Mostrar mensagens com a etiqueta Xime. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Xime. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26319: Notas de leitura (1758): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Tanta turbulência na História da Guiné neste período que precede o 5 de outubro de 1910. O quebra-cabeças da ocupação continua a ser a reorganização militar, não se querem indígenas na terra, mas sim de S. Tomé e Angola e até de Moçambique, ninguém se mostra disponível para corresponder ao pedido, o encarregado do Governo anda de candeias às avessas com o Chefe de Estado-maior, os Balantas andam insubmissos em Goli, insubmissa está toda a região do Oio, é nisto que chega um capitão de Infantaria para governar, Francelino Pimentel, escreverá um importante relatório ao ministro da Marinha onde deixa bem claro a porção de focos de hostilidade permanente, há régulos que se tinham revoltado que pedem perdão, os de Bissau pedem perdão, os do Oio pedem perdão, no entanto há situações de grande tensão na circunscrição de Cacine, Francelino Pimentel ainda consegue recrutar 144 indígenas, chega o 5 de outubro, o governador demite-se, depois disso a favor da nova ordem, depois demite-se e embarca para Lisboa, nesse mesmo mês de outubro chega o governador Carlos Pereira, o tal que manda derrubar as muralhas à volta de Bissau. Estamos agora na Guiné da I República.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (7)

Mário Beja Santos

Oliveira Muzanty revelou-se um governador dinâmico em campanhas e expedições, como é evidente com resultados espúrios. Reaparece na Guiné no início de 1909, a sua ação foi alvo de importantes críticas, acusaram-no de não ter conseguido resolver os principais problemas ligados ao Oio e à ilha de Bissau. Chega e regressa prontamente a Lisboa, o encarregado do Governo é o secretário-geral Duarte Guimarães. O Residente de Geba, Belmiro Ernesto Duarte Silva, recebe o do régulo do Cuor, Abdul Injai, o pedido para socorrer os postos Balantas que estavam a ser atacados, e então o Residente pede ajuda ao régulo Abdulai do Xime, terá assim nascido uma desinteligência entre Abdul Injai e o chefe do posto de Bambadinca, à cautela o Residente de Geba determina que não sejam entregues armas e munições a Abdul.

Em Bolama, o secretário-geral Duarte Guimarães e o Chefe de Estado-maior Ilídio Nazaré, andam de candeias às avessas. Os indígenas das povoações de Mansoa atacaram o posto de Goli (provavelmente Porto Gole), mas foram repelidos, nova zanga entre o secretário-geral e o Chefe de Estado-maior, o primeiro nomeou o segundo comandante do posto de Goli. Chegado a este lugar, Nazaré ordena a saída do corpo auxiliar do chefe Abdul e prepara-se um ataque a uma povoação de Balantas, Nhafo, os Balantas não ofereceram resistência. Continuam as desavenças entre as duas autoridades. Ilídio Nazaré virá mais tarde para Lisboa, tinha entregue a Muzanty um plano de reorganização militar da província. Nazaré pretendia não fazer recrutamento de indígenas, anteriormente este recrutamento tinha sido feito à custa de homens de Mutaro Injai e de Abdul Injai. Para Nazaré, uma perfeita e cabal ocupação da província carecia de uma divisão em sete zonas militares, a que corresponderia uma guarnição com um total de 2 mil homens. Mas estava consciente de que tais encargos eram pesados para o tesouro, daí ter proposto para a província uma guarnição de um pelotão misto de Engenharia, uma bateria mista de Artilharia, um pelotão de Cavalaria e quatro companhias de Infantaria, num total de 871 homens. Considerava que o problema do recrutamento indígena se resolveria com gente de Angola. Na província só se poderia contar com Turancas para a cavalaria e alguns Fulas para a infantaria.

Chega, entretanto, o novo governador, o capitão de Infantaria Francelino Pimentel, reajusta o plano de reorganização militar, é curioso o modo como propõe a distribuição das forças que se deveria fazer pelos diversos postos da província: no Xime e Bambadinca, região Fula perfeitamente dominada, os postos não necessitavam de grande força militar, o mesmo acontecendo em Arame e Samogi, respetivamente nas regiões Baiote e Balanta do rio Farim; quanto a Goli e Caraquecunda, os postos deveriam ter guarnição reforçada, era preciso “manter em respeito a gente do chefe Abdul”; Culicunda deveria manter-se ocupada, se bem que com reduzida guarnição; quanto a Bissau, esta precisava de uma forte guarnição “não só para prevenir a eventualidade (pouco provável) de um golpe de mão por parte dos Papéis, como ainda para garantia de segurança do elemento estrangeiro.” Francelino Pimentel escreve para Lisboa que a situação política da província se mantinha pouco satisfatória. Havia grandes falhas no pagamento do imposto palhota. Pedia para a província uma guarnição própria. O ministro do Ultramar responderá em março de 1910 informando Bolama de que as companhias de atiradores e a companhia indígena de Moçambique iriam ser substituídas de duas companhias indígenas de Infantaria, com o efetivo de duas companhias cada, a serem recrutados na Guiné, S. Tomé e Angola. Verificar-se-ão enormes dificuldades no recrutamento de indígenas fora da Guiné.

Um pouco antes da chegada de Francelino Pimentel apresentaram-se em Bolama representantes de todo o Oio pedindo a paz e aceitando todas as condições que o secretário-geral lhes impunha: entrega de todas as armas Snider, construção de três postos à escolha do Governo, multa de 200 vacas e pagamento do imposto a partir de janeiro. Ilídio Nazaré não foi ao Oio para ratificar a condições de paz, o secretário-geral decidiu esperar pelo novo governador.

Ilídio Nazaré irá ser procurado por um representante de régulos que se tinham revoltado, Infali Soncó do Cuor e Boncó Sanhá de Badora, propuseram uma conversa com os grandes e chefes de quase toda as povoações do Oio, procurava-se o reconhecimento de que todos os habitantes do Oio pretendiam a paz. Ilídio Nazaré elaborar um relatório sobre esta digressão através do Oio e relata o teor das conversas havidas com os dois régulos que no passado se tinham revoltado, no fundo eles procuravam o perdão.

