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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17217: In Memoriam (283): Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017), ex-Fur Mil, Pel Canhão s/r 2054, Catió, 1968-70... O funeral é amanhã às 14h30, da Capela Mortuária de Rio Tinto, Gondomar, para o cemitério de Paranhos, no Porto


Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > Março de 2017 > Uma das últimas fotos do Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017). Cortesia da página do Facebook da Tabanca dos Melros de que ele foi cofundador em 2009.


1. O Jorge Teixeira (Portojo) (ex-Fur Mil, Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), despediu-se da "terra da alegria"... O  funeral é amanhã às 14h30, da Capela Mortuária de Rio Tinto, Gondomar, para o cemitério de Paranhos, no Porto (*).

O seu grande amigo e camarada, o José Ferreira da Silva, é que nos confirmou a triste notícia, que já circulava esta manhã nas redes sociais:

"Comunico a todos os meus amigos que o Jorge Portojo faleceu esta noite, no Hospital S. João do Porto, onde se encontrava há uma semana.

O Funeral sairá da Capela Mortuária de Rio Tinto pelas 14,30 de amanhã, em direcção ao Cemitério de Paranhos.

Todos os que tiveram o prazer de o conhecer sabem bem da perda que vamos sentir. Resta-nos manter a sua boa memória, bem como a amizade e camaradagem que ele tanto nos incutiu.

Sempre juntos, desde a guerra até à paz eterna!"


2. O Portojo tinha mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue.  Fazia anos a 8 de dezembro. Tinha um grupo indefetível de amigos e camaradas, o Bando do Café Progresso. Tinha página no Google Mais com 355 seguidores. Era um apaixonado pela vida, amante das coisas boas da vida. 

Era um notável fotógrafo. "Cartografou" a sua cidade como poucos, deixando-nos belíssimas imagens do Porto e dos recantos. A mim ajudou-me a conhecer melhor o Porto (**),

Era um homem, de verbo fácil, grande contador de histórias, dotado de grande argúcia e corrosiva ironia... Convivi com ele duas ou três na Tabanca de Matosinhos e no último encontro da Tabanca Grande, o ano passado, em Monte Real.

Tinha página no  Facebook, era um um homem perfeitamente adaptado às redes sociais. Estava também no Twitter, como  Jorge Portojo... Os seus interesses manifestados era,: "Fotografia, Caminhadas, Convívios, Leitura, Música, Amizades, Copos". Tinha diversos blogues de que destaco A Vida em Fotos.

Em 27 de abril de 2013, no  9º aniversário do nosso blogue, escreveu o seguinte depoimento que diz muito da sua personalidsde e da sua maneira de ser e estar na vida (***):

(...) "Fálo (com acento, assim evito confusões com o falo que nos querem impôr na nova ortografia) por mim, pois a muitos amigos e camaradas a quem envio esses lugares comuns tal não seria possível sem o Blogue que criaste e os editores desenvolveram e os correspondentes mantêm vivo.

Por ele e por causa dele, Blogue, reencontrei camaradas, fiz amizades pessoais e correspondentes espalhados pelo mundo.

Roubando ao Eduardo Campos a sua célebre frase: Salazar foi um fdp que me tirou anos de juventude, mas permitiu-me conhecer muitos amigos.

Ao Blogue cabe perfeitamente a adaptação da frase. Na minha resposta ao questionário, escrevi que já não tenho mais estórias para contar. Claro que tenho, mas muitas não podem ser publicadas. Faltar-lhes-ia em primeiro lugar o engenho da escrita para descrever situações que à distância de 40 e tal anos parecem estúpidas e irreais.

Também foi por causa do Blogue que recebo a minha pensão militar. Não sei se é assim que ela se chama, mas para o caso também não interessa nada. (Acho que é a única frase boa que alguma vez a Teresa Guilherme exprimiu, serve para tudo).

É estória velha já contada. Ao correr da pena, foi o saudoso Carlos Pinhão que me ensinou a diferença entre estória e história. Não tem nada a ver com a nova ortografia ou ter apanhado a palavra dos amigos Brasileiros. Mas este Blogue tem história e muita e tem muitas estórias.

Para lá dos parabéns, blablabla, deixo o meu abraço ao Luís e seus muchachos extensivos à rapaziada da Peste Grisalha." (...).

Até sempre, camarada Jorge Portojo. A tua memória e o teu nome ficarão, para sempre connosco,  sob o sagrado, mágico, protetor poilão da Tabanca Grande, indo juntar-se à lista, infelizmente já extensa, dos que "da lei da morte já se foram libertando".

As nossas condolências, à família, amigos e camaradas mais chegados. (LG)
_____________


(*) Vd. poste de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14087: Os nossos seres, saberes e lazeres (75): O Porto (e)terno (Luis Graça)

(***) Vd. poste de  27 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11487: 9º aniversário do nosso blogue: Parabéns (3): Parabéns ao grandioso Blogue (Felismina Costa) e Por ele e por causa dele, Blogue, reencontrei camaradas, fiz amizades pessoais e correspondentes espalhados pelo mundo (Jorge Teixeira - Portojo)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13917: Meteorologia na Guiné (Jorge Teixeira - Portojo - ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2054)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo), (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), enviada no dia 18 de Novembro de 2014 a propósito do recente falecimento do meteorologista Anthímio Azevedo:

Amigo Carlos,
Ao ler a história de vida do meteorologista Anthímio de Azevedo falecido ontem, lembrei-me dos meteorologistas que passaram por Catió. Também o Anthímio passou pela Guiné entre 67 e 71, aonde regressou já depois da revolução, entre 76 e 77. Ver o artigo da autoria de Teresa Firmino no jornal Público

Cruzei-me durante a comissão com vários meteorologistas ligados à Força Aérea, que faziam medições de humidade e outras coisas a partir de um aparelho localizado no "aeroporto" de Catió.

