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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (551): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879


Foto nº 1


Foto nº 2 > O major Cunha Ribeiro falando para o "corresponde local"... do jornal "A Bola"...


Foto nº 3 > O fatídico jipe...

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Coamndo e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70)  > O  então major Cunha Ribeiro, integrando uma equipa de futebol (Fotos nº 1 e 2)... Na terceira  e última foto pode ver-se o estado em que ficou o seu jipe no acidente que lhe ia sendo fatal, e que o mandou para o hospital durante vários meses.

Na foto nº 1 está a equipa de futebol de oficiais de Bambadinca que acabara de jogar contra uma equipa de sargentos (*). Na fotografia aparecem, na segunda fila, da esquerda para a direita:  de pé, o alf mil Beja Santos (cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70), o alf mil médico, David Payne Pereira (já falecido, era um conhecido psiquiatra), o major Cunha Ribeiro, 2º comandante do BCAÇ 2852,  o cap inf Carlos Alberto Maqcahdo de Brito (hoje cor ref), comandante da CCAÇ 12, e ainda o alf mil at int Abel Maria Rodrigues, também da CCAÇ 12.

Na primeira fila, da esquerda para a direita, um militar que não conseguimos identificar, seguidos de três alf mil,   José António G. Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o António Carlão, da CCAÇ 12 (jã falecido) e o Isamel Augusto (CCS). O Fernando Calado, alf mil trms, também fazia parte da equipa mas fracturou um braço, não aparecendo por isso na foto.

O major Cunha Ribeiro  substituiu, em setembro de 1969,  major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. 

Fotos (e legenda): © João Pedro Cunha Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cunha Ribeiro, no 1º convívio do pessoal de Bambadinca, em 1994, 
em Fão, Esposende. 

Foto: Beja Santos


1. Mensagem de João Pedro de Paiva Cunha Ribeiro, filho do  cor inf ref Ângelo Cunha Ribeiro (1926-3023):

Data - quarta, 26/07/2023, 02:03  
Assunto - Cunha Ribeiro, Cor

Caro Amigo,
Revisitei hoje o blogue de que é autor,  para recuperar a notícia que lá publicou do falecimento do meu pai, da autoria do Dr Mário Beja Santos, com a intenção de divulgar o respetivo link no dia em que o meu pai faria 97 anos. 

Deparei assim com o pedido de fotografias dele na campanha da Guiné, o que me levou a contactá-lo e consigo partilhar as poucas fotografias que dessa altura dele possuímos. Inclusive do estado em que ficou o veículo onde teve o acidente.

Com as minhas mais cordiais saudações,
João Pedro Cunha Ribeiro
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | 
School of Arts and Humanities – University of Lisbon


2. Comentário do editor LG:

Aquando da notícia da morte do cor Cunha Ribeiro,  manifestei em comentário ao poste P24216 (*), os meus votos de pesar à família pela sua perda, aos 97 anos... E mais disse: 

"Conheci  o coronel Cunha Ribeiro, em Bambadinca, como major, segundo comandante do BCAÇ 2852. Estivemos juntos uns escassos meses até ao seu fatídico acidente na rampa de acesso ao quartel. E falei com ele poucas vezes. Eu era um simples furriel, para mais não pertencia ao seu batalhão.

Foi um superior hierárquico de que temos vivas memórias pela energia e entusiasmo que punha na sua atividade de comando. Vejo agora que era natural de Gondomar e vivia no Porto. Era de facto um homem do Norte.

Foi lembrado no blogue diversas vezes, tem cerca de uma dúzia de referências. Voltei a vê-lo em Fão em 1994. Morreu em paz com 96 anos, isso também nos consola, a todos nós, antigos combatentes.

O Beja Santos já há muito que formulou o desejo de juntar o seu nome à lista dos membros da Tabanca Grande. Ele gostava muito de lembrar os tempos de Bambadinca. Por mim, tudo bem. Será que o Beja Santos (ou a família) nos disponibiliza algumas fotos dele, desse tempo?"

O filho João Pedro acaba de nos mandar três fotos do seu querido pai. Fica satisfeito o nosso pedido, estando agora em condições de, a título póstumo, integrar na Tabanca Grande o nosso "major elétrico", como ele é afetuosamente conhecido pelos seus subordiandos em Bambdinca. O seu lugar, sob o nosso poilão, será pois o nº 879. Que descanse em paz! 



3. Ficha de unidade : Batalhão 
de Caçadores nº 2852

Identificação: BCaç 2852
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos | TCor Cav Álvaro Nuno Lemos de Fontoura | TCor Inf Jovelino Moniz de Sá Pamplona Corte Real

2.° Cmdt: Maj Inf Manuel Domingues Duarte Bispo | Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro | Maj Inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio

OInfOp/Adj: Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto Cunha Ribeiro

Cmdts Comp:
CCS: Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap Mil Art António Dias Lopes | Cap Inf Manuel Maria Pontes Figueiras | Alf Millnf Ismael Quitério Augusto (não confirmado)

CCaç 2404: Cap Mil Inf Carlos Alberto Franqueira de Sousa | Cap Mil Inf Francisco António Brito Limpo Trigueiros | Cap Inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira | Alf Mil Inf Manuel Abreu Barbosa | Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap lnf Manuel Dias Chagas

CCaç 2405: Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo

CCaç 2406: Cap Inf Diamantino Ribeiro André

Divisa: Sacrifícios Não Contamos

Partida: Embarque em 24Ju168; desembarque em 30Jul68 | Regresso: Embarque em 16Jun70 (CCaç 2405 e 2406 em 28Mai70)

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, ficou colocado em Bissau na situação de reserva do Comando-Chefe, sendo as suas subunidades atribuídas em reforço de outros batalhões.

Em 160ut68, rendendo o BArt 1904, assumiu a responsabilidade do Sector LI, com sede em Bambadinca c abrangendo os subsectores de Xime, Xitole e Bambadinca, este com sede temporariamente em Fá Mandinga até 18Ju169.

Em 04Dez68, foi criado o subsector de Galomaro e, em 25Fev69, ainda o subsector de Saltinho, com as consequentes reformulações dos subsectores.

