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terça-feira, 9 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25730: Tabanca Grande (562): Elisabete Silva (1945- 2024), nossa grã-tabanqueira nº 892, uma presença luminosa e calorosa nos nossos convívios, e que em 2013 fez uma memorável viagem à Guiné, com o marido, Francisco Silva (1948-2023), a Armanda e o Zé Teixeira


Foto nº 1A > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins,


Foto nº 1 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins, junto à piscina.


Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. Da esquerda para a direita, Zé Teixeira, Armanda, Elisabete e Francisco.  "Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto." (*)
 
 

Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Bissau > Cumura > Hopital de Cumura > 30 de abril de 2013 >   A Elisabete com um bebé ao colo. "Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital], (*)

 

Foto nº 4A > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  A Elisabete e o Francisco



Foto nº 4 > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  1 de maio de 2013 > "O  grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse;  dia 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e voltam depois o Xitole, convidados para um casamento" (*)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013  > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado com  o Aliu do Xitole (antigo menino da messe dos sargentos)...  O Aliu reconheceu de imediato o "alfero paraquedista” , o “Sirva”. E logo o grupo ficou em amena cavaqueira com o Aliu a falar do “alfero Sirva”, "manga de bom pessoal". (Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.) (*)



Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez > Iemberém > 3 de maio de 2013  > O Francisco a aprender  a pilar arroz, com a Elisabete atenta.


Foto nº 7A Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 >  "A Fatma de Farosadjuma, ladeadas pelas nossas bajudas" (*)


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > Interior de um bangalô, no Hotel DjamDjam, em Faro Sadjuma, no interior da Mata do Cantanhez.


Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > - A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinhos  financiou (1).



Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > 
- A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinh0s,  financiou.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "Os régulos da tabanca, felupes,  Alberto Sambú (o mais novo, vestido de verde) e o Necolá Djata (o mais velho, vestido de vermelho)... Para que ninguém ouse sentar-se no banqunho dos régulos (sob pena de morte!) , estes têm o cuidado de o trazerem sempre consigo, como se pode ver nesta foto em que acompanham os tugas  na visita à tabanca. O mais novo ainda se faz acompanhar de uma vassourinha para limpar a terra e areia dos pés. Cada terra tem seus usos e costumes, mas este é, com o devido respeito, deveras estranho." (*)


Foto nº 10  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de  brancos (e brancas) que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente". (*)


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > A Aemandia e a Elisabete com - com os régulos (felupes) de Jufunco no local sagrado da reunião da comunidade para orar a Deus e centro de decisões.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma seleção de imagens, feita pelo próprio fotógrafo,  algymas das quais ilustraram as "Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) (*), em que participaram dois casais, nossos conhecidos: o Zé Teixeira e a Armanda  Teixeira;  o Francisco Slva (1948-2023) e a Elisabete Silva (1945-2024).  É uma sequência "fotojornalística", excecional, do melhor que temos publicado aqui... 

E a nossa Elisabete Silva seguramente que guardou estas  imagens na sua memória, como  umas das melhores e mais gratas da sua vida. Ela gostava, aliás,  de viajar, e preparava-se, antes de um operação do foro cardiológica, aparentemente de rotina, para ir em setembro aos fiordes da Noruega, com a sua amiga Ema Guerra, esposa do nosso camarada Hugo Guerra.

O coração atraiçou-a (**). Estive (com a Alice) na capela mortuária de Porto Salvo e depois no tanatório de Barcarena, no passado dia 5, e pude verificar como ela era uma mãe, avó, mulher, amiga e cidadã, estimada e amada. 

Na missa de corpo presente,  o pároco de Linda a Velha,  amigo pessoal dela e da família, fez-lhe umas das mais belas, serenas e singelas despedidas que eu já vi e ouvi, feitas por um sacerdote católico, num diálogo a três (ele, os filhos e os netos da Elisabete). E que família tão linda, tão amorosa, a da Berta e do Chico!...

No "In Memoriam" que lhe dedicámos, já tínhamos dito que a Elisabete  fora ao longo destes anos todos uma presença luminosa (e calorosa)  nos nossos convívios", razão (adicional)  por que ela merecia, sem favor, "honras de Tabanca Grande": não só frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve sete vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (e o Francisco dez). 

Em suma, sempre que podia (e que a saúde o permitia) acompanhava o marido nos nossos convívios, incluindo nos encontros anuais da CART 3492 (Xitole, 1972/74), a que o Francisco pertenceu originalmente.

Sabemos, também, que a Elisabete (ou Berta) trabalhou, toda a vida, na Petrogal, nos serviços fnanceiros. O Tony Levezinho lembrava-se dela, tendo sido colega próxima da sua Isabel , que também nos deixou, infelizmente, há três anos e meio.

A Elisabete Silva passa a ser, embora a título póstuma, uma das nossas "mulheres grandes",  sentando-se, simbolicamente, à sombra do nosso poilão no lugar nº 892 (***), ao lado de outras companheiras nossas que "da lei a morte também já se libertaram":
  • Clara Schwarz da Silva (1915-2016);
  • Isabel Levezinho (1953-2020);
  • Manuela Gonçalves (Nela) (1946-2019);
  • Maria Ivone Reis (1929-2022) (esta, camarada enfermeira paraquedista);
  • Maria Manuela Pinheiro (1950-2014);
  • Teresa Reis (1947-2011);
  • Zélia Neno (1953 - 2023).


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 
48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > 
 A Elisabete Silva (1945-2024)... 
De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente 
Figueira da Silva, Berta ou Bertinha 
para os familiares e amigos. Casada com o Francisco Silva, 
médico, e nosso camarada (1948-2023).

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

____________________



 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...








25 de agosto de  2013 > Guiné 63/74 - P11976: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (13): A despedida... Temos de voltar!

(**) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(***) Último poste da série > 3 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25709: Tabanca Grande (561): Aurélio Manuel Trindade, ten gen ref, ex-cap 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), militar de Abril, e autor do livro de memórias "Panteras à solta": senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 891

terça-feira, 25 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25681: 20º aniversário do nosso blogue (16): Alguns dos melhores postes de sempre (XI): na noite de 22 de junho de 1968, há 56 anos, Contabane transformou-se no inferno - Parte I: a versão de Manuel Traquina (ex-fur mil mec auto, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Contabane > CCAÇ 2382 (1968/70) > Malta da CCAÇ 2382 instalada nma monumental bagabaga (candidato ao concurso O Melhor Bagabaga da Guiné...), nas proximidades de Contabane, uma tabanca e destacamento destruídos na sequência do ataque, de três horas, levado a cabo pelo PAIGC em 22 de junho de 1968.

Contabane foi então abandonado pelas NT e pela população. Mais tarde será feito um reordenamento, mesmo frente ao Saltinho. Por lá passou o nosso camarada Paulo Santiago, quando foi comandante Pel Caç Nat 53 (1970/72). A povoação hoje chama-se Sinchã Sambel.

Foto (e legenda): © Manuel Traquina (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"... Um trocadilho bem achado..., ó Zé do Olho Vivo!