Embora me tenham explicado o quanto eram importantes essas medições, agora já não me recordo delas, das explicações, mas lembro que nos ríamos fazendo perguntas do tipo, se formos atacados os Fiat's não saem porque a tua leitura meteorológica dá nuvens negras ou muita chuva para o sector?. Ou calor que derrete as chapas dos bichos? Imagina estarmos a levar na corneta e só porque mandaste uma mensagem negativa sobre o sector e estares aqui connosco a aguentar sem ajuda dos céus. Os abrigos são só para os das transmissões, não dão para todos.
Enfim, aquelas cenas com que o pessoal do mato atrofiava a cabeça dos senhores de Bissau vindos para passar uma temporada connosco.

Um dia experimentámos o Cabo Mendes, Meteorologista da Força Aérea e as suas investigações meteorológicas. Estava no final a comissão da CCS do BART 1913. Uma malta que nunca esquecerei.
Resolvemos ir mijar no recipiente que recolhia a humidade ou lá que era do aparelhómetro colocado no aeroporto. O Mendes ia dando em maluco porque não poderia haver tanta humidade que enchesse o "cantarinho". Não sabia o que fazer para mandar a mensagem diária.
Já não me lembro como tudo acabou. Mas ele deve ter aldrabado os registos.

Estas lembranças são porque morreu um senhor comunicador e cientista, Ahthímio de Azevedo, Açoriano.

Madrugada da despedida da CCS do BART1913: Da esquerda para a direita: Ernesto, nome próprio, Ché Guevara, apelido; Eu; Cabo Mendes meteorologista da FA e Quim Mendes, Artilheiro.

Nesta foto: De costas e à esquerda, dois meteorologistas da FA - os nomes esqueci. Os outros jogadores são o Quim Mendes da Artilharia; também esqueci o nome do outro jogador, um sapador. Os assistentes são o André e o Arménio Almeida.

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sábado, 14 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13283: Memória dos lugares (286): Cachil, um inferno de pântanos e mosquitos... (Jorge Teixeira - Portojo, ex-fur mil, Pel Can S/R 2054, Catió, 1968/70)

1. Comentário do Jorge Teixeira (Portojo) ao poste P13188 (*)


Data: 28 de Maio de 2014 às 17:22
Assunto: [Luís Graça & Camaradas da Guiné] Novo comentário sobre Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): C....


Jorge Portojo deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): C...":

Da 1620 era - ou foi - o Manuel Cibrão Guimarães. (Tabanca dos Melros) que ficou de me passar uma informação sobre o Cachil.

Nas minhas memórias, não sei se correta por causa da PDI, o Cachil foi abandonado entre Outubro e Dezembro.Tive lá,  desde Maio de 68 até ao final,  uma secção de canhões. Os rapazes nunca quiseram ser rendidos.

Que me lembre, nesse período a lancha vinha todos os dias a Catió. Ou quási. À água. O pão não me lembro se o levavam.

Cachil, c. 19634/65. Foto de José Colaço
Tanto quanto era constado, a companhia que lá se  encontrava não fazia mais nada a não ser a operação Água. Mas que poderiam fazer naquele inferno de pântanos e mosquitos, os grandes IN da rapaziada ?  Mas o Cibrão vai de certeza informar-me da vida que por lá viveram. Lembro que estou a recordar meados/fins de 1968. (**)

Jorge Portojo

(ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70)

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Notas do editor:

(*) Vd poste de 24 de maio de 2014 >  Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

(**) Último poste da série > 28 de maio de 2014 >  Guiné 63/74 - P13205: Memória dos lugares (267): Tomar, terra dos Templários e do Rio Nabão, onde nasceu o General Arnaldo Schulz em 6 de Abril de 1910 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13035: Blogues da nossa blogosfera (66): Coisas da Vida - A Vida como ela é - A Bochecha de Boi (Jorge Teixeira - Portojo)

1. O nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo), (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), enviou-nos este seu trabalho publicado no Blogue Coisas da Vida de que é autor e administrador:


COISAS DA VIDA

A VIDA COMO ELA É

A BOCHECHA DE BOI

Sábado passado, num almoço com ex-camaradas no Choupal dos Melros, em Fânzeres, Gondomar, o prato principal foi Bochecha de Boi assada.
Lembrei-me então de um episódio da minha vida de vaguemestre (ou vagomestre), por acaso e obrigado, durante o meu período militar na Guiné, mais concretamente em Catió e que durou cerca de 4 meses. Já lá vão 45 anos.

Para quem não sabe, este ofício determina, no Exército Português, o responsável pela alimentação de uma unidade militar. Em França é o Carteiro, que distribui a correspondência aos militares. Para o caso não interessa nada e prossigamos.

Não interessam agora as razões porque me foi imposto o lugar e serviço. Já estão por aí divulgadas.
Então aqui vai a razão das minhas recordações.