Em 290ut69, a zona de acção foi alargada da área de Enxalé, então retirada ao BCaç 2885. Em 28Jul69 e 07Nov69, os subsectores de Galomaro e Saltinho deixaram de pertencer ao Sector LI, por atribuição ao COP 7 e ao BCaç 2851, respectivamente.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, emboscadas e acções ofensivas sobre as linhas de infiltração inimigas, por forma a impedir o alastramento do seu esforço na zona Leste; a par disso, continuou a promover a organização do sistema de autodefesa das populações e respectivos aldeamentos.

Pela duração e áreas batidas, destacam-se as operações "Hálito", "Guia II" e "Dá Forte" e a sua colaboração na operação "Mabecos Bravios" - na qual, por acidente na travessia do rio Corubal, pereceram 17 militares - e na operação "Lança Afiada".

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 metralhadoras pesadas, 2 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 117 granadas de armas p
esadas e cerca de 10000 munições de armas ligeiras.

Em 07Jun70, foi rendido no sector pelo BArt 2917 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 117/118.
___________

Nota do editor:



segunda-feira, 10 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24216: In Memoriam (475): Coronel de Infantaria Reformado, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro (1926-2023), ex-Major Inf, 2.º Comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

IN MEMORIAM

Coronel Inf Ref Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro (26/07/1926 - 22/03/2023)
ex- Major Inf, 2.º Comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

********************

1. Mensagem de João Pedro Cunha Ribeiro, filho do Coronel Ângelo Cunha Ribeiro, enviada a Mário Beja Santos em 23 de Março de 2023:

Estimado Dr Beja Santos
Não queria deixar de lhe comunicar a triste notícia do falecimento do meu pai, ocorrida ontem, em casa e rodeado pela família. Foi uma morte muito serena, com todo conforto possível e julgamos que sem qualquer sofrimento.

Cordial abraço
João Pedro Cunha Ribeiro


********************

2. Mensagem de resposta de Mário Beja Santos:

Meu estimado João Pedro,
Recebi a sua dolorosa notícia na ilha de Santo Antão, eram férias desejadas há décadas. Pode imaginar o choque que senti, telefonávamos regularmente, o seu Pai e eu, ele ria-se muito de eu o tratar sempre por comandante, era o mais sincero dos meus tratamentos, dada a dignidade de quem o recebia e a gratíssima memória de uma convivência com um segundo comandante do BCAÇ 2852, chegou em momento de grande tensão a Bambadinca, aqui se sinistrou gravemente, no estrito cumprimento do dever.

Poderia contar-lhe dezenas de peripécias que passei ao lado do seu Pai, a mais sentida, como creio que já lhe contei, foi o desvelo com que num dos momentos mais dramáticos da minha vida, depois da explosão de uma mina anticarro, num lugar denomiando Canturé, no regulado do Cuor, ele pôs em marcha o auxílio a um contingente altamente afetado, entrei na messe de oficiais a meio de uma refeição, foi ele que se pôs de pé e deu instruções a médico e a operacionais, mandou recolher todas as sobras e meter dentro de pães para levar aos sinistrados.

Isto define um caráter, um sentido de estender a mão ao Outro, seu camarada de armas.

Ficámos sempre em boa relação, jamais poderei esquecer tão nobre figura, e o previlégio que senti em estar presente no dia dos seus 90 anos, na companhia da família e dos amigos mais estreitos.

Eu peço-lhe a gentileza de dirigir aos seus irmãos os meus sinceros pêsamos, faço questão que lhes diga que perdi um referente, alguém que muito me ensinou a fazer-me homem naquele meio e naquele tempo em que convivíamos com todos os riscos, todas as faltas e uma profunda solidão.


Curvo-me respeitosamente pela sua memória, que me acompanhará até ao fim dos meus dias.

Receba um abraço e a elevada consideração a um filho tão admirável, como o João Pedro foi,
Mário Beja Santos

Esposende > Fão > Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71) > 1994 > Mário Beja Santos (ex-comandante do Pel Caç Nat 52) com o Coronel Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) a partir de Setembro de 1969, altura em que substitui o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. Era afectuosamente conhecido, entre as NT, como "o major eléctrico"... Foi ele que deu o nome de guerra, Tigre de Missirá, ao Beja Santos.
I Encontro de BCAÇ 2852 realizado em Fão, onde estamos nós, o Ismael, o Vacas, o Carlão (suponho que era o dono do restaurante) entre outros e, em primeiro plano, os Majores Cunha Ribeiro e o Capitão Brito.

Foto e legenda: © Fernando Calado
Amena cavaqueira depois de uns bifinhos com pimenta e um bom Douro
O coronel Cunha Ribeiro e os seus três filhos, não esconde a emoção pelo dia grande

OBS: - Vd. poste de 13 DE SETEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16483: Efemérides (235): Nos 90 anos do "Major Elétrico", 2.º Comandante do BCAÇ 2852, festejados no passado dia 30 de Julho de 2016 (Mário Beja Santos)

Dois instantâneos do, então, Major Cunha Ribeiro, em Bambadinca
© Fotos do nosso camarada Jaime Machado

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Comentário do editor:

Porque só hoje soubemos do falecimento do senhor Coronel Ângelo Cunha Ribeiro, só agora podemos manifestar à família, do senhor Coronel, o nosso pesar pela perda do seu ente querido.
Ao camarada Mário Beja Santos, o nosso abraço solidário porque sabemos que mantinha contacto regular com o seu antigo 2.º Comandante, a quem, carinhosamente, continuava a tratar por Major.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24174: In Memoriam (474): Domingos Miranda (1947 - 2023), ex-fur mil op esp, CCAÇ 2549, comandada pelo cap inf Vasco Lourenço (Cuntima e Farim, 1969/71)... Funeral, hoje, dia 29/3/2023, pelas 16h00, em Torres Vedras (Eduardo Estrela)

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23208: Lembrete (37): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: há 30 presenças confirmadas, das quais 10 do João Crisóstomo e outros camaradas da CCAÇ 1439 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)


José Fernando Almeida, o organizador do 26º Convivio,
ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71)

Guiné - Bambadinca 1968-1971

CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12;
Pel Caç Nat 52, 54 e 63;
Pel Mort 22106 e 2268;
Pel Rec Daimler 2046 e 2206;
e outros



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1969/70 > Quartel > A famosa rampa de acesso ao quartel e posto administrativo, do lado leste... Daqui saía-se para o rio  Geba e porto fluvial (ao fundo, à esquerda) ou para a estrada (alcatroada,  Bambadinca-Bafatá). 