1. O Manuel Batista Traquina,
  "ribatejano, escritor e fadista", com vivências ang0lanas, ex-fur mil mec auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70) vive em Abrantes, onde nasceu em 1945.  [foto de 2008 à equerda].   

Podia ter sido apanhado à unha. Ou até ter sido morto. Teve sorte: esteve lá nesse pavoroso ataque a Contabane, em 22 de junho de 1968, e relatou-nos o essencial do que viu e viveu, no seu livro "Os Tempos de Guerra: de Abrantes à Guiné"   (Abrantes, editora Palha de Abrantes, 2009. ISBN 978-972-98796-6-1,228 pp.). A CECA (Comissão para o Estudo das Companhas de África) não faz qualquer referência a este ataque, que reduziu a cinzas Contabane que era até então um importante tampão fula (eixo Contabane - Aldeia Formosa), contra a fúria do PAIGC na região do Forreá.

Beja Santos
e Hermínio Marques

Este episódio de guerra foi recentemente evocado aqui pelo Beja Santos que, no passado dia 17, foi abordado pelo Hermínio Marques, antigo sold cond da CCAÇ 2382, o qual lhe contou como perdeu tod0s os seus haveres há 56 anos, em Contabane.

Ambos estava de passagem pela ilha de Santa Maria. O Hermínio Marques, que vive na América, casado com uma açoriana, reconheceu, no Hotel, o Beja Santos, sendo visita assídua do nosso blogue! (*).


Vamos convidar o Hermínio, que já nos escreveu, a juntar-se a esta tertúlia que é a Tabanca Grande, e onde já cá estão alguns bravos da CCAÇ 2382, a companhia do Zé do Olho Vivo, como o Manuel Traquina, o Carlos Nery, o José Manuel Cancela, o Alberto Ferreira, 
o padeiro, também conhecido por "Geada").



O Ataque a Contabane (**)

por Manuel Traquina

Era o dia 22 de Junho daquele ano de 1968, a Companhia estava na Guiné havia pouco mais de um mês e, ao ser deslocada para a região de Aldeia Formosa, (Quebo) dois pelotões fixaram-se em Mampatá, os restantes bem como o Comando foram deslocados para a aldeia de Contabane. 

Ali parecia respirar-se a paz, a população era numerosa e bastante acolhedora, e como habitual faziam-se alguns patrulhamentos na região, que ficava a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conákri.

Naquela aldeia os militares acomodavam-se nas próprias moranças cedidas pelo chefe da Tabanca. À volta da aldeia tinham sido abertos no terreno algumas valas e abrigos, além de duas fiadas de arame farpado. 

Tudo parecia correr dentro da normalidade, naquela tarde eu próprio com mais quatro militares saímos no Unimog a buscar água do poço que se localizava a curta distância.

Porém, já próximo do anoitecer, um dos elementos nativos que connosco efetuavam um patrulhamento, pisou um engenho explosivo, que lhe deixou um pé seriamente afectado. Este foi o primeiro sinal de que toda aquela paz não era real, o grupo recolheu à aldeia/aquartelamento, era a hora de jantar e na improvisada enfermaria o furriel enfermeiro Chambel com grande dificuldade, tentava encontrar uma veia onde pudesse administrar algum soro ao militar milícia, que com um pé decepado tinha perdido muito sangue.

Entretanto o sargento João Boiça, apercebendo-se da situação, corria de uma ponta à outra da aldeia, não parava de alertar todos para que de imediato se deslocassem para os abrigos, talvez ao tomar esta medida tenha evitado algumas mortes.

Tinha anoitecido e, de repente,  algumas explosões deram inicio a um ataque que se ia prolongar por cerca de três horas, as balas incendiarias atravessavam a palha que servia de cobertura à morança onde o ferido começava a receber o soro. Disse ao Chambel e ao Coelho que tínhamos que sair daqui imediatamente com o ferido, porém ele, já mais endurecido pela guerra, reunindo as suas débeis forças arrastou-se até á porta e, no escuro,  sem que nos apercebesse-mos desapareceu rastejando, só na manhã seguinte o voltámos a ver, quando da chegada do helicóptero que o evacuou bem como a outros feridos.

Foram cerca de três horas de bombardeamentos em que a aldeia reduzida a cinzas mais parecia um inferno. Mo final foi uma forte trovoada que, transformou a cinza em lama, onde quase não havia onde nos abrigar. 

Não tenho dúvidas de que nós,  os militares,  que naquela tarde fomos à água, pasámos muito perto do local onde o inimigo preparava o ataque e só não fomos feitos prisioneiros porque o objetivo era o ataque. 

Apesar do grande aparato e grande potencial de fogo, sofremos apenas três feridos,  dois dos quais de maior gravidade. Porém, quase todo o património da companhia ali ficou reduzido a cinza, os rádios, os géneros alimentícios, o equipamento de enfermagem, tudo ali ficou carbonizado, grande parte dos militares ficaram apenas com a roupa que tinham vestida. 

Na manhã seguinte um helicóptero evacuou os feridos, alguns militares apressaram-se a escrever um ou outro aerograma meio queimado e enlameado que foi entregue ao piloto do helicóptero, era a parte psicológica a funcionar, pretendiam partilhar aquele momento de desânimo com alguém do coração.

Contabane foi totalmente evacuada de população e militares, saímos dali moralmente destroçados, alguns apenas de calções, sapatilhas e a sua G3, mas vivos para suportar muitos outros ataques e emboscadas durante os vinte e dois meses que se seguiram. 

Já no termo da comissão viemos encontrar na cidade de Bissau o milícia que, ao pisar a armadilha,  foi amputado de um pé, e que naquela cidade tentava sobrevier como engraxador de sapatos.

Neste agora passado dia 22 de junho de 2008, ao completarem-se quarenta anos sobre este ataque, quero homenagear os dois camaradas mortos,  não neste ataque, mas noutros que se seguiram, furriel Ramiro de Sousa Duarte e o soldado Elidio Fidalgo Rodrigues, pertencentes a esta Companhia.

 Quero também saudar todos os militares da CCAÇ 2382, estou convencido que todos os que viveram este acontecimento o recordam e jamais esquecerão aquelas horas difíceis ali vividas. (***)

Manuel Batista Traquina
Ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Contabane (1959 > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, a sul de Saltinho e do rio Corubal, a caminho da fronteira... A nordeste, Quirafo, também de trágica memória para as NT (abril de 1972).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  22 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25674: (De) Caras (209): Hermínio Marques, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 2382: "Vou contar-lhe como perdi as minhas coisas em Contabane" (Mário Beja Santos)



Vd.poste anterior: 4 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25476: 20.º aniversário do nosso blogue (14): Alguns dos melhores postes de sempre (X): O fatídico dia 12 de outubro de 1970: a emboscada de Infandre, Zona Oeste, Setor 04 (Mansoa) (Afonso Sousa, ex-fur mil trms, CART 2412, 1968/70)

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24770: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (4): Paulo Santiago, cmdt Pel Caç Nat 53 e formador de milícias (Saltinho e Bambadinca, 1970/72): na 2º feira de carnaval de 1971, contei 3 dezenas de foguetes, lançados em grupos de quatro; o alvo (falhado) era Aldeia Formosa

1. Comentário do Paulo Santiago ao poste P24743 (*), contributo para a nova série " Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos" (**):

Na segunda-feira de Carnaval de 1971 (***), houve um baile na Escola situada junto do quartel do Saltinho. Naquela data, andava agarrado a uma espécie de bengala, a coxa direita com uma dúzia de pontos devido a um acidente com morteiro 60, de que julgo ter falado há anos atrás.

