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sexta-feira, 23 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22396: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte II: a história do Lemos, jogador do FC Porto, e nosso soldado de transmissões... Nunca teve tratamento VIP até ser transferido para a UDIB (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)


O Manuel Domingos Ribeiro, um "andrade" (, portista de alma e coração), 
da Areosa, Rio Tinto.

Foto (e legenda): © Manuel Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Lemos, do FC Porto,  que foi camarada do Manuel Domingos Ribeiro,
 CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74). 
Vive hoje em Fânzeres, Gondomar. Em fevereiro de 2019 o Manuel Ribeiro 
visitou-o pela última vez, estava com graves problemas de saúde. 

Foto: Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)


1. Mensagem do Manuel Domingos Ribeiro (ex-fur mil at art, MA, CART 6552/72, Cameconde e Cabedú, 1973/74):


Date: quarta, 21/07/2021 à(s) 16:58
Subject: História do Lemos

Boa tarde, Luís

Vou tentar contar um pouco da história do Lemos na Cart 6552  (*).

O Lemos foi colocado na Cart 6552 no fim de 1972 ou princípio de 1973 com a especialidade de transmissões, quando foi colocado na Cart 6552, encontrava-se detido no RI 6 no Porto, sendo eu encarregue de comandar uma força para o vir buscar sob detenção e transportá-lo para o RAL 5 em Penafiel.

Quando o sargento da guarda me fez a entrega do Lemos, a grande preocupação dele, Lemos, era o carro (Ford Capri de cor amarela), que se encontrava estacionado à porta do quartel e se era possível ser ele a conduzi-lo para Penafiel. Claro que de imediato lhe comuniquei que não, pois se acontecesse alguma coisa quem sofria as consequências era eu, mas em conversa com o Lemos logo ali se encontrou uma solução para o problema.

Quando cheguei a Penafiel com o Lemos, já o carro se encontrava estacionado no Largo da Feira e o Lemos tinha à espera dele o António Oliveira, também jogador do F. C. Porto (nascido em 1952, em Penafiel). Enquanto esteve detido, ele sempre teve refeições servidas pelo restaurante Roseirinha, em Penafiel, que era propriedade da família Oliveira.

Durante o tempo que permanecemos em Penafiel e depois de cumprido o tempo de detenção, o Lemos foi um militar como os outros, tendo de executar os serviços para os quais estava escalado.

Em Março de de 1973 fomos deslocados para a carreira de tiro em Silvalde, Espinho, para aí fazermos o IAO pois o nosso destino era S. Tomé e Príncipe e não Cabo Verde e muito menos a Guiné, mas quis o destino que fôssemos mesmo para a Guiné, hoje sabemos quais as razões.

O Lemos sempre nos acompanhou até ser transferido para o UDIB em Bissau, não tenho ideia quanto tempo esteve no mato (Cameconde), mas foi mais de três meses, alinhou como todos  nós no mato.

Tenho uma história caricata com ele no regresso de uma operação: quando estávamos a acabar de atravessar uma bolanha, o Lemos de repente diz-me, "Furriel acabei de perder uma bota, ficou presa na lama"... Eu só lhe disse: "Vê se a encontras pois terás que ir descalço e ainda faltam uns quilómetros"... Foi ver o Lemos com o Racal às costas, enterrado na lama até encontrar a bota e não foi nada fácil.

Como podes verificar, o Lemos enquanto esteve na Cart 6552 foi um militar com um tratamento igual a todos os colegas e não tinha que ser diferente e ele também não agia como tal, sendo sempre um excelente camarada, nunca exibindo a imagem de figura pública, antes pelo contrário.

Quando foi para Bissau teve os seus problemas, mas era a sua maneira de ser. No dia em que o Pavão morreu (, em 16 de dezembro de 1973), encontrava-me eu em Bissau com o Lemos e aí me confessou que,  ao sair da companhia,  se tinha sentido órfão, pois mais uma vez a família tinha ficado para trás.

A última vez que estive e falei com o Lemos foi em Fevereiro de 2019, em casa dele, em Fânzeres, Gondomar. Na altura encontrava-se muito debilitado e com graves problemas de saúde, 
não voltei a contactá-lo por não me ser possível.

Esta é a minha história sobre o Lemos na Cart 6552 e, como podes verificar, o Lemos não teve qualquer tratamento VIP (**)  e de certeza que alguém que tenha pertencido à Cart 6552 terá algo mais para contar. 

Mas só quero mais uma vez dizer que fomos mobilizados para S. Tomé e Príncipe, que não fomos desviados a meio da viagem, que quando saímos da carreira de tiro em Silvalde, Espinho já praticamente todos sabíamos que o nosso destino era a Guiné.