Bambadinca pertencia ao regulado de Badora, do outro lado do rio já era o regulado do Cuor (no nosso tempo, confinado a Finete e Missirá)... Bambadinca ficava num promontório. Esta rampa de acesso, íngreme, prestava-se a acidentes. Recorde-se um deles que ia vitimando o major Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, 2º cmdt do BCAÇ 2852, o qual ia morrendo esmagado no seu jipe por um desprendimento de cibes da viatura pesada que seguia à frente... Tinha por alcunha o "major elétrico". 

Belíssima foto do ex-fur mil op esp da CCAÇ 12 (1969/71) e nosso colaborador permanente, Humberto Reis.

Foto (e legenda) © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Fernando Almeida, organizador do 26º Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71)

Data - quarta feira, 27 abr 2022, 20:35 
Assunto - 26º Convívio de Bambadinca

Boa noite,  Luís

Como tinha combinado contigo, estou a fazer o ponto da situação do Convívio (*).

Das oitenta e uma cartas enviadas,  só uma veio devolvida e por endereço insuficiente. Através do Manuel S. Almeida (, de  Fragosela de Cima, Viseu), ao procurar o endereço correto, soube que o João Dias Vieira (, residente em Vil de Soito, Viseu)  fora admitido num lar por motivos de saúde.

Enviados trinta e seis emails. Presenças confirmadas trinta (30), destas trinta, dez (10) são da CCaç 1439. Pendentes devido a Operações, Convalescentes , doentes: Oito (8)

Como a data limite é o dia 18 de Maio, a partir do dia 5 de Maio , vou efectuar contactos telefónicos. 

Também nesse dia vou contactar o João Crisóstomo, da CCAÇ 1439  (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que está em Portugal e que quer juntar o seu pessoal para participar também no nosso convívio.

Um abraço
Fernando Almeida (**)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23087: Convívios (921): XXVI Convívio do Pessoal de Bambadinca, 1968/71: Caldas da Rainha, sábado, 28 de maio de 2022 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22636: Lembrete (36): Convite para a apresentação do livro "Nunca Digas Adeus às Armas (Os primeiros anos da Guerra da Guiné)", por António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, dia 18 de Outubro de 2021, pelas 18 horas, no Pálácio da Independência - Largo São Domingos, 11 - Lisboa

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22696: (De)Caras (181): os dois "ponteiros" de Bambadinca, o velho Brandão (da Ponta Brandão) e o histórico Inácio Semedo, de quem o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento - Parte I



Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca (Sector L1 > Ponta Brandão, fevereiro de 1970: major Cunha Ribeiro (2.º cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, de alcunha, o "major elétrico") na  ação psicossocial. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar... Repare-se que a morança tem uma placa, no meio da parede, com "número de polícia": GU 23 (ou 27). A população parece ser balanta.


Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca (Sector L1) > Ponta Brandão, uma "ponta" (exploração agrícola, com destilaria de cana de açúcar) que ficava nas imediações de Bambadinca, a caminho de Bafatá, na margem esquerda do Rio Geba Estreito... Na foto, o alf mil cav Jaime Machado (*).

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas,  um deles vestido apenas de um rudimentar tapa-sexo. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Nhabijões, Mero, Santa Helena, Fá Balanta e Ponta Brandão, núcleos populacionais consideradas, desde o início da guerra, como estando "sob duplo controlo", ou seja, com população (maioritariamente balanta) que tinha parentes no "mato" (zona controlada pelo PAIGC)... Em Finete, Missirá e Fá Mandinga havia destacamentos nossos: milícias e/ou Pel Caç Nat (52, 63)... Entre Bambadinca e Fá Mandinga ficava Ponta Brandão. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar... O "ponteiro" era o velho Brandão.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


1. A Ponta Brandão veio,  de novo, à baila com a republicação  recente de mais uma das deliciosas  "estórias cabralianas" (**)... Oficial e cavalheiro, o "alfero Cabral", comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) conta-nos, com a sua inimitável e inefável  brejeirice, as peripécias da 
inesperada visita ao destacamento de Fá Mandinga de "tres alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas", uma, a "filha do Senhor Brandão [, da ponta Brandão]" e a outra,  "uma amiga de Bissau, cabo-verdiana".

Não sabemos a razão de ser da visita: por motivos de segurança, só se podia viajar, sem escolta,  à volta de Bambadinca. Fá Mandinga ficava ali à mão, a cerca de 5 km. Ia-se (e vinha-se),;de jipe, nas calmas. Por outro lado, em Fá Mandinga tinha sido uma antiga estação agronómica por onde se dizia ter passado, nos anos 50, o Engº Agrónomo Amílcar Cabral, licenciado pelo ISA- Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa... O que parece não corresponder à verdade, mas, provavelmente, as "duas raparigas" eram simpatisantes do PAIGC e queriam ver, com os seus olhos,  o que restava dessas instalações onde o "pai da Pátria" alegadamente trabalhara vinte anos antes ...Ou então os três jovens e galantes alferes de Bambadinca (quem teriam sido eles? ) devem-lhes vendido essa patranha...

Havia uma outra ponta, em Bambadinca (diz a história do BART 2917) (***), mas eu nunca soube onde ficava exatamente . Presumo que essa pertencesse ao outra "ponteiro", Inácio Semedo, de que falaremos num próximo poste. Antes da guerra, teria havido outras mais pontas. 

Os balantas adoravam aguardente de cana. Por outro lado, os comerciamtes também trocavam aguardente de cana por arroz aos balantas, que eram grande orizicultores. Era natural que a guerrilha do PAIGC (ou os seus elementos locais, nomeadamente em Nhabijões, Mero e Santa Helena) viessem aqui, a Ponta Brandão, abastecer-se. A aguardente de cana era o uísque dos pobres. E sem álcool  ou droga ninguém faz guerras.

