Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Sitio da N. Sra. do Socorro > 31 de agosto de 2019 > Cerca de um centena de membros da família Ferreira participaram no seu 6º encontro anual (que se realiza desde 1985)... O próximo já está marcado para 29 de agosto de 2020.
A capela de Fandinhães, o que dela resta (o altar mor) (séc. XIII)
A capela de Fandinhães(séc. XIII); cachorro.apresentando um exibicionista, figura masculina representada nua e com a mão direita sobre os órgãos genitais.
Capela de Fandinhães (séc. XIII): o adro, uma das duas tampas sepulcrais, esta com a representação de uma espada.
Marco de Canaveses > Penha Longa e Paços de Gaiolo > Fandinhães > Rota do Românico > 35. Capela de N. Sra. da Livração de Fandinhães (c. meados séc. XIII)
"Hoje titulada Capela da Senhora da Livração, a antiga Igreja de São Martinho de Fandinhães constitui um verdadeiro enigma. Quando o visitante se aproxima, vislumbra o que parece ser um edifício arruinado.
"A tradição refere o seu desmantelamento e a documentação não o contradiz. As escavações arqueológicas (2016) confirmam-no por terem identificado os alicerces das paredes norte e sul da nave, na continuação do atualmente visível à superfície.
"Aqui se cruzam várias influências românicas. As figuras apoiadas em folhas salientes no portal encontram-se também nas Igrejas de Travanca (Amarante) e de Abragão (Penafiel). No adro veem-se vestígios de uma cornija sobre arquinhos, motivo comum no românico da bacia do Sousa, que a esta chegou via Coimbra. Os toros diédricos nas frestas evidenciam a influência portuense, provinda da região francesa de Limousin. As "beak-heads" [cabeça de animal com um bico proeminente] na fresta lateral sul lembram a influência do românico beneditino do eixo Braga-Rates.
"Embora a maior parte dos cachorros exiba motivos geométricos, um deles apresenta um exibicionista, figura masculina representada nua e com a mão direita sobre os órgãos genitais, motivo encontrado na Igreja de Tarouquela (Cinfães).
"No adro, duas tampas sepulcrais: uma com a representação de uma espada e outra com uma cruz inscrita." (Fonte: Rota do Românico > Capela de Nossa Senhora da livração de Fandinhães, com a devida vénia...)
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Pode vir a ter, talvez, no futuro, algum interesse, documental, para a sociologia e a história da família em Portugal, as festas de família que se realizam anualmente, um pouco por toda a parte, no verão, no nosso país,em espaços públicos, ao ar livre, geralmente em parques de merendas.
Afinal, porque é que as famílias se encontram ? Para se conhecerem (os mais novos), para voltarem às "raízes" (os que vivem na cidade ou no estrangeiro), para matarem saudades (os que estão longe), para partilharem memórias e afetos, para recuperarem sabores e cheiros da infância / adolescência, para reforçarem laços de parentesco e aliança, para exercerem a arte do dom (a obrigação de dar, receber e retribuir), para dizerem bem e mal uns dos outros, para fazerem, nalguns casos, as pazes e enterrarem o machado de guerra, para conviverem, para se divertirem... enfim, para celebrarem a vida e exorcizarem o medo da doença, da incapacidade, da dependência, da solidão, da infelicidade e da morte...
É o caso da família Crispim & Crisóstomo (, que os nova-iorquinos João e Vilma Crisóstomo têm vindo a animar, no verão, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, sempre que vêm a Portugal). Ou é o caso da família Ferreira, que tem o seu núcleo duro em Candoz, Tabanca de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, a que o nosso editor, por casamento, com a Maria Alice Ferreira Carneiro (n. Candoz, 1945), se veio aliar em 1976, já lá vão mais de 4 décadas.
A família, alargada, da Alice (, que é Ferreira, do lado materno, e Carneiro, do lado paterno, ) reúe-se há 35 anos, no verão. Anteontem, dia 31 de agosto, juntaram-se 4ª gerações dos Ferreira e ficaram em comunhão espiritual com mais outras 4, que nasceram e cresceram nestas terras da bacia do Tâmega e Douro, pelo menos desde 1820.
