichinho da histótia, tudo indica, pela foto nº 1 e pela  descrição do autor, tratar-se de  um "Lagarto Preto" (em crioulo) (Osteolaemus tetrapis), animal hoje protegido na Guiné Bissau...É um réptil pacífico, inofensivo para o ser humano. Também lhe chamam noutras partes da África Equatorial crocodilo-anão.



Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Departamento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d (Disponível em formato pdf, aqui, no sítio do IBAP ,


Não confundir com o "Lagarto" p. d. (o crocodilo-do-Nilo, a que a tropa chamava "alfaiate")  nem com as iguanas... Sobre os répteis da Guiné-Bissau, vd. poste P22401 (***)

Por último, este poste  é publicado no  âmbito do 20º aniversário do nosso blogue (****).

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5535: Tabanca Grande (196): José Corceiro, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 5 (Gatos Pretos) (Canjadude, 1969/71)

(**) Vd. poste de 15 de março de  2010 > Guiné 63/74 - P5996: José Corceiro na CCAÇ 5 (6): Pânico no abrigo norte, crocodilo à vista

(***) Vd. poste de 24 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22401: Fauna & flora (16): Répteis da Guiné-Bissau que é preciso conhecer e proteger: 2 crocodilos, o crocodilo-do-Nilo (Lagarto) e o Lagarto preto; 
e duas linguanas (a de água e de mato)

Vd. também poste de 24 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (153): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24742: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (1): Canjadude, região do Gabu, 27 de abril de 1973: 6 foguetes, mais ou menos certeiros, lançados a 12 km de distância, mas sem consequèncias de maior (João Carvalho, ex-fur mil enf, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", 1973/74)

Guiné > Região de Gabu  > Canjadude > 1973 > CCAÇ 5 (Gato Preto) > Interior do Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude (o furriel miliciano João Carvalho é o 2º a contar da direita)... 

No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr.... Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacamento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... a mítica Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... 
 
Depois da retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969, de Cheche e de Béli, o aquartelamento de Canjadude, era a posição mais a sul, mantida pelas NT, na região de Gabu, setor de Nova Lamego, a par de Cabuca (mais a nordeste).


Guiné >Região de Gabu > Canjadude > 1973 > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > Vista geral do aquartelamento... Em abril de 1973, as NT são surpreendidas por um ataque certeiro de 6 foguetões 122 mm... Mais uma escalada na guerra... 

Fotos (e legendas): © João Carvalho (2005).Todos os direitos reservados. [Edição e kegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



Carta geral da antiga Província da Guiné Portuguesa (1961) (Escala 1/500 mil) > Posições relativas de Nova Lamego, Cabuca, Canjadude, Béli, Ché-Ché (ou Cheche), e Madina do Boé (as duas últimas posições,  na margem esquerda do rio Corubal)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

1. Excertos de um aerograma  enviado, a um irmão, pelo João Carvalho (ex-fur mil enf, CCAÇ 5, Canjadude, CCAÇ 5m 1973/74, e hoje farmacêutico; é um dos veteranos do nosso blogue, tendo ingressado na Tabanca Grande em  23/1/2006).

Iniciamos hoje uma série com testemunhos, inéditos ou não, sobre ataques ou flagelações, com foguetões 122 mm (que começaram a ser utilizados pelo PAIGC desde o últim0 trimestre de 1969), 


Canjadude, s/d (c. abril/maio de 1973)


(...) No dia 27 de abril de 1973 às 22h e 50m, estava eu no clube de oficiais e sargentos, a conversar com mais dois furriéis e com o soldado que trabalha lá, quando ouvimos... Bum-bum!!! (dois sons graves, logo seguidos). 

Um dos furriéis virou-se para o outro e disse:

− Não batas com os pés no balcão que é chato. (Quando se bate no balcão, parece uma saída de morteiro.)

Então o outro, com um ar muito espantado, diz:

−  Mas eu não toquei no balcão. 

Ficámos a olhar uns para os outros, assim meio desconfiados, até que chegámos à conclusão que devia ser um ataque pois, de imediato ouvimos um estrondo enorme e o clube abanou por todos os lados. Logo a seguir outro igual. 

Ficámos completamente despassarados e resolvemos sair a correr pela porta principal, porque,  se abrissemos a porta lateral, via-se luz cá de fora e podiam começar a atirar para nós.

Eu vinha em último lugar a correr (semiagachado) a contornar o clube para ir para a vala, quando bati com a cara numa coisa duríssima e caí para trás e em cima do outro furriel que estava ainda no chão e que lhe tinha sucedido o mesmo. 