O Jorge Cabral conhecia, melhor do que eu, a Ponta Brandão (a escassos  quilómetros de Bambadinca, à esquerda da estrada para Bafatá, e a meio caminho de Fá Mandinga; ia-se lá por causa da aguardente de cana, dos leitoes, da fruta tropical e de .... uma certa bajuda, que devia ser filha ou mais provavelmente neta do velho Brandão).
 
2. Recorde-se que na Guiné o vocábulo "ponta" quer dizer propriedade agrícola, exploração agrícola, horta, em geral junto a um curso de água, na margem de um rio, e o nome estava muitas vezes associado ao seu proprietário, cabo-verdiano ou "tuga": por exemplo, Ponta do Inglês, Ponta João da Silva, Ponta Luís Dias, Ponta Nova, no Rio Corubal.. Mas havia muito mais pontas pelo interior da Guiné: por exemplo, pela Carta de Farim, verifica-se que havia diversas pontas ao longo do curso do Rio Farim:

Ponta Caeiro
Ponta Fernandes
Ponta Paulo Cumba
Ponta Camilo
Ponta Pinto
Ponta Manuel Rodrigues
Ponta Boa Esperança
Ponta Cabral
Ponta Francisco Monteiro
Ponta Simão, etc.

Com o início da guerra, grande parte destas explorações agrícolas foram abandonadas...

Está, de resto, por fazer a história das pontas na Guiné (****)... Na carta de Cacheu / São Domingos, fui encontrar o topónimo, Ponta Salvador Barreto... Em Bambadinca, havia a Ponta Brandão... Fui lá algumas vezes... No Xime, a Ponta Coli, a Ponta Varela...

Há muitas histórias, ligadas às Pontas, que estão por contar... Mas a nossa curiosidade ficará, em muitos casos, por satisfazer: afinal, quem era o Varela ? E o Inglês ? E o Salvador Barreto ?

Mesmo em relação a Ponta Brandão... Q
uem era o velho Brandão?  A sua origem, a sua historia?... Seria também um desterrado? ... Não temos nenhuma foto dele, só do sítio (e de parte da sua destilaria). Mas na Ponta Brandão haveria mais população, e nomeadamente balanta, gente que no passado trabalhava a mando dele, na ponta e na destilaria...
Enfim, do velho  Brandão, sabemos pouco, embora a malta de Bambadinca, do meu tempo (1969/71), lá fosse com alguma frequência... Afinal, era um vizinho.

Eis aqui alguns testemunhos, já em tempos aqui publicados (*****):

(i) Torcato Mendonça (1943-2021) (o nosso saudaso amigo e camarada passou por Fá Mandinga, antes da da sua CART 2339, 1968/69, ter sido colocada em Mansambo):

(...)  Não sei se a Ponta Brandão de que falas, se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné. Creio que por razões de ordem politica.

Tenho disso uma recordação muito fraca. O vagomestre parece que ia lá comprar vegetais. Passei lá uma ou duas vezes. O velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres, mais velhos que nós. Falei com, pelo menos, um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona, etc.

O velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú, encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois, noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi... deslizava e queimava... e ele olhava... respirei fundo e soprei forte. Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. 

A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei.


(ii) Luís Graça:


(...) Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sargento de mês, mais exactamente)... 

O Jaime  (Soares Santos), o nosso vaguemestre (da CCAÇ 12), batia região à cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...

O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...

Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou cabo-verdiana... Sei que a família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC. Já os Semedos tinham fortes ligações ao PAIGC (...)

(iii) António Rosinha:

Quando se fala nestas figuras de comerciantes ou agricultores, neste caso com o nome de Brandão, que na Guiné é um dos nomes de colonos históricos, noutras ex-colónias há outros nomes também com história, estamos a falar dos verdadeiros colonizadores "à lá portuguesa".  

Estes homens, sem disso terem consciência, chegaram e abriram caminho e serviram de intérpretes, a missionários católicos e outros, a chefes de posto e administradores e militares.

Estes comerciantes raramente foram alvo de um estudo, que analizasse as suas grandezas e misérias. Mas todos os governantes, desde o Diogo Cão até ao Gen Spínola, secundarizaram estas pessoas, quando devia ter sido o contrário.

Os africanos (indígenas) davam mais importância a um comerciante do que a um governador geral ou a um missionário ou chefe de posto.

Em relação à guerra, tiveram um papel tão importante, para o bem ou para o mal, que podemos dizer que os milhares de Brandões na África portuguesa, foram os pais e os avós da maioria dos teóricos fundadores, do MPLA, PAIGC e FRELIMO, movimentos que secaram outros em volta, e com isso, talvez ainda sobre alguma coisa no fim de isto tudo.

Estes comerciantes, a maioria analfabetos, ou quase, chegavam a falar um dialeto ou mais que um, continuarão a ser olhados de soslaio por qualquer militar que, ao fim de 24 meses, não chegava a comprender aquela africanização, para não dizer outros nomes.

Estes portugueses de Áfricas e Brasis foram a história mais importante da diáspora portuguesa. Em geral viajaram com passagem paga por eles. Muitos netos dessa gente veio para o meio de nós em pontes aéreas. (*****)

(iv) Jorge Cabral:

Confirmo. Fui visita assídua do senhor Brandão, principalmente durante as férias da filha que trabalhava em Bissau. Era natural de Viana do Castelo ou da Póvoa de Varzim, já não me recordo bem. Teria na altura quase 80 anos, mais de 40 de Guiné e muitos filhos. (******)

A aguardente de cana era fogo... mas matava qualquer bicho, mesmo os imaginários...