Chega Francelino Pimentel à Guiné e aceita perdoar os Papéis, lavrou-se um auto de vassalagem, os régulos de Intim, Bandim e Antula, como representantes do povo da região dos Papéis pediam perdão ao Governo de Sua Majestade, e acatavam certas condições: ficavam obrigados a prestar auxílio ao Governo “quando chamados para castigar povos insubmissos ou rebeldes”, ficando com direito a “metade das presas feitas em gado ou géneros”; não permitiriam que na sua região se praticassem morticínios ou se aplicassem castigos que denodassem barbaridades.

Há ainda a apontar um incidente fronteiriço da circunscrição de Cacine, a delimitação de fronteiras não impediu que continuassem incidentes com indígenas dos territórios franceses. Foi o que aconteceu em Cacine, houve uma incursão de Futa-Fulas que vieram para caçar e cortar borracha no mato. O régulo queixou-se, houve para ali desacatos, demorou a voltar à normalidade. No final de dezembro de 1909 estabeleceu-se um posto militar na região do rio Armada, próximo da povoação Balanta de Bissorã, posto esse que foi atacado no início de janeiro de 1910 pelos Oincas. O novo governador informa o ministro que a criação dos postos militares e a nomeação dos régulos do Cuor e Badora haviam sido feitos contra a vontade do gentio, temia novos ataques dos Oincas, mas havia que ocupar pacificamente as regiões dos Papéis e dos Oincas, e substituir os régulos Abdul e Abdulai “que tão nocivos e prejudiciais têm sido na região de Geba”. Mas havia que aumentar a guarnição, o governador insistia que as forças da província eram insuficientes, insistirá junto do ministro no problema de organização militar, o que escreve merece meditação:
“Por um lado, temos os Papéis, Balantas e Biafadas, aparentemente submissos, por outro a residência de Geba, odiando-se Fulas-Forros e Fulas-Pretos e a região dos Oincas insubmissos; em Cacheu, seis regiões aparentemente submissas, três insubmissas devido a leviandades dos Residentes, por os terem obrigado ao pagamento coercivo do imposto palhota, e os Manjacos – por onde Vossa Excelência pode muito bem calcular que a ocupação pacífica de algumas regiões se tem de fazer inadiavelmente, evitando-se complicações futuras que podem acarretar sérios dissabores.”
E, mais adiante, acrescenta: “O ter-se adiado e esperado que a evolução do tempo se encarregue de resolver importantes assuntos coloniais, bem patente e frisantemente nos tem provado as graves questões diplomáticas que têm advindo, quantos territórios temos perdido, as imposições que temos suportado e as quantias fabulosas que a metrópole se viu obrigada a despender com colunas de operações, quantias que, somadas, dariam para desenvolver e fazer prosperar a maioria das províncias.”

O governador é chamado a Lisboa, no regresso depara-se-lhe um conflito entre o encarregado do Governo e o secretário-geral, consegue recrutar 144 indígenas, pede dinheiro para construir habitação para as famílias deles, o ministro pede para que este problema orçamental fique na província. E assim chegamos ao 5 de outubro de 1910, o governador demite-se, depois diz que não, que é a favor da nova ordem republicana, depois insiste na exoneração, a 21 de outubro entregou o Governo e seguiu para Lisboa. O novo governador, o tenente da Armada Carlos de Almeida Pereira chega a Bolama a 23 de outubro.

Armando Tavares da Silva
Governador Carlos de Almeida Pereira (o primeiro governador da República), 1910-1913
Mapa holandês de 1727, a Guiné seria a Negrolândia
Abdul Injai
Interior da Fortaleza de Cacheu
Governador Francelino Pimentel

(continua)
_____________

Notas do editor

Post anterior de 20 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26294: Notas de leitura (1756): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (6) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 23 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26303: Notas de leitura (1757): "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", por José Brás; Chiado Books, 2024 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)










1. Mensagem do nosso amigo cor art ref Morais Silva, professor de artilharia e investigação operacional, ref, na AM; no CTIG, foi cap art, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e cmdt da CCAÇ 2796, em Gadamael, 1970/72.


Data - terça, 9 de julho de 2024 23:16
Assunto - Fogo amigo

Caro Luís

Aqui vai o meu contributo (*). Ab do MS


Mansambo - XIME = 15 km medidos na carta 1:50000

O nosso Obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45kg) com alcance máximo 14 800 metros. Com o gastamento das bocas de fogo o alcance máximo das nossas velhinhas b.f. era garantidamente inferior (**).

_________

Notas do editor:

(*) 23 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25772: Casos: a verdade sobre... (45): O "incidente" de 1/12/1973 que levou à morte de 7 civis no Xime, por "fogo amigo": nessa data não havia obuses em Mansambo e Gampará já tinha o obus 14 (António Duarte,ex-fur mil, CART 3493, Mansambo, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, dez 71 - jan de 74)

(**) Último poste da série > 25 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25775: Casos: a verdade sobre... (46): Sim, o obus 14 (a partir de Ganjauará ou de Mansambo) tinha alcance para chegar ao Xime (a 15 km de distância) em 1/12/73 (Domigos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-cmdt, 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70; vive em Almada)

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25775: Casos: a verdade sobre... (46): Sim, o obus 14 (a partir de Ganjauará ou de Mansambo) tinha alcance para chegar ao Xime (a 15 km de distância) em 1/12/73 (Domigos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-cmdt, 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70; vive em Almada)



Guiné > Bissau > BAC 1 > 1969 > O Domingos Robalo junto do obus 14


Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 

Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); nasceu em Castelo Branco, trabalhou na Lisnave, vive em Almada; tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue;


1.  Comentáro do eidtor LG:

Tinha o obus 10.5 (29º Pel Art, Ganjauará / Gampará) alcance para atingir a tabanca do Xime  ? Não tinha...  A distância  era de c. 15 km em lnya reta. Mas já o 27º Pel Art (14 cm) tinha... A grande dúvida é saber (*):


(i) quem estava onde, em 1/12/1973, e quem disparava o quê: se Ganjauará já tinha trocado o 10.5 (29º Pel Art) pelo 14 (27º Pel Art)...

(ii) ou se o 27º Pel Art (14 cm) estava em Mansambo.

O Sousa de Castro (que estava em Mansambo, na CART 3494),  diz que sim, que foi Mansambo a dar apoio ao Xime (a 15 km de distância), com o obus 14.

