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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24597: Tabanca Grande (553): Souleimane Silá, nascido em 1958, filho da "Rainha de Catió (que afinal era natural do Xitole)", a viver hoje no Luxemburgo: senta-se à sombra do nosso poilão, no lubgar nº 881


Souleimane Silá, nascido em Catió, em 1958:
novo membro da Tabanhca Grande, nº 881


1. O Souleimane Silá, filho da "Rainha de Catió" (*), chegou ao nosso blogue através do Formulário de Contacto do Blogger. Aqui vai a sua primeira mensagem:

Data - segunda, 14/08/2023, 10:10

Agradeço que me seja permitido publicar minha versão da vossa publicação de passado 09/agosto/2023 sobre as recordações do entâo major Pinheiro referente a rainha de Catio (**),

Aceitem um caloroso bom dia de filho daquela madame e, dar meu testemunho. Souleimane SILA (Luxembourg, 14/agosto/2023

Cumprimentos,
Souleimane Silá 


2. Depois de publicar a sua mensagem do dia 13 do corrente, no poste P24556 (*), deixámos-lhe um convite para integrar a nossa Tabanca Grande, convite que ele aceitou;

(...) Aproveito, por fim, para convidar o Souleimane Silá (a quem agradeço estas carinhosas confidências sobre a senhora sua mãe) para se juntar a este blogue que é dos camaradas e dos amigos da Guiné. (...)

 
3. O Benito Neves, seu amigo do Facebook, e nosso camarada (ex-fur mil cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) faz questão de "apadrinhar" a sua entrada no blogue:

Data - quinta, 17/08/2023, 18:17

Caro Luís, boa tarde e votos de boa saúde.

A seguir transcrevo a troca de mensagens havidas com o Souleimane Silá cujo propósito será com o maj Pinheiro.

Se for necessário padrinho para apadrinhar a adesão ao blogue, podem contar com a minha disponibilidade.

Forte abraço.

“Quero pedir um favor. O ex-major e comandante Pinheiro que esteve em Catio 70/72, amigo e conhecido da minha família postou no blog Camaradas de Guiné fotos da minha mãe, rainha de Catio, no dia 09/agosto/2023 que eu de seguida comentei enviei um comentário meu para Luís Graça por email que pensei ele tornaria público. 

O importante ele admitiu-me na família do blog fazendo saber que existe, vivo, um filho dessa rainha que acaba de se juntar. Foi o que Sr Victor Condeço tentou pôr-me em contacto em 2007, não foi possível. Que me lembre ainda em 2004/2005 através de exaustivas diligências consegui encontrar-me com o Sr Pinheiro em Carcavelos, Cascais, afinal éramos vizinhos. Ele se lembrou de todos membros da minha família, mais ainda da minha irmazinha ferida na época dele (que se encontra junto dele numa das fotos que postou ao lado da minha mãe e pequenas irmazinhas) (...)

Actualmente, com a adesão dele ao blogue, de Luís Graça camaradas de Guiné, ao ponto de ousar postar essa relíquia, rogo você, meu mano Benito, que ajude restabelecimento de contacto dele, à pedido da minha tal irmazinha (hoje mãe, avó e Madame) que lhe quer falar.

Souleimane Silá




"Rainha de Catió" (c. 1972)

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió", sua lavadeira,  e algumas das suas filhas... Em chão nalu, ela era fula (*), nascida e crescida em Xitole.

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) >Foto-010 > Catió 1967- Lagoa entre Catió e Priame.



Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) > Foto-022 Catió 1967- Vista aérea na região de Catió

Foto (e legenda): © Benito Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Nova mensagem do Souleimene Silá:

Assunto: Sobre comentários de 16/agosto/2023 no blog
Data - 28 ago 2023 15:50

Mantenhas, queridos camaradas da nossa Grande Tabanca "Luís Graça & Camaradas da Guiné"!

Quero falar um pouquinho dos comentários relatados no dia 16/08/2023 no nosso Blog  (*), que entendi ser necessário trazer ao vosso conhecimento sem de jeito nenhum pretender retirar mérito aos camaradas que abordaram.
 
(i) Quando na verdade reconheci a rainha minha mãe e a mi nha irmazinha com perna ferida, víima dum ataque dos outrora "terroristas" (fev72), ao lado do ilustre comandante do aquartelamento Sr Pinheiro (ex-majo), não hesitei. Veio-me em memória a outra face prestigiosa da missão militar colonial: política de proximidade às populações. Essa presença ilustra também esse sentimento. 

A tabanca de Catio-fula aonde nasci e cresci estava situada directamente na linha de fogo dos "terroristas", porque os tiros provinham da zona norte, de Ganjola e arredores em direcção ao Quartel de Catio (linha recta) e resulta geralmente o nosso bairro de Catio-fula que acabava sofrendo as desastrosas consequências, diferentemente doutras tabancas de Priame ao nascente,  assim como Catio-balanta e Areia ao poente. 

O que nunca entendi é o porquê de meu pai persistir em não arredar pé. Lembro-me duns colegas dele (Malam Fulinho, Sori Bombeiro, Samba Dabo, Bôbo Quetcho e tantos outros se foram para novos pousos). Foi nosso destino.

(ii) O Aliu SILA, chauffeur da Administração de Circunscrição de Catio, não foi nem Djacanca, nem Saracolé. Não. Ele foi, sim, filho de mãe e pai da etnia Maninka-morin (Malinké), natural de Kankan e passou infância em Boké, Guemeyré, ambas regiões da vizinha Guinée francesa (Guiné Conakry). 

Quando e em que circunstâncias trocou o país de origem, jovem, solitário, para aquele onde decidiu construir toda sua vida profissional e familiar, na Guiné (ex-portuguesa), poderá vir a ser contas dum outro rosário.
 
Em resumo, todos filhos do famoso e honrado Aliu Chauffeur nasceram, registados e cresceram de mulheres nacionais do país acolhedor, ex-Guiné portuguesa. A minha rainha, essa é natural e cresceu em Xitole (...)

(iii) O meu nome (porque está registado Souleimane em vez de "Suleimane"), poderia abrir uma outra pergunta. Porquê o "Aliu" não foi escrito "Aliou", sabendo-se que ele preservou sempre a naturalidade à francesa? 

Cá para mim a forma de registo de nascimento, dos nomes africanamente, para não dizer universalmente, ainda que a pronúncia dá igual, a ortografia difere.
 