(Continua)
___________



(***) Vd. poste de 16 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6601: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (6): Povoações sob controlo IN; Recursos; Clima e meteorologia; Dispositivo e actuação da guerrilha (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luís Graça)

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20169: In Memoriam (349): António Manuel Carlão (1947-2018): testemunhos e comentários (Abel Rodrigues, Fernando Calado, Arsénio Puim, Jorge Cabral, Luís Graça)



Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a  malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852, mas também malta do BART 2917 (1970/72)... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão, ao centro, assinalado com um retângulo a amarelo:

Na primeira fila, da esquerda para a direita: 

(i) Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vivia no Porto, na altura ]; 

(ii)  sold cond auto Diniz Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres]; 

(iii) um antigo escriturário da CCS/ BART 2917 (morava em Fão, Esposende); 

(iv) Alf Mil Inf António Manuel Carlão (1947-2018) [,casado com a Helena, comerciante, vivia em Fão, Esposende];

(v)  Fur Mil Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal; damista, grande jogador de king e de lerpa, no nosso tempo, a par do Humberto Reis]; 

(vi)  Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís [Manuel da ]  Graça [ Henriques]  [, prof univ., fundador deste blogue, vivia em Alfragide / Amadora]; 

(vii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"); 

(viii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vivia, agente de seguros reformado]...


Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: 

(ix) Fernando [Carvalho Taco]  Calado, Alf Mil Trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vivia em Lisboa];

(x) Alf Mil Manutenção Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 ], vivia em 

(xi)  Fur Mil António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vivia em Martingal, Sagres, Vila do Bispo]; 

(xii)  Capitão Inf Carlos Alberto Machado Brito [, Cor Inf Ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR]; 

(xiii) camarada, de óculos escuros, que não sei identificar [, diz-me o Fernando Andrade Sousa que se trata do Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, natural de Resende];

(xiv) major àngelo Augusto Cunha Ribeiro, mais conhecido por "major elétrico", 2º comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); 

(xv) Fur Mil Op Esp Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, vive Alfragide / Amadora; na foto, escondido, de óculos escuros]; 

(xvi) camarada não identificado;

(xvii) Alf Mil Cav José Luís Vacas de Carvalho, Pel Rec Daimler 2206; 

(xviii) Alf Mil Inf Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70; vive em Lisboa, nosso colaborador permanente]

(xix)  Fur Mil António Fernando R. Marques [, natural de Abrantes, vive em Cascais, empresário reformado]; 

(xx)  Manuel Monteiro Valente [de bigode e de perfil, ex-1º Cabo, 1º Gr Comb, CCAÇ 12, apontador de dilagrama, vive no Porto, organizou o convívio, em 2019, do pessoal de Bambadinca, 1968/71]

(xxi) Abel Maria Rodrigues [hoje bancário reformado, vive em Mirando do Douro, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12]; 

(xxii) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em V. N. Famalicão, se não erro; nunca mais o vi, desde deste 1º encontro, em 1994; não é membro daTabanca Grande]; 

(xxiii) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive ou vivia no Barreiro; não é membro da Tabanca Grande ]; 

(xxiv) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes numa operação, vive na Covilhã,: não integra a Tabanca Grande]; 

(xxv)  Fernando Andrade Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa); 

(xxvi) e, por fim, 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Cinco mensagens ou  comentários de membros da nossa Tabanca Grande que conheceram (e conviveram com) o  António Carlão (*):


(i) Abel Maria Rodrigues [, vive em Mirando do Douro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, cmdt do 3º Gr Comb]

Olá, Luis!
Obrigado pela tua comunicação sobre o falecimento do Carlão. No dia 30/8/2019 o Duraes publicou a triste notícia no grupo [, fechado,] Bambdainca, do Facebook,  de que è administrador. 
Eu era o único da companhia [, CCAÇ 12,]  que mantinha contacto regular com ele, pois ia muitas vezes jantar ao restaurante dele [, em Fão, Esposende,]  com a minha família e cheguei a ir também com o Branco, o Sousa e o Mateus.
Tinha falado com ele por telefone pouco antes de falecer e disse-me que tinha fechado o restaurante e passava a vida entre Fao e o Canada onde vivia uma filha.
Fiquei chateado com a Helena por não me ter comunicado, pois ele costumava caçar com primos meus na minha aldeia e também não souberam nada.Quanto á duvida que tens ele veio do CSM mas não passou pelos Rangers [,em Lamego]..
Paz para alma dele e dos camaradas já falecidos e saúde para os que por cá continuamos.
Grande abraço, Abel
(ii) Fernando Calado [, vive em Lisboa, ex-alf mil trms, CCS / BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70]
Junto foto do 1º. encontro da malta que esteve em Bambadinca no período 1968/1971, que teve lugar em Fão e que foi organizado pelo Carlão. O almoço decorreu num restaurante cujo proprietário, julgo, era o próprio Carlão.

Estamos todos bastante mais novos mas não tenho registo da data de realização do evento [, 1994].

Um grande abraço para todos.

Fernando Calado

(iii) Arsénio Puim [, vive na ilha de São Miguel,  RA Açores, ex-alf mil capelão, BART 2917, Bambadinc, 1970/72]

Amigo Luís Graça:

Obrigado pela informação sobre a morte do ex-alferes Carlão, que eu sinto, como acontece sempre que tenho conhecimento do falecimento de algum colega do nosso Batalhão. Nos dois encontros do Batalhão em que participei, lembrei-me e perguntei informações dele, que, na verdade, eram escassas.
Contactei, naturalmente, várias vezes com o António Carlão. Pessoa porventura um pouco polémica, mas sempre muito atencioso para comigo.

Na referida coluna para o Saltinho, que eu aproveitei para me deslocar para Mansambo, a sua esposa Helena ia no mesmo camião que eu, «à minha guarda», como vocês dizem por graça. Numa altura, o Carlão veio dizer-me para eu ir lá à frente à cabeça da coluna, porque havia problemas. Realmente, lá estavam dois picadores nativos gravemente feridos. Um deles pareceu-me mesmo estar morto, merecendo todo o meu respeito. Ao outro dei-lhe um momento de apoio e simpatia.

A lembrança que tenho da Helena é de uma mulher simpática e engraçada e com consideráveis dotes para cantar, que bem contribuiu para animar os nossos serões em Bambadinca. Pois, como dizia um professor meu de História a respeito da «guerra das damas», ela era «uma nota de ternura no meio daquele ambiente belicoso».

