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terça-feira, 29 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26089: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (14): assim nasceram os Jagudis, nome de guerra do meu grupo de combate, na CCAÇ 3 (Barro, 1968/69)


O A. Marques Lopes e o seu guarda-costas









Os meus "Jagudis"

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Em maio de 1968, o alf mil  at inf A. Marques Lopes está de regresso à Guiné para completar o resto da sua comissão de serviço, depois de nove meses no HMP, em Lisboa (*).

Em junho de 1968 está em Barro, na região do Cacheu, na fronteira com o Senegal, comandando 3º Gr Com da CCAÇ 3.  À frente do COP 4 está o major Correia de Campos.  E da CCAÇ 3, o  cap art Carlos Alberto Marques de Abreu.

Na altura, e de visita a a Barro, o gen Spínola "deu indicação para se dividir a companhia em pelotões de acordo com as etnias (o tirar partido das rivalidades entre eles)"... 

Vamos ver como foi feita essa "partilha" étnica, conforme a "ordem" do Spínola (**).


2. Do livro de memórias do A. Marques Lopes, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), reproduzimos as pp.  496 e 500/503) (que também constam  parcialmente da sua página do Facebook, em postagem de 16 de abril de 2022).


Como nasceram os "Jagudis", o nome de guerra do meu grupo de combate, 
na CCAÇ 3 (Barro,1968/69)

por A. Marques Lopes (1944-2024)



 (...) Como eu era o alferes mais antigo, o comandante da companhia perguntou-me o que é que eu queria:

– Quero os balantas – disse eu.

E o meu grupo de combate foi quase todo de balantas (tinha um cabo fula, o Mamadu, e três furriéis brancos, além de mim). Ouviam a rádio do PAIGC mas demo-nos sempre bem. Porque eu sempre fiz por isso. Por exemplo: um dia, fui com um que estava doente através da mata até Bigene, porque em Barro não havia médico; emprestei dinheiro a todos, mas todos me pagaram quando me vim embora...

Foi sempre minha preocupação não matar população civil (o tal alferes Gonçalves terá alguma coisa a dizer sobre isto... lembro-me de uma situação). Mas era difícil, pois a visão e a filosofia da vida deles era diferente. Um dia, por exemplo, foi apanhado no meio de um tiroteio um velho cego.

 – Mata!  – foi a reacção.

 – Não  –  disse eu.

Mas foi complicado.

Numa das tais operações do COP 3, não sei já qual, um guerrilheiro do PAIGC levou uma rajada no baixo ventre e ficou com os tomates pendurados. Disse para fazerem uma maca para o levarem. Fizeram a maca, mas não o quiseram levar:

–  Alfero, deixa estar, vem jagudi [abutre] e come ele...

– Não!

Eu e um furriel pegámos na maca e começámos a atravessar uma bolanha com água pelo pescoço. A meio da bolanha, vieram dois e disseram:

– 
Alfero, a gente pega.

Chegámos à base de operações, onde estava o tenente-coronel Correia de Campos, um helicóptero e uma enfermeira paraquedista, e, azar, o homem do PAIGC morreu.

Em frente destes, formei o grupo de combate e, porque estava furioso, chamei-lhes todos os nomes. O tenente-coronel Correia de Campos estava de boca aberta. É evidente que nós, os ocidentais, temos uma maneira de ver as coisas, a vida e a morte, de uma forma diferente. Assim como outras, por exemplo, a democracia e a política.

Numa outra situação, houve um deles que ficou com a garganta aberta por um estilhaço de RPG2. Sucedeu mais ou menos a mesma coisa. Mas, com visões diferentes da nossas, era gente muito fixe, amigos. Tenho saudades deles e pena de não me poder encontrar com eles. Vou mandando fotografias e vou contado mais alguma coisas. (...).  (**)

(...) Gostava mais dos balantas. Eram pão pão, queijo queijo. Se gostavam, gostavam, se não gostavam, mostravam logo que não gostavam. Os fulas, está bem,  estavam abertamente com a tropa, mas as suas falinhas mansas e de submissão deixavam-me muitas interrogaçóes sobre o que estaria no interior,

Desconfianças minhas,  talvez, mas era facto que gostava mais da natural frontalidade dos balantas. No grupo de combate anterior tinha uns e outros e ficara com essa sensação. (pág. 496).

(...) A seguir houve ordem para destroçar. Disse aos meus para ficarem.  Já tinha magicado umas coisas. Havia um ou outro mais maduro  mas a maioria era  muito jovem,  tinha que lhes incutir motivação.

– Eu quero que vocês sejam o melhor grupo de combate da companhia. Que todos vos admirem e respeitem.  Vou mandar fazer uma boina camuflada e um lenço preto para cada um. Será o nosso distintivo.

Deu resultado, já sabia. Ficaram contentes e cochiraram entre eles. (....)

Vi que estavam satisfeitos e avancei com outra,

– Além disso o nosso grupo de combate tem de ter um nome paar que todos npos conheçam bem, mesmo os turras no mato quando nós aparecermos. Quem dá uma ideia ?

Fiquei a olhá-los por um momento.

–  Jagudis! – disse um deles.

– Ficam com esse nome, é ? – perguntei alto.

Ficaram. Assim nasceram os "Djagudis". Tá bem, fossem abutres. A minha intenção era ganhar a confiança e a simpatia deles. Não propriamente para fazer a guerra, porque já não acreditava nela, mas sim porque tinha que estar ali e queria ter influência sobre aquela gente que desconhecia. Já me apercebera que, no fundo, eram soldados como aqueles que tivera antes, os da metrópole. Tinham sido recrutados como estes e estavam na companhia por isso. Procurei conhecê-los um a um.

