sábado, 28 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24019: Tabanca Grande (542): Eduardo Jacinto Estevens, ex-1.º Cabo Radiomontador da CCS/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1971/73), que se senta no lugar n.º 869 da nossa Terúlia

1. Mensagem de 27 de Janeiro de 2023 do nosso camarada e novo tertuliano, Eduardo Jacinto Estevens, ex-1.º Cabo Radiomontador da CCS/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1971/73), enviada através do Formulário de Contacto do Blogger:

Caro camarada Luís Garça
Há já algum tempo que acompanho o vosso blogue, e hoje resolvi inscrever-me para contar a minha passagem como militar pela Guiné.

Fui 1.° Cabo Radiomontador e fiz parte da CCS/BCAV 3854 que prestou serviço em Nova Lamego.
Fui destacado para a oficina de rádio em Bafatá onde cumpri todo o tempo de serviço de 1971 a 1973.

Um abraço
Eduardo Jacinto Estevens

Eduardo Estevens, ontem e hoje

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BATALHÃO DE CAVALARIA 3854

Unidade Mobilizadora: RC 3 - Estremoz

CMDT: TCor Cav António Malta Leuschner Fernandes

2.º CMDT:
Maj Cav Jaime Alexandre Santos Marques Pereira
Maj Cav Francisco José Martins Ferreira

OInf/Op/Adj:
Major Cav Viriato Manuel d'Assa Castel-Branco
Major Cav Eduardo Barata das Neves

CMDTs Comp:
CCS: Cap SGE Adelino Lopes de Almeida Ferreira
CCAV 3404: Cap Cav Grad Luís Fernando Andrade de Moura
CCAV 3405:
Cap Cav Fernando Gill Figueiredo Barros
Ten QEO António Pereira de Lima
CCAV 3406: Cap Cav José Carlos Cadavez

Divisa: "Cumprir"

Partida: Embarque em 04JUL71; desembarque em 10JUL71
Regresso: Embarque: 05OUT73


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO com as suas Companhias, de 12JUL71 a 06AGO71, no CMI, em Cumeré, seguiu em 13AGO71 para o Sector L#, com as suas subunidades a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCAÇ 2893
Em 05SET71, assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Cabuca, Madina Mandinga, Canjadude, Mareué e Nova Lamego. Em 22NOV71, a zona de acção foi reduzida do subsector de Mareué, transferido para outro batalhão. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do seu Batalhão.
Desenvolveu intensa actividade de patrulhamento, de protecção de itinerários, de escoltas, de intercepção e aniquilamento de elementos inimigos infiltrados e ainda de controlo e defesa dos aglomerados populacionais e organização de respectivo sistema de autodefesa.
Dentre o material capturado mais significativo, refere-se: 1 espingarda, 5 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 25 minas.
Em 08SET73, foi rendido no sector de Nova Lamego pelo BART 6523/73 e recolheu em 11SET73 a Cumeré e em 24SET73 a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


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Comentário do coeditor:

Caro Eduardo Estevens,
Bem-vindo à nossa Tabanca Grande, este espaço privilegiado de convívio para os antigos combatentes da Guiné. O nosso Blogue é, sem dúvida, o maior registo na web de memórias escritas e em fotografias da guerra naquela pequena parcela de África, então território administrado por Portugal.


A tua contribuição será bem recebida e aqui publicada para memória futura, para que alguém, depois de nós já termos partido, possa reescrever a história da guerra em África, o mais próximo possível da verdade. É isso que queremos e para isso fazemos aqui a nossa parte. Será difícil porque todos sabemos que os historiadores não são imunes à sua (de)formação ideológica. Nestes quase 50 anos, seja pelos rótulos que nos foram colando, seja pela falta de respeito e a indiferença a que fomos votados, concluímos que somos o resto de uma geração apanhada entre a ditadura e esta democracia que não sabe viver com a verdade histórica.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas.
CV

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23966: Tabanca Grande (541): José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LFP Bellatrix, 1969/71 e Comando Naval da Guiné, 1971/73), que se senta no lugar n.º 868 da nossa Terúlia