Daqui e por este meio, envio à Helena e família os meus sinceros pêsames. Para ti, Luís, um grande abraço. Arsénio Puim

(iv)  Jorge Cabral [, vive em Lisboa, ex-alf mil art, cmdt Pel CAÇ nAT 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]

A minha total solidariedade com a Helena! Creio que estiveram num Encontro em Montemor Novo, há anos. A Helena era uma miúda, quando apareceu em Bambadinca. No referido encontro, conversei muito com ela. Lembro-me dela dizer à minha mulher: "O Cabral era um rapaz muito bonito".

É a vida...O Carlão , a Helena...todos nós tão jovens! Carlão Amigo, até qualquer dia, mas não uses o dilagrama...Jorge Cabral

(v) Luís Graça [, editor do blogue, ex-fur nil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71]


Uma das nossas 14 obras de misericórdia é enterrar os mortos e a outra é cuidar dos vivos... "Alfero" Cabral, não fui a esse encontro de Montemor-o-Novo, razão por que, desde 1994, nunca mais vi o casal Carlão...

A Helena, embora muito jovem, foi corajosa em meter-se naquele "vespeiro" que era Bambadinca... Quando foi para lá era a única branca no perímetro do arame farpado, depois da professora cabo-verdiana que vivia "enclausurada" na escola, com a mãe, e que não convivia com os militares... 

Portanto, a Lena foi a primeira mulher de um militar, metropolitano, a vir viver para Bambadinca, depois do ataque ao quartel em 28 de maio de 1969... Ao tempo do BCAÇ 2852, que terminou a sua comissão em maio de 1970, um ano depois...A Lena deve ter chegado a Bambamdinca depois das férias do Carlão, talvez já no fim do ano de 1969 ou princípio de 1970. Só mais tarde, com o BART 2917, vieram outras senhoras...

Continuo a pensar que terá sido uma decisão errada, a do meu cap inf Carlos Brito, ter autorizado um dos seus oficiais a trazer a esposa, recém.casada... Era (é, ainda está vivo) um bom homem, mas deixou-se ir na cantiga do Carlão... A Lena podia ter regressado viúva à sua terra...A CCAÇ  12 (e o seu setor de intervenção, o setor L1) não era companhia para se passar "luas de mel"...
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

domingo, 28 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17405: Falsificações da história (1): a fantasiosa versão do repórter de guerra e escritor sul-africano Al J. Venter sobre o ataque a Bambadinca em 28/5/1969


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alf mil  trms Fernando Calado, de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de maio de 1969.

Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais (vd. ponto 6 da foto aérea abaixo reproduzida),  que dava para as valas, o arame farpado e a bolanha, nas traseiras do edifício do comando... Era uma parte mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação.

Pelo menos aqui, caíram duas morteiradas:

(i) Uma das morteiradas atingiu o quarto onde dormia, com outros camaradas,  o fur mil amanuense José Carlos Lopes. Tinha acabado de sair.. Ainda hoje conserva um lençol crivado de estilhaços... Está vivo por uma fração de segundos... (Bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha e é membro da nossa Tabanca Grande.);

(ii) Outra morteirada atingiu o quarto onde dormia o Fernando Calado e o Ismael Augusto.  O Fernando ainda apanhou o efeito de sopro, tendo sido menos lesto que o Ismael, a sair logo que rebentou a "trovoada"...

Também podia ter "lerpado", como a gente dizia na época... Apesar de tudo, a sorte (ou a má pontaria dos artilheiros da força atacante, estimada em 100 homens, o que equivalente a 3 bigrupos) protegeu os nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas (, entre elas, o Pel Caç Nat 63 cujos soldados, guineenses, dormiam a essa hora, com as suas bajudas, nas duas tabancas de Bambadinca, e que portanto estavam fora do arame farpado)...

Na foto acima , o Fernando Calado, membro da nossa Tabanca Grande (tal como o Ismael Augusto), traz o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente  temos poucas fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Invólucros de granadas de canhão s/r, deixadas na orla da mata contígua à pista de aviação, na noite do ataque a Bambadinca, 28 de maio de 1969... Ainda tenho bem presente, na minha memória, estes "objetos" de guerra, na nossa passagem por Bambadinca, a caminho de Contuboel, em 2 de junho de 1969...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bidões de combustível atingidos pelo fogo do IN, no ataque da noite de 28 de maio de 1969. Recorde-se aqui o sistema de cores dos nossos bidões de combustíveis e lubrificantes: Vermelho (gasolina), verde claro (petróleo branco), azul (gasóleo), amarelo (óleos)...No caso dos combustíveis para aeronaves, os bidões também eram verde-claro, mas de tampa (topo do bidão) de cor branca.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste). Vê-se ainda uma nesga do heliporto (2) e o campo de futebol (3). A CCAÇ 12 (julho de 1969/março de 1971) começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento "roubado" à engenharia nas colunas logísticas para o Xitole.

De acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão (5) e as instalações de oficiais (6) e sargentos (7), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9). As messes de oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum (10).  Na noite de 28 de maio de 1969, uma granada de morteiro explodiu no ponto 7.

Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá. O aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). São visíveis as valas de protecção (22), abertas ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24). A luz eléctrica era produzida por gerador... Junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o abrigo da metralhadora pesada Browning (25). Em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses 14).

A caserna das praças da CCS (11) ficava do lado oeste, junto ao campo de futebol (3). Julgava-se que o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler ficava instalado no edifício (12), que ficava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U. Mais à direita, situava-se a capela (13) e a secretaria da CCAÇ 12 (14). Creio que por detrás ficava o refeitório das praças. Em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

Do lado leste do aquartelamento, tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais (18), a escola primária antiga (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga). Ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do alf mil António Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12).

Esta reconstituição foi feita por Humberto Reis, Gabriel Gonçalves e Luís Graça.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Já muito se escreveu aqui sobre o célebre ataque a Bambadinca em 28 de maio de 1969 (*), por coincidência uma data simbólica para o regime político então em vigor: em 28 de maio de 1926 deu-se um golpe de Estado que pôs fim à I República, instaurou a Ditadura Militar e institucionalizou o Estado Novo, derrubado 48 anos depois, em 25 de abril de 1974.