Estamos em Dezembro (68) e num sábado estava a jogar à bola quando apareceu esbaforido a chamar-me um dos rapazes do "Rancho" que tinha de ir já ao Refeitório. Não era a hora do Rancho, portanto não poderia haver nenhum levantamento. Para a refeição da noite era ainda cedo, estava tudo controlado. Perguntei ao moço - não me lembro quem foi - qual o motivo do alarme. - Está ali um preto com uma vaca para vender, disse ele. Pensei para mim, mau maria, não é bom sinal. É roubada, pois nunca tinha visto uma vaca na zona operacional de Catió. E eram famosos os roubos dos Balantas, Sem desprimor para as outras etnias.

Cá vai a informação (para os amigos ex-camaradas que não se lembrem ou não sabem e para os que desconhecem o que foi aquela vida, em Catió), a população era-nos hostil. (Alô pessoal da 1913 e da 2865, confirmam?). Mesmo para conseguirmos comprar uma frango era preciso uma boa relação com alguém.

Adiante.
Lá fui ver a vaca. Eu sei o que é uma vaca, sempre soube, claro, mas aquele bicho mais parecia uma carga de ossos a fingir de vaca. Já agora não sei se era vaca ou boi.
É certo que a memória é difícil de recuperar 45 anos, mas lembro-me que estava todo de pé atrás a olhar para o moço - que já não o era - que se dizia dono da vaca.

- Como a trouxeste, tem corda?
- Está aqui furriel.
- És o dono verdadeiro ou roubaste-a? - Logicamente que não ia dizer que a roubou.
- De onde vens e onde guardavas a vaca? - Não me lembro sequer da resposta. Mas o homem deveria ter os papeis de identificação e permanência (sei lá, mas imagino) em ordem. Mas deve ter vindo pela bolanha e não pela vila.

Para a rapaziada era uma festa ver a vaca no refeitório. Já lhe tinham ido buscar capim e água. A vaca (ou boi) estava serena/o a mastigar e eu ali a pensar o que deveria fazer. Compra furriel, era a voz d'ordem.

- Bom, quanto custa a vaca?
- 2.000 pesos.

Eu a olhar para o bicho e a pensar quantas refeições daria e a como sairia cada uma. E onde vou guardar o bicho se não tenho frigoríficos. Não quero a vaca, pensei, mas o cozinheiro-chefe pensou por mim e disse:
- Ofereça 1.500 pesos e vamos aos frigoríficos das messes e do rancho, compramos gelo fazemos frio e a vaca vai dar 3 refeições.

Acertado o preço com o vaqueiro, fui acordar o primeiro sargento para lhe pedir o dinheiro. O senhor Luz, mais conhecido com o pica-estradas. Só por causa do nariz, porque nunca deve ter posto o pé fora do portão em toda a comissão. O homem deitou-me uns olhos de raiva por ir acordá-lo da sua sesta e pior ainda, por lhe ir pedir dinheiro.
Lá comprei a vaca, foi logo morta para evitar problemas com o possível dono, mandei chamar o médico que por acaso estava em Catió para lhe ver as entranhas, estava tudo bem, menos o fígado que estava cheio de bichinhos mas isso não era grave para a saúde dos militares desde que não fosse confeccionado.

Para os interessados e antes de chegar ao ponto, devo dizer que a vaca, incluindo a cabeça, (cá está a bochecha) os miúdos aproveitáveis, os pés (chamados de mão de vaca, uma delícia gastronómica pelo menos aqui no Norte) mais a sua carcaça pesava menos de 90 Kg. O que saía o Kg a 17 pesos mais ou menos. Essas contas nunca me saíram da cabeça.
Carne fresca tem de ser repartida. Fiz as contas à totalidade dos militares na base, dava salvo erro 17 kg para os sargentos e 6 para os oficiais. Tudo na proporção. Mas não poderia ser só a carne, tinham de levar ossos também.

Aqui chegados começou a confusão. Iria vender a carne a 19 pesos. Quem quer quer, quem não quiser que deixe que os rapazes agradecem. Chamei os vagomestres da messe dos oficiais e dos sargentos para saber o que queriam. O dos sargentos era o Picota Dias, que deve estar lá para Águeda. Só pensava em dinheiro para o bolso dele, claro. Não quis carne nenhuma aquele preço. Perdia dinheiro. Ainda lhe disse, estás a dar uma messe de m.... aos gajos, só estás mamar, dá-lhes um consolo e eles ficam felizes. Eu quero que eles se fod.... Palavras directas do Dias.

O senhor Alferes da messe dos oficiais - sei quem era, não me lembro do nome e se não estou em erro trabalhava na Oliva ou na Eduardo Ferreirinha. Encontrei-me com ele anos mais tarde por motivos profissionais e creio que também num dos almoços da CCS/BART1913 - queria carne para dar uma refeição de bifes e uma segunda de qualquer coisa.
- Ó Alferes, espere aí, não vou mandar cortar carne para bifes para os senhores oficiais. Vai a eito e é o que der. E você resolva lá na sua cozinha.

Teixeira prá aqui e prá li, pois senhor alferes, se eu quiser comer um bife vou ao Taras Buba que é só sair a porta d'armas, trinco a carne que ele vai buscar não sei aonde, fecho os olhos e finjo que é bife. Pago 20 pesos e está feito.
Creio que o homem se chamava - e se for verdade espero que ainda se chame - Silva, saiu chateado e lá fui eu chamado ao comandante Cardoso. E o bicho vaca ou boi à espera de ser cortado, ali pendurado no refeitório, os abutres já sobrevoavam o quartel.