Fiquei pelo bar do quartel.

Não sei precisar a hora, ouvi umas "saídas" e agarrado à "bengala" saí do bar, acontecem mais saídas e vejo uns rastos de foguetes,  seguidos de rebentamentos. Aldeia Formosa a ser flagelada,  pensei. Mais rastos de foguetes, saíam em grupos de quatro, e contei mais de três dezenas.

Havia comunicações directas com Aldeia Formosa, através de AVP 1, ou AN-PRC 10, o que me levou a ir ao abrigo das Transmissões para saber se o ataque era para aquela sede de batalhão. Acontece que de lá estavam a inquirir se era o Saltinho a ser flagelado.

Passados poucos dias veio info a dizer que tinha sido utilizada, pela primeira vez, a arma Katyusha, também conhecida por "orgãos de Estaline" utilizada na II Grande Guerra.

Verificou-se uma completa ineficácia da arma.Na Guiné não havia concentração de tanques, nem grandes aglomerados populacionais junto das fronteiras.

P. Santiago

12 de outubro de 2023 às 02:00


[ Foto acima, â esquerda : Legenda: Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Sinchã Sambel > Fevereiro de 2005 > A viagem de todas as emoções, o regresso de Paulo Santiago à Guiné, em Fevereiro de 2005. o Paulo Santiago  foi amdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, e instrutor de mílícias em Bambadinca; é engenheiro técnico agrícola reformado; natural de Águeda, é um histórico da Tabanca Grande]

(Seleção / revisão e fixação de tecto /negritos: LG)
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2. Comentário do editor LG:

Paulo, sabemos que os primeiros foguetes ou foguetões 122 mm foram lançados em outubro de 1969 c0ntra Bedanda e depois Bolama...

Sem querer entrar em polémica (o nosso blogue náo serve para isso, mas para partilhar informação, conhecimentos, experièncias, emoções dos antigoscombatentes do TO da Guiné...) temos de confirmar a posse, ou não, por parte do PAIGC, de sistemas de lançamento múltiplo destes foguetes autopropulsionados ("Katyusha", na gíria soviética, para o foguete; BM-13 ou 21 para o sistema de lançamento, assente sob o capô de uma viatura pesada).

Que o PAIGC já tinha, antes de 1971, o sistema Grad (ou "jacto do povo"), isso está documemtado. Os foguetes que no carnaval de 1971 tu viste sob os séus do rio Corubal em grupos de 4 (e contaste mais de 30), só podiam ser lançados de uma rampa sobre o capô de viatura tipo BM-13 (m/1941, estreada na II Guerra Mundial) ou modelo posterior.

Pergunto: será que esta flagelação, contra Aldeia Formosa, foi feita nas proximidades da fronteira, a partir do território da Guiné-Conacri ? (Aldeia Formosa e Saltinho distavam 3 km entre si, e outros tantos em relacão à fronteira, em linha reta).
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Notas do editor:


(**) Em princípio, 22 de fevereiro de 1971... Há outra versão deste "história":


(…) Em 21 de Janeiro de 1971 , aí pelas 21.00 horas, entra um militar da CCAÇ 2701 pelo bar de Sargentos e Oficiais e informa, meio esbaforidamente, que um dos sentinelas está a avistar uma pequena luz numa curva do Corubal, situada aí a uns 500 metros na margem oposta à do quartel.

 (…) Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa)  e a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez foguetes Katyusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline (…)

sábado, 17 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24405: Prova de vida (8): Martins Julião (ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72), um dos históricos da Tabanca Grande e do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14/10/2006

Distintivo da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72), cujo pessoal se reúne hoje, em convívio,  em Cantanhede. 


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sctor L1 > Xitole > 1970 > O alf mil José Luís Vacas de Carvalho, de lencinho ao pescoço no Xitole, sentado em cima de uma das suas Daimler (Pel Rec Dsimer 2206, Bambadinca, 1969/71)... À sua direita, o fur mil op esp, Humberto Reis, o nosso fotógrafo... À direita, o fur mil at inf, Arlindo Roda, outro grande fotógrafo, ambos da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... Atrás do Roda, o fur mil enf enf José Alberto Coelho, da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... 

Não temos a certeza sobre a data desta coluna logística ao Xitole e talvez ao Saltinho: deve-se ter realizado, ainda na época seca, mas já np 2º trimestre de 1970, na altura da chegada do BART 2917.

A CCAÇ 2701 já estava no Saltinho. Recorde-.se que em 10 de maio de 70, após sobreposição com o BCaç 2851, o BCAÇ 2912 assumiu a responsabilidade do Sector L5, com sede em Galomaro, e abrangendo os subsectores de Dulombi (CCAÇ 2700), Saltinho (CCAÇ 2701), Cancolim (CCAÇ 2699)  e Galomaro. O cmd da CCAÇ 2701 era o cap inf Carlos Trindade Clemente, e o Martins Juliáo era um dos alferes da companhia.

Foto: © Humberto Reis (2006). 
odos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Martins Julião (ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande desde 23 de julho de 2006 (*), e um dos "históricos" do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo (**), mas de quem, espantosamente, ainda continuamos a não ter nenhuma foto, à civil ou à militar...

Data - terça, 13/06/2023, 18:03

Luis, sou o Martins Julião; ainda estou vivo.  (***)

Grande abraço e havemos de nos voltar a encontrar.

Parabéns Para ti e ao Blogue cuja leitura nunca falho.