Aceitem um grande abraço (de bom humor), do vosso camarada Souleimane Silá.


4. Comentártio do editor LG:

O Souleimane Silá será o nosso Cherno Baldé de Catió, um menino que cresceu com a tropa e com a guerra. Temos muito gosto em juntá-lo a esta Tabanca Grande, onde cabem todos os bons amigos e camaradas da Guiné. Como em todas as outras tabancas, temos um poilão, à sombra do qual nos sentamos para partilhar memórias e afetos...  Souleimane, és bem vindo. O teu lugar é, pela nossa cronologia, o nº 881. (***)

Para teu governo tens aqui as nossas regras de convívio, resumidas mas 10 regras da política editorial do blogue...

Muita saúde e lomga vida para ti e os teus. Mantenhas. Luís Graça
___________


(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

(***) Último poste da série : 25 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24556: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (127): A "Rainha de Catió" foi a minha adorada mãe e tinha lugar na primeira fila nas cerimónias oficiais, tanto no tempo do gen Schulz como do gen Spínola (Souleimane Silá, Luxemburgo)


Rainha de Catió" (c. 1964/66) . 

Foto do álbum do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) e depois piloto da aviação civil onde chegou a comandante da TAP, reformado desde 1998. Conviveu com a população, fula e balanta, de Catió e arredores, incluindo Príame (a tabanca do cap 'comando' graduado João Bacar Jaló, 1929-1971). (*)

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


"Rainha de Catió" (c. 1972)

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió", sua lavadeira,  e algumas das suas filhas (presume-se)... Em chão nalu, ela era fula.  (*)

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor Souleimane Silá, natural de Catió, com página no Facebo0k, comentário ao poste P24546 (**):


Data - domingo, 13/08/2023, 23:41
Assunto - Sobre vossa publicação de 9 de agosto de 023 - Álbum de major Pinheiro

Saudações, camaradas do Blogue dos Amigos e camaradas de Guiné. 

Sobre essa foto da madame identificada como rainha de Catió não é equívoco. Pelo contrário. Ela, residente no bairro de Catió-fula (para quem vai para a granja, Cumebú e Ganjola), devido ao seu desempenho de lavadeira de oficiais e de demais tropas do quartel, passou a ser convidada nas cerimónias oficiais da então Vila de Catió aonde sediavam os restantes postos administrativos da região.

Coincidentemente, marido dessa madame, de verdadeiro nome Abibatu Djopo, não foi nada mais nada menos que o motorista da administração do concelho (de Catió), Aliu Silá (Aliu Chauffeur), família da mulher do Administrador Amadeu Nogueira (...).

Cerimónias se repetiam com visitas e substituições oficiais, administrativos e militares ao alto nível da então Província da Guiné Portuguesa, a designada Rainha de Catió sempre esteve presente.

Nunca me esquecerei das delegações como as do Governador Arnaldo Schulz, General Spínola, Secretário Pinto Bull e tantas altas figuras que ela, a Rainha de Catió, foi convidada para tomar parte na primeira fila, com muitas vezes uso de palavra em nome da comunidade.

Digno-me de deixar esse registo porque sou vivo testemunho dessa soberba mulher que é minha adorada Mãe.

Para finalizar, dou um grande abraço ao Comandante Pinheiro que tive privilégio de conhecer de perto em Catió, voltamos a ver-nos no QG Bissau e finalmente em Carcavelos em 2004.

Abraços extensivos ao meu mano mais velho, Sr Benito Neves, que cumpriu vida militar naquela Vila de Catió e que conheceu meus queridos pais (pena que um outro colega dele e amigo já tenha falecido, o Vitor Condeço de quem guardo um riquissimo álbum da época)

Mantenhas a todos.
Agradecimentos de
Souleimane SILA




Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió (1956) (Escala 1/50 mil) > > Pormenor: Vila de Catió e arredores. (Príame fica já na carta de Bedanda, na estrada para Cufar.)

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


2. Mensagem de Hélder Sousa, nosso colaborador permanente, com data de ontem, às 15h41, comentando a mensagem do Souleimane Silá:

Olá Luís, "mantenhas e saudinha da boa".

Como vês aproveitei logo para juntar duas expressões muito usadas nas trocas de mensagens do Blogue e que acho ficam muito bem.

Olha, antes de ir propriamente referir-me ao miolo deste comentário recebido, quero dizer duas ou três coisas:

A primeira, é que espero muito sinceramente que estejas a recuperar bem e com confiança suficiente.

Depois, para justificar a quase ausência de comentários meus pois, finalmente, ao fim de 6 anos, acabei de ter duas semanas de férias (viva o luxo!) e em boa parte desse tempo estive sem internet.

Então, em relação a este comentário do Souleimane, só posso dizer que fico, cada vez mais, com a sensação que o Blogue é efectivamente seguido por muita e boa gente.

Alguns, às vezes, acabam por se manifestar e esses quando o fazem são, na generalidade, positivos. Outros há (e alguns são nossos conhecidos ou até mesmo "velhos conhecidos") que intervêm para criticar depreciativamente ou provocatoriamente mas como o saldo continua a ser positivo, pode-se e deve-se concluir que, quer se queira, não se queira, ou mesmo não se tenha consciência profunda disso, que este fenómeno chamado "Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné" é realmente, considerando a larga maioria de artigos, fotos, reportagens, etc., um caso sério de seriedade, de depositário de memórias, de afetos, de (re)encontros, incontornável e que servirá (como tem servido) para muitos estudos e observações (cada vez mais distanciadas) de situações e de episódios passados durante a "guerra na Guiné".

Abraços, Hélder Sousa


3. Comentário do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, com data de ontem, às 16h22:

Muito obrigado aos meus amigos, prof. Graça e Souleimane Silá que já não vejo desde 2004, e que tinha, como já antes referi, uns pais muito queridos de quem me recordo com frequência e de cuja Mãe escrevi recentemente como uma excelente pessoa. Espero vê-lo em breve, Souleimane, um abraço.


4. Mensagem do Benito Neves, ex-fur mil cav, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), às 18h25 de ontem:

Meu caro Luís

O Souleimane Silá é meu amigo no Facebook desde há bastante tempo, em consequência de troca de mensagens sobre Catió. A forma como desde sempre se referiu a mim, como “o meu mano mais velho”, revela um tratamento carinhoso que lhe é peculiar.

