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sexta-feira, 9 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22085: FAP (124): António Galinha Dias, o ex-fur mil pil, que fez a helievacuação do cap cubano Peralta, em 18 de novembro de 1969 (Miguel Pessoa, cor pilav ref)


Foto nº 1 A > Mira-Sintra / Meleças > 2018 > O ex-fur mil pil António Galinha Dias, BA 12, Bissalanca, 1968/70. É hoje sócio-gerente da firma Agroar - Trabalhos Aéreos Lda. com sede em Évora.


Foto nº 1 >  Mira-Sintra / Meleças > 2018 > Convívio de pessoal da FAP que voou na Guiné. O segundo a contar da esquerda é  ex-fur mil pil António Galinha Dias, que fez a helievacuação do cap cubano Pedro Rpodriguez Peralta, em 18 de novembro de 1969, sendo a enfermeira paarquedista a Maria Zulmira.

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do Miguel Pessoa, herói dos céus da Guiné, ferido em combate por um míssil Strela, ex-ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972-74, hoje cor pilav ref, com mais de 2 centenas de referências no nosso blogue:

Date: quinta, 8/04/2021 à(s) 14:50
Subject: Piloto do heli que evacuou o Peralta (*)

Olá, Luís.

Encontrei esta foto do Galinha Dias,  tirada num convívio de pessoal que voou na Guiné, realizado em 2018. 

O Galinha Dias é o 2º da esquerda, de blusão cor de tijolo [. Foto nº 1, acima]

Abraço.  Miguel
_____________

quarta-feira, 17 de março de 2021

Guiné 61/74: P22014: Memórias cruzadas: 18 de novembro de 1969: uma dia (a)normal no HM 241, Bissau, um dia na vida do cap cubano Pedro Rodriguez Peralta, ferido em combate e helievacuado [Jorge Narciso, ex-1º cabo esp, MMA, BA, 12 (Bissalanca, 1969/71) / Jorge Teixeira 'Portojo' (1945-2017), ex-fur mil, Pel Can s/r 2054 (Catió, 1968/70 ) / Manuela Gonçalves (Nela), esposa do ex-alf mil Nelson Gonçalves, cmdt Pel Caç Nat 60 (São Domingos, 1969)]



Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 (1969/71) > Jorge Narciso, ex-1º cabo especialista MMA, junto a um helicóptero Alouette III.

Foto: © Jorge Narciso (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > A primeira mina A/C detetada e levantada: na imagem o alf mil Nelson Gonçalves e o 1º cabo Manuel Seleiro.



Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > O estado em que ficou a viatura, Unimog, em que ia o alf mil Nelson Gonçalves.


Fotos (e legendas): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Onze anos depois, reproduz-se aqui um poste do Jorge Narciso (*) com um comentário ao poste P5741 (**) do nosso saudoso Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2107) (**)

O pretexto é a efeméride da captura, ferimento e helievacuação do cap cubana Pedro Rodriguez Peralta, no corredor de Guileje, em 18 de novembro de 1969 (***).

Foi numa terça-feira (, depois de ter lançada na sexta-feira anterior), andava a Apolo XII já em órbita lunar, com 3 astronautos a bordo (, como se pode ler no título de caixa alta da edição do  vespertino "Diário de Lisboa", desse dia...)


Lisboa > Semanário "Expresso" >Edição
de 15 de dezembro de 1973 >O capitão
cubano Peralta no Tribunal Militar
de 1º instância. Uma foto  que a censura
não deixou publicar.
Um dia de azar, esse dia 18 (e, ao mesmo tempo,  de sorte) para um cubano, apanhado em emboscada, montada para o 'Nino' Vieira, no corredor de Guileje (ou "corredor da morte"), pelos nosos camaradas do BCP 12... Ficou para a história como a Op Jove (16-18 de novembro de 1969). 

Apesar de ferido, com gravidade, o cubano 
foi salvo pelos seus captores e enviado, de helicóptero, para o HM 241, em Bissau, onde a equipa cirúrgica  (onde se incluia o camarada José Pardete Ferreira) fez o seu melhor para lhe salvar o seu braço direito. 

Há dois testemunhos sobre esse dia,
 que vale a  pena  "repescar", o do Jorge Narciso,  1º cabo especialista MMA, BA 12, 
Bissalanca  (1969/71) e o  do  Jorge (Teixeira, (Portojo,  ex-fur mil arm pes inf, 
Pelotão de Canhões S/R 2054  (Catió, 1968/70)  (foto abaixo). 


Jorge Teixeira (Portojo)
(1945-2017)
Mas uns dias antes, a 13, na quinta-feira anterior [na véspera da Apolo XII ser lançada], o alf mil Nelson Gonçalves, cmdt do Pel Caç Nat 60, é também ferido gravemente, em combate: o Unimog em que seguia, accionou uma mina A/C.  

Dias mais tarde, acorda,  sem um perna, num quartdo do HM 241, Bissau... Justamente  na cama ao lado,  está um estrangeiro, o cap cubano Peralta. 

O drama foi-nos contados pela sua esposa, a Manuela Gonçalves (Nela) , membro da nossa Tabanca Grande da primeira hora, em dois postes de  2006 (****).

Nessa altura, em novembro de 1969, a Nela era uma jovem estudante universitára, vivendo a guerra à distância, mas com a morte na alma, com o seu namorada, Nelson Gonçalves, a combater na Guinjé... Já casada, anos depois, desloca-se à Guiné-Bissau, com a família, para exorcizar os seus fantasmas... Da paixão à cooperação foi um passo... Por volta de 2005/2006, descobriu o nosso blogue, que passou a visitar regularmente-

Na altura em que tanto o Pedro Rodriguez Peralta como o Nelson Gonçalves foram parar ao HM 241, um dos cirurgiões que lá estava colocado, era o nosso camarada José Pardete Ferreira (1941-2021)... (E já lá estava, internado,  com problemas do foro respiratóriio, o Jorge Portojo: da varanda sua enfermeria, no 1º andar, tinha vista desafogada  para o heliporto.)

Recorde-se que, no seu livro "O Paparratos", o José Pardete Ferreira  conta-nos que, por razões de segurança, o enfermo (e prisioneiro) Peralta mudou de cama e de enfermaria, mas quem não gostou nada da troca foi "um pobre de um alferes miliciano", com uma perna amputada por um mina (não A/P mas A/C), que ficou no lugar do cubano... Lamentava-se ele [, sabemos agora quem era, o Nelson Gonçalves], e com razão: "Se os gajos [o PAIGC] cá vierem, quem lerpa sou eu"... (p. 145) (***).