O Watna, o Sumba, o Bidinté, o Abna, o N’dafá, o Kuluté, e outros, eram normais, sem nada de especial. Mas havia uns que se distinguiam. Por exemplo:

  • o Falcão, o que avançara com o nome para o grupo de combate e que era o apontador da metralhadora ligeira; apresentava um rosto sempre com ar de dureza e usava umas botas de borracha, chovesse ou fizesse sol; tinha voz seca mas não era conflituoso;
  • o André Gomes, a quem chamavam “o professor”,  porque estudara no Liceu Honório Barreto antes de ser recrutado, que era de etnia balanta mas cristão, sempre impecável com uma camisola branca limpinha por baixo do camuflado;
  • o Blétche Intéte, aquele a quem eu dera um murro por ter abandonado o posto, pequeno de altura mas entroncado, ficara seu amigo, talvez por isso; não lhe dissera que o preterira como guarda-costas mas ele andava sempre por perto com ar protector;
  • e o Otcha, fula no meio de balantas, distinto só por isso, porque, sempre sereno e com voz calma, ia ganhando a simpatia de todos.
Mas o caso deveras singular era o de dois irmãos, o Etudja e o Moba. O Moba, apontador do morteiro 60, era um matulão com cerca de um metro e oitenta e o Etudja não devia ter mais que um metro e sessenta e cinco. Além disso, este era mais novo, um rapazinho meigo e de boas falas enquanto o Moba era um brutamontes sempre sério e pouco atreito a amizades.

Achara tanta piada a esta situação que tentei tirar-lhes uma fotografia em conjunto mas o Moba não deixou. Disse que o Diancong, uma espécie de entidade dos animistas balantas, não permitia porque ele era Ngahy, uma categoria social deles, e o Etudja era Fuur, outra categoria social entre os 17 e os 20 anos., podia fazer com que ele não arranjasse mulher.

Não entendi bem, tal como me custara antes a entender muitas coisas e costumes daquela gente da Guiné. O Moba também não explicou, porque não tinha explicação, era só crença.

Encarreguei o André Gomes de dar aulas de português aos que quisessem, não obriguei ninguém. Nunca foram muitos os alunos porque aquilo era voluntário e a maior parte estava-se borrifando para o português.

O Blétche, se bem que já soubesse o que queria dizer “um murro no focinho”, foi um dos que quis ir, talvez por, tendo sido antes guarda-costas do Rodolfo, ter visto que era bom saber mais português.

Assisti algumas vezes às aulas e fora interessante ver “o professor” explicar palavras em português ao Otcha. Como o André era balanta e não sabia fula, a base da explicação tinha de ser em crioulo.

Com este contacto os três até se tornaram bons amigos. Mas esta amizade teve outra razão mais profunda. É que eu, informalmente mas na prática, tornei os três meus adjuntos. O Otcha por ser o meu guarda-costas, é claro, o André por ser ponderado e ter influência sobre os outros e o Blétche porque, desde o episódio do murro, se tornara um fiel admirador meu.

Mas houve também outro factor de peso nesta escolha. Na primeira noite que saíra com eles para uma emboscada num dos carreiros de infiltração, ficara admirado por vê-los todos a ir munidos de cantil. Não ia ser preciso assim tanta água, mas tava bem, não liguei.

Ao fim de uma hora depois de se instalarem fui dar uma vista de olhos pelos locais onde estavam distribuídos. Espanto. Grande parte deles estava a dormir e os que não dormiam estavam quase bêbedos. Vi logo que o que tinham levado nos cantis era aguardente de cana.

Só o Otcha não, estava ao pé de mim, além de que era fula e não bebia. O André também não, estava atento, só bebia às vezes e pouco, não era por hábito. O Blétche estava bem desperto. Sabia que bebia, mas ele mostrou-me que não tinha levado aguardente de cana. Mas os outros estavam todos mais ou menos apanhados pela cana. Dei um raspanete aos furriéis e ficou assente que, de futuro, ninguém saía à noite com o cantil.

E foi assim em todas as noites que saímos aos corredores para emboscadas (pp. 500/503)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

______________

Notas do editor:




quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Guné 61/74 - P26069 O Spínola que eu conheci (37): "Nunca foram ao Senegal ?!... Deixe-se de rir, nosso alferes, pois comecem a pensar em ir lá"... (A. Marques Lopes, 1944-2023)


Guiné > Região do Caheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > À direita.  ex-alf mil at inf, A. Marques Lopes, que comandava o grupo Os Jagudis.   Ao centro, o seu guarda-costas, e à sua esquerda, presumimos nós, o cap art Carlos Alberto Marques de Abreu (promovido a coronel, em 2/5/1989), e aqui numa foto rara.

 Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O gen Spínola em Infandre (1970).
Foto: Arquivo do blogue Luís Graça &
 Camarafdas da Guiné

1. Recorde-se que o nosso querido e saudoso A. Marques Lopes (1944-2024), ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69) foi  evacuado para a metrópole, na sequência de uma mina A/C que matou o cap inf Manuel Guimarães e que o feriu também a ele,  na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967 (*). 

Ao fim de nove meses de tratamento e recuperação no HMP, em  Lisboa, voltou para o CTIG, em maio de 1968, para cumprir mais 10 meses de comissão de serviço, neste caso na CCAÇ 3, que estava aquartelada em Barro, na região de Cacheu, mesmo junto à fronteir com o Senegal. Passou  a comandar um  grupo de combate que mais tarde se irá chamar... 
"Jagudis" (abutres).

Na altura o comandante era o cap art Carlos Alberto Marques de Abreu (capitão Alves, no livro "Cabra Cega"). ("Depois do 25 de Abril será adjunto do general Spínola; conheci os pais dele, que tinham um restaurante na Calçada do Combro, em Lisboa.") (**).

Passado pouco tempo de chegar à CCAÇ 3, "creio que em junho de 1968, o general Spínola foi a Barro", numa visita relâmpago, que o autor de "Cabra Cega" recontitui, com muita piada.  (    (Lapso do autor: em junho de 1968, Spínola ainda era brigadeiro, e com um mês de Guiné ainda não deveria ser conhecido por "Caco  Baldé"-)

Vamos selecionar alguns excertos das pp. 491/495, e fazer um resumo deste episódio.


2. O A. Marques Lopes [Aiveca, no livro ] estava a descansar, depois de uma noite passada no "tarrafe do Cacheu à  espera que os guerrilheiros passassem" (pág. 491). Chegado às seis da manhã, morto de sono, tirou o camuflado, nem tomou banho, atirou-se para cima da cama... 