Ao tempo – e já lá vão mais de 50 anos – o Souleimane era um daqueles miúdos que deambulava pelas ruas de Catió e convivia connosco. Entretanto veio para Lisboa, constituiu família e emigrou para o Luxemburgo onde os seus descendentes já têm o seu futuro garantido.

Mas… a história do Souleimane deverá ser ele a contá-la.

Desconhecia completamente (ele nunca tal me referiu) que era filho da rainha de Catió.

É com enorme satisfação que o poderei ver integrar o blogue para, à sombra do poilão, nos contar as suas histórias.

Forte abraço
Benito Neves


5. Comentário do editor LG:

Caros camaradas e amigos: apareceu agora um filho da "rainha de Catió". É caso para dizer que o Mundo é Pequeno e o nosso Blogue... é Grande! (**).

É uma feliz coincidência. O Souleimane Silá, de acordo com a sua página no Facebook, vive no Luxemburgo, em Marnach, desde 2020. Nasceu em Catió em 8 de março de 1958, portanto há 65 anos. Estudou na ENA-Bissau (Escola Nacional de Administração, ex Cenfa).

É amigo do Facebook dos nossos camaradas Benito Neves e João Sacoto e privou também com o nosso saudoso Victor Condeço (1943-2010). Conheceu, aos 14 anos, o então major inf. Mário Arada Pinheiro, 2.º comandante do BCAÇ 2930 (de rendição individual, esteve em Catió, de set71 a ago72, ou seja, no 2.º ano da comissão do batalhão).

Ele vem confirmar o que o cor inf ref Arada Pinheiro nos informara há dias, em conversa pessoal na Praia da Areia Branca, Lourinhá, onde tem casa:

(i) conheceu a senhora como sendo a "rainha de Catió", título que não era honorífico nem gentílico, mas sim atribuído popularmente, pela nobreza do seu porte (usava sempre o vestido comprido, branco, que mostram as duas fotos, tanto a de 1964/66, como a de 1972);

(ii) era sua lavadeira, e "boa lavadeira";

(iii) tinha vários filhos, o marido era o motorista do administrador de Catió;

(iv) ao filho mais novo, em 1972, fez questão de chamar-lhe "Major João Pinheiro" (sic) (homenagem ao major Mário Arada e ao seu filho João);

(v) depois de ele ser colocado no QG, na Amura, em Bissau, a "rainha de Catió" apareceu-lhe um dia lá em casa (ele vivia com a família numa vivenda em Santa Luzia), queria visitar uma filha que estava hospitalizada no HM 241, com uma perna esfacelada por um estilhaço de foguetão 122 mm (num dos ataques a Catió).

O João Sacôto, com quem falei ao telemóvel, não se lembra dela como "lavadeira", mas sim como "mulher grande", de "altivo porte", respeitada na comnunidade, não tendo nenhum parentesco ou relação com o João Bacar Jaló; não tem a certeza de ela ser fula, de resto não vivia em Príame (na estrada Catió-Cufar), mas numa tabanca a norte.

O Cherno Baldé também acrescentou, em comentário, que entre os fulas não havia rainhas.

Aproveito, por fim, para convidar o Souleimane Silá (a quem agradeço estas carinhosas confidências sobre a senhora sua mãe) para se juntar a este blogue que é dos camaradas e dos amigos da Guiné... 

Mantenhas. 
Luís Graça
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24546: Fotos à procura de... uma legenda (176): A "rainha de Catió", fotografada em 1964/66 (pelo João Sacôto) e em 1972 (pelo Mário Arada Pinheiro)

(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

Vd. também poste de 28 de março de 2019 : Guiné 61/74 - P19628: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VII: Catió e arredores: contactos com a população civil

(***) Último poste da série > 2 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23580: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (126): Leitor brasileiro, Edson de Lima Lucas, identifica o navio inglês Narkunda, da P&O Lines, em foto de 29/9/1942 (presumivelmente "Foto Melo") , tirada ao largo do Porto Grande, Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde... Dois meses depois seria atacado e afundado pela aviação alemã, na campanha dos Aliados no Norte de África.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24546: Fotos à procura de... uma legenda (176): A "rainha de Catió", fotografada em 1964/66 (pelo João Sacôto) e em 1972 (pelo Mário Arada Pinheiro)

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > "Mulher grande, rainha de Catió". 

Foto do álbum do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) e depois piloto da aviação civil onde chegou a comandante da TAP, reformado desde 1998. Conviveu com a população, fula e balanta, de Catió e arredores, incluindo Príame (a tabanca do cap 'comando' graduado João Bacar Jaló, 1929-1971).

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2.º cmdt do BCAÇ 2930, com a "rainha de Catió" e algumas das suas netas (?)... Em chão nalu, ela era fula. As miúdas mais pequenas estão "meio escondidas", envergonhadas ou intimidadas (como era normal, na presença dos "tugas")... (**)

Foto (e legenda): © Mário Arada Pinheiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Será a mesma senhora? A "rainha do Catió", fotografada por volta de 1964/66, pelo João Sacôto, e seis ou oito anos mais tarde, em 1972, pelo Mário Arada Pinheiro?

Ambos os fotógrafos lhe chamam "rainha de Catió", " mulher grande", "fula em terra de nalus"... Mas o Cherno Baldé, o nosso assessor para as questões etnolinguísticas, tem dúvidas, tendo deixado este comentário no poste P24549 (*):

(...) "Em Catió, na altura, o Bairro dos fulas, melhor dizendo futa-fulas, era logo à entrada em Priame, onde também vivia a família do Cap 
Cmd João Bacar Jaló. Por isso, quer-me parecer que a mulher grande aqui apresentada como a "rainha de Catió" poderia muito bem ser uma das suas viúvas ou uma familiar muito próxima, para merecer as visitas de um alto oficial do Batalhão sediado em Catió.

"Os fulas não têm rainhas e muito menos no chão Nalú, mesmo estando em terras conquistadas pelos seus antepassados. Talvez o Mário Arada Pinheiro nos possa esclarecer a dúvida." (9 de agosto de 2023 às 16:29 (...)

