sábado, 4 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24823: Agenda cultural (844): Convite para o lançamento do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz, a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro de 2023, pelas 16h30 horas, no Centro Cultural de Leça do Balio, sito no Largo do Mosteiro de Leça do Balio, com apresentação a cargo do Prof Luís Graça

C O N V I T E


Mensagem do autor:

Cada um de nós ao nascer, transporta dentro de si um Universo a construir – a sua vida. Com o desenrolar do tempo e com a ajuda ou desajuda de quem nos rodeia – Mãe, pai, avós, mestres, professores, amigos, vizinhos e colegas do café e tantos outros agentes educativos – vamos desenvolvendo as nossas capacidades, formando o nosso carácter, estabelecendo a nossa forma de ser e estar na vida, ou seja, construído o nosso Universo pessoal.

As histórias que vos ofereço neste livro, ajudam cada um(a), a compreender este fenómeno maravilhoso da vida, como escreve o Prof. Júlio Machado Vaz, com candura, transparência e doçura.

Com um abraço de amizade
José Teixeira


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Prefácio do Prof Júlio Machado Vaz

Se me pedirem para resumir estes textos numa só palavra eu não hesito na escolha – candura. E errado estaria quem a associasse à ingenuida­de, ela veio-me ao espírito de braço dado com outra – transparência…

…Por isso não me surpreendeu que da madura escrita infantil jorrasse, a céu aberta ou clandestina, uma idealização da figura feminina, ves­tida de mãe, madrinha de guerra ou mulher, mas sempre amada por cuidadora e ternurenta, nem a traição a faz descer do altar ao qual se confessa a dor por lhe ter virado costas e futuro. Essa sombra proteto­ra, indiferente ao género, permeia as estórias de quem acompanha os sem abrigo e lhes ouve as narrativas de vida, com pudor escondidas por trás dos consumos escancarados de álcool e (outras) drogas, sin­gela homenagem aos que, crentes ou não, amam o próximo depois de dias frenéticos de trabalho.

E porque o autor não esconde, na obra que nos ocupa ou no currículo, o derriço pela poesia, apetece-me fechar o círculo com rima fácil, típica de quem não verseja – juntar doçura à candura. Porque, mesmo ao abordar os quotidianos mais duros, estas páginas cultivam o registo meigo de quem os revisita dorido, mas pacificado; sem fímbria de aze­dume. Talvez seja esse o maior mérito deste livro – conduzir-nos, como indivíduos e membros de uma sociedade feroz, interesseira e geradora das maiores e mais cruéis desigualdades, a um espelho - cândido; im­placável; menineiro.

Júlio Machado Vaz



DETALHE DO LIVRO

Título: O Universo Que Habita em Nós
Autor: José Teixeira
Editora: Astrolábio Edições
Data de publicação: 2023-09-28
Dimensões: 15x23 cm
Páginas: 230
Encadernação: Capa mole
ISBN: 978-989-37-6094-9
Género: Ficção
Idioma: PT

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Notas do editor

Vd. poste de 19 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24772: Agenda cultural (842): Pré-apresentação do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz

Último poste da série de 23 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24786: Agenda cultural (843): Doclisboa - 21º Festival Internacional de Cinema: 25 de outubro, 4ª feira, às 10h30, na Culturgest, Pequeno Auditório, projeção do documentário português (119'), "Fogo no Lodo", filmado na aldeia de Unal, a sul de Buba, seguida de debate com os realizadores, Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca

Guiné 61/74 - P24822: Os nossos seres, saberes e lazeres (599): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (127): No Museu de Lisboa, um olhar sobre o património azulejar dedicado à capital antes do terramoto… e algo mais (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
O que é belo é sempre para rever, esteja onde estiver. Vivo a curta distância do Museu de Lisboa, de que conservo gratas memórias, aqui conversei com Irisalva Moita, uma estudiosa de Lisboa como há poucas, e fui vendo os progressos museológicos e museográficos, a dignificação dos jardins, a extensão dos espaços e altíssima qualidade das exposições. Uma parte significativa do museu está a ser alvo de intervenção, mas há primores indiscutíveis ao nível do rés-do-chão, para quem gosta de um deambular cronológico começa-se na pré-História até à cidade Quinhentista, fecha-se uma porta e abre-se outra e entramos numa área espetacular de azulejaria que só encontro rival com o que está patente no Museu Nacional do Azulejo. E há depois os registos do santos, em que Lisboa é imbatível, a pintura contemporânea, onde não falta Carlos Botelho e Eduardo Viana e um núcleo admirável de Lisboa, Cidade de Cerâmica, de que aqui se presta homenagem a uma ceramista que deixou uma obra sobre Alfama, trabalho da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego. Aos lisboetas e passantes, votos de uma magnífica visita.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (127):
No Museu de Lisboa, um olhar sobre o património azulejar dedicado à capital antes do terramoto… e algo mais


Mário Beja Santos

Não é a primeira vez que aqui se fala do Palácio Pimenta, palácio de veraneio da 1ª metade do século XVIII, adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa em 1962 para, após a requalificação do edifício e jardins, aqui instalar o então Museu da Cidade, a funcionar no Palácio da Mitra desde 1942. O primeiro projeto de adaptação, datado de 1968, foi da autoria do arquiteto Raúl Lino. No entanto, foi graças à intervenção do arquiteto Duarte Nuno Simões, com programa museológico da olisipógrafa Irisalva Moita, que o novo museu foi inaugurado em 1979. O museu está instalado em dois andares, sendo que o 1º está presentemente sujeito a obras, podendo o visitante na multiplicidade das salas do rés-do-chão visitar obras de arte que vão da Idade do Bronze à contemporaneidade, marcas de sucessivas épocas, é uma exposição de longa duração intitulada “Viagem ao Interior da Cidade”. Viagem em que o azulejo é a prima-dona absoluta, há ali três obras magníficas do 1º quartel do século XVIII que permitem conhecer e identificar o que era o Terreiro do Paço, o Hospital de Todos-os-Santos e o Mercado da Ribeira antes do terramoto. Far-se-á também uma referência aos belos registos de santos, de que Lisboa possui um património de incontestável valor, e despedimo-nos com uma lembrança de Lisboa como cidade da cerâmica. Na verdade, dos centros oleiros da Mouraria e de Santos-o-Velho as grandes fábricas Lusitânia, Desterro, Viúva Lamego ou Sant’Anna, passando pela Real Fábrica de Louça do Rato, é toda uma outra história da cidade que o museu revela, em diálogo com obras de artistas do século XX. Desejamos a todos uma boa visita, há também oportunidade para visitar a magnífica maqueta de Lisboa anterior ao terramoto de 1755 e bela pintura contemporânea.
Terreiro do Paço, azulejaria do 1º quartel do século XVIII
Mercado da Ribeira Velha e Casa dos Bicos, 1º quarte do século XVIII.
Era um painel de azulejos que estava na Estrada de Benfica no n.º 385.
Hospital Real de Todos-os-Santos.