Levantámo-nos e ele disse que era uma viatura que estava ali parada (nós não víamos o Unimog porque saímos dum sítio com luz e ainda por cima como não havia lua não havia claridade nenhuma e a viatura não costumava estar estacionada naquele lugar).

Contornámos a viatura e metemo-nos na vala, andando ao longo desta para sairmos debaixo dos mangueiros. Olhei para dentro do quartel e vi um clarão enorme acompanhado de um grande estrondo (parecia que estava numa sala com 10 amplificadores ligados ao mesmo tempo). 

Entretanto começaram a sair do quartel morteiradas para o mato e também rajadas de metralhadora, ou seja o fogo era já o nosso.

Um indivíduo que estava na metralhadora Breda, perto de nós, dava uma rajada, parava e depois berrava:

 Filhos disto e daquilo, não querem lá ver ?! Vêm gozar com a velhice ?! ... 

Depois, mais uma rajada e repetia a mesma coisa. Agora, quando me lembro, até dá vontade de rir! O fogo parou e eu e o outro furriel, fomos à enfermaria tratar da cara e dos outros feridos se os houvesse. Fiz um corte no nariz e debaixo de cada vista... o outro furriel tinha cortes um pouco menos profundos...

Um dos furriéis que também estava no clube contou que foi a correr pela parada do quartel e que se meteu dentro de um dos abrigos, tendo entrado pela janela um estilhaço que lhe passou por cima. 



Em conclusão, fomos atacados por 6 foguetões lançados mais ou menos a 12 km daqui. Um deles caiu a uns 300 m do arame farpado, outro mesmo no centro do quartel e os outros mais ou menos em cima do arame farpado. Não faço ideia como é que a 12 km conseguem enfiar com os 6 foguetões praticamente dentro do quartel.

Felizmente não houve nada de grave. Só 3 pessoas é que apanharam com estilhaços, mas já com tão pouca força,  que só tiveram umas feridas superficiais. Houve muitos joelhos esfolados nas valas mas... O foguetão que caiu no meio do quartel, deitou abaixo parte da cozinha, o que não faz mal pois aquilo já estava a cair! 

Este ataque pregou-nos um bom susto mas, com uma sorte incrível, não houve nada de especial. (...)


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]


2. Comentário do editor LG:

Sobre o  foguetão (na realidade, um foguete autopropulsionado) de 122 mm, utilizado pelo PAIGC, deixamos mais algumas notas,  da autoria do nosso especialista em artilharia, o cor art ref Nuno Rubim:

(i)  o sistema era conhecido pelo PAIGC como Arma Especial - Grad: 

(ii) na gíria dos guerrilheiros, também era conhecido como "jacto do povo" e "mulher grande";

(iii) era uma arma de artilharia, de bater zona, e não de tiro de precisão;

(iv) o alcance máximo era de 11.700 m para 40º de elevação;

(v) segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de novembro de 1969, a 9.800 m;

(iv) conforme imagens â esquerda, o foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho ) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade afim de estabilizar a vôo; as alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo (cortesia de Nuno Rubim, 2007):

(v) historicamente, os quatros alvos das NT a ser atingidos teráo sidom emn 1969, Bedanda (a 24 de outubro), Bolama (a 3 de novembro), Cacine (a 4 de novembro) e Cufar (a 24 de novembro);

(vi) nº de foguetes previstos: 17 (média, 4,25; máximo, 6, em Bolama; mínimo, 3, em Cacine);

(vii) nº de foguetes utilizados: 15 (dois avariados);

(viii) nº  confirmado de foguetes que atingiram o objetivo: 10 (66,6% de eficácia);

(ix) distância de tiro: 9,8 km (Bolama), 3,4 km (Bedanda), 3,2 km (Cacine) e 2,0 km (Cacine).


O Luís Dias, outro nosso especialista em armamento, acrescentou:

(...) "A arma Katyusha era originalmente a denominação para os foguetões utilizados pelos multi-lançadores, que eram transportados em diversos tipos de camiões. Depois da guerra, os soviéticos aperfeiçoaram estes multi-lançadores, com o surgimento do míssil 122mm BM-21 GRAD, colocados em viaturas diversas e com diverso número de tubos. 

Aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo unitubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existentes (CCAÇ 4740, Cufar, 72/74) (...).

_______________

Nota do editor;

(*) Vd. poste de 5 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P482: O ataque de foguetões 122 mm a Canjadude, em abril de 1973 (João Carvalho, ex.fur mil enf, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", 1973/74)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23429: Frase do Dia (3): Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)

 1. Comentário (*) de Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, autor, entre outras, da série "Consultório Militar"; m histórico da Tabanca Grande, onde está desde 2005; tem jácerca de 460 referências. 

