Foto nº 1 > O alf mil Crisóstomo, em primeiro plano...
Foto nº 2 > Regresso de um patrulhamento no subsetor do Xime...
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Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > Agosto de 1965 > O primeiro contacto com as terras do Xime...
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)
A viagem do Funchal para a Guiné decorreu sem grandes problemas . A CCaç 1439 embarcou no navio Niassa no dia 2 de Agosto de 1965 . A nossa Companhia era de rendição individual e talvez por isso o nosso comandante, Capitão Pires, tinha saido mais cedo para " preparar a nossa chegada”.
Por razões burocráticas, que nunca cheguei a compreender, foi-me dado o comando da CCaç 1439 , até que chegássemos a Bissau onde nos esperava o verdadeiro Comandante da Companhia, o Capitão Amandio Pires .
Embora estivesse mentalmente preparado "para todas as situações", não deixei de ficar surpreendido pelas condições em que o pessoal estava viajando no Niassa. Os “quadros” viajavam em condições aceitáveis, mas custava-me ver os meus soldados nos andares inferiores do barco, quase uns em cima dos outros em beliches que de conforto pouco ofereciam.
CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)
Parte V - Destino: Xime...
A viagem do Funchal para a Guiné decorreu sem grandes problemas . A CCaç 1439 embarcou no navio Niassa no dia 2 de Agosto de 1965 . A nossa Companhia era de rendição individual e talvez por isso o nosso comandante, Capitão Pires, tinha saido mais cedo para " preparar a nossa chegada”.
Por razões burocráticas, que nunca cheguei a compreender, foi-me dado o comando da CCaç 1439 , até que chegássemos a Bissau onde nos esperava o verdadeiro Comandante da Companhia, o Capitão Amandio Pires .
Embora estivesse mentalmente preparado "para todas as situações", não deixei de ficar surpreendido pelas condições em que o pessoal estava viajando no Niassa. Os “quadros” viajavam em condições aceitáveis, mas custava-me ver os meus soldados nos andares inferiores do barco, quase uns em cima dos outros em beliches que de conforto pouco ofereciam.
E logo na primeira noite, baixei e fui ter com eles, para lhes dar um pouco de ânimo. Parece que apreciaram verem o seu "comandante temporário" com eles e passado algum tempo começamos a cantar … E cedo era toda a companhia que cantava, até parecia que o nosso destino não era um teatro de guerra , mas sim alguma romaria.
Mas a CCaç 1439 não era a única companhia no barco; cedo me apercebi que membros de outras companhias achavam estranho a euforia "daqueles madeirenses" e queriam dormir, pelo que logo decidi não continuar com a cantarolice e regressei ao andar superior.
Mas na noite seguinte repeti. Desci mais cedo, para evitar ser apupado ou incomodar ninguém, ainda pensando que o cantar um pouco antes de dormir ajudaria a moral de toda a gente. Não foi o caso. Desta vez houve queixa mais a sério; quando a companhia estava já toda empolgada a cantar , fui chamado ao comandante do barco. Que admirava muito a manifestação do patriotismo dos madeirenses, mas que havia outras companhias e nem todos gostavam de ser serenados…
Recordo-me vagamente da nossa chegada a Bissau e da transferência imediata para um barco muito chato que eu nunca tinha visto nem ouvido falar. Não me vão faltar surpresas, pensei eu. E logo seguimos Rio Geba acima, esperando que não fossemos atacados mesmo no meio do rio. É que iamos sózinhos... e eu pensava que pelo menos teríamos uma escolta até chegar ao nosso destino em terra, onde quer que isso fosse.
Por volta das 17.00 PM, (segundo um “relatório oficial’ de que não tinha conhecimento e que o Alferes Freitas me amavelmente me facilitou) finalmente paramos: à nossa frente havia um “ cais improvisado” e logo a seguir "meia dúzia de palhotas”. Era o Xime.