"O ruidoso girar característico das pás dos helicópteros" (pág. 492), fê-lo saltar da cama, a ele e ao outro alferes, o Rudolfo (nome fictício). 

(...) Vestiram os calções e enfiaram as chinelas nos pés (...)  Foram para a porta da secretaria. Já lá estavam o cabo escriturário e o primeiro sargento, este todo aprumado:

 Vem aí o nosso general!  – anunciou, embevecido. (...)

Os dois alferes "viram com espanto o Caco Baldé a aproximar-se em passo decidido, olhar penetrante e pingalim da ordem". Vinha acompanhado pelo comandante da CCAÇ 3... e "todo emproado no camuflado limpo e brilhante pelo uso em cerimónias, de luvas impecáveis e boina vermelha berrante", o ajudante de campo "com a G3 em prontidão, coronha poisada no quadril" (pág. 492).

(...) O Rudolfo mostrou-se preocupado...

 – É, pá, não podemos receber o general em tronco nu, de calções e chinelos.

  Oh, agora, chapéu. Ele  está perto e já olhou para nós. Quando aparece assim de repente, o que é que pode esperar ?
 
O general chegou ao pé deles e o capitão apresentou-os:

   Meu general, estes são comandantes de dois pelotões da minha companhia. Há um que está a montar emboscada num corredor de infiltração e outro está num destacamento. (...)

O Lopes instintivamente ia levantar a mão para bater a pala, mas deu conta que estava "desfardado"... 

(...) Mas o Rudolfo não pensou e fez mesmo a continência. Ninguém ligou, nem o general (pág. 493). (...)

O Lopes [ Aiveca, no livro] achou que devia dizer qualquer coisa, pediu desculpa ao general, dizendo-lhe que não estava à espera e tinha passado toda a noite no mato (...).

   Deixa-te disso, pá. Vamos lá que estou com pressa, quero ir falar com o major do COP  [que era na altura o Correia de Campos ]. (...)

Depois, entraram na secretaria e falaram da atividade operacional, dass infiltrações do PAIGC a partir do Senegal, da missão do COP,  mas também da situação do pessoal e dos problemas de alimentação em Barro.  

(...) Toma nota    ia dizendo o general para o [ajudante de campo, o cap cav  'cmd Almeida Bruno, maio 68 / julho 70].

Este, que pusara a G3, tinha agora um pequeno bloco na mão.

O Aiveca esteve tentado a dizer  que a carne que tinham, era das vacas que, às vezes , iam roubar às aldeias fronteiriças do Senegal, ou daquelas que caíam nas armadilhas que montavam nos carreiros e que os elementos do PAIGC traziam para atravessar o Cacheu. Os gajos das tabancas não querium vender vacas. Mas preferou ficar caladinho, o capitão que desbroncasse. 

 O Caco Baldé ajeitou o monóculo e mudou de conversa.

   Quais são as etnias dos grupos de combate ?

   Meu general, a maior parte são fulas e balantas, mas há de outras etnias, e estão misturados.

  Então vai separá-los, nosso capitão. Fulas num grupo de combate e balantas noutro. Dá mais unidade a cada um e pode criar emulação entre eles. " (pág. 494).

Ninguém disse nada. Não havia nada a dizer porque aquilo foi dito em tom de uma ordem.

  Já alguma vez foram ao  Senegal ?   perguntou po general.

O Aiveca riu-se,  mas depressa ficou sério. O general e o adjunto olharam para ele como que a pergunhtar qual era a piada. O capitão e o Rudolfo ficaram apreensivos, a interrogar com o olhar se ia falar das vacas roubadas no Senegal. Viu que tinha de dizer alguma coisa.

   Peço desculpa, meu general, mas é que nós  nunca fomos ao Senegal.

   Então deixe de se rir, nosso alferes. Comecem a pensar em ir lá (pág. 495)...

E lá abalou a caminho do heli...

3. Conclusão tirada pelo A. Marques Lopes, no poste P47 (**), um dos primeiros que publicámos no blogue, em 6 de junho de 2005:

(..) "   Vocês já foram ao Senegal? 

"Eu, e os outros, que não sabíamos o que ele queria, dissemos que não (já tínhamos ido várias vezes a Sano, Sonako e Samine para roubar vacas e queimar casas). E ele disse:

"–  Então, têm de pensar em ir lá.

" E lá fomos mais à vontade. O roubar vacas era uma preocupação, pois era a nossa subsistência. Muito raramente, havia um abastecimento feito pelos fuzileiros através do rio Cacheu. Às vezes, vinha uma Dornier trazer o correio e os chamados frescos. A maior parte das vezes comíamos arroz e rações de combate, ou, então, uma dobrada hidratada que saltava da panela assim que aquecia. Só tínhamos carne quando havia vacas. (...) (**)

E foi assim que ele conheceu, ao vivo e a cores, o novo com-chefe e governador da Guiné, que tinha acabado de chegar ao CTIG, e que será promovido à categoria de general apenas um ano depois, em julho de 1969... (Há aqui uma notória dissincronia por parte do A. Marques  Lopes ao tratar o Spínola por general em junho de 1968.) (***)

 ______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25978: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (9): a última foto do cap art Manuel Guimarães, cmdt da CART 1690, tirada instantes antes de morrer, na estrada Geba-Banjara, vítima de uma mina A/C, em 21 de agosto de 1967

(**) Vd. poste de


(***) Último poste da série > 26 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25308: O Spínola que eu conheci (36): A história do Mário, da CART 2478, contada pelo Manuel Mesquita, da CCAÇ 2614 ("Os Resistentes de Nhala: 1969/71", ed. autor, 2005)

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25720: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (1): O meu cruzeiro no N/M "Ana Mafalda": ficámos contentes por saber que era só até à Guiné, e não até Timor...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor de Geba > CART 1690 (1967/68) > Cantacunda >  Abrigo... ou "bu...rako"



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > O A. Marques Lopes em 1967, com duas beldades locais. Em 21 de agosto de 1967, seria ferido com gravidade na estrada de Geba para Banjara na sequência da explosão de uma mina A/C e, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. Voltou ao CTIG, em Maio de 1968, para acabar a sua comissão, tendo sido colocado então na CCAÇ 3, em Barro.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, então com 29 anos. Foi um dos 24 capitães mortos no TO da Guiné




Guiné > Região do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Grupo Os Jagudis >  O ex-al mil  Marques  Lopes,   com o seu guarda-costa, balanta... "O meu guarda-costas chamava-se Bletche-Intete. Grande amigo. Um dia deu-me um grande empurrão durante um tiroteio... é que eu tinha-me virado de costas para o local de onde o IN estava a disparar (fiquei mal dos ouvidos desde que fui ferido em Geba)".


Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viagem Porto-Bissau > Abril de 2006 > Percalços no deserto... e a solidarieade dos tuaregues... O Xico Allen, junto à traseira do jipe e o Hugo Costa, filho do Albano Costa, fazendo a cobertura fotográfica...

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > O nossso camarada e amigo,  coronel de infantaria DFA,  ref, A. Marques Lopes  (à direita), jantando com o "inimigo de ontem", comandante Lúcio Soares e o comandante Braima Dakar. 

Sobre este último acrescentou: "O Braima Dakar, nome de guerra de Braima Cama,  é outro comandante que esteve ligado à morte dos três majores no chão manjaco. Disse-me que se disseram muitas coisas sobre isso que não são verdade, que não queria falar, e não me contou nada" (...) (*) 

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... 


(ii) em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita

Os quatro fazem o pleno na Tabanca Grande em matéria de alferes milicianos de uma companhia: crieio que a CART 1690  é a única nessas condições... (Não temos notícias de nenhum deles há muito.)

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2007). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia em que o nosso camarada e amigo A. Marques Lopes (foto à esquerda) chega ao fim da picada da vida, ao km 80 (*), temos a obrigação de mostrar aos mais novos do blogue, os recém-chegados,  os "periquitos, alguns dos melhores postes por ele publicados, e pôr em evidência o seu exemplo de vida e de coragem.

Ele esteve particularmente presente, sempre ativo e proativo,  no arranque do blogue: um 1/5 dos postes de um total de 385 publicados em 2005,  foram da sua autoria ou têm o seu nome (A. Marques) como "descritor". 

Foi particularmente participativo, no nosso blogue, até ao ano de 2008. Em 2006, em abril, fez a sua *romagem de saudade" à Guiné-Bissau, de jipe  com mais meia dúzia de camaradas (entre eles, Albano Costa, o filho Hugo, o Xico Allen, e a filha, Inês), e assinou algumas das melhores crónicas da série "Do Porto a Bissau", com abundante documentação fotográfica, revisitando as estações do seu calvário...

O A. Marques Lopes que em 1975 , beneficiando do seu estatuto de DFA, aproveitou a legislação que lhe  iria permitir voltar á vida ativa militar, e fez a carreira chegando ao posto de coronel, foi dos nossos primeiros "tertulianos" a relatar e a documentar, com recurso  a um numeroso e valioso espólio fotográfico, as aventuras e desventuras dos milicianos na Guiné: no seu caso, primeiro como alf mil na CART 1690, no subsector de Geba, região de Bafatá, zona leste, onde foi gravemente ferido (com direito a evacuação para a metrópole), e depois (ainda mal recuperado ) no Cacheu, em Barro, junto à fronteira com o Senegal, na CCAÇ 3, onde foi obrigado a completar o resto da comissão (1967/68).

O A. Marques Lopes era um profundo conhecedor da Guiné e do PAIGC, mantendo com os seus antigos guerrilheiros e comandantes uma relação próxima, não hesitando por exemplo em sentar-se à mesa com eles e partilhar "confidências" do tempo da guerra (vd. foto acima com o comandante Gazela, nome de guerra do Lúcio Soares)...  

Depois pediu-nos uma "licença sabática," porque estava a escrever um livro e tinha outros afazeres, incluindo a sua intervenção cívica nas escolas, associações e autarquias, mostrando e explicando o dossiê guerra colonial, no âmbito da A25A - Delegação Norte, a que pertencia.

 Pelo meio, meteu-se o projecto da Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, bem como da Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano, de que foi o vice-presidente do Conselho de Administração.

Nado e criado em Lisboa, com costela alentejana (logo "mouro", sulista), vivia, há muito, disfarçado de "morcão", em Matosinhos...  Do seu segundo casamento, com uma nortenha, a Gena, teve um filho, o Francisco, que já terá os seus 30 anos. Tem ainda o Vasco, do primeiro casamento. Não falava muito da sua vida privada e familiar. Deixa-nos, entre outra produção literária, um grande livro de memórias, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Books, 2015).

Dele guardo a grata memória de um grande homem, de fibra, de coragem, um bom amigo e camarada, que, mesmo na fase mais dramática da sua doença, era um otimista, um apaixonado pela vida. Costumava telefonar- lhe  no aniversário natalício.  O José Teixeira, seu vizinho, e que com ele conviveu e partilhou os projetos da Tabanca de Matosinhos, escreveu: 

"A sua grande vontade de viver fez com que travasse por longo tempo uma luta de vida. A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. 'Estou aqui para a luta', dizia-me ele há dias. Desta vez a doença foi mais forte" (*)...

Pedi ao Zé Teixeira que nos representasse, a todos nós, Tabanca Grande, na hora da despedida. Para a esposa, Gena, e os filhos,  Vasco e Francisco, vai a nossa solidariedade na dor por esta perda enorme, para eles e para todos nós, seus amigos e camaradas. (LG)


T/T Ana Mafalda



O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024):

O meu cruzeiro no "Ana Mafalda":  ficámos contentes por saber
 que era só até à Guiné, e não até Timor...


Tinha 103 metros de comprimento e 14 metros de largura, em linguagem de pescador de canoa em água doce, e tinha uma velocidade máxima de 13,5 nós, isto é, em linguagem de velho motorista de fim-de-semana, dava no máximo 25 km por hora.