Os painéis de azulejos expostos, com vistas da Lisboa pré-Terramoto, encontravam-se num muro de suporte do jardim de uma casa na Estrada de Benfica. Documentos iconográficos fundamentais para o conhecimento de alguns dos principais edifícios e quotidianos da cidade anterior à catástrofe.


O Museu de Lisboa possui um belo acervo de registos de santos em azulejo. São painéis devocionais conhecidos por registos de santos, testemunhos da religiosidade popular. Inicialmente confinados no interior de igrejas, os registos passaram para o exterior, possivelmente durante o século XVII. Estes registos irão multiplicar-se a partir de meados do século XVIII. Aplicados nas fachadas, geralmente sobre as portas de entrada, ou nos átrios das casas, podiam ser acompanhados por flores e luminárias. Em consequência de catástrofes naturais, surtos epidémicos, incêndios e outras calamidades, entendidas como resultado de justiça divina, os registos pretenderam ser um poderoso auxílio para, através da intercessão de Virgem Maria ou de santos da particular devoção, promover a proteção do lar onde estavam colocados e a saúde dos que nele habitavam. Lisboa concentra a maior quantidade de registos de santos conhecida no país.
Registo revivalista com o Milagre da Aparição do Menino Jesus.

A devoção e a necessidade de proteção expressam-se em diversos registos de azulejos com função comemorativa de efemérides da vida de figuras sacras ou de episódios aos quais estas se encontram associadas. Destaca-se este painel de 1895, referente à comemoração do 7º centenário do nascimento de Santo António.
São Marçal
Registo rococó com Nossa Senhora da Nazaré, atribuído a Francisco Jorge da Costa, século XVIII.

Uma devoção com relativa representatividade nos azulejos é a de Nossa Senhora da Nazaré. A sua presença tem subjacente um leque muito diversificado de motivações, desde pedidos de proteção contra as tentações do demónio, passando pelos perigos do mar. O painel representa o mítico cavaleiro medieval, D. Fuas Roupinho, alcaide do Castelo de Porto de Mós, trajado à maneira de Setecentos, numa caçada durante a qual é atraído para o abismo por um veado, personificação do diabo, sendo salvo pela aparição da Virgem.
Registo da Sagrada Família na sua fuga para o Egito
Registo com São João Baptista.

São João Baptista desempenha um relevante papel como elo simbólico da transição do Antigo para o Novo Testamento, por ser o último profeta da Antiga Lei e o primeiro mártir da cristandade. Habitualmente surge descalço, tendo como indumentária uma pequena túnica e uma pele presa ao ombro.
Um pormenor da cozinha do Palácio Pimenta, atenda-se à riqueza azulejar e à magnífica ornamentação dada pelos cobres.
Dois exemplares de azulejaria com belos enquadramentos de chão marmoreado e muito boa pedra.
Placa comemorativa com uma vista do Bairro de Alfama, Manuela Ribeiro Soares (1921-2000), Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, 1959
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24802: Os nossos seres, saberes e lazeres (598): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (126): Nos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24821: As nossas geografias emocionais (15): o reordenamento de Nhabijões (ou Nha Bidjon), 300 casas de zinco que terão custado mais de 2700 contos (c. 700 mil euros a preços de hoje), fora a mão-de-obra, civil e militar, e ainda os custos indiretos e ocultos


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca / CAOP 2) > Nhabijões (ou Nha Bidjon) > c. 1973 > Vista aérea do reordenamento de Nhabijões: o maior ou um dos maiores do CTIG, com 300 casas de zinco...(Fonte:  CECA, 2015, pág. 276)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca / CAOP 2) > Nhabijões (ou Nha Bidjon) > 197 2> Vista aérea do reordenamento de Nhabijões (Fonte:   "Diário de Lisboa",   31 de Agosto de 1972, com a devida vénia)


1. Ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) /CAOP 2), o redordenamento de Nhabijões tinha, a defendè-lo, um pelotão (da CCS) mais um 1 Esq do Pel Mort 2268, com morteiro 81. 

Continuou, no tempo do batalhão, que veio a seguir, o  BART 3873 (1972/74), com 1 pelotão (da CCS) mais 1 Esq do Pel Mort 2268... E por fim, no final da guerra,  com o BCAÇ 4616/73 (1974),  havia só 1 pelotão (da CCS).

Ainda lá estive, uma semana ou duas, a comandar um pelotão de "básicos" da CCS... Uma noite apareceu alguém, no destacamento, a gritar, histérico, "Turras no Nha Bidjon"... Veio,  em meu socorro, o piquete de serviço, de Bambadinca, comandado pelo Beja Santos (que estava em fim de comissão, e era uma força da natureza).

No final, não fora nada: os gajos do PAIGC entravam e saíam a seu bel prazer em Nhabijões, iam visitar os parentes, beber vinho de palmeira ou aguardente de cana, dormir com as bajudas, recolher as compras feitas em Bambadinca na loja do "tuga" Zé Maria (a quem chamávamos "turra"), estudar as rotinas da tropa  e, quando muito bem lhes apeteceu, puseram duas minas A/C, à saída do reordenamento, accionadas por duas viaturas nossas no dia 13 de janeir0 de 1971...

Nhabijóes tem 55 referências no nosso blogue. É um dos topónimos míticos da guerra no leste. O reordenamento foi um dos maiores sucessos da política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"... 

Mas também pagámos (a CCAÇ 12 e a CCS/BART 2917) um alto preço por este êxito: recordemos as duas minas A/C accionadas no dia 13 de janeiro de 1971, vitimando mortamente o sold cond auto da CCAÇ 12, Manuel da Costa Soares, e ferindo, com gravidade,  o alf mil sapador Luís Moreira (da CCS/BART 2917), os fur mil Joaquim Fernandes e António F. Marques (este, esteve dois anos no hospital), os sold Ussumane Baldé,  Tenen Baldé, Sherifo Baldé, Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12, 4º Gr Comb) e ainda um soldado da CCS / BART 2917 (cujo nome não me ocorre agora). 

No meu caso, foi o meu dia de sorte, ia na GMC, no lugar do morto, que accionou a segunda mina, a explosão deu-se n0 rodado duplo, traseiro, do meu lado...  Já aqui escrevi, "ad nauseam": 

(...) "Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele nome. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 404, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até Bambadinca, até ao nosso aeródromo onde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon. 