A data nunca foi esquecida por quem, como o Fernando Calado e o Ismael Augusto, estava em Bambadinca nessa noite e foi brutalmente acordado pelas explosões dos canhões sem recuo e dos morteiros 82, e pelas rajadas de armas automáticas... 

O simbolismo da data é reforçado pelo facto de tudo ter acontecido  pouco mais de dois meses depois da grande Op Lança Afiada, em que as NT varreram  toda a margem direita do Rio Corubal, desde a foz do mítico rio até à floresta do Fiofioli, considerado um bastião do PAIGC. Cerca de 4 mil almas deveriam viver, sob controlo do PAIGC, desde o início da guerra, nos subsetores do Xime e do Xitole. Cerca de 1300 homens, entre militares e carregadores civis. participaram nesta grande "operação de limpeza". de 10 dias, que não se voltaria a repetir, no setor L1.

Refeito dos desaires sofridos (nomedamente, a desarticulação e/ou destruição de boa parte dos seus meios logísticos, incluindo moranças e meios de subsistência da guerrilha e das populações sob o seu controlo: toneladas de arroz, dezenas e dezenas de cabeças de gado, centenas de galináceos e porcos...), o PAIGC decidiu atacar em força Bambadinca, porta de entrada da zona keste. 

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo seco, telegráfico:

"Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGFog, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...).


2. Sobre este ataque a Bambadinca lemos há dias o seguinte excerto da versão contada pelo escritor e jornalista sul-africano Al J. Venter que, em missão de reportagem à Guiné,  visitou o aquartelamento, um ano depois, já no tempo do BART 2917 (1970/72) e que falou, entre outros com o comandante de batalhão. O excerto é reproduzido pelo nosso crítico literário, Mário Beja Santos (**):


(...) “O último ataque [a Bambadinca] ocorrera exatamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para Norte do outro lado da fronteira  [com a República da Guiné-Conacri] a partir de Kandiafara [corredor de Guileje] para tentar cortar a estrada de Bafatá. 

"Num final da tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio [ Corubal ? ],  retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria então atacar outras posições durante o assalto. Foi então que algo correu mal. 

"Um grupo de pisteiros da força atacante colidiu com uma patrulha de Bambadinca e foi capturada intacta, sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. 

"Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar”. (...)

O referido ataque a Bambadinca foi a 28/5/1969 (ou "flagelação", segundo a história da unidade...), estava o Mário Beja Santos em Missirá, a comandar o Pel Caç Nat 52,  e eu a chegar a Bissau no "Niassa", ainda deu no dia 2 de junho, ao passar por lá, vindo de Bissau de LDG até ao Xime, a caminho de Contuboel, para ver os estragos (relativamente poucos... ) mas sobretudo sentir as reações e emoções da malta da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas...

Ora eu nunca ouvi esta versão Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe, ou a melhor, a versão contada pelo comandante do BART 2917 (que rendeu o BCAÇ 2852) e registada pelo escritor e jornalista sul-alfricana... Será que o inglês do Magalhães Filipe e o português do Venter eram assim tão maus ?

Parece que alguém está a delirar... ou trocou as cassetes... ou está deliberadamente a falsificar a história. Não fazemos "juízos de valor", interessa-nos apenas a verdade dos factos.

Recorde-se que o BART 2917 chegou a Bambadinca em finais de maio de 1970... O BART 2917 foi mobilizado pelo RAP 2. Embarcou para a Guiné em 17/5/1970 e regressou à Metrópole em 24/3/1972. Foi colocado no Sector L1, em Bambadinca, substituindo o BCAÇ 2852 (1968/70). O seu primeiro comandante foi o ten cor art Domingos Magalhães Filipe. Unidades de
quadrícula: CART 2714 (Mansambo); CART 2715 (Xime; teve 5 ncomandantes); e CART 2716 (Xitole).

O Venter deve, portanto, ter falado, talvez em junho ou mesmo princípios de junho de 1970, com o então ten cor art Domingos Magalhães Filipe, que irá ser substituído pelo famoso ten cor inf Polidoro Monteiro. O Spínola, recorde-se, pôs-lhe os "patins"...

Por que não me parecia que esta história tivesse pés e cabeça, confrontei alguns camaradas de Bambadinca desse tempo, e nomeadamente   o Fernando Calado e o Ismael Augusto, dois bem colocados oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852, ambos membros da nossa Tabanca Grande.

Mais uma vez o Fernando Calado, que foi  alf mil trms (e, portanto, um oficial bem por dentro do sistema de informação e comunicação do setor L1) contou-me ao telefone a sua versão, que vem desmentir a versão do Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe,  e que ele prometeu passar a escrito, para "memória futura":

(i) o relato do escritor sul-africano Al J. Venter é uma falsificação da história;

(ii) ele e o Ismael já estavam deitados, o ataque terá sido perto da 1 hora da noite; e apanhou toda a cheia desprevenida;

(iii) a sorte de Bambadinca foi os canhões s/r (ele diz que eram seis, a história da unidade fala em três...) ao fazerem tiro direto, no fundo da pista, se terem enterrado ligeiramente (, estava-se já na época das chuvas), pelo que as canhoadas passaram a razar as instalações do quartel; mais certeiras foram algumas morteiradas que fizeram estragados (inckuindo nos quartos dos sargentos);

(iv) não houve prisioneiros nenhuns, nem muito menos foi apanhado à unha nenhuma figura grada do PAIGC; em suma, ninguém foi trazido de helicóptero para Bambadinca para ser interrogado;;

(v) o comandante do BCAÇ 2852, ten cor Manuel Maria Pimentel Basto (, de alcunha, o "Pimbas"),  não estava em Bambadinca nem ele nem a esposa; [o que é difícil de comfirmar a partir da história da unidade: a 14 de maio, o cor Hélio Felgas, cmdt do Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá) tinha, juntamente com o ten cor Pimentel Basto, visitado Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, Saltinho, Quirafo, Dulombi e Galomaro; e a 25, Bambadinca tinah sido visitada pelo Cmdt Militar e e pelo Cmdt Agr 2957; onde é que poderia estar o Pimentel Basto em 28 ? Em Bissau ?]