O António Duarte (que estava no Xime, com a CCAÇ 12) diz que não, qe Mansambo não tinha artilharia nessa data,  e que foi de Gampará que veio o fogo de apoio, a pedido do cap mil Simões,da CCAÇ 12.(**)

Na história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), diz-se que foi o 27º Pel Art  deu apoio de artilharia ao Xime, nessa ocasião (1/12/1973), para além da resposta que o 20º Pel Art local deu com o obus 10.5.

No livro da CECA sobre a atividade operacional n  CTIG, entre 1971 e 1974,  a informação sobre o dispositivo das NT não permite tirar conclusões seguras:

(i) sabe-se que no ano de 1973 houve uma grande mobilidade dos Pel Art, do GA 7: em 1/7/1972, o 27º Pel Art (14) estava em Farim, e Ganjauará, ao tempo da CART 3417, tinha um Pel Art, s/nº (10,5 cm, a três bocas de fogo) / GA 7; um ano depois, estava lá, em Ganjauará, o 29º Pel Art (10,5cm),  e o 27º Pel Art tinha sido sido saído de Farim, passando a ser substituído pelo 7º Pel Art (10,5cm); mas o subsetor de Mansambo, Setor L1 (Bambadinca), ainda não tinha nenhum Pel Art (será que veio  nesse 2º semestre ?);

(ii) Pela Directiva nº 17/73 de 16 de abril de 1973, fora remodelado o "dispositivo artilheiro": entre outras medidas, foi atribuído um Pelotão de Artilharia 14 cm (a 3 bocas de fogo), a cada uma das seguintes guarnições: 

  • Bigene;
  • Mansoa ("a transferir, logo que possível, para o aquartelamento a instalar na estrada Jugudul-Bambadinca);
  • Piche;
  • Mansambo
  • Tite;
  • Fulacunda;
  • Ganjauará (península de Gampará);
  • Buba;
  • Aldeia Formosa;
  • Catió (provisoriamente em Cufar);
  • Chugué;
  • Guileje (será retiarado pelas NT em 22/5/1973);
  • Cacine.
Será que Mansambo recebeu o 27º Pel Art (14cm), enqnanto Ganjauará manteve o 29º Pel Art (10,5cm)  ?

(iii) perguna decisiva: a família do Xime (7 pessoas) que morreu em 1/12/73 foram "vítimas do fogo amigo" (obus 14)  ou do fogo IN (foguetão 122 mm, canhão s/r...) ? Sendo um ataque do IN ao quartel e tabanca do Xime, o apoio do obus 14 só pode ser sido posterior,  possivemente para cortar a retirada do IN...


2. Mensagem de Domingos Robalo, 

Data - terça, 9/07, 22:16
Assunto - Fogo amigo
 
Camaradas,

A pergunta simples e direta, dá-se uma resposta técnica e rigorosa, não sem antes ter ido confirmar nos “canhenhos”. 

Sim, o obus 14 cm tem potencial para ter chegado ao aquartelamento do Xime. Em condições meteorológicas normais o alcance tabular deste obus é um pouco mais de 15000m. 

No CTIG, devido à rarefação do ar (pressão atmosférica reduzida), este alcance tabular tem um incremento de 10%. 

Confirmando, o obus 14cm poderia ter alcançado o Xime, considerando os 15000 + 1500 = 16500metros

Saudações artilheiras,

Domingos Robalo, "ilustre artilheiro"

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada


terça-feira, 23 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25772: Casos: a verdade sobre... (45): O "incidente" de 1/12/1973 que levou à morte de 7 civis no Xime, por "fogo amigo": nessa data não havia obuses em Mansambo e Gampará já tinha o obus 14 (António Duarte,ex-fur mil, CART 3493, Mansambo, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, dez 71 - jan de 74)

1. Mensagem de António Duarte, um histórico do nosso blogue para o qual entrou em 18/2/2006


Data - terça, 9/07/2024, 22:06
Assunto - Fogo amigo

Boa noite, Luís

Se me permites,  gostava de clarificar e acrescentar alguns pontos, sobre o relatado pelo Sousa Castro e outras observações feitas (*).


(i)  tenho a certeza que,  no dia 1 de dezembro de 1973, em Gampará estavam obuses 14 cm e, portanto,  se refizeres as contas, à distância entre as duas localidades, vais constatar que as granadas podem cair dentro do quartel/tabanca do Xime;

(ii)  não havia obuses em Mansambo, em 1 de dezembro de 1973;

(iii) no Xime estavam obuses de 10.5 cm, nessa data;

(iv) os comandantes de companhia no Xime (Ccaç 12) e da companhia de Gampará, cuja identificação não me recordo, articulavam-se para bater a  zona a partir de Gampará, para a zona de atuação da nossa Ccaç 12; penso que era para ensaiar alguma necessidade, em caso de ataque ao Xime,

(v)  não foi a primeira vez que tal sucedeu, nunca tendo havido incidentes;

(vi) foram perfeitamente audíveis as saídas aquando dos disparos do 14 em Gampará; de seguida ouviram-se os rebentamentos, um na tabanca, com o resultado já conhecido, e um segundo junto à escola do Xime, relativamente perto do local onde rebentou a primeira, a qual ficou, pelo menos com um buraco grande na parede;

(vii) o nosso tabanqueiro, José Carlos Mussá Biai, menino à época, viveu esta tragédia de perto e sei que se recorda (**).


Um abraço a todos os camaradas,
António Duarte
Cart 3493 (Mansamno) 
e Ccaç 12 (Bambadinca e Xime) 
(dez 71 a jan de 74)

2. Comentário do editor LG:

Sabemos que nessa data o comandante da CCAÇ 12 era o cap mil inf José António de Campos Simão (médico ortopedista do SNS, em Évora, hoje seguranente reformado), e o comandante da CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, set 72/ ago 74) era o cap mil cav Fernando da Costa Duarte.

O Sucena Rodrigues, infelizmente já falecido, deu uma informação errada: o nº de mortos foi de 7 e todos civis, de uma mesma família (segundo me confirmou, ao telefone, o António Duarte) (e já o sabíamos do depoimento do J. C. Mussá Biai) (**) . 

Por outro lado, uma das granadas de obus 14 caiu na bolanha.

A informação fornecida pela CECA está errada: já havia de facto obus 14 em Gampará / Ganjauará (27º Pel Art), e Mansambo não tinha nenhuma artilharia nessa data  (!) (*)

___________


(**) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P554: Sete mortos civis no ataque ao Xime (Dezembro de 1973) (J.C. Mussa Biai)

(...) Acabo de ler o relato do António Duarte sobre o trágico acontecimento que ocorreu em Xime (...)