Montemor-o-Novo > Ameira > 14 de Outubro de 2006 >  I Encontro Nacional da Tabanca Grande > O grupo de "tertulianos" (foi assim que nos começámos a tratar, os membros da "tertúlia da Guiné"...),  fotografados, por volta da 13h, antes do almoço no Restaurante Café do Monte, na Herdade da Ameira. Ainda não tinham chegado todos/todas... Não consigo identificar aqui o Martins Julião e a esposa.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2006) . Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Lista (nunca validada pelo grande organizador deste encontro histórico, o Carlos Marques Santos, já falecido) dos presentes na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14/10/2016 (*). Nem todos/as couberam nas fotografias (e começamos por pedir desculpa se falhamos o nome de alguém)... Para já a lista era de 53 participantes, 6 dos quais (11,3%) infelizmente já faleceram:
  • António Baia (Amadora) (pertencia ao BINT);
  • António Pimentel (Porto / Figueira da Foz):
  • António Santos e esposa (Caneças / Loures);
  • Aires Ferreira (região centro);
  • Carlos Alberto Oliveira Santos (Coimbra) (fur mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72) (falecido em 2022, nunca chegou a integrar formalmente a Tabanca Grande, o que achamos injusto: participou em pelo, menos 3 enconstros nacionais)
  • Carlos Fortunato e esposa (Lisboa);
  • Carlos Marques dos Santos (1943-2019) e esposa (Coimbra);
  • Carlos Vinhal e esposa Dina, (Matosinhos);
  • David Guimarães e esposa, Lígia (Espinho);
  • Fernando Calado (Lisboa);
  • Fernando Chapouto e esposa (Bobadela / Loures);
  • Fernando Franco (1951-2020) e esposa (Venda Nova / Amadora);
  • Hernâni Figueiredo (Ovar);
  • Humberto Reis e esposa, Teresa Reis (1947-2011) (Alfragide / Amadora);
  • Jorge Cabral (1944-2021)  (Lisboa);
  • José Bastos (região norte);
  • José Casimiro Carvalho (Maia);
  • José Luís Vacas de Carvalho (Lisboa  e Montemor-o-Novo);
  • José Martins e esposa (Odivelas);
  • Luís Graça e esposa, Alice Carneiro (Alfragide/Amadora);
  • Manuel Lema Santos e esposa (Massamá / Sintra);
  • Manuel Oliveira Pereira e esposa (Lisboa, vive hoje em Ponte de Lima);
  • Martins Julião e esposa (Oliveira de Azeméis?);
  • Neves, empresário em Bissau (de que só sabemos o apelido...)
  • Paulo Raposo (Ameira / Montemor-o-Novo);
  • Paulo Santiago (Águeda);
  • Pedro Lauret (Lisboa);
  • Raul Albino (1945-2020) (Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal);
  • Rui Felício (Lisboa);
  • Sampedro (ex-capitão, do BCAÇ 3884 , Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)
  • Sérgio Pereira e esposa (Lisboa);
  • Tino (ou Constantino) Neves e esposa (Laranjeiro, Almada);
  • Vitor Junqueira e filha (Pombal);
  • Victor David e esposa (Coimbra);
  • Virgínio Briote e esposa (Lisboa).
____________

Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 23 de julho de  2006 > Guiné 63/74 - P981: Tabanca Grande: Martins Julião, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72

(...) "Só há pouco tempo conheci este espaço de encontro. O Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho), foi o camarada responsável pela minha apresentação aos camaradas de tertúlia.Chamo-me Martins Julião, fui Alferes Miliciano de Infantaria da CCAÇ 2701 (Saltinho, Abril de 1970/Abril de 72).Hoje sou um pequeno empresário e gerente de uma unidade industrial, após mais de 20 anos como professor do Ensino Secundário" (...).


segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24391: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (36): No Corubal não há ostras (... e muito menos sardinhas de Santo António), mas há coisas que também não há no céu: garoupa do rio (perca do Nilo), lagostins, mexilhão de água doce, crocodilos e hipopótamos, etc.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o eng. agr. Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa, o Cacine  e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...


Um dia destes,  os novos senhores de África decidem construir aqui uma monstruosa barragem, hidroelétrica, à revelia dos verdadeiros interesses do povo guineense... É sonho antigo que vem da independência... E com isso destruir o recurso mais precioso que tem a Guiné-Bissau, para além do seu povo, que é a sua biodiversidade... Não sei se este projeto tem viabilidade (do ponto de vista técnico, financeiro, económico, ambiental e político)... Mas já vimos tanto coisa, em todo o lado (a começar pelo nosso país)...

Ah!, mas Bissau, continua nas "trevas", sem eletricidade, a não ser a de geradores... Hoje põe-se cada vez mas em causa o recuros às barragens hidroelétricas que tem um período de vida útil de 100 anos e um impacto ambiental produtal...

Enfim, o que eu quero sublinhar é que  sem biodiversidade não há futuro, não há desenvolvimento sustentado e partilhado, não há esperança... Oxalá que este  projeto nunca se chegue a concretizar, no Corubal... 

Para bem da Guiné-Bissau e de todos nós, incluindo o povo chinês cujo dinheiro está a ser fortemente investido em África, e não só... Porque a terra não nos pertence, é a nossa casa comum, e temos a obrigação de a deixar, melhor, mais habitável e sustentável, aos que hão-de vir depois de nós, os nossos filhos, netos e bisnetos, europeus, africanos, asiáticos, americanos, australianos...

Também me parece que há hoje  um sério risco de "pesca selvagem" no Rio Corubal, a avaliar pelas fotos de alguns "sites" de caça e pesca, internacionais, que promovem, descaradamente, quase pornograficamente, o saque dos recursos piscícolas do Rio Corubal...

O mar da minha terra também era rico de vida marinha, lançavam-se cem covos, apanhavam-se cem lagostas. E pescador que não apanhasse à linha uma garoupa do seu tamanho era uma merda de pescador... Estou a falar de há 60/70 anos atrás... Hoje até a sardinha foge de nós... En Peniche o número de traineiras deve ter sido reduzido na ordem das 80 para 10... O atum desapareceu do mediterrâneo. E, claro, do Algarve. E as ostras estão a regrssar, lentamente, depois da poluição dos estuários dos nossos rios, o Tejo, o Sado,a ria de Aveiro...

No passado, nunca aprendemos com os erros uns dos outros... Tem sido a ganância de uns poucos que nos empobrece e mata  a todos... Aqui, e em toda a parte... Infelizmente a Guiné-Bissau é um dos países mais ameaçados do mundo, em consequência das alterações climáticas... Não sei se os nossos bisnetos poderão chegar a  conhecer o Rio Corubal, os rápidos do Saltinho e de Cusselinta (e não "Cussilinta", como já tenho visto grafado...) ou o arquipélago dos Bijagós...  

Todavia, a consciência ecológica está a chegar também à Guiné-Bissau: o povo bijagó, por exemplo, está-se a mobilizar para defender e proteger os seus recursos marinhos e florestais, sem os quais corre o risco de perder o seu modo de vida e a sua forte identidade cultural... E são as mulheres que lideram essa luta... Vejam aqui o sítio da ONGD, de base comunitária, Tiniguena. (LG)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue: autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau".

1. Pois é, no Corubal não há ostras, dizem camaradas que conhecem bem o sítio, o Saltinho, Cusselinta,  o Corubal, a Guiné-Bissau, do Paulo Santiago ao Zé Teixeira (*)... E agora o Patricio Ribeiro vem dar a confirmação definitiva. Vamos publicar na sua série "Bom dia, desde Bissau" (**).

Mail de hoje, 12 de maio de 2023, às 11:07.

Bom dia, amigos.

Não há ostras no Corubal.

Faço caça submarina no Corubal, desde há mais de 30 anos.

Hoje há ostras que são levadas para todos os locais da Guiné, são arrancadas do tarrafe ou das rochas, mas sempre na água salgada.

Pode-se comer as que são apanhadas no rio de Susana e levadas para o Saltinho. Este ano, comi algumas vezes em Varela, as que são apanhadas em Catão ou Iale.

