Último poste da série > 21 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26493: Para bom observador, meia palavra basta (7): O que têm em comum estas fotos do obus 10.5 ?... Haja um "professor de artilharia" que explique aos "infantes"...
Último poste da série > 21 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26227: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - X Parte (Adenda): A todas as nossas enfermeiras paraquedistas, um bem-haja !
Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); nasceu em Castelo Branco, trabalhou na Lisnave, vive em Almada; tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue. |
Ok, tudo bem.
domingo, 1 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26222: O Spínola que eu conheci (38): Nunca o vi com um fotógrafo atrás, no mato (António Martins de Matos / Luís Graça / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)... Havia um fotógrafo fardado, que tirava fotos de forma muito dsicreta (Domingos Robalo)
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(i) Virgílio Teixeira:
Infelizmente não conheço, não conheci, e não sabia de um fotografo oficial do nosso General Spínola.
Mas nunca falei com ele.
Vi nele sempre uma pessoa acima de tudo e todos. Gostei dele, e o fotografo não vi!
22 de novembro de 2024 às 15:05
(ii) Valdemar Queiroz:
Estive por duas vezes a um palmo do Spínola.
A primeira vez foi quando assistiu a tiros de morteiro 60mm de recrutas, na bolanha de Contuboel, e calhou ser o Umaru Baldé do meu Pelotão a disparar uma granada que nunca mais caía e acertar no bidon-alvo. Alguns dos presentes deram uns passos nervosos, mas eu fiquei ao lado de Spínola que não se mexeu e fez um sinal quase imperceptível de "calma".
A segunda vez foi no Hospital Militar em Bissau, quando estive internado devido a uma intervenção cirúrgica. Ele todos os dias ia de manhã ao Hospital visitar, principalmente, quem tinha chegado ferido, tendo visitado um oficial que estava no meu quarto mais outros dois doentes. Esse oficial doente tinha a cara cheia de feridas devido a uma explosão de uma mina A/P, o Spínola olhou pra mim como me conhecendo e disse ao oficial ferido, que era um magricelas, "dos fracos não reza a historia".
Tenho a ideia que o oficial disse qualquer coisa, quando o Spínola saiu, que os outros riram-se.
22 de novembro de 2024 às 17:03
(iii) Luís Graça:
Náo estou a ver um militar a ficar 5 anos ao lado do Spínola para lhe bater as "chapas"... Ajudantes de campo, teve 3, se não me engano...E fotógrafos oficiais deve ter tido mais do que um...O Geraldo terá sido um deles...
A questão é de saber se era civil ou militar ("fotocine", por exemplo, a menos que fosse também da arma de cavalaria, como os ajudantes de campo...).
22 de novembro de 2024 às 23:14
(iv)
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Via assiduamente o general Spínola, na Base Aérea nº 12, em Biossalanca, a partir para as suas visitas a aquartelamentos, de DO-27 ou AL-III.
23 de novembro de 2024 às 08:51
(v) Luís Graça:
Catarina, o gen Spínola cuidadava da sua imagem, era de cavalaria, foi vedeta no hipismo, mas não ao ponto de andar com um "fotógrafo pessoal, oficial" atrás de si, e muito menos no mato, na Guiné...
Levava o ajudante de campo, que era também seu guarda-costas... Nunca ninguém o viu armado, e correu riscos...
Era importante, por outro lado, saber se o jornal "A Voz da Guiné" tinha algum fotógrafo ou fotojornalista no seu quadro de pessoal. Ou se as fotos que publicava tinham autor.
Os únicos "paparazzi" que o fotografavam, no mato, eram os militares das unidades e subunidades que ele visitava, muitas vezes de surpresa. Não se batia à fotografia, mas também não se importava que o fotografassem..
(vi) Domingos Robalo:
Tive três contactos com o general Spínola.