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Cherno, estou agora, neste mês, quase todos os dias com o coronel Mário Arada Pinheiro, tem casa de férias aqui na Praia da Areia Branca... Pertencemos ambos ao GAPAB / Vigia (Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca). Vou-lhe "espicaçar" a memória, que é muito boa para quem já teve a felicidade de chegar aos 90 anos. (E ainda há dias o vi a conduzir aqui na Lourinhã.) Realmente nunca vi nenhuma rainha "fula"... Dos nalus conheci, em 2008, o "rei", Salifo Camará, falecido em 2011... Aliás, "Aladje Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, o rei dos nalus" (tinha 87 anos em 2008).

Em Angola, sim, houve várias rainhas, que ficaram na história, começando pela mais célebre, Mwene Nzinga Mbandi (c. 1582, - 1663), também conhecida por rainha Njinga ou Ginga, ou Ana de Sousa (para os portugueses).

Vamos lançar o desafio aos nossos dois fotógrafos e aos nossos camaradas que tenham passado por Catió... Quem é (era ou foi) esta "mulher grande, rainha de Catió"? (***)
____________

Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 28 de março de 2019 : Guiné 61/74 - P19628: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VII: Catió e arredores: contactos com a população civil

(**) 9 de agostoi de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)

(***) Último poste da série > 30 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) >  O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2º cmdt do BCAÇ 2930, com a "raínha de Catió" e algumas das suas filhas... Em chão nalu, ela era fula. As miúdas mais pequenas estão "meio escondidas", envergonhadas ou intimidadas (como era normal, na presença dos "tugas")...

Foto nº 1A > Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 2930 (Catió, 1970-72) > O então maj inf Mário Arada Pinheiro, 2º cmdt do BCAÇ 2930, com a "raínha de Catió" e duas das suas netas... 


A raínha de Catió, Catió, 1972


O major inf Arada Pinheiro, 2º cmdt,
BCAÇ 2930, Catió, 1972



O Cmdt CCS / BCAÇ 2930, cap SGE Manuel Pereira
 de Carvalho (já falecido)


O major inf Arada Pinheiro, 2º cmdt,
BCAÇ 2930, à esquerda,  e o ten cor  
Ernesto Orlando Vieira Correia (já falecido)

1. Em complemento do poste P24275 (*), o nosso novo grã-tabanqueiro, nº 871, cor inf ref Mário Arada Pinheiro,  com 90 anos de idade (completados em 12/12/2022), mandou-nos  mais algumas fotos do seu tempo de Guiné,para completar o seu processo de adesão à Tabanca Grande.

Recorde-se que, após duas comissões de serviço em Moçambique, como capitão (em 1961/63 e 1968/70), foi mobilizado para a Guiné, como major, em rendição individual, e onde permaneceu, de 16/9/71 a 21/9/73.

Esteve um ano no comando do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73), em Catió, onde foi substituir o 2º comandante o maj inf Ernesto Orlando Vieira Correia, entretnato promovido a tenente coronele e cmdt do batalhão.  Também exerceu funções como oficial de  informações e operações. O 1º cmdt do BCAÇ 2930, ten Castro Ambrósio,  terá sido afastado, por Spín0ola, do comando da unidade por razões disciplinares.

O BCAÇ 2930 era apenas composto por Comando e CCS (cmdt, cap SGE, Manuel Pereira de Carvalho) não dispondo de subunidades operacionais orgânicas. Em 16dez70,  assumiu a responsabilidade do vasto Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine. 

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações, especialmente quando situados junto da fronteira. Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Em 21Ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque. Nessa altura, o Mário Arada Pinheiro foi colocado na 2ª Rep (Repartição de Operações), do QG/CCFAG, na Amura, cujo chefe era o tenente coronel Firmino Miguel. 

Cerca de 3 meses depois, foi convidao para (e nomeado) comandante do Comando Geral de Milícias, em substituição do major inf Carlos Fabião que regressara a Lisboa após 8 anos de Guiné.

Além das milícias, tinha também sob o seu comando as companhias africanas tal como os pelotões de caçadores nativos num total de cerca de 13000 militares.  

O hoje cor inf ref Arada Pinheiro estava no CTIG, colaborando diretamente com Spínola quando:

(i) o líder do PAIGC, Amílcar Cabral, é assassinado em Conacri, em 20 de janeiro de 1972: Spínola estava em reunião com a sua equipa quando o diretor da PIDE, em Bissau, o inspetor Fragoso Alas, considerado "seu homem de mão", o interrompeu com a trágica notícia; Spínola ficou visivelmente surpreendido e transtornado;

(ii) foi decidido ocupar o Cantanhez e lançar a Op Grande Empresa (iniciada em 11 de dezembro de 1972); a decisão foi tomada numa reunião a três (Spín0la, Arada Pinheiro e o chefe da Repartição de Operações, Manuel Batista, se não erro; Spínola exigiu total sigilo: "vocès nem às vossas mulheres fakam disto!"; e foi lançado, por sugestão do Mário Arada, na 5ª Rep (Café Bento) o boato de que ia ser desencadeada uma grande operação lá para o Nordeste do território, Buruntuma, etc.;

(iii) da crise dos mísseis Strela (a partir de 25 de março de 1973) (Spínola teve que "pegar na malta dos helis e pô-los a voar com ele"...).

No exercício das suas funçóes, o então major fez dezenas de viagens por via aérea (nomeadamente em DO-27 e heli) (falou-me em meia centena...) e apanhou dois valentes sustos... De uma vez, quando vinha para Bissau, de Cufar (via Cacine), o heli, que seguia ao longo da costa atlàntica, para evitar os "Strela", chocou contra uma gaivota; o impacto foi tão grande que estilhaçou e furou a carlinga do heli; o Mário Arada, que ia a dormitar, acordou com um estrondo e com os restos ensanguentrados do pássaro, colados no seu camuflado...

Outro susto teve a ver com uma DO-27 cujo motor parou, no regresso a Bissau...Ia a voar muito alto sobre a região de Quitafine; ele e o piloto (iam só eles os dois) decidiram fazer uma aterragem de emergència numa bolanha...O major preparou.se para ir "tomar um banho", descalçou as notas, etc... Quando a aeronave estava a 200 metros do solo (pouco mais de 600 pés), o motor voltou a funcionar!... Foi um grande alívio,  aterraram em Bissalanca onde tinham meia base à sua espera em grande alvoroço...
 