O primeiro encontro foi a 29 de setembro de 1984, em Fandinhães, Paços de Gaiolo, terra antiquíssima, freguesia do extinto concelho de Bem-Viver, onde nasceu toda a 4ª geração, incluindo a Maria Ferreira, mãe da Alice e avó do João Graça, nossos grã-tabanqueiros.
Marco de Canaveses, Paços de Gaiolo, Fandinhães > 1984 > 1º encontro da família Ferreira > Ainda eram vivos os três casais dos quatro casais da 4ª geração: (i) António Ferreira ("Vitorino") e Amélia Rocha (com residência no Alto, Paredes de Viadores); (ii) Maria Ferreira e José Carneiro (residentes em Candoz, Paredes de Viadores); e (iii) e Ana Ferreira e Joaquim Cardoso (residentes Cacia, Aveiro e, mais tarde, Leiria)...
Fonte: A Anossa Quinta de Candoz (2011)
O segundo encontro, no ano seguinte, em 1985, foi na serra de Montedeiras, no respetivo parque de merendes (, pertencente atualmente à freguesia de Sande e S. Lourenço do Douro, Marco de Canaveses). Enfim, perto de Fandinhães.
Por causa dos sucessivos "lutos" (, dos que morreram na sua idade, e dos que decidiram apressar a morte, e já foram três ou quatro!), os encontros interromperam-se, a partir desse ano, só se realizando o terceiro, em 10 de julho de 2011, em Paredes de Viadores, no parque de merendas da igreja de N. Sra. do Socorro. (Sim, que o luto é pesado, por estas bandas!)
O quarto encontro seria no mesmo local, dois anos depois, em 7 de setembro 2013; o quinto em 25 de agosto de 2018 e, agora, o sexto, em 31 de agosto de 2019. E o 7º já está marcado para 29 de agosto de 2020, sábado.
35 anos depois do primeiro, parte da família (os mais novos...) ainda não tinha nascido.
Da geração nascida em Fandinhães, a 4ª (a contar de 1820), para além da Maria Ferreira (1913-1995), havia ainda os manos António Nunes Ferreira (1910-1990), Rosa Ferreira (1915-1960) e Ana Ferreira (1917-1995), todos filhos de Balbina Ferreira (1876-1938), casada com José Nunes Ferreira (,de alcunha ‘Vitorino’) (1875-1948).
O mais antigo Ferreira, até agora conhecido, é o avô da Balbina Ferreira, o João Ferreira(1821-1897), casado com Mariana Soares (1822-1895) (,considerada a 1ª geração), portanto:
(i) bisavô da Maria Ferreira;
(ii) trisavô do António Ferreira Carneiro;
(iii) e tetravô das suas filhas (que são 4: Paula, Becas, Suzana, Romi);
(iv) e pentavô dos filhos destas (que ainda não têm filhos);
(v) e hexavô dos bisnetos da Rosa e do Quim [, Joaquim Barbosa,] (um) e da Lena, viúva (dois)...
São estes as antepassados comuns, da família Ferreira, de Fandinhães, os conhecidos, por documentos escritos, os mais antigos, donos originalmente das terras de Candoz e Leiroz: João e Mariana tiveram 6 filhos, 3 Ferreira e 3 Soares...
Enfim, quando se completar a árvore genealógica, ir-se-á descobrir que uma vulgaríssima família como os Ferreira é naturalmente muito mais velha, tão velha como qualquer outra família portuguesa aqui destas terras onde nasceu Portugal... (Não é por acaso que a rota do românico passa sobretudo pelos vales do Sousa e do Tâmega).
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Sitio da N. Sra. do Socorro > 31 de agosto de 2019 > 6º encontro da família Ferreira > Os elementos da festa...o pão, o vinho, a alegria, a música, a reinação, as cantigas à desgarrada, a dança, as crianças, oa adolescentes, os pais. os avós e os bisavós...Cada "família" trouxe o seu pestisco, que foi partilhado à mesa... Era já noitinha quando arrumou o trouxa e voltou às suas casas, uns mais perto, outros mais longe, com vontade de voltar no próximo ano, em 29 de agosto de 2020. Afinal, a vida são dois dias e a festa da vida deviam ser três...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
No sábado passado, no, 6º encontro, marcaram presença cerca de uma centena de membros da família (, não couberam todos na fotografia que acima se publica, é praticamente impossível juntar todos para a "foto de família"):
(i) representantes da 5ª geração (a contar de 1820) (ou 4ª, a mais velha das gerações vivas), como o "mano mais velho", o António Ferreira Carneiro (n. 1939), o "brasileiro", filho de Maria Ferreira e José Carneiro (1910-1996); tudo gente na casa dos 70/80; vários membros desta geração foram mobilizados para a guerra colonial / guerra do ultramar (Angola, Guiné, Moçambique): é o caso do "mano mais velho" da Tabanca de Candoz, o António, que esteve em Moçambique(1964/66), onde foi ferido com gravidade, sendo hoje DFA...