Disse-me o Comandante:
- Teixeira sabe do nosso problema alimentar, porque não distribui a carne ao Alferes?
- Meu comandante, não neguei a distribuição, o que neguei foram uns quilos de bife. Imagine, meu comandante, se a rapaziada sabe que mandei para a messe de oficiais carne para bifes? O que eles iriam fazer, um novo levantamento de rancho? E os sargentos?
- Pode retirar-se - disse-me o Comandante Cardoso.

Ao final do dia, levei um bife ao Comando. Não sei o que o homem lhe fez, mas a bandeja da apresentação da refeição regressou vazia.
A cabeça da vaca, mais concretamente as suas bochechas, com o resto dos miúdos deu uma refeição de feijoada. Dei mais duas refeições de carne, talvez tenham sido uma com esparguete e outro uma jardineira. Claro que entravam os chouriços juntamente, para encher. Não me lembro, mas não devo ter muitas dúvidas sobre isso.

Os sargentos ficaram furiosos com o Dias. Os oficiais não faço ideia como ficaram. Nem o meu, o Xarez, conversou nadinha comigo. Aliás já era normal.
Passados uns dias, apareceu um indivíduo com o cipaio, a reclamar uma vaca roubada que foi dada à tropa. Não me lembro como ficou a situação.

A bochecha de vaca - ou boi - que me fez recordar esta história.

Na ponta esquerda, eu no tempo em que era vago ou vaguemestre. Junto a mim, o "gajo" que me orientava o serviço. Era o cabo rancheiro. Espero que ainda esteja por cá. Ajudou-me muito pois eu não percebia nada daquilo. Mas só sei que não tinha de me preocupar. E tinha imensas horas livres e o jipe à disposição. Dois bons camaradas me ajudaram nesse tempo. Ambos condutores. Um creio que é o gerente dos Armazéns Peixoto - Gondomar e Valongo -. O outro trabalhou na Pacence. 
A foto foi num dia de futebol, provavelmente um norte-sul em que não alinhei.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11795: Blogues da nossa blogosfera (65): Poema de Saudade sobre a Guiné, no Blogue da Lusofonia (Mário S. Oliveira)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10361: Memórias de outros tempos (7): Operação Ananases (Jorge Teixeira-Portojo)

1. Em mensagem do dia 4 de Setembro de 2012, o nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo), (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), enviou-nos esta memória de uma operação muito perigosa:


MEMÓRIAS DE OUTROS TEMPOS

7 - Operação Ananases

Andava num remanso de vida numa terra chamada Catió, algures em África que de concreto sabia ser uma colónia chamada Guiné. Do meu tempo de estudante aprendi que ficava no Golfo da Guiné, próximo do Equador e que produzia arroz. Tinha por vizinhos o Senegal, a Guiné Conacri e o Oceano Atlântico. Nessa altura, sabia apontar no mapa a sua localização e ficava por aí.

Para chegar ao remanso de vida naquela terra, passei por algumas experiências incluindo um cruzeiro de seis dias num paquete chamado Niassa e depois umas 10 horas num batelão que fedia a tudo que é possível imaginar-se. Creio que vem desde essa altura o cheiro que se me entranhou e elas tanto gostam.
Para que o remanso fosse completo, entregaram-me uma velha conhecida chamada G3 com a qual nunca me dei bem. Mas tive direito a ela porque nos registos de um livrinho que me ofertaram anos depois diz "não satisfaz".
Nesse remanso, passeava algumas vezes nem sei por onde, de dia e de noite, ninguém se importava com a minha existência.

Certo dia, convidaram-me para mais um passeio. Lá fui todo contente devidamente vestido com umas roupas e botas lindas que comprei num armazém na Rua da Boavista, situado num edifício que acho ter pertencido à família de Garrett. Ou terá sido da do Alexandre? Para o caso não interessa.
Reparei que a maior parte dos meus acompanhantes não trajava o mesmo estilo de roupas. Mas como devem ter sido convidados à última da hora como eu, sem saber o que iriam descobrir no passeio, lá pensaram que qualquer trapinho serviria. Embora eu tivesse avisado que lhes ficavam mal aquelas roupinhas.
O nosso cicerone usava uma roupa parecida com a minha e nos ombros ostentava, brilhante, uma tirinha amarela.

Partimos para a excursão seriam umas três da tarde, levando a tal G3 como amparo, alguns com cintos cheios de pequenas maletas que comportavam alimentação para a dita, roupas e calçado os mais variados.
Caminhamos por ali e acolá e a tarde quase no fim. E os passeantes começaram a sentir fome e sede. O cicerone usava um aparelho tipo telemóvel mas muito grande, que não tugia nem mugia. Só soltava ruídos, tanto quanto me apercebi.

Como uma bênção, ou talvez estivesse delineado no programa do passeio, caímos no meio de uma plantação de ananases. A rapaziada sentou-se por ali e toca de começar a descobrir o paladar da fruta. Logo descobrimos que eram azedas. Mas a esperança de encontrar alguma doce levou a que quase se destruísse a plantação. Entretanto foram chegando umas visitas indesejáveis, minúsculas, com asas e ferrão. Começaram então a ouvirem-se duas orquestras: Uma de sopro, em estereofonia, mais parecendo que usávamos auscultadores; a outra de repercussão, com batimentos em tudo que era pele a descoberto. Foi com satisfação que regressamos ao remanso, seria para aí uma meia-noite.