Devo dizer que, apesar de ser criança à época, ainda me lembro porque afinal morreram sete pessoas nesse ataque, para além das mortes serem a menos de cinco metros da casa onde eu dormia.

Ainda por cima morreram lá duas pessoas (João Jorge e o irmão mais novo) com os quais eu e mais outras crianças à época estavamos a brincar. Só que a avó deles foi buscá-los para irem dormir e passados mais ou menos 30 minutos eu também fui dormir.

Antes de adormecer ouviu-se um estondo enorme de uma granada de canhão em cima da casa deles e eles começaram a gritar, passados talvez 2 ou 3 minutos caiu um segunda granada de  canhão e foi o silêncio total. Passados mais uns 2 ou 3 minutos caiu uma terceira granada a talvez 50 - 100 metros para a frente.

Depois disso não se ouviu mais nada e mais ninguém dormiu. Daquela família, dos que estavam em Xime, só se salvaram três pessoas. O chefe de família que tinha pernoitado no mar (na pesca) e a filha mais velha e a filha desta, porque estavam de zanga e tinham-se mudado para a casa duma outra família.

Esse acontecimento foi dos que mais mais me marcaram pela negativa. Nessa altura já tinha consciência que havia uma gerra, as razões desconhecia-as.Talvez seja próprio da infância, o certo é que pereceram amigos de brincadeira e vizinhos...

As datas não sei, mas os factos ocorridos são esses (...)

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O soldado cozinheiro Joviano Teixeira junto  ao obus 10.5 cm (29º Peçl Art)

Foto (e legenda): © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O fur mil at inf Joaquim Martins junto ao obus 10.5 cm (29º Pel Art)

Foto (e legenda): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Excerto da História da Unidade: BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (*)


1. Estas duas fotos, reproduzidas  acima,  são  fundamentais (embora não saibamos a data precisa em que foram tiradas...) para deitar por terra a suspeita que chegou a recair sobre Gampará (ou, melhor, Ganjauará, na pensínsula de Gampará) e o seu pelotão de artilharia, o  29º Pel Art, ao tempo da CCAÇ 4142/72... Suspeita de terem provocado vítimas, no Xime, num hipotético caso de "fogo amigo" (**) ...

Em 1 de dezembro de 1973, uma família inteira,  mandinga, de 7 pessoas, vizinha do nosso "menino do Xime", o agora eng silv José Carlos Mussá Biai (há muito a viver e a trabalhar em Portugal),  morreu na explosão de uma granada de arma pesada, na tabanca do Xime (***)... (Nâo se sabe se foi de foguetão 122 mm, morteiro, canhão s/r, do IN ou de obus, das NT).

A pergunta continua a ser legítima: ataque ou flagelação IN  com foguetões de 122 mm e outras outras pesadas ? Ou "fogo amigo" da nossa artilharia, na resposta ao IN ? ... 

Infelizmente já não está entre nós o Sucena Rodrigues (1951-2018), ex-fur mil da CCAÇ 12, que estava no Xime nessa noite de 1 de dezembro de 1973. Num poste que ele aqui publicou (**), parece deduzir-se que estaria mais inclinado para  a hipótese de  ter sido "fogo amigo", neste caso provoado pelo  obus de Gampará, do outro lado do rio Corubal... 

Em vida, nunca chegámos a esclarecer as suas suspeitas, nem mesmo em conversa "off record".

Em princípio as duas fotos que publicamos acima vêm descartar a essa possibilidade, a  de ter sido "fogo amigo", uma  granada de um obus 14, disparada do outro lado do rio Corubal,  ...A unidade de quadrícula do Xime era então a CCAÇ 12. (Em março de 1973, a CART 3494, que estva no Xime,  fora transferida para Mansambo.)

Só o obus 14 tinha alcance para atingir o Xime, a partir de Gampará (c. 15 quilómetros de distância em linha reta, no máxino)... Ora em 1972/74, ao tempo da CCAÇ 4142/72 (Os "Herdeiros  de Gampará"),  que havia em Ganjauará na era o obus 10.5 e não o obus 14, como se comprova por estas fotos e outras fontes. 

A distância, entre Ganjauará e o Xime era 15 km,  em linha reta,  medida na carta da província da Guiné (1961, escla 1/500 mil) ou seja, dentro do alcance do obus 14, mas não do obus 10.5 .


Guiné > Carta da província portuguesa (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Ganjauará, Xime e Mansambo. 

Infografia;: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


O Xime só tinha o obus 10,5 cm (que não chegava à Foz do Corubal e à Ponta do Inglês, no tempo em que fui operacional da CCAÇ 12, 1969/71)...O Xime sempre foi guarnedido até ao fim da guerra pelo 20º Pel Art (10,5cm). E Ganjauará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, era guarnecida pelo 29º Pel Art (10,5cm).

Descobrimos agora que obus 14 que deu apoio ao Xime no ataque ou a flagelação de 1/12/1973 foi  o de Mansambo, onde tinha sido colocado o 27º Pel Art (14 cm)...A distância entre Mansambo e Xime era também de 15 km em linha reta (portanto, ainda dentro do alcance do obus 14).(No meu tempo, 1969/71, Mansambo tinha obus 10,5, mas depois deixou de ter.)

Na história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), há referência explícita a dois Pel Art, o 20º (10,5cm) que estava no Xime, e o 27º (14 cm) que sabemos, pelo Sousa de Castro, que estava nessa altura, em 1/12/1973,  em Mansambo.

No livro da CECA, sobre a atividade operacional no CTIG, de 1971 a 1974  (CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), não há referência ao 27º Pel Art em Mansambo... Certamente, por insuficiência de dados.

Sabe-se que no ano de 1973 houve uma grande mobilidade dos Pel Art, do GA 7. Em 1/7/1972, o 27º Pel Art (14) estava em Farim, e Ganjauará, ao tempo da CART 3417, tinha um Pel Art, s/nº (10,5 cm, a três bocas de fogo) / GA 7...

Um ano depois, estava lá, em Ganjauará, o 29º Pel Art (10,5cm) , e o 27º Pel Art tinha sido sido saído de Farim, passando a ser substituído pelo 7º Pel Art (10,5cm). Mas o subsetor de Mansambo, Setor L1 (Bambadinca),  ainda não tinha nenhum Pel Art. Deve ter vindo nesse 2º semestre.