No rio, há diversos peixes, o mais interessante é a garoupa do rio (perca do Nilo) que chegam algumas aos 10 kg.

Há lagostins, mexilhão de água doce, crocodilos e hipopótamos, etc.

Infelizmente a praia de Cusselinta, um dos paraísos da Guiné, está cheia de redes de pesca. São instaladas todo o ano, sem as levantar, apanham tudo, inclusivamente a mim ... não era habitual, dizem que são de estrangeiros.

Passei muitos fins de semana em Coli (no projeto de investigação de árvores de fruto), a 12 km de Aldeia Formosa, também a trabalhar.

Dali muitas vezes saíamos para uma ilha no meio do rio, que está registada em nome da nossa amiga Isabel Levy, local em que o nosso amigo Pepito tinha o prazer de levar os amigos, subíamos o rio 30 minutos de barco e ali acampávamos numa praia de areia, no meio da floresta, com todo o tipo de animais.

Só que os tempos mudam, agora há na zona, além de pedreiras de pedras duralite, a desmatação de milhares de hectares para a plantação de frutos tropicais !!!

Para os amigos, informo que cheguei agora para comer as sardinhas de Sto. António e só depois vou para o leitão. (**)

Abraço

Patricio Ribeiro | impar_bissau@hotmail.com
___________

Notas do editor:


Vd. também 3 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14829: Memória dos lugares (301): Rio Corubal: Já o atravessei a nado, duas vezes, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória... (Patrício Ribeiro, Bissau)

terça-feira, 16 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24319: Homenagem a dois 'guineenses' de adoção e paixão, o algarvio António Camilo e o nortenho Xico Allen (1950-2022): "Diário da Viagem até à Guiné-Bissau por terra e por ela", em 20 dias (Herculano Prado). II (e última) Parte: de 26 de setembro a 6 de outubro de 2017; 11 dias : Bambadinca, Xime, Ponta do Inglès, Ponta Varela, Bafatá, Saltinho, Cussilinta, Quebo, Mampatá, Bafatá, Gabu, Bijagós, Bissau... Lisboa

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74

Foto (e legenda): © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservado. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > O Rio Geba... o estreito (do Xime para montante) e o largo (do Xime para jusante)... c. 1970, no tempo seco... O rio era navegável de Bissau até Bafatá!... Mas normalmente, as embarcações (civis) iam até Bambadinca... As LDG ficavam pelo Xime, mas chegavam a Bambadinca, pelo menos até a 1968... Dois pontos vulneráveis do percurso eram a Ponta Varela (na margem esquerda do Rio, entre a Foz do Corubal/Ponta do Inglês e o Xime), e o Mato Cão (entre o Xime e Bambadinca, no troço serpenteante do Geba Estreito). Foto do álbum do Humberto Reis, ex-fur mil op esp (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > Abril de 2006 > Um olhar de esperança no futuro ?... É, pelo menos, o que gostaríamos de adivinhar neste olhar inocente de uma criança às costas de sua mãe...

Foto: © Hugo Costa (2006). Todos os sireitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Da margem esquerda (Xime) à margem direita (Enxalé): a canoa ainda continua a ser um meio fundamental de "cambança"

Fotograma do vídeo A Outra Guiné /The Other Guinea, de Hugo Costa, legendado em inglês. Vídeo (9' 27''). Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012; realização: Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27''. (Deixou de estar disponível "on line", inclusive na página do Facebook do Hugo Costa, possivelmente pela reprodução de músicas sujeitas a direitos de autor.)

Cortesia de Albano Costa e Hugo Costa (2013). Edição e legendagem da imagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

 
Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 16 de dezembro de 2009 > A rua comercial da nova Gabu, onde então já havia banco (agência do BAO - Banco da África Ocidental) e multibanco... Em 2009, a velha "rainha do Gabu" havia já destronado a "princesa do Geba", do nosso tempo, Bafatá, a cidade "colonial" mais encantadora da Guiné... Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares: aqui falava-se mais francês do que português, e corriam muitos CFA, escreveu o João Graça, médico e músico, que viajou por estas paragens...  

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 >  Hospital
 
Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte da publicação do diário da viagem à Guiné-Bissau, feita "por terra e por ela" (sic), em 20 dias, de 18 de setembro a 6 de outubro de 2017, por 4 portugueses, em dois jipes, o António Camilo, o Xico Allen, o Herculano Prado e a esposa, Luzinha, prima do António Camilo (que foi fur mil da CCAÇ 1565, Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau, 1966/68).

O diário, da autoria de Herculano Prado, chegou-me, reencaminhado em 2018, quatro 
 anos antes de morrer, pelo Xico Allen (1952-2022).  

O Herculano Prado, hoje advogado, foi fur mil, CCAÇ 3550 / BCAÇ 3885 (Zambué, Tete, Moçambique, 1972/74). Não é membro da nossa Tabanca Grande, mas já foi convidado para a integrar, não só por esta viagem e a publicação deste texto (em duas partes), como pela ligação (profissional e afetiva) à Guiné (desde pelo menos 2010), e a amizade que criou e manteve com dois dos nossos tabanqueiros, o António Camilo e o Xico Allen (1952-2023).

Depois da morte do Xico, julgámos que seria oportuna a publicação deste "diário" no nosso blogue, partindo do pressuposto que era vontade dele que o texto fosse publicado no nosso blogue, com a anuência (pelo menos tácita) do Herculano Prado. 

Por outro lado, já aqui o dissemos, esta é a viagem que alguns de nós já fizeram, e que a maioria gostaria de ter feito em vida, e que por uma razão ou outra (a começar pelos problemas de saúde e segurança) nunca fez nem já chegará a fazer.

O texto, infelizmente, não veio acompanhado das fotos da expedição. Por esta ou aquela razão, as fotos nunca chegaram. Tivemos de recorrer por isso ao arquivo do nosso blogue. Mais uma vez deixamos aqui a manifestação da nossa gratidão ao Herculano Prado. E damos-lhe os parabéns pela excelència do texto, que ganha em vivacidade, fluência e objetividade (e que por isso seria uma pena ficar na "gaveta"...). 

Enviamos, entretanto, um alfabravo fratermo ao Camilo (de quem não temos tido notícias) desejando-lhe saúde e longa vida para poder continuar a fazer as suas expedições à Guiné-Bissau onde tem casa (em 2017, ao que parece, era a sua 22ª viagem). 

Em comentário do poste P24311 (*), o Carlos Silva, outro conheced0r da Guiné-Bissau,  comentou: "O Camilo, foi à Guiné depois da comissão, antes de 1998. Creio que em 1992 (?). E vários camaradas já lá tinham ido antes do Xico Allen e do Camilo. O Herculano, meu colega, está equivocado neste aspecto".

Por fim, fica aqui uma saudação especial à Inês Allen, que também já fez esta viagem por terra (um pouco mais longa, porque partiu do Porto). A nossa recém-tabanqueira (nº 875) é uma dugna sucedora do espírito aventureiro e solidário do seu pai.