(vi) a única senhora que vivia no quartel era a esposa do tenente SGE Manuel Antunes Pinheiro, o chefe de secretaria do comando do BCAÇ 2852, e que era açoriano (se não erro);

(vii) o Fernando Calado conirma que houve algumas "cenas de histeria" a nível do comando de Bambadinca... (entre o major  inf Viriato Amílcar Pires da Silva, oficil de op inf, e o 2º cmdt, o maj inf Manuel Domingues Duarte Bispo).

Sabemos, pela história da unidade, que a 2 de junho de 1969, cinco depois do ataque a Bambadicna,os destacamentos de milícias e tabancas autodefesa de Amedalai,  Dembataco e Moricanhe foram flagelados, durante a noite, em simultâneo por 3 grupos não estimados, usando um arsenal impressionante: 7 canhões s/r, 8 mort 82, 13 LGFog, metralhadoras pesadas 12.7, além de armas automáticas, "causando 1 morto e 3 feridos milícias, 1 morto e 4 feridos civis, e danos materiais nas tabancas"... O mês de junho de 1969, já em plena época das chuvas,  foi, de resto, um mês de intensa atividade operacional do PAIGC no setor L1...

Para o comando e CCS do BCAÇ 2852, houve de imediato consequência deste ousado ataque do PAIGC:

(i) ainda em maio  o maj op info Herberto Alfredo do Amaral Sampaio vem substituir o maj Manuel Domingues Duarte Bispo, "transferido para o QG" (sic);

(ii) em julho o ten cor Pimentel Basto, "transferido por motivos disciplinares" (sic), é substituído pelo ten cor inf Jovelino Pamplona Corte Real;

(iii) em agosto, o cap inf Eugénio Batista Neves, cmdt da CCS, é também "transferido por motivos disciplinares", sendo substituído pelo cap art António Dias Lopes (que fica pouco tempo em Bamabadinca: logo em setembro é também substituido, pelos mesmos motivos, pelo cap inf Manuel Maria Fontes Figueiras);

(iv) nesse mesmo mês de setembro, chega a vez do maj inf Viriato Amílcar Pires da Silva: "transferido por motivos disciplinares", é substituído pelo maj art Ângelo Augusto Cunha Ribeiro, o nosso conhecido "major elétrico"...

Em suma, o comando do BCAÇ 2852 é completamente "decapitado" devido ao ataque a Bambadinca de 28/5/1969... que não conseguiu prever e para o qual também não se preparou convenientemente (em termos de defesa e de resposta)...



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) > Aspeto parcial da assistência: em primeiro plano, o Fernando Calado  e o Ismael Augusto, dois oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) que estava em Bambadinca na noite do ataque do PAIGC, em 28/5/1969; o primeiro era o oficial de transmissões e o segundo o oficial de manutenção.

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados



3. Seria interessante que os camaradas da CCS/BART 2917 se lembrassem da visita deste jornalista e escritor Al J. Venter, a Bambadinca, logo no início da comissão, portanto em finais de maio ou princípios de  junho de 1970.

Eu estava lá e não dei por nada, mas também não admira, já que a malta da CCAÇ 12 andava sempre por fora, no mato... Mas, de vez em quando, apareciam por Bambadincas jornalistas e personalidades estrangeiras que em geral "simpatizavam" com o regime de então... Eram visitas discretas, a maioria da malta não se apercebia... Vinham de heli ou DO 27 diretamente de Bissau, com carta branca do Spínola... Lembro-me de um grão-duque qualquer, com um título pomposo... mas também de dignitários religiosos muçulmanos... como o Cherno Rachid...


Em 28/5/1969, as forças que estavam em Bambadinca, sede do setor L1 eram as seguintes:

(i) o comando e a CCS/BCAÇ 2852;

(ii) o Pel Caç Nat 63;

(iii) o Pel Rec Daimler 2046;

e (iv) o Pel Mort 2106 (com secções destacadas em Xime, Mansambo, Xitole e Saltinho.

No total seriam apenas 200 homens em armas...Só a partir de 18 de julho de 1969, Bambadinca passa a ter a mais 160 homens, a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), constituída por 60 graduados e especialistas metropolitanos e 100 praça do recrutamento local...

Por sua vez, as subunidades de quadrícula, no setor L1, em 28/5/1969, eram as seguintes:

(i) CART 1746 no Xime;

(ii) CART 2339 em Mansambo (irá depois. no dia seguinte, destacar um pelotão para a defesa da ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, ponte que fora dinamitada e parcialmente destruída);

(iii) CART 2413 no Xitole (com um pelotão destacado na Ponte dos Fulas´);

(iv) CART 2405 em Galomaro (com um pelotão destacado em Samba Cumbera e outro, depois, na ponte do Rio Udunduma, e outro ainda, mas reduzido, em Fá Mandinga):

(v) CCAÇ 2406 no Saltinho  (com um pelotão depois destacado para a ponte do Rio Udunduma);

(vi) Pel Caç Nat 52 em Missirá;

(vii) o 8º Pel Art / BAC  (-) em Mansambo;

(viii) e pelotões de milícias em Missirá e Cansamange (101), Finete (102), Quirafo (103), Taibatá e Amedalai (104),  Dembataco e Amedalai (105=) Dulombi (144), Moricanhe (145),  Madina Bonco (146), Madina Xaquili (147)...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província (o eixo Xime-Bambadinca era a porta de entrada do leste), foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram felizmente a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Continuou a funcionar, sem quaisquer reparações por parte da engenharia militar... Passou a ser defendida permanentemente por um grupo de combate (que ia rodando pelas subunidades de quadrícula do batalhão e subunidades adidas), até à inauguração anos depois da nova estrada alcatroada Xime-Bambadinca.

Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes, furriel mil  amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852, teve de "alinhar no mato", nesta dramática ocasião,  posando aqui para... a "posteridade".

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]