Aproveito para dizer que sou da Areosa, Rio Tinto, para quem não sabe fica localizada mesmo no fim da Av Fernão de Magalhães, junto às Antas e, como tal, sou Andrade desde que nasci, doença de família.

Um forte abraço
Manuel Ribeiro
___________

Notas do editor:

(*) Últmo poste da série > 21 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22393: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte I: Entrei no avião, em Figo Maduro, a chorar de revolta (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22393: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte I: Entrei no avião, em Figo Maduro, a chorar de revolta (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)


Guiné > Região de Tombali > Cameconde > CART 6552/72 (1973/74) > O Manuel Ribeiro com um pequeno "jacaré", apanhado na bolanha de Cassomo (, em rigor, trata-se de um crocodilo juvenil, já que não há jacarés na Guiné, nem em toda a África, apenas no Novo Mundo e na China).


Guiné > Região de Tombali > Cameconde > CART 6552/72 (1973/74) >  O quartel de Cameconde, em 1973


Guiné > Região de Tombali > Cameconde > CART 6552/72 (1973/74) > O Manuel Ribeiro, junto ao bar, num momento de descontração.


Fotos (e legendas): © Manuel Domingos Ribeiro  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Manuel Domingos Ribeiro (ex-fur mil at art, MA, CART 6552/72, Cameconde e Cabedú, 1973/74):

Date: terça, 20/07/2021 à(s) 17:00
Subject:  As (des)venturas da CART 6552/72

Boa tarde Luís,

Falando um pouco sobre o desvio da CART 6552/72,  de S. Tomé para a Guiné, quando se encontrava a aguardar embarque na carreira na de tiro de Espinho, embarque que já tinha sido adiado duas vezes, eu que me encontrava em casa de licença fui convocado por telegrama para me apresentar na unidade para seguir de imediato para o ultramar, mas não mencionava o destino final-

Apresentei-me a uma sexta feira ao fim da tarde e tive de imediato fazer o espólio de algum fardamento para de seguida o pagar pois,  como te deves de lembrar,  recebíamos um valor monetário para compra de todo o fardamento e demais artigos necessários ao serviço militar, artigos esses que foram comprados no casão militar em Bissau.

Como me apresentei à última da hora só levei a farda que tinha vestida,  algum fardamento que tinha no quartel e uma muda de roupa que transportava numa pequena mala de mão, foi nessa altura que nos foi comunicado que tínhamos sido desviados para a Guiné pelo nosso Comandante de companhia e encarregues de comunicar aos nossos militares e por pelotão o nosso destino.

Nós, os graduados,  ainda ponderámos não embarcar, alguns ainda se deslocaram ao Porto já ao princípio da noite para falar com familiares e pedir algum conselho. Fomos aconselhados a embarcar pois as consequências seriam de certeza graves-

Depois de todos regressarem,  reunimo-nos já ao principio da madrugada, explicámos a nossa situação e informámos que partiríamos ao início da madrugada em autocarros, com destino à Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa,  onde embarcaríamos ao princípio da manhã de sábado. 

Na altura de embarque surgiu alguma resistência por parte alguns soldados e graduados em embarcar por não nos terem alterado a nossa mobilização e não nos terem explicado por que razão estávamos a ser deslocados para a Guiné. Alguns elementos foram isolados da restante companhia e postos à guarda da policia aérea responsável pela segurança do aeroporto, foram confrontados por elementos civis e militares se não iam  embarcar e as consequências de uma resposta negativa... Responderam, por fim,  que embarcavam e seguiram para a pista, saindo o avião com cerca de uma hora de atraso.

Lembro-me de ver alguns familiares no aeroporto militar mas da parte de fora da rede, de ter entrado no avião a chorar de revolta por não nos terem dito a razão da nossa ida para a Guiné, da nossa chegada que foi cerca do meio dia,  hora de muito calor, da saída do avião, o cheiro característico a que depois me habituei, o embarque quase de imediato em viaturas militares com destino ao Cumeré.

Entretanto fomos colhendo alguma informação e ficámos a saber que as coisa não estavam fáceis tanto a Norte como a Sul, ficámos a saber que um aquartelamento no Sul, Guileje,  tinha sido abandonado dias antes, fomos para o Cumeré e logo nos dois dias seguintes chegaram mais duas companhias de cavalaria,  também desviadas de Angola para a Guiné. 

Fizemos uma IAO de forma acelarada e logo na primeira semana de Junho partimos de LDG junto com uma companhia de paraquedista com destino a Cacine. Eu não segui nessa LDG pois fui encarregue de comandar uma secção para fazer segurança de um batelão que transportava combustiveis para a nossa companhia, não foi uma viagem fácil pois, quando cheguei no outro dia a Cacine, ao tirar a camisa a pele saía junto:  toda a viagem fora feita ao sol por não existir proteção para todos, 

Junto connosco também viajava uma secção de fuzileiros que tambem tinham a missão de fazer segurança ao batelão.