(ii) Representantes da 6ª geração (ou 3ª geração das 4 que estão vivas), como as filhas (quatro) do António e da Graça; tudo gente na casa dos 40/50;
(iii) Representantes da 7ª geração, a dos netos do António e da Graça; tudo gente na casa dos 10/20/30...
(iv) E já temos gente da 8ª geração: por exemplo, a matriarca Lena, prima da Alice, trisnetas de João ferreira e Mariana Soares, sendo a mais velha dos Ferreira vivos (n. 1935, já é duas vezes bisavó);
Da 4ª geração, os pais da Alice, gente que hoje teria mais de 100 anos, não temos infelizmente já cá ninguém. Mas estão cá os seus descendentes:
(i) O mais velho era o António Nunes Ferreira, o ‘Vitorino’, o "brasileiro", que nasceu em 1910 e casou com Amélia Rocha, pais da Lena e outros;
(ii) A mais nova era a Ana Ferreira, nascida em 1917, e que casou com Joaquim Cardoso; tem netos e bisnetos no Brasil, que este ano não virão,mas também no Porto, em Aveiro, em Leiria...
(iii) As do meio eram a Maria Ferreira, que casou com José Carneiro; tiveram seis filhos, incluindo a Alice, que vive hoje na Lourinhã;
(iv) e a Rosa Ferreira, que casou com o José Vieira Mendes…
Em 2019, no 6º encontro, estava previsto publicar-se um livrinho com a árvore genealógica da família Ferreira, em edição revista e aumentada… Mais as receitas das nossas "comidinhas", as letras e as músicas das nossas "tunas rurais", bem como os "cantaréus"... Mas não tempo para tudo... Fica para o ano...
Este ano, como é habitual, não faltaram os comes e bebes, a música, a poesia, os afetos, a alegria, a dança, as paródias, as cantigas à desgarrada, a reinação...Sobretudo, elas, as "primas", são danadas para a brincadeira---
Por mera curiosidade, e para os eventuais leitores interessados, aqui ficam as quadras populares, encadeadas, que o poeta da Tabanca de Candoz, Luís Graça, escreveu para a ocasião...
1.
Em Paredes de Viadores,
Temos encontro anual,
Os pequenos e os maiores
Da família Ferrei…ral!
2.
Da família Ferrei…ral,
Vivos são quatro gerações,
Quem veio é bestial,
Quem não veio tem suas razões.
3.
Quem não veio tem suas razões,
Saúde, amores, dinheiro,
P’ra eles xicorações,
… Mas não dançam no terreiro.
4.
Mas não dansam no terreiro,
Só dançam os qu’ aqui ‘stão,
Os do Porto e os d’ Aveiro,
Mais os de cá do Marão.
5.
Mais os de cá do Marão,
De Montemuro e da Abob’reira,
Do Brasil não virão,
E da Lour’nhã, a vez primeira.
6.
E da Lour’nhã, a vez primeira,
Os tios Alice e Luís,
Ela é Carneiro e Ferreira,
E vai ser uma avó feliz.
7.
E vai ser uma avó feliz,
Entrando p’ró clube dos avós,
É a Rosa quem o diz,
Lá na Quinta de Candoz.
8.
Lá na Quinta de Candoz,
Deu o bicho carpinteiro,
A notícia correu veloz,
Anda tudo muito foleiro.
9.
Anda tudo muito foleiro,
Ai o meu braço, ai o meu joelho,
Queixam–se no cab’leireiro,
Ai que horrível ‘tou ao espelho.
10.