Guiné 61/74 - P24018: Os nossos seres, saberes e lazeres (552): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87): Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Tendo vivido em miúdo umas temporadas na Junqueira, fui-me afeiçoando ao local, qualquer pretexto é válido para aqui passarinhar, uma exposição na Cordoaria, uma visita ao Museu da Arte Popular, ao jardim da Tapada, ao Centro Cultural de Belém, e foi assim que dei por mim a descobrir que há muito não punha os pés no Museu da Presidência da República, o anúncio da exposição de homenagem a alguém de quem fui profundamente amigo e devedor, Maria de Lourdes Pintasilgo, deu acicate para a visita. Um belíssimo museu e dá gosto ver o cuidado arquitetónico posto no Jardim da Cascata. Quis visitar a capela e a obra da Paula Rego, dei com o nariz na porta. Nunca vira com os meus olhos o quadro que Júlio Pomar dedicou a Mário Soares nem o que a Paula Rego dedicou a Jorge Sampaio, saem vencedores estéticos do que para ali campeia na retratística. E justifica-se uma itinerância ao Palácio de Belém, quem por ali passa na rua nem lhe ocorre que há meio milénio há aqui espaço da aristocracia, devaneios de D. João V que sonhava com jardins formosos e D. Maria I que gostava de se passear entre a passarada exótica que aqui residiu nos anexos do Jardim da Cascata.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87):
Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo


Mário Beja Santos

Era tempo de conhecer o Museu da Presidência da República, estava cheio de curiosidade para visitar a exposição dedicada a uma grande amiga, Maria de Lourdes Pintasilgo, que apoiei de alma e coração, do princípio ao fim, na sua ousadia como candidata à presidência da República, no topo das sondagens nos primeiros tempos, teve menos de 8 por cento depois de uma primeira volta em que foi caluniada e abjurada. O espaço museológico está muito bem concebido, uma exposição digna dos retratos dos presidentes da I República, do Estado Novo e da II República, há para ali algumas obras de arte de primeira plana, logo os quadros de Columbano, o Júlio Pomar e a Paula Rego (bem gostaria de ter visto a Capela, obra pictórica da sua responsabilidade, a rogo de Jorge Sampaio, mas estava encerrada ao público), há presentes lindíssimos, alguns deles dignos de qualquer grande museu, a museografia é excelente, atrativa e pedagógica, espaços bem recuperados, uma organização cativante para a compreensão do que constitui a missão deste museu. Aqui se deixam algumas imagens do que mais me tocou.
Presidente Manuel de Arriaga pintado por Columbano
Presidente Teófilo Braga pintado por Columbano
Presidente Mário Soares pintado por Júlio Pomar
Presidente Jorge Sampaio pintado por Paula Rego
Um presente do rei de Marrocos Hassan II ao presidente Jorge Sampaio
Presente da Bulgária ao presidente Cavaco Silva
Presente da República da Alemanha ao presidente Ramalho Eanes
Oferta do Brasil ao presidente Craveiro Lopes
Pormenor da Galeria dos Presidentes da I República, com destaque para Teófilo Braga pintado por Columbano e Bernardino Machado pintado por Martinho da Fonseca
Desenho a lápis de Paula Rego para a série que dedicou ao aborto

Para chegar à exposição Pintasilgo tem que se migrar para outro espaço bem acarinhado, o Jardim da Cascata, altamente cenográfico, hoje separado do Palácio de Belém, constituiu um dos caprichos da rainha D. Maria I, tinha aqui passarada exótica de todo o Império. Fizeram-se obras, a dignidade arquitetónica foi respeitada, é hoje espaço expositivo, que visitei com a alegria de rever a obra de uma mulher que me ajudou a pensar mais livremente. No decurso da visita, verifiquei que faltavam alguns elementos da campanha eleitoral de 1985, deixei menção que estava disposto a entregar peças que aqui faltavam, caso de uma medalha comemorativa. Nenhum contacto veio a ser estabelecido, já encontrei destino para os elementos que dispunha desta querida amiga cujo pensamento político continua mal divulgado, o relatório que ela coordenou para a ONU População e Qualidade de Vida, estou certo e seguro, quando se organizar a bibliografia fundamental da sustentabilidade e dos quadros matriciais da política ambiental global, estará em lugar cimeiro.
Pormenor da fonte do Jardim da Cascata
Detalhe do Jardim da Cascata virado para a Praça Afonso de Albuquerque
Duas imagens retiradas da exposição em homenagem à obra de Maria de Lourdes Pintasilgo, decorria então no espaço do Jardim da Cascata