Não me recordo das instalações nem das condições… estava pronto para tudo, nada me ia surpreender. Recordo-me, sim, de sermos informados da existência de uma cantina e das facilidades de adquirir uísque e outras coisas a um preço muito barato. E logo na primeira noite, eu estava entre os que tiraram partido dessas “facilidades', comprando a minha primeira garrafa de Drambuie…
Por outro lado também aprendemos depressa a habituarmo-nos à ementa de feijão frade com bacalhau, salada de grão de bico com bacalhau, feijão frade com bacalhau, grão de bico… e vira o disco e toca o mesmo. E isso estava a causar mau estar em toda a companhia.
Mas na noite seguinte repeti. Desci mais cedo, para evitar ser apupado ou incomodar ninguém, ainda pensando que o cantar um pouco antes de dormir ajudaria a moral de toda a gente. Não foi o caso. Desta vez houve queixa mais a sério; quando a companhia estava já toda empolgada a cantar , fui chamado ao comandante do barco. Que admirava muito a manifestação do patriotismo dos madeirenses, mas que havia outras companhias e nem todos gostavam de ser serenados…
Recordo-me vagamente da nossa chegada a Bissau e da transferência imediata para um barco muito chato que eu nunca tinha visto nem ouvido falar. Não me vão faltar surpresas, pensei eu. E logo seguimos Rio Geba acima, esperando que não fossemos atacados mesmo no meio do rio. É que iamos sózinhos... e eu pensava que pelo menos teríamos uma escolta até chegar ao nosso destino em terra, onde quer que isso fosse.
Por volta das 17.00 PM, (segundo um “relatório oficial’ de que não tinha conhecimento e que o Alferes Freitas me amavelmente me facilitou) finalmente paramos: à nossa frente havia um “ cais improvisado” e logo a seguir "meia dúzia de palhotas”. Era o Xime.
Não me recordo das instalações nem das condições… estava pronto para tudo, nada me ia surpreender. Recordo-me, sim, de sermos informados da existência de uma cantina e das facilidades de adquirir uísque e outras coisas a um preço muito barato. E logo na primeira noite, eu estava entre os que tiraram partido dessas “facilidades', comprando a minha primeira garrafa de Drambuie…
Por outro lado também aprendemos depressa a habituarmo-nos à ementa de feijão frade com bacalhau, salada de grão de bico com bacalhau, feijão frade com bacalhau, grão de bico… e vira o disco e toca o mesmo. E isso estava a causar mau estar em toda a companhia.
Um dia começaram a manifestar esse descontentamento na hora do rancho, fazendo barulho com as mamitas, utensílios metálicos, meio pratos meio caixas . Eu estava de oficial de dia; tinha fama , dizem-me, de ser "de bons modos” e querer ajudar . E talvez por isso pensaram que eu pudesse fazer alguma coisa para remediar a situação. O que não era o caso. Não havia outro remédio senão aguentar até que chegasse nova entrega de víveres; e isso não dependia de ninguém na companhia.
Por isso pus a companhia "em sentido” e expliquei que compreendia a frustração de todos, que era a minha também; mas que o fazer barulho com os pratos não ia ajudar ninguém. E pus a companhia "à vontade” para começar a distribuição do rancho, talvez fosse outra vez feijão frade com bacalhau, não me lembro.
O que sei é que o barulho das marmitas embora menos intenso, recomeçou. E eu imediatamente pus de novo a companhia em sentido e disse que não ia tolerar mais qualquer tipo de barulho como estava a acontecer pela segunda vez. E disse "vamos ficar em sentido um ou dois minutos para que todos tenham tempo de resfriar um pouco esse entusiasmo, antes de começarmos o rancho".
O que sei é que o barulho das marmitas embora menos intenso, recomeçou. E eu imediatamente pus de novo a companhia em sentido e disse que não ia tolerar mais qualquer tipo de barulho como estava a acontecer pela segunda vez. E disse "vamos ficar em sentido um ou dois minutos para que todos tenham tempo de resfriar um pouco esse entusiasmo, antes de começarmos o rancho".