Caro Ramiro Figueira

Foi bom ter voltado a Canjadude e Che-Che, apesar de 
ser em pensamento, sítios por onde andei e onde permaneci dois anos, já lá vão mais de cinquenta.

Na verdade, nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.

Abraço.

Zé Martins (**)

13 de julho de 2022 às 09:27 (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23427: (Ex)citações (411): O calor e alguma ociosidade inerente levou-me a andar aqui pelo blogue a passear pela infinita quantidade de publicações que por cá há, com destaque para a região do Boé onde, em 1987, fui abrir uma missão com hospital de campanha, no âmbito dos Médicos Sem Fronteira (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72)

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23231: Álbum fotográfico de João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72) (Parte I)

Relembrando a mensagem de apresentação do nosso camarada de armas, João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72), com data de 24 de Abril de 2022:[1]

Caros camaradas
Antes de mais uma saudação especial para todos os que foram membros da mesma missão, seja em que local tivesse sido, um forte e fraterno abraço.
Anexo um pequeno texto com algumas fotos que achei interessantes.
Se entenderem podem anular as que acharem inconvenientes.
Quanto aos elementos que compõem as fotos, tenho a certeza que não se opõem ao facto.
Estou ao dispor do grupo para o que for necessário, pois infelizmente tenho bastante que contar, apenas necessito de tempo.

Sem mais de momento, forte e fraterno abraço para todos.
João Alves

Foto n.º 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > De Sargento de Dia
Foto n.º 2 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > O que sobrou de um Unimog depois de accionar uma mina anticarro em 3 de Agosto de 1972.
Foto n.º 3 > Guiné > Região de Gabu > De folga do serviço em Nova Lamego. Da esquerda para a direita: eu, o Alf Mil Martins e o Fur Mil Germano Penha.
Foto n.º 4 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > A chegada sempre agitada ao aquartelamento
Foto n.º 5 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Junto ao meu abrigo
Foto n.º 6 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Momento de lazer no Bar de Oficiais e Sargentos. Sentados: Fur Mil Germano Penha, Cap Arnaldo Costeira, um casal de sargentos que não me lembro o nome e o Fur Mil Moreira. De pé: Fur Mil Ramos (infelizmente já falecido) e eu.
Foto n.º 7 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Eu e o Fur Mil de Transmissões num momento de diversão. Em primeiro plano o Fur Mil Ramos, já falecido. Agachados: Fur Mil Amanuense José Perestrelo, eu e Fur Mil Alberto Antunes.
Foto n.º 8 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Mais um momento de repouso no bar: Alf Mil Manuel Neves, eu, Fur Mil Germano Penha e o Fur Mil Vaguemestre Vítor Caldeira.
Foto n.º 9 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Reunião de convívio. De frente: o Perestrelo, eu, o Fur Mil Alberto Caetano, o Alf Mil Martins e o saudoso Fur Mil Ramos. O Cap Costeira parecia desconfiado. Também de costas, salvo erro, o Fur Mil Penha, o Fur Mil Mec Auto Eduardo Melgueira e outro camarada que não consigo identificar.
Foto n.º 10 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Todos éramos amigos, civis e militares. Em baixo à direita o Alferes Miliciano Pedro Lamy.
Foto n.º 11 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude  > O Ramadão em Canjadude no ano 1972
____________

Nota do editor

[1] - Vd. poste de 26 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

terça-feira, 26 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

1. Mensagem do nosso camarada João Alves deixada no Formulário de Contacto do Blogger

Olá "Camaradas".
Estive em Canjadude, desde junho de 1970 até julho de 1972.
Durante esse tempo convivi com muitos dos referenciados nesta peça, era Furriel Miliciano.
Convivi com o Cap. Arnaldo Costeira e com o seu substituto que não me recordo agora o nome.
Posteriormente enviarei fotos.

Cumprimentos,
João Alves


********************

2. Mensagem enviada pelos editores ao João Alves:

Caro camarada de armas João Alves
Muito obrigado pelo teu contacto.
Julgo teres pertencido à CCAÇ 5, comandada no teu tempo pelo Cap Inf Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira que foi substituído pelo Cap Cav Fernando Gil Figueiredo de Barros.
Teremos muito gosto em receber-te na tertúlia. Para o efeito, manda-nos uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, fardado, formatos mais ou menos tipo passe.
Confirma se pertenceste à CCAÇ 5, diz-nos as datas de ida e regresso da Guiné, a tua especialidade e outros elementos que julgues úteis para te ficarmos a conhecer melhor.
Envia-nos um texto de apresentação, pode ser uma estória, e as fotos que entenderes, devidamente acompanhadas pelas respectivas legendas que devem indicar pelo menos o local e data. Se achares que os retratados não se importam, podes identificá-los.
Somos um Blogue de antigos combatentes que nos regulamos pelos critérios que podes ver aqui: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/07/guine-6374-p8588-excitacoes-143.html
Também temos a nossa política editorial que podes ver na aba esquerda da nossa página, que aqui transcrevo:
[...]
A tua correspondência deve ser enviada para luis.graca.prof@gmail.com, com conhecimento a carlos.vinhal@gmail.com, para teres a certeza de que as tuas mensagens são lidas.