Batalhão de Caçadores n.º  2930 (1970/72)

Identificação: BCaç 2930

Unidade Mob: BC 10 - Chaves

Cmdt: TCor Inf Castro Ambrósio | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto | TCor Inf Ernesto Orlando Vieira Correia

2º  Cmdt: Maj Inf Ernesto Orlando Vieira Correia | Maj Inf  Mário Arada de Almeida Pinheiro

OInfOp/ Adj: Maj Inf Duarte Leite Pereira | Maj Inf Mário Arada de Almeida Pinheiro

Cmdt CCS: Cap SGE Manuel Pereira de Carvalho

Divisa: "Sempre Excelentes e Valorosos"

Partida: Embarque em 25Nov70; desembarque em 04Dez70 | Regresso: Embarque em 130ut72


Síntese da Actividade Operacional


Era apenas composto por Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 16dez70, após sobreposição com o BArt 2865, desde 7dez70, assumiu a responsabilidade do Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações, especialmente quando situados junto da fronteira. 

Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 4 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 2 lança-granadas foguete, 87 granadas de espingarda e 68 minas.

Em 21Ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 92 - 2ª. Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 150

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24275: Tabanca Grande (549): As "fotos da praxe" do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, que completou 90 anos em 12/12/2022... Foi 2.º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73) e Cmdt do Comando Geral de Milícias (1973)

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24275: Tabanca Grande (549): As "fotos da praxe" do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, que completou 90 anos em 12/12/2022... Foi 2.º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73) e Cmdt do Comando Geral de Milícias (1973)


Mário Arada Pinheiro, cor inf ref, membro da Tabanca Grande, nº  871, desde 20 de fevereiro de 2023 (*).  Faltavam-nos as fotos da praxe para completar o seu processo de adesão à nossa comunidade virtual (**)


1. Em complemento do poste P24072 (*), o nosso novo grã-tabanqueiro, nº 871, cor inf ref Mário Arada Pinheiro,  mandou-nos finalmentre as "fotos da praxe" para completar o seu processo de adesão à Tabanca Grande.(**)

Recorde-se que, após duas comissões de serviço em Moçambique, como capitão (em 1961/63 e 1968/70, foi mobilizado para a Guiné, como major, e onde permaneceu, de 16/9/71 a 21/9/73,

Esteve um ano no comando do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73), em Catió,  onde foi substituir o 2º comandante que tinha sido evacuado por doença.

Esta unidade ra apenas composta por Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 16dez70, após sobreposição com o BArt 2865, desde 7dez70, assumiu a responsabilidade do Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações, especialmente quando situados junto da fronteira. Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Em 21Ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque.

Nessa altura, o  Mário Arada Pinheiro foi  colocado na Repartição de Operações,  do Comando Chefe, na Amura,  cujo chefe era o tenente coronel Firmino Miguel. Cerca de 3 meses depois, foi convidao para (e nomeado) comandante do Comando Geral de Milícias, em substituição do major inf Carlos Fabião que regressara a Lisboa após 8 anos de Guiné.

Além das milícias, tinha também sob o seu comando as companhias africanas tal como os pelotões de caçadores nativos num total de cerca de 13000 militares.

Nasceu em 12/12/1932, em Samora Correia, Benavente, filho de  um oficial da Marinha. Ficou órfão cedo. Entrou para o Colégio Militar em 1943 onde fez o curso liceal.  Frequentou depois a Academia Militar (1951/54). Tirou o tirocínio em Mafra em 1954/55. Foi promovido a alferes em 1955, tenente em 1957 e capitão em 1960. Atingiu o poste de posto de coronel em 1976. Faz férias, de há muito, na Praia da Areia Branca, Lourinhã. Foi aí que nos conhecemos. É uma pessoa de trato afável e um grande contador de histórias. Ultrapassou recentemente um problema de saúde.  Completou no passado dia 12 de dezembro os 90 anos. (LG)
___________

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24082: Tabanca Grande (544): Mário Arada Pinheiro, cor inf ref, que, além de 2º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73), esteve na 2ª Rep, no QG/CCFAG, e foi comandante-geral de milícias, substituindo o major Carlos Fabião... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 871.



O nosso novo grã-tabanqueiro, nº 871, cor inf ref Mário Arada Pinheiro (de momento não temos nenhuma foto dele),  foi substituir  o major inf Carlos Fabião  como comandante do Comando Geral de Milícias, aqui na foto,  de autor desconhecido, reproduzida com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335.  


1. Mensagem do cor inf ref Mário Arada Pinheiro:


Data - 14/02/2023, 11:43
Assunto - Comissão na Guiné


Vamos lá a ver se chega ao seu destino...

Mário Arada de Almeida Pinheiro, breve cv militar:

(i) nascido em 12/12/1932;

(ii) 1ª, 2ª e 3ª classes feitas na Lourinhã. 4ª em Samora Correia, Benavente;

(iii) exame de admissão ao liceu - Santarém;

(iv) entrei para o Colégio Militar em 1943 onde fiz o curso liceal (nº 164/1943, segundo a
 Revista ZacatraZ nº 196, março de, 2017)

(v) entrei na Academia Militar em 1951, acabando em 1954;

(vi) tirei o tirocínio em Mafra em 1954/55;

(vii) alferes em 3/11/1955, tenente em 1/12/1957, capitão em 1/12/1960 (Mafra, EPI), tenente-coronel 7/9/1976 no Colégio Militar, coronel em 2/11/1980:

(viii) entretanto estive colocado no RI 5 (Caldas da Rainha), tendo passado 6 meses na Escola Prática de Engenharia em Tancos a tirar o curso de Sapadores.

(ix) depois, 4 anos em Leiria (SHAPE, RI 7);

(x) Depois, Colégio Militar, como responsável pela Instrução Militar;

(xi) 1ª comissão no ultramar,  em Moçambique, de 1961/63, tendo sido evacuado por tuberculose pulmonar. 4 meses internado no Hospital Militar de Belém, após o que fiz 3 anos de serviços moderados no Colégio Militar;

(xii) em 1968 embarquei para 2ª comissão , e 2 anos, em Moçambique;

(xiii) regressei em 1970 e estive no Estado Maior General das Forças Armadas;

(xiv) depois, Batalhão de Chaves, após o que fui convidado para Lamego como director das operações especiais, após o que dirigi um curso de formação de sargentos.

(xv) 3ª comissão, na Guiné, de 16/9/71 a 21/9/73, no comando do BCÇ 2930 (Catió, 1971/73),

Inicialmente, estive em Catió, cerca de 1 ano, onde substituí o 2º comandante que tinha sido evacuado com um cancro.