Registe-se, para a história, o nome, já esquecido, da Maria Zulmira Pereira André (1931-2010), a nossa Maria Zulmira [, foto à direita],  tenente graduada enfermeira paraquedista: foi ela quem,  competente e denodamente, acompanhou a evacução Ypsilon do cap Peralta. Resta saber quem era o peilo do AL III.


2. Um dia nas nossas vidas...

por Jorge Narciso [, foto atual, à esquerda] (#)


De Jorge (Narciso)  para Jorge [, Teixeira, 'Portojo', infelizmente já falecido em 2017]

Caro: Ao passar hoje pelo blogue, de imediato me chamou a atenção a foto do heli aterrado no HM 2141, Bissau, contida no teu poste

E como a ti, também ela me suscitou um tal corropio de lembranças, que, acredita-me, quase me atordoam. Tentando alinhar ideias:

Como mecânico dos helis, foi exactamente 

Bissau > 1969 > O Heliporto do HM 241.
Foto de Jorge Teixeira (Portojo)
(2010)
no Hospital Militar que (excepção feita, naturalmente, à BA 12, em Bisslanac) mais vezes aterrei na Guiné. E também a mim as recordações que suscita, serão tudo menos agradáveis. Seja a da lembrança das condições (fisicas e ou psicológicas) infra-humanas de homens que para ali transportei, seja a indescritível visão da sala de horrores, chamada triagem, onde eles eram colocados; de cada vez que ali tinha que ir recuperar macas. São imagens que jamais se esquecem.

Mas outra lembrança conseguiste, com o teu poste, desenterrar do fundo do meu subconsciente, a da evacuação do Capitão Peralta, a qual passo a transmitir, a quente, tal como a memória me debita.

Antes porém e à falta de outros registos, resolvi ir ao Google e digitar: Capitão Peralta.

Resultados:

(i)  Ferido e capturado em 18 de novembro de  1969 durante a operação Jove, realizada pelos Páras [BCP 12] entre os dias 16 e 19, no corredor de Guileje;

(ii) A  base dessa operação, a partir de onde os Paras foram heli-transportados, foi Aldeia Formosa.

Vamos agora à minha memória, que espero não me esteja a atraiçoar, sequer a iludir, e na qual (apesar da evidente redução de neurónios) quero ainda confiar.

Coloco os resultados dessa pesquisa em dois planos:  das quase certeza (ou com menor grau de falibilidade) e o das incertezas associadas, que evidencio entre parêntesis.

Assim:

(1) Eu só não estava no voo em que viste o Capitão Peralta aterrar no HM 241, pelas condições extraordimárias em que decorreu essa evacuação, cujos contornos passo a descrever.

(2) Em operações como esta, em que, independemente da Tropa participante, a base se situava num aquatalamentos longe de Bissau, para aí se deslocavam normalmente: 5 helis + 1 helicanhão, transportando uma equipa de manutenção e uma enfermeira paraquedista.

Dali partiam, então, fazendo as viagens necessárias para, transportando 5 ou 6 militares por heli, os colocar, protegidos pelo canhão, na ZOPS..

Se a operação se resumia a um dia, permaneciam os helis nessa base em alerta, para: evacuações, eventuais transportes das Tropas para outras posições na mesma ZOPS e finalmente para a sua recuperação no final da Operação.

Nos casos em que a Operação fosse por mais de um dia, ficaria em todos os dias em que esse decorresse e na base da mesma, no minimo um heli de alerta (com Piloto, Mecânico e Enfermeira) para eventuais evacuações e o helicanhão para protecção destas e para intervenções de tiro, se solicitadas.

(3) Nesta operação em particular, a Op Jove, é seguro que estive presente, desde logo porque recordo perfeitamente o objectivo apontado para a mesma (nos helis e durante os voos, mesmo que não quiséssemos, ouvíamos muita informação dita classificada): captura do 'Nino'Vieira. .

(4) No dia 18 de novembro de 1969 (Precisei a data na citada consulta na Net), portanto no 3º dia da Operaçãp, voei (seguramemte de Aldeia Formosa) para essa ZOPS onde aterrei [, no corredor de Guileje], no helicóptero que fez a evacuação do Capitão Peralta, não continuando no voo para o HM de Bissau,

Porquê?

(5) Os Alouette III têm capacidade para transportar 6 passageiros, para além do piloto (este e mais dois à frente) e até 4 no banco traseiro.

Em evacuações com feridos em maca, essa capacidade ficava reduzida, pois para além dos 3 lugares à frente, normalmente ocupados pela tripulação (Piloto, Mecânico e Enfermeira, na maioria dos casos), apenas é possivel alojar 1 ou 2 macas na rectaguarda, que, por transportadas transversalemente, impedem (ou dificultam, algumas vezes me tocou vir meio sentado meio em pé, nas abas da maca) utilizar os lugares traseiros.

No caso desta evacuação (Cap Peralta), tendo sido determinado, no terreno, que o capturado devia ser acompanhado no voo por escolta armada, foi necessário ocupar, por quem a fez, um dos lugares destinados à tripulação.

Para resolver o problema e - repito - se a memória não me atraiçoa, registou-se um caso que me lembre único:

(6) O helicanhão, que fazia a protecção à evacuação, aterrou na ZOPS, nele tendo embarcado o mecânico (eu próprio) e voado (junto ao apontador) para Aldeia Formosa, donde posteriormente regressei a Bissau (outra nebulosa, é que não me recordo como - noutro heli ? de DO 27 ? ), pois no helicanhão não foi concerteza.

Como remate a estes factos, este voo no helicanhão foi para mim perturbante, pois que uns meses antes (Julho de 1969. o eu 3º mès de Guiné) estive também para voar (nesse caso por experiência passiva que, para sorte minha, não concretizei) no retorno duma outra Operação em Galomaro, voo esse com um fim trágico, traduzido no despenhmento do heli (a que assisti) ocorrido em Bafatá, com a morte do meu comandante, o maj pilav Rodrigues  e dum camarada de todos os dias, o Machadinho - como lhe chamávamos - , Mecânico de Armamento/Apontador.

Um dia destes tentarei fazer o relato que me for possivel desta outra dramática ocorrência.

Voltando ao poste e à tua solicitação ao Jorge Félix (tantos Jorges), quase seguramente ele ainda estava nessa data na Guiné.

Como atrás referi, não me lembro se terá sido inclusive participante nos factos, em qualquer caso terá certamente presente memórias relacionadas e, quem sabe, como tem a sorte (que a FAP me coartou) de ter os seus registos de voo, pode buscar nos mesmos confirmações.

[# Título, revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste poste P22014]

_______________

Notas do editor:



(**) Vd. poste de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5741: Blogoterapia (142): Aquela janela virada para o heliporto (Jorge Teixeira/Portojo)
 

HM 241 > Novembro de  1969 > O
Jorge Teixeira (Portojo)
à janela...


(...) Estava lá eu na tal janela virada... no primeiro quarto, do primeiro andar, frente, direito, do HM 241, em Bissau,  e ouvi chegar um Heli. Logo os habitantes vinham ver do que se tratava, pois além de ser um passatempo a contabilização dos que chegavam por este meio transportados, queríamos sempre saber de quem se tratava. Porque até poderia ser um dos nossos mais íntimos. 

Neste dia quem chegou foi um barbudo (fiz uma foto, que veio para os amigos da metrópole, mas como tantas outras, desapareceu).. Pensámos, pelo seu aspecto: "Olha um Fuza. Fodeu-se"... Mas não era, soube à noite quando fiz a ronda do costume para passar o tempo, estranhando ver Comandos de sentinela à porta, que era um cubano, de nome Peralta. Não me dizia nada. Depois disse. Por isso a tal foto para a rapaziada da metrópole... Mais tarde, anos depois, soube da sua libertação [em 15 de setembro de 1974]..

Mas a conclusão é: Será que o Jorge Félix  [, ex-alf mil pil, BA 12, Bissalanca, 1968/70] se recorda ou até terá dado a sua colaboração a esta operação?

Por casualidade, o José Manuel  Cancela também estava hospedado, na mesma altura, no mesmo Hotel Militar de Bissau. Mas no terceiro apartamento. Só o soubemos há dias quando entreguei esta foto - entre outras - para o Carmelita digitalizar e ele viu. Estórias de vida." (...) 

Vd. também poste de 1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo)

(***) Vd. postes de:


15 ede março de  2021 > Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)

(****) Vd. postes de: 

8 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P596: Dia Internacional da Mulher (1): Sara Martins, presente! (José Martins) e A Guerra no Feminino (Manuela Gonçalves)

(...) Que se passava? Um aerograma de um amigo, Alferes Baptista, no Q.G. em Bissau, deu – me a notícia: uma mina tinha rebentado com o Unimog, quando ele [, o Nelson Gonçalves,]e o seu pelotão, o Pel Caç Nat 60 (*****),  seguiam numa patrulha. Ele estava no HMP em Bissau, em coma. Era dia 13 de Novembro de 1969, 10:30 da manhã.

Restava-me esperar que o trouxessem para Lisboa e falar diariamente com um médico, amigo de uma tia, que prestava serviço no Hospital em Bissau. E de longe fui acompanhando o seu estado! Mais tarde um lacónico aerograma dele, muito parco em palavras, cheio de silêncios, confirmava-a.

Apesar de toda a dor e angústia sentidas, uma grande alegria: ele estava vivo. Os sonhos continuavam adiados, mas não jogados fora. Uma nova etapa nas nossas vidas havia começado! (...)

26 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P634: Uma mina na estrada de São Domingos para Susana (Manuela Gonçalves)

 (...) O flagelo das minas continua e não sei mesmo se muitas delas não serão ainda daquelas que foram colocadas na guerra colonial. A coincidência transportou-me até  [13 de] Novembro de 69.

Foi naquela mesmo estrada - de São Domingos para Susana - numa operação de reconhecimento da via, que o Unimog em que o maridão seguia, pisou uma mina anti-carro. No Unimog, uma outra mina anti-carro, levantada cerca de 300 metros antes, era transportada atrás e, por mero acaso, não rebentou, o que teria sido catastrófico para todo o pelotão!

A mina tinha sido accionada pelo pneu do lado direito, pelo que o maridão foi atirado para fora, em estado crítico, não tendo o condutor sofrido senão pequenos ferimentos, apesar da força do embate!

Um helicópetro transportou-o para Bissau, tendo acordado uns dias mais tarde numa cama no Hospital Militar, sem uma perna e tendo por companheiro de quarto o capitão Peralta, cubano, cuja captura tão noticiada era nos media de então. (...)



(*****)  Sobre o Pel Caç Nat 60 e a mina que vitimou o alf mil Nelson Gonçalves: Vd. postse:

 Guiné: Pel Caç Nat 60 > 

Terça-feira, 7 de maio de 2019 > P185: Aniversário do Pel Caç Nat (60)

Quarta-feira, 4 de novembro de  2009  > P13: O Nhambalã

(i) Foi formado a 7 de Maio de 1968, em S. Domingos;

(ii) estve com a CCS/BCaç.1933, CCaç. 1790, CCaç. 1791, em São Domingos, de maio a fins de novembro de 1968;

(iii) seguiram para Ingoré, ficando adidos à CCaç 1801 de novembro de 1968 até agosto de 1969;

(iv) reegressaram a a S. Domingos, em agosto de 1969, fiacando adidos à CCav 2539.

(vi) ficaria aquartelado em S. Domingos /Susana, até ao ano de 1974;

(vii) o primeiro comandante  foi  o ex-alf mil  Luís Almeida, rendido pelo ex-alf mil Nélson Gonçalves 
(, ao tempo do BCAV 2876, São Domibgos, 1969/71);

(viii) a 13 de novembro, de 1969 a viatura em que seguia  o Nelsom Gonçalves, acionou uma mina anti-carro sendo este sido ferido com gravidade, e helievacuado para o HM 241 e depois para o HMP;

(ix )de vovembro de 1969 a janeiro de 1970, o pelotão foi comandado pelo ex-fur mil  Rocha.

(x) em janeiro de 1970 o ex-alf mil Hugo Guerra comandava o pelotão,  sendo ferido no dia 10 de Março,  quando o 1º cabo Manuel Seleiro desativava uma mina anti-pessoal.(...)

terça-feira, 16 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22011: Recortes de imprensa (114): O Capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta, "preso político antes do 25 de Abril", "prisioneiro de guerra" depois... libertado em 15 de setembro de 1974 (Diário de Lisboa, 16 de setembro de 1974)


Citação:
(1974), "Diário de Lisboa", n.º 18563, Ano 54, Segunda, 16 de Setembro de 1974, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4810 (2021-3-15) (*)



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Recorte do Diário de Lisboa, edição de 16 de setembro de 1974, pp. 1 e 10 (com a devida vénia...) (*)


Guiné > Bissau > HM 241 > 14 de setembro de 1974 > Os últimos prisioneiros portugueses. Entre eles, o nosso camarada, membro da Tabanca Grande, António da Silva Batista (1950-2016), o último do lado direito. O Fortunato Dias é o terceiro, também a contar da direita.


Os sete camaradas nossos que foram trocados por 35 militantes ou simpatizantes do PAIGC, presos pelas NT, não eram, segundo as autoridades militares portugueses da época, "prisioneiros de guerra"...

Essa figura jurídica não existia... Não podia haver "prisioneiros de guerra" pela simples razão de que, para o regime de Salazar (e de Caetano), Portugal não estava em guerra contra nenhum país estrangeiro. Tinha uma "guerra de subversão", nas suas províncias ultramarinas, apoiada por algumas potências estrangeiras, mas limitava-se a responder, para manter a paz e a ordem, contra os que, internamente, alimentavam essa guerra...

Nessa medida, a Convenção de Genebra não se aplicava (ou não tinha que se aplicar, do ponto de vista legal) no TO da Guiné (e noutros teatros de operações, Angola e Moçambique)... Militar português capturado pelos "nossos inimigos" era classificado como "retido pelo IN"... Elemento subversivo ("terrorista") capturado pelas NT devia ser tratado como um vulgar "preso de delito comum" (e entregue depois à PIDE/DGS, para obtenção de informações relevantes pata a "segurança interna")... Era, grosso modo, essa a "doutrina vigente"...

Mas honra seja feita ao gen Spínola que era um dos que, dentro da Junta de Salvação Nacional, se opunham à libertação do Peralta enquanto não fosse garantida a entrega dos 7 prisioneiros portugueses pelo PAIGC. O que veio a acontecer no dia 14 de setembro de 1974, em Aldeia Formosa (Quebo).

Foto de Duarte Dias Fortunato (2016). Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (**)


2. Comentário do editor LG:

As declarações do Peralta ao "Diário de Lisboa", em 15 de setembro de 1974, momentos antes de embarcar no avião para Madrid que o levaria de regresso a Havana, quase cinco anos depois da sua captura no corredor de Guileje, na Guiné, em 18 de novembro de 1969 por forças do BCP 12, comandadas pelo cap pára João de Bessa, têm de ser entendidas no contexto da época: era um tipo educado, e, mais do que isso, amável e até sedutor; estava naturalmente agradecido aos seus captores (e aos serviços de saúde militares) que lhe salvaram a vida, e às autoridades que o libertaram, depois de cinco anos de "estadia forçada, não prevista" em Portugal, e a maior parte do tempo sob a "custódia" da polícia política do antigo regime... (que ele alega que o terá torturado, física e moralmente, e é de todo provável.) Acabou por ser condenado em 2 anos e 2 meses, pelo tribunal militar, por posse ilegal... de arma de fogo!

Tinha havido em 25 de Abril de 1974 uma mudança de regime em Portugal. Peralta foi "politicamente correto", como lhe convinha.  E não se esqueceu de agradecer aos profssionais de saúde portugueses que fizeram tudo para o salvar e tratar, quer em Bissau quer depois em Lisboa (Hospital-prisão de Caxias, Hospital Militar Principal, Hospital da Cruz Vermelha).

"Tratamento VIP" em Bissau e em Lisboa, apesar de ter passado pela Trafaria e por Caxias... Por exemplo, o Hospital da Cruz Vermelha (onde foi internado em maio de 1973) não era para todos (e muito menos para os combatentes portugueses feridos na guerra de África)... Por lá passou Salazar (cujo internamento em 1968 custou ao Estado Português o equivalemte a 1,5 milhões de euros)... E por lá passava o escol médico-cirúrgico  da época. Simples curiosidade: quem pagou a conta do Peralta? O advogado, sabemo-lo, que foi contratado pela embaixada de  Cuba... (Os dois países mantêm relações diplomáticas  há mais de 100 anos, ou seja, desde 1919, independentemente dos regimes políticos que se sucederam, num e no outro lado.)

Teve igualmente tratamento VIP por parte de alguns movimentos e partidos da chamada extrema esquerda revolucionária de então. Nas declarações que faz ao "Diário de Lisboa", acima reproduzidas, há referências às manifestações em prol da sua libertação, que se sucederam frente ao Hospital da Estrela, e que ele consideram excessivas... “O povo português libertará o capitão Peralta”, escrevia o MRPP num comunicado em que pedia “Todos à Estrela”, a 26 de maio de 1974.

Terá havido também pressões norte-americanas, e igualmente do Vaticano e da Bélgica, para o Peralta ser trocado  por um alegado agente da CIA, preso e condenado em Havana, Lawrence Kirby Lunt (e não Hunt), casado com uma belga... Ao que parece acabou por ser também usado como moeda de troca com o PAIGC que tinha, nas suas prisões, 7 militares portugueses ainda por entregar. (**).

Quanto ao seu "estatuto" nas fileiras do PAIGC, não sabemos o que é que as autoridades portuguesas, antes e depois do 25 de Abril, apuraram... Ele não foi, como pretende dar a entender um simples observador com "livre trânsito" nas "áreas libertadas"... Não, ele devia ter tido outra missão, quer como "consultor militar", quer como "instrutor militar"...  

Muito provavelmente o seu advogado, com larga experiência na defesa de presos potlíticos nos tribunais plenários do Portugal de então, deve tê-lo aconselhado a nunca admitir que era um combatente integrado nas fileiras do PAIGC, estatuto, de resto,  que o próprio Amílcar Cabral não gostava de atribuir aos cubanos, até porque isso significava "menorizar" os seus combatentes, os seus militantes, nacionalistas guineenses... 

Mas a verdade é que o Peralta estava, ao que parece, armado quando foi ferido e, depois, capturado. Se terá percorrrido ou não os 1800 metros na mata, a sangrar (com 4 balázios, de 7,92 mm, da temível metralhadora MG 42 do então 1.º cabo pára Regageles), não  o sabemos... Nem sabemos  se os seus captores confirmaram esta versão no Tribunal Militar de Santa Clara onde o Peralta foi condenado a 2 anos e 2 meses de prisão... 

E a propósito, o Bessa e o Ragageles encontraram-se com o Peralta, 40 anos depois, em Lisboa, em Belém, num gesto de grande nobreza, pouco vulgar, e  que merece ser aplaudido [, foto à esquerda]. 

Aliás, o Peralta já tinha estado em Portugal e na Guiné-Bissau, vinte anos depois da sua captura, tendo reonstituído a sua odisseia, a convite do Expresso ("Cubano prisioneiro de guerra" | Texto de José Manuel Saraiva | "Expresso", 16 de março de 1996).

[Foto acima: da direita para a esquerda, Ragageles, Peralta e Bessa,  junto ao monumento dos combatentes do Ultramar. Foto: cortesia da página do Facebook Paraquedistas não são arremachos, 16 de novembro de 2018.]

Poutro lado, foi recebido por Fidel Castro, em Havana, com um herói, passando de resto a figurar, no discurso de propagando do regime castrista, com o mais célebre célebre dos 437 combatentes (sic) (***)  que terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974, e dos quais oficialmemte morreram  nove. (Achamos que o número, 437,  pode estar inflacionado; mas admitindo que está correto, a taxa de letalidade terá sido de 2%; desconhecemos o número de feridos.)

Por fim, subscrevemos o que se escreveu na supracita página do Facebook a propósito do sucesso da Op Jove: 

(...) "Uma das mais brilhantes missões executadas durante a Guerra Colonial coube aos militares do BCP 12 (Companhias 121 e 122). Brilhante não pela quantidade de baixas produzidas ao inimigo, ou ao volume de material capturado, mas pela primeira vez, no território da Guiné, era capturado um militar estrangeiro, que sob o rótulo de "conselheiro militar" participava na luta armada ao lado dos guerrilheiros do PAIGC.

"Este êxito sem paralelo, caso obtido por outras tropas, seria mencionado até à exaustão. Mas os Paraquedistas, perfeitos na humildade e na modéstia, sóbrios e decentes quanto decorosos e convenientes, cumpriram a missão, sem grande exibicionismo ou ostentação." (...). 

 _____________

(**) Vd. poste de 29 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15911: (Ex)citações (306): A propósito da última troca de prisioneiros, em Aldeia Formosa, no dia 14 de setembro de 1974....Prisioneiros, não, "retidos pelo IN"...

(***) Dora Pérez Sáez - Recuerdan misión militar cubana en Guinea Bissau: Internacionalistas cubanos de La Habana y Pinar del Río que combatieron en Guinea Bissau y Cabo Verde se reunieron en la Casa Central de las FAR". Juventud Rebelde. ,martes 29 mayo 2007 | 12:43:23 am.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22008: Notas de leitura (1346): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte III: Rui Angel, aliás, Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, o mais famoso prisioneiro da guerra colonial... Aqui tratado com humor desconcertante (e humanidade) (Luís Graça)


Citação:
(1974), "Diário de Lisboa", nº 18563, Ano 54, Segunda, 16 de Setembro de 1974, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4810 (2021-3-15)


Capa do livro

FERREIRA, José Pardete - O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971. Lisboa : Prefácio, D.L. 2004. 169 p., [12] p. il. : il. ; 24 cm. (História militar. Memórias de guerra). ISBN 972-8816-27-8.

1. No romance (ou melhor, livro de memórias, ficcionado) "O Paparratos", J. Pardete Ferreira (*),  há  um capítulo, o XXI (pp. 141-146) dedicado a "O Cubano", o capitão Pedro Rodriguez Peralta, a quem o autor chama Rui Angel:

(...) Era pequeno de estatura, não ultrapassando o metro e sessenta e cinco, magro e seco, com a pele muiti branca e polvilhada de microscópicas sardas, ruivo de barba completa, rala e ausente nalguns locais" (p. 141)-

Não sabemos se a descrição fisionómica está inteiramente correta, mas é feita por um dos cirurgiões que o operou no HM 241, o autor (*), sendo o cirurgião principal o dr. Carlos Ferreira Ribeiro, já falecido (, no livro, o dr. Celso Rosa, ortopedista,  p. 143)

Recorde-se o que acontecera antes:   capitão do Exército Cubano, Pedro Rodriguez Peralta, de 32 anos (, nascido por volta de 1937), instrutor militar ao serviço do PAIGC, é gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira.


2. Demos aqui a palavra ao(s) autor(es) da página do Facebook, Paraquedistas não são arremachos, 18 de novembro de 2018:

(...) A "Operação Jove" tinha sido cuidadosamente planeada. Dias antes da partida para a operação, um avião da FAP levando a bordo o cmdt do BCP , Tenente Coronel Fausto Marques e o cmdt da Companhia [, CCP 122,] João de Bessa, observam a zona e o melhor local para a emboscada à coluna militar do PAIGC.

De forma a cumprir as ordens do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, às primeiras horas de 16 de Novembro de 1969, 40 militares da Companhia 122 , reforçados com 9 voluntários da 121, embarcam em 10 Alouette para o Corredor de Guileje, com a informação que a coluna inimiga traria 'Nino' Vieira, ao tempo, o mítico Comandante da Frente-Sul.

Os 50 paraquedistas levam rações de combate para três dias. Caminham a pé um dia e uma noite, evitando os trilhos para não serem detectados, e progridem debaixo de chuva por entre mata densa. Cerca das 10 horas da manhã de 18 de Novembro, os praquedistas chegam ao ponto da emboscada.

Ainda não completamente posicionados, apercebem-se de vozes ao longe. Um pequeno grupo composto pelo Capitão Bessa, Sargentos Neves Pereira, Mota e Valentim Gomes, 1ºs Cabos Ragageles, Carvalho e Rodrigues e Soldado Doce, aproximam-se da picada.

De repente foram ouvidas vozes de dois individuos, um negro e um branco que seguiam em direção à fronteira. O capitão Bessa dá sinal de fogo ao apontador da MG-42, 1º Cabo Ragageles. A primeira rajada abateu o guerrilheiro negro e feriu o branco. Iniciada a perseguição, com meia dúzia de páraquedistas, e tendo por base o rasto de sangue, é consumada a captura.

Encontram-no caído numa poça de sangue. Tem um braço quase arrancado, perdeu muito sangue, está entre a vida e a morte; o Sargento Vítor Francisco rápidamente trata-lhe dos ferimentos. Veio a saber-se que se chamava Pedro Rodriguez Peralta, Capitão do exército cubano. (...)

Enviado para o HM 241 (Bissau) e depois para Lisboa, foi devidamente tratado pelas autoridades portuguesas. Foi julgado em Tribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. 

Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado. Aliás, houve manifestações (do MRPP e outras organizações da chamada extrema revolucionária) a favor da sua libertação incondicional. Os americanos queriam trocá-lo por um alegado espião preso em Cuba...

Peralta, que fez amigos em Portugal, pode ser visto aqui numa reportagem da RTP, no aeroporto de Lisboa, em 15 de setembro de 1974, sempre sorridente e amável na presença entre outros do seu advogado, Manuel João da Palma Carlos (1915-2001), momentos antes de embarcar para Havana onde foi recebido como herói... 

Antes do 25 de Abril, era considerado um "preso político", o governo de então recusava-se a tratá-lo ocmo "prisioneiro de guerra", negando haver uma guerra na Guiné. Depois do 25 de Abril, mudou o seu estatuto: passaria a ser "prisioneiro de guerra", não ficando abrangido pela amnistia aos presos políticos... E só foi libertado, em 15 de setembro de 1974,  após a entrega, pelo PAIGC, dos "prisioneiros de guerra" portugueses, entre os quais o nosso saudoso António Batista, o "morto-vivo".

Sabe-se que, em 2008, com o posto de coronel reformado, pertencia ao Comité Central do Partido Comunista Cubano. Era seguramente o mais célebre dos 437 combatentes que, segundo o regime de Havana, terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974 (Dos quais terão morrido 9 ou 17, conforme  as duas fontes cubanas oficiosas, já aqui citadas no nosso blogue).

3. Na recriação desta cena da captura do cap Peralta, o autor de "O Paparratos" diz que o "Rui Angel" [leia-se Pedro Peralta] estava com uma crise de paludismo (p. 142)  quando os homens da Companhia de Caçadores Paraquedistas nº 1221 [CCP 121 e 122], comandada  pelo cap pára "Braga"[leia-se: Bessa].

Não foi uma rajada de G3, mas de M42, "quase à queima-roupa, ia desfazendo o cotovelo direitodo branco, provocando-lhe também uma ferida no dorso, junto à omoplata"...Terá sido o cap Braga [Bessa] que lhe salvou o braço, em risco de ser amputado, gritando: "Se for para cortar, os médicos lá em Bissau que o façam. Liguem mas é para a Base e peçam uma Y", isto é uma helievacuação Ypsilon (p. 142). 

Assim aconteceu, a enfermeira parquedista que o assistiu até Bissau não foi a Margarida (, nome fictício) mas Zulmira André. Quando chegou ao hospital, a sua situação clínica era grave: "sangrara muito, a tensão arterial não conseguia ultrapassar os cinco milímetros de mercúrio, timha uma ferida no tórax e o antebraço direito estava quase amputado", segundo o relato do alf mil médico adjunto de cirurgião Domingos Lebre[, leia-se, Diamantino Lopes] (p. 143).

Entrado de imediato no Bloco operatório, o alferes mil médico João Pekoff "explorou a ferida torácica, constatando que, felizmente era superficial e apenas interessava as partes moles"... Uma vez que não havia necessidade de intervenção na cavidade, a atenção da equipa voltou-se para o membro esfacelado, "tendo o dr. Celso Rosa [Carlos Ribeiro] tomado o comando das operações, na sua condição de ortopedista" (p. 143)

O Carlos Ribeiro era um cirurgião experiente, em feridas com armas de fogo, tendo feito uma anterior comissão de serviço em Angola: "ortopedista conceituado, depressa equacionou o problema [do Peralat]. Entre a amputação, que se afigurava como natural, e a artrodese do cotovelo, originando para sempre  um ângulo de cerca de noventa graus, a decisão parecia não ser evidente. Sempre valia mais um braço aleijado mas efectivo funcionalmente, do que um coto que, muitas vezes, só serviria para atrapalhar. Os nervos, assim como a artéria e as veias principais sido tinham milagrosamente poupados.O capitão cubano ficaria com uma deficiência, era verdade,  mas manteria o uso do membro... com a condição de a ferida não infectar, possibilidade sempre imprevisível" (p. 144).

E tudo correu bem,com um tirada humorística final do ortopedista:

"Vamos lá ver se este gajo , ao menos, vai fciar com o cotovelo...quanto mais não seja  paar poder fazer um manguito para o cirurgião que o operou". (p. 144).

A crer no testemunho do nosso J. Pardete Ferreira (1941-2021), "ao recobrar da anestesia, o Rui Angel virou de imediato o olhar para o seu lado direito e, naquele misto de medo e de reconhecimento que certamente sentiu,  uma pequena lágrima fugiu lentamente pelo canto dum dos olhos, aliviando-lhe a ansiedade e o receio" (p. 144). Para quem, como ele, que tinha optado pela carreira militar, e que estava na força da vida, era reconfortante saber que lhe tinham salvo o braço...

4. Ainda mais dois ou três apontamentos deliciosos do nosso escritor (**), sobre a estadia do cap Peralta no HM 241:

(i) Por razões de segurança, o enfermo (e prisioneiro) mudou de cama e de enfermaria, mas quem não gostou nada da troca foi um pobre de um alferes miliciano,  com uma perna amputada por um mina A/P, que ficou no lugar do cubano... Lamentava-se ele, e com razão: "Se os gajos [PAIGC] cá vierem, quem lerpa sou eu"... (p. 145)

(ii) O hospital, por causa do prisioneiro famoso, passou a ser assediado pelo pessoal da "inteligência" militar, e simples curiosos que queriam espreitar a "avis rara"... Cabia ao dr. João Pekoff correr com os instrusos e mirones, fazendo cumprir ordens superiores... "Um dia, na conversa usual durante o penso, o João Pekoff pergunou ao Rui Angel como era o Che [Guevara. de resto morto na Bolívia em 1967, tendo sido ambos combatentes na Sierra Maestra]. A resposta não se fez esperar:  "Che, non era médico, era un hombre" (p. 145).

(iii) Entretanto, são recebidas ordens de Lisboa para transferir o Peralta para o HMP... Assim, pela manhã, num daqueles dois dias em que havia avião da TAP, "uma ambulância militar.  com um envergonhado Wolkswagen preto abrindo caminho, saiu do Hospital. O Carocha transportava o Director do Hospital Militar [, que era o dr. Moreira de Figueiro,  no livro, o tenente milciano Mário Falcão], com o alferes do Conselho Administrativo a  a desempenhar as funções de condutor!...

Na ambulância, além do condutor e de dois maqueiros, o Peralta levava como "ama seca"  um primeiro sargento enfermeiro [no livro, João Augusto]. Chegados ao aeroporto, "este pequeno comboio militar foi esconder-se no descampado que constituía o extremo poemte do aeroporto de Bissalanca".

Esta cena é hilariante: 

"Após a aterragem do avião, chegados os passageiros VIP ao hall da aerograre, de imediato disseram aos amigos e familiares aí presentes que, na Ilha do Sal,  timham recebido a indicação de que deveriam integrar a classe turística":... Justificação dada : "Em Bissau todos os lugares de primeira classe iriam ser ocupados por um  Capitão Cubanio, ferido e feito prisioneiro na Guiné"...

E, subitamente, ouve-se, através dos altifalanres,  uma voz feminina, a chamar pelo passageiro VIP: "Atenção, atenção, Pede-se ao passgeiro Rui Angel que se dirija aos Serviços de Saúde"... 

O diretor do HM 241, alarmado, apercebe-se do caricato da situação: toda a gente passava a saber que o avião viajava para Lisboa com um famoso e perigoso capitão cubano... 

À chegada à Lisboa, com a sua "ama seca", foi levado discreta e prontamente para o Hospital Militar da Estrela, sem que ninguém se tenha lembrado de "meter um batedor com girofaro e sirene, a abrir caminho, pelas avenidas e ruas de Lisnoa, da Portela até à Estrela" (p. 145.)

Na realidade, foi escoltado por um pelotão da Polícia Mlitar, comandada pelo alf mil cav Armando  Cerqueira, até à Trafaria (e mais tarde, para o hospital-prisão de Caxias).

Voltaria a Portugal,  creio que em 2009, tendo-se encontrado com os seus antigos "captores", em Lisboa,  em Belém, no Monumento aos Combatentes do Ultramar:  o sargento paraquedista Ragageles (ao tempo 1º Cabo), e o tenente coronel SG / PQ João de Bessa (ao tempo capitão). E ainda se juntaram, na Guiné-Bissau, o João Bessa, o 'Nino' Vieira e o Peralta para reconstituir, "in loco", a emboscada em que o cubano foi ferido e capturado pela tropa portuguesa.


(Continua) (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Passos Ramos (J. Pardete Ferreira)

(...) Fui para Teixeira Pinto [, para o CAOP] , de DO 27, numa manhã dos primeiros dias de Fevereiro de 1969!

Fui requisitado para Bissau no final de Junho do mesmo ano... (...) O meu cartão [, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969, ] está assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida (falecido em Janeiro do corrente ano).

Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro, Ortopedista, fui efectivamente eu que operou a ferida da parede torácica do Cap Peralta. (...)

(**) Vd. notas de leitura anteriores:


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)


Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl >  Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmemte do Pel Mort 2138 [e não 2139],  Buba, c. 1969/71. Pode perguntar-se: como é que esta foto chega às mãos do PAIGC?

Citação:(1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44169 (2018-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  
(Xime-Mansambo, 1972/1974)

PELOTÃO DE MORTEIROS 2138  (BUBA, NHALA, MAMPATÁ, ALDEIA FORMOSA E EMPADA, 1969-1971): ESPALDÃO COM HISTÓRIA

por Jorge Araújo

1. INTRODUÇÃO

Tal como aconteceu no meu anterior texto sobre o universo de Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961-1974), no qual se identificaram e corrigiram algumas discrepâncias encontradas em trabalho académico concluído em 2015 (*), também no caso presente se procura rectificar o que, em nossa opinião, é uma inexatidão (provavelmente uma gralha) e que, por esse facto, deve-se corrigir.

E essa inexatidão (ou gralha) foi editada na legenda de uma foto localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares – na pasta: 05360.000.325, com o título: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139 [?], do exército português”. O assunto é: “Estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139. A data [é abrangente]: 1963-1973.

A foto pertence ao DAC - documentos Amílcar Cabral (fotografias), como se prova na imagem acima (reproduzidacom a devida vénia).

Será que esta foto tem alguma história… importante? É muito provável que sim, como daremos conta ao longo do texto.

 Considerando que no decurso da sua comissão ultramarina no CTIG (1969-1971) as diferentes esquadras do Pelotão de Morteiros 2138 [e não 2139] estiveram dispersas pelos aquartelamentos de Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e, finalmente, Empada, é mais do que certo que a foto acima dirá respeito a um deles, com forte probabilidade de ser o primeiro – Buba.


2. ELEMENTOS HISTÓRICOS DA UNIDADE

Para enquadramento histórico do Pelotão de Morteiros 2138, daremos conta, em síntese, do que escreveu o camarada Vítor Almeida, ex-fur mil, no blogue da sua Unidade [, e de que se reproduz aqui um excerto, com a devida vénia].

O relato inicia-se assim:

"Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. 

"No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia”, o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã."

"Entretanto [o Vítor Almeida] embarcou para a Guiné no dia 24 de Julho, num [C-54, ] avião Skymaster da Força Aérea, com escala em Las Palmas e Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde pernoitaram [com] a chegada no dia seguinte à Guiné. A finalidade desta viagem antecipada foi tratar da logística do Pelotão, tendo mesmo efectuado uma deslocação a Buba antes da chegada do Pelotão a Bissau [num total de quarenta e oito elementos].

"A partida de todo o pessoal para Buba efectuou-se no dia 24 de Agosto a bordo da LDG 105 “Bombarda”, com chegada no dia 25 pelas 08H00. O pessoal foi dividido por vários aquartelamentos tendo seguido viagem no dia 31 de Agosto, integrados numa coluna militar com destino a Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. 

"Só a esquadra para Nhala chegou ao destino tendo as outras duas regressado a Buba devido ao estado intransitável da estrada. Estas duas esquadras para Mampatá e Aldeia Formosa só no dia 6 de Setembro seguiram para o seu destino.

"No dia 4 de Novembro a CCAÇ 2382, que se encontrava em Buba [comandada pelo Cap Mil Carlos Nery Gomes Araújo (1968/70)] foi substituída pela CCAÇ 2616, passando o Pelotão a depender administrativamente desta última". […]

Em 14 de Março de 1971 foi destacada para Empada uma das esquadras de Buba, comandada pelo fur mil Vítor Almeida [ou seja, pelo próprio].

O regresso a Portugal deu-se no final de Junho de 1971. Felizmente todos regressámos da nossa comissão não interessando mencionar os sacrifícios passados ou as inúmeras vezes que os aquartelamentos onde nos encontrávamos foram atacados.

Pela resenha histórica acima, é credível considerar que esta foto é mesmo de Buba [aguardamos a sua confirmação por quem por lá tenha passado] e a sua existência nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), poderá estar relacionada com o reconhecimento relativo à preparação do ataque ao aquartelamento de Buba, em 12 de Outubro de 1969.

Esta é, aliás, uma forte probabilidade fazendo fé no que se encontra referido no livro «Guerra Colonial – Angola / Guiné / Moçambique», do Diário de Notícias, p. 295, onde consta que esta informação foi obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano [agora, coronel] Pedro Rodrigues Peralta (n.1937), na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro de 1969, durante a «Operação Jove», realizada no “Corredor de Guileje”, onde ficou gravemente ferido e evacuado para o HM 241, em Bissau.

Como curiosidade, o capitão cubano Pedro Peralta foi socorrido e evacuado pela enfermeira paraquedista Maria Zulmira Pereira André (1931-2010), que recebera a incumbência de um seu superior dizendo: “temos um ferido muito grave, que é necessário evacuar o mais rapidamente possível, e a Zulmira não o pode deixar morrer”, [in: Susana Torrão, «Anjos na Guerra», Oficina do Livro, 2011 (P9319)].

3. PREPARAÇÃO DO ATAQUE A BUBA EM OUTUBRO DE 1969

Do livro «Guerra Colonial», referido acima, reproduzimos o que consta sobre a preparação desta operação, informação extraída nos documentos de que era portador o capitão Pedro Peralta.


4. A ESTRATÉGIA DO ATAQUE

A análise ao modo como o PAIGC planeou o ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382, ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo [, Carlos Nery, membro da nossa Tabanca Grande], bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN.

Para que conste, dá-se conta, abaixo, de dois croquis do ataque, um global e outro mais específico, divulgados no livro acima citado, onde certamente se localiza o espaldar de morteiros da foto, utilizado pelos elementos do Pelotão de Morteiros 2138 em resposta ao ataque, cujo desempenho foi importantíssimo para o sucesso das NT, conforme é referido pelo autor do relatório.





5. O QUE ESCREVEU O CAP MIL GOMES NERY GOMES DE ARAÚJO

Neste contexto, recupero o que foi escrito pelo ex-CapM il Carlos Nery Gomes de Araújo, publicado no P6183, e citado do comentário ao poste de 25 de Janeiro de 2009:

“Eu era o Comandante da CCaç 2382 uma das unidades sediadas em Buba quando do ataque. A frase transcrita do relatório então elaborado foi de minha autoria. Porém, o desenho baseado naquele que fiz nesse mesmo relatório, contém algumas inexactidões. Efectivamente os cinco bigrupos do PAIGC que pretendiam entrar em Buba (cerca de 300 homens) foram emboscados por um grupo de combate da CCaç 2382, comandado pelo Alf. Mendes Ferreira, e por elementos do Pelotão de Milícia, postados no exterior do aquartelamento para lá da pista de aviação, tendo retirado com baixas e sem atingir o seu objectivo. Nessa retirada utilizaram o largo trilho aberto quando da sua aproximação.

Enquanto isto, a nossa artilharia, 2.º Pelotão/BAC comandado pelo Fur Mil Gonçalves de Castro atingia com eficácia a posição dos morteiros inimigos. Ficaram no local e foram capturadas na madrugada seguinte pelos fuzileiros do DFE7, 158 granadas, das 180 com que contava o Comandante Peralta [cap. cubano Pedro Peralta] na sua "Ordem de Fogo" preparando o ataque a Buba.

Entretanto, os dois morteiros 81, guarnecidos pelo Pel Mort 2138, atingiam a posição ocupada pelo comando do ataque IN, instalado na margem direita do Rio Mancamã, junto à foz. No lusco-fusco desse fim de tarde, viu-se, do quartel, a confusão de vultos em fuga, por entre o capim, nessa outra margem do rio. A maré estava baixa. Um frémito percorreu os defensores. Elementos do DFE7, da CCaç 2382 e da Milícia, sob o comando do Tenente Nuno Barbieri, alcançam a margem do rio Bafatá fronteira à posição dos canhões sem recuo e do comando inimigo. É aí deixada uma base de apoio comandada pelo Alf Domingos, da CCaç 2382, enquanto o Tenente Barbieri tenta ganhar a margem oposta no comando dos restantes voluntários, actuação esta que fez aumentar a confusão existente no dispositivo inimigo. Uma noite sem lua caíra, entretanto. Foi decidido regressar ao quartel. […]

Quando da captura do Comandante Peralta, pelos Paraquedistas, passados poucos dias, foi constatado que os planos de sua autoria para atacar Buba se ajustavam à descrição por nós elaborada. Gomes de Araújo (Cap Mil Art)”.

Em 4 de Outubro de 2009, passados quarenta anos, o colectivo de ex-combatentes do Pelotão de Morteiros 2138 «Sempre Excelentes e Valorosos», reuniu-se em Fátima, onde recordaram, naturalmente, este episódio (e muitos outros) ocorrido (s) em Buba (1969/1971), tornando-se este convívio num dia especial para todos.


Da esquerda para a direita: Vítor Almeida, António Guerra, Guilherme Manuel, Joaquim Magalhães, Hernâni Ramos, Joaquim António Sadio, Manuel Fernando Oliveira “Brasinha” [nosso grã-tabanqueiro nº 727] e António Freitas.

Foto retirada, com a devida vénia, do blogue da Unidade.

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

13DEZ2017.
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