Ficamos então na expectativa da tua resposta.
Deixo-te um fraterno abraço em nome dos editores e tertúlia deste Blogue.

Abraço
Carlos

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3. Mensagem do nosso novo amigo tertuliano e camarada de armas, João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72), com data de 24 de Abril de 2022:

Caros camaradas
Antes de mais uma saudação especial para todos os que foram membros da mesma missão, seja em que local tivesse sido, um forte e fraterno abraço.
Junto um pequeno texto com algumas fotos que achei interessantes.
Se entenderem podem anular as que acharem inconvenientes.
Quanto aos elementos que compõem as fotos, tenho a certeza que não se opõem ao facto.
Estou ao dispor do grupo, para o que for necessário, pois infelizmente tenho bastante que contar, apenas necessito de tempo.

Sem mais de momento, forte e fraterno abraço para todos.
João Alves

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Canjadude - De Sargento de Dia

Nome: João da Silva Alves
Embarquei com destino à Guiné-Bissau em 18 de julho de 1972, desembarcando a 24 de julho como Furriel Miliciano, onde fui colocado na CCAC 5, onde cheguei numa coluna no dia 2 de agosto, sob o comando do Capitão Cap. Inf. Arnaldo Carvalhais da Silveira Costeira, tendo servido no 1.º Pelotão sob o comando do Alferes Miliciano Alexandre Rodrigues Martins, com os camaradas Furriel Miliciano Germano Penha e Manuel Joaquim Inocentes e Sá.

Lembro-me como se fosse ontem. Os camaradas fizeram uma festa aos três periquitos com uma gravação feita pelos camaradas Antunes das Transmissões e o Furriel Moreira que falava fluentemente o “Ciriolo”, com o propósito de fazer crer que o inimigo sabia perfeitamente da chegada a Canjadude dos recentes elementos.
Diga-se em abono da verde que a certo ponto nos convenceram, mais o Furriel Alberto Caetano.

No dia 3 formou-se uma coluna para levar os elementos que tinham acabado a sua missão para em Nova Lamego e serem conduzidos a Bissau. Foi o meu pelotão a formar a coluna, tendo o Alf. Martins me chamado para ir ao lado dele na 1.ª viatura, uma GMC.
Foi a minha sorte, pois eu estava na segunda viatura, um Unimog “salta pocinhas” que seria vítima de uma mina na picada, houve algumas vítimas mortais que iam na viatura e alguns feridos. Foi pedido à companhia ajuda para evacuação dos feridos e mortos, um dos feridos era o Furriel Miliciano João Purrinhas Martins que tinha chegado connosco, o 1º Cabo Enfermeiro Carlos Alberto Diniz e vários civis.

Fizemos uma visita cerrada nas imediações, pois não houve troca de tiros. Seguimos um caminho recentemente pisado que nos conduziu a uma tabanca civil, em Sitó, onde não encontramos nada de suspeito. Regressamos para junto do resto do pessoal que tinha ficado a fazer guarda na picada, e voltamos para Canjadude tendo os camaradas que foram rendidos seguido para Nova Lamego nas viaturas que vieram do Batalhão de Nova Lamego.

Foi assim o nosso batismo de fogo que na noite desse mesmo dia fomos atacados apenas com armas ligeiras, o que viemos a constatar que o acidente da manhã estava a ser montado para no dia seguinte sermos emboscados, pois foi a primeira vez que uma coluna de rendição era feita no dia imediato à coluna de chegada.

Foto 2: O que sobrou do Unimog

Dois dias depois foi organizada uma coluna de Guarda de Honra para acompanhar os corpos para Bissau, eu e mais cinco militares. Primeiro em viaturas para Bafatá, seguindo-se de lancha para Bissalanca.
Foi duro, pois foram cinco dias no total até regressar a Canjadude.

Praticamente durante um ano não fomos importunados pelo inimigo. Apenas ouvíamos os ataques que eram feitos aos aquartelamentos por ali perto. Cabuca, Gam Quiró, Pirada.
No meu último ano em Canjadude fomos atacados diversas vezes.