E virei-me de costas para eles; mas logo ouvi atras de mim o que me parecia serem uns sorrisos de troça ; virei-me de repente e mesmo atras de mim deparei com um soldado, o S..., m posição de "à vontade” e a rir numa manifesta posição de galhofa para todos verem.
Sou e sempre fui um pequenitotes, mas no momento nem tive tempo para pensar: de repente espetei-lhe a maior bofetada que jamais pensava ser capaz de dar na minha vida.
Surpreso, com esta minha reação, ele tentou desviar-se e pareceu-me que ia cair e eu então com a mão esquerda dei-lhe uma segunda no lado contrário para ele não cair. E foi um silêncio completo; mandei recomeçar o rancho, que não teve mais problemas.
Surpreso, com esta minha reação, ele tentou desviar-se e pareceu-me que ia cair e eu então com a mão esquerda dei-lhe uma segunda no lado contrário para ele não cair. E foi um silêncio completo; mandei recomeçar o rancho, que não teve mais problemas.
O S... tinha fama de ser o homem mais forte da companhia e, de vez em quando, “para medir forças”, desafiava um outro soldado, a quem todos chamavam “o chinês” pela sua força e aparência, a levantarem um pipo que ninguém mais era capaz de mexer.
Logo pensei que "um dia destes vou apanhar murro dele e vou aparecer morto em qualquer lado… ou então será talvez no mato… sou capaz de apanhar mesmo um tiro pelas costas” … E era pensamento que de vez em quando me vinha à mente. "Mas nada há a fazer", pensava. "E a verdade é que ele não devia fazer o que fez” .
Passados muitos meses, um dia deparei com ele mesmo a meu lado no meio duma bolanha que estávamos a atravessar com água pelos joelhos , como por vezes sucedia . E reparei que ele tinha um sorriso, mas que me pareceu um sorriso amigável. E fui eu que puxei a conversa. "Olha, S..., ainda hoje me custa o que sucedeu no Xime"… E ele não me deixou dizer mais nada, pôs-me o braço no meu ombro e só disse : "Ó meu alferes, tinha razão”! e senti a pressão do braço dele no meu ombro como para me dizer que o assunto estava esquecido.
Passados muitos meses, um dia deparei com ele mesmo a meu lado no meio duma bolanha que estávamos a atravessar com água pelos joelhos , como por vezes sucedia . E reparei que ele tinha um sorriso, mas que me pareceu um sorriso amigável. E fui eu que puxei a conversa. "Olha, S..., ainda hoje me custa o que sucedeu no Xime"… E ele não me deixou dizer mais nada, pôs-me o braço no meu ombro e só disse : "Ó meu alferes, tinha razão”! e senti a pressão do braço dele no meu ombro como para me dizer que o assunto estava esquecido.
A verdade é que nunca mais tive receio de apanhar um tiro pelas costas no meio de alguma operação no mato!
Não me lembro em que dia foi a nossa primeira patrulha/deslocamento a Bambadinca. Mas menciono-a por não esquecer a minha surpresa quando nos disseram que tínhamos de "picar a estrada por causa das minas”.
Eu esperava algum aparato sofisticado, como se usa para detecção de metais, mas em vez disso eram meia dúzia de paus com um bico de ferro na ponta com que se picava o chão esperançadamente para sem as rebentar , detectar alguma mina que tivesse sido posta …
Não me lembro em que dia foi a nossa primeira patrulha/deslocamento a Bambadinca. Mas menciono-a por não esquecer a minha surpresa quando nos disseram que tínhamos de "picar a estrada por causa das minas”.
Eu esperava algum aparato sofisticado, como se usa para detecção de metais, mas em vez disso eram meia dúzia de paus com um bico de ferro na ponta com que se picava o chão esperançadamente para sem as rebentar , detectar alguma mina que tivesse sido posta …
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22097: Guiné 61/74 - P22051: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IV: Composição orgânica: na sua maioria, praças naturais da Madeira, e oficiais e sargentos do Continente