"Ainda hoje não sei explicar por que razão fui eu, além do condutor, o único do meu Gr Comb (a duas das secções) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC); a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc." (...) 


2. Da história da CCAÇ 12, reproduzo estes excertos:

(...) "A partir deste mês, novembro de 1969, 1 Gr Comb da CCAÇ 12 passaria a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projecto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852.

"Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle. As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à bolanha que confina com a margem sul do Rio Geba, tornava-se impraticável o controle populacional. 

"Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colabora com o IN." (...)

A CCAÇ 12 participaria directamente neste projecto de recuperação psicológica e promoção social e económica da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos seguintes elementos (que f
oram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969):
  • alf mil at inf António Manuel Carlão (1947-2018) (originalmente o cmdt do 2º Gr Comb, que passou a ser comandado por um fur mil);
  • fur mil at inf  Joaquim Augusto Matos Fernandes (comdt da 1ª secção 4º Gr Comb):
  • 1º cabo at inf Virgilio S. A. Encarnação (cmd da 3ª secção do 4º Gr Comb);
  • e sold arv at inf Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7, do 2º Gr Comb)
e ainda 2 carpinteiros (na vida civil):
  • 1º cabo at inf Sousa (?)
  • e 1º cabo aux enf Carlos Alberto Rentes dos Santos.
A CCAÇ 12, além de ficar desfalcado de seis importantes elementos operacionais (e dois grupos de comnbate desfalcados),  participou ainda indirectamente neste projeto.  criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase estava previsto levar a efeito:
  • a desmatação do terreno;
  • a fabricação de blocos de adobe;
  • a construção de 300 casas de habitação com portas, janelas e cobertura de zinco;
  • a construção de equipamentos sociais  (1 escola, 1 mesquita, fontes, acessos, etc.).
(...) "Durante este período a CCAÇ 12 realizaria várias acções, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

"A partir de Janeiro/70 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projecto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à colaboração prestada às NT.

"A partir de abril de 1970, o reordenamento em curso passaria a ser guarnecido por 1 Gr Comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb, durante vários dias.

"A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas e cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começaria quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Sector L1 (em 8 de junho de 1970).

"A partir de Julho, a CCAÇ 12 deixaria de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12." (...)


3. Uma estimativa grosseira do cust0 deste reordenamento aponta para 2700 contos, em 1972 (300 casas de zinco x 9 mil escudos).

Este valor, em 1972, equivaleria, a preços de hoje, a €703.942. Não se incluem os custos de mão de obra, gratuita (civil e militar) nem outros custos indiretos e ocultos (planeamento, formação, ferramentas, segurança,  etc.)... Falta ainda contabilizar a escola, a mesquita, as fontes e outros equipamentos sociais como o posto sanitário, os caminhos, etc.  (**)

O jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues (que vim a conhecer pessoalmente há uns anos), convidado especial de Spínola, para ver as "obras" do seu consulado, escreveu (**):

(...) "As aldeias de zinco, ordenadas e reluzentes, surgem por todo o lado, com a colaboração dos nativos que ambicionam casa melhor, à prova de incêndio e mais parecida com a casa dos brancos, embora menos defendida do calor do sol.

"Dantes só os régulos conseguiam ter casas de zinco. Mas agora 70 reordenamentos foram executados desde 1969, e muitos outros estão em construção, Nove contos cada, não contando a mão-de-obra gratuita. 

"Só na época seca de 1972, de janeiro a junho, foram construídas pelo exército 1642 casas de zinco e 689 casas de c0lmo, além de 42 escolas e 5 postos sanitários. Há reordenamentos de 200 ou 300 casas. 

"Os primeiros eram aldeias estratégicas onde se juntava a populção dispersa de várias tabancas, perto dos quartéis que asseguravam a defesa, e evitavam as infiltrações do PAIGC.  Neste momento   - garantiram-me em Bissau - os reordenamentos são instalados onde houver terreno arável, e, de preferència, nos locais indicados pela população.

"Segundo a doutrina do general Spínola, o reordenamento é um dos dois 'grandes marcos' da política de desenvolvimemto da Guiné" (...)

(...) "Infelizmente ainda tenho que dar tiros,  - explicou-me o outro dia o general - mas a guerra não se ganha aos tiros". (...) (***)
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Notas d0 editor:

(**) Vd. poste de 10 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24820: Notas de leitura (1630): Uma nova leitura da incontornável entrevista de Carlos de Matos Gomes sobre a descolonização da Guiné (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2022:

Queridos amigos,
A vida ensina-nos, no campo da investigação e noutros domínios, que é salutar para a consistência das ideias revermos textos importantes, e no caso vertente a entrevista que Carlos de Matos Gomes concedeu a 2 investigadores do Centro de Estudos de História Contemporânea, do Instituto Universitário de Lisboa, revela-se como uma das peças indispensáveis para o estudo da descolonização da Guiné, que pensaram e como agiram aqueles oficiais na génese da sublevação, como se constituiu o Movimento dos Capitães e o MFA, como foi possível, ato inédito, o grosso dos escol das Forças Armadas na Guiné terem feito o que fizeram; e como é indispensável o seu olhar para se entender o que foi a desmobilização das poderosas forças do Batalhão de Comandos Africanos, como se verificará no próximo texto.

Um abraço do
Mário



Uma nova leitura da incontornável entrevista de Carlos de Matos Gomes sobre a descolonização da Guiné (1)

Mário Beja Santos

Li pela primeira vez este texto que vem integrado na obra Vozes de Abril na Descolonização, com organização de Ana Mouta Faria e Jorge Martins, uma edição do CEHC – IUL, 2014, provavelmente no ano seguinte e fiz texto para o nosso blogue. 

Correu muita água debaixo das pontes, não se podia imaginar que a questão tivesse arrumada, é obrigatório que haja outras perspetivas sobre a descolonização da Guiné, mas o facto é que esta entrevista se mantém modelar e de indiscutível historicidade. Primeiro, porque este oficial do Exército não foi desmentido minimamente quanto ao processo organizativo na Guiné do Movimento dos Capitães/MFA; nenhuma opinião veio contrariar o que ele escreve sobre os acontecimentos do dia 26 de abril, fenómeno inédito comparativamente ao que se passou em Angola e Moçambique; e numa altura em que se retoma a questão polémica dos Comandos Africanos, com alardes de mentira descarada e de escamoteamento do rigor dos factos, até em pretensas teses de doutoramento, este oficial do Exército relembra tudo quanto se passou ao nível da desmobilização do Batalhão de Comandos Africanos e das duas unidades de Fuzileiros Africanos, preto no branco. Razões, parece-me, que justificam voltar ao texto da entrevista de Carlos de Matos Gomes.