Quase noite, um dos participantes em plena prova de doçura

Mudando de tom. Faz agora 43 anos que morreu o meu único homem, o Salvado. Que me foi substituir numa altura em que eu andava doente. Evacuado para o HM 241 de Bissau, encontrei-me lá com ele, mas já no caixão. Levei os seus pertences para serem devolvidos à família. Em Setúbal existe uma lápide com o seu nome. Espero que também lá estejam os seus restos mortais.

Durante muito tempo não soube o que andei a fazer em Catió. Ninguém se dignava dar-me instruções, informações, mínimas que fossem. Fiz patrulhamentos, reabastecimentos, montei emboscadas (?) totalmente de olhos fechados. Fui aprendendo com o tempo caminhos, a vida do mato, a conhecer a população, a desenfiar-me. E a tentar unir um grupo de homens, eles também à deriva durante muito tempo.

Esta Operação Ananases, conforme lhe passámos a referir, deu-se numa das propriedades do senhor de Catió, creio que lhe chamavam Chefe de Posto. Participou da ocorrência aos comandos militares e acabei por levar por tabela um repreensão.

Não me lembro se ao pessoal lhes deram alguma coisa para comer quando regressamos. Mas naquela altura em Catió, era eu um periquito mal saído do ovo e não "pescava" nada do assunto, só o bolso encher interessava a alguns. Comer miseravelmente era o lema. Até ter acontecido um levantamento de rancho e a partir dessa altura então para mim o remanso foi ainda mais perfeito.

A Operação Ananases ocorreu em meados de Maio de 1968 e as chuvas ainda não tinham chegado.

Jorge Teixeira
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7530: Memórias de outros tempos (6): Passados mais de 42 anos (Jorge Teixeira - Portojo)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7530: Memórias de outros tempos (6): Passados mais de 42 anos (Jorge Teixeira - Portojo)

1. O nosso Camarada Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, enviou-nos em 30 de Dezembro de 2010, a seguinte mensagem:
 

Caros camarigos,
Entre baixas e férias, resolvi dirigir-me aos três por ser mais seguro, melhor, segura, a possível publicação do texto e foto abaixo.
Então cá vai:

Catió, meados de Maio de 1968.
Era eu um periquito ainda só de penugem, quando conheci, acabado de chegar de férias, o Silva da CART 1689, já sagui velho.
Passados mais de 42 anos, encontramo-nos aqui na Tabanca e temos trocado desde então uns mimos escritos.
Tínhamos mais ou menos aprazado um encontro para um futuro breve.
Pedi-lhe para quando isso acontecesse, trazer um letreiro com o nome para o reconhecer.
Mas sem mais nem menos, o Silva apareceu ontem na Tabanca de Matosinhos, onde no final do repasto, um camarada me chamou (por causa de Catió) e apresentou-nos. Olá como vais, mas nada de reconhecer o Silva, até que uma chispa saltou.
E pronto, mais um reencontro, à custa das Tabancas.

Aqui fica a foto comemorativa, superiormente obtida pelo Luís Graça.

Então aqui vai juntamente um abraço para todo o pessoal e desejos de Bom Ano.
Jorge (Portojo)
__________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de 18 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6422: Memórias de outros tempos (5): O Básico que queria fazer um ronco (Jorge Teixeira / Portojo)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6422: Memórias de outros tempos (5): O Básico que queria fazer um ronco (Jorge Teixeira / Portojo)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo)* (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), com data de 17 de Maio de 2010:

Caros amigos e camaradas.
Primeiro, um abraço para vocês.
Segundo, se der para post, siga e anda.
Não é preciso aprovação prévia.

Jorge Teixeira


MEMÓRIAS DE OUTROS TEMPOS

5 - Especialidades militares

Ao ler a mensagem do Alcides - Post 6394 - lembrei-me de uma Especialidade, que não o era: a de Básico. Que me lembre encontrei em Catió 2 rapazes com essa não Especialidade. Que afinal era a que todos queríamos, porque assim não iríamos dar com os costados em África. Dizia-se. Mas puro engano.

Quando regressei a Catió depois das férias no HM 241 de Bissau em 4 de Dezembro de 1969, após os 5 dias de convalescença obrigatório por lei, foi-me dado um mini Pelotão, digamos com 2 Secções de 10 homens cada, formados por rapazes da CCS do BART 2865, das mais diversas Especialidades, que, com excepção de um deles, atirador de metralhadora ligeira, (não sei onde foi desencantado, mas era bom mesmo com aquela coisa), os outros eram Padeiros e de outras Especialidades das quais já não me lembro minimamente, com excepção da de Básico. Durante os 9 ou 10 meses de comissão que já levavam, nunca tinham saído do Quartel, a não ser para ir jogar à bola, beber uma cerveja no Libanês ou ao Taras-Buba, ou ir partir catota lá numa tabanca. A nossa missão era (para além de outras brincadeiras) o patrulhamento e segurança nocturnas mais ou menos junto às populações. Esse serviço era feito diariamente, melhor, nocturnamente, normalmente entre as 5 da tarde e as 5 da madrugada. Cada dita Secção saía dia sim dia não, eu saía dois dias e descansava um.

Quer dizer, não saía, mas estava de segurança. Quando flagelados, teria que ir reforçar um dos "postos" exteriores, com a Secção que estava em descanso. Mas para o caso não interessa nada e voltemos ao tema das Especialidades.

Ora um Básico, em princípio era um faz tudo. Colher para toda a obra. Até atirador.