Acabei a minha comissão de serviço em 12 de junho de 1972.
Desembarque em Lisboa no Aeroporto Militar de Figo Maduro em 12 de julho de 1972 num avião militar.


********************

4. Comentário do editor CV:

Caro João Alves
Bem-vindo à tertúlia. És mais um Antigo Combatente da CCAÇ 5 e vens juntar-te ao nosso camarada e colaborador permanente na área de História Militar e Arquivos, José Martins, que foi Fur Mil de Transmissões em Canjadude nos anos de 1968/70.

Na tua apresentação trazes-nos uma estória traumatizante, principalmente para quem acaba de chegar ao Teatro de Operações e entra logo em contacto com a realidade pura e dura da guerra.

Se me permites, vou reservar as fotos que nos enviaste e agora não publicadas para um ábum fotográfico teu, que irei criar. Fica desde já o pedido para o envio de mais. E de outras memórias escritas também.

Vais ocupar a posição n.º 860 desta tertúlia de antigos militares e amigos da Guiné e da actual Guiné-Bissau, agora país soberano.

Termino com um abraço de boas-vindas em meu nome pessoal e nos dos editores e tertúlia.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23099: Tabanca Grande (532): Padre José Torres Neves, missionário da Consolata, ex-alf mil capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 859

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22332: In Memoriam (397): Actor Carlos Miguel Bugalho Artur (1943-2021), ex-Fur Mil Amanuense do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), falecido no dia 19 de Junho de 2021 (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

IN MEMORIAM


Carlos Miguel Bugalho Artur
11 de Junho de 1943 - 19 de Junho de 2021

A notícia chegou, lacónica, ao meu conhecimento através das Redes Sociais:

"O ator Carlos Miguel, conhecido como o “Fininho”, morreu este sábado, em Santarém, aos 78 anos. Tinha participado no antigo concurso “1, 2, 3”."

Algumas notícias e publicações, nos media e nas redes sociais se referiram a este acontecimento, mas sempre em tom de quem regista um facto que não pode deixar de ser levado ao conhecimento do público. Nas revistas, que vivem das artes cénicas, nada vi referido.

Dá a sensação que, ao afastar-se do palco há 23 anos, devido à doença que viria a vitimá-lo, tinha sido remetido para o esquecimento.

Não. O Carlos Miguel não foi esquecido. Nem por quem o acompanhou nos palcos, nem por quem, com ele, cumpriu o serviço militar, não só na Metrópole, mas também em África, mais concretamente na antiga Guiné Portuguesa.

Como pouco se escreveu sobre o Carlos Miguel, não foi notado que existe uma “branca” entre o ano de 1966 e 1970, no que respeita ao contributo que deu ao teatro.

Conheci-o em 1968, quase no final do ano, em Nova Lamego (Gabu).

Recordo-me que, em determinada altura em que passeávamos, fomos abordados por um soldado que, desdobrando uma revista, lhe perguntou se, na fotografia, era ele. A revista em questão era de “fotonovelas”, ou seja, descrevia uma história semelhante a uma “banda desenhada”, com os “balões de falas” a indicar quem falava.

Desconhecia esse seu trabalho. Pediu ao soldado para não mostrar a outros camaradas esse seu trabalho. O Carlos Miguel mostrava, desta forma, ser muito discreto.

O Furriel Miliciano Amanuense Artur, integrou o quadro orgânico do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), mobilizado no Regimento de Artilharia n.º 1 (Lisboa), que embarcou para o Comando Territorial Independente da Guiné em 1 de Fevereiro de 1967, chegando a Bissau no dia 6 seguinte.

O CMD AGR 1980 assumiu a responsabilidade da Zona Leste, com sede em Bafatá que compreendia os sectores de Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego.

Na História da Unidade (cota 2/4/84/5), que consultei no Arquivo Histórico-Militar, regista que em 31 de Outubro de 1967 é evacuado para o Hospital Militar nº 241 (Bissau). Comentários nas redes sociais indicam que foi devido a uma fractura do braço. Nada mais consta do Carlos Miguel no documento consultado.

Nos elementos de que disponho no meu arquivo, sobre a Companhia de Caçadores nº 5 - Gatos Pretos - Canjadude, uma companhia formada por africanos e enquadrada por europeus, consta que foi colocado nesta companhia, onde eu prestava serviço desde Junho de 1968, em 22 de Setembro de 1968, não constando o motivo da transferência, assumindo as funções de Chefe da Secção de Matrícula. Não consta a data em que foi substituído nem o seu destino, mas o seu substituto foi aumentado ao efectivo da companhia em 8 de Setembro de 1968.