DIÁRIO DA VIAGEM À GUINÉ BISSAU 

POR TERRA E POR ELA

  © Herculano Prado (2017)

8º dia, segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Após uma viagem tão desgastante e sempre a levantarmo-nos cedo, aproveitamos para dormir até mais tarde.

A primeira coisa que fiz foi tomar um antibiótico, porque se acentuou a dor que tinha no ouvido esquerdo, deduzindo que a tontura que tive em Saint Louis era devida a esta infeção.

Depois procurei o telemóvel, que já não via desde que tínhamos partido de Marraquexe, para lhe colocar um cartão local. Tinha-o desligado porque, em fevereiro, quando fizemos um cruzeiro nas Caraíbas, apesar de não ter feito chamadas, quando regressámos a Portugal tinha uma despesa de sessenta euros, gerada pela própria rede. Não o encontrei, nem até agora, concluindo que deve ter ficado em Marraquexe. Não fiquei muito preocupado, porque quando o desliguei retirei-lhe o cartão, para que não fosse ludibriado pelo sistema, colocando-o na pequena carteira que uso, há muitos anos, no bolso das calças. A preocupação, contudo, reapareceu quando constatei que o cartão não estava na carteira, tendo-o perdido ou ficado no bolso dos calções que utilizei durante a viagem. Quando procurei os calções informaram-me que tinham sido levados juntamente com a outra roupa para lavar… O meu azar acabou por se transformar em sorte, porque ainda fui a tempo de recuperar os calções e encontrar o cartão que estava dentro de um dos bolsos.

Depois do almoço, o Camilo levou-nos a visitar a região, tendo passado por muitos locais que marcaram muita da juventude portuguesa dos anos sessenta a 1974. Estivemos na Foz do Corubal com o rio Geba, em Xime, Ponta do Inglês e Ponta Varela. Passamos na Ponte do Rio Udunduma, vendo-se ao lado a do tempo colonial, já em ruinas, por onde passaram milhares de soldados e onde as nossas tropas sofreram muitas baixas. 

Eu, que também fiz a guerra, ainda que em outras paragens, em Moçambique, comovi-me ao visitar sítios que me foram referidos pelo Camilo e pelo Francisco, que cá estiveram na Guerra, pois imaginava o que sentiram e viveram os camaradas de armas que por cá passaram.

A minha mobilização foi para Moçambique, onde estive de Maio de 1972 a Agosto de 1974, integrado na Companhia 3550, pertencente ao Batalhão 3885, sediado no Fingoé. 

A companhia 3550 tinha a sede no Zambué e um destacamento no Zumbo, que distava cem quilómetros da sede. No mapa de Moçambique é fácil localizar o Zumbo, por ser a primeira terra moçambicana a ser banhada pelo rio Zambeze, junto à antiga Vila da Feira, atual Luangwa (15º 37`S, 30º 23` E), na Zâmbia, na foz da margem direita do Rio Aruangua, que divide os dois países.


9º dia, terça-feira, 26 de setembro de 2017

Este dia foi destinado a continuar a visitar os locais mais emblemáticos desta zona, começando por Saltinho e conhecer a casa que o Camilo tem no Clube de Caça, que fica junto à ponte Craveiro Lopes, sobre o rio Corubal, que foi visitada durante a construção pelo General Francisco Higino Craveiro Lopes, Presidente da República, em 1955.

Do Clube de Caça, localizado no antigo quartel da tropa, tem-se uma boa vista sobre a ponte e sobre o rio, que vai com um grande caudal. Do Outro lado do rio tem uma povoação grande ,onde visitei o régulo Suleiman, que foi soldado do meu primo Fernando, alferes Mota, quando cá cumpriu serviço militar. 

No bar do Clube, antigo bar dos oficiais ainda lá encontrámos um quadro de fotos da época feito pelo nosso companheiro de viagem, o Xico Allen, quando por cá passou em 1998. Depois passámos por Aldeia Formosa, atual Quebo, descendo a Buba, aonde almoçamos “ração de combate”, no Hotel da Dona Gabi, que se encontrava ausente para Bissau, utilizando uma das mesas que nos foi cedida, tendo sido recebidos pelo marido. 

De seguida regressámos a casa do Camilo, em Bambadinca, continuando a passar, agora sem riscos, por locais de tão triste memória, para aqueles que aqui fizeram a guerra.


10º dia, quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Mais uma vez nos levantámos cedo para, desta vez, irmos visitar Bissau e para o Camilo e o Francisco tratarem de vários assuntos. O Francisco trouxe duas ofertas de 50,00 e umas canadianas para serem entregues a dois antigos faxineiros, enviadas por dois antigos combatentes. Um deles, numa viagem que fez à Guiné, encontrou um desses faxineiros - em Moçambique chamávamos-lhes “mainatos” -, deficiente motor, que se locomovia encostado a um pau, do qual se condoeu, tendo prometido que lhe enviaria umas canadianas, promessa que foi cumprida, através do Xico Allen.

Durante a estadia, porque o Camilo conhecia o Tenente Coronel Sado e o Engº Agrónomo Constantino, que me tinham sido referidos pelo meu primo Fernando, o ex-Alferes Mota, para lhes apresentar cumprimentos e para lhes pedir ajuda, no caso de necessidade, encontrámo-nos com eles na Pastelaria Império. Foi um encontro agradável, que serviu para troca de cumprimentos e para o Engº Constantino, falar da sua boa experiencia vivida na minha cidade, Vila Real, quando lá frequentou o curso de agronomia. Fiz entrega a cada um de uma garrafa de vinho Cancellus Premium, que trouxe de Bambadinca a contar com um possível encontro, na convicção de que esta oferta seria do agrado do meu primo.

Porque, desde que saímos de Saint Louis, não tive oportunidade de aceder à internet, procurei encontrar um estabelecimento onde fosse possível, o que não consegui na Império, nem na Pensão Coimbra, onde pretendíamos almoçar, tendo, por isso, ido almoçar ao Hotel Ancar (antiga Solmar) aonde, para além de simpático almoço de buffet, consegui aceder ao Citius para consultar os processos que ainda tenho. Tinha uma notificação de um saneador.

Depois do almoço eu e o Francisco mantivemo-nos no bar do hotel, aproveitando a capacidade do Hi-Fi, cuja qualidade era inferior à que tínhamos encontrado no Diamarek de Saint Louis.

O Camilo e a Luzinha chegaram quando estava a começar uma grande ventania, que levantava poeira, mais parecendo que estávamos no deserto. Já tinham tratado da estadia nos Bijagós e comprado a viagem de barco para quatro pessoas. Também já tinham ido buscar o peixe que tínhamos comprado no porto e que tinha ficado para arranjar e para colocar na arca que levámos para esse efeito.

Porque eu pretendia ver o Basileia – Benfica para taça dos campeões, que começava às 18,45 horas locais, e entre Bissau e Bambadinca são 105 quilómetros, tivemos que regressar.