Aqui se põe termo à visita de um espaço belíssimo, é uma história de meio milénio, houve para aqui propriedades do conde de Vimioso, depois D. João V deu-lhe para a jardinagem, temos ao alto a tapada, ali bem perto do Jardim Colonial (hoje Tropical), e aqui se fez Palácio Real, os príncipes D. Carlos e D. Amélia aqui viveram, a princesa gostava de cavalgar e deixou-nos um precioso picadeiro que já foi Museu Nacional dos Coches e hoje é seu apêndice, aqui viveram presidentes da República como Craveiro Lopes e Ramalho Eanes, tem esplendor e magnificência, fica prometido que será uma das próximas itinerâncias.
Outro pormenor do Jardim da Cascata

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24001: Os nossos seres, saberes e lazeres (551): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86): A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24017: Fotos à procura de... uma legenda (170): um "aerograma"... da Suécia com, brrr!, muito frio (José Belo)


Cortesia de José Belo (Julgo que a foto não é dele, deve ter sido tirada por uma das suas renas...)


1. O José Belo, o português (ou luso-sueco) que vive mais a norte de Cascais, já dentro do Círculo Polar Ártico, não perde pitada do seu corrosivo mas saudável bom humor quando chegam os grandes nevões e as temperaturas, lá para o seu sítio, na Lapónia, atingem muitas dezenas de graus negativos, rebentando com os termómetros... 

Imaginem, mandou-nos um "aerograma", que deve merecer, em resposta,  um comentário dos nossos leitores...

Eu acho que nos faz isto só por pirraça, acinte, afronta, senão mesmo sacanice!... "Ah!, os velhadas, todos juntinhos, no adro da igreja, a jogar à sueca, aproveitando os fracos raios de sol do inverno!... Venha aí o ribatejano mais valente, reformado de pegador de touros e de antigo combatente da guerra do ultramar, para lidar esta besta que 'amanda' com quarenta graus abaixo de zero!"...

Na "nossa" Guiné, no nosso tempo, a tempertaura mínima que podíamos apanhar, em dezembro, rondava os 15 graus. E eu lembro-me de ter batido o queixo, à noite, emboscado ("enroscado") no mato, eu e os meus soldados guineenses, enrolados em mantas... 

Era das únicas vezes que eu usava o blusão de couro que havia comprado no Casão Militar, custou-me uma fortuna... Estupidez a minha, não vi que o clima na Guiné era tropical... Foi a "agência de viagens" que me enganou... Mas deve ter havido alguém que me garantiu que o blusão merecia o preço, também era colete anti-bala... Que lorpa!... Isso, e as botas à cavaleiro, de cano altíssimo até ao joelho, que era para atravessar as bolanhas e não ser sangrado pelas sanguessugas... (LG)

Domingo, 15/01/2023, 12:00




Um "Aerograma" com ar fresco do Árctico e um abraco

Com a curiosidade de a roupa lavada (e congelada!) nos quarenta graus....negativos!

Abraço, JBelo
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de janeiro de 2023 > uiné 61/74 - P24004: Fotos à procura de... uma legenda (169): Um ministro de Salazar, desembarcado na fragata Nuno Tristão, no decurso da Op Tridente, Ilha do Como, c. jan/mar 1964 (José Belo, Suécia)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24016: Efemérides (380): Hoje, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Capa do livro  de Judith C. E. Belinfante et al. - "The Esnoga: a monument to Portuguese-Jewish culture" [A Esnoga: um monumento à cultura judaico-portuguesa]. Amsterdam, D'Arts, 1991, 95 pp. (tr. do neerlandês): mais de 85% da comunidade judaica, de origem portuguesa (sefardistas), morreu no Holocausto (cerca de 3700 em 4300 membros) (*)

(...) "A 27 de janeiro assinala-se, anualmente, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Este dia foi implementado através da Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 1 de novembro de 2005.

O propósito deste dia é não esquecer o genocídio em massa de seis milhões de judeus pelos Nazis e respetivos colaboracionistas. Este constitui um dos maiores crimes contra a Humanidade de que há memória. Por outro lado, pretende-se educar para a tolerância e a paz, bem como alertar para o combate ao antissemitismo.

A Comissão Europeia, a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), a ONU e a UNESCO criaram a campanha #ProtectTheFacts, como forma de combater o negacionismo e a desinformação em relação ao Holocausto." (...)


Fonte: Eurocid (com a devida vénia...)


Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018

1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstomo, com data de 25 do corrente, às 03:11:

Meu caro Luís Graça,

De há já algum tempo para cá tenho-me cingido a "passar os olhos” pelos títulos dos postes no nosso blogue, pois que,  apesar de “reformado" e não sei que mais, o tempo não tem dado para mais. Hoje porém ao ver o título deste último blogue "a sinagoga portuguesa de Amsterdão… e a história incrível da sua comunidadede" (*), tive de arranjar tempo para o ler. Em boa hora o fiz; e logo decidi deixar um comentário ao excelente artigo. 

Embora nunca tenha visitado Amesterdão, por razões várias, o assunto não me é totalmente desconhecido. Mas fiquei impressionado pela abrangente, mas sucinta e  bem organizada maneira como o nosso editor conseguiu em poucas palavras informar e esclarecer o assunto em questão.  

Este artigo é ainda mais pertinente porque estamos em vésperas do dia do Holocausto.
E por isso permito-me enviar-te algumas informações relacionadas com este dia, celebrado a 27 de Janeiro. Deixo ao teu critério o publicares ou não.

Para evitar mal entendidos devo esclarecer que não sou judeu. Por vezes fazem-me essa pergunta e parece ficarem surpreendidos quando respondo negativamente. O meu envolvimento em assuntos relacionados com o judaísmo aconteceu quase por acaso ao saber da figura do nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes.


O cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes
(Cabanas de Viriato, 1885 - Lisboa, 1954)

Independentemente de quaisquer outras considerações, o meu primeiro interesse era o de dar a conhecer ao mundo o nosso grande humanista português. E, como no caso de cerejas, vim a saber depois de outros humanistas que estavam meio esquecidos e mereciam e deviam ser conhecidos: O diplomata brasileiro Luís Martins de Sousa Mendes, Angelo Roncalli -- depois papa e “ Santo” João XXIII, e outros.

E foi no decorrer destes reconhecimentos que vim a saber da existência da Sinagoga de Amesterdão, e das duas primeiras sinagogas nos Estados Unidos - ambas construídas por portugueses ou luso-descendentes, como se pode ver ainda hoje pelos nomes bem portugueses gravados em pedra: a "Touro Synagogue” em Newport, estado de Rhodes Island ; e a “Portuguese- Spanish Synagogue” em Nova Iorque.

E muito haveria para adiantar, mas sei que outros o podem fazer muito melhor do que eu.

Neste momento quero apenas mencionar duas coisas que me chamaram a atenção: a publicação de mais um livro intitulado “ In the Garden of the Righteous “ sobre Salvadores do Holocausto ainda pouco conhecidos, este da autoria de Richard Hurowitz, publicado hoje mesmo pela “Harper”. O conceituado “ Wall Street Journal” publica sobre ele um grande artigo de apresentação.


Capa do livro 
 de Richard Hurowitz. -
"In the Garden of  the Righteous: the heroes who risked their lives to save jews during the Holocaust"  [ No Jardim dos Justos: os heróis que arriscaram as suas vidas para salvar judeus durante oHolocausto], Nova Iorque, 2023. (Imagem: Cortesia de João Crisóstomo)

Este livro e este artigo são de especial importância para nós porque neles Aristides de Sousa Mendes recebe o maior destaque: é com a história de Aristides de Sousa Mendes que o autor começa o artigo e depois, falando sobre os motivos que levaram estes “salvadores” a agirem como fizeram, o caso de Aristides é de novo falado com o maior destaque, pela sua expressa declaração de que o fez levado pela sua fé católica e sua consciência de cristão. 

Este artigo é-nos especialmente gratificante pois temos vindo a celebrar este "Dia da Consciência" pelo mundo fora desde 2004 , o que levou o nosso Papa Francisco em 17 de junho de 2020 a “reconhecer" não só o nosso grande humanista, mencionando o seu acto de coragem cristã, como o “Dia da Consciência” na sua audiência geral desse dia.

Em segundo lugar merece também ser mencionado o facto de que uma importante “webinar” organizada pela” Jewish Heritage Alliance” vai ter lugar no dia 29 de Janeiro e é especialmente dedicada a Portugal e a Aristides de Sousa Mendes. E muito apropriadamente esta "webinar" começa com uma mensagem do nosso Embaixador de Portugal em Washington, especialmente pré-gravada para esta ocasião.(**)


Webinar "Sefarad: Porto and Portugal's Jewish Heritage" [ Seminário pela Web: "Sefarditas: O Porto e a herança judaico-portuguesa],  29 de janeiro de 2023.