Tinha 16 alojamentos em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira. Tinha 47 tripulantes (estou muito agradecido a um deles, um que me vendeu a máquina fotográfica com a qual tirei as fotografias que vocês conhecem). Alguns dos modernos "cacilheiros" que atravessam o rio Tejo não serão tão "grandes", mas aproximam-se.

Pois é verdade, meus amigos, foi neste transatlântico que a CART 1690 [Geba, 1967/69] largou do cais de Alcântara até à Guiné. Era a única unidade que lá ia, porque não cabia mesmo mais ninguém, penso eu.

Como alguns meses antes de embarcarmos nos tinham dito que íamos para Timor, ficámos satisfeitos por decidirem mandar-nos para a Guiné, pois pensámos que seria terrível ir num barco daqueles até à Oceânia...

Os alferes, sargentos e furriéis foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes" de segunda e terceira classe. Em primeira classe ficou o capitão da companhia, o comandante do navio, o imediato, o oficial das máquinas, certamente, e uns mangas que se penduraram em nós à boleia, que eu não sei quem eram nem procurei saber.

O Zé Soldado, sempre o mais fodido nestas situações, foi para o porão onde estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.

Largámos às 12h00 do dia 8 de abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejetos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.

Mas deixem-me contar o que aconteceu antes do embarque. No dia 3 de Abril houve a cerimónia de despedida, assim lhe chamaram, no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, que era onde estávamos à espera de embarque. Houve missa na parada celebrada pelo padre Nazário, perdão, o senhor major-capelão Nazário, que, ainda por cima tinha sido meu "superior" quando eu fiz a instrução primária nas Oficinas de S. José, em Lisboa!

Não fui à missa nem ouvi o sermão que ele fez, e que me 
disseram que foi uma bela dissertação sobre o amor à pátria e a defesa do património nacional. Mas tive que o gramar mais tarde, porque ele, um dia, apareceu em Geba para ver como estava a guerra.

− Nós por cá todos bem, é claro − disse-lhe eu.

 Foto à direita: Nazário Domingues de Carvalho (salesiano) (capelão, CTIG, 1964/68)

Depois, no dia 8 de Abril, então, seguimos de comboio especial para a gare marítima. Fizemos um belíssimo e aprumadíssimo desfile, com a nossa mascote Morena à frente (...) ( coitada, não vem na lista, mas estava em Sare Banda, aquando do ataque, e foi morta durante ele; morreu em combate também; era uma cadela muito porreira) perante um representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército.

As senhoras do Movimento Nacional Feminino deram muitos santinhos, calendários e bolachas a todos. O representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército ainda fez uma preleção aos sargentos e oficiais dentro do navio. Aos soldados não deu trela. E lá embarcámos com as lágrimas dos familiares presentes.

Às 16h00 do dia 15 de abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de abril a companhia passou diretamente do navio para LDG e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca.

Foi engraçado e giro, como devem calcular, para o pessoal que ia enfiado, ouvir os fuzileiros que nos levaram ir dizendo, em cada curva ou ponto mais apertado do rio:

−  Olhem que aqui costuma haver ataques!...
 
Dormimos em Bambadinca, em tendas, ao pé do rio, porque não havia instalações. Foi o primeiro combate com a mosquitada.

A 17 de Abril seguimos de Bambadinca para Geba em coluna auto. E fomos render a CCAÇ 1426, do Belmiro Vaqueiro.

A brincar, a brincar, é o começo da nossa estória. (**)

(Seleção, revisão / fixação de fotps, edição e legendagem de fotos, título: LG)
__________

Notas do editor:

(*) 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(**) Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P87: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (Marques Lopes)

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24512: Notas de leitura (1601): "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina; Âncora Editora, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
O assunto está longe de ser inédito, mas tanto quanto me é dado saber a metodologia é original para abarcar diferentes gerações, posturas que gradualmente se irão demarcando ao longo de sucessivas décadas, este precioso alfobre de mentalidades ajudará seguramente o historiador a olhar de maneira diferente o papel da mulher dos militares que trilharam o Império. São narrativas acaloradas, a organização da obra exemplar, é tónico estimulante para debates e conferências, abre janelas para novos trabalhos, é talvez este o não menos despiciendo préstimo de "Palavras e Silêncios", uma verdadeira surpresa no panorama editorial e acertadamente no programa Fim do Império, a que estão associadas a Câmara Municipal de Oeiras, a Liga dos Combatentes e a Comissão Portuguesa de História Militar.

Um abraço do
Mário


Aquelas mulheres de militares portugueses que percorreram o Império e a História esquece

Mário Beja Santos

A iniciativa tem o seu travo de originalidade: três mulheres decidiram reunir 32 outras de militares portugueses que serviram na Índia, em África, em Macau e Timor, e pedir-lhes testemunhos de vida desses anos. Respeitando a ordem cronológica, vamos ouvi-las desde a Maria de Lourdes, nascida em Bragança em 1924 a Patrícia, nascida em Lourenço Marques em 1975. É um abrangente retábulo de mentalidades, do modo de encarar o seu ligar de mulher, mãe e colaboradora nesta ou naquela parcela do Império, sentir-lhes nostalgia ou melancolia, aprazimento ou mortificação nesta ou naquela experiência, mas o resultado é deveras aliciante, de questionamento obrigatório, com estas memórias femininas não há nenhuma dificuldade em perceber como se praticou uma omissão indesculpável silenciando na historiografia o papel exercido pelas mulheres dos militares, na frente ou na retaguarda. É este o valor documental de "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", organizado por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina, Âncora Editora, 2020.

Mulheres cujos maridos cumpriram cinco comissões, viveram doze anos em África, viveram no Estado da Índia e dali saíram precipitadamente em 18 de dezembro de 1961, mulheres que partiram para a guerra casadas de fresco, viram partir o noivo ainda em tempo de paz que os acompanharam em tempo de guerra, mulheres de oficiais das Armas, mas também de médicos e de engenheiros. Mulheres que nasceram em Goa e que ainda hoje lutam pelos seus direitos de propriedade. Mulheres que dizem abertamente que a sua identidade foi moldada dentro dos princípios da moral cristã e dos valores da ética, transmitidos pelo meio castrense. Mulheres que ensinaram em liceus e escolas, que ajudaram nos hospitais, e mesmo depois da descolonização deram apoio a quem regressou em estado de grande aflição. Mulheres que falam num estado de grande felicidade pela experiência que tiveram ao lado do seu marido. Mulheres que conheceram a permanente itinerância, a fazer e a desfazer malas, a percorrer espaços imensos, a ter que pôr os filhos nos colégios.