Dois dias depois chega a Cacine uma das companhias de cavalaria que tinha sido desviada de Angola junto com mais uma companhia de paraquedistas, sabendo depois que a outra companhia também desviada de Angola tinha sido enviada para o Norte, pois Guidaje continuava ferro e fogo.

Em Cacine era o caos com tantos militares concentrados no mesmo local, houve uma reunião de comandos em Cacine e foi dado a escolher ao nosso capitão, por ser o mais velho, o local para sermos colocados:  Gadamael Porto ou Cameconde. O nosso capitão escolheu  Cameconde para aí rendermos um grupo de combate da  CCAÇ 3520 mais um grupo de combate da companhia de milícia da tabanca Nova que ficava entre Cacine e Cameconde.

Como Cameconde não tinha capacidade para alojar uma companhia inteira,  um grupo de combate ficou em Cacine para apoio e segurança às colunas de reabastecimento ao pessoal de Cameconde, e a partir daí começou a nossa aventura por terras do Sul da Guiné.

Cameconde era o aquartelamento mais a sul na Guiné, mesmo junto à fronteira e ao Quitafine que era considerado pelo PAIGC como área libertada.

Junto algumas fotos, uma com vista parcial de Cameconde, outra tirada junto de um abrigo com um pequeno jacaré capturado na bolanha de Cassomo e outra tirada junto do bar num momento de descontração.   

domingo, 18 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22384: (In)citações (191): Todos iguais mas uns mais iguais do que outros ?!... O caso dos futebolistas e outros "atletas de alta competição" a quem Pátria isentava do "imposto de sangue"


O Lemos, do FC Porto, "carrasco" do SL Benfica na época de 1970/71,
mobilizado para a Guiné com a CART 6552/72 
(Cameconde e Cabedú, 1972/74).

Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)


1. Não falamos no nosso blogue,por uma questão de princípio (e de pudor e de "higiene mental"...), de futebol, política e religião (, futebol clubístico, política partidária, religião apolegética, entenda-se). 

Mas podemos, concerteza, falar dos nossos camaradas que foram capelães (caso do Arsénio Puim, por exemplo), ou futebolista (como, por exemplo, o Lemos, do FC Porto) ou de alguns políticos que foram nossos contemporâneos  (, como James Pinto Bull, guinense, que foi eleito deputado à Assembleia Nacional em 1969, tendo sido membro da chamada Ala Liberal, que defendeu reformas políticas do regime, e que encontrou a morte na sua própria terra natal).

Mas hoje é dos futebolistas  que queremos falar. Dos futebolistas profissionais, craques da bola dos principais clubes e da seleção nacional... Não terão sido muitos, por certo,  os que fizeram a guerra do ultramar / guerra colonial. Eu, pelo menos, não conheci nenhum...

Um dos casos já aqui falados foi do  Lemos [, António José de Lemos, nascido em  Angola, em  1950],ex-jogador do F.C.Porto, que foi nosso camarada na CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74). Ou, mais exatamente, camarada do novo membro da Tabanca Grande, o Manuel Domingos Ribeiro (*). Ao que parece, acabou a
 comissão a jogar no UDIB em Bissau, "não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência", como  garante o Ribeiro. (**)

2. Sobre o Lemos, lê-se no blogue  Estrelas do FCP, este detalhado apontamento biográfico, da autoria de Fernando Moreira (que reproduzimos com a devida vénia e as necessárias adaptações);

António José de Lemos:

 (i) nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1950 em Luanda, Angola;

(ii) começou por jogar futebol nos juniores do Clube Ferroviário de Luanda até que em 1966 vem para Portugal;

(iii) ingressou nos juniores do Futebol Clube do Porto até passar a sénior, o que aconteceu em 1968;

(iv) por empréstimo dos portistas, ingressou no Boavista FC onde estve esteve durante duas temporadas,  tendo disputado 25 partidas oficiais e apontado 12 golos;

(v) em 1970/71 regressa ao FC Porto;

(vi) na tarde de 31 de Janeiro de 1971, o nome de Lemos "soou alto e soou longe, pela rádio":  marcou, no Estádio das Antas, os 4 golos da vitória do FC  Porto sobre o SLB; 

(vii) os benfiquistas jamais se esqueceram dele; é que, também na Luz, ainda na época 1970/71, Lemos fez o gosto ao pé e desfeiteou as "águias" por mais duas vezes no empate (2-2) no reduto encarnado;
 
(viii) ele recordou, mais tarde,  com precisão e com orgulho, cada pormenor dessa partida que foi um marco na sua carreira de futebolista:

(...) "No primeiro golo, o falecido Pavão fez-me uma assistência primorosa e só tive de empurrar a bola. O meu segundo golo foi espectacular! Quando ninguém acreditava que chegasse à bola, quase na linha de fundo, desferi um pontapé que surpreendeu o Zé Henriques. No terceiro, o Bené fez um lançamento lateral, apanhei a bola e fiz um chapéu ao guarda-redes. E no quarto, estava com um problema num joelho e o Humberto Coelho não acreditou que eu chegasse a tempo mas ultrapassei-o e toquei a bola à saída do guarda-redes." (...)