Provavelmente foi destinado a alguma Repartição do Quartel-General ou outro serviço em Bissau, até ao final da sua comissão de serviço.

Voltamos a encontrar-nos no bar da Liga dos Combatentes no Porto, por acaso, quando ali estávamos a almoçar. Ele estava no Porto em trabalho e eu residia na zona. Encontrámo-nos algumas vezes mais, especialmente quando fui trabalhar para o bairro de Campo de Ourique em Lisboa, onde ele residia.

Soube que foi residir para a freguesia de Granho, Salvaterra de Magos, quando o contactei para o informar de um encontro dos militares que pertenceram à Companhia, mas não sabia o motivo do seu afastamento de Lisboa.

Tudo voltou à memória, com este infausto acontecimento.

Aqui fica o nosso preito de homenagem a um Gato Preto, a um Camarada e, sobretudo a um AMIGO, onde quer que esteja …

José Martins
O ex-Fur Mil Carlos Miguel (Fininho), de pé, ao lado do 1.º Cabo Amaro Oliveira António - CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68)...

Foto Luís Graça e Camaradas da Guiné
CCAÇ 5, em Canjadude > A partir da esquerda, sentados: Borges, Carlos Miguel e Cabrita. De pé: Gil.
Foto José Corceiro
Sargentos e Furrieis da CCaç 5, em Nova Lamego, da esquerda para a direita: Carlos Miguel, Magalhães, Carvalho, Azevedo e Cascalheira.

domingo, 9 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22185: Memórias cruzadas da região do Boé: subsídios para a história da CCAÇ 1586: as principais ocorrências em 24 de janeiro de 1968 entre Canjadude e Cheche (Jorge Araújo)


Foto 1 - (1968) > Viatura carbonizada nos itinerários da região do Boé (Canjadude, Ché-Che, Madina do Boé e Béli). Foto do álbum de Abel Santos, da CART 1742 – P10248, com a devida vénia.



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem  290 referências no nosso blogue.



MEMÓRIAS CRUZADAS DA REGIÃO DO BOÉ

SUBSÍDIO HISTÓRICO DA CCAÇ 1586:

AS PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS EM 24 DE JANEIRO DE 1968

ENTRE CANJADUDE E CHÉ-CHE

 


Mapa da Região do Boé (Sector Leste/Sudeste), assinalando-se, no itinerário entre Canjadude e Ché-Che (21 kms), o local de Fariná, território de muitas tormentas por efeito da existência de minas a/c e emboscadas, em particular durante a realização de colunas de reabastecimento.



1. - INTRODUÇÃO

A presente narrativa segue o horizonte temporal e historiográfico dos últimos três postes publicados durante a primeira quinzena de Abril (P22059 - P22081 - P22088), tendo por contexto geográfico a região do Boé, onde foram analisados factos e consequências da actividade operacional das unidades militares aí instaladas, todos eles reportados a Janeiro de 1968, mês em que o conflito armado completava, então, cinco anos.

Entretanto, recordamos que para a elaboração dos fragmentos acima identificados contámos com a informação recolhida nas fontes de consulta habituais – a Oficial e a das Unidades citadas, o que não foi possível repetir no caso em apreço, devido ao facto da CCAÇ 1586, que está no centro da pesquisa deste trabalho, não possuir História dactilografada e a Oficial (CECA) não fazer qualquer referência aos episódios em análise. Por esse facto, entendemos que a informação reproduzida no ponto dois poderá ser considerada como um «subsídio histórico» da CCAÇ 1586.


2. - O "DIÁRIO" DE MÁRIO DOS ANJOS TEIXEIRA ALVES, 1.º CABO CORNETEIRO DA CART 1742, COMO FONTE DE INFORMAÇÃO


O «Diário da CART 1742», caderno de memórias da autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, ex-1.º Cabo Corneteiro, ao qual já recorremos por diversas vezes, por nele constarem registos relevantes da actividade operacional na Região do Boé, não só da sua Unidade como de outras, no período de 1967/1969, onde se inclui o caso do colectivo da CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Guiné: 1966/1968).

Com efeito, e porque não foi possível concretizar as expectativas de partida, pelas razões evocadas na introdução, o "Diário do Mário Alves" deu-nos uma grande ajuda no enquadramento inicial da presente investigação, pelo que lhe estamos muito gratos.