E vamos, no afã da leitura, apercebendo-nos de que estas mulheres não só aprenderam línguas ou a bordar ou a cozinhar, foram ampliando o seu modo de olhar as missões dos seus maridos e a própria evolução da guerra, houve aquele moroso processo de perceber e sentir a pouca ligação entre as frentes de combate e a grande indiferença na retaguarda. Em dado momento, neste sortilégio de testemunhos, alguns deles de leitura compulsiva, há que ouvir o que Maria da Graça, nascida em Luanda em 1943, diz quanto à motivação que a levou a escrever sobre a sua vida passada:
“Em primeiro lugar, porque há muita informação sobre o que foram aqueles anos no nosso antigo Ultramar, sobre a guerra, os militares, sobre a descolonização, sobre o que foi feito ou devia ter sido feito, mas tudo numa perspetiva, não só predominantemente masculina, mas também política e documental. Ficou, nalgum esquecimento, o facto de que todos os envolvidos nos processos destes anos tinham famílias, mães, mulheres, filhas que, ou os acompanharam, ou ficaram sozinhas, tendo de gerir todas as situações que lhes surgiram. Em segundo lugar, porque, passados tantos anos, as gerações dos nossos dias têm pouca noção da dor e dos problemas que passaram os que viveram aquela época. Toda essa realidade já está muito distante, faço-o para que não fique no esquecimento. Porque tenho netos adolescentes e outros ainda mais pequenos, para quem, cada vez mais, a nossa História recente será um episódio longínquo, resolvi deixar o meu testemunho. Para que compreendam por que andámos sempre com a casa às costas, porque só acabei o meu curso 20 anos depois de o começar e, acima de tudo, para que fiquem com um olhar mais verdadeiro sobre aquela vida, a minha e a de tantas outras mulheres daquela época”.

Maria Beatriz, nascida em Setúbal em 1945, conta a sua experiência na Guiné entre 1966 e 1968. Casou, e quinze dias depois o marido partia para Farim. Quatro meses depois veio buscá-la. Viveu em Farim e lembra-se do choro das hienas como lembra o fantástico pôr-do-sol. Ouviu um ataque ao K3. O marido recebeu ordem para ir para Barro com a companhia, ela ficou em Farim, só mais tarde foi para Barro, surpreendeu-se que havia muita gente que parecia nunca ter visto uma mulher branca.
“Quando me levantei e cheguei cá fora, estavam muitas mulheres e crianças para me verem, todas me tocavam e riam. Eu levava as unhas pintadas, o que foi motivo de um grande espanto. A tropa construiu uma escola. As paredes eram de uma palha entrelaçada, o teto de zinco e as carteiras foram feitas no quartel. Veio de Bissau um quadro, e o armário da escola era um barril com uma porta, onde se guardavam os livrinhos e as lousas. Eu dava aulas na escola, às meninas, da parte da manhã, de tarde os rapazes tinham aulas dadas por um rapaz guineense, que foi educado numa Missão. Normalmente, as meninas vinham-me buscar à porta do quartel para irmos para a escola. Todas queriam ir de mão dada comigo, pelo que dava um dedo a cada uma, mas empurravam-se e zangavam-se porque eu só tinha dez dedos. Passado um tempo, houve uma operação, e eu fui. Caminhámos 50 quilómetros a pé, 25 para lá, até Canja, e 25 no regresso. Na primeira vez em que saí, quando fomos inspecionar as armadilhas, ainda levei a minha pistola à cintura, para fingir que poderia fazer qualquer coisa. Fomos a Canja, não se encontrou o acampamento inimigo que se estava à espera que existisse. O regresso é que foi uma tragédia, as pernas não queriam andar”.

Não sei se outra mulher de capitão teve experiência idêntica a esta, ela descreve com a maior das naturalidades operações e patrulhamentos, conta a história de um alferes de uma outra companhia que no início da operação disse “se a senhora vai, eu não vou”. A notícia chegou a Bissau e o Quartel-General mandou uma mensagem a perguntar se havia uma senhora branca que ia às operações. Trocaram-se mensagem em tom azedo, Bissau exigia que a senhora branca saísse dali e o capitão de Barro retorquiu: “Bem, então temos um problema. As mulheres dos meus soldados (era uma companhia de caçadores nativos) são senhoras guineenses e estão com os maridos. Se as senhoras não podem estar, o que eu vou fazer com elas?”. A resposta veio seca e terminante: “Não levanta problemas que isso não é nada consigo”.

No entretanto, o quartel foi flagelado e um outro capitão foi render o marido de Maria Beatriz. “Eu estava de camuflado, e o senhor viu-me de costas. Bateu-me no ombro e, quando me virei, ia caindo ao chão. Estava para me dizer: ‘É pá, estás com o cabelo muito grande, corta-o!’”. Depois da Guiné foi a Moçambique, mas não foi a mesma coisa. “A Guiné era como se fosse minha, criei uma forte relação afetiva com a terra e com as pessoas. Tenho muitas saudades do que lá vivi, e tive muita sorte, de ter um marido que apoiava as minhas loucuras”.

Depoimentos sumarentos, documentos de valor irrefragável, conhecíamos bem o papel das enfermeiras-paraquedistas, mas nunca se entrara nos bastidores com esta grande angular cronológica, mesmo sendo justo referir que nos últimos anos têm surgido diferentes trabalhos acerca da mulher de militares nas diferentes parcelas do Império.