Para os autores deste projeto, o móbil subjacente era o de contribuir para o conhecimento sobre a descolonização portuguesa na parte final, olhando-a sobretudo a partir das dinâmicas locais das três colónias africanas em guerra.

Antes de se referir propriamente ao seu itinerário militar e à forma como se associou, a partir de 1972, à análise da evolução da guerra e as possíveis soluções admissíveis, é recordado nas colónias, tal como em Portugal, o processo da mobilização política foi desencadeado no anúncio da realização do Congresso dos Combatentes, a decorrer no Porto no início de junho de 1973, um elevado número de oficiais prontamente detetou que aí se ia procurar legitimar a continuação da guerra. 

O protesto a partir da Guiné reuniu mais de 400 assinaturas. Estava esta contestação em curso e apareceu outra, face à legislação que procurava suprir a carência de oficiais profissionais através do acesso a uma rápida carreira proporcionada a milicianos com serviço de guerra. Há entendimento de que a campanha contra os decretos deve ser considerada como o acontecimento fundador do Movimento dos Capitães do Exército. Constituiu-se uma rede onde passaram a circular informações, comunicados, cartas de discussão política.

Lá para os finais de 1973 a rede do Movimento dos Capitães encontrava-se organizada em núcleos implantados nos 3 teatros de operações. O entrevistado observa que na Guiné, onde o núcleo dinamizador da discussão política se encontrava em funcionamento desde o segundo semestre de 1972, a fase do movimento organizado começou no verão de 1973. E dá notas precisas. A Comissão Coordenadora formou-se em Bissau com major Almeida Coimbra, os capitães Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano. O núcleo da Guiné do MFA estabeleceu-se em 15 de maio de 1974, possuía uma assembleia de representantes dos 3 ramos das forças armadas, uma comissão central, e haveria uma organização formada depois do 25 de abril, o Movimento Alargado de Oficiais, Sargentos e Praças. Foi nesse contexto que se publicou em 24 de maio a circular do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas integrando representantes deste movimento na cadeia de comando das Forças Armadas.

Retomando ao itinerário curricular de Carlos de Matos Gomes, depois da Academia Militar enveredou na arma de Cavalaria, esteve em Moçambique e Angola, aqui frequentou o Centro de Instrução de Comandos, voltou a Moçambique, foi instrutor na Academia Militar, seguiu-se a comissão da Guiné. Foi duas vezes agraciado com a Cruz de Guerra de 1.ª Classe. 

O seu percurso depois de 25 de abril: comandante do Batalhão de Comandos, na Guiné, em Portugal participou nas campanhas de dinamização cultural; em 20 de novembro de 1975 subscreveu o Manifesto dos Dezoito, documento que congregava militares defensores do poder popular de base. É do domínio público todo o seu intenso percurso literário, tanto na ficção como em obras de História Militar.

“Ofereci-me como voluntário para os Comandos Africanos da Guiné na medida em que entendia que a guerra só por si não tinha nenhuma saída. Queria participar, observar a solução que o general Spínola estava a ensaiar na Guiné então como assessor. Spínola procurava a solução político-militar para a Guiné isto enquanto o PAIGC, após o assassínio do seu líder produzia operações de grande envergadura, o chamado Inferno dos 3 Gs”. 

E considera que a partir daí a situação entrara numa fase de grande degradação. “A Guiné foi o ninho ou embrião de tudo aquilo que veio a ocorrer aqui em Portugal”. Não deixou de aludir à sua consciencialização política e aos contactos que estabeleceu em Bissau com José Manuel Barroso e Jorge Sales Golias.

Refere-se depois à génese e estruturação do MFA no território. Tudo começou com um grupo que integrava o entrevistado, Sales Golias, José Manuel Barroso, Duran Clemente, um oficial da Força Aérea e um engenheiro do Exército, reuniam-se regularmente no Agrupamento de Transmissões. Este grupo irá contestar o Congresso dos Combatentes e fará aliança com os spinolistas. Não deixa de mencionar fatores contextuais que lhe parecem relevantes: o aparecimento do jornal Expresso e as diligências de Spínola à procura de negociação com Cabral. Tem uma palavra sobre a reocupação do Cantanhez, no final de 1972: 

“Nós percebemos que essa operação tinha para o general Spínola, como objetivo explícito, marcar uma presença. Para nós isso significava que ele queria apenas dizer que ia deixar a Guiné mais ou menos como a tinha encontrado, e é isso que irá acontecer”.

Dirá adiante que o mês de maio de 1973 foi revelador da incapacidade de sustentar uma situação apenas pelas forças militares. Spínola parte definitivamente, mas o grupo continuou a reunir-se, e manteve-se muito ativo na altura em que surgem os célebres decretos que agitaram a corporação. Adianta que as cartas enviadas para o governo iriam alimentar divisões dentro do regime, a situação revelou-se imparável, o 1.º decreto foi alterado por um novo decreto, aumentaram os vencimentos depois dessa mudança de ministro. 

Volta a mencionar a degradação da situação militar e diz que as nossas unidades que chegavam à Guiné eram cada vez piores na preparação e que o potencial militar estava degradado. Tem uma palavra para reconhecer o papel importante de Diniz de Almeida na transmissão de informações na placa giratória entre Lisboa e as colónias em guerra. Em Lisboa reunia-se um grupo na Academia Militar.

Considera que os militares na Guiné eram levados a pensar muito politicamente.

“Ali era perfeitamente patente que Portugal tinha uma colónia que não tinham o mínimo de viabilidade. Ficava muito claro que a política colonial portuguesa era irracional! Irracional, porque os grupos que nós queríamos agregar numa entidade política, num Estado-Nação, não tinham nenhuma coerência entre eles, não se identificam com essa identidade que nós queríamos criar. 

"No caso dos Fulas, eles eram inimigos dos povos dali e tinham ligações para o norte, com os Fulas do Senegal e para o interior, com os Fulas da Gâmbia e da zona da Guiné-Conacri. Daí que muitos dos nossos militares africanos tivessem famílias nos países vizinhos. Nós percebíamos que não havia nenhuma entidade política, nenhuma coesão política. 

"A Guiné, por outro lado, tinha um outro aspeto evidente para toda a gente, não tinha nenhuma viabilidade económica. E também não se percebia muito bem o que o PAIGC ia fazer da Guiné, de um território que não tem nenhuma riqueza. E isso punha em causa todo o colonialismo. Volto atrás: na Guiné havia essa consciência da incapacidade de fazer uma argamassa cultural e política daquele conjunto de povos”.