Na foto, o "Básico" é o segundo, com camuflado, a partir da direita

Um dos rapazes "básico" era de estatura pequenina e nunca tinha dado um tiro. Ficou feliz da vida quando lhe disseram que iria fazer parte de um Grupo de Combate. A primeira coisa que me disse foi: quero fazer um ronco. E comigo. E logo eu, que a primeira coisa que fiz com esse grupo, foi ensinar-lhes a correr muito e o caminho para "casa" a partir dos vários locais exteriores a Catió.

Certo dia tivemos uma flagelação e em grande, cerca das 2 horas da manhã. Toca a levantar, ir para o ponto de encontro e sair com o pessoal que estivesse pronto para reforçar o exterior que nesse dia era logo a seguir a Catió Fula.

Lembro-me dos pormenores dessa noite/madrugada. Estava luar, e arranquei com o pessoal, cheio de cagaço, muito encostado e o mais metido possível para dentro do arvoredo junto à picada. Fui olhando para trás e de repente vejo um pequeno vulto quási encostado a mim. Quando distingui quem era, vi o Básico, todo contente com a G3 ao ombro. Diz-me ele: Furriel é hoje o ronco, vamos a eles.

Além dele, trazia mais de 25 às costas e tremi todo pensando como iria aguentar e esconder aquela gente toda. Os homens do meu Pelotão oficial, que nunca me largavam nessas ocasiões, sabia que estavam atrás de mim e que orientavam a coisa, mas os outros não faço a mínima ideia quem eram nem a quem pertenciam: Se à CCS, se à Companhia de intervenção, se ao Pelotão de Morteiros. Sei que parte deles, que também não pertenciam ao mini-pelotão da CCS, foram arrastados pelo Básico.

A rapaziada começou a dizer que ouvia barulhos. Sem transmissões e mesmo sem ordem do comando - em Catió só se fazia fogo à ordem - autorizei a dar uns tiritos com o canhão. Não adiantava nada, porque as nossas granadas eram incendiárias e já com o prazo de validade expirado há manga de chuvas. Mas pelo menos se andasse por ali alguém sempre assustava. E parece que andou mesmo, pois segundo me disseram no outro dia, havia rastos de sangue. E a rapaziada ficou contente. Manga di ronco, pessoal.

Conclusão: O meu Básico, homem cheio de coragem, levava mesmo a G3 que embora com carregador, não tinha munições. Os camaradas preveniam-se contra os heróis...

Portanto a guerra também se fez com os incógnitos Básicos. E o meu Básico andou feliz da vida a contar a aventura por muito tempo. E lá teve direito à cervejinha da ordem para comemorar aquela noite de ronco.

Notem: Básico não é pejorativo. Muito menos para este rapaz que não tinha nome. Quer dizer, ter tinha, mas era o Básico e pronto, todos sabíamos quem era. A alcunha já lhe vinha desde a "Especialidade".

Um abraço
Jorge (Portojo)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6250: O 6º aniversário do nosso blogue (30): Eu, a Tabanca Grande e o 25 de Abril (Jorge Portojo)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5790: Memórias de outros tempos (3): Porque rapei o meu bigode (Jorge Teixeira/Portojo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo)* (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2010:

Carlos
Se achares que deves publicar, siga.

Um abraço do
Jorge Portojo



Porque rapei o meu bigode ou as meias palavras do meu Comandante Mário Belo de Carvalho

Catió, Junho ou Julho de 1969. As datas precisas fugiram-se-me.

O Comando do sector, da responsibilidade do senhor TCor Mário Belo de Carvalho, Comandante do BART 2865, com cerca de 5/6 meses de mato, foi visitado pelo senhor General Spínola.

Formados na parada para receber Sua Excelência, logo ali ficamos com a impressão de que algo ia acontecer de mau. Na realidade, algum tempo depois, o senhor TCorn Belo de Carvalho levou uma porrada e saiu para Bissau. A opinião da tropa bandalha, (leia-se: soldados, cabos e furrieis milicianos) foi que o Segundo Comandante, Major e posteriormente TCor Melo Machado (de quem ninguem gostava e ainda hoje assim alguns pensamos), tinha ajudado a colocar os patins ao nosso Comandante. Os motivos, nunca soubemos

Acontece que este senhor nunca foi pessoa bem vista entre a rapaziada, contrariamente ao Comandante Belo de Carvalho. Um cavalheiro, que dirigia a palavra a toda a rapaziada, jogava a bola connosco, pessoa bastante humana.
Portanto, Catió andava com os nervos à flor da pele. O meu Pelotão que era apenas adido para efeitos operacionais, de alimentação e alojamento, também sentiu o efeito. Creio que o meu alferes Comandante do Pelotão nesta altura estava de férias e nunca trocamos qualquer palavra sobre o assunto.


TCor Art Mário Belo de Carvalho - BART 2865

Em Julho, durante uma flagelação à unidade e população, (não lembro o dia porque passaram a ser frequentes e aí o calendário acabou) ou já estava fora ou saí para reforço de segurança no exterior. O Pelotão foi esquecido e não recebemos ordem de regressar. Quando clareou o dia dei ordem para regressar e formei o Pelotão em frente ao Comando. Quis saber porque fiquei sem comunicações durante toda a noite. A central tinha-me dito que todos se foram deitar e não poderiam entregar qualquer mensagem aos comandos a não ser assuntos urgentes.