Pela Directiva nº 17/73 de 16 de abril de 1973, fora remodelado o "dispositivo artilheiro". Entre outras medidas, foi atribuído um Pelotão de Artilharia 14 cm (a 3 bocas de fogo), a cada uma das seguintes guarnições: "Bigene, Mansoa (a transferir, logo que possível, para o aquartelamento a instalar na estrada Jugudul-Bambadinca), Piche, Mansambo, Tite, Fulacunda, Ganjauará, Buba, Aldeia Formosa, Catió (provisoriamente em Cufar), Chugué, Guileje e Cacine.".

Mansambo recebeu o 27º Pel Art (14cm), mas Ganjauará manteve o 29º Pel Art (10,5cm),

É verdade, e como reconhece a história do BART 3873, o setor L1 parecia estar calmo no finalo de 1973.  Por outro lado, antigos guerrilheiros do PAIGC com quem falei em março de 2008, no Cantanhez e em Bissau, e que tinham estado, por volta de 1972, na região compreendida pelo triângulo Bambadinca - Xime - Xitole (frente Xitole, segundo o dispostivo do PAIGC), disseram-me que terá havido, possivelmente no 1º trimestre de 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral, deslocação de forças para reforçar a frente sul ou a frente norte, por ocasião da batalha dos 3G (Guidaje., Guileje e Gadamael)...

O que também explicaria a relativa fraca resistência com que as NT, em finais de 1973, encontravam em áreas de difícil acesso como Mina/Fiofioli, na margem direita do rio Corubal... (onde no meu tempo, a CCAÇ 12 e os batalhões a que estava adida, o BCAÇ 2852 e o BART 2917, nunca foram).

Vamos aceitar, como mais plausível (e para nossa tranquilidade...) (***) que os mortos do Xime nessa noite de 1/12/1973 tenham sido provocados por  fogo do IN. (LG)

_________

Notas do editor:



A. M. Sucena Rodrigues (1951-2018)
(i) ex-fur mil inf, CCAÇ 12 
(Bambadinca e Xime, 1972-1974); (ii) licenciado
 em engenharia eletrotécnica pela Universidade de Coimbra; 
(iii) foi professor do ensino secundário até ao ano 
da reforma,  em 2016; (iv) vivia em Oliveira do Bairro.


(**) Vd. poste de 8 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14585: Os nossos camaradas guineenses (42): em 1/12/1973, na tabanca do Xime, vítima de fogo amigo ou inimigo, morreu na sua morança um militar da CCAÇ 12 e toda a sua família, duas mulheres, duas crianças em idade escolar e um recém nascido (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)

(...) Estive na CCaç 12, de 1972 a 1974 em Bambadinca e no Xime.

Sobre o ataque ao Xime [em 1/12/1973],   com fogo inimigo ou amigo (??), cada um terá a sua opinião. Tenho a minha, mas não vou aqui divulgar, por achar que não virá resolver coisa nenhuma. Poderá, isso sim, eventualmente trazer outros problemas.

Só quero dar algum esclarecimento: (i) as vítimas não foram 7 mas sim 6, e não foram todas civis; (ii) morreram: 1 militar da companhia [a CCAÇ 12,] (era o pai da família), 2 mulheres (ambas mães da família, como sabes praticava-se a poligamia), 2 crianças em idade escolar e 1 criança recém nascida ( com 8 dias de vida).

Este esclarecimento não terá grande importância perante o resto, serve apenas para acrescentar mais algum rigor. (...)

(...) Comentário do editor:

Segundo a página oficial da Liga dos Combatentes, em 1/12/1973, no TO da Guiné, e por motivo de combate, morreu apenas um elemento das NT, o soldado Sumbate Man. Consultanda a preciosíssima Lista dos Mortos do Utramar, nascidos na Guiné, do portal Ultramar Terraweb (de novembro de 2006, e atualizada em janeiro de 2015), constata-se que o Sumbate Man era soldado milícia, natural de Nova Uaque,  concelho de Mansoa, nº 268/73, pertencente ao Pel Mil 365, adiddo à  2ª C/ BCAÇ 4612, subunidade que estava em Jugudul (1972/74)...

Não pode, em princípio,  ser o militar da CCAÇ 12, referido pelo Sucena Rodrigues.(..:)
 
António, está feito o esclarecimento, obrigado. Infelizmente, a CÇAÇ 12 não tem história de unidade, relativamente ao período que vai de março de 1971 até à sua extinção, em agosto de 1974... A única que conheço foi a que eu pessoalmente escrevi e que vai de maio de 1969 a março de 1971...

Relativamente à "tua versão" sobre o fogo amigo / fogo inimigo que matou um camarada nosso e a sua família inteira (!), eu gostava de conhecê-la um dia, mesmo que seja em "off record"... Não farei uso dela, em público, fica entre nós... Entendo que o assunto é delicado. De resto, e de acordo com a política do blogue, também não estamos aqui para julgar e muito menos incriminar ninguém.(...)

PS - Talvez alguém saiba dizer o nome do militar da CCAÇ 12 que morreu, cruelmente, com toda a sua família, na tabanca do Xime, no  dia 1/12/1973. (...)


(**) Vd. poste de 8 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6348: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (7): Parte 7 (Sousa de Castro)

(...) 20 FASCÍCULO

DEZEMBRO 1973 (...) 

(...) Sub-Sector do Xime (CCAÇ 12)

Em 01 pelas 22,15 horas, grupo não estimado flagelou o Xime E durante 25 minutos. Caracterizou-se por uma das suas maiores flagelações sofridas, tendo possivelmente os atacantes empregado todas as armas pesadas da zona, incluindo foguetões 122 mm. Dois desses foguetões atingiram uma morança da tabanca, morança que ficou totalmente destruída e com os seus 07 residentes (civis) mortos.

A reacção das NT foi imediata: 20º Pel Art (10,5cm), Pel Mort  4575/72 e apoio do 27º Pel Art  (14 cm) aquartelado em Mansambo. NF sem consequências.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25640: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águia Negras" (1966/74) - Parte I: Temos dois representantes na Tabanca Grande, o algarvio José António Viegas (1966/68) e o açoriano Mário Armas de Sousa (1968/70)...