(ix)   Nas épocas de 1970/71 e 1971/72 marcou, respectivamente, 18 (melhor marcador da equipa) e 8 golos no Campeonato Nacional;

Em 1973 (decorria a época de 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de "Atleta de Alta Competição", imprescindível para o subtrair à guerra do Ultramar – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português....

Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua "Companhia de Operações Especiais" (, leia-se: a CART 6552/72), fez um "desvio" na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). 

(...) "E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma "guerra" branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território." (...)

Diz o Fernando Moreira que o Lemos "voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo FC Porto", (...) teno jofadao" ao lado de grandes futebolistas como Rolando, Custódio Pinto, Nóbrega, Pavão, Bené, António Oliveira, Flávio, Abel, Seninho, Heredia, Rodolfo, Fernando Gomes e o extraordinário Cubillas.  Contudo não logrou qualquer título pois, desafortunadamente para ele, esteve nos últimos anos de um período em que as agruras do futebol passaram pelas Antas. (...) Em quatro temporadas no FC Porto, nos 92 jogos do campeonato em que interveio, marcou 47 golos."

Depois veio a inevitável "curva descendente": Em 1975/76 ingressou no SC Espinho, na temporada seguinte rumou ao USC Paredes, em 1977/78 jogou no AD Sanjoanense, passou na época seguinte pelo Académico de Viseu FC e, entre 1979/80 a 1983/84, defendeu a camisola do FC Infesta...

3. No mesmo blogue, Estrelas do FCP, do Paulo Moreira, de Gondomar,  escreveu o seguinte comentário o Ludgero Lamas, companheiro do Lemos no FC Porto:

(...) Joguei futebol com o Lemos no FC Porto. Devo dizer que o jogo com o Benfica 4-0, foi delirante. O meu Amigo Lemos, ganhou nesse dia, um camião TIR cheio de tintas, electródomesticos, e outros, sendo que um televisor Grundig foi por mim comprado, sendo o dinheiro apurado na venda distribuido por todo o plantel. Uma atitude de grande nobreza. 

Devo referir que na altura não existia o estatuto de alta competição, a menos que fosse só para atletas do Benfica, dado que eram os únicos que não eram mobilizados para as Províncias, pois no nosso clube, ainda tivemos os casos de Séninho, e o falecido Chico Gordo, mobilizados para Angola, onde jogaram, e foram campeões (no Moxico), para onde também fui mobilizado, e posteriormente desmobilizado.

Do Lemos, devo referir a sua semelhança com o alemão Gerd Muller, e que se não chegou mais longe, o mesmo se deve às vicissitudes da vida." (...)

4. Até o circunspecto "Diário de Lisboa", que era veepertino,  perdeu... a cabeça,  dando em título de caixa alta, na 2ª edição de domingo, dia 31 de janeiro de 1971, o resultado do jogo nas Antas,  que foi conhecido como "Lemos, 4 - Benfica, 0", com desenvolvida notícia na 1º página e na página 23. Era então presidente do FC Porto o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães.







Citação:
(1971), "Diário de Lisboa", nº 17281, Ano 50, Domingo, 31 de Janeiro de 1971, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6022 (2021-7-18)


4. A propósito deste tema ("todos iguais mas uns mais iguais do que outros"), num depoimento já aqui em tempos publicado, escreveu o nosso camarada Mário Gaspar (***):
 
(...) "Discute-se um facto, e é a verdade que flui da minha boca, e os filhos dos ricos e poderosos de então – do nosso tempo de guerra, que não é nunca foi uma brincadeira de criança – falo por mim como Miliciano, esses filhos de ricos e poderosos que andaram na Escola da Câmara e mais tarde num Colégio Sousa Martins, em Vila Franca de Xira,  estiveram na Recruta na "minha tropa", mas na Especialidade de Atirador não vi nenhum.

Dei os meus primeiros passos no Serviço Militar no dia 3 de Maio de 1965 no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), no RI 5, em Caldas da Rainha.