Ai que horrível ‘tou ao espelho,
E já sou cinquentona,
A quem hei de pedir conselho ?
À ‘nha filha qu’ stá uma mocetona.
11.
À ‘nha filha qu’ stá uma mocetona,
Quer casinha para casar,
E, como é uma valentona,
Muitos gajos p’ra namorar.
12.
Muitos gajos p’ra namorar,
Ou só um, desde que rico,
Mas não sei como é que eu fico,
Longe de me poder reformar.
13.
Longe de me poder reformar,
Queixam-se as nossas bonecas,
No duro, a trabalhar,
As sobrinhas Paula e Becas.
14.
As sobrinhas Paula e Becas,
Da geração terceira,
Não são nada de panquecas,
Danadas p’rá brincadeira.
15.
Danadas p’ra brincadeira,
Tal como os primos do Alto,
Tudo com costela Ferreira,
Para o baile, isto é um assalto.
16.
Para o baile, isto é um assalto,
Qu’a vida dois dias são só,
Diz, meio-soprano, contralto,
O nosso querido doutor Jó.
17.
O nosso querido doutor Jó,
De filhas lindas escultor,
Mas do João não tenham dó,
Que a Catarina é um amor.
18.
Que a Catarina é um amor,
Diz a Vera, a priminha,
P’ra vida ter mais sabor,
Vai-nos dar uma Clarinha.
19.
Vai-nos dar uma Clarinha,
Que p’ro ano vem à festa,
Por ser também Ferreirinha,
E ter estrelinha na testa.
20.
E ter estrelinha na testa,
É o Manel, neto da Zé,
Toda lampeira e lesta,
Que o batizo amanhã é.
21.
Que o batizo amanhã é,
E até Deus ‘tá convidado,
Por ser um lindo bebé,
Diz o bisavô babado.
22.
Diz o bisavô babado,
O nosso Joaquim Barbosa,
Aos oitentas mais cansado,
Mas a vida é sempre gostosa.
23.
Mas a vida é sempre gostosa,
Mais no Porto que em Barcelona,
Diz a Sofia, chorosa:
“Beijos, gato, da tua gatona.”
24.
“Beijos, gato, da tua gatona”
Só pode ser p’ro Tiago
Anda ele numa fona
Só a mamã lhe dá afago.
25.
Só a mamã lhe dá afago,
Que a coisa custa a passar,
Mas, ó homem cum carago,
Espanta os males, põe-te a tocar
26.
Espanta os males, põe-te a tocar,
Viola ou acordeão,
Tua tristesa há de passar,
Diz-lhe o F’lipe, que é o irmão
27.
Diz lhe o F’lipe, que é o irmão,
Outro dos nossos tocadores,
Primos são um batalhão,
E todos bons comedores.
28.
E todos bem comedores,
Dos Mendes aos Cardoso,
Mão se acanhem, meus amores,
Que o arroz está gostoso.
29.
Que o arroz está gostoso,
Parabéns à cozinheira,
E p’ra quem for mais guloso,
Temos o doce da Teixeira.
30.
Temos o doce da Teixeira,
E nos versos deste poeta
‘Tá a família toda inteira.
… Viva a festa, o resto é treta!
31.
Viva a festa, o resto é tretas,
Viva a Lena, a matriarca,
Sortuda, tem duas bisnetas
E grande enxoval na arca.
32.
E grande enxoval na arca,
E grande enxoval na arca,
Já não têm gajas d’hoje,
Só querem roupas de marca,
Foge, moço, delas foge!
33.
Foge, moço, delas foge,
Não é coisa que se diga,
Cada um tem o seu alforje,
Tanto rapaz como rapariga.
34.
Tanto rapaz como rapariga
Cá da família Ferreira,
Não tem o rei na barriga,
Mas é gente de primeira.
35.
Mas é gente de primeira,
Mas é gente de primeira,
Qu’ honra seu antepassado,
E esta quadra é a derradeira,
A todos digo… obrigado!
Paredes de Viadores, sítio da Nª Srª do Socorro, parque de merendas, 31 de agosto de 2019
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20097: Manuscrito(s) (Luís Graça) (170): Viagens ao fundo da (minha) terra e outros lugares: Parte II - Extremadura(s): doce é a guerra para quem não anda nela...