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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27075: Os nossos seres, saberes e lazeres (692): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XII: Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981





República Popular da China > Gegen Tala, Mongólia Interior > Aldeia de Xilinhot >  11 de maio de 1981 > O autor, à direita,  com uma família mongol

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2025 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem mais dde 375 referências no blogue;
texto enviado em 26 de julho de 2025, 18:12)


Excertos do meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983 >  
Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981

por António Graça de Abreu

Uma semana viajando. Primeiro num Antonov velhíssimo, pouco maior do que os nossos DC 3 que conheci na Guiné, voando de Pequim para Huhote, a capital da Mongólia interior chinesa. 

Depois, de jipe, mais 250 quilómetros de estrada (?) algum alcatrão e, de seguida, por caminhos de cabras e de camelos, aproveitando-se as pistas dos leitos secos dos rios até estas paragens isoladas de Gegan Tala, a pradaria distante, já muito próxima da fronteira com a república da Mongólia. 

As terras mongóis em estado puro, a aldeia de Xilinhot onde fico,  tem iurtas de verdade e casas de adobe, existem rebanhos, camelos e cavalos, e até um pequeno mas extraordinário -- pelo seus murais e pequenos budas --, templo lamaísta tibetano-mongol. 

Fui almoçar a casa de uma família mongol, só a
filha mais velha falava mandarim e serviu de intérprete.  
Gente perdida, surreal, real, nas estepes dos confins do mundo. Não os vou esquecer imortalizados em fotografia comigo. Reparem no pormenor das galochas do rapazinho, gente pobre de uma enorme dignidade.

Escrevi:

Depois da Grande Muralha e da Manchúria,
eis a Mongólia!
Viajo no início do Verão por estradas de terra
e caminhos agrestes no leito seco de rios,
chego no fim da manhã à aldeia de Xilinhot.
As iurtas brancas
suspensas no castanho e verde do horizonte,
casas dispersas, um templo budista,
a erva ainda molhada pelo orvalho da noite,
o ar leve e fino,
silêncios cinzentos de chumbo,
a terra fresca, a pradaria imensa.

Monto um cavalo de vento
e parto à desfilada,
sem sela,
sem rédeas,
sem destino.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27056: Os nossos seres, saberes e lazeres (691): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (214): Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 1 (Mário Beja Santos)

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O assistente de IA, o "sabe-tudo", diz-me que:

(i) "Gegen Tala" é uma localidade na Região Autónoma da Mongólia Interior, na China;

(ii) O nome pode também ser transliterado como "Gegentala" ou "Gegentala Grassland", dependendo da romanização usada.

(iii) "Gegen Tala", em nongol, significa:

- "Gegen" > "sagrado" ou "divino";
- "Tala" (ou "Tal") > "planície" ou "pradaria".

Portanto, "Gegen Tala" pode ser traduzido como "Planície Sagrada" ou "Pradaria Sagrada".

(iv) A Mongólia Interior é uma região autónoma no norte da China, que faz fronteira com a Mongólia (o país).

(v) Gegen Tala é conhecida por ser uma zona de pradarias e turismo ecológico, muito apreciada pelas suas paisagens típicas da estepe mongol.

(vi) Ocupação, anexação, integração na China:

A Mongólia Interior é hoje uma região autónoma da China, mas a sua história é bastante complexa e está ligada ao destino do povo mongol após o colapso do Império Mongol e da dinastia Yuan.

Principais pontos históricos:
- Séculos XIII–XIV (Império Mongol e Dinastia Yuan):
O império de Genghis Khan estendeu-se vastamente, e a dinastia Yuan (mongol) governou a China de 1271 a 1368.

- Após a queda da dinastia Yuan:
Os mongóis recuaram para as suas regiões tradicionais e fragmentaram-se. A China (sob a dinastia Ming e depois Qing) começou a reconquistar e administrar partes do território mongol.

- Dinastia Qing (1644–1912):
Os imperadores manchus da dinastia Qing anexaram várias regiões mongóis, incluindo o que hoje é a Mongólia Interior. A política Qing separava os territórios mongóis internos e externos (a "Mongólia Exterior" viria a tornar-se a atual Mongólia).

- 1911–1949 (Revolução Xinhai e República da China):
Após a queda da dinastia Qing, a Mongólia Exterior declarou independência (com apoio da Rússia), mas a Mongólia Interior permaneceu sob controle chinês. Houve várias tentativas de unificação das duas Mongólias, mas falharam.

- Desde 1949 (República Popular da China):
A Mongólia Interior tornou-se oficialmente uma região autónoma dentro da China em 1947, dois anos antes da fundação da República Popular. Apesar do nome e da presença de população mongol, a região foi sinizada ao longo do tempo, com grande migração de chineses han.

Portanto, sim: a Mongólia Interior foi gradualmente integrada e controlada pela China, com momentos de anexação formal, ocupação e assimilação cultural ao longo dos séculos, especialmente no século XX.

Fonte: Pesquisa ChatPGT / LG... Revisão / fixação de texto: LG

Antonio Graça de Abreu disse...

Obrigado, Luís, pelo acrescento. A AI bate certo com o meu texto. Voltei à Mongólia chinesa em 2011 e 2014, No volume 1 do meu livro Toda a China, Lisboa, Guerra e Paz Editores, tenho 20 páginas de relatos mais desenvolvidos e actualizados sobre a Mongólia chinesa, incluindo Jiuquan, o local de lançamento das naves espaciais made in China. Curiosamente jiuquan significa "nascentes do vinho."