O senhor Comandante Belo de Carvalho recebeu-me, já não me lembro muito bem da conversa que tivemos, mas duas coisas eu lembro: perguntou-me quem tinha dado ordem para regressarmos e quem deu autorização para eu usar bigode. Respondi-lhe que ninguém, às duas perguntas. Mandou-me destroçar o Pelotão. De imediato, dirigi-me aos lavabos e cortei o meu apendice piloso. Com um desgosto grande, pois os meus pais gostavam de mer ver com ele.

Em seguida entrei no Comando e pedi autorização para ser recebido pelo nosso Comandante. Fui aceite e então fiz talvez a minha apresentação mais solene desde sempre: om batimento de pés e pala como era norma:

- Apresenta-se a V.Ex.ª o Furriel Miliciano Jorge Teixeira do Pelotão de Canhões Sem Recuo 2054 com o bigode cortado.

Sorriso daquele homem, mas logo sério. Em sentido, está apresentado, pode retirar-se.

Porquê esta conversa toda, só para falar do meu bigode rapado? É que tudo tem uma razão. Ele que tantas vezes me viu de bigode, nunca fez qualquer observação. A situação em que se encontrava, a negligência do comando com o pessoal, etc. talvez a única coisa de que se lembrou foi de me dar uma "ripeirada".

Quando estive em Bissau, antes de ser internado no HM, já em Setembro, soube que ele estava de "castigo", aguardando ordens para regressar à Metrópole, numa daquelas casas dentro do Quartel General, à esquerda de quem entrava. Fui visitá-lo. Não me lembro minimamente do que falamos. Sei que o olhar do homem era vago, triste. Presumo que para um militar de carreira o pior que lhe poderia acontecer era ser recambiado para casa.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5741: Blogoterapia (142): Aquela janela virada para o heliporto (Jorge Teixeira/Portojo)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4967: Agenda Cultural (26): Museu Militar do Porto (Jorge Teixeira/Portojo)





1. Mensagem/Reportagem de Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão deCanhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 15 de Setembro de 2009:







Museu Militar do Porto

(Antigo edifício da P.I.D.E.)


Sabem o que era a PIDE?


Quási que poderei dizer que acompanhei o nascimento e crescimento deste Museu. Hoje visitei-o e vieram-me as lágrimas aos olhos.

Lembrei-me do meu amigo, do meu médico, do meu cliente, do Director e grande impulsionador deste Museu, o Senhor Major Médico, Dr. Figueira. Está lá a placa – 1993 -, no Grande Hangar com o nome dele.

Emocionei-me de tal maneira que não me lembro o que ela diz. Também me esqueci de a fotografar.


Perguntei por ele, mas ninguém o conhece - ou conhecia.

Também já lá vão tantos anos.

Fiz muitas reproduções fotográficas a seu pedido. Muitas delas estavam em tão mau estado que só a arte de homens desenhadores, que comigo trabalhavam, foram capazes de disfarçar o que estava mau, para fazerem parecer coisas bem "limpas".

E não haviam ainda PCs nem “Photoshops”. Refiro-me aos a
nos 80 do século passado.

Bom mas a que me queria referir neste poste é a lembrança da malta do Ultramar.

A colecção de "soldadinhos de chumbo", nossa lembrança da juventude, é uma coisa tão maravilhosa, tão grandiosa, tão completa, que ficamos horas olhando os milhares daquelas figurinhas.

Algumas delas, são cópias das que meu pai me coleccionava e que vinham nas embalagens de uns chocolates, acho que eram da Regina. E eram de lata.


Mas também lá está uma colecção de "soldados do ultramar".

A foto não está nada boa, mas dá para perceber.

Depois tem uma estátua, com a nossa ex-figura. Não há nada que referencie o autor dela. E tem um "boneco" fardado como nós fomos, de camuflado, mosquiteiro e essas cenas. Tem um acréscimo que só os oficiais usavam.

Mas porra, pareço eu, o raio do boneco. Parecemos todos, os que vestimos e usamos aquelas coisas.

Mas o mais interessante, e julgo que já houve um camarada que se referiu a eles, são os nossos pré-históricos rádios de transmissões.

















Não fui forte em fixar nomes, mas os camaradas que se lembram desses pormenores (Alô Victor, Alô Teixeira, Alô a todos os outros TRMS) ponham neles tanto o apelido como o nome real desses estranhos objectos que usávamos e que normalmente só nos complicavam a vida pelo seu peso, pois nunca funcionavam.


Imaginem os soldados dos USA a trabalhar com estas coisas. Imagino que davam em malucos.

Tema proposto para novas postagens: Os nossos aparelhos de telecomunicações no teatro de operações.

Um abraço para a Tabanca. E desculpem qualquer coisita.

Jorge Teixeira/Portojo
Fur Mil At Art




2. O nosso Camarada Jorge Teixeira (Portojo), tem os seguintes blogues de consulta obrigatória, riquíssimos em fotografia e pormenor de diversos lugares, para quem gosta de saber e conhecer:


Meus espaços:
Outros espaços:
A musica na minha rádio:


3. Quando recebi esta matéria do Portojo, enviei-lhe o seguinte e-mail:


Boa noite Amigo & Camarada J. Teixeira,

Não sei se sabes que o camuflado, que está no boneco, apresentado na penúltima foto é meu, bem como todo o restante equipamento.

Um dia emprestei tudo para a exposição itinerante "Testemunhos da Guerra do Ultramar/Colonial - 1962-1974" e uma vez acabada a exposição doei tudo ao Museu.