Tínhamos 2 companhias, sendo uma de milícias guineenses, 1 pelotão de artilharia de 10,5 cm, 1 pelotão de canhões sem recuo de 5,7 cm, 1 pelotão de morteiros de 81 mm. Outras Companhias do Batalhão: Cufar, Bedanda, 2 grupos de combate em Cabedu, Cacine, Gadamael e Guileje.

Como era 2º comandante, acumulava com chefe das informações e mensalmente deslocava-me a fazer a inspecção administrativa de todas as companhias do batalhão.

O Comandante de Bedanda, da CCÇ 6,  na altura era o capitão de cavalaria Ayala Botto.

Quando o BCAÇ 2930 regressou a Lisboa, eu só tinha um ano de Guiné pelo que fui transferido para Bissau,  sendo colocado na Repartição de Operações,  do Comando Chefe, na Amura,  cujo chefe era o tenente coronel Firmino Miguel.

Passados cerca de 3 meses, fui convidado e nomeado comandante geral das milícias para substituir o major Carlos Fabião que regressara a Lisboa após 8 anos de Guiné.

Além das milícias, tinha também sob o meu comando as companhias africanas tal como os pelotões de caçadores nativos num total de cerca de 13000 militares.

Ainda estava eu em Catió quando o PAIGC estreou os mísseis antiaéreos Strela (russos), abatendo no corredor de Guilege um Fiat cujo piloto era o tenente Pessoa, que conseguiu ejetar-se, tendo caído em cima de umas árvores no corredor de Guilege. Foi salvo na manhã seguinte por uma equipa, transportada de helicóptero, e protegida por um heli-canhão. O comandante de força era o comando guinéu Marcelino da Mata.

Se me quiserem pôr qualquer questão, apesar da minha cabeça com 90 anos, e desde que me recorde, sempre à vossa disposição.

Um grande abraço do,

Arada Pinheiro

2. Comentário do editor LG:

Mário, magnífico, eureca!... Já cá chegou, depois de algumas tentativas falhadas, por erro no meu endereço.

Vivam esses 90 anos, feitos já no passado dia 12 de dezembro, e essa cabecinha!... Vou apresentá-lo à Tabanca Grande, mesmo não tendo ainda as duas fotos da praxe.. Peça à sua neta para digitalizar uma ou duas fotos do seu álbum, e mandar-mas depois por email: (i) uma mais ou menos atual; (ii) outra do tempo da Guiné ou da até da Escola do Exército / Academia Militar...

Descobri, que no Colégio Militar o meu amigo era o nº 164/1943, segundo a Revista ZacatraZ nº 196, março de, 2017. Mas não há muito mais informação a seu respeito, já que não faz uso das redes sociais,

De qualquer modo, deixe-me dizer aos restantes "amigos e camaradas da Guiné" que se reunem aqui, sob o o poilão da Tabanca Grande, que o Mário é meu conterrâneo, eu pelo menos considero-o como tal: casado com uma senhora lourinhanense, cujo pai ainda conheci, tem casa de verão na Praia da Areia Branca e somos sócios do GAPAB - Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca...(Eu muito mais recentemente, sou "periquitio" em relação ao Mário que é um histórico.)

No verão passado, apresentámo-nos um ao outro e foi então que soube que o Mário tinha  feito uma comissão na Guiné, em 1971/73, como major.  Fiquei encantado com a sua afabilidade, memória, sentido de humor e amor por aquela terra e aquela gente. Confidenciou-me algumas histórias saborosas, do tempo que ainda privou com o seu / nosso (eu sou de 1969/71) comandante-chefe, o gen Spínola. 

Foi na sequência de uma das nossas primeiras conversas, no VIGIA (sede da GABAP),  que o meu amigo  me facultou, a título de empréstimo, um exemplar autografado do livro de memórias do ten gen Aurélio Manuel Trindade, "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", escrito sob o pseudónimo Manuel Andrezo. O teor da dedicatória é o seguinte: "Ao meu amigo Pinheiro com muito respeito e consideração para que se lembre sempre da Guiné, terra que ambos admiramos. 13/12/2020. Aurélio Trindade." 

Recorde-se que foi a partir daqui que tomei a liberdade de fazer e publicar várias "notas de leitura" do livro em questão. E fomos falando, ora no VIGIA ora ao telemíovel. Depois de lido, devolvi-o, naturamente, e disse ao Mário que teria muito gosto em vê-los sentados à sombra do nosso poilão, a si e ao seu amigo Aurélio Trindade.

O Mário aceitou, logo de bm grado, o convite para se juntar à nossa tertúlia, sabendo que ela não tem qualquer agenda política, servindo apenas para os antigos combatentes da Guiné partilharem memórias (e afetos). Temos várias tabancas onde n0s reunimos periodicamente, de norte a sul do país E a mais próxima de si (que vive em Paço de Arcos ) é a Tabanca da Linha, em Algés. Espero quer um dia destes possamos lá aparecer juntos, mau grado as nossas mazelas. Para já, seja bem vindo à Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas. O seu lugar (por ordem cronológica de entrada) é o nº 871,


 3. Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 2930
  
Identificação: BCaç 2930
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: TCor Inf Castro Ambrósio | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto | TCor Inf Ernesto Orlando Vieira Correia 
2º Cmdt: Maj Inf Ernesto Orlando Vieira Correia | Maj Inf Mário Arada de Almeida Pinheiro
OInfOp/ Adj: Maj Inf Duarte Leite Pereira | Maj Inf Mário Arado de Almeida Pinheiro
Cmdt CCS: Cap SGE Manuel Pereira de Carvalho
Divisa: "Sempre Excelentes e Valorosos"
Partida: Embarque em 25Nov70; desembarque em 04Dez70 | Regresso: Embarque em 130ut72

Síntese da Actividade Operacional

Era apenas composto por Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicos.

Em 16Dez70, após sobreposição com o BArt 2865, desde 07Dez70, assumiu a responsabilidade do Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações,
especialmente quando situados junto da fronteira. 

Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de
Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 4 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 2 lança-granadas foguete, 87 granadas de espingarda e 68 minas.