Um grande abraço,
João
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P24015: Notas de leitura (1547): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Este texto de recensão centra-se nas alterações introduzidas em 1965 pelo novo Comandante da zona aérea, Coronel Krus Abecasis, destinadas a melhorar a eficácia da informação e a encontrar as respostas mais adequadas entre a força aérea e as forças terrestres; o novo comandante procurou uma resposta satisfatória para os bombardeamentos noturnos, envidou esforços para adaptar o C-47 a bombardeiro noturno. O que traz à discussão o modo como ao longos destes anos o PAIGC procurava mitigar os efeitos por vezes devastadores dos bombardeamentos; e igualmente se vê que as armas que utilizava eram ineficazes para danificar os aviões, a artilharia antiaérea demorou a chegar mas a resposta portuguesa não se fez esperar, toda essa artilharia foi completamente inutilizada, como adiante se verá.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (14)


Mário Beja Santos
Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Percorremos já um longo percurso (esta recensão já abrangeu mais de metade da obra), os investigadores socorrem-se de um processo diacrónico, atravessam toda a cronologia de acontecimentos internacionais e nacionais que se prendem com o fenómeno da descolonização africana e como este afetou a Guiné; depois, dão-nos o quadro dos meios aéreos existentes, no início da década de 1960 e a sua evolução até ao desencadear da guerra, a adaptação de infraestruturas (nomeadamente Bissalanca, Cufar e Gabu), o aperfeiçoamento na formação dos pilotos, etc. Seguiu-se uma descrição sobre os comportamentos militares dos primeiros Comandantes-Chefes e as aquisições efetuadas, designadamente na Europa Ocidental. Por fim, abordou-se a Operação Tridente, começa agora o período da governação Schulz. Pela narrativa destes autores, revela-se à puridade a ideia feita de que Schulz não tinha estratégia adequada para querer contrariar a ofensiva guerrilheira, adotou um modelo de disseminação da quadrícula que era totalmente partilhado por outros potências coloniais a enfrentar a insurgência, e, obviamente, apercebendo-se da natureza do terreno, teria de apostar no apoio aéreo e na capacidade dos bombardeamentos. E os autores explicam claramente as dificuldades surgidas com as aeronaves. Vamos continuar esse relato e acompanhar o período da governação Schulz, e procurar entender a natureza da resposta do PAIGC.

Vimos como o novo comandante da ZACVG, Krus Abecasis, liderou alterações de fundo para melhorar a coordenação com as outras forças militares e com a rede dos comandos aéreos, instituiu-se um mecanismo permanente de coordenação entre as diferentes forças intervenientes no teatro de operações, assegurando comunicações em tempo real e as forças de superfície, criou-se um comando com ligação a Nova Lamego para apoiar as operações terrestres no Leste da Guiné; havia em Bissalanca uma força de alerta completa, incluindo dois T-6 prontos a intervir. Os autores pormenorizam toda a orgânica montada por Krus Abecasis.