E a sua observação recai sobre os Comandos Africanos: 

“Eles faziam uma leitura como nós fazemos, como eu faço, de que a Guiné não tinha viabilidade como Nação. Eles, quando optaram por ficar com os portugueses, fizeram-no de uma forma muito consciente e, politicamente, muito informada, não por traição ao seu povo. Primeiro, eles não faziam bem a ideia de que povo eram, como, aliás, ninguém na Guiné fazia. Quem fala do ‘Povo Guinéu’, nem fala de guineenses, é o Spínola. Aquela gente que o vai procurar, e nomeadamente os Papéis, que são da ilha de Bissau, é fazer a ligação com aqueles que lhes podem dar alguma coisa e permitir que aquele espaço tenha alguma viabilidade. E era disto que nos falávamos, com franqueza, com o Saiegh e com o Sisseco e com alguns outros”.

(continua)


Carlos de Matos Gomes
Eu, Beja Santos,  e o Zacarias Saiegh, ambos no Pel Caç Nat 52, Bolonha de Finete, 1968
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24807: Notas de leitura (1629): "Memórias de um Combatente na Guiné de 69/71", por Diogo Aloendro; 5livros.pt, 2021 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24819: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (17): O Barroso que não era(é) só a 'carne barrosã' DOP: o comunitarismo agropastoril, segundo o Padre Fontes (1977) - II (e última) Parte: tudo era de todos quando a necessidade oprimia


Foto nº 4 > Barroso, Montalegre, Pitões > Fiadeiro (dia de boda) (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 2)


Foto nº 5 > Barroso, Montalegre, Mourela > Vezeira de vacas  (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 16)


Foto nº 6  > Barroso, s/l > Soqueiros ( (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 35)


Foto nº 5 :  Barroso, Montalegre, Cambezes >  Caniço de milho  (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 29)


1. António Lourenço Fontes é
 padre e etnógrafo. É uma figura mediática, o Padre Fontes. Conheci-o no verão de 1980, em Vilar de Perdizes, Montalegre, onde reside, quando fui a Pitões das Júnias  passar uns dias de férias, 

Foi nessa altura que li a sua obra em dois volumes, Etnografia transmonta,volume: Crenças e tradições do Barroso, 1974; 2º volume: O comunitarismo de Barroso, 1977.


Capa do livro "Padre Fontes,
o romance de uma vida".

Âncora Editora,2ª ed., 2001,
216 pp.
 Autor: Eugénio Mendes Pinto
(com a devida vénia...)
Deste segundo volume tomamos a liberdade de reproduzir alguns excertos onde se descreve, resumidamente, traços do comunitarismo agropastoril de montanha (à semelhança de outras aldeias, como Vailarinho das Furnas, Terras do Bouro, submersa pela barragem do mesmo nome, em 1971;  ou Rio de Onor, Bragança), traços esses que chegaram aos anos 70, no Barroso , e que hoje inevitavelmente desapareceram, ou tendem a desaparecer ou a transformar-se com as profundas mudanças económicas, sociais, demográficas, tecnológicas e culturais ocorridas desde então.

O Lourenço Fontes, ele próprio um Barrosão de alma e coração, começou a fazer recolhas etnográficas, desde os primeiros tempos de seminário, nos anos 50, sendo a sua própria mãe  a primeira (e privilegiada) fonte de informação e conhecimento.

Barroso (ou Terras de Barroso) em sentido restrito  é a região tradicionalmente formada pelos concelhos de Montalegre e Boticas. Os dois concelhos  têm vindo a perder população desde 1960 (vejam-se os números, em milhares): 

  • Boticas: 14,5 (1960); 10,9 (1970); 5,0 (2021)
  • Montalegre: 32,7 (1960); 22,9 (1970); 9,3 (2021)

Estes dois concelhos mandaram muitas centenas de jovens 
para a guerra de África.  Ficaram lá 41 (*).

Em homenagem a este homem, o Padre Fontes, e naturalmente aos demais homens e mulheres do Barroso, mal conhecido (e talvez até mal amado) damos a conhecer alguns dos seus escritos, que também falam de "coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços" (*).


Excertos > Coletivismo agropastoril: Manifestações atuais e antigas do comunitarismo em Barroso - II (e última) Parte (pp. 57-61)

Referència: FONTES, António Lourenço - Etnografia transmontana: II - O 
comunitarismo do Barroso. Montalegre, ed. do autor, 1977, il., 299 pp, + 48 inum, (Tipografia Minerva Transmontana, Vila Real).

O regedor e Junta de Freguesia são hoje as autoridades que superintendem e dão ordens ao povo. É digno de se ver e ouvir o povo junto,  aos domingos e dias antes, fora da igreja e ouvir as ordens do regedor ou juntas de freguesia. Nessas ordens:

  • mandam compor caminhos,
  • consertar pontilhões,
  • reparar moinhos, fornos.
  • combinam a venda ou merca de outro boi do povo, resolvem a chega do boi com o de outra aldeia,
  • marcam o dia de segar o feno do boi,
  • ou outros trabalhos comuns,
  • mandam abrir as regras da regra,
  • avisam e dão ordens de interesse público,
  • marca reuniões extraordinárias para fins utilitários.

E também os populares têm vez de dizer as suas opiniões e razões ou queixas de qualquer roubo, coisa partida, ou falta de comparência de algum favorito, nos juramentos ou coutos.

As fontes e lavadouros são para todos. Há pouco, quase  ninguém  tinha água ao domicílio. Todos, especialmente as moças novas,  à noitinha,  hora poética, iam com os canecos de lata, barro ou madeira.  à fonte. Ali vinham os seus namorados conversar, ajudar alevantar o cântaro.  Algumas,  ao acabar de encher, vazavam-no para terem mais tempo de namorar. As mais velhas até das paredes da fonte fazem urinol, ementes ninguém vem.  

Nos lavadores de água corrente e limpa:

As Mulheres quando se juntam, 

Só falam da vida alheia, 

Começam na lua nova,

 Acabam na lua cheia  (grávidas).


A Câmara fez tanques novos, mas o povo em muitos casos prefere o lavadouro antigo, mais escondido e próprio para lavar e esconder a roupa suja ou rota, e para mexericar ou cusculhar à vontade.

Nas ardenas, ou seja, quando arde a casa do vizinho, todos ajudam com caldeiras e panelas a apagar o lume. E na reconstrução, todos se cotizam.

Se prejuízo é grande, assim é a proporção da ajuda. Arde uma casa. Todos entramna sua reconstrução. conforme as posses e generosidade. Ins dão as traves, outros as ripas,  a palha, outros cplmam, outros dão o vinho, etc.

Nas festas familiares ou no luto, todos são solidários. Dia de boda, todos vão a boda. Compram os homens a vitela, as mulheres os doces (Cambezes,  Padroso).