Quando chegámos a Bambadinca procurámos um sitio onde fosse possível ver o jogo, até que encontrámos um barracão onde supostamente daria o jogo, conjuntamente com outros, tendo pago a quantia de 150 francos CFA (um euro vale 650 CFA ), mas não conseguimos passar da entrada tal era a quantidade de pessoas que ali estavam para ver. Dos cinco écrãs que estavam ligados, um era o Sporting – Barcelona e num quinto procuravam um jogo que, provavelmente, seria o do Benfica. Em face destas condições e porque o Camilo só nos iria buscar depois do jogo terminar, eu e o Xico Allen fomos a pé para a casa do Camilo, que distava dois quilómetros.

Antes do jogo terminar, o Camilo disse-me que faltavam dez minutos para terminar o jogo e que o Benfica estava a perder 2 -0. No dia seguinte, quando nos levantámos disse-me que o Benfica perdeu 5-0. Custou-me a creditar…


11º dia, quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Saímos por volta das horas 10 horas para visitarmos Bafatá, cidade natal de Amílcar Cabral. Na parte colonial, alguns dos edifícios da época estão a ser utilizados por serviços públicos e outros estão em degradação. O que resta da cidade dá par ver que era uma muito bonita e que foi importante na histõria da Guiné. O Camilo vai-nos fazendo a historia de cada uma das grandes casas, pois ele conheceu a cidade no seu apogeu.

No regresso passámos por Gabu para a Luzinha comprar panos africanos. O mercando nativo é vasto e tem de tudo o que é expetável existir num sitio com muitas limitações.

Infelizmente, comprou muitos tecidos e alguns vestidos nativos…

É uma pena ver que tantos anos após a independência, nada tenha evoluído. A Guiné continua a ser um pais adiado, não se vislumbrando grandes saídas. Mesmos a fonte da sua economia - o caju - pode vir a ser abalada quando as enormes plantações que têm sido feitas no Vietname começarem a inundar o mercado

Não tendo pela Guiné a afetividade que tem aqueles que cá passaram parte da sua vida, tenho pena que a independência, que era inevitável em face das pressões internacionais e do desgaste que a guerra estava a fazer na sociedade portuguesa da época, não tenha trazido vantagens para as populações.

Começo a ter saudades dos meus cinco amigos de quatro patas: a Sacha, uma labradora de 10 anos; o Handy, um Waimaraner de sete anos; a Estrela, uma Serra da Estrela de seis anos; o Aires, um Serra D`Aires de cinco anos e, por fim, o Lobo, um pastor Alemão de nove meses.

Pela primeira vez tive tempo para ler, começando um romance histórico, Vela Sagrada, escrito por um escritor árabe Abdelaziz Al-Mahmoud, situando-se na época em que os portugueses chegaram à India e destabilizaram, não só o comércio de especiarias, que mudaram de rotas, mas também o poder político e militar da região, dominado pelos árabes.

Durante a tarde levantou-se uma ventania a que não estamos habituados, seguida de chuva intensa, que quem viveu na Guiné tao bem conhece.

Antes de nos deitarmos, fizemos a mala para partir no dia seguinte para a ilha de Bubaque, onde ficaremos quatro noites.


12º dia, sexta-feira, 29 de setembro de 2017


Saímos por volta das sete horas para fazermos os 105 quilómetros que nos separam de Bissau onde tínhamos a viagem marcada para Bubaque, às 15 horas.

Antes de partirmos, depois de chegarmos a Bissau o Camilo tratou do que era preciso para fazer uma pintura num dos jeeps. Fomos almoçar à pastelaria e, enquanto fazíamos tempo para a partida para Bubaque, fui tomar café ao Ancar para tentar aceder à Internet, não o tendo conseguido.

Porque pretendíamos marcar o nosso regresso a Lisboa, fomos à TAP, saber dos preços, que ficavam por quantia superior a € 400,00 por pessoa. Como eram muito caros, achamos por bem consultar as duas companhias que cá operam. Uma marroquina, que faz preços mais em conta, mas como teríamos que perder algumas horas em Casablanca acabámos por comprar na Euro Atlantic Airways, por cerca de € 300,00, por bilhete, para o dia 20 o Camilo comprou por cerca de € 150,00.

Depois, porque a Luzinha pretendia comprar uns panos pintados, que fazem quadros de parede, andámos à procura nas ruas perpendiculares à Av. Heróis da Pátria, que começa na Praça do Império e desce atá ao porto. O comercio foi deslocalizado para um parque distante do centro o que veio dar àquelas ruas um abandono ainda maior. Algumas estavam piores do que em 2010, apesar de algumas já estarem alcatroadas.

O palácio do quartel general, situado na Praça do Império, que, quando lá estive, em 2010, estava esburacado de balas, desde a altura em que assassinaram o General Nino Vieira, já está reparado, dando um ar mais digno àquela Praça.

Os bilhetes, que pagámos como residentes, ficaram em 40 000 CFAS, o que equivale a € 62,00.

O barco partiu às 15 horas e chegou às 19 horas, sem sobressaltos, porque o mar estava calmo.

O Xico Allen ficou em Bissau, para tratar de assuntos pessoais.

Depois de atracarmos transportámos a nossa bagagem para a Casa da Dona Dora. O que encontramos era um pouco diferente do que imaginava pelos relatos da Luzinha, feitos através de informações que recolheu do Facebook.

A luzinha, o Camilo e uma helvética que veio connosco no barco e que, também, ficou na Casa da Dona Dora,  foram beber um gim à Kasa Africana, enquanto eu fiquei a tentar pôr o diário em dia.

Deitamo-nos cedo e, contra o que era habitual, dormi razoavelmente.


13º dia, sábado, 30 de setembro de 2017

Por volta das oito horas fomos avisados pelo Camilo para nos despacharmos porque tinha encontrado um amigo, chamado Quintim, que é o diretor do Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão, que ia em trabalho para uma outra ilha, e que estava à nossa espera para nos levar. Tomámos o pequeno almoço à pressa, nem me deixaram acabar o galão, pois uma oportunidade destas não era para desperdiçar.

No barco fomos várias pessoas, tendo duas ou três ficado numa primeira paragem do barco e nós ficámos numa praia, na Ilha de Canhabaque ou Ilha da Rocha, enquanto os técnicos iam fazer o seu serviço, recuperando-nos no regresso, por volta da hora de almoço.

Quando descemos do barco ficámos encantados com a temperatura da água, ao nível da melhor que já encontrámos, comparando-a com a das Filipinas, Indonésia, Cabo Verde, Caraíbas, Cuba, S. Tomé, por serem as mais quentes aonde já estivemos. Se em Saona, nas Caraíbas, existe a que é considerada a maior piscina natural do mundo, esta praia e a piscina que a rodeia, na ilha de Canhabaque, não lhe fica atrás e a água é incomparavelmente mais quente. Estivemos horas dentro de água e poderíamos continuar indefinidamente pois não chegaríamos a ter nenhuma sensação de desconforto. Uma maravilha! Avançámos pelo mar dentro, sempre com água pela cintura.

O barco recolheu-nos por volta da 13 horas, e quando estávamos na viagem de regresso, receberam um telefonema de um dos técnicos, que iriamos recolher, informando que estava atrasado, tendo-nos sido posta a hipótese de nos virem trazer a Bubaque e depois regressarem , com o que nós não concordámos pelos incómodos que lhes causaríamos e porque, para nós, a espera era a possibilidade de ficarmos mais algum tempo naquelas águas maravilhosas.