Palavras e Silêncios é um trabalho inexcedível, será referência obrigatória, digo-o sem hesitar.
Investigação de Sara Primo Roque, Edições Pasárgada
As Mulheres Portuguesas e a Guerra Colonial, por Margarida Calafate Ribeiro, Edições Afrontamento
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24501: Notas de leitura (1600): A Guiné pós-colonial e o funcionamento de um Estado “suave”: Um importante artigo de Joshua B. Forrest sobre a Guiné a caminho do multipartidarismo (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23714: Fichas de unidades (27): 1.ª CCAÇ/CCAÇ 3 (Bissau, Nova Lamego, Farim, Barro, Guidaje, Bigene, 1961/74)


Fichas de unidade > 1.ª CCAÇ / CCAÇ 3

1.ª Companhia de Caçadores

 Identificação: CCaç 1 

Cmdts (a): 

Cap Inf Arnaldo Manuel Serra Gomes | Cap Inf Helder Fernando Pires Ataíde Ribeiro | Cap Inf Renato Jorge Cardoso Matias Freire | Cap Inf Carlos Alberto Alves Viana Pereira da Cunha |Cap Inf Laurénio Felipe de Sousa Alves | Cap Inf António Lopes de Figueiredo | Cap Inf António Lourenço | Cap Inf João Manuel Martins Maltez Soares | Cap Inf Joaquim Tavares Cristóvão | Cap Art Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques | Cap Art Samuel Matias do Amaral

 (a) Os Cmdts Comp são apenas indicados a partir de 1jan61 

Início: anterior a 1jan61 | Extinção: 1abr67 (passou a designar-se CCaç 3) 

Síntese da Actividade Operacional 

Era uma unidade da guarnição normal, com existência anterior a 01jan61 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes. 

Em ljan61, estava colocada em Bissau, com um pelotão destacado em Nova Lamego, onde foi transitoriamente instalada, na totalidade, em 3abr61, com pelotões destacados em Sedengal e Cacheu e depois em S. Domingos. 

Após a reorganização do dispositivo de 23ago61, foi substituída em Nova Lamego, por troca, pela 3ª CCaç, regressando a Bissau, tendo destacado efectivos para várias localidades da zona Oeste, nomeadamente em Ingoré, Enxalé, Susana, Mansabá e Bigene e também, na zona Sul, em Cabedú. 

A partir de 1jul63, foi colocada em Farim, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 239, com pelotões destacados em S. Domingos e Ingoré e secções em Susana, Mansoa, Mansabá, Bigene e Barro, tendo depois ainda deslocado efectivos para Bissorã, Cuntima, Olossato, Binta, Guidage, Canjambari, Porto Gole e Enxalé, sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões que assumiram a responsabilidade do sector de Farim. 

Em 27out66, foi colocada em Barro, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado na área do BCaç 1887 e transferido, em 3nov66, para a zona de acção do BCaç 1894, mantendo, no entanto, dois pelotões destacados no anterior sector, em Binta e Canjambari, este último deslocado para lumbembém, a partir de meados de jan67. 

Em 1abr67, passou a designar-se CCaç 3. 

Observações - Em diversos documentos, esta subunidade era muitas vezes designado por 1ª  CCaç 1. 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 621/ 622-


Companhia de Caçadores n.º 3

Identificação;  CCaç 3

Cmdts: 

Cap Art Samuel Matias do Amaral | Cap Inf Cassiano Pinto Walter de Vasconcelos | Cap Inf Carlos Alberto Antunes Ferreira da Silva | Cap Inf José Olavo Correia Ramos | Cap Art Carlos Alberto Marques de Abreu | Cap Art Fernando José Morais Jorge | Cap Inf João da Conceição Galamarra Curado | Cap Inf Carlos Alberto Caldas Gomes Ricardo | Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria | Cap QEO João Pereira Tavares | Alf Mil Inf José Manuel Levy da Silva Soeiro | Cap Inf Manuel Gonçalves Mesquita | Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco | Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia de Carvalho | Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco

Divisa: "Amando e Defendendo Portugal"
Início: 1abr67 (por alteração da anterior designação de 1ª CCaç) | Extinção: 31ago74


Síntese da Actividade Operacional

Em 1abr67, foi criada por alteração da anterior designação de 1.ª CCaç.

Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local.

Continuou instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCaç 1887 e estacionados em Binta e Jumbébém, este depois em Canjambari a partir de finais de set67. Ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.

Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20ju168, destacou, em meados de out68, um pelotão para Guidage, tendo assumido, em 9Mar69, a responsabilidade do subsector de Guidage por troca com a CArt 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 21/22jan69 tomou parte na operação "Grande Colheita", realizada pelo COP 3.

Em 22fev72, rendida em Guidage pela CCaç 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCaç 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BArt 3844.

Em 08dez72, foi substituída, transitoriamente, por forças da CArt 3358 no subsector de Saliquinhedim (K3) e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26nov72 e 8dez72 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCaç 4540/72, ficando então novamente integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.

Em 31ag074, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.

Observações - Não tem História da Unidade. Tem Resumo de Actividade referente ao período
de mai73 a set74 (Caixa n." 129 - 2.ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 627/ 628.
___________

Nota do editor:

Útimo poste da série > 16 de agosto de  2022 > Guiné 61/74 - P23528: Fichas de unidade (26): BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72): sem subunidades operacionais orgânicas, responsabilidade de um vasto sector, na região de Tombali, o sector S3, com sede em Catió, que abrangiam os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822


Foto nº 1


Foto nº 2

Fotos (e legendas): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de António Marreiros, a viver há 48 anos no Canadá (Victoria, BC, British Columbia), ex-alferes miliciano em rendição individual na Companhia CCaç 3544, "Os Roncos", Burumtuma, 1972,  e, meses depois, transferido para Bigene/Guidage, CCaç 3, até Agosto 1974 (*):


Date: sexta, 4/12/2020 à(s) 01:00
Subject: Hoje ...e 48 anos antes

Olá,  Luís Graça,

Depois de uma volta a pé nesta tarde cinzenta de Dezembro, fui à procura da caixa com fotos antigas e encontrei o grupo de Buruntuma e Bigene. Vou tentar copiar algumas mas não sei a melhor maneira de mandar:  Messenger, WhatsApp,  ou assim?