Apesar das medidas expeditas tomadas para uma melhor coordenação ar-terra, não se esbateram completamente as dificuldades entre os ZACVG e as outras forças. O PAIGC primava por ataques rápidos e pronta fuga, desaparecendo no interior das matas, o apoio aéreo muitas vezes chegava tarde, o que originava queixas e críticas do Exército à Força Aérea. Mas o balanço da nova coordenação foi substancialmente positivo, apesar de se terem mantido dificuldades sérias em abastecer as forças de superfície por via aérea. Lembram os autores que o transporte aéreo era a única opção disponível em 85 por cento do território, e sem o apoio da FAP muitas unidades isoladas não poderiam sobreviver. No entanto, o défice de transporte aéreo que já se manifestara durante a Operação Tridente, não desapareceu. 14 dos 20 DO-27 permaneciam paralisados por razões não especificadas e 3 C-47 estavam constantemente indisponíveis devido a exigências de inspeção ou manutenção em Portugal. Ora o C-47 Dakota revelou-se fundamental para o abastecimento das forças portuguesas dispersas pela Guiné. Krus Abecasis procurou minimizar o tempo de inatividade do C-47 devido a requisitos de manutenção, e estabeleceu um circuito regular de abastecimento pelo C-47 para unidades destacadas em Nova Lamego, Farim, Bafatá e Tite, dia sim, dia não. Nos lugares onde as forças portuguesas dependiam de transporte naval, os T-6 eram rotineiramente encarregues de escoltar as lanchas, especialmente na região sul. Krus Abecasis tomou igualmente medidas para melhorar a capacidade de ataques noturnos da FAP, que nos dois primeiros anos da guerra se tinham limitado a um punhado de missões de bombardeamento pelos P2V-5, mas os Neptune eram muito poucos e não impediam o entusiasmo do PAIGC pela escuridão. Abecasis estudou o modo como a Força Aérea dos EUA usavam os C-47 modificados como armas noturnas no Sudoeste Asiático. Ele pediu às OGMA em Alverca para supervisionar a conversão do C-47 em bombardeiro noturno, para poder levar bombas de diferente calibre. Estas alterações tornaram possível a realização de bombardeamentos noturnos em altitudes seguras e produziram resultados até ao final do ano, reforçaram a “guerra antiaérea”, que opôs uma capacidade de destruição da defesa aérea das FARP que procuravam cercear a sua ação aérea. Grandes teóricos do movimento revolucionário como Mao Zedong, Giap e Guevara classificavam a defesa aérea como uma das prioridades da guerrilha, considerações que se aplicavam singularmente à Guiné onde o poder aéreo era notoriamente soberano. O PAIGC distribuía um manual para os seus quadros dizendo que se deviam desenvolver maneiras eficazes de derrotar os aviões inimigos, havia que conhecer as debilidades dos aviões, evitar os seus pontos fortes e explorar as suas fraquezas.

No início da guerra, os aviões eram um terror inultrapassável para a maioria dos militantes do PAIGC. Os bombardeamentos aéreos no Morés eram de tal modo aterradores que os aldeões decidiram internar-se na floresta do Oio, contrariando as ordens da direção do PAIGC. Cabral e os seus colaboradores buscavam uma resposta para tão tremendo desafio. As medidas de defesa inicialmente adotadas repetiam procedimentos que tinham sido usados por guerrilheiros na Malásia, Indochina e outros lugares, caso do emprego de folhagem natural, camuflagem, cobertura da escuridão para se protegerem dos aviões, evitavam-se as áreas abertas e procuravam-se tomar medidas para garantir a ocultação da observação aérea em viagens de dia.

Os camponeses, por exemplo, construíam coberturas de galhos de árvores para se esconderem sempre que ouviam aviões a aproximarem-se das bolanhas onde plantavam arroz, enquanto os guerrilheiros e os habitantes procuravam esconder-se no arvoredo ou ficar parados para impedir a deteção no ar; normalmente vestidos de indumentária escura, os guerrilheiros procuravam confundir as tripulações deitando-se entre troncos de árvore queimados; em área húmidas ou perto de cursos de água, os insurgentes emergiam na água e respiravam através de palhinhas improvisadas; em áreas dominadas pelo PAIGC, uma das medidas adotadas pelas populações eram extensas trincheiras de proteção, recorrendo-se a um sistema de alerta rudimentar que consistia em tambores usados para anunciar a aproximação das aeronaves, e, como já adotados noutros ambientes por insurgentes, o PAIGC assentava as suas bases numa rede dispersa de habitações camufladas, tudo para dificultar a sua localização do ar. Uma diretiva do PAIGC que veio a ser apreendida pelas forças portuguesas, reiterava a ordem permanente de Cabral para que as unidades do PAIGC não permanecessem numa determinada área mais do que dois dias consecutivos. Quem desobedecesse podia ser punido – primeiro pela FAP e, depois, pelo alto-comando do PAIGC.

Outras medidas de defesa passiva passavam pela tática conhecida por “abraçar o inimigo”, ou seja, combater a partir de posições tão próximas das forças portuguesas de tal modo que a aviação não pudesse largar as suas bombas. E para minimizar ainda mais as oportunidades de deteção e destruição, muitas atividades de apoio ao PAIGC ou às populações amigas, como era o caso do cultivo de arroz, processavam-se principalmente à noite. As unidades armadas do PAIGC preferiam operar na escuridão para evitar a intervenção da Força Aérea. Abecasis sublinhava que a noite era o grande aliado do inimigo. O PAIGC espalhava com frequência informação para alerta dos seus militares e população civil, mostravam-se fotografias horríveis de vítimas e danos, insistia-se na tomada de medidas para haver uma defesa agressiva por parte dos combatentes das FARP, mobilizaram-se quadros móveis e comités da aldeia para campanhas de educação da defesa civil em massa. Até os livros escolares produzidos pelo PAIGC traziam avisos sobre os perigos dos bombardeamentos aéreos.

A destruição de aviões dava um importante impulso moral aos guerrilheiros, era uma forma de abalar o conceito de superioridade e invulnerabilidade. Em inflexão estratégica, o PAIGC encorajava que a resistência armada devia incluir lançamento dos RPG- 2 e 7 para atingir os aviões, o que se revelava ineficaz. O PAIGC recorreu aos seus amigos para montar sistemas de defesa aérea e foi assim que surgiram armas pesadas como as do tipo soviético SG-43 Goryunov, que foram reportadas pela primeira vez pelas autoridades portuguesas em 18 de julho de 1963. Eram armas de pouca ajuda e não podiam meter medo mesmo ao velho T-6 Harvard da Segunda Guerra Mundial, contra os aviões a jato os canhões de 7,62 mm não tinham qualquer eficácia.


Circuito de fornecimento dos C-47, 1965 (Matthew M. Hurley)
O C-47 Dakota foi fundamental para fornecer as forças portuguesas dispersas por toda a Guiné (Coleção Virgílio Teixeira)
Arma antiaérea DShK 12,7 mm (Arquivo da Defesa Nacional)
Guerrilhas do PAIGC a receber instrução sobre o uso da DShK (Arquivo da Defesa Nacional)

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 20 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23998: Notas de leitura (1545): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (13) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24007: Notas de leitura (1546): História de Portugal e do Império Português, Volume II, por A. R. Disney; Guerra e Paz Editores, 2011 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24014: "Una rivoluzione...fotogenica" (7): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte VI: O quotidiano dos guerrilheiros na base de Hermacono (Senegal)...


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermangono > PAIGC > 1974 > Comandante militar / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 11 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military commander of Hermangono, Northern Guinea-Bissau - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermangono > PAIGC > 1974 >  Camas dos combatentes escavadas no chão / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 13 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military trench beds - 1974


Guiné > PAIGC > Região Norte, fronteira com o Senegal >  Soldado com a sua mulher / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 14 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldier with wife - 1974.tif

Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Combatentes em frente a uma palhota /Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 18 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes em frente a uma palhota, com uma criança / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 21 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut with a child - 1974


 
Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >  Combatentes e carregadores num momento de descanso./ Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 22 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers and carriers relaxing - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes "à volta do tacho"/ Foto; ASC Leiden - Coutinho Collection - D 17 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers cooking - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >Dois combatentes, no intervalo da guerra, fazendo o seu TOC escolar... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 15 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military learning to read and write - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > A formatura da alvorada / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 19 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll call in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (i) ... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 16 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military inspection in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (ii) ... / Foto: :ASC Leiden - Coutinho Collection - D 20 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll-call in Hermangono - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Uma saída  / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 12 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military on the way - 1974



Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
 
1. Roel Coutinho é um prestigiado médico, epidemiologista e professor, hoje jubilado, de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis,  nascido em 1946, nos Países Baixos, em Laren, perto de Amesterdão, província da Holanda do Norte. Licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74 em visita ao PAIGC, em missão sanitária. Especializou-se depois em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas. 

Tem ascendência portuguesa, e judaica: os antepassados, marranos ou cristãos-novos, devem ter saído de Portugal para a Holanda  no séc. XVII.  Os portugueses, cristãos novos, e de novo reconvertidos ao juadaísmo, constituíam uma comunidade prestigiada, pela cultura, o dinheiro e o poder. Sempre uaram os seus apelidos portugueses.  Prova doo seu estatuto, é a "Esnoga", a monumental Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, que chegou a ter 3 a 4  mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a umas escassas centenas de pessoas: espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa", do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amesterdão.

Da coleção Coutinho, relativa à sua visita ao PAIGC na Guiné e no Senegal, entre março de 1973 e abril de 1974, apresentamos hoje uma seleção de imagens, editadas por nós, relativas ao quotidiano dos combatentes do PAIGC em Hermangono, na "região Norte,  junto à fronteira do Senegal".  

Como fotógrafo (amador), Coutinho não se deixou deslumbrar pelas armas nem pela guerra... Não são muitas as fotos dos combatentes, privilegiou antes outros aspectos da vida no "mato" (para usar um termo caro às NT):  a prestação de cuidados de saúde, a educação, a população, etc.