No enterro,  igualmente,  novos e velhos vão velar o morto no dia da morte,  durante a noite, em que se come e bebe. Uns vão chamar os padres,  outros,  pelos montes,  antes de haver telefone, vão dar parte ao cangalheiro, outros vão abrir a cova.  e as mulheres vão cozinhar para o forno, cozer o carolo, ou em casa,  cozinhar para os padres e gente de fora da terra. Diz o povo:  na morte e na boda verás quem te honra.

Se falta de um animal, cabra da vezeira, vaca, burro ou até pessoa da família, todo o povo vai pelos montes ajudar a procurar o perdido, enquanto um vai rezar  o responso a  Santo António para que depare as coisas perdidas e não as deixe correr perigo. Ao aparecer tocam o sino, para avisar os que andam no monte.

Quando um filho vai à inspecção e fica apurado toda a aldeia é convidada a sentir a alegria na borga, que, rua abaixo, rua acima, os apurados fazem. E na véspera de ir assentar praça, todos os vizinhos, familiares e amigos vão despedir-se dele e  dão-lhe coisas ou dinheiro.

Se emigra, na despedida fazem igual, solidarizando-se na alegria e na saudade.

Alguém está doente. Antes todo o povo  acompanhava quando quando ia o Senhor fora. Fazem o trabalho do doente se ele não pode.

Nos serões,ou se vai para o forno,  que está a cozer, ou está ainda quente,  ou para casa dos amigos ou familiares. O petról é pago por todos â vez.

relógios de pedra públicos. Em Pincães (Cabril) há a pedra de água. (…)

canelhos ou recintos públicos ao ar livre, que servem de retrete a  mais de uma família.(Comua).

pedras de amolar e afiar instrumentos de corte, gadanhos, fouces, machadas, facas, onde toda a gente amola. Seja na pedra do tanque. do adro (Solveira). do pé do Cruzeiro (Gralhas).

maçadouros públicos onde todos podem maçar o linho (Tourém).

Em Vilar de Perdizes, há lagares e alambique  onde alguns podem pisar o seu vinho e cozer o bagaço.  

Em Fafião e Pincães há lagares do azeite para todos, assim como alambiques.

Enfim, tudo é de todos, quando a necessidade oprime. Se o vizinho tem uma vaca e precisa de outra, pede uma vaca, ou uma junta se precisa de um carro.  de qualquer utensílio, o vizinho que tem, empresta.

Quando apareceram os escaravelhos da batateira, agrupavam-se  vizinhos para comprar e utilizar em comum o pulverizador. Para limpar o grão, compravam  em conjunto a limpaderia.

Quando o  forno não cozer e  a vizinha precisa do pão, vai pedir emprestado â que cozeu há pouco e depois passa a torná-lo, quando cozer,.

 Se precisa de lume para acender de manhã, porque a cinza do rescaldo se apagou à míngua de lenha, vai-se pedir uma brasa ou.  numa lanterna,  o lume, a casa da vizinha que fumega.

Quando pare a vizinha,  todas a amigas,  especialmente as que foram à boda, vão nos primeiros 8 dias visitar a parturiente e  levar a  cesta. A cesta é a prenda que se dá: açúcar, arroz. massa, trigo, ovos, etc.

O soqueiro, o alfaiate.  o carpinteiro, o  colmador não eram pagos. tornavam lhe os dias em trabalhos agrícolas. 

O cabeleireiro é pago em alqueires de pão por família. 

Até ao médico (boticairo)  se era pago em alqueires ó ano.

Quando a folha está ceibe, isto é, quando se carrou o centeio das terras, as vacas e outro gado podem pastar livremente nas terras, sejam de quem forem. A vezeira alaga paredes,  come espigas que ficaram, e ninguém pode dizer olé. pois é um direito comum. 

Embora a propriedade seja particular, nesta ocasião, cede ao bem de todos. Também é certo que as messes não pode de pé,  a rés das vezeiras não pode pastar nessa folha, até que   as carradas estejam feitas. Esta ordem de pastar, por vezes, é dada no adro da Igreja pelo regedor.

caminhos e passagem comuns

 águas de régua para lameiros de vários herdeiros, onde cada qual rega dias fixos, ou as horas marcadas Há poços e poças de vários vizinhos ou de  toda a povoação. Umas são para rega, outros é proibido abrir-lhe a água com regar. São reservadas, em todo o Verão,  para  acudir a possíveis incêndios.

Enfim, era um rosário de aplicações do sistema comunal. se fossemos a desafiar todos os casos e momentos da vida do Barrosão. 

Não serei eu o mais indicado para fazer uma observação e análise crítica  e rigorosa do comunitarismo na minha terra. Vivo-o, estou impregnado dele,  como quase todo o Barrosão,  que ainda se não deixou dominar pelo individualismo de origem capitalista.

Por isso, é para mim anormal que,  em Barroso,  se não viva e pratique este modo de vida, enquanto que um estranho à terra nota estas divergências,  de povo para povo. 

Apesar disso, procurei abstrair de mim mesmo e da minha terra,  fazendo-me estranho,  para poder chegar e descrever a nossa originalidade de vida, ao nosso sistema de produção e de consumo.

In: Etnografia transmontana: II - O comunitarismo do Barroso. Montalegre(pp. 57/61)

© António Lourenço Fontes (1977).

[Seleção / fixação e revisão de texto / itálicos e negritos, para efeitos de publicação deste poste; LG. (Com a devida vénia ao autor... )]
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Guiné 61/74 - P24818: Parabéns a você (2219): TGeneral PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)

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Nora do editor

Último poste da série de 2 de Novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24814: Parabéns a você (2218): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD / QG /CTIG (Bissau, 1973/74)

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24817: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (16): O Barroso que não era(é) só a 'carne barrosã' DOP: o comunitarismo agropastoril, segundo o Padre Fontes (1977) - Parte I: do boi do povo à paulada nas chegas e nas feiras

 

Foto nº 1 > Barroso, Montalegre, Covelo do Gerès >  Carreto da lenha (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 32)

 
Foto nº 2 > Chaves, Soutelinho da Raia > Segada (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 24)


Foto nº 3 > Barroso, Montalegre, Paredes do Rio   Antiga esc0ola, com cobertura de colmo (Fonte: Fontes, 1977, op cit, foto 4)

1. O Padre Fontes é uma figura popular na sua região (Barroso, Trás-Os-Montes, concelhos de Montalegre e Boticas). Tornou-se melhor conhecido, e desta vez a nível nacional, quando em 1983 organizou o primeiro Congresso de Medicina Popular para escândalo de alguns, a começar pelo seu bispo,  de Vila Real, que náo gostou da "heresia" de misturar o sagrado e o profano, Deus e o Diabo. 