Assim sendo, e no que concerne às principais ocorrências em título, o camarada Mário Alves escreveu: (…)

► Dia 26.Jan.68 (6.ª feira) – às 16h00

● Chegou a companhia [CCAÇ 1742] que afinal foi ao Ché-Che buscar as viaturas e os mortos de uma companhia [CCAÇ 1586] que, na passada quarta-feira [24Jan68], ia para lá, e foi atacada pelo IN. Tiveram seis mortos e muitos feridos [só foi possível identificar cinco elementos], dos quais alguns foram ontem para Bissau. Os mortos vieram hoje com a minha companhia e estiveram aqui na capela para serem colocados nas urnas. Eram quatro africanos [só foi possível identificar três elementos] e dois brancos. Era uma calamidade vê-los, por estarem queimados pelas viaturas que arderam, foi difícil distinguir os brancos dos negros. (…).

■ Por outro lado, e como complemento do acima citado, o camarada Abel Santos também ele da CART 1742, em texto relativo à "emboscada a caminho do Ché-Che" sofrida pela CCAÇ 1586, publicado no P22081 (08Abr21), acrescenta:

"A 24 de Janeiro de 1968 (4.ª feira) uma coluna que se dirigia ao Ché-Che com abastecimento para a malta lá instalada, um dos produtos transportados eram bidões de combustível, foi emboscada a meio caminho entre esta localidade e Canjadude, foi o que causou muitos feridos e a morte a seis militares, dois continentais e quatro africanos, que morreram carbonizados junto das viaturas em chamas, quando rebentaram os bidões durante a flagelação do IN.

A CART 1742, às 4:30 horas do dia 25Jan (5.ª feira), com dois pelotões, foi em socorro dos camaradas, onde foram encontrar um cenário dantesco, pessoal gritando, outros gemendo, viaturas queimadas. O nosso pessoal necessitou de colocar lenços no rosto devido ao cheiro a carne queimada, mas apesar de tudo o que vimos, e como soldados que somos, reagimos começando a organizar a retirada do local para sairmos daquele inferno, rumando a Nova Lamego, onde chegámos dia 26Jan (6.ª feira), pelas 16:00 horas com um espólio macabro."



2.1 – AS CINCO BAIXAS IDENTIFICADAS NO LIVRO DA «CECA»


No 8.º Volume, "Mortos em Campanha", nas pp 328/329, constam o nome de (apenas) cinco elementos, a saber:

▬ Continentais:


● Mário Augusto da Silva, da CCAÇ 1586 > Soldado Atirador; natural de Vilarinho, Parada do Pinhão / Sabrosa.

● Jaime Vinhais Teixeira, da CCAÇ 5 > 1.º Cabo Atirador; natural de São Julião / Chaves.

▬ De Recrutamento Local:

● Intumbo Quasse, da CCAÇ 1586 > Soldado Atirador; natural de Santa Ana / Mansoa.

● Chimatam Baldé, da CCAÇ 5 > Soldado Atirador; natural de Sonaco / Gabú.

● Mussa Baldé, da CCAÇ 5 > Soldado Atirador; natural de Cossé / Bafatá.


Vd. foto nº 1, acima reproduzida


2.2 - SUBSÍDIO PARA A HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1586

= PICHE - PONTE CAIUM - NOVA LAMEGO - BÉLI - MADINA DO BOÉ - BAJOCUNDA - COPÁ E CANJADUDE (1966-1968)



Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 2 [RI2], de Abrantes, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586], embarcou em Lisboa, em 30 de Julho de 1966, quinta-feira, a bordo do N/M «UÍGE», sob o comando do Capitão de Infantaria António Marouva Cera, tendo desembarcado em Bissau em 04 de Agosto.




Foto 2 - Ché-Che, 1967 > Atravessando o rio na jangada. Foto do álbum de Aurélio Dinis, ex-furriel da CCAÇ 1586 (1966-1968), com a devida vénia. 

 

2.3 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1586


Quatro dias após a sua chegada a Bissau a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586], enquanto unidade independente, é destacada para a região Leste do território, assumindo em 08Ago66 a responsabilidade do respectivo subsector de Piche, substituindo dois Gr Comb da CCAÇ 1567 [13Mai66-17Jan68, do Cap Mil Inf João Renato de Moura Colmonero], ali transitoriamente colocados, e guarnecendo até 21Set66 [mês e meio], com um Gr Comb, o destacamento na Ponte do Rio Caium, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1856 [06Ago65-13Abr67, do TCor Inf António da Anunciação Marques Lopes].