2. Não conseguimos, até hoje, localizar este lugar, Hermangono (ou Hermacono, segindo a 2ª Rep QG/CC/FAG.  

Segundo a instituição a quem foi doada a coleção de mais de um milhar de fotos e "slides", o African Studies Centre (ASC), Leiden, Hermangono seria "uma pequena aldeia na Guiné-Bissau, a um dia de distância da fronteira senegalesa", mas não se sabe a sua exata localização... 

Também não encontrámos este topónimo, nem na "Crónica da Libertação", do Luís Cabral (Lisboa, O Jornal, 1984), nem no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, nem nas nossas antigas cartas militares.

Pergunta-se a quem sabe: Hermangono (ou Hermacono)  seria no corredor de Sambuíá, que tinha início em Cumbamori?

3. Alguns pormenores interessantes sobre os combatentes do PAIGC aqui fotografados:

(i) não viviam nem dormiam em "resorts" turísticos de "luxo": os nossos, apesar de tudo, sempre eram melhores; 

(ii) não há estruturas edificadas, de alvenaria, nem propriamente abrigos ou trincheiras, e a camuflagem não era "famosa"; 

(iii) quase todos calçam sandálias de plástico, provavelmente "made in China"; 

(iv) o fardamento é de diferentes tipologias e cores;

(v) parte deles estão à civil; 

(vi) alguns tinham família (uma ou mais esposas, filhos); 

(vii) não tinham "rações de combate", tinham que fazer a sua própria "bianda" (não há messe nem cantina...);

(viii) aparentam ser jovens, alguns deviam ter sido recrutados recentemente, apesar das crescentes dificuldades do PAIGC em renovar as suas fileiras; 

(ix) as formaturas têm todo o ar de terem sido feitas para a "fotografia", para o "jovem amigo e médico holandês";

(x) botas, relógios de pulso e rádios portáteis deviam ser um privilégio (isto é, só para alguns, o comandante de bigrupo, o comissário político); 

(xi) não se veem armas pesadas;

(xii) Hermangono parece ser mais um "barraca" do que uma base (como Morés ou Sara) (e, pelo aparente à vontade dos seus  habitantes podia estar já situada em território senegalês, com menos riscos de ser bombardeada pela aviação ou pela artilharia dos "colonialistas"); 

(xiii) estamos, de resto, numa altura, 1.º trimestre de 1974 (as fotos devem ser de março / abril), em que o PAIGC já tinha carta branca do Senghor para poder circular pelo Senegal, com "armas e bagagens" (os primeiros anos não nada foram fáceis, segundo o testemunho do Luís Cabral nas suas memórias).
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2023> Guiné 61/74 - P23977: "Una rivoluzione...fotogenica" (6): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte V: os "hospitais" do mato e o pessoal de saúde cubano

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24013: Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68) (Parte I)




Álbum fotográfico do Coronel Inf Luís Carlos Cadete, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 1591 (Fulacunda, Mejo, Aldeia Formosa e Buba, 1966/68), autor do livro "Noites de Mejo - Histórias Singulares da Guerra na Guiné", obra recenseada pelo nosso camarada Mário Beja Santos.[*]


Foto 1 > Mejo > Mulher Fula
Foto 2 > Fulacunca, 18AGO66 > A LDG Montante preparada para abicar no "Porto de Fulacunda" com a CCAÇ 1591 e respectiva carga regulamentar
Foto 3 > Descarga em Gadamael Porto, 20OUT66 > Os batelões estão em seco à entrada do aquartelamento
Foto 4 > Mussa Colubali,  Fula de Mejo com traje de cerimónia. Guia da Companhia, exímio caçador e de uma dedicação extrema (15JAN67)
Foto 5 > Mejo > Oração colectiva do final do Ramadão. À frente, o Chefe da Tabanca, Sori Sufa, Fula-Forro (1967)
Foto 6 > Uma bajuda de Mejo (1966)
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Notas do editor

[*] Vd. postes de:

26 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23917: Notas de leitura (1536): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (1) (Mário Beja Santos)

2 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23938: Notas de leitura (1539): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (2) (Mário Beja Santos)
e
9 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23965: Notas de leitura (1541): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23964: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VII: Tabanca e destacamento de Braia, na estrada Mansoa-Bissorã