Enquanto esperávamos pelo recomeço da viagem, voltámos para a água, que continuava a ter altura da minha cintura, com a variante de os nossos pés pisarem lodo em vez de areia. Aquilo que, inicialmente, parecia um transtorno, porque nos enterrávamos, passou a ser um privilégio quando nos apercebemos de que estávamos a pisar, aquilo a que Luzinha chamou “ uma mina” de ameijoas, combé. Começámos a apanhá-las por distração e, passado pouco tempo, com a colaboração do condutor do barco, apanhámos uma grande quantidade, que acabámos por colocar num saco de supermercado, dos resistentes. 

Num calculo, por baixo, deveríamos ter apanhado mais de dez quilos, que transportámos para a Casa da dona Dora, para comermos no dia seguinte, porque, para o jantar desse dia, já tínhamos encomendado três robalos grandes, grelados, a uma nativa que tinha um grelhador à porta.

Nos primeiros dias de Guiné não teria comido em tal local – uma mesa colocada na rua de terra batida - mas agora, depois de me aperceber de que as pessoas são limpas, apesar da falta de qualidade das habitações, deixei-me dessas esquisitices ou então continuaria a comer “ ração de combate”, na gíria de combatente.

O peixe que foi servido com batatas fritas, salada e pão acompanhado de cerveja, estava bom e foi em quantidade suficiente que deu para quatro pessoas e para uma dúzia de amigos de quatro patas, que interesseiramente nos fizeram companhia. As festinhas que lhes fiz deu para mitigar as saudades, que cada vez são maiores, dos cinco amigos, que ansiosamente nos esperam em Vale da Laranja / Rio Maior.

Quando regressámos à “nossa casa”, a Glória, uma filha da Dona Dora, que está atualmente à frente do negócio, porque a mãe e irmã estão há um ano em Lisboa, conseguiu disponibilizar-me o sinal Hi-Fi, permitindo-me, assim, aceder ao Citius. Tinha duas notificações, das quais só tive acesso a uma. Espera-me trabalho, quando na próxima sexta-feira chegar a Lisboa. É por estas limitações e preocupações que deixei de aceitar a quase totalidade dos clientes que me procuram.

Não consegui receber nenhum dos setenta e-mails, que ficaram retidos.

Combinámos uma viagem ao outro extremo da ilha, para as 9,30 horas, com o dono de um transporte, que veio ter connosco ao hotel.


15º dia, domingo, 1 de outubro de 2017

Tomámos o pequeno almoço e ficámos a aguardar que nos viessem buscar, o que aconteceu por volta das 9,30, para nos transportarem a Bruce. Fomos recolhidos por um triciclo de caixa aberta com dois bancos de cada lado, que nos transportou a Bruce, no outro lado da Ilha de Bubaque e que dista 24 quilómetros do nosso “ aquartelamento” – a casa Dora. 

Foram quarenta e oito quilómetros por estrada, ida e vinda, na gíria chamamos-lhe picada, que deu para apreciar a paisagem verdejante, com algumas plantações de arroz, de milho e de outros produtos, Após muitos solavancos chegámos e encontrámos uma praia maravilhosa, a perder de vista, de águas tépidas e calmas. Passámos horas na água, tal como temos feito sempre que há oportunidade. Deu para explorar as redondezas, encontrando um pequeno curso de água, que faz uma piscina natural, antes de correr, devagarinho, para a praia, que deve secar no tempo seco. Continuámos a encontrar rochas vulcânicas, o que não me deixa qualquer dúvida quanto à origem destas ilhas, apesar de haver quem conteste esta evidência.

Aqui, em Bruce, um jovem local construiu um edifício de oito apartamentos, suites, espaçosos e modernos, dignos de qualquer bom lugar, que têm apoio de restaurante e bar. Com aquele mar em frente é um local a ter em conta para quem queira passar umas férias calmas e com conforto. O único contra são as viagens: quatro horas de barco, com saída de Bissau e os 24 quilómetros de “picada”. Também estão a ser construídos outros apartamentos, ainda que mais modestos, mesmo ao lado, que poderão, a preços mais módicos, prestar os serviços essenciais.

Quando chegámos, cruzamo-nos com duas portuguesas que cá estão a prestar cooperação, no seu período de férias e que tinham ficado num dos apartamento. Falámos-lhes da nossa viagem, o que as deixou desejosas de um dia também a poderem fazer.

Parte do regresso foi feito por outro caminho, incluindo a pista aérea, que também serve de campo de pastagem às muitas cabras que as populações próximas possuem.

À noite, comemos parte das ameijoas, que aqui se chama combé, arranjadas pela Glória, a dona do Aparthotel Canoa, mais conhecido por Casa da Dona Dora. Estavam ótimas.

Depois do jantar fui ver o jogo do Marítimo 1 – Benfica 1, que acabou por me dar mais uma desilusão. Quando não estamos habituados custa mais…


16º dia, segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Por volta das dez horas, aproveitando mais uma visita ao Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão, fomos com a equipa do Diretor, Quintim, visitar as quatro ilhas mais no interior do Atlântico: João Vieira, Cavalos, Méio e Poilão, em trabalho de dinamização e sensibilização.

Fizemos uma paragem em Cavalos, para deixar o Diretor, que iria lá ficar até sábado e continuámos até Méio, onde parámos e aproveitámos para nos banharmos nestas águas maravilhosas. 

Continuámos para a Ilhéu de Poilão, que é a ilha mais ocidental do Arquipélago de Bijagós, sendo talvez por isso que é um santuário para as tartarugas marinhas, que aí vêm desovar. Estivemos com os técnicos que lá prestam serviço na monotorização das tartarugas e a prestar-lhes apoio no seu regresso ao mar, quando ficam presas nas rochas ou quando estão cansadas, depois do esforço de porem uma média de cento e vinte ovos, em cada postura. 

O chefe da equipa, biólogo, que esteve recentemente em Bragança a frequentar um curso, desta área, fez-nos uma exposição sobre o Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas, no qual se insere o Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão.

Quando nos preparávamos para piquenicar, coincidindo com o almoço dos nossos anfitriões, fomos obsequiados com a oferta de um prato de arroz com peixe, que estava muito bom. 

De seguida visitámos os locais de desova das tartarugas, sendo bem visíveis os enormes buracos dos últimos nascimentos. Indicaram-nos os locais, que se encontram identificados por datas, para onde transferiram os ovos, que se encontravam em locais ao alcance das ondas.

No regresso passámos pela Ilha de João Vieira, onde se encontra a sede do Instituto. Estivemos duas horas a banhos. Antes de regressarmos, por volta das 17 horas, ainda vimos o Museu do Parque, uma pequena sala, que contém elementos da fauna existente no Parque. Foi um viagem de regresso que demorou cerca de duas horas.

Durante o regresso vimos grande quantidade de golfinhos, que vinham saltar ao lado do barco, quando batