sábado, 4 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4139: (Ex)citações (20): As vacinas da tropa ou as doses cavalares (António Matos)

1. Comentário deixado por António Matos (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, no poste 4075, no dia 25 de Março de 2009:

Caro Mexia Alves,
Depois de vir à janela da Tabanca ver como iam as modas, deparei com este teu texto sobre o dia de ida às sortes e deu-me ganas de escrever.

Não me irei debruçar sobre idêntica ocasião pois o meu caso foi vulgar de Lineu.
Entrei por um lado, saí pelo outro, e atribuíram-me a placa APROVADO, bem à semelhança das inspecções dos automóveis com mais de 4 anos.
Sorte a deles pois não era côxo ou cego o que provocaria um grande barrete uma vez que, julgo, nem para mim olharam.

Não sendo, portanto, motivo de história, falarei do dia da vacinação conhecida como de dose de cavalo pois dava para tudo e mais um prego.

Foi uma cerimónia com pompa e circunstância uma vez que mobilizou, não um Pelotão ou uma Companhia, mas sim um Regimento!
Estava em Mafra e o frio invernal (Outubro) provocava um bater de dentes parecido com um sapateado flamengo...
Íamo-nos aproximando da enfermaria em grupos de pelotão e uma vez lá, sentávamo-nos num banco corrido em grupos de 15.
De tronco nu, e de olhos esbugalhados com os exemplos das anteriores vítimas, preparámo-nos para a carnificina.

O cortejo abria com um enfermeiro transportando debaixo do braço e demasiado perto do sovaco, uma terrina cheia de agulhas.
Essa terrina servia, à hora das refeições, para transportar a sopa para as mesas.

Atrás vinha um 2.º enfermeiro que, com um maço de algodão a imitar uma esfregona, besuntava as omoplatas com tintura de iodo.

Depois aparecia a figura sinistra do espetador de agulhas!
À medida que se aproximava, iam-se esclarecendo as dúvidas de alguns sons que entretanto se ouviam.
Antes de enfiar o ferro, dava um chapadão nas costas do paciente e não raras eram as vezes em que o desgraçado voava literalmente estatelando-se no chão!

Aquilo eram verdadeiras bandarilhas e as semelhanças com uma tourada só não eram completas porque aquela malta não tinha idade para ser boi, além de que faltavam os olés!

Finalmente, eis que aparece um 4.º enfermeiro com a seringa!
Esta mais parecia uma para enseminar vacas e a distribuição das doses pareceu-me feita a olho o que provocava que o último do banco não levava a dose completa.

Retiradas as farpas, seguiu-se um fim de semana horroroso de dores e febres de 40's que nos prostou na cama com dispensa de qualquer actividade.

Nesse fim de semana houve um problema qualquer num quartel que pôs a malta de prevenção e lamentei a sorte deste país cuja segurança nos foi pedida !!!!
Hoje posso dizer que a dose era mesmo cavalar pois fiz todo o período militar sem constipações, enxaquecas, paludismos ou afim.

Um abraço
António Matos


2. Comentário de CV:

"Comentários que merecem ser Postes" vai ser uma série destinada aos comentários mais extensos e que contenham uma história interessante. O critério será o seguido com o exemplo de hoje. Nunca ninguém tinha aflorado este momento marcante da nossa vida de militares.

Lembro que qualquer tertuliano que queira publicar um comentário mais extenso, poderá enviá-lo directamente para nós que o publicaremos como poste autónomo.
__________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4138: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (20): Vultos na noite

1. Mensagem de Alberto Branquinho, ex-Alf Mil da CArt 1689, Guiné 1967/69, com data de 24 de Fevereiro de 2009:

Caros Editores

Agora que o Carnaval está quase passado e ninguém (?) teria levado a mal a sua publicação, venho dizer-vos que retiro o anterior texto que enviei para o UMBIGO 20 ("A QUESTÃO EM JOGO") como anexo ao mail de 10 de Fevereiro.
Em sua substituição vai, em anexo a este, o seu substituto e, por essa razão, terá o nº. 20 ("VULTOS na NOITE).

Três abraços
Alberto Branquinho


NÃO VENHO FALAR DE MIM… NEM DO MEU UMBIGO (20)

VULTOS NA NOITE


Era a segunda ou a terceira noite seguidas passadas na mata, retomando a caminhada ao amanhecer.

Instalaram-se, como habitualmente, dois a dois, deitados atrás das árvores de troncos mais grossos ou de uma ou outra baga-baga, Em quadrado não muito perfeito, cada lado feito com cada um dos quatro pelotões.

A lua estava em quarto crescente ou quarto minguante, do tamanho de uma unha, entrevista no meio da folhagem. A bicharada estava já queda e calada, o que era bom sinal.

Ao longe, muito ao longe, tinham-se ouvido sons de tiro a tiro, intercalados com rajadas curtas.

Passaram duas ou três horas. O pessoal começou a acomodar-se, aproveitando o macio dos tufos de ervas, a vegetação rasteira e os requebros do terreno. Não demorou muito tempo para se começar a ouvir ressonar a solo e, logo a seguir, em dueto, próximo e do lado direito do furriel Nero. O furriel fez uma bola de terra e arremessou-a na direcção dos executantes. Acordaram em espanto e susto, atordoados, fazendo “hum...hu…hu…” Soergueram-se e colocaram-se de ombros encostados à árvore.

O furriel, que se levantara, voltou para o seu lugar, junto do cabo enfermeiro. Pouco depois, estavam já os mesmos a ressonar – primeiro um (que, entretanto, parou) e, depois, ambos, executando, de novo, a peça em dueto, alternadamente. Estava a preparar a segunda bola de terra, quando detectou sobre a sua esquerda, mas um pouco mais longe, outro dueto ou, talvez, um grupo coral, emitindo idênticos sons guturais.

Deixou em paz os do lado direito e, agachado, dirigiu-se para o lado esquerdo da instalação. Acordou-os com pontapés nas pernas.

- Que merda é esta? – sussurrou. – Valia mais termos trazido o clarim.

Em pé e apurando o ouvido, do lado do outro pelotão, instalado sobre a esquerda, também havia outro coro. Voltou ao seu lugar, mas, antes, foi acordar, de novo, os primeiros executantes.

Deitou-se preocupado, olhando fixamente em frente, com a G-3 colocada paralelamente ao corpo, do lado direito.

Ciciou para o enfermeiro: - Estes gajos são inconscientes. Parece que estão na caserna.

- O nosso capitão, que está lá no meio, não ouvirá esta merda?
- Sei lá.
- Se calhar também está a dormir.
- Pode estar, mas um a dormir e outro alerta.
- Pois.
- Vê lá se queres dormir. Depois chamo-te.

O enfermeiro acomodou-se, usando a mala como almofada.

Tenso e preocupado com a “sinfonia”, o furriel Nero continuou olhando em frente, procurando detectar qualquer ruído ou movimento. Olhava de cabeça junto ao chão, oscilando-a contínua e suavemente para a esquerda e para a direita, aproveitando a pouca luminosidade do céu estrelado e da lua, já mais alta, por entre as árvores. Assim esteve por longo tempo.

Num repente teve um sobressalto. Pareceu-lhe entrever um vulto agachado. Depois dois ou três, que se movimentavam lentamente, com um leve restolhar. Começava a ter medo. A sua própria respiração ofegante não lhe permitia confirmar os ruídos. Já “via” uma avantesma negra, caminhando lenta e pesadamente para ele. Esfregou os olhos. Voltou a olhar e lá estavam os vultos agachados, a movimentarem-se lentamente, muito lentamente. Acordou o enfermeiro: - Eh pá, estou a ver ali uns gajos agachados e a mexerem-se. – segredou-lhe ao ouvido.

- Onde? Não estou a ver nada.
- Ali, caralho! – agarrou-lhe na cabeça e pôs-lhe um dedo indicador à frente do nariz.
- São dois… três… gajos. – gaguejou o enfermeiro.
- Ai porra! Se vêm para o corpo a corpo estamos fodidos, com estes gajos todos a dormir.

Retirou uma granada ofensiva do cinto, tirou a cavilha, soergueu-se e BBUUUUUM!!!

Imediatamente rebentou um fogachal doido. Logo a seguir saíram duas bazucadas quase ao mesmo tempo.

O furriel Nero apercebeu-se que não havia fogo inimigo e começou a andar em volta e berrando:

- Pára!!! Pára fogo!!!

Os tiros foram diminuindo gradualmente até cessarem. Ouvia-se o capitão a berrar no meio da instalação:

- Os nossos alferes!! Os nossos alferes venham aqui!

Então o furriel Nero disse para o enfermeiro:

- Agora vamos nós dormir…

Ao amanhecer, quando retomaram a marcha, viram dois porcos-de-mato mortos.

Alberto Branquinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3845: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (19): O aniversário do Cabo Tomé

Guiné 63/74 - P4137: PAIGC: Congresso de Cassacá, 13-17 Fev 1964: A 15 km, a sul de Cacine: o depoimento de Luís Cabral (Carlos Silva)

PAIGC > Documentos > "Amílcar Cabral e outros companheiros, a bordo de uma canoa, a caminho do I Congresso do PAIGC, Cassacá, 1964. Fotografia de Luís Cabral. [05359.000.020] · Documentos Amílcar Cabral (12/23)" (*).

Foto (e legenda): © Fundação Mário Soares > Dossiers >
Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Fotografias (com a devida vénia...)

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 - ilha de Canefaque; ¸ 2 – Cassabetche; 3 – Campeane. O ponto representa Cassacá; 4 – Cameconde; 5 - Cacine .

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 – Campeane; 2 – Campo, 3 – Cassacá no rectângulo; 4 - Cabonepo.

Infografia: Carlos Silva (2009).


1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim e Jumbembem, 1969/71), que esteve recentemente na Guiné-Bissau na qualidade de Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga:


Amigos
Luís, Briote e Carlos Vinhal

A propósito do Post 4122 (*), sobre a localização onde foi realizado o 1º Congresso do PAIGC, segue uma transcrição de excertos do Livro de Luís Cabral – Crónica da Libertação (LIsboa: O jornal, 1ª edição 1984(, da qual resulta de forma inequívoca onde foi efectivamente realizado o Congresso, que foi a sul de Cacine em em Cassacá.

Podem, assim, publicar o artigo, enquanto está a passar o mencionado Post 4122, para melhor esclarecimento dos nossos camaradas bloguistas e outros leitores do blogue.
Com um abraço

Carlos Silva



Assunto - Local e realização do “Congresso do PAIGC algures nas proximidades de Cassacá”

A propósito do Post 4122 (**), sobre a realização do 1º Congresso do PAIGC realizado nos dias 13 a 17 de Fevereiro de 1964 no Sul da Guiné e que erradamente vem indicado numa infografia, relativa à Operação Tridente (In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações. Lisboa Quidnovi. 2009. 17), como tendo sido realizado num local também chamado Cassacá, na Ilha do Como.

Para melhor elucidação dos camaradas bloguistas e outros leitores, na verdade, o 1º Congresso do PAIGC teve lugar numa mata próxima da tabanca de Cassacá, situada a 15 kms a Sul de Cacine, junto à estrada que segue de Cacine a Campeane, entre Cabonepo (a norte) e Campo (a sul).

Para confirmar que de facto assim foi, não há nada como ir à fonte verdadeira e não errada, para no futuro não suscitar dúvidas, caso o erro acima invocado não seja corrigido de forma inequívoca e, como refere o José Colaço, para os nossos vindouros historiadores ou não, que venham a ter algum interesse em estudar o tema que é designado por “Guerra Colonial”, não sejam confrontados com uma situação errada, pois estou convicto que não foi intenção dos autores, que conheço pessoalmente, fazer passar tal mensagem deliberada e conscientemente, na medida em que deve ter havido um mero lapso.

Deste modo, sobre a realização e local do citado congresso, Luís Cabral, testemunha e protagonista do mesmo, no seu livro Crónica da Libertação, refere:

Antecedentes ao Congresso – Visita de Luís Cabral à zona de Quitáfine e Tabanca de Cassacá.

“… A primeira área visitada por mim foi a zona de Quitáfine que fazia fronteira com a República da Guiné. Foi em fins de 1963….. pág 154

… Depois deste encontro com as populações iniciámos a marcha para a base central desta zona, em Cassacá, que ficava a cerca de 30 kms da fronteira. Foi a minha primeira grande marcha… pág 155

… Em Cassacá, esperava-me o comandante do sector, Manuel Saturnino. Com 19 anos de idade, era um dos mais jovens chefes da guerrilha…. Pág 155

A sede do posto administrativo colonial estava em Cacine, pequeno centro comercial e porto para barcos de cabotagem. Em Cacine fora instalado o primeiro quartel das forças coloniais que, pouco antes da minha visita, e com o desenvolvimento da luta, tinham feito um novo acampamento no pequeno porto de Gadamael, mais ao norte….pág 156

… A base, ligeiramente afastada da tabanca de Cassacá, estava bem protegida por grandes árvores que também lhe asseguravam a frescura e a tranquilidade das florestas guineenses.

Antes da nossa luta, a penetração do homem em muitas florestas era proibida: consideradas sagradas segundo a tradição, e nelas viviam, os irãs ou deuses da floresta… pág 156

… A figura predominante da vida militar na base de Cassacá, era dum antigo cabo do exército colonial, a quem os camaradas chamavam de “Antigamente”… pág 157

… A visita a Quitáfine foi muito proveitosa para mim….

… Foi com certa pena que deixei a base de Cassacá e tomei o caminho de regresso… pág 158

… As informações recolhidas em Quitáfine, enriquecidas pelos combatentes chegados das frentes, levaram o Amilcar à conclusão de que era necessária uma reunião geral dos quadros responsáveis do Partido, para se poder discutir e aprofundar esta grave questão, de maneira a tirar dela todas as lições para o futuro.

Os camaradas aceitaram imediatamente a minha proposta para que a reunião se realizasse numa área libertada da Guiné, para que o seu impacto fosse maior junto das nossas populações…. Pág 161



- Face às informações e proposta de Luís Cabral foi deliberado a realização e local do Congresso - Fevereiro de 1964 deslocação para o local do fórum:

“… Preparámo-nos para a partida. Desta vez a viagem realizou-se numa embarcação a motor que havia pertencido a uma empresa colonial de Bissau e que, depois de desviada por militantes do partido, passou a chamar-se “ Unidade”.

Saímos de Boké, de maneira a chegar ao sector de Quitáfine de noite e podermos, já com a maré alta, desembarcar na ilha de Canefaque…pág 162

Às primeiras horas da noite, chegámos a a Canefaque. O barco acostou mesmo ao lado da pequena base encarregada da vigilância da costa. O chefe da base informou-nos, logo após o desembarque, que os responsáveis do Partido só nos esperavam no dia seguinte. Em presença do Amilcar, que pela primeira vez chegava àquele sector, todos falavam em voz baixa e com ar conspirativo…

Avisámos o chefe da base que queríamos seguir para Cassacá desde que a escolta estivesse pronta. Pág 162

… Estava uma bela noite de Fevereiro. Caminhávamos sem pressas. Envolvia-nos um silêncio tranquilizante, cortado de tempos a tempos pelo grito de um animal de mato. O Amílcar, o Aristides e eu íamos completamente distraídos, procurando andar aos passos cadenciados dos combatentes que nos precediam….pág 163

O porto de embarque para Cassabetche, não estava muito longe da base e, em pouco tempo, chegámos e sentámo-nos para esperar a canoa…pág 163

… Pouco depois vieram avisar-nos de que a canoa encontrava-se na outra banda. Precisamente porque só nos esperavam no dia seguinte….pág 163

… O Amilcar não gostou deste contratempo, que vinha provar uma falta de coordenação nos preparativos dessa importante missão…pág 163…


“ … O Renascimento do PAIGC

Andávamos a passo acelerado, quando, pouco depois, passávamos ao longo da tabanca de Cassabetche, a caminho de Cassacá… pág 164

… O nosso grupo ia aumentando à mediada que nos aproximávamos de Cassacá.. pág 164…

A pequena tabanca de Cassacá, destroçada pela aviação e ressurgida nas gentes que a habitavam, estava em festa! Viam-se pessoas saindo dos cantos da floresta, enquanto outras passavam na estrada e se detinham para ver e saudar o Secretário-Geral do Partido. Caminhávamos em direcção ao local onde ia realizar-se a nossa reunião, deixando a estrada e continuando por um pequeno trilho perfeitamente escondido pelas árvores. Ao aproximar-nos da base, o silêncio era impressionante. Os sons variados saídos habitualmente dos pontos onde se encontravam os homens da guerrilha com elementos do povo, tinham-se apagado completamente como por encanto.

Chegámos à entrada da base….

Depois desta saudação colectiva, o Amilcar, seguido do Aristides e de mim avançou em direcção aos camaradas vindos das várias zonas do país. O abraço do PAIGC, de cada um dos lados do ombro, marcou o reencontro, naquele canto libertado da nossa terra, do Secretário-Geral do Partido, com os jovens a quem confiara a grande responsabilidade de estar à frente das nossas populações, na primeira fase da luta pela independência, Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Chico Mendes e Rui Djassi, eram os principais responsáveis de entre todos esses combatentes. À parte Nino Vieira, que ainda não chegara, Vitorino Costa era o ausente, o único dos quadros superiores da guerrilha que tinha tombado na primeira fase da mobilização e preparação para a luta armada….

Pág 165

… O Amílcar foi reconduzido com grande ovação nas suas funções de Secretário-Geral do Partido.

Encontrávamo-nos no fim do terceiro dia de trabalhos, a 15 de Fevereiro de 1964… pág 174

… Às 6H00 da manhã do dia dezasseis, o Amilcar deu por terminados os trabalhos desta ultima sessão…pág 180

… Convencemo-lo a dar por terminados os inquéritos e a realizarmos a sessão de encerramento do Congresso naquela manhã, para podermos deixar Cassacá. Com efeito, a nossa reunião prolongara-se muito mais do que o previsto. A menos de 15 quilómetros do quartel de Cacine, perto da fronteira, onde o inimigo tinha vários agentes, era imprudente continuarem ali reunidos os principais responsáveis do Partido… pág 185

… À partida, o povo de Cassacá, os combatentes e os elementos da população que os acompanharam, todos gritavam com força e entusiasmo renovado, vivas ao PAIGC e ao seu Secretário-Geral, vivas ao I Congresso do nosso grande Partido…pág 187

In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição, 1984.


Vd também: Aristides Pereira, Guiné-Bissau e Cabo Verde – Uma luta, um partido, dois países – Notícias Editorial pág 172 a 176

Do atrás transcrito, resulta claramente que o designado “Congresso de Cassacá” foi realizado nas matas próximas da tabanca de Cassacá a menos de 15 kms a sul de Cacine.


Massamá, 3 de Abril de 2009

Carlos Silva

PS - Para se aperceberem da localização, inserem-se acima dois recortes dos respectivos mapas
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3354: PAIGC - Docs (1): Comunicado de 27 de Abril de 1964 sobre a vitória na batalha do Como (Amílcar Cabral)

(**) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4122: PAIGC, 1º Congresso, 13-17 Fev 64: Onde fica(va) Cassacá ? Não na Ilha do Como, mas a sul de Cacine (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4136: As Unidades que passaram por Fajonquito (José Martins)

1. A propósito da tentativa de encontrar o Furriel Andrade e, a pedido do nosso editor Luís Graça, para que soubesse quais as Unidades que estiveram em Fajonquito, José Martins dizia-nos:

Caro Luis e Carlos

Pelas fichas só se identificam os comandantes. De posse da unidade é possivel, no Arquivo Histórico, consultar a listas dos elementos que compunham as unidades.
De qualquer das formas, junto relação das unidades que, no 7.º volume indicam como tendo estado em Fajonquito.

Um abraço
José Martins


AS COMPANHIAS DE FAJONQUITO

Companhia de Caçadores n.º 674, comandada pelo Capitão de Infantaria José Rosado Castelo Rio, unidade mobilizada em Évora no Regimento de Infantaria n.º 16, assumiu a responsabilidade do subsector, então criado, em 08 de Julho de 1964, vindo a ser substituída pela CCaç 1497 em 12 de Abril de 1966.

Companhia de Caçadores n.º 1497, comandada pelo Capitão de Infantaria Carlos Alberto Coelho de Sousa e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano de Artilharia Carlos Manuel Morais Sarmento Ferreira, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1876, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 674, em 12 de Abril de 1966, vindo a ser substituída pela CCaç 1501 em 26 de Janeiro de 1967.

Companhia de Caçadores n.º 1501, comandada pelo Capitão de Infantaria Rui Antunes Tomaz, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1877, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 1685 em 19 de Setembro de 1967.

Companhia de Caçadores n.º 1685, comandada pelo Capitão de Infantaria Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1912, mobilizada em Évora no Regimento de Infantaria n.º 16, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.

Companhia de Caçadores n.º 2435, comandada pelo Capitão de Infantaria José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Capitão de Infantaria Raul Afonso Reis, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1685, em 07 de Dezembro de 1968, vindo a ser substituída pela CCaç 2436 em 20 de Abril de 1970.

Companhia de Caçadores n.º 2436, comandada pelo Capitão de Infantaria José Rui Borges da Costa, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2435, em 20 de Abril de 1970, vindo a ser substituída pela CArt 2742 em 13 de Agosto de 1970.

Companhia de Artilharia n.º 2742, comandada pelo Capitão de Artilharia Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo Alferes Miliciano de Artilharia Baltazar Gomes da Silva, unidade orgânica do Batalhão de Artilharia n.º 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.


Companhia de Caçadores n.º 3549, comandada pelo Capitão Quadro especial de Oficiais José Eduardo Marques Patrocínio e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Manuel Mendes São Pedro, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3884, mobilizada em Chaves no Batalhão de Caçadores n.º 10, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CArt 2742, em 27 de Maio de 1972, vindo a ser substituída pela 2.ª Companhia do BCaç 4514/72 em 15 de Junho de 1974.


2.ª Companhia do BCaç 4514/72, comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Ramiro Filipe Raposo Pedreiro Martins, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 4514/72, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 3549, em 15 de Junho de 1974, vindo a iniciar o deslocamento para Bissau a partir de 30 de Agoosto de 1974, tendo um pelotão efectuado a desactivação e entrega, ao PAIGC, do aquartelamento em 01 de Setembro de 1974.

José Martins
31 de Março de 2009

Comentário de CV

Aqui ficam as Unidades que passaram por Fajonquito, a quem possa interessar. Era engraçado termos os crachás de todas estas Companhias para ilustramos este poste. Se alguém quiser e puder colaborar, pode enviar os que tiver, que a todo o tempo os vamos colocando junto à respectiva resenha.

Guiné 63/74 - P4135: Em busca de... (70): Fur Mil Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971/73 (Afonso Sousa)

Em busca de... Furriel Andrade, Fajonquito 1971/73

1. Tudo começou assim:

i. Mensagem de Maria Filomena Silva Correia, uma nossa amiga guineense, de Bissau, que se dirigiu a Luís Graça no dia 30 de Março de 2009:

Boa tarde

Querido amigo

Eu sou Maria Filomena Silva Correia (Tchentcha), filha de falecida Cristina Silva Correia em Fajonquito, tenho irmãs de nome Maria Luísa (Vitorina), Cesina e um irmão mais novo chamado Carlitos.

Hoje, quando vi seu site na internet achei por bem que o senhor me poderia ajudar a encontrar um meu amigo de quando eu era criança, Senhor cujo nome nunca conheci, porque ele era chamado furriel Andrade. Ele era do mesmo batalhão que o furriel Cabrita Martins se não me engano.

O senhor não pode imaginar quanta vezes procurei por esse senhor em Portugal.


ii. Hoje mesmo foi enviada uma mensagem à tertúlia no sentido de encontrar alguém que eventualmente tenha um pista para dar a esta nossa amiga.

Se entre os nossos leitores houver alguém que possa ajudar a encontrar o camarada Andrade ou o camarada Cabrita Martins, por favor façam-nos chegar essa informação ou contactem a Maria Filomena para o endereço filocorreia@yahoo.com.br

O nosso obrigado desde já.
CV


2. Desenvolvimento

i. Mensagem de Afonso Sousa para Maurício Nunes Vieira:

Caro Maurício Nunes Vieira:

Poderá informar-me (caso saiba) qual era a Companhia que estava em Fajonquito, entre 1971 e 1973 ?

Por acaso conhecia (dessa companhia) o ex-Furriel Miliciano de nome Andrade ?

Com os meus cumprimentos
A. Sousa


ii. Mensagem resposta de Maurício Nunes Vieira para Afonso Sousa

Em Fajonquito entre 1971 e 1973 estava a CCaç 3549, do Batalhão 3884, eu pertenci à CCS em Bafatá. Quanto ao ex-furriel Andrade não me lembro já, aliás conhecia bem todos os camaradas da minha Companhia, os outros por não haver tanto contacto era difícil.

Lamento não poder ser mais útil, tente no blog do Luís Graça que decerto haverá quem conheça, sei que todos os anos fazem convívio, conheço e dou-me bem com o capitão dessa Companhia, mora aqui em Sintra perto de mim, é o capitão Sampedro, grato por conhecê-lo, sempre ao dispôr,

um abraço

Nota: Junto lhe envio o emblema da companhia de Fajonquito

3. No dia 2 de Abril chega ao Blogue esta mensagem de Afonso Sousa:

Caro Carlos:

Já consegui localizar o furriel Andrade (e inclusivé já falei com ele).

É caso para dizer: fazemos (o Blog) melhor investigação que os magistrados do processo Freeport !

Ora vamos aos dados:

Fajonquito:

CART 2742 (1970/72) ----> Rendida pela CCAÇ 3549 (1972/74)

- Furriel Constantino Dias Andrade (Fornos - Santa Maria da Feira) - CCAÇ 3549 (contactos omitidos pelo editor)

Carlos,
comunica a essa amiga de Bissau.

Um abraço
Afonso Sousa

Agradecimentos (ex-militares que serviram de pistas para chegar à localização do Andrade):

Aníbal Manuel Oliveira Farraia - Estarreja - CCAÇ 3549
José Cortes - Coimbra - CCAÇ 3549
José Manuel Valente - Santarém - CART 2741 - Furriel Enf
Capitão Manuel Mendes Sampedro - Comandante da CCAÇ 3549
Agostinho Costa - CART 2742
Joaquim Conceição - CART 2742
Furriel Ribeiro - CART 2742 - Albergaria-a-Velha
Furriel (Fernando Francisco) Cabrita Martins - Vaguemestre - BART 2920 - CANEÇAS

(Contactos omitidos pelo editor)


4. Envio das informações recolhidas à peticionária

i. Informação enviada à nossa amiga Maria Filomena, ontem dia 2 de Abril de 2009:

Cara amiga Filomena Correia

Como pode ver, consultando a mensagem abaixo, o meu camarada Afonso Sousa, encontrou o seu velho amigo Andrade, tendo já falado com ele.

Uma vez que tem o contacto do Andrade, faça o favor de o contactar. Por outro lado, gostaríamos de saber, mais tarde, como foi esse reencontro.

Continuamos ao dispôr para o que precisar.

Aceite as nossas saudações
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
e
Afonso Sousa
Tertuliano e colaborador do mesmo Blogue


ii. Mensagem de Filomena Correia, recebida hoje mesmo no Blogue:

Bom meu querido Carlos

Agradeço o vosso esforço em encontrar o meu amigo furriel Andrade, ja tentei ligar para ele mas ainda sem successo, logo que conseguir conversar com ele vou informar para vocês como foi o encontro.

Muito obrigada
Filomena (Tchentcha)


5. Comentário de CV:

Mais uma vez resolvemos um caso de busca de pessoas. Se para a maioria das pessoas, este nosso gesto pouco poderá significar, para as pessoas que se nos dirigem é uma hipótese de encontar alguém que lhes lembra até a meninice, como este caso particular.

Não posso deixar de realçar e agradecer a prestimosa colaboração de alguns camaradas sempre atentos, porque mais sensíveis, digo eu, a estes pedidos.

Desta vez o trabalho para encontrar o camarada Andrade deve-se ao nosso companheiro Afonso Sousa a quem agradecemos particularmente.

Ainda a propósito deste assunto, o nosso camarada José Martins desenvolveu um trabalho com as Unidades que passaram por Fajonquito, que publicaremos em poste autónomo.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4111: Em busca de... (68): Furs Mils Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971 e 1973 (Maria Filomena Correia)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4131: Em busca de... (69): Estêvão, ou Coconut, que era ainda menino, em Prábis, no ano de 1973 (J. Casimiro Carvalho)

Guiné 63/74 - P4134: O trauma da notícia da mobilização (8): Amado, volta já para o Quartel (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, com data de 1 de Abril de 2009:

Caros Carlos, Luis, Briote e restante Tabanca Grande.

Os traumas da nossa mobilização começaram muito antes de nós o sermos na realidade.
Os que foram mobilizados na mesma altura que eu, talvez não tenham sofrido o choque tão violento, pois tivemos anos para nos preparar para o facto. Ao contrários os mais velhos foram atingidos pelo desconhecido, pelas notícias de violência em terras tão longiquas e por vezes ampliadas pela distância.

De qualquer forma deixou marcas em todos os nós.

Um abraço para todos
Juvenal Amado
31.03.009


Amado, volta já para o Quartel

Desde o início da guerra ouvi falar de vários dramas despoletados pela mobilização para a guerra colonial.

Falou-se até em suicídios. Ou se for mobilizado mato-me.

O trauma da guerra na sociedade portuguesa, onde parece que nada acontecia, foi um choque violento.

Ainda garoto ainda intoxicado, com a visão do poderio Português no Mundo, onde éramos os mais fortes e mais valentes, pensava que a coisa ia ser despachada em três tempos.

Os valores da raça injectados na Escola Primária e na Mocidade Portuguesa, que nos faziam inchar de tanto orgulho em ser nascidos, neste jardim à beira mar plantado.

Enfim idealismos, que o tempo esfriou de forma bem rude.

A realidade era a extrema pobreza, analfabetismo, emigração a salto, e para quem por cá ficava, a repressão e a falta de direitos políticos, eram o pão nosso de cada dia.

Mas o meu irmão, acabou por ser mobilizado para Moçambique e a guerra entrou na minha casa.

Mais tarde quando eu fazia os impossíveis por chegar a Sta. Margarida, onde deveria ter chegado às oito horas vindo de um fim de semana e só cheguei ao meio dia, a guerra também me apanhou a mim.

O frio era terrível naquele Novembro de 1971. Eu conduzia o Comandante de um Batalhão que ia para Angola. A viatura deixava entrar o vento gélido. Nas pistas de combate o Batalhão chafurdava na lama entre explosões de petardos e rajadas de metralhadora obrigando os soldados a rastejarem por baixo de arame farpado. Só de pensar na lama gelada me dava arrepios. Só dei pela presença do meu camarada condutor, que comigo cumpria a diligência no CIME, embora pertencêssemos ao RI2 de Abrantes, já ele estava ao pé de mim.

Na verdade todos estávamos conscientes, que poucas hipóteses tínhamos de escapar, mas no fundo alimentávamos uma pequena esperança de pertencermos a uma minoria, que era bafejada pela sorte.

Quando o vi, vinha ele na minha direcção com um ar pesaroso, de quem já estava a olhar para um já meio morto.

Foi quase como quem pede desculpa por não ter sido ele . Amado volta já para o quartel, pois veio uma guia de marcha a dizer que foste mobilizado.

Regressei a Abrantes no mesmo dia. Estou alucinado. Parece que sou actor e espectador de um filme rasca. Os sargentos que regressam a Abrantes, fazem má cara por verem um praça partilhar o seu transporte com eles. Querem lá saber se fui ou não mobilizado, o meu lugar era na carroçaria de um qualquer transporte militar, nunca no seu autocarro.

Na secretaria recebo a notícia para onde ia. Então cheio de sorte hem. Gozava o sargento que tinha o documento na mão. Para a Guiné.

Apresento-me na Companhia e o Capitão pergunta-me com maus modos, onde raio tinha eu estado metido que à oito dias andavam à minha procura?

Não fui preso como desertor por mero acaso.

Vamos gozar férias, só penso como é que eu vou dizer em casa, que vou para a Guiné?

Quando virem os sacos, metade do trabalho estará feito. Depois só falta dizer para onde.

Juvenal Amado
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da séri de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4125: O trauma da notícia da mobilização (7): Não se pode mudar o destino (Pedro Neves)

Guiné 63/74 - P4133: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (9): Os livros não mudam o Mundo,... O Homem muda o mundo (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins, ex-Fur Mil, Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 31 de Março de 2009:

Boa tarde Camaradas e amigos

Não preciso de me apresentar, já que todos me reconhecem, pelo menos tacitamente, como um elemento do bando.
Não vi o programa em questão e, somente pelos comentários, me fui apercebendo do conteúdo da peça.

OS LIVROS NÃO MUDAM O MUNDO; OS LIVROS MUDAM O HOMEM; O HOMEM MUDA O MUNDO!

Ainda bem que dou crédito a esta frase, lida já não me recordo onde, mas vem dar razão ao que faço: leio, leio muito e sobretudo aquilo que me interessa, enquanto a televisão debita, para quem a ouve e dela faz culto, muitas coisas que, muitas vezes, é preferível não ouvir.

Se estou indignado, não tendo sido espectador directo, que seria se tivesse ouvido tais esclarecimentos?

Mas atentemos nisto.

No passado, durante uma guerra ou combate, houve uma unidade militar a quem a sorte das armas (?) não correu de feição.

De imediato as reprovações chegaram, talvez não lhes tivessem chamado bando, mas disseram vozes que todos, mas todos, deveriam ser enforcados pela vergonha e humilhação que tinham feito o comandante passar.

Como prova da sua indignação, como aquela que agora sentimos, passaram a usar, suspensa à volta do braço, uma corda com pregos, desafiando, quem quisesse, a utilizar aqueles acessórios, para executar a sentença a que tinham sido votados: enforcamento.

Sobre o tal bando de aramistas não houve quem tivesse coragem de ousar algum procedimento, até que na batalha seguinte, estando estes a constituir a retaguarda, não fossem repetir o fracasso, tiveram de avançar para salvar a honra dos que os haviam insultado com a questão da forca.

O prémio recebido foi a transformação da corda com os pregos num cordão com agulhetas de prata, que assim se transformou no distintivo de condecoração colectiva, pela demonstração de coragem, abnegação e, sobretudo, camaradagem e entreajuda.

Nós, os que constituímos o suporte do poder político, que não soube ou não teve coragem, para negociar à mesa aquilo que no terreno estava perdido; nós, os que constituímos o suporte de comando de tantos, a quem chamávamos chefes, para que continuassem a usar privilégios e a receber galardões; nós, aqueles que, depois de despirem a farda, vestiram o fato de trabalho e arregaçaram as mangas para tentar erguer este país, que outros vêm destruindo...

Nós, aqueles que não usamos cordões com agulhetas de prata, temos a consciência tranquila, temos a noção do dever cumprido, sabemos que o trabalho não está todo feito, mas cumprimos a nossa parte...

Nós, que combatemos por uma terra que se hoje não é nossa, mas que consideramos como segunda Pátria, e que merecemos o respeito e a amizade daquele povo, que ainda continua a sofrer...

Nós, que escutamos palavras que não merecíamos, e que ninguém tem o direito de as pronunciar...

Nós, a quem chamam ex ou antigos, continuamos a ser combatentes, ou será que a nossa revolta não é o regresso ao combate de antanho?

José Martins
Março 31, 2009
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4128: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (8): Uma opinião de um leitor atento do nosso Blogue (João Miguel Almeida)

Guiné 63/74 - P4132: Efemérides (19): O ataque a Mansoa, no dia das mentiras, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)

1. Mensagem do Germano Santos, com data de 1 de Abril. O Germano foi 1º Cabo Operador Cripto, CCaç 3305/ BCaç 3832, Mansoa, 1971/73 (*).

Boa tarde a todos,

No "nosso tempo" o dia 1 de Abril era o dia das mentiras, não sei se ainda hoje assim continua, mas também, e para o caso, pouco importa.

Venho só lembrar o pessoal do Batalhão de Caçadores 3832 que faz hoje exactamente 38 anos que sofremos o nosso primeiro ataque.

Não terá sido todo o Batalhão, mas o pessoal em Mansoa sofreu neste dia o seu baptismo de fogo e que fogo, camaradas!

Eu, por exemplo, estive a vê-lo, durante largos minutos, metido num buraco (uma vala) em frente ao posto dos correios em Mansoa, na rua principal.

Dentro da vala, cheio de m..., de barriga para cima a apreciar os very-lights e a ouvir os sons das morteiradas e das costureirinhas.

Um espectáculo, gratuito e, felizmente, sem consequências para o pessoal.

Recordar ainda é viver.

Um abraço para todos.
Germano Santos
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4131: Em busca de... (69): Estêvão, ou Coconut, que era ainda menino, em Prábis, no ano de 1973 (J. Casimiro Carvalho)

Prábis > José Casimiro Carvalho e o seu companheiro Estêvão, aliás Coconut


1. Mensagem de José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 (1972/74), com data de 30 de Março de 2009:

Está tão em voga localizar pessoas através do Blogue que vou tentar...

Quando saí do inferno de Gadamael, onde estávamos "em bandos à espera de sermos atacados", sendo a nossa defesa todos os Oficiais do Quadro que não arredaram pé, até se ofereciam para Gadamael para nos defenderem, fui para Prábis onde havia um miúdo de nome Estêvão a quem carinhosamente eu chamava COCONUT, ao que ele ripostava:
- Mim não é Coconut, mim é Estêvão.

Ele fazia a minha cama e privava comigo, o que eu não daria para contactá-lo.

Será possível?
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4111: Em busca de... (68): Furs Mils Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971 e 1973 (Maria Filomena Correia)

Guiné 63/74 - P4130: Ser solidário (34): O contentor da Ajuda Amiga (Carlos Silva)

1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2584/BCAÇ 2879, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 31 de Março de 2009:

Amigos

A propósito do Post 4116 do Zé Teixeira (*), espero que não se esqueçam dos artigos que vos enviei há dias, que reenvio de novo
Com um abraço
Carlos Silva


Guiné-Bissau
Bissau, 17-03-2009

Ser Solidário


No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições, apesar de a Guiné atravessar um período menos bom, como é do conhecimento público, nós estivemos lá com alegria [esquecendo o sacrifício de estar sob um calor tórrido] para acompanhar o descarregamento do contentor e respectiva distribuição dos bens.

Além deste contentor seguiram também à boleia no contentor da Associação Memórias e Gentes de Coimbra 102 caixas e mais 2000 T-Shirts da TNT Express.

Bem haja e obrigado pela boleia ao camarada d´armas Zé Moreira, ao Gustavo e Fernando.

Bissorã, foi a localidade grande beneficiária destes donativos e em menor escala foram contempladas as seguintes entidades:

Missão Católica de Farim
Irmãs de Antula
Irmãs de Bissorã
Associação Orfanato “Casa Emanuel”
Jardim Infância de Varela
ONGD AD – Acção para o Desenvolvimento
ONGD RA – Rede Ajuda

Aqui deixo publicamente os nossos agradecimentos à nossa Embaixada e IPAD que nos apoiaram no tramitação do desalfandegamento e nos cederam as instalações para o descarregamento do contentor, bem como, um agradecimento ao Dr. Guilherme Zeverino e ao Sr Victor, em serviço na Representação Diplomática que também nos apoiaram.

Seguem algumas fotos do contentor, descarregamento e distribuição dos donativos

O tão desejado contentor rumando para as instalações do Bairro da Cooperação

Início do descarregamento do contentor

Azáfama do descarregamento do contentor com pessoal de Bissorã e Bissau

Carlos Silva e Senhor Vitor

Irmãs de Antula e da Cáritas

Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã

Carregamento dos donativos para o camião de Bissorã

Já pouco resta

Partida do camião para Bissorã

Carlos Silva ladeado dos seus ajudantes de Bissau, esqª Quintino e dta. Serifo junto de alguns restantes donativos

Fotos: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados


Massamá, 27-03-2009
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4116: Ser solidário (31): Vamos continuar com a campanha de sementes para a Guiné-Bissau (Zé Teixeira)

Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4123: Ser solidário (33): Ajudem na construção da Escola de Samba Culo (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)

1. Mais uma estória cabraliana (desculpem os puristas da língua, mas o autor faz questão...). Só faltam três para as 50... O Jorge prometeu não se passar dos carretos sem chegar à meia centena (*)...

Não cometo uma inconfidência - imprescindível para se compreender o título e a moral da história - ao dizer que o Cabral é um homem de linhagem ilustre... e que o progenitor , ao que sei, era militar... de carreira. E a verdade é que, quem sai aos seus, não degenera...

Posso garantir que nunca o vi, nas terras de Badora e do Cuor, cantar de galo... Mas que sempre prezou a sua linhagem, isso é indesmentível e eu sou testemunha: costumava garantir, a quem o queria ouvir, que "na Guiné, Cabral só havia um, o de Missirá e mais nenhum"...


Fanfarronice ou não, a coisa deve ter chegado aos ouvidos do Corca Só, o chefe da 'barraca' de Madina / Belel, que nunca mais voltou a meter-se com Missirá...(LG)


Estórias cabralianas > A Minha Mobilização. Trauma?

por Jorge Cabral


Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.

Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama.

Por volta do meio dia, vestia-se com a farda de passeio e comparecia ao obrigatório almoço. Finalizado este, já elas o esperavam no Café. Conversa, Poesia, Estórias e um pouco de loucura animavam as tardes, até ao toque de ordem. Regressado ao Quartel, desfardava-se e com os amigos, partia com destino às jantaradas, Montemor-o-Novo, Évora, Setúbal...

De volta ainda havia lugar para a lerpa, onde alinhavam também alguns jovens tenentes. Perdia sempre (era o galo dos Cabrais, segundo se dizia...).

Pois foi numa dessas noites. Eram três da manhã. A sala fumarenta, as garrafas vazias. Eis que chega o Capitão, Oficial de Dia, com um papel na mão. Vem divertido, e dirige-se ao Cabral:
– Calcule que em Leiria no RAL 4 (** já pensavam que tinha desertado (O Aspirante pertencia aquela unidade onde nunca fora, pois se encontrava em diligência na EPA) (**).
- ...
-Olhe, foi mobilizado em rendição individual para a Guiné.

Continuaram a jogatana. Beberam mais um copo e o Aspirante ainda brincou:
- Porra que não é só no jogo, o galo dos Cabrais!.

No outro dia já elas sabiam. Foi apaparicado e mimado. Tanto que acabou na cama com uma e na noite seguinte com outra e ainda havia uma terceira mas teve de entrar de licença.

Trauma da Mobilização?

Tem pensado nisso. Já tentou várias vezes “ser de novo mobilizado” para informar umas damas. E nada...

Jorge Cabral

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)

(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].

Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)

(**) Abreviaturas

RAL = Regimento de Artilharia Ligeira

EPA = Escola Prática de Artilharia

Guiné 63/74 - P4128: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (8): Uma opinião de um leitor atento do nosso Blogue (João Miguel Almeida)

1. Mensagem de João Miguel Almeida, um nosso atento leitor, com data de 2 de Abril de 2009:

Exmo. Sr. Luís Graça,

No que respeita ao assunto Sr. General Almeida Bruno penso que os bloguistas se estão, talvez, a precipitar um pouco. Já dei voltas e voltas na internet, tentando encontrar o vídeo, mas o mesmo ainda não se encontra disponível on-line. E penso que tão cedo não estará.

Efectivamente as palavras da polémica foram ditas, mas se forem analizadas no contexto em que foram proferidas, o Sr. General está do lado dos operacionais, de alferes para baixo, e critica alguma da chefia, de Capitão para cima.

Tenho quase a certeza de que foi isto, mais ou menos, que vi e ouvi:

... devido a alguma chefia inútil, que conseguiu transformar as tropas em bandos aquartelados dentro do arame farpado ...

... e com a chegada do Sr. General Spinola toda essa chefia inútil foi recambiada para a metropole ...

... alguma dessa chefia inútil, logo na chegada do Sr. General Spinola, no dia seguinte já estavam na metropole ...


Tenho quase a certeza que foi isto que foi dito. Atenção que posso estar enganado, mas penso que não. Deus queira que esteja certo para o bem de todos. Apesar de ser muito novo, 41 anos, também tinha e ainda tenho, por enquanto, o Sr. General em muito boa conta.

Para finalizar, note Sr. Luis Graça, que o Sr. Virgínio Briote, aquando do início desta polémica, publicou muito oportunamente um poste (P4102), acerca de uma operação efectuada pelo Sr. General, na altura Major, com o Sr. Amadu Djaló. Eu penso que o Sr. Virgínio quis demonstrar que o Sr. Almeida Bruno não era de se ficar pelo ar condicionado. E ao publicar o poste, na altura em que o publicou, também deveria ter as mesmas dúvidas que eu. Tentou amenizar a coisa.


Nota:
Uma mentira dita repetidamente torna-se em verdade e depois já é tarde... não tem reparo. Vamos esperar que o vídeo fique on-line.

A RTP, tem disponível on-line alguns vídeos anteriores, este ainda não tem. Poderiam talvez fazer um apelo aos bloguistas, e alguém com conhecimentos na RTP conseguisse o vídeo.

Atentamente,
João Miguel Almeida


2. Comentário de CV:

Caros camaradas, aqui está uma opinião sensata e desapaixonada de quem viu o programa e se foi apercebendo da nossa reacção.

Temos publicado tudo o que nos chega dos camaradas tertulianos que se sentiram ofendidos com as palavras do Gen Almeida Bruno, porque é essa a nossa obrigação. Não fazemos qualquer tipo de censura, poderíamos antes pedir algum cometimento se entrássemos na ofensa grosseira. Mas atrevo-me a perguntar, quantos dos camaradas que emitiram as suas opiniões e desabafos ouviram directamente o Gen Almeida Bruno? Confesso que não ouvi, porque estava a gravar o programa, aproveitando a ocasião para trabalhar para o Blogue. E se alguém se propusesse a ouvir de novo e com calma as polémicas frases, tirando as respectivas ilações, apresentando-as depois?

Confesso que tenho as gravações guardadas de forma desordenada em vários DVDs e só depois de editar todo os episódios e localizar as imagens, é que teria hipótese de ouvir melhor as palavras do Gen Almeida Bruno. Este mês não antevejo tempo para isso, porque como sabem vou ficar mais desamcopanhado na edição do nosso Blogue.

À vossa consideração
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P4127: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (1): 4 anos, um milhão de páginas visitadas... (Luís Graça / Carlos Vinhal)


Lisboa > 22 de Março de 2009 > Cais de Alcântara, visto da Ponte 25 de Abril... > Foi durante a guerra colonial, o nosso cais de partida ...

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1. Texto do editor L.G.:

Como já transmiti pelo correio interno da Tabanca Grande, vou triar umas férias sabáticas do nosso blogue, como editor principal, justamente no mês em que (i) fazemos 4 anos; e (ii) vamos atingir o milhão de páginas visitadas...

O Carlos Vinhal, co-editor, desde há 2 anos, aceitou, com estoicismo, galhardia, valentia, patriotismo, sangue frio, determinação, companheirismo e sentido do dever a tarefa de me substituir como editor-mor... Ou não fosse ele um homem das Minas & Armadilhas... e do Norte!!! Estarei por perto, mas menos envolvido.

O Virgínio Briote, por sua vez, está com outra tarefa em mãos, a edição das memórias do nosso camarada guineense que foi dos Velhos Comandos (Brá, 1965/66)e depois dos Comandos Africanos (1970/72) e da CCAÇ 21 (1973/74), o Amadu Djaló, um homem que atravessou, quase incólume, toda a guerra, de 1963 a 1974, e conheceu também o antes (1958/62) e o depois (1975/80)... Português da Guiné, é português de 2ª em Portugal... Temos a obrigação de lhe prestar homenagem e chamar a atenção par o seu caso, doloroso, que é também o de muitos outros antigos combatentes guineenses que estiveram ao nosso lado, escolheram estar ao nosso lado, sofreram ao nosso lado, transportaram às costas os nossos mortos e feridos, guardaram as nossas costas, deram o melhor da sua juventude... e a quem fomos ingratos.

Tudo para explicar que o nosso VB está menos disponível para as tarefas bloguísticas. Razão também por que ando, desde há tempos, à procura de um quarto editor. O blogue cresceu muito, a Tabanca é já um batalhão...

Como já dizemos, entre nós, na brincadeira, e sem qualquer ponta de vaidade, o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande... Há solicitações de todo o lado, para as quais já não temos capacidade de resposta: escolas, turistas, cooperantes, investigadores, iniciativas da sociedade civil, pedidos de informação e apoio(e cada vez mais da Guiné-Bissau!)...

Ainda há dias fui contactado - em português ! - por um por tenente coronel piloto aviador da Força Aérea Norte-Americana (USAF) que queria o contacto do nosso Coronel 'strelado' Miguel Pessoa, por que está fazer um trabalho de investigação, académico - imaginem! - sobre a história da guerra dos céus na 'nossa' Guiné (1963/74) (*)...

Por outro lado, acaba de ser aprovado o relatório de actividades de 2008, da AD- Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense que elegemos como parceiro privilegiado para acções de solidariedade, cooperação e salvaguarda da memória da guerra, e que faz na Guiné, em vários pontos do território, o trabalho, dedicado, competente, entusiástico, em prol do desenvolvimento sustentado e integrado das populações que infelizmente a administração pública guineense ainda não faz ou ainda não pode fazer (Lá chegaremos, que a gente acredita no futuro da Guiné-Bissau!)...

Pois, pela terceira vez consecutiva, os nossos amigoss da AD fazem-nos um voto de louvor, ao nosso blogue, que eu agradeço em nome de todos nós. (Haveremos de falar com mais detalhe desse relatório, que já disponível em linha, em pdf, no sítio da AD).

Para o 4º co-editor, estou a fazer sondagens mas também aceito sugestões... Por outro lado, vou pedir ao Carlos Vinhal que pense no nosso IV Encontro Nacional da Nosssa Tabanca Grande... A malta, sondada, inclinou-se para Junho ou Outubro... E é importantre receber sugestões sobre o local: Região Centro, equidistante do Norte e do Sul ? Novamente em Monte Real, como no ano passado ? Vamos ter que discutir isto e arranjar uma pequena equipa organizadora... Voluntários, precisam-se.

Temos novos camaradas para conhecer: somos já 315 ou coisa parecida... Temos algumas decisões importantes para tomar, em relação ao futuro, e que passam por um maior grau de formalização e estruturação da nossa Tabanca Grande... Termos que nos proteger (por exemplo,em termos de propriedade intelectual...). Temos que arranjar dinheiro. Temos que mudar de instalações. Temos livros e outras iniciativas para lançar... Queremos ser mais solidários, etc., etc. E sobretudo queremos estar juntos, de vez em quando, beber um copo, conhecermo-nos melhor, pessoalmente, etc.

Contamos com a vossa amizade, compreensão e camaradagem.

Assinado: Luís Graça (mas seguramente com o apoio tácito, dos meus camaradas de equipa, Carlos Vinhal e Virgínio Briote)

2. Do nosso camarada Vasco da Gama, um Tigre de Cumbijã, que participou na Conferência Internacional sobre a Poesia da Guerra Colonial, em Coimbra, no passado dia 30 de Março, juntamente com o nosso poeta Josema, o Zé Manel Lopes, da Régua (e de Mampatá):

(...) Vocês não imaginam...O Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné é do conhecimento de quase todos os professores presentes no colóquio a que assisti com o meu querido Josema na Universidade de Coimbra.

Estava também uma doutoranda do Porto que está a fazer uma tese sobre a situação dos militares oriundos da Guiné que combateram ao nosso lado e que diz ser visita diária da nossa Tabanca. Quando me sentir melhor escreverei sobre a reunião. (...)


Cuida da tua saúde, Vasco!... Por mor dela, estás dispensado da viagem e do almoço em Matosinhos, no Milho Rei, 4ª feira, dia 8! Eu, estarei, em princípio, para dar um abraço à malta da Tabanca de Matosinhos. L.G.


3. Do nosso camarado Beja Santos, recebemos a seguinte missiva:

Luis, Querido Amigo, Sei o que é isso de mergulhar num tsunami de silêncio sepulcral. Eu cá estou na minha gostosa prisão literária, ando a escrever sobre o consumo sustentável e a «Mindjer Garandi», mesmo sujeita aos tropeções da vida profissional, prossegue, e vou enviar-te o que já está escrito. Como se fala da Guiné dos anos 50 e 60, se lá encontrares prosa sugestiva que queiras publicar em 1ª mão no blogue, escolhe umas páginas.

Partilho das tuas preocupações quanto ao futuro e sustentabilidade do blogue, mas para isso tens de criar condições para um debate interno sem inibições. Um grande abraço e votos de bom trabalho, Mário



4. Por sua vez, o editor principal em funções este mês acaba de mandar um pedido à Tabanca Grande, juntamente com a lista, actualizada, de nomes, endereços e contactos:

Caros Camaradas Tertulianos

Estamos a proceder à actualização dos dados pessoais dos atabancados. Quem ainda não nos disse qual era o seu antigo posto militar, Especialidade, a sua Unidade, locais por onde andou, e muito mais grave, quem ainda não nos enviou as fotos da praxe, fica intimado desde já a fazê-lo o mais breve possível.

Facultativamente poderão dizer-nos a localidade onde moram e o número de telefone de contacto, que poderá ou não de acordo com o indicado, fazer parte da lista fornecida à tertúlia.

Já agora digam-nos a vossa data de nascimento, isto é verdade também para os que já cá têm os seus dados militares e repectivas fotos.

Quando alterarem o vosso endereço de email ou se preferirem que utilizemos outro para vosso contacto, avisem-nos, indicando os alternativos.

Há camaradas cujos endereços rejeitam as mensagens. Desconhecemos os motivos, mas não será por se terem zangado connosco.

Ajudem-nos a servi-los melhor.

Fico a aguardar as vossas respostas.

Como entraram alguns camaradas recentemente para a tabanca, envio-vos nova listagem com a indicação das alterações. Podem completá-la/corrigi-la e devolvê-la à procedência.

Obrigado pela vossa colaboração.

Vosso camarada ao dispor

Carlos Vinhal


__________


Nota dos editores:

(*) Reprodução do mail (que foi reencaminhado para o Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref:


Exmo. Senhor Luís Graça, Chamo-me Matthew Hurley e sou Ten Cor na USAF. Estou neste momento a fazer uma dissertação em história sobre a guerra aérea na Guiné no período de 1963-1974.

Sobre um post a respeito de uma comunicação de Miguel Pessoa será que me podia facultar o e-mail dele de forma a eu pedir autorização ao visado para reproduzir as suas declarações na minha tese? Ou então será que podia dirigir o meu pedido ao próprio?

Obrigado por tudo fico a aguardar uma resposta.

Lt Col Matt 'Liz' Hurley, USAF

"Those whom the gods would destroy, they first make proud"


O nosso Miguel respondeu-lhe logo de seguida:

Caro Matt:

Recebi através do blogmaster Luís Graça o seu pedido para reproduzir os textos que publiquei em www.blogforanadaevaotres.blogspot.com .

Não vejo qualquer inconveniente em que o faça, apenas lhe peço que mencione o local de onde retirou o texto. Suponho que terá solicitado o apoio de alguém para traduzir o seu pedido para a língua portuguesa. Se pretender contactar-me no futuro, "feel free to do it in american english", ou continue em português, se for do seu agrado.

Best regards
Miguel Pessoa

Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)

1. Mensagem de Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612/74, Cumuré, Mansoa e Brá (1974), com data de 30 de Março de 2009:

Boa noite Amigos,
Quero a presentar-vos as minhas desculpas por 2 erros:
- enviei-vos inadvertidamente o mail anterior "Para:", e,
- o texto foi muito incompleto faltando-lhe os útlimos parágrafos, o que completo agora.
Obrigado a todos com um abraço amigo do M.R.


Os Bravos da Tropa Macaca

Além do que o Jorge Canhão muito bem descreveu no post: Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão), há coisas que eu jamais esqueci e que acho conveniente contar agora, enquanto não me esqueço, fundamentalmente para elucidar as pessoas que se interessam, ou possam a qualquer momento vir a interessar, sobre aquilo que foi designado como S.M.O. (Serviço Militar Obrigatório), especialmente no período 1973/1974 de que eu sou testemunha viva, sem derrapagens nem distorções de qualquer tipo, confinado à lealdade e verdade dos factos.
Falo por experiência própria e prática do dia a dia, com a memória bem fresca, como se tivesse sido ontem, pois tendo pertencido a uma tropa de elite; Operações Especiais/RANGER, apenas convivi 100% com especiais durante 3 meses, tendo prestado o restante tempo com a tropa normal, designava pelo pessoal, na gíria dos quartéis, como tropa macaca ou fandanga.

Todos nós sabíamos que salvo raríssimas excepções (não interessa aqui os motivos destas excepções), mais mês menos mês, íamos parar ao Ultramar, com maior ou menor dose de sorte e, em consequência, com maior ou menor intervenção operacional nas 3 frentes de guerra.
Uma coisa eu sabia quando me apresentei no R.I.5 para a recruta, é que quem queria sentir-se minimamente preparado para a guerra, tinha que passar pelas tropas especiais, entre elas os RANGERS, pelo que achei melhor voluntariar-me para o C.I.O.E. e, após as provas da praxe, segui para Lamego.
Meus amigos, digo-vos que apesar da extrema dureza, psíquica e física, que a especialidade RANGER continha, a alimentação (salvo durante as chamadas provas de resistência à fome) era do mais alto nível, fazendo inveja aos melhores restaurantes do país. Mais vos digo que no C.I.O.E. quer o Comandante de Instrução, quer os instrutores, quer os instruendos e cadetes comiam no mesmo refeitório da mesma comida.
As munições de todos os calibres eram ao desbarato, e só para terem uma ideia (se bem me recordo), dizia-se em Penude (quartel de instrução), que cada RANGER só em munições custava, em 1973, ao Estado português cerca de 130 contos (moeda antiga).
Assim, pessimamente habituado após concluir a especialidade, fui destacado como 1º Cabo Miliciano para o R.I.16 onde fui mobilizado para a Guiné, tendo recebido guia de marcha para Tomar - RI15 -, e foi nesta unidade que começou a minha constatação/visão/assimilação/choque pessoal da realidade, que era a vida na generalidade dos quartéis.

Fui chamado para prestar instrução na 1ª C.ia de Instrução - 3º pelotão -, cujo alferes Alcides sofreu, logo nos primeiros dias, um esgotamento cerebral, ficando a instrução à responsabilidade dos dois 1º Cabos Milicianos; eu e o Marinho - Atirador de infantaria.
As ordens que o capitão nos deu eram claras, treinar o pessoal o melhor possível e transmitir-lhes o espírito RANGER, essencialmente nas componentes vitais – preparação física e disciplina de técnica de combate.
Ora como eu estava bem preparado fisicamente comecei a exigir aos soldados grandes esforços, quer nas marchas forçadas, quer nos crosses, nas acções de simulação de técnica de combate, nas técnicas de defesa pessoal, etc.
A minha desconfiança de que algo não estava bem naquele pelotão, foi surgindo ao ouvir alguns lamentos dos soldados, que iam desabafando aqui a ali, que o rancho era mau e intragável e, pior ainda, quando comecei a constatar que mesmo os mais fortes mostravam evidentes sinais de fraqueza espelhados num anormal estado de cansaço, que aos poucos vinha aumentando os já de si degradados sentimentos de desalento e desmotivação.

Reparem bem que estou a falar do ano de 1973, ano este em que as notícias chegadas aos quartéis eram, mais ou menos palavra, assim: anteontem morreram 3 em combate na Guiné, ontem faleceram 2 em Moçambique, hoje 1 em Angola e só este mês já morreram ao todo 60 camaradas nossos no Ultramar.
A confirmação de que os rumores da incomestível qualidade do rancho, eram pura verdade tive-a uns dias depois, quando fui escalado para mais um serviço de sargento de dia à companhia.
Decorria o almoço dos praças, quando dei uma volta pelo refeitório e fui convidado pelo pessoal a juntar-me a eles, o que eu fiz como é lógico, tendo ficado revoltado, angustiado e agoniado.
Se até aqui já os cenários eram pouco tranquilizantes, mais grave a coisa se tornou quando passada uma semana fomos dar tiro. Uma boa parte dos soldados começou logo por dizer que na recruta apenas haviam dado 10 (dez estão a ler bem) tiros e outros um carregador (20 tiros).
As instruções que tínhamos era que cada soldado podia disparar 1 carregador e os que demonstrassem menor aptidão mais um carregador adicional, para melhorarem a pontaria.
Um dado adquirido, como mais tarde vim a confirmar alarmado, era que a quase totalidade daqueles homens estava destinada ao Batalhão 4612/74, que estava mobilizado para a Guiné.

Agora quero registar aqui, pelo que acabei de descrever e pelo que já foi dito pelo Jorge Canhão, um ex- Combatente que eu muito estimo e admiro por várias razões, valha o que valer este meu depoimento, os maiores elogios à sacrificada desgraçada tropa normal, macaca ou fandanga, que após receberem tais recrutas e especialidades seguiam para as frentes de guerra e cumpriam, como podiam e sabiam sabe Deus em que circunstâncias, cabalmente as suas missões.

A pergunta que se impõe é: - O que é que seria dos operacionais, sem os homens que na retaguarda lhes asseguravam o indispensável e permanente fornecimento de equipamentos de toda a ordem, alimentação, munições, combustíveis, etc.?
Propositadamente, não me vou referir a outra componente que muito influía no comportamento dos batalhões, companhias, pelotões, etc. que dia respeito aos modos irresponsáveis e incompetentes como muitos eram comandados, em alguns casos ridícula e incrivelmente, porque muita gente haverá que o faça melhor do que eu.
Por tudo isto, a minha opinião é que um tropa macaca ou fandanga na verdadeira acepção das palavras, é todo aquele que não se respeita a si próprio seja porque motivo for, e, ou, não respeita os outros proferindo adjectivação insultuosa, desclassificativa e, ou, pejorativa.

Assim, poderíamos perdoar a qualquer outra pessoa que tivesse proferido aquelas, no mínimo infelizes, palavras Sr. General Almeida Bruno, chamando-lhe simplesmente mal-intencionado, burro, néscio ou ignorante.
Mas não! Tais palavras que o Jorge Canhão nos descreveu textualmente, foram mesmo ditas tranquila e compassadamente pelo Sr. General.
Sr. General, eu e muitos de nós ex-Combatentes tínhamo-lo na nossa conta de brilhante militar, competente e amigo do soldado.

Não quero acreditar sinceramente que nos enganou a todos, os que o admirávamos durante estes últimos 35 anos que passaram sobre a conclusão da guerra, e como não acredito só lhe peço que nos diga, clara e francamente, o que se passa com o senhor!
É que as palavras que proferiu no programa televisivo denota, no mínimo, ou um já grande esquecimento e, ou, distorção/deturpação da realidade de então.
O Sr. não acha que já bastam os anti-patriotas, os traidores, os desertores e outras corjas afins, para hostilizarem e rebaixarem os ex-Combatentes?
Se o Sr. Marechal António Spínola fosse vivo, imagine como que é que ele reagiria ao ouvir o Sr. a chamar bandos aos seus homens - dos diversos batalhões e companhias, milícias, etc. -, que ele superiormente comandou?
Já reparou que com esta brincadeira que ficou gravada em filme, o que é mais grave, pois poderá passar sempre que as TV.s o entenderem, o Sr. ofendeu não só milhares de ex-Combatentes vivos, como a memória de inúmeros mortos em combate e inúmeros deficientes da guerra?

Sou Vice-Presidente da Delegação do Porto da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (40.000 associados), Vice-Presidente da Assembleia Geral da Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto e Membro dos Corpos Directivos da Associação de Operações Especiais (1500 associados), lidando por isso com centenas/milhares de ex-Combatentes de todas as especialidades, que contactam e conversam entre si com o maior respeito e admiração, convivem e trocam experiências e ideias nos diversos seminários e colóquios a que tenho assistido em diversos pontos do país, ao longo destes últimos 35 anos, e nunca ouvi nada sequer parecido com a blasfémia que o Sr. proferiu.

Até aqui falei sempre no presente do indicativo, o que o podia levar a pensar que: - É mais um gajo que me quer chatear, mas tenho que acrescentar, que mais umas boas dezenas de outros RANGERS e outros ex-Combatentes amigos, com quem eu conversei e, ou, me telefonaram, que se sentem ofendidos e indignados com as suas declarações.

Magalhães Ribeiro
Ex-Fur. Milº Op.Esp./RANGER
C.C.S. do B.Caç. 4612/74
Cumeré/Mansoa/Brá

(Título da responsabilidade do editor)
__________

Notas de CV:

Vd. último poste de Magalhães Ribeiro de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4095: O trauma da notícia da mobilização (5): Quatro depoimentos (Magalhães Ribeiro)

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4110: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (6): 'No melhor pano cai a nódoa' (Amílcar Mendes / Pereira da Costa)

Guiné 63/74 - P4125: O trauma da notícia da mobilização (7): Não se pode mudar o destino (Pedro Neves)

1. Mensagem de Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCaç 4745/73 - Águias de Binta, Binta, 1973/74, com data de 30 de Março de 2009:

Camarada Luís Graça

Já refeito sobre as palavras do Sr. Gen. graças ao que despejei ontem no mail que enviei para a Nossa Tabanca Grande, aqui estou para contar como foi o meu percurso desde a inspecção, até à minha mobilização para a Guiné.

Não se pode mudar o destino

Fui aconselhado pelo meu padrinho (de baptismo), que era Oficial da nossa Marinha de Guerra, para quando fosse dar o nome para a tropa, não dizer quais eram as minhas habilitações literárias, porque depois ele tratava de manobrar as coisas, para ir para Paço de Arcos. Eu estava ligado ao ramo do Ar Condicionado e Refrigeração e era mais fácil, se fosse soldado ou cabo, a minha colocação e assim livrar-me do terror dos nossos tempos de jovens, que era a ida para a guerra. Mal sabia eu o que me esperava!!!

Apresentei-me no dia 9 de Outubro de 1972 no R.I.7, em Leiria, no Contingente Geral e aí iniciei a minha vida militar, com as primeiras fascinas, nunca me oferecendo para nada, seguindo os conselhos dos mais velhos e levando a minha vidinha descansada.

Passados cerca de 15 dias, durante a formatura, fomos informados que os nomes de fulano e Sicrano (e o meu também), se deveriam apresentar após o destroçar na secretaria do Comando. Lá fomos, eu e mais três camaradas, intrigados e com algum receio, sobre a convocatória e o que estaria por detrás da mesma.
Fomos recebidos por um Major, que de rajada nos disse, que era crime, punível com prisão militar, a omissão das habilitações literárias e que teríamos de declarar imediatamente as mesmas, sob pena de que se não correspondessem às verdadeiras, esperava-nos a prisão. Estão a ver este vosso camarada, a declarar tudo e mais alguma coisa, faltando apenas os nomes dos meus professores, desde a instrução primária. Era sexta-feira e nesse mesmo dia recebemos as Guias de Marcha para nos apresentarmos na segunda-feira no R.I.5, nas Caldas da Rainha.
Fomos recebidos pelo terror de todos os recrutas que nesse tempo passaram pelo R.I.5, o famoso Ten. Varela que nos dias em que estava de Oficial de Dia, durante a inspecção para a dispensa do recolher, entre dezenas que tinham nota nos testes, só saíam meia dúzia ou menos. Nos dias em que ele estava de Oficial de Dia, eu não pedia dispensa de recolher!

Adaptado à minha nova vida de Instruendo, os dias iam correndo, até que um dia fomos informados que os nomes afixados na secretaria da Companhia iriam prestar provas para o C.O.M. e Comandos. O meu estava lá!!!
Depois de algumas provas físicas, que um Capitão dos Comandos de óculos Ray-Ban e blusão de cabedal verde, do qual não me lembro o nome (Almeida Bruno?), nos ministrou, mandou-nos subir ao pórtico. Eu que não estava minimamente interessado em ir para os Comandos, nem para qualquer tipo de tropa especial, disse que não era capaz, porque tinha vertigens, mas obrigou- me a subir e eu fiquei sentado lá em cima, a dizer que não era capaz!
Mentira, porque era um dos meus exercícios favoritos. Mandou-me descer e chamou-me tudo o que lhe veio à cabeça, que me ia lixar, porque tinha cara de homem destemido e não queria ir para os Comandos.
Quando saíram as especialidades, o meu destino era o C.I.O.E., em Lamego e logo pensei no que o gajo disse e lixou-me mesmo.
Puro engano meu, porque apesar da dureza do Curso de Operações Especiais, hoje tenho o prazer e a honra de ter pertencido aos Rangers e uma vez Ranger, Ranger para sempre!
Depois de concluir o meu curso Ranger, fiquei em Penude, como instrutor do 1.º Grupo de Cadetes e hoje tenho o prazer de ter alguns no meu lote de amigos.

Soube que estava mobilizado para a Guiné quando tinha um caso de namorisco com uma natural de Lamego. Corria o boato que quem andasse com ela, e fosse mobilizado para a Guiné não sobreviveria, porque o 1.º namorado dela tinha morrido na Guiné e todos os outros teriam o mesmo destino. Aí, fiquei acagaçado, mas foram só os primeiros dias ou quando as coisas lá na Guiné não corriam pelo melhor, (não era dentro do arame) é que me lembrava do tal boato, mas nunca passou disso, porque regressei vivo para contar o que foi o tormento da nossa juventude em terras da Guiné, pela qual tenho uma paixão enorme.

Cumprimentos para toda a tabanca grande do
José Pedro Neves
Ex-Fur Mil Op Esp
CCaç 4745 Águias de Binta

(Título da responsabilidade do editor)
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4101: O trauma da notícia da mobilização (6): Trata de arranjar o caixão, disse-me o pobre do Zé... (Manuel Maia)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4124: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (5): Ainda o Bando do Arame (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 29 de Março de 2009:

Caro Vinhal
Pensei, repensei... tinha que mandar para publicar se achares(em) que daí não vem eventual prejuízo para a Tabanca/blogue

Um abraço
Luis Faria



O Bando do arame

Oh sr. general… claro que sei que as Verdades são subjectivas.

Confesso, na Instituição Castrense na Guiné e posteriormente, entre outros, era para mim uma referência.

Confesso que fiquei de certo modo um pouco preocupado com a (des) apreciação que o sr. general (não é lixo) fez à Valorosa e Esquecida Tropa Macaca da Guiné, que sofreu na pele talvez mais do que nenhuma outra, as agruras de uma Guerra que aguentaram e em que combateram, dentro e fora dos arames, com os escassos meios postos à disposição e piores condições.

Fiquei um pouco preocupado, disse, porque exaltou os Paras e Fuzos (e muito bem) e esqueceu-se dos Comandos, ou será que também eram Bandos do arame? E os seus Comandos Africanos? E os outros? Também eram?

Dei por mim a pensar que o sr. general, já que tendo trabalhado e acompanhado com o Sr. Gen. Spínola, também esqueceu todos os Louvores e Prémios Governador ganhos (não por sorteio) por muitíssimos componentes desses Bandos do arame, que para os obter não actuaram sozinhos e só dentro do arame farpado!

Dei por mim a pensar que tinha esquecido as Cruzes de Guerra que tantos e tantos elementos desses Bandos receberam, muitas delas a Título Póstumo recebidas pelas Famílias, infelizmente.

Dei por mim a pensar se as minas que tantos e tantos mortos e estropiados fizeram estariam plantadas dentro dos arames farpados onde também estavam plantados os ditos Bandos.

Dei por mim a pensar que esqueceu os milhares de membros dos Bandos do arame que foram evacuados pela valorosa FA e não só, com destino a Bissau e à Metrópole por andarem a apanhar flores nas matas Guineenses, quantas vezes para vossa segurança!

Dei por mim a pensar que também foi um camarada (de referência) da Guiné, mesmo que não pertencesse aos Bandos.

Dei por mim a pensar que tendo tão alta patente não deveria transmitir essas INVERDADES.

Dei por mim a pensar que um medalhado de tão alta patente tem obrigação de ser fiel à Verdade por inteiro e não a deturpar, tomando a eventual excepção pela regra

Dei por mim a pensar na Injustiça que faz a Muitos Milhares de Jovens à altura, hoje próximos da sua idade - entre os quais me incluo - , que têm Dignidade e Consciência do Dever Cumprido, com boa memória, que não se deixam abater nem se calam quando se sentem Ofendidos e não gostam que nos desrespeitem publicamente e aos Camaradas Mortos ou feridos, dentro ou fora do arame, membros ou não dos ditos Bandos.

Dei comigo a pensar e como disse fiquei um pouco preocupado, pois pelo que me parece, com o avançar da idade a memória deverá estar a pregar-lhe partidas (acontece) e talvez precise de apoio, quem sabe até da nossa Tabanca (se os Editores o permitirem) para a reavivar ?!

Para contribuir na recuperação, não leve a mal , copio e expresso algumas Verdades do Bando da 2791 (FORÇA) de que tanto me orgulho de ter feito parte. Mas certamente vai considerar que pertencíamos à excepção !

Vá lá, seja o Sr. General, troque as grandes maiorias, considere a regra e não a eventual excepção e peça desculpa pelo engano, como deve. Só lhe ficará bem.

Luís Faria


Nota: Acima-Louvor dado pelo Cor R Durão (Pára)

Louvores Individuais
COM CHEFE (Gen Spínola): 5 (cinco)
CTIG: 1 ( um )
de CAOP 1 dados Pelo Cor Durão(Pára): 7 ( sete)
Cruz Guerra: 1 ( uma)

Nota: Não entram aqui os Louvores dados pelo Batalhão e pela Companhia pois podiam ser considerados sorteados pelo Bando!!
__________

Notas de CV:

Vd. último poste de Luís Faria > 16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4040: Quando o apreço se transforma em apresso, por causa das pressas (Luís Faria)

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4113: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (4): Humilhados e ofendidos (A. Marques Lopes)