O Museu tem uma “Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto”, que colabora com todas as actividades internas, tais como colóquios, seminários, exposições, etc.

Todos podem ser Associados da Liga, que está aberta principalmente àqueles que gostem de História Militar e relacionados, e da História de Portugal.

Cumprimentos Amigos do,
Magalhães Ribeiro


Fotos: © Jorge Teixeira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


domingo, 16 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4826: Memórias de outros tempos (2): As épocas das chuvas (Jorge Teixeira/Portojo, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054,Catió, 1968/70)


1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 29 de Julho de 2009:


A época das Chuvas


Apanhei duas inteirinhas, mas provavelmente como toda a malta.

Oficialmente, ela deveria começar em meados de Maio e ir até meados de Novembro.

Eram um horror em várias razões. Quando atravessávamos as bolanhas, a parte superior ao fim de 4 ou 5 homens as terem passado, os restantes para se equilibrarem naquele lodo passavam tormentos, especialmente à noite. E quantos demos o trambolhão para dentro de água, que em alguns casos poderiam ser fatais, por afogamento. Sei do que falo.

Um dia, na minha primeira época, perguntei ao ainda ten. João Bacar Jaló, como era possível chover tanto. Se era costume aquela chuva toda. Disse-me ele, estamos ainda em seca. Precisamos de muita mais. Claro que mesmo habituado à chuva do Porto, aquilo parecia-me o dilúvio. Dias seguidos de chuva...
Normalmente antes da chuva começar a cair, chegavam os sons daquelas trovoadas terríveis. Nunca sabíamos se elas vinham dos céus ou da terra.
Na segunda época, no primeiro dia de chuva, que por acaso foi à noite, o meu amigo, companheiro de quarto e sargento do Pelotão Daimler 2045 -de que não me lembro o nome - correu para o descoberto a receber a chuva com todo o carinho e aos berros, que era para fazer bem à "lica". Se bem se lembram, alguns de nós criávamos no corpo uns borbulhas, que depois davam em manchas que nunca saíram do cabedal, -sei do que falo - e que eram pior que mordidela de mosquito ou daquelas baga-baga que apanhávamos quando roçávamos algum arbusto, pois coçávamo-nos até fazer sangue. Ele era achacado a essa doença da pele e recebeu a informação que com as chuvas a coisa passaria.
Acompanhei-o mas com um receio. Fui-me dirigindo para o meu posto de defesa, pois estava a cair uma trovoada daquelas lindas. Acreditem que na unidade quase ninguém deu fé. Pudera, eram Piras com apenas 3 meses de Guiné...Era o seu baptismo de chuvas e ainda não distinguiam as trovoadas umas das outras...
Também nos extasiávamos com as maravilhas da natureza. Quando acontecia estarmos no meio de uma bolanha e víamos ao longe o remoinho do tornado, a quantidade de relâmpagos e raios que apareciam de todas as direcções, uma luminosidade que deslumbrava, o barulho ensurdecedor das trovoadas que se vinham aproximando. E pior que tudo, tentar que o pessoal não corresse para se abrigar na mata mais próxima. Ufa, e quando ela começava a cair, 2 minutos depois estafamos piores que bacalhau demolhado. Porque esse precisava de pelo menos 3 dias e uma rezas de molho, não para dessalgar mas sim para que se ficasse pelo menos mole para se poder desfiar. Porque em posta ninguém o conseguia comer.
Um abraço,
Jorge Teixeira/Portojo
Fur Mil At Art
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

18 de Abril de 2009  > Guiné 63/74 - P4206: Memórias de outros tempos (1): Fur Mil Aguinaldo Pinheiro, o morto-vivo do BART 1913 (Jorge Teixeira - Portojo)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira/Portojo)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo) (*), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 29 de Julho de 2009:

Caro camarada e amigo Vinhal

Para publicar se tiver interesse.
Na secção que achares melhor.

Um abraço especial para ti.
Jorge Teixeira




Recordando as Picas

As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola

Foto: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.


Rebuscando o baú fui dar com esta foto de meados de 1968. Nessa altura ainda tinha a mania das fotos - a máquina por vezes era emprestada para também ficar com uma recordação e que em devido tempo seria mandada para casa, demonstrando assim que tudo estava bem no paraíso de férias que era Catió e arredores.

Ora esta dita foto foi feita na estrada Catió/Ganjola [leia-se: Gandjola,que ficava a norte de Catió] e que era percorrida se não todos, quási todos os dias, com reabastecimentos lá para o destacamento.

Chegados a uma determinada altura, a coisa já era tão normal que quási passava a descontracção. Mas sempre era picada a dita estrada, o que demorava a fazer nos seus primeiros 6 a 7 km umas três horas bem puxadas. A parte restante até ao rio [de Ganjola] já era feita só pelas viaturas, ficando o pessoal da pica no remanso à espera do regresso.

Mas o importante da foto é que se podem ver na perfeição os nossos simpáticos e quási infalíveis detectores de minas, mais conhecidos como as Picas. Ora digam lá, camaradas, vocês que bem conheceram estes artefactos, se não mereciam estar em destaque nos vários Museus Militares espalhados pelo País Portugal?

Quantos picadores nos salvaram a vida com estas belezas? Mas quantos deles foram também traídos por elas?

A nossa homenagem a todos os picadores das estradas da Guiné.


Um abraço para a Tabanca e até à próxima
Jorge Teixeira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira)

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)