(Página do Racebook da Tabanca Grande, 23 nov 2024, 18: 50) (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26179: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (107): alguém conheceu Álvaro de Barros Geraldo, o fotógrafo oficial do gen Spínola, no período da guerra colonial, na Guiné-Bissau ?(Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH)
(**) Último poste da série > 23 de outubro de 2024 > Guné 61/74 - P26069: O Spínola que eu conheci (37): "Nunca foram ao Senegal ?!... Deixe-se de rir, nosso alferes, pois comecem a pensar em ir lá"... (A. Marques Lopes, 1944-2023)
quarta-feira, 31 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25796: Lições de artilharia para os infantes (12): Recordo que nas primeiras regulações de tiro “acertávamos “ ao 2° e 3° tiro (Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-cmdt 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70)
É sempre interessante acompanhar matérias que fizeram parte do nosso quotidiano da “guerra do ultramar “. Pessoalmente, sou sempre um entusiasta na matéria. Com a idade as memórias mais remotas vão ficando mais presentes.
Li o escrito pelo Sr. Coronel e não podia deixar de concordar em absoluto. Provavelmente ter- nos-emos cruzado em algum momento numa destas ocasiões; Mansabá/1970, onde fui fazer uma “carta de tiro” com o então Capitão Fradique, por pertencermos, no CTIG, à BAC1/GAC7/GA7, comandada, na época, pelo Capitão José Augusto Moura Soares, na BAC1, ou na última sessão de tiro na Bataria da AC, no Forte da Raposa/Fonte da Telha.
Nas regulações de tiro efetuadas fomos confirmando que, regularmente, o tiro tinha um alcance superior em cerca de 10%, face às distâncias indicadas nas tabelas de tiro de cada um dos obuses; 8,8cm; 10,5cm; 14cm e peça 11,4cm.
Fazíamos fé na cartografia a 1:50000, muitas vezes por nós confirmadas. Recordo que nas primeiras regulações de tiro “acertávamos “ ao 2° e 3° tiro. Com acertos e correções que íamos fazendo; temperatura atmosférica, humidade, vento e condições das cargas de cordite os tiros acertavam à primeira.
De realçar o cuidado na preparação do tiro, não só no registo do elementos retirados da carta, como também na introdução desses elementos para a pontaria com o goniómetro bússola. A propósito disto, o Coronel Ferreira da Silva teve um problema numa regularização de tiro, sem acompanhamento aéreo, tendo vindo a cair uma granada numa Tabanca próxima do alvo, causando mortos. Coisas causadas pelos efeitos colaterais
O meu Cumprimento ao sr. Coronel Morais Silva
Domingos Robalo, combatente
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(*) Último poste da série > 27 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25781: Lições de artilharia para os infantes (11): A artilharia portuguesa, até à década de 90, nunca teve condições para efectuar a Preparação Teórica do Tiro (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)
sábado, 27 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25781: Lições de artilharia para os infantes (11): A artilharia portuguesa, até à década de 90, nunca teve condições para efectuar a Preparação Teórica do Tiro (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)
Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Caro Luís
A afirmação de Domingos Robalo "No CTIG, devido à rarefação do ar (pressão atmosférica reduzida), este alcance tabular tem um incremento de 10%" sugere-me um muito breve apontamento teórico sobre o tiro de artilharia. (**)
A trajectória de um projéctil é afectada por:
1. Condições balísticas : "Gastamento do tubo" e "Temperatura da carga" que afectam a Velocidade Inicial da granada e, portanto, o alcance do tiro. Para um obus/peça o efeito conjunto deste dois parâmetros só pode ser conhecido, para cada carga, dispondo de um Velocímetro que na nossa Artilharia só apareceu na década de 90...
2. Condições aerológicas: "Rumo donde sopra o vento" para calcular os efeitos longitudinal e transversal respectivamente nas Distância e Direcção do tiro. "Temperatura e Densidade do ar" para obter correcções na distância de tiro. Para calcular o efeito destes parâmetros é necesssário dispor de uma estação meteo (Meteogramas) e só na década de 80 passamos a dispor desta facilidade.