No mesmo Curso estiveram Rui Rodrigues e Gervásio, entre outros, jogadores da Académica de Coimbra. E Peres, este julgo também ser já jogador do Sporting Clube de Portugal, e o "famoso", "poderoso" de facto, Simões, do Benfica, Campeão Europeu, e que fez parte dos heróis do Futebol na Seleção Portuguesa, terceira classificada no Campeonato do Mundo de Futebol, em 1966.

Este acontecimento se dá quando eu – nunca fui voluntário – tive de "prestar provas para o Curso de Rangers, em Lamego".

Muitos os Milicianos recusaram frequentar o mesmo, ainda fiz parte da Equipa de Natação que representava o RI 14, em Viseu, no Campeonato da Região Militar, na Piscina, em Tomar. O Comandante deste Regimento que chefiava os nadadores era o conhecido também ex-futebolista da Académica de Coimbra, que venceu uma Taça de Portugal, o então Tenente-Coronel Faustino.

Nadei contra "nadadores civis federados", militares que representavam as suas Unidades. Julgo que também esses estavam no grupo dos "poderosos". Continuei por não ser voluntário, e por sorteio da vida, saiu-me ir frequentar o XX Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia, em Tancos. 

Aí há a excepção, encontra-se o Aspirante Miliciano Oliveira Duarte, outro dos "poderosos". No meu conceito incluo estes que falei, nunca os culpando por estarem no grupo. Oliveira Duarte, jogador já do Sporting Clube de Portugal,  foi vítima de um jogo de "poderosos", estes sim "poderosos e «cunhas»", destes mesmos Militares que se livraram da guerra. 

Oliveira Duarte teve de partir para Angola, mas sendo "poderoso", frequentou o Curso de MA e lá foi para o grupo de futebol, livrou-se da guerra – perdeu, como nós todos, tempo – e nós não só tempo – lembrar que nos ofertavam por estarmos em zonas de guerra.

Ainda outros Desportistas, e não só do Futebol, caiu-lhes na sorte terem frequentado outras Especialidades, e atractivas e não foram à guerra.

Curioso, e é bom lembrar que os Milicianos na Guiné recebiam, julgo que ate fins de 1968 ou 1969 inclusive, menos verba mensal que os dos mesmos postos em Angola e Moçambique. Dizem estarmos mais junto à metrópole.

Estive na frente de um outro grupo que lutou para que o aumento de tempo que consta nas Cadernetas Militares ou Documentos que referissem o mesmo. E esse aumento é de 100%. Considerando que as horas de trabalho normal é de 8 horas, se nos encontrávamos de Serviço 24 horas, seriam 400%. Pois eu nem me contaram os 100%.

Nós somos, neste caso os não poderosos. Senhores com o nome de baptismo Cunha conheço… Mas esses "poderosos cunhas", vi por aí. Até na entrada em alguns "lares" e incluo todos, os "poderosos cunhas" estão presentes.

Quero lembrar um outro grupo que bem podia servir para dar a opinião, desconheço se foi ou não analisado: o caso dos nossos Capitães Milicianos que,  após terem cumprido o Serviço Militar e terem regressado a casa e frequentarem finais de Cursos Académicos,  são chamados e foram Camaradas não só, como nós na Guiné como noutras frentes de guerra. (...) (****=
__________

Notas do editor:



(***)  Vd. poste de 5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16564: Inquérito 'on line' (71): Os Filhos dos Ricos e Poderosos, incluindo os jogadores de futebol... (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) 

(****) Último poste da série > 18 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22383: (In)citações (190): Saudando uma decisão amadurecida, de oito anos, a entrada do Manuel Domingos Ribeiro para a Tabanca Grande: é o único representante , até à data, da CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú 1972/74)

Guiné 61/74 - P22383: (In)citações (190): Saudando uma decisão amadurecida, de oito anos, a entrada do Manuel Domingos Ribeiro para a Tabanca Grande: é o único representante , até à data, da CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú 1972/74)

1. Caro camarada Manuel Domingos Ribeiro, novo membro da nossa Tabanca Grande, nº 844 (*): 

Eras (e continuas a ser)  o mais célebre camarada da CART 6552/72, a tal que que, em vez de aterrar na terra do cacau, foi parar a Cameconde, Cabedu e Cufar, no sul da Guiné... 

És o mais célebre porque és o único representante dos bravos dessa companhia, que até agora visitou (e que a partir de agora passa a integrar)  a nossa Tabanca Grande. 

Ficámos também a saber, em 2013 (**),  que, além de ti, havia o António José Lemos, futebolista do FC Porto,  e o vosso ex-capitão, Fernando Manuel Vialalobos Filipe... 

Na altura perguntei o que era feito de vocês, se tinham por hábito, saudável,  encontrar-se anualmente, e se o  Lemos e o vosso capitão também apareciam.

Convidei-te para ficares por aqui mais tempo, sentando-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão. Para isso era só preciso  mandares-nos as duas fotos da praxe, um endereço de email e, facultativamente dizeres em que terra vivias...

Desejei-te boa sorte para o teu sonho de voltar a rever Cameconde e Cacine, ou seja, de voltar à Guiné, em romagem de saudade...  

Anteontem, dia 16, ao fim de 8 (oito) anos,  respondeste  ao meu convite para te juntares a nós!... O Carlos Vinhal fez a tua apresentação com boa disposição. E eu comentei, com regozijo, ao dar-te as boas vindas, que só podia ser uma decisão, a tua,  "muito amadurecida"... já que levou tantos anos a tomar.(***)

Sobre Cameconde temos mais de meia centena de referências. 


2. Sobre a tua CART 6552/72, tu nessa altura acrescentaste mais o seguinte, respondendo também a algumas das minhas questões (*):

Bom dia,  Luís Graça,

Voltando a CART 6552. Como já informei, quando saímos da carreira de tiro de Espinho, os graduados e algumas praças tinham conhecimento de que tinhamos sidos desviados para a Guiné e que S.Tomé já era uma miragem, nunca estivemos mobilizados para Cabo Verde nem para a Guiné, a nossa mobilização e preparação foi para S. Tomé e Prnicipe.

O Luís pergunta por nós e eu aproveito para informar que nos reunimos todos os anos sempre no último sábado de Junho, este ano está marcado para Espinho e o nosso Capitão é uma presença constante, 

Quanto ao Lemos, antigo futebolista do FC Porto (, foto à direita,)  tem sido contactado mas por várias razões ainda não compareceu mas temos a promssa de que este ano (2013) vai estar presente. 

Sobre o comentário da nossa chegada a Cacine, o facto de termos logo começado a abrir valas para nos podermos abrigar em caso de ataque... Quem viveu esses dias e  para pensar sabe que havia uma razão para assim se roceder: no local estava colocada a CCAÇ 3520 e o destacamento de fuzileiros n.º 22. Como tal as instalações existentes estavam ocupadas, quando nós chegamos na mesma LDG também chegaram os paraquedistas, a CCP 122. Em Cacine já se encontrava a CCAV 8350 que tinha retirado de Guileje, o Pelotão Fox Os Pipas que tambem tinha retirado de Guileje. 

Logo a seguir chegou a CCAV que tinha sido desviada de Angola para a Guiné e também chegou a CCP 123... Agora digam-me se não havia necessidade de se proceder à abertura de valas para protecção em caso de ataques,  sabendo nós o que se passava à nossa volta, Gadamael debaixo de fogo constante o Cantanhez mesmo em frente, o Quitafine ali ao lado,  só posso acrescentar que em Cacine naquele mês de Junho era de loucos com feridos sempre a chegar para serem evacuados, aquele pessoal todo amontoado e a dormir de qualquer maneira debaixo das palmeiras e não só.

Quem por lá passou sabe do que estou a falar, que o digam o ex-fur mil Casimiro da CCAV 8530, o ex-fur Moinhos, do Pelotão Fox "Os Pipas", o ex-alf mil Juvenal Candeias, o furriel Alves e 0 ex-Capitão Margarido, da CCAÇ 3520... São alguns que sabem bem do que estou a falar, se por acaso me enganei na identificação da CCAV 8530, as minhas desculpas, mas a memória já não é a mesma.

Agora fica a promessa de me sentar na nossa Tabanca Grande e assim poder falar dos meus fantamas, um até breve.

Manuel Ribeiro, ex-furriel mil, CART 6552


Plano de retração das guarnições militares portuguesas, no pós-25 de abril. Guiné, Região sul >  Cameconde desativados no mesmo dia, 19 de julho de 1974, do que Gadamael. Cacine, uns dias mais tarde, a 12 de agosto. Cabedu, a 19... Cufar, em 7 de setembro.  Reprodução (parcial) da página 54 (de um total de 74) do relatório da 2ª rep/CC/FAG, publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto".

[Digitalização do documento: Luís Gonçalves Vaz (2012) / Edição das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)]

3. F
ichas de unidades >  Companhia de Artilharia n.º 6552/72

 
Identificação: CArt 6552/72
Unidade Mob: RAL 5 - Penafiel
Cmdt: Cap Mil Inf Fernando Manuel Vilalobos Filipe
Divisa: "Honra e Dever"
Partida: Embarque em 26Mai73; desembarque em 26Mai73 | Regresso: Embarque em 05Set74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização de um curto período, acelerado, de IAO no CMI, em Cumeré, seguiu em 12Jun73 para Cameconde, então alvo de fortes e frequentes ataques e flagelações. 

Foi incluída na zona de acção do subsector de Cacine, tendo rendido dois pelotões da CCaç 3520 e ficado integrada no dispositivo e manobra do COP 5.

Em 20Ju174, após desactivação e entrega do aquartelamento de Cameconde ao PAIGC, foi deslocada para Cabedu, onde substituíu a CArt 6251/72, ficando então na dependência do BArt 6520/73.

Em 19Ago74, após a desactivação e entrega do aquartelamento de Cabedu ao PAIGC, recolheu a Cufar até 30Ago74 e depois a Cumeré, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações. Tem História da Unidade (Caixa n.º 119 - 2.ª Div/4.ª Sec. do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 487. 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22377: Tabanca Grande (521): Manuel Domingos Ribeiro, ex-Fur Mil Art MA da CART 6552/72 (Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió, 1972/74) que se senta no lugar 844 do nosso Poilão


1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, Manuel Domingos Ribeiro, ex-Fur Mil Art/MA da CART 6552 (Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió, 1973/74), com data de 15 de Julho de 2021:

Sou Manuel Domingos Carneiro Ribeiro, natural de Rio Tinto, Concelho de Gondomar, morador na freguesia de Cête, Concelho de Paredes, Distrito do Porto.

Ex-Furriel Mil Atirador de Artilharia/Minas e Armadilhas e pertenci à CART 6552.

Fui mobilizado para servir na ex-Província Ultramarina de S. Tomé e Príncipe em Outubro de 1972, mas fui desviado para a Guiné em Maio de 1973, onde estive até 7 de Setembro de 1974.

Junto, como é da praxe 2 fotografias, uma atual e outra do tempo da Guiné - Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió.

Sou seguidor do blog desde 2011, mas só agora consegui tentar inscrever-me.

Junto com a minha foto do tempo da Guiné a bordo de uma lancha da Marinha com destino a Cacine, seguem mais duas de Cameconde.

Sem mais de momento
Os cumprimentos
Manuel Ribeiro


Fur Mil Manuel Domingos Ribeiro a caminho de Cacine.
Manuel Domingos Ribeiro, "hoje"
Vistas parciais de Cameconde

********************

2. Nota do coeditor:

Caro Manuel Domingos,
Muito bem-vindo à tertúlia, em nome de quem te deixo desde já um abraço. Ficas com o lugar n.º 844, à sombra do nosso Poilão, "sítio" onde poderás publicar as tuas memória escritas e fotografadas.

Quase ias perdendo a grande oportunidade da tua vida. Já viste o desperdício de uma comissão de serviço em S. Tomé, quando a Guiné estava aqui tão perto? Também não sei o que esperavas, sendo Atirador e tendo o curso de Minas e Armadilhas, e tudo, o que ias fazer para uma ilha paradisíaca, armadilhar coqueiros? Fazer tiro ao alvo?

Agora a parte séria. A vossa Companhia foi para Cameconde (subsector de Cacine) quando aquilo estava mesmo muito quentinho. Não nos queres dar o teu testemunho daqueles últimos dias, já que a CART 6552 ali permaneceu até à entrega do aquartelamento ao PAIGC?

Parece que o vosso destino era entregar aquartelementos porque após a retirada de Cameconde foram para Cabedu, onde também passaram o testemunho ao PAIGC. De tudo isto nos poderás falar e enviar fotos dos momentos mais marcantes do fim da nossa permanência na Guiné.

Uma nota de rodapé para te dizer que, morando tu no Grande Porto, tens perto de ti a Tabanca dos Melros, com sede e Museu na Quinta dos Choupos, em Fânzeres/Gondomar, onde no segundo sábado de cada mês a malta se reune para conviver a apreciar deliciosos almoços servidos pelo nosso camarada Gil Moutinho, ele próprio ex-Fur Mil Piloto que sobrevoou os céus da Guiné. Como os tempos vão conturbados é melhor confirmares.

E pronto, aqui fica o abraço dos editores deste Blogue com a certeza da nossa disponibilidade para dar estampa às tuas memórias e fotos dos teus, e nossos, tempos de combatentes à força.

CV

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11133: Memória dos lugares (215): Cameconde (António J. Pereira da Costa, CART 1962, 1968/69) / Manuel Ribeiro , CART 6552/72, 1973/74, a companhia do célebre Lemos, do FC Porto que marcou 4 golos ao Benfica, em 31/1/1971)






Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Três aspetos gerais do destacamento >  Fotos do álbum do nosso camarada António José Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) e mais tarde cap e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74).

Fotos: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Comentário do Manuel Ribeiro,  ex-fur mil  da CART 6552/72 (Cameconde, Cadebu, Cufar, maio de 1973/setembro de 1974), ao poste P11127 (*)


(i) Cameconde, ó Cameconde, terra da morteirada,  do foguetão e da canhoada,  onde os domingos eram iguais à semana.

Cameconde, local da Guiné onde passei os 13 melhores e piores meses da minha vida, local em que só se saía acompanhado por mais de 20 camaradas devidamente armados, e os destinos eram normalmente para Cacoca, Caboxanque,  Cabonepo, Cassomo, Cafála balanta, Cafála Nalú, algumas pequenas incursões no Quitafine... Mas as mais agradáveis eram até à tabanca nova de Cacine pois sempre se podia apreciar alguma bajuda, já  que Cameconde não tinha qualquer tipo de população, ou melhor, só Homens (mulheres cá tinha).

(ii) Aproveito para informar o ex- furriel amanuense Abilio Magro de que a companhia que ele assistiu a chegar a Cacine (**) e o destino era S.Tomé e Principe quando saíu da carreira da tiro de Espinho já sabia que o destino final era a Guiné e também não foi render a CCAÇ 3520, mas sim reforçar o sul da Guiné após o abandono de Guileje, na mesma altura também chegou a Cacine uma CCAV que tinha como destino Angola, tendo essa CCAV [8452/72] sido colocada em Gadamael e a nossa em Cameconde e aí sim rendemos a CCAÇ 3520,  ficando ainda alguns meses em Cacine até serem rendidos.

Lembro-me bem do Juvenal Candeias, e do ex-capitão Margarido ], da CCAÇ 3520,], de quem guardo um comentário feito por ele em Cameconde, a dizer:
- Vamos embora depressa porque elas agora (, as canhoadas, ) já começam a cair cá dentro!

Para eles um forte abraço pois ainda  passei bons momentos  com eles, a CCCAÇ 3520,  em Cacine.

(iii) Quanto ao Lemos,  ex-jogador do F.C.Porto [, António José de Lemos, n. 1950]  (**),  acabou a comissão a jogar no UDIB em Bissau, não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência. [ Foto do Lemos, à direita; cortesia do blogue Estrelas do FCP].

(iv) Vi uma foto de um abrigo tirada em 2008 (*) onde se encontra uma pessoa com uma máquina fotográfica na mão junto desse abrigo e quase posso afirmar que esse abrigo se encontra em Cameconde e foi construido pelo pessoal da minha companhia com material fornecido pelo BENG.

Fico aguardar as fotos de Cameconde tiradas e prometidas pelo Professor e cooperante na Guiné até 2012 [, Carlos Afeitos,] para recordar, pois ainda não perdi as esperanças de voltar a Cameconde e assim poder enterrar os meus fantasmas.

Aproveito para me apresentar, sou Manuel Ribeiro,  ex-furriel mil da CART 6552, RAL 5, Penafiel, Carreira de tiro de Espinho, Cumeré, Cameconde, Cabedú, Catió, Cumeré e Lisboa. [Partiu de Lisboa em 26/5/1973 e regressou a 5/9/1974; comandante: cap mil inf Fernando Manuel Vialalobos Filipe]

Um forte abraço para todos.

2. Comentário de L.G.:

Caro camarada Manuel Ribeiro: És o mais célebre camarada da CART 6552/72, a tal que que, em vez de aterrar na terra do cacau, foi parar a Cameconde, Cabedu e Cufar, no sul da Guiné... És o mais célebre porque és o único representante dos bravos dessa companhia, que até agora visitou a nossa Tabanca Grande. Ficamos também a saber que,  além de ti, há o António José Lemos e o vosso ex-capitão, Fernando Manuel Vialalobos Filipe... Pergunto: o que  é feito de vocês ? Têm-se encontrado anualmente ? E o Lemos e o capitão aparecem ?...

Bom, está na altura de te convidar para ficares por aqui mais tempo, sentando-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão. Só precisas de nos mandar as duas fotos da praxe, um endereço de email e, já agora, dizeres em que terra vives (, esta informação é facultativa)... Boa sorte para o teu sonho de voltar a rever Cameconde e Cacine... E responde-me na volta do correio. O nosso endereço é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

PS - Sobre o Lemos, escreve o blogue das Estrelas do FCP, este delicioso apontamento biográfico:

(...) "Em 1973 (decorria a época 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de 'Atleta de Alta Competição',  imprescindível para o subtrair à guerra do 'Ultramar' – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português. Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua 'Companhia de Operações Especiais'  fez um 'desvio' na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma 'guerra' branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território.

Voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo F.C. Porto." (...)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. útimo poste da série > 20 de fevereiro de 2013 >Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)


(**) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)

(...) Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CCAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras". 

Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné!  Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca. 

Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto,  onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica [, de Eusébio & Companhia, em 31/1/1971] no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.

Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".

Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?

Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.

Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube.  Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau.  Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,

A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e,  estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- Isso, assim com garra!.

Estavam feitas as pazes! (...)