Palmela > Poceirão > Casa do João Vaz > 2017 > Encontro do pessoal dos Pel Caç Nat 51, 52 e 54 > Elementos presentes, do Pel Caç Nat 54 > Da esquerda para a direita, Furriel Arlindo Costa (DFA), Furriel José António Viegas, 1º Cabo Marques, 1º Cabo Coelho (DFA) e 1º Cabo Manuel Januário (DFA)...Três DFA num grupo de cinco... Foi mais um encontro dos Pelotões de Caçadores Nativos, formados pelo nosso camarada Jorge Rosales, do 51 ao 56, no CIM de Bolama, e que serviram na Guiné entre 66 e 68. "É já muito dificil encontrar estes nossos camaradas, mas ainda assim juntámos o 51, 52 e 54. Na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro em Conacri, libertado em 22 de novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde; pertenceu ao Pel Caç Nat 52)."

Foto (e legenda): © José Manuel Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Xime > 1970 > Malta da CCAÇ 12 (à direita), posando (e não "pou...sando")  junto a uma parede bidões com areia (que serviam de protecção em caso de ataque) juntamente com comaradas do Xime, à esquerda. Entre eles, estará o fur mil, açoriano, Mário Armas de Sousa, natural de Lajes das Flores, Ilha das Flores (mas que não conseguimos identificar)


Foto (e legenda): © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Legenda de HR/LG:

"Começando da esquerda para a direita e de cima para baixo temos: o de boina já não me lembro quem era, o 2º julgo que era o fur mil vagomestre (do Xime) (parece-me ser o José Manuel Viçoso Soares, que vive no Porto, , os 3º, 4º e 5º também não me lembro), o 6º é o Sousa, ex-fur mil da CCAÇ 12 e o último sou eu (ainda com algum cabelo e sem barriga). [O 5º julgo ser o madeirense Sousa, o Mário Armas de Sousa, do Pel Caça Nat 54; ou será o fur mil António Fernando Marques, da nossa CCAÇ 12 ? L.G.].

"Na 1ª fila não me lembro quem é o 1º; o 2º, meio careca, era o fur mil dos obuses (da BAC de Bissau); os 3º e 4º também não me recordo; o 5º julgo que era o fur mil mecânico e o 6º é o Joaquim Fernandes, ex-fur mil da CCAÇ 12 e depois engenheiro civil na antiga CUF (já nesse tempo o Fernandes tinha jeito para as obras, pois foi ele que acompanhou todo o Reordenamento dos Nhabijões (a), por isso, quando cá chegou foi acabar o curso, o que muitos fizeram pois tinham-nos deixado a meio e até aldrabado nas habilitações literárias para ver se se baldavam de ir bater com os costados no Ultramar".


Em suma, o Mário Armas Sousa é decerto um deles, mas eu não sei qual... Tenho dúvidas é (i) quanto ao mês e ano em que foi tirada a foto e (ii) quanto à companhia a que pertenciam os camaradas que não eram da CCAÇ 12. Em princípio a foto deve sido tirada antes de julho de 1970, o pessoal do Xime pertenceria, portanto, à CART 2520 (1969/1971) (em meados de 1970, eles foram rendidos pela CART 2715 / BART 2917, 1970/72).

O Mário Armas de Sousa que, além do Xime, esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em novembro de 1969, foi render em Missirá o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bambadinca).

Com o Pel Caç Nat 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès...A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...





1. Temos 58 referências ao Pel Caç Nat 54, "Águias Negras", formado no CIM de Bolama, pelo nosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019), a par dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 55 e 56. Mas sabemos pouco do historial desta subunidade, formada por graduados e especialistas metropolitanos e praças do recrutamento local, tal com as restantes.

O mais antigo representante deste Pelotão a integrar a Tabanca Grande é o Mário Armas de Sousa, açoriano da ilha das Flores, que esteve no CTIG em 1968/70:

Apresentou-se à Tabanca Grande, em 26 de setembro de 2005 (*) nestes termos:

(... ) "Sou ex-furriel miliciano e estive na Guiné de 1968 a 1970, em Porto Gole, Enxalé, Xime e Missirá. Também estou na fotografia da vossa página, tirada no quartel do Xime, junto dos bidões.Tenho alguma informação e fotografias do meu grupo de combate para acrescentar à vossa página se possível. (...)-

Ficamos a saber que em 1970 estava em Missirá, e que o pessoal metropolitano era o seguinte:19 (i) alf mil Correia (comandante); (ii) fur mil Mário Armas de Sousa; (iii) fur mil Inácio; (iv) fur mil Sousa Pereira; (v) 1º cabo Capitão; e (vi) 1º cabo Monteiro.





Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pelotão de Caçadores Nativos nº 54, em 1970.


Legenda do Mário Armas de Sousa:

(...) 1ª fila, da direita para esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro sou eu, furriel miliciano Mário Armas de Sousa; o terceiro é o 1º cabo Capitão;

2ª fila, da direita para a esquerda: o primeiro é o soldado Amarante; o segundo é o soldado Bulo; o quinto é o furriel miliciano Inácio; o sexto é o 1º cabo Tomé; o nono é o soldado Samba.

3ª fila da direita para a esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro é o furriel miliciano Sousa Pereira; o quinto é o alferes miliciano Correia (comandante de pelotão); o sétimo é o 1º cabo Monteiro; o oitavo, africano, é o soldado Pucha (era turra e foi capturado e ficou no nosso exército).

Foto (e legenda): © Mário Armas de Sousa (2005) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Mário Armas de Sousa, que além do Xime esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em Novembro de 1969, foi render o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bmabadinca).

Com o Pel CAÇ NAT 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès... A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...

Em maio de 1970, já no final da comissão do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), havia três Pel Caç Nat no sector L1: o 52 (Bambadinca), o 54 (Missirá) e o 63 (Fá) (este comandado pelo alf mil at art Jorge Cabral, infelizmente já falecido).

Estas subunidades não se confundiam com os Pelotões de Milícias: nesta altura, havia já duas Companhias de Milícias no setor L1... As mílicias tinham uma função de autodefesa e eram constituídas apenas por elementos da população guineense (neste caso, predominante ou exclusivamente fulas).

O Henrique Matos, primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, já nos disse aqui que esteve em Bolama com o Pel Caç Nat 53, do alf mil Serra (que ficou no Xime em reforço à CCAÇ 1550); o Pel Caç Nat 51, do alf mil João Perneco (que foi para Guileje); e o Pel Caç Nat 54, do alf mil Marchand (que foi inicialmente para Mansabá e, passado pouco tempo, foi parar ao Enxalé).