Para me registar na Tabanca aqui vai a minha foto tirada em Março [deste ano] no Algarve [Foto nº 2]  e …48 anos antes,  no rio Cacheu a caminho de Bolama ...e ainda muito "pira"! [Foto nº 1]. Penso que ainda tenho nalgum sítio aquele colar nativo feito com osso de peixe.

Sim, pelo apelido  de família [, Marreiros,] viste que sou algarvio! Nasci em Sagres e um mês depois de vir da Guiné estava numa longa viajem para este lado do Pacífico…

Nos primeiros 10 anos foi difícil regressar a casa periodicamente, mas com o tempo surgiram mais possibilidades e hoje volto  pelo menos cada 2 anos.

Ainda não respondi ao amigo Crisóstomo,  de New York, mas vou fazê-lo, ele foi tão pronto em me contactar!

Só agora é que tive coragem de abrir os outros links que me mandaste (P) …Tive dificuldade em ler a vivida descrição do ataque a Guidage e as emboscadas  (Amilcar Mendes, 38.ª CCmds) de Maio de 1973, porque eu fiz parte da tropa que se juntou aos Comandos nessa coluna que conseguiu finalmente chegar  a Guidage.

Tenho um nó no estômago outra vez... ver os nomes dos dois alferes que se perderam e toda aquele caos que se seguiu (eles voltaram dias depois a Bigene com a ajuda dos soldados africanos que conheciam o mato)…

Vou ler mais, mas noutro dia…
Um abraço do Canadá.
António Marreiros


2. Comentário do editor LG:

Camarada Marreiros, em meu nome pessoal, dos demais editores, colaboradores permanentes  e o resto da Tabanca Grande (que abaraça um leque de mais 8 centenas de camaradas que passaram pelo CTIG de 1961 a 1974), eu saúdo e faço votos para que te sintas sempre bem, ao nosso lado, sentado à sombra do nosso poilão...

Passas a ser nº 822... E o teu nome passa a constar permanentemente da lista alfabética, de A a Z, dos membros da Tabanca Grande, constante da coluna estática do blogue, no lado direito.

Peço desculpa de, no comentário anterior (*), ter confundido a tua segunda companhia, que não é a CCAÇ 19 (que estava em Guidage), mas sim a CCAÇ 3, da qual temos meia centena de referências. Mais à frente, no ponto 3, apresento-te um resumo do historial da CCAÇ 3.

 Em relação às tuas dúvidas... Tudo o que nos quiseres mandar (fotos, digitalizadas com boa resolução, em formato jpg, de preferência; ou textos em word ou pdf), usa de preferência o meu endereço de email, o mesmo que usaste agora: luis.graca.prof@gmail.com.

O nosso blogue tem algumas regras, simples, pacíficas, consensuais, que podes consultar aqui.

Mas, no essencial, devo dizer-te o seguinte, para te sentires inteiramente confortável aqui e à vontade para partilhares as tuas memórias, sem constrangimentos.

O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, criado em 2004, é um espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, abertos a todos os combatentes que conheceram o TO da Guiné, entre1961 e 1974). 

O nosso comportamento (bloguístico) deve estar  de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelos nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

Não menos importante:

(xi) defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).

(xii) em contrapartida, uma vez editados, os "postes" não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

(xiii) qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou da página do Facebook da Tabanca Grande), necessita de autorização prévia dos autores (por ex., publicação em livro).

Dito isto, camarada António Marreiros, esperemos que partilhes também connosco alguns dos "segredos" que vais contar à tua neta, relativamente àquele período da tua vida (cerca de 3 anos) em que estiveste ao serviço do Exército Português... Happy Cristmas!... Luís Graça

PS - Noutra oportunidade, falar-te-ei do nosso camarada A.Marques Lopes, cor inf DFA,  que foi também alf mil na CCAÇ 3, tendo estado em Barro, em 1968. É autor do livro "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, e que conta a história de António Aiveca. É um dos históricos da Tabanca Grande. Tem cerca de 250 referências no nosso blogue.
 


3. Companhia de Caçadores nº 3  (CCAÇ 3) > Ficha de Unidade:
 
Comandantes:

Cap Art Samuel Matias do Amaral
Cap Inf Cassiano Pinto Walter de Vasconcelos
Cap Inf Carlos Alberto Antunes Ferreira da Silva
Cap Inf José Olavo Correia Ramos
Cap Art Carlos Alberto Marques de Abreu
Cap Art Fernando José Morais Jorge
Cap Inf João da Conceição Galamarra Curado
Cap Inf Carlos Alberto Caldas Gomes Ricardo
Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria
Cap QEO João Pereira Tavares
Alf Mil Inf José Manuel Levy da Silva Soeiro
Cap Inf Manuel Gonçalves Mesquita
Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco
Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia de Carvalho
Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco

Divisa: "Amando e Defendendo Portugal"

Início: lAbr67 (por alteração da anterior designação de 1ª CCaç)
Extinção: 31Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 1Abr67, foi criada por alteração da anterior designação de 1ª Companhia de Caçadores.
.
Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local.

Continuou instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCaç 1887 e estacionados em Binta e Jumbembém, este depois em Canjambari a partir de finais de Set67. 

Ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.

Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20Jul68, destacou, em meados de Out68, um pelotão para Guidage, tendo assumido, em 09Mar69, a responsabilidade do subsector de Guidage por troca com a CArt 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 2l/22Jan69 tomou parte
na operação "Grande Colheita", realizada pelo COP 3.

Em 22Fev72, rendida em Guidage pela CCaç 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCaç 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BArt 3844.

Em 08Dez72, foi substituída, transitoriamente, por forças da CArt 3358 no subsector de Saliquinhedim e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26Nov72 e 08Dez72 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCaç 4540/72, ficando então novamente
integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.

Em 31Ag074, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.

Observações
Não tem História da Unidade. Tem Resumo de Actividade referente ao período
de Mai73 a Set74 (Caixa n." 129 - 2.a Div/d." Sec, do AHM).

Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. .627/628
_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21561: O nosso livro de visitas (207): António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Victoria, BC): foi alf mil, em rendição individual, CCAÇ 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 19 (Bigene e Guidaje, 1973/74)