A partir de Set66, passou a ter, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção do
sector, tendo os seus Gr Comb actuado em diversas operações realizadas e sido destacados temporariamente para várias localidades da sua zona de acção, nomeadamente Nova Lamego, de 10Out66 a princípios de Dez66; Madina do Boé, de 10Fev67 a 01Mai67 e Béli, de 25Jan67 a 15Abr67. Em 06Abr67, foi substituída no subsector de Piche pela CCAV 1662 [06Fev67-19Nov68, do Cap Mil Art António de Sousa Pereira], tendo assumido, em 07Abr67, a responsabilidade do subsector de Bajocunda, com um Gr Comb destacado em Copá, onde rendeu a CCAÇ 1417 [06Ago65-13Abr67, do Cap Inf José Casimiro Gomes Gonçalves Aranha] continuando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1856 e sucessivamente do BCAV 1915 [14Abr67-03Mar69; do TCor Cav Luís Clemente Pereira Pimenta de Castro], do BCAÇ 1933 [03Out67-20Ago69; do TCor Inf Armando Vasco Campos] e ainda do BCAÇ 2835 [24Jan68-04Dez69; do TCor Inf Joaquim Esteves Correia].


Em 28Out67, um Gr Comb seu integrou as forças do subsector temporário de Canjadude, então criado, e onde se manteve até 04Dez67. Em 27Abr68, foi rendida no subsector de Bajocunda pela CCAÇ 1683 [02Mai67-16Mai69; do Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Maricoto Monteiro] e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso, que ocorreu em 09 de Maio de 1968, a bordo do N/M «NIASSA». Observações: Não tem história da Unidade. (CECA; 7.º Vol.; p 357).



Foto 3 – (Maio de 1968; a bordo do N/M «NIASSA», algures no Atlântico). Regresso do contingente da CCAÇ 1586 à Metrópole após concluída a sua missão no CTIG. Da Esqª/Dtª os furriéis: Santos, Ilídio, Aurélio Dinis, N/N, Teixeira, Rocha, N/N e Laranjo. Foto do álbum de Aurélio Dinis, com a devida vénia.


3. - O QUE ESCREVEU AMÍLCAR CABRAL (1924-1973) A PROPÓSITO DA MESMA OCORRÊNCIA

O episódio (emboscada) ocorrido em 24 de Janeiro de 1968, entre Canjadude e Ché-Che, levado a cabo por elementos do PAIGC em nomadização na Região do Boé, faz parte, entre outras notícias, dum comunicado dactilografado, escrito na língua francesa, datado de 06Fev68, e assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), o qual se reproduz abaixo [só o que é relevante para o texto], com tradução da nossa responsabilidade.

◙ COMUNICADO DO PAIGC

● "Complementando as informações veiculadas nos nossos últimos comunicados, reportamos a seguir algumas notícias sobre outras acções realizadas pelas nossas forças armadas no mês de Janeiro [1968]."


(…)

● "24 De Janeiro [1968; 4.ª feira] – Durante uma emboscada na estrada Ché-Che / Canjadude (região do Gabú / Boé), uma unidade do nosso exército regular destruiu 5 camiões de uma coluna inimiga e colocou 22 soldados colonialistas fora de acção. Em fuga, o inimigo deixou no terreno uma quantidade de equipamentos, incluindo catorze G3s e dois rádios em bom estado de funcionamento. Os nossos combatentes também apreenderam um saco contendo correspondência e vários documentos militares."

Feito, em 06 de Fevereiro de 1968.

Amílcar Cabral,

Secretário-Geral



Fonte: Citação: (1968), "PAIGC - Communiqué", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84044, com a devida vénia.

◙ IMAGENS RELACIONADAS COM O COMUNICADO



Foto 4 - Fonte: Citação: (1968-1973), "Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43861, com a devida vénia.



Foto 5 - Fonte: Citação: (1968-1973), "Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português.", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43796, com a devida vénia.




Foto 6 – Fonte: Citação: (1968-1973), "Viatura do exército colonial português destruída", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43858, com a devida vénia.


► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).

Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04325.001.004. Título: PAIGC - Communiqué. Assunto: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, faz o balanço das acções da luta armada durante o mês de JAN.1968. Data: Terça, 6 de Fevereiro de 1968. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade. Tipo Documental: Documentos.

Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta 05222.000.424. Título: Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português. Assunto: Armamento capturado pelo PAIGC ao exército colonial português. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø (3) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 05222.000.420. Título: Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português. Assunto: Capacete e saco dos CTT capturados pelo PAIGC ao exército colonial português. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

Ø (4) Instituição: Fundação Mário Soares. Pasta: 05222.000.421. Título: Viatura do exército colonial português destruída. Assunto: Viatura do exército colonial português, com a matrícula MG-61-01, já desmantelada. Data: 1968-1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
12ABR2021

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:


2 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22059: (In)citações (183): A propósito da(s) jangada(s) do Cheche... e lembrando aqui mais mártires do Boé: o major Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, e o fur mil Jorge, do BENG 447 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)