S/l > S/d > Convívio dos Pel Caç Nat 52 e 54 > Os antigos (e os primeiros) comandantes dos Pel Caç Nat 52 e 54 , respetivamente. alferes Henrique Matos e alferes Marchand (desconhecemos o seu primeir nome), este último falecido em há menos de um ano, em agosto de 2023.

Foto (e legenda): © José António Viegas (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > O alf mil Marchand avaliando os estragos do ataque de 22/12/1966


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > O Alf Mil Freitas, maeirense, da CCAÇ 1439 que estava no Enxalé e avançou com um grupo para as primeiras ajudas.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > Alguns elementos do Pelotão e da CCaç 1439 (Enxalé), fotografados num cenário de destruição, na sequência do ataque do PAIGC.

Foto (e legenda): © José António Viegas / Henrique Matos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Enxalé > Maio de 1967 > Uma evacuação por heli, AL III > O meu amigo e conterrâneo da Ilha de S. Jorge, Açores, ten pilav, Orlando Manuel da Silveira Bettencourt (que iria morrer 11 anos depois, em 1978, em acidente aéreo na BA 4, na Terceira, sendo já ten cor pilav), eu (Henrique Matos), a meio, com o Marchand, do Pel Caç Nat 54, à direita, e o Teles, da CCAÇ 1661, à esquerda.


Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



José António Viegas (n. 1944, em Faro)


2. O segundo elemento do Pel Caç Nat 54 a ingressar na Tabanca Grande foi o ex-fur mil José António Viegas (Bolama, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68).

Tem 60 referências no nosso blogue. Temos contactado regularmente.

Já quanto ao Mário Armas de Sousa, só temos 4 referências. E não temos notícias dele há muito.

Para já sabemos que o Pelotão teve como comandantes o Marchand (1966/68, Enxalé e Missirá) e o Correia (Missirá, Enxalé,Porto Gole, Xime, 1968/70). De um e do outro não sabemos o primeiro nome.




N/M Uíge > 30 de julho a 3 de agosto de 1966 > O José António Viegas, assinalado no rectângulo a vermelho: de rendição individual, foi juntar-se ao Pel Caç Nat 54, em formação no CIM de Bolama.

Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P193: Tabanca Grande: O açoriano Mário Armas de Sousa (Pel Caç Nat 54: Missirá, 1969/70)

(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

(***) Vd. poste de 6 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10626: Tabanca Grande (368): José António Viegas, natural de Faro, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (1966/68), grã tabanqueiro nº 587

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25518: Notas de leitura (1691): BART 3873 - História da Unidade - CART 3492 / CART 3493 / CART 3494 - O Sector L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
O ter finalmente lido por inteiro a história do BART 3873 sacolejou-me algumas memórias, daí este meu atrevimento em comparar, sem fazer juízos de valor, o que era o setor de Bambadinca entre 1968 e 1970, onde combati e este período correspondente aos últimos anos da guerra. Que houve mais dinheiro houve para intensificar a africanização da guerra, a formação de milícias em Bambadinca, surpreendeu-me o descontentamento da população civil em Madina e a sua aproximação ao Enxalé, dei mesmo comigo a pensar os ralhetes que recebi quando insistia na aproximação entre Enxalé e o regulado do Cuor, a minha área de missão, tínhamos a mesma força hostil, ainda por cima o Enxalé não tinha condições para fazer qualquer dissuasão à travessia do Geba pelas forças do PAIGC, entre São Belchior e o Enxalé. 

PMais escolas, mais mesquitas, mais assistência, os grupos de milícias a crescer como cogumelos e recordo o que me era dado e arregaçado, a pedincha permanente para ter materiais de construção civil, pagar a dois professores; e quartel em Mato de Cão, evitando as deslocações diárias de Missirá, com o ponto curioso de que o Pel Caç Nat 52, de que fui comandante, ter ido para Mato de Cão para ser flagelado e ouvir, não muito longe, as embarcações civis a ser flageladas em Ponta Varela.

 Outros tempos, gostei muito de ler esta história de unidade e reviver o que passei através do que outros passaram, uns anos mais tarde. Como o Luís Graça participou nesta história, entre 1969 e 1971, seria bom que também nos desse umas dicas sobre o tempo que viveu e este tempo do BART 3873.

Um abraço do
Mário



O Setor L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970

Mário Beja Santos

Tive finalmente acesso à história do BART 3873, ativo no chamado Setor L1, onde também vivi 2 anos em cheio, leitura que me foi facultada pela Biblioteca da Liga dos Combatentes. Muito se tem escrito no blogue à volta desta história de unidade, pretendo exclusivamente, e de memória, comparar o setor ao tempo em que ali vivi.

 O Geba já era crucial como via de transporte, não se circulava por estrada de Jugudul até Bambadinca, circulação interrompida, em anos anteriores a atividade do PAIGC limitara a circulação para Porto Gole e Enxalé, passei 17 meses no regulado do Cuor, só em expedição militar é que podia ir até ao Enxalé, municiava-me e abastecia-me de Bambadinca para a bolanha de Finete, cerca de 4 quilómetros de montanha-russa até à povoação, mais 15 ou 16 até Missirá; quando tudo estava alagado, entre Sansão e Canturé, socorríamo-nos de um Sintex entre Bambadinca e Gã Gémeos, havia um arremedo de porto aqui; não havia destacamento em Mato de Cão, para evitar minas e sobretudo emboscadas foram delineados 6 itinerários tudo a pé, com sol ou chuva, minas não houve nem emboscadas, fez-se constar no mercado de Bambadinca que só por bambúrrio da sorte é que seriamos encontrados; Mero era então local de abastecimento do PAIGC, vinham de Madina/Belel habitualmente colunas civis, com armamento rudimentar (espingarda Simonov), atravessavam o Geba mais ou menos entre Canturé e a norte de Finete, usavam o bombolom para se anunciar, deixavam indícios, desde as bostas de vaca, granadas, carregadores, pegadas, aí sim, tivemos vários recontros; patrulhava-se o regulado até perto de Queba Jilã, nas primícias do corredor do Oio, cedo aprendi que qualquer confronto podia trazer feridos, vivi uma experiência muito amarga dentro de Chicri, num caminho que dava a Madina, um apontador de dilagrama acidentou-se, houve muito sofrimento, muita angústia; mas a população de Madina também atravessava para os Nhabijões, apanhámos várias embarcações escondidas no tarrafo, e quando fomos transferidos para Bambadinca, nos patrulhamentos na região de Samba Silate também encontrámos canoas, destruíamos e eles faziam outras; nunca houve qualquer ataque a barcos em Mato de Cão, alguns em Ponta Varela, já em Bambadinca perguntei ao comandante e ao major de operações por que é que não se queria repensar a quadricula, sugeri dois pelotões no Xime, um destacamento em Ponta Varela e outro na Ponta do Inglês, o PAIGC estava estrategicamente implantado num ponto pouco acessível entre Baio e Burontoni, no Poidom, na Ponta Luís Dias, em Mina, Galo Corubal e Tabacutá, eram bolanhas muito férteis, indispensáveis para o abastecimento civil e militar do PAIGC, íamos, fazíamos uma destruição, o PAIGC reconstruía, nunca largou mão deste extenso território que foi ocupado no segundo semestre de 1963 por Domingos Ramos, que irá morrer em Madina do Boé; iniciou-se no meu tempo a construção do ordenamento dos Nhabijões, construção modelar, exigia patrulhamento, só mais tarde apareceram minas e incursões do PAIGC; Amedalai já tinha milícia, que dava segurança até na linha de tabancas Taibatá-Demba Taco-Moricanhe, é do meu tempo o abandono de Moricanhe, que veio a ter reflexos na região do Xitole.

