Foto: © ex-Alf Mil Paiva Nunes e Bernardino da CCAV 2748, com a devida vénia
1. Comentário do nosso amigo Cherno Baldé, engenheiro na Guiné-Bissau, deixado no Poste 16656 a propósito da localidade de Canquelifá (*):
CANQUELIFÁ
Poucas terras fazem jus ao seu nome como esta terra guineense situada no seu extremo nordeste.
Em língua mandinga “Canquelefá” significa campo de batalha e de morte:
Can = campo/acampamento;
quele = batalha/guerra;
fá = morte/matança.
Não sei de quem era o acampamento, quem matou e/ou quem morreu, poderia até ser uma simples bravata dos Soninques animistas para assustar os invasores fulas ou os vizinhos Padjadincas do Bajar, ou outro grupo qualquer que se aproximava dos seus domínios, também eles conquistados em épocas passadas.
Território de transição histórica entre o norte da região sudanesa do Sahel [, Sara,] e a zona da floresta húmida confinada à costa do Atlântico, esta região de Pachisse, Pakessi ou Paquisse com capital em Canquelifá foi, durante muito tempo e em diferentes épocas campo de batalha dos exércitos que invadiram o território da actual Guiné-Bissau e ponto de passagem entre o Senegal e o reino de Futa-Djalon.
Não admira por isso a (des)unidade étnica que se verifica na população local, dividida entre os temerários Camará, os argutos Djaló e os pacientes Sané, resultado da mais diversa mistura e uma autêntica babel linguística a começar pelos antiquíssimos Banhuns, Pajadinca, Cocoli até aos Fulas nas suas diferentes declinações, passando pela bonita, eloquente e musical língua Mandinga ou mandinkan.
Ao contrário de Ziguinchor, típica terra luso-tropical com cordão umbilical fortemente ligado à cultura e a tradição das praças guineenses, Canquelifá poderia passar para qualquer dos territórios vizinhos e não se notaria nenhuma diferença.
Após as constantes disputas entre os reinos vizinhos (Futa-Djalon com Alfa Yaya Djalo, Mussa Molo o rei de Firdu) e a cobiça das potências europeias presentes na zona, a delimitação franco-portuguesa de 1903 acabaria por incorporar o Pachisse na Guiné portuguesa, com a eliminação dos incómodos concorrentes locais que eram Mussa Molo e Alfa Yaya.
MARCAS DA PRESENÇA MILITAR DURANTE A GUERRA COLONIAL.
O acesso à localidade de Canquelifá é péssima, parece não ter sido reabilitada nos últimos 40 anos, em muitos sítios a estrada está cortada pela erosão das águas da chuva, mas ainda assim pode-se passar, sem pressas, com um veículo 4 x 4. O antigo quartel ou o celeiro de mancarra (os famosos celeiros de Albano Costa) está situado logo à entrada, onde são visíveis alguns sinais, símbolos da passagem da tropa metropolitana.
No lado direito do primeiro memorial estão grafados os nomes de mais de 5 companhias/batalhões, sendo difícil, para um leigo, senão mesmo impossível, distinguir quem fundou e quem “canibalizou” o memorial.
Aqui vai a lista, sem ordem cronológica:
BCAÇ 1856; BCAV 1915; BCAÇ 2922; BCAÇ 2835;
No segundo memorial esta grafado o nome de uma companhia de caçadores, presumindo-se assim que seja a fundadora: CCAÇ 1623 e tem data (1966-68).
Um abraço amigo,
Cherno Baldé
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Nota do editor
(*) Vd. último poste da série de 24 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16635: Memória dos lugares (349): Canquelifá 2016 vista pelos ex-Alferes Milicianos da CCAV 2748 Paiva Nunes e Bernardino (Francisco Palma)