Caro Luís, obrigado a si. Se alguma vez precisar, ou simplesmente gostasse de publicar em castelhano ou catalão algum artigo que ache interessante para perceber o sentido do seu blog, ou qualquer coisa que achar que interessante para ser difundida, informe-me, e dentro da minha disponibilidade vou traduzi-lhe, encantado.
Um grande abraço,
Àlex Tarradellas
2. Comentário de L.G.:
Obrigado, Àlex, pela tua disponibilidade. Accionarei o eixo da amizade Portugal -Espanha-Catalunha-União Europeia-África-Guiné Bissau, sempre que se justificar e nos apetecer... Se me dás licença, vou-te pôr na lista dos amigos da Guiné que fazem parte da nossa Tabanca Grande... Vejo que estás atento a (e te interessas por) o que se passa hoje, não só na Guiné-Bissau como noutros países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) (2).
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 3 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2403: Antologia (67): As Duas Faces da Guerra: Como si la guerra fuera un simple juego de ajedrez (Álex Tarradelas)
(2) Vd. texto de Alex Tarradellas (que escreveu o prólogo e traduziu para castelhano o livro da mçamnicana Paulina Chiziane): Paulina Chiziane em espanhol. Diário dos Açores. 14/7/2007.
(...) Com o seu primeiro romance (Balada de Amor ao Vento, 1990), Paulina Chiziane foi considerada a primeira mu-lher de Moçambique a escrever um romance. No entanto, ela contradiz este dado ao negar sentir-se romancista. Define-se simplesmente como contadora de «estórias»: «Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos em volta da fogueira, a minha primeira escola de arte.» As «estórias» são a forma de definir a narrativa de cunho popular e tradicional nutrida de uma grande influência oral. (...).
(...) Se nos cingimos ao caso de Paulina Chiziane, encontramo-nos com uma mulher nascida em 1955 em Manjcaze, uma população rural no sul de Moçambique. Aos sete anos muda-se para os subúrbios de Maputo, conhecida como Lourenço Marques nos tempos coloniais. Ali, subsiste com o seu pai a trabalhar como costureiro pelas ruas e a sua mãe como camponesa. Na capital, conhece a independência do país a 25 de Junho de 1975. E os bons augúrios nacionalistas, gerados após libertar-se das tropas portuguesas, dissipam-se rapidamente com o início da guerra civil, que não vai terminar até 1992 com o Acordo Geral de Paz.
Durante este turbulento período, Paulina Chiziane obtém a sua formação escolar e começa os estudos em linguística na Universidade Eduardo Mondlane, mas não os acaba. Com o tempo, começa a publicar contos na imprensa moçambicana, até que em 1990 escreve o seu primeiro romance. O facto de trabalhar na Cruz Vermelha durante a guerra civil permite-lhe nutrir-se da crueldade do conflito na primeira fila (...).
(...) Com a publicação em espanhol de O Sétimo Juramento, a autora adentra-nos numa sociedade cheia de contradições, onde os costumes convencionais chocam constantemente com as raízes ancestrais das personagens.
David é um guerrilheiro que, após a independência de Moçambique das forças portuguesas, converte-se em director de uma fábrica. Membro de uma emergente pequena burguesia, assentada sobretudo em Maputo, agirá como um bom cristão. No entanto, perante o primeiro problema pessoal com que se depare, recorrerá à magia negra. Esta será a tónica geral de um reduzido grupo social regido por dogmas católicos e, ao mesmo tempo, carregado de hipocrisia. Portanto, apesar de agir sob os princípios da ciência, a religião católica e, em resumo, o modus vivendi trazido do Ocidente, não poderá fugir das religiões animistas que acompanharam os seus antepassados.
Ao longo do romance, Paulina Chiziane desvela-nos uma vida cheia de dualismos que se entrecruzam constantemente: passado e presente, revolucionários e acomodados, tradições ancestrais e religião católica, homens e mulheres, jovens e anciões, curandeiros e feiticeiros, magia negra e magia branca e um longo etc. Contudo, é muito importante destacar que não se trata de puro maniqueísmo, senão de binómios, muitas vezes enlaçados sem poder separar-se. Esta é a essência do romance, um mundo de contradições e incompatibilidades entre crenças. Uma longa história de feitiçaria num mundo dual, característico da sociedade africana. (...)
Paulina Chizianeé editada em Portugal pela Caminho
(a quem são devidos os créditos fotográficos desta imagem).