Havia uma imensidade de tabancas com predomínio de população Fula, lembro Bricama e Santa Helena, já na margem esquerda do Geba, íamos regularmente a Galomaro, Madina Xaquili, ao regulado de Badora, onde pontificava o régulo Mamadú Bonco Sanhá, deslocava-se de Madina Bonco até Bambadinca numa motocicleta, fardado a rigor, os seus galões de tenente a luzir, sempre de óculos escuros e muito cortês.

Lendo cuidadosamente a história do BART 3873, no essencial eram as mesmas povoações de 4 anos antes, creio que Galomaro mudou de setor. Os efetivos de Bambadinca são os mesmos, havia rotatividade nos Nhabijões bem como na ponte do rio Undunduma, um pelotão em Fá Mandinga, no meu tempo ainda não havia instrução de milícias em Bambadinca, fiquei satisfeito quando vi Enxalé no Setor L1, tinha toda a lógica, bem perto do Xime, o mesmo dispositivo do PAIGC que afetava o Cuor, argumentei, sem êxito, a aproximação entre o Cuor e Enxalé, respondiam-me sempre que eu me metesse na minha vida. 

Observo da leitura da história da unidade que as coisas tinham mudado em Madina, a população sob alçada do PAIGC mostrava descontentamento e apresentava-se no Enxalé; a descrição de minas antipessoal e anticarro é impressionante, o PAIGC usava-as em todos os pontos do setor; Mero terá igualmente mudado de posição, vejo neste documento que já havia um pelotão de milícias, a população estava contente com a presença das nossas tropas; apareceu um elevado número de forças de milícia, posso constatar que se intensificou no setor a africanização das nossas Forças Armadas; deve ter havido mais dinheiro para todo este processo da africanização que levou também a reocupação de posições como Samba Silate, que era considerada a bolanha mais fértil de todo o leste da Guiné; vejo com estranheza muitos recontros perto do Xime, na região de Gundaguê Beafada – Madina Colhido, o que significa que a força instalada em Baio/Burontoni tinha elevada capacidade ofensiva, das vezes que me coube sair do Xime para a Ponta do Inglês, flanqueava pelas matas próximas do Corubal, cheguei mesmo a aproveitar os caminhos de terra batida frequentados assiduamente pela população do Poidom.

Dou igualmente comigo a pensar como é lamentável não podermos trocar informação com os dispositivos efetivos do PAIGC na região. Os arrozais eram fundamentais para o sustento de civis e de tropa, no fundo do Corubal o PAIGC movimentava-se com imensa facilidade, dava os seus sinais de vida flagelando Mansambo e o Xitole e mesmo a ponte do rio Pulon, mas só para provar que estava ativo. 

Quando se desencadeou a operação Grande Empresa, ou seja, a ocupação do Cantanhez, houve deslocação de efetivos do PAIGC, nessa altura já estavam a posicionar-se na região do Boé (completamente desocupada pelas nossas tropas desde fevereiro de 1969), terão vindo efetivos de outros lugares, questiono, de acordo com a leitura que faço desta história de unidade que as operações abaixo do Poidom, a Mina e Galo Corubal foram quase passeios, recordo o estendal de tropas para a operação Lança Afiada, Hélio Felgas congeminara a limpeza de toda aquela margem do Corubal, 12 dias de inferno e a tropa de rastos, apanharam os velhotes e uns canhangulos.

Não surpreende não ter havido ataques a Bambadinca, só seria possível passando o rio de Undunduma, era essa a missão destinada ao pelotão de vigilância. Mas surpreende-me a intensidade de ataques em Ponta Varela, parece-me um contrassenso quando se escreve que havia patrulhamentos regulares nesta região.

Não estou habilitado a tirar conclusões se a situação melhorou ou piorou no setor, deu-se a africanização, construíram-se infraestruturas, aumentou o apoio às populações civis, vejo que Finete sofreu uma grande flagelação. 

Pode dizer-se que o BART 3873 regressa pouco tempo antes do 25 de Abril, foi substituído pelo BCAÇ 4616, que terá tido uma guerra de sonho. E que havia mais dinheiro havia, vejo que no Natal de 1973 se pagou o 13º mês. E acompanhei com muito carinho o itinerário do Pel Caç Nat 52, combativo até ao fim, em dezembro de 1973 travou contacto com um grupo de 15 elementos.

Volto a questionar-me se virá a ser possível um dia juntarmos a nossa documentação com a do PAIGC para que a guerra ganhe mais clareza para as futuras gerações destes dois países.

A dimensão aproximada do Setor L1, onde atuou o BART 3873
Confraternização no Xime na messe de sargentos, CART 3494, ao fundo à esquerda o nosso confrade António José Pereira da Costa, então capitão, outubro de 1972
Os CTT de Bambadinca, quando visitei a povoação, em 2010, já estava em grande degradação
_____________

Nota do editor

Último post da série de 10 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (2) (Mário Beja Santos)