É padre e etnógrafo. Conheci-o no verão de 1980, na sua casa em Vilar de Perdizes, Montalegre. Fui passar férias em família, mais um grupo de amigos, em Pitões das Júnias, Montalegre (a aldeia mais alta de Portugal, na serra do Gerês, a par da Gralheira, Cinfáes, na serra de Montemuro, ambas a cerca de 1110 metros acima do nível do mar), e onde a maior parte (ou boa parte)  das casas ainda eram de colmo; teria na altura c. de 238 habitantes, hoje menos de 151, contando na emigração, desde o Rio de Janeiro a Paris, pelo menos o triplo da população de 1980).  

E devorei dois dos seus livros, Etnografia transmonta, 1º volume: Crenças e tradições do Barroso, 1974; 2º volume: O comunitarismo de Barroso, 1977.(*).

Deste segundo volume  tomamos a liberdade de reproduzir alguns excertos onde se descreve, resumidamente,  traços do comunitarismo agropastoril de montanha (Rio de Onor e  Vilarinho das Furnas eram até aos anos 50 os exemplos mais típicos e estudados), traços esses que chegaram aos anos 70, no Barroso , e que hoje inevitavelmente desapareceram, ou tendem a desaparecer ou a transformar.se com as profundas mudanças económicas, sociais, demográficas, tecnológicas e culturais ocorridas desde então. 

O Lourenço Fontes, ele próprio um Barrosão de alma e coração,  começou a fazer recolhas etnográficas, desde os primeiros tempos de seminário, nos anos 50, sendo a sua própria mãe  uma primeira (e privilegiadfa) fonte de informação e conhecimento.

Barroso (ou Terras de Barroso) em sentido restrito é a região tradicionalmente formada pelos concelhos de Montalegre e Boticas.

Em homenagem a este homem, e naturalmente aos demais homens e mulheres do Barroso [ região de Trás-os-Montes que todos nós conhecemos mal, ficando pela "carne barrosá" DOP, o "vinho dos mortos" (Boticas) ou o "presunto de Chaves" e pouco mais... ] , damos a conhecer alguns dos seus  escritos, que também falam de "coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços" (*). 

Além disso enriquecem o nosso vocabulário, havendo aqui termos e expressóes que não são  familiares à maior parte dos nossos leitores, nomeadamente citadinos, e alguns dos quais nem sequer ainda vèm dicionarizados:

  • quentar o forno
  • ferrenhas
  • boi do povo
  • chegas
  • pastoria
  • limpaderia
  • tocar gado
  • manteça 
  • carreto da lenha
  • segar
  • mangação
  • colmar / colmador
  • soqueiro 
  • cabaneiro
  • boticairo
  • ceibe
  • pontilhão
  • merca
  • couto
  • ementes o vizinho vai botar um copo / ementes ninguém vem
  • à roda do povo
  • ó ano
  • banços do andor
  • pau de lodo
  • fojo do lobo
  • ardenhas
  • estadulhada, etc.

Excertos > Coletivismo agropastoril:  Manifestações atuais e antigas do omunitarismo em Barroso - Parte I (pp. 55-57)

Referência: FONTES, António Lourenço - Etnografia transmontana: II - O comunitarismo do Barroso. Montalegre, ed. do autor, 1977, il., 299 pp, + 48 inum,  (Tipografia Minerva Transmontana, Vila Real).

(..:) Toda a vida do barrosão está imbuída de sentido comunitário,  familiar.

Todos os trabalhos pesados ou leves são motivos de entreajuda e colaboração:

  • a segada do centeio, do feno, 
  • a recolha dos mesmos, 
  • o arranque ou plantação da batata, 
  • a malhada, 
  • a desfolhada do milho, onde ele predomina, 
  • o carreto da lenha, 
  • a cavada do centeio, 
  • o arranjo dos caminhos, 
  • a abertura dos regos ou presas de rega,
  • os próprios moinhos comunitários, 
  • o forno e a sua obrigatoriedade de quentar
  • a  utilização dos baldios, seja para pasto, carvão, lenha,  roçar mato ou fazer a cavada

são manifestações evidentes e  r
eminisiscências de uma unidade familiar de cada aldeamento.

O boi do povo, um dos maiores  proprietários da aldeia, é  de todos os que têm vacas. Todos colaboram na sua manutenção e pastoria. Todos têm de lhe ir:

  • segar e recolher o feno, 
  • semear as batatas do boi, 
  • recolhê-las, 
  • pedir pão ou milho ou mesmo roubá-lo, quando os mais velhos os não querem dar às boas. 


Em Cambezes, quando é o tempo das ferrenhas tenras,  o boi anda à roda pelos vizinhos, cada um tem de dar ferrenha ao boi ou bois,  tantos dias como de vacas têm para cobrir. Todos pagam ao pastor do boi, conforme o número de vacas.  

Em Pitões pagam em alqueires de centeio  ao que guarda o rego da rega, no tempo da respetiva. O tratador é gratuito, trata do  boi para vender ou chegar com outro.

Nas chegas,  o desporto usual das aldeias do Barroso, todos vão acompanhar o seu boi, de pau na mão,  e rogar aos santos da igreja que ele seja campeão.

Se não for campeão,  ou o vendem,  ou o tratam para vir a sê-lo. Por isso, nem sempre o ser bom reprodutor é o motivo de conservar um boi, mas o ser o melhor lutador. Está aqui uma das razões da degenerescência da raça Barrosã, além de outras.

Nas festas religiosas, mistas de superstição e de cristianismo,  também o sentido de responsabilidade se reparte por todos à roda. Cada comissão nomeia, para o ano seguinte, a comissão respetiva. Um juiz e os mordomos necessários para angariar fundos pedindo pelas aldeias, de saco e alforge, esmola para o santinho. Há devotos que fazem, então promessa de ir pelas aldeias, fazer uma penitência. 

No dia da festa, todos têm de colaborar na manteça dos músicos,  do armador, do fogueteiro, dos padres,  gratuitamente e as horas que fizerem falta.

Nas procissões, os rapazes novos têm até brio de serem eles a pagar, para pegarem nos banços dos andores. Arrematam o banço do andor e todo o percurso, arrotam com o peso de enormes andaimes, em que vai o santo ou santos enfeitados com sedas, balões, fitas, luzideiras estrelas, anjos de papel, dinheiro, etc.

Nas feiras e festas a rapaziada junta-se em determinado local, mais ou menos central, ou a saída do povo, cada qual com o seu pau de lodo, antes, hoje com a sua pistola no bolso. [ A GNR acabou com os paus, diz o autor em nota de rodapé, pág. 56] 

Se tocam gado para a feira, cria, vaca, porco ou burro, esperam uns pelos outros, ou tocam uns o gado dos familiares e vizinhos. Para as crias irem melhor, há um que toca as vacas,  para apoio das crias ou  vitelos de todos. 

Na feira, guardam o gado, ementes o  vizinho vai botar um copo,  à tenda e,  se calhar, até lha vende, pois já sabe quanto vale e quanto tem de pedir aos mercadores,  que passam, fazendo mangação dos possíveis exorbitâncias do lavrador acanhado,  envergonhado no pedir.

Nos barulhos ou contendas,  entre  pessoas da aldeia diferentes,  também a coesão e unidade se manifesta. Um por todos e todos por um,  gritam logo. E toca de desgalhar paulada ou estadulhada nos inimigos do nosso vizinho. 

Há aldeias que não se ligam bem, apesar de serem da mesma freguesia ou muito próximas, que não se gramam por uma pequena questão particular. O Jogo do Pau era espectáculos nestas marés. (Salto).

Até no estrangeiro, o emigrante barrosão  vive e pratica o mesmo modo de vida comunitária. Mal tem trabalho, logo chamam a família e amigos que podem para ali fazer uma segunda aldeia familiar comunal. 

Que o digam todos as comunidades de  Barrosões em várias cidades do mundo. Ludlow, Milford, New Bedford, Mass e  Bridgeport Conn, New Jersey, N.W, nos Estados Unidos da América do Norte. Em Montreal, Ontário,  no Canadá. Em São Paulo, Rio,  no Brasil. Em Paris, Londres, S. Sebastião, Orense, África, Angola ou Moçambique, eram notadas as comunidades de Transmontanos, especialmente os Barrosões, pelo seu sentido de união e colaboração como sendo de uma família só. 

Na manutenção do padre e da conservação de monumentos de interesse público, todos contribuem, por derrama com a sua quota parte,  ou com dias de trabalho. ao padre Todos pagam em alqueires de pão ou milho, vinho, segundo tabela antiga,  e segunda as posses das famílias. 

Ao padre dão além disso,  a lenha para todo o ano, na matança, dão-lhe o melhor do porco, a assadura,  a rodela do pescoço e a língua,  para que fale bem na igreja; vão.lhe fazer os trabalhos agrícolas,  dão-lhe feno para o cavalo etc. 

Os altares das capelas têm zeladoras,  à roda do povo ou por promessa. As capelas são conservadas por comissões,  nomeadas autonomamente,  pelos vizinhos.

In: Etnografia transmontana: II - O comunitarismo do Barroso. Montalegre(pp. 55/57)


© António Lourenço Fontes (1977).


(Continua)


[ Seleção / fixação e revisão de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste; LG. (Com a devida vénia ao autor... ]

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Notas doo editor;

(*) Ver aqui um resumo biobliográfico;:

António Lourenço Fontes, mais conhecido por Padre Fontes, nasceu em Cambezes do Rio, Montalegre, Barroso, em 1940. É um padre católico português "com ampla ação cívica, social, cultural e literária", diz a Wipédia.

É o principal impulsionador do Congresso de Medicina Popular, em Vilar de Perdizes, Montalegre, e das "Sextas-Feiras 13", em Montalegre.  O Congresso de Medicina Popular realiza-se desde 1983 atrai curandeiros, bruxos, videntes,  cartomantes, etc,. além de psiquiatras, antropólogos e... turistas de todo o lado (Em 2023, foi a 37ª edição). Outro evento, que se realiza desde 2002, sob a organizaçáo da Câmara de Montalegre,  é a "Noites das Bruxas"  que decorrem em todas as "Sextas-feiras 13").
 
 Oriundo de um família pobre, de 12 irmãos (o pai esteve emigrado na Américva, em 1927), Lourenço Fontes fomou-se no seminário em Vila Real (1950-1962). Em 1980, concluiu a licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Já desde o seminário era uma figura rebelde e contestatária ("com um terço na mão e o diabo no coração", escreveu ele no seu diário secreto da adolescència). Como jpvem padre, desterrado em Tourém e depois colocado em Vilar de Perdizes, lutou contra a situação política em vigor até ao 25 de Abril de 1974 bem como contra a guerra colonial. No Barroso morreram 41 jovens na guerra de ÁfriCA: 12 em Boticas 12 ( sendo 3 no TO da Guiné); e 29 em Montalegre (9 no TO da TO da Guiné).

Um dos mortos foi o Manuel Lourenço Fontes, que pode ser irmão ou parente do Padre Fontes: tem o mesmo apelido, é natural da mesma terra, Cambezes do Rio, Montalegre, era sold at inf, CCAÇ 2321 / BCAÇ 2837, morreu em combate em 5 de janeiro de 1969, na serra do Mapé, no TO de Moçambique, juntamente com mais 6 camaradas.

 O António Lourenço Fontes editou e colaborou em várias obras: Etnografia Transmontana (2 volumes), Usos e Costumes de Barroso, Milenário de S. Rosendo, Antropologia da Medicina Popular Barrosã, Chegas de bois, Raça Barrosã, Las fronteiras invisibles, Contos da raia, Crenzas e mitos da raia seca ourensana, Ponte da Mizarela, ponte do diabo, Roteiro dos castros de Montalegre, Roteiro dolménico de Montalegre.

Tem ampla colaboração em vários jornais e revistas regionais. Colaborador permanente da RTP, TVE, TVG. Participou em filmes da região: Terra de Abril, Terra Fria, 5 dias e 5 noites, Não cortes o cabelo que meu pai me penteou, Os demónios, documentários para a BBC, TV da Holanda e França, UNESCO, Odisseia...

Fez centenas de conferências por todo o país e no estrangeiro, em universidades, grupos culturais, escolas, autarquias, etc. Organizou diversos congressos, nacionais e internacionais. 

Fundou e dirigiu o mensário Notícias de Barroso (d1971 a 2006). Exerceu as funções de empregado, chefe de pessoal nos Serviços Médico Sociais de Vila Real (Montalegre), de 1973 até 1990. Exerceu as funções de secretário do gabinete da Presidência na Câmara Municipal de Montalegre desde 1990 a 2000 e reformou-se.

É considerado o maior etnógrafo de Trás-os-Montes depois do Abade de Baçal. O Ecomuseu de Barroso tem o seu nome. Em 2012, por iniciativa dos deputados eleitos pelo distrito de Vila Real foi solicitado ao Presidente da República Portuguesa que o Padre Fontes fosse distinguido com a Ordem do Mérito.

Apesar dos seus 83 anos e da doença de Parkinsom, ele continua a ser um trabalhador incansável e um Barrosáo apaixonado pela sua terra.