Resumindo, a Artilharia portuguesa, até à década de 90, nunca teve condições para efectuar a Preparação Teórica do Tiro. E porque assim foi, o atrás referido “incremento de 10%” não tem suporte analítico que eu conheça.
Nos 3 TO a artilharia usava a prancheta topográfica que, na Guiné, dispunha do suporte da preciosa carta totográfica 1:50000.
A distância topográfica e diferença de cota determinavam Carga e Elevação do tubo. Os Rumos Posição-Objectivo e de Vigilância permitiam calcular a Direcção topográfica que era corrigida da Derivação tabular associada ao tempo de voo.
Procedimento simples cuja eficácia era afectada pela localização "estimada" das bocas de fogo do IN...
Ainda hoje não entendo porque não foi prioritária a aquisição de radares contra-morteiro que transformassem a nossa artilharia "barata-tonta" em "barata-inteligente e eficaz".
Última nota para alguns Oficiais artilheiros-infantes que recorreram à observação aéra/terrestre, para obter correcções empíricas para a distância topográfica e assim melhorar as condições balísticas para o "Apoio próximo". Era poucochinho (100, 200 metros) mas melhor do que nada.
Abraço
Morais Silva
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Vd. também poste de 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25775: Casos: a verdade sobre... (46): Sim, o obus 14 (a partir de Ganjauará ou de Mansambo) tinha alcance para chegar ao Xime (a 15 km de distância) em 1/12/73 (Domigos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-cmdt, 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70; vive em Almada)
Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); nasceu em Castelo Branco, trabalhou na Lisnave, vive em Almada; tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue;
(i) quem estava onde, em 1/12/1973, e quem disparava o quê: se Ganjauará já tinha trocado o 10.5 (29º Pel Art) pelo 14 (27º Pel Art)...
(ii) ou se o 27º Pel Art (14 cm) estava em Mansambo.
Na história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), diz-se que foi o 27º Pel Art deu apoio de artilharia ao Xime, nessa ocasião (1/12/1973), para além da resposta que o 20º Pel Art local deu com o obus 10.5.
(ii) Pela Directiva nº 17/73 de 16 de abril de 1973, fora remodelado o "dispositivo artilheiro": entre outras medidas, foi atribuído um Pelotão de Artilharia 14 cm (a 3 bocas de fogo), a cada uma das seguintes guarnições:
- Bigene;
- Mansoa ("a transferir, logo que possível, para o aquartelamento a instalar na estrada Jugudul-Bambadinca);
- Piche;
- Mansambo;
- Tite;
- Fulacunda;
- Ganjauará (península de Gampará);
- Buba;
- Aldeia Formosa;
- Catió (provisoriamente em Cufar);
- Chugué;
- Guileje (será retiarado pelas NT em 22/5/1973);
- Cacine.
Data - terça, 9/07, 22:16
Camaradas,
A pergunta simples e direta, dá-se uma resposta técnica e rigorosa, não sem antes ter ido confirmar nos “canhenhos”.
Saudações artilheiras,
Domingos Robalo, "ilustre artilheiro"
(*) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
Guiné 61/74 - P24891: Lições de artilharia para os infantes (10): Uma maneira simples de calcular a distância entre dois locais referenciados por coordenadas geográficas (Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71, cmdt do 22.º Pel Art, em Fulacunda , 1969/70)
Domingos Robalo |
Tabanca Grande Luís Graça, olá, amigo Luís, espero que estejas bem. Agradeço a tua atenção. Costumo
No mapa partilhado temos duas opções para medir distâncias.
(i) Na margem inferior da carta, temos uma escala ( 1/500000) que nos indica uma forma de medir distâncias.
- + representa o sinal, que poderá ser + ou -
- em Portugal, as latitudes são sempre positivas (sinal +) e as longitudes são sempre negativas (sinal -); em Espanha, os valores a Oeste (O,W) do meridiano de Greenwich têm sinal negativo (-) e os valores a Este (E) têm sinal positivo (+).
- GGG representa os graus da coordenada;
- MM representa os minutos da coordenada;
- SS representa os segundos da coordenada;
- D representa as décimas de segundos da coordenada ;
- Representação das coordenadas da FPC (que tem sede em Mira): 40°12'54.8" N, 8°26'9.8" W: Latitude: +040.12.54.8; Longitude: -008.26.09.8
- Representação das coordenadas de Barcelona : 41°37'10.2" N, 1°23'57.6" E; Latitude: +041.37.10.2; Longitude: +001.23.57.6
(*) Vd. poste de 18 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24770: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (4): Paulo Santiago. cmdt Pel Caç Nat 53 e formador de milícas (Saltinho e Bambadinca, 1970/72): na 2º feira de carnaval de 1971, contei 3 dezenas de foguetes, lançados em grupos de quatro; o alvo (falhado) era Aldeia Formosa
(**) Último poste da série > 8 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20425: Lições de artilharia para os infantes (9): Os Pel Art, de vez em quando, tinham que "tocar uma punheta" aos obuses, por razões de manutenção... (C. Martins, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1973/74)
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Guiné 61/74 - P23793: Notas de leitura (1518): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte II: A guerra de África não foi nada parecido como o trauma da I Grande Guerra...
História, memória e historiadores
(...) Nós não temos uma História, não há produção histórica em quantidade e com a regularidade suficiente para os portugueses poderem criar um interesse na sua própria História. Existem, no entanto, historiadores e alguns deles bons. (pág. 37).
(…) O mercado para o livro inglês é
enorme (…) Em Inglaterra, há muita gente
que vive só de escrever História (…) (pág. 37).
(…) Um estudo a sério sobre o Salazar, feito por um historiador, deve levar quinze anos.
É muito difícil arranjar condições de trabalho desse
tipo numa instituição universitária (…).
São tarefas para vidas inteiras! (…) (pág. 38).
Portugal, Salazar e a(s) guerra(s)
Salazar tinha a seu favor, em termos de imagem, interna e externa, duas coisas.
(i) o saneamento financeiro do Estado português: não se gastava mais do que o que se tinha; o que não era difícil de conseguir, tendo uma polícia política em cima dos trabalahdaores e das suas organizações;
(ii) a neutralidade de Portugal no âmbito do terrível conflito militar que foi a II Guerra Mundial (1939-1945); não terá sido assim tão difícil manter essa neutralidade, até por que toda a estratégia de Hitler estava virada leste (conquista de espaço vital à custa dos russos e dos poços de petróleo do Cáucaso, onde nunca cosnegiu chegar); nunca quis conquistar o Mediterrâneo e bater.se contra a maior armada do mundo, que era a britânica; logo, nunca faria sentido invadir a península ibérica para conquistar Gibraltar.
VPV defende a tese de que o regime político a que chamamos Estado Novo não era um regime fascista, muito menos copiado da Itália de Mussolini; por outro lado, Salazar era antinazi, embora também não gostasse dos americanos nem da democracia representativa ou parlamentar... Também era crítico do capitalisno e da modernização da sociedade.
Por outro lado, como ele disse, no famoso discruso de Braga, em 1936, por casião dos 10 anos do golpe de Estado do 28 de maio de 1926, ele, Salaar, devia "à providência a graça de ser pobre"...Ainda hoje estamos a pagar os bloqueios do Estado Novo à modernaização da economia e da sociedade portguesas,
(...) P (JCS) – Como é que os portugueses se mantiveram assustados durante tantos anos ? (pág. 134)
R (VPV) – A guerra [a II Guerra Mundial] impressionava toda a gente e todos queriam saber como estava a situação. E dividiam.se: uns eram a favor dos alemães, outros dos ingleses. Aqui em Portugal mudavam de posição de acordo com a progressão das campanhas militares.
Era uma espécie de jogo: estou a favor dos americanos, dos ingleses. Não implicava convicções políticas, apenas se interessavam pela guerra, que era aqui ao pé, em França, depois em Inglaterra e na Rússia (…).
Era preciso ligar essa curiosidade à
rádio, porque começava a ser um instrumento de comunicação muito forte, mesmo
sendo poucos os que tinham telefonia. (…) (pág. 134)
P – Foi a guerra que começou a destruir
a “paz” nacional ?
R – A estabilidade do regime é perturbada pela primeira vez e irremediavelmente pela guerra.
As guerras têm uma função democrática arrasadora para quem entra nelas, porque obriga a fazer com que as pessoas passem a viver uma vida coletiva. Se morrem cem mil de um lado e duzentos mil do outro, isto pode suceder-nos… Amanhã vestem-lhe uma farda e mandam-nos marchar , e isso faz com que o cidadão, mesmo de um país que não está em guerra, como Portugal, esteja mais atento ao que se passa no mundo. (….) (pág. 135)
Guerra de Angola ou guerra colonial
(,,,) A guerra colonial [ou "guerra de Angola", como o VPV estava habituado a chamar-lhe] não foi nada de parecido [com o trauma que foi para a República e para o país a participação do Exército português na Flandres, na I Grande Guerra], porque foi crescendo pouco a pouco e exigindo gradualmente mais homens e armas.
Quando a guerra acabou, tínhamos um total de tropas em África maior do que durante todo o tempo da guerra. [Negritos nossos, LG]
Começou com poucas tropas em Angola, alastrou para a Guiné e Moçambique, além de que era preciso guardar as províncias que ainda não se tinham revoltado com algumas guarnições.
Naquela altura as coisas foram correndo e, quanto mais avançavam, mais Salazar tinha que fazer concessões à modernidade. Tinha de entrar na Europa de qualquer maneira e começou pela EFTA [Associação Europeia de Comércio Livre, de que Portugal é cofundador em 1960].
Portugal progrediu, foi um salto no nosso desenvolvimento económico, mesmo que funcionasse contra Salazar, porque, à medida que conseguíamos exportar para os países da organização, o custo do trabalho ia sendo cada vez menos barato e proporcionava vivências muito diferentes de mugir as vacas. (pág. 158)
A propósito da guerra na Guiné, o VPV dá provas de estar mal informado, pelo menos a nível de certos detalhes. Nem ele é um historiador ou historiógrafo da guerra colonial.
Julgamos, inclusive, que ele nem sequer deve ter feito o serviço militar obrigatório: participou nas lutas estudantis de 1962 com Jorge Sampaio, aproximou-se depois dos católicos progressistas da revista "O Tempo e o Modo" e, acabado o curso de filosofia, foi para Oxford em finais de 1969 fazer o doutoramento em História com uma bolsa da Gulbenkian. Defendeu em maio de 1974 a sua tese de doutoramento, orientada por Raymond Carr: "O Poder e o Povo: a revolução de 1910".
Leia-se este excerto das suas declarações:
(…) O José Pedro Pinto Leite (1932-1970), que foi “espiritual e materialmente” o fundador do PPD e que era deputado da Ala Liberal, com o Sá Carneiro e Balsemão (…) morreu numa viagem de inspeção à Guiné porque o helicóptero em que ia, foi abatido pelo PAIGC. (pág. 162).
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Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior > 17 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23791: Notas de leitura (1517): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte I . As colónias não valiam o preço...
quinta-feira, 14 de abril de 2022
Guiné 61/74 - P23167: Humor de caserna (47): O Gasparinho, que eu... não conheci no BAC 1 / GA 7 (Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-comandante do 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
Guiné 61/74 - P20586: Facebok...ando (56): As minhas 10 efemérides (Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GA 7, Bissau, maio de 1969 /maio de 1971)
Foto: © Manuel Resende (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); nasceu em Castelo Branco, trabalhou na Lisnave, vive em Almada; tem 25 eferências no nosso blogue.
Texto publicado na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha (grupo fechado) em 18 do corrente:
Mas hoje, estou aqui a escrever para referir efemérides cinquentenárias ocorridas no período da minha comissão na Guiné (Maio de 1969 a Maio de 1971, na Bataria de Campanha nº 1, mais tarde GA7.)
Então, aqui vão as efemérides:
(i) em Fevereiro de 1970, morre em combate, em Catió, o sargento de artilharia Issa Jau, do recrutamento local:
(ii) em Abril de 1970, deixo Fulacunda, onde Comandava o 22º Pel Art , com rumo a Bissau (BAC 1, comandada pelo cap art M.Soares) para ser integrado na "Sala de Operações e Informações", participar nas Operações do TO que envolvessem Artilharia e continuar as acções de Instrução com as Escolas de Recruta para artilheiros;
(iii) em 20 de Abril de 1970, são assassinados os Majores; Passos Ramos, Pereira da Silva, Magalhães Osório e o Alferes Mosca. Participei no "Funeral Armas" (cemitério de Bissau) para o qual a minha unidade, BAC 1, tinha sido nomeada pelo Comandante Chefe;
(iv) em Maio de 1970, venho de férias, "à Metrópole", para contrair matrimónio;
(v) em Junho de 1970, chegam à BAC 1, 12 Alferes e 28 Furriéis, para reforço do pessoal de artilharia e libertar Alferes e Sargentos de vários pelotões de morteiros, que temporariamente serviram na artilharia depois de terem recebido a instrução necessária para reforçarem diversos pelotões de artilharia por todo o TO;
(vi) em Julho de 1970, a BAC 1, passa a GA7 com formação em parada, a que foi dado o nome do sargento Issa Jau, com a presença do General Spínola;
(vi) em 25 de Julho de 1970, morrem em acidente de helicóptero, com queda no rio Mansoa em deslocação para Bissau, 4 deputados à Assembleia Nacional; um desses Deputados tinha sido voluntário nesta delegação a fim de visitar o filho que era meu camarada na artilharia, colocado em Catió. Infelizmente não se viram.(Pinto Bull, de origem Guineense e Pinto Leite, pai do meu camarada.)
(vii) em 27 de Julho, na Metrópole, falecia Salazar;
(viii) em Julho de 1970, o Homem dava um "grande passo" ao pousar na Lua, pela primeira vez;
(ix) em 22 de Novembro de 1970, tem inicio a Operação "Mar Verde", comandada pelo Comandante Alpoim Calvão.
(x) em Dezembro é levado a efeito o reforço da Anti Aérea como protecção de um eventual ataque aéreo, como retaliação à Operação " Mar Verde". Cap Lourenço e Evaristo integram a minha Unidade, BAC1/GA7.
Foi um ano recheado de acontecimentos que nos ficam na memória. Cada uma destas efemérides têm desenvolvimento que o tempo foi apagando.
Abraço aos Camaradas,
Domingos Robalo
Furriel Miliciano Art (nº 192618/68)
[revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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Último poste da série > 8 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20429: Facebook...ando (55): os valorosos mecânicos de artilharia do GA 7, Bissau, 1972/74 (António Rios / Carlos Marques de Oliveira)
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
Guiné 61/74 - P20578: Convívios (914): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte II (Fotos de Jorge Canhão / Zé Rodrigues / Manuel Resende)
Foto: © Jorge Canhão (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto: © José Rodrigues (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotos: © Manuel Resende (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Último poste da série > 17 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20565: Convívios (913): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte I (Fotos de Luís Graça e Manuel Resende)