Em 21ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa nº 92 - 2º Div/4º Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 150

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Nota do editor:

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23885: Notas de leitura (1532): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte IX: O Prémio Governador da Guiné para o sold Baldé

 

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 4ª CCAÇ  > c. 1965/67 > O alf mil Oliveira com miúdos da tabanca. É um soldado do seu pelotão, o sold Baldé, quem ganha num dado mês de 1966 (presume-se) o Prémio Governador da Guiné, por atos de bravura em combate. O prémio consistia num mês de férias em Lisboa, com viagens pagas. A companhia, além de um  mês de pré adiantado, gratificou-o com "10 mil pesos" (ou escudos da Guiné, o que, a preços atuais, corresponderia,em 1966, a 3360 euros, considerando que no câmbio o "peso" sofria uma quebra de 10%)... Nessa época, dez contos dava para se passar umas boas férias em Lisboa e arredores... 

Foto (e legenda):  Manuel Andrezo . "Panteras à Solta", edição de autor, s/l, 2010, pág. 399 (Com a devida vénia...).

1. C
ontinuação da leitura do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010], 399 pp. il, disponível em formato pdf, na Bibilioteca Digital do Exército). 

Ficha bibliográfica da edição de autor de 2010:

Título: Panteras à Solta
Publicação: Lisboa : Edição de autor, 2010
Desc. Físicia: 399 p. : il. ; 26 cm
Contém: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal
Notas
: Manuel Andrezo é pseudónimo do Tenente-General Aurélio Manuel Trindade

O ten gen ref Aurélio Manuel Trindade foi cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/jul 67. Irá completar 90 anos em 2023. Vive em Lisboa. Um exemplar do seu livro, impresso na Alemanha (c. 2020), foi-me gentilmente facultado, no verão passado, a título de empréstimo, pelo cor inf ref Mário Arada Pinheiro, com dedicatória autografada do Aurélio Trindade, seu amigo, datada de 13/12/2020. 

Já fiz uma meia dúzia de notas de leitura (*) deste livro que, infelizmente, está fora do mercado, por se tratar de edição de autor. Como já tivemos ocasião de o dizer, o livro pode ser considerado como um "diário de bordo" (com um sequência cronológica, embora não datada)  do autor (ou do seu "alter ego", o cap Cristo). 

O cap inf  Trindade foi  o último comandante da 4ª CCAÇ e o primeiro da CCAÇ 6 (a 4ª Companhia de Caçadores passou, a partir de 1 de abril de 1967, a designar-se por CCAÇ 6, "Onças Negras").

Muitos "bedandenses" (e temos cerca de um vintena de camaradas, membros da Tabanca Grande, que estiveram em ou passaram por Bedanda, entre 1961 e 1974, mormente na 4ª CCAÇ e na CCAÇ 6),  têm mostrado interesse por esta obra, que temos estado a divulgar.   

Temos vindo, ao mesmo tempo,  a selecionar uma ou outra história ou episódio dos cerca de 70 capítulos, não numerados, que o livro apresenta, uns sobre a atividade operacional da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, outros sobre o quotidano da tropa e da população (incluindo a população do mato). (**)

2. Acontece que o nosso amigo (e camarada de armas), cor inf ref Mário Arada Pinheiro (ambos somos sócios do VIGIA - Grupo de Amigos da Praia da Areia Branca, e ele é casado com uma senhora lourinhanese) tem estado internado no Hospital ds Forças Armadas, e é provável que passe lá esta quadra natalícia. Falámos há dias ao telefone. E achei-o com ânimo, apesar das circunstâncias.

Ele tem um especial carinho pela Guiné (onde fez uma comissão de serviço, no tempo do gen Spínola, e outras duas em Moçambique). Disse-me que foi substituir o major inf  Carlos Fabião, tendo ficado por sua conta um número impressionante de militares (e mílícias) do recrutamento locla: qualquer coisa como 13 mil!... (Era também na altura major.)

Já aceitou o convite para integrar a nossa Tabanca Grande e, finalmemnte, ia-nos mandar as fotos da praxe e o resumo do seu CV militar quando teve o problema de saúde que o levou a ser internado no Hospital. 

Também em sua honra escolhi esta história do soldado Baldé que ganhou o prémio Governador da Guiné, ao tempo do gen Arnaldo Schulz... Tudo indica que a cena, que abaixo se transcreve, se tenha passado em 1996.
 
Uma das preocupações iniciais do cap inf Cristo, quando chega a Bedanda, em rendição individual, em julho de 1965, para comandar a heterogénea 4ª CCAÇ, é o reforço da coesão,  do espírito de corpo, da disciplina e da lealdade dos seus homens.  A notícia de que o sold Baldé (não sabemos se o nome é fictício) ganhara o Prémio Governador da Guiné é recebida com regozijo por todos, tratando-se para mais de um soldado do recrutamento local. 

É pena não sabermo resto da história (as eventuais peripécias do nosso Baldé em Lisboa), mas a cena da avioneta do correio que o levou até Bissau  por certo que é divertida, e apropriada a esta quadra  natalícia.  Reproduzimo-la, com a devida vénia ao autor. (No livro não há, infelizmente,  nenhum episódio passado na época do Natal, até porque a companhia tinha poucos metropolotanos; mas com um pouco de benevolência do leitor, talvez possamos ver neste Prémio do Governador da Guiné uma espécie de prenda do Pai Natal dos Trópicos...). 

Ao meu amigo e nosso camarada Arada Pinheiro só posso desejar rápidas melhoras. Quero dar-lhe um valente "quebra-costelas" logo que o veja, talvez agora só no inícío de 2023, já devidamente restabelecido e em boa forma. LG


UM PRÉMIO PARA O SOLDADO BALDÉ 

(pp. 258-259)

por Manuel Andrezo


Para os militares que mais se distinguiam em combate havia na Guiné um prémio especial. Era o prémio Governador da Guiné, independente de outros louvores ou condecorações, e constava de uma viagem a Lisboa paga pelo Governador. Poucos militares tinham acesso a esse prémio porque ele era em numero muito reduzido, e sendo muitos os que se distinguiam em combate a selecção era rigorosa.

Um dia chegou uma mensagem dizendo que o prémio tinha sido atribuído ao soldado Baldé, um militar nativo da secção da Casa Gouveia. Todos ficaram contentes por o prémio do mês ter vindo para alguém da companhia e ainda mais para um soldado nativo que não conhecia Lisboa. O capitão mandou chamar o soldado Baldé e o seu comandante de pelotão.

─ Baldé, estás de parabéns, ganhaste um prémio. O Senhor Governador atribuiu-te o prémio Governador da Guiné. Embarcas em Bissau para Lisboa na próxima quinta-feira. É uma honra para ti e para todos nós este prémio. São poucos os soldados que o recebem, e tu até vais a Lisboa. Espero que te divirtas por lá e que quando voltares venhas tão bom soldado como tens sido. Amanhã chega o avião do correio e tu embarcas nele. Tens aqui dez mil pesos da Companhia que em Bissau trocas por escudos de Lisboa para te divertires por lá. Além disso, levas um mês de vencimento adiantado. O nosso alferes vai ajudar-te a tratar e a arranjares as coisas que deves levar.

Podes ir embora. Bom dia.

─ Bom dia, nosso capitão.

Oliveira, vê a roupa que ele leva. O verão lá é sempre mais frio que aqui e eu não quero que o Baldé ande a mendigar roupa. Se for preciso comprar alguma coisa compras no Zé Saldanha que a Companhia paga. Explicas no teu pelotão o que se passa, de forma a criar neles o desejo de também ganhar o prémio Governador da Guiné. Dizes aos outros comandantes de pelotão para fazerem a mesma coisa. Vai lá tratar disso. Até logo.

─ Até logo, meu capitão.

No dia seguinte, com a companhia na pista, o soldado embarcou para Bissau onde ficaria uns dias antes de seguir para Lisboa. O avião do correio vinha de Bissau para Catió, onde deixava o correio e o recebia com destino às várias companhias, levantando depois voo para fazer o circuito tradicional ─ Catió, Cufar, Empada, Cabedú, Bedanda, Catió. Nas diversas companhias entregava e recebia o correio.

Recebia também os doentes ou outros passageiros urgentes até ao limite da sua capacidade. Em Bedanda recebeu o soldado Baldé. Ao chegar a Catió o piloto verificou que havia dois passageiros para embarcar com destino a Bissau e apenas um lugar. Ao saber disto informou o oficial de reabastecimentos e pessoal que só podia embarcar um dos passageiros, pois um dos lugares, inicialmente disponível, fora ocupado por um soldado de Bedanda. A decisão do oficial não se fez esperar e transmitiu-a ao soldado Baldé.

─ Tu aí, desce do avião para entrar o nosso furriel. Vais depois no próximo avião.

─ Eu não desço ─ disse o soldado. ─ Capitão de Bedanda que é capitão do mato disse-me que eu ia neste avião para Bissau para ir para Lisboa como prémio do nosso Governador. Tu és capitão da CCS. Capitão da CCS não dá ordens a soldado de Bedanda diferente da do capitão do mato. Capitão do mato manda mais do que capitão da CCS. Eu vou para Bissau neste avião como disse capitão de Bedanda.

─ Tens que descer. Quem manda no avião sou eu e não o nosso capitão de Bedanda, de quem sou muito amigo. Nosso capitão Cristo não me avisou da tua vinda e eu tenho que mandar o furriel que vai de licença.

─ Não, nosso capitão. Eu não posso descer. Se nosso capitão da CCS é amigo do nosso capitão do mato não dá ordens diferentes dele. Nosso capitão manda no avião e nosso capitão manda em Bedanda, e o avião também é de Bedanda. Eu vou para Bissau porque nosso capitão de Bedanda disse para eu ir, e também tenho de apanhar avião grande para Lisboa. Em mim quem manda é capitão do mato e não capitão CCS.

Dada a situação que foi criada, e porque nada demovia o soldado porque ele não aceitava sequer a ideia de alguém contrariar o seu capitão do mato, o oficial de reabastecimentos e pessoal foi falar com o comandante de batalhão a quem expôs o problema. E falou então o comandante do batalhão.

─ É bom ver um soldado nativo que acredita tanto no seu capitão que não admite que alguém possa contrariar uma ordem sua. O soldado vai para Bissau. Sai do avião o militar a quem não faça diferença embarcar no próximo, ou então só embarca umpassageiro para Catió. Lembra-te de que o soldado que aí vai é um herói. Vai para Lisboa como prémio dos seus feitos em combate. Isto é tão raro que este é o primeiro soldado do batalhão a ganhar tal prémio. Isso devia ser razão suficiente para não ter havido este incidente.

Deste modo, o soldado Baldé conseguiu que uma ordem do seu capitão fosse respeitada no Comando do Batalhão, e ele continuou a considerar o seu capitão como o melhor do mundo. Mundo pequeno, mas era o seu mundo. 

[Seleção / revisão e fixação de texto / subtítulos / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores com as nossas notas de leitura sobre o livro "Panteras à Solta";

9 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23603: Notas de leitura (1493): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VIII: A visita de uma delegação do Movimento Nacional Feminino, em fevereiro de 1966: "O senhor capitão hoje está cheio de sorte, há meses que não via uma mulher branca, hoje vê duas"

5 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23590: Notas de leitura (1489): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VII: A incrível história do soldado 25, cabo-verdiano, aliciado pela amante, uma "mulher do mato" de Cobumba, para cometer um acto de alta traição: tomar o quartel e matar todos os tugas...

1 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23577: Notas de leitura (1485): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VI: "Cercados de guerrilheiros por todos os lados", diz o alf mil Ribeiro, no "briefing" da praxe...

31 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23573: Notas de leitura (1484): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte V: Bedanda, em meados de 1965

30 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23568: Notas de leitura (1482): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte IV: as circunstâncias da morte do 2º sargento mecânico auto Rodolfo Valentim Oliveira, em 11/8/1965...

29 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23565: Notas de leitura (1481): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte III: O Tala Djaló, cmdt do Pel Mil 143 e depois fur grad 'comando' da 1ª CCmds Africana, que virá a ser fuziladdo em Conacri, na sequência da Op Mar Verde

26 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23559: Notas de leitura (1480): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte II: "Homem gosta de ter mulher na cama, quando vem da guerra", lembra a "Tia", a mulher grande...

25 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23553: Notas de leitura (1478): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte I: "Os alferes não gostaram do novo capitão. Acharam-no com cara de poucos amigos."

(**) Último poste da série > 12 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23871: Notas de leitura (1531): Guevara versus Amílcar Cabral: Divergências estratégicas na guerrilha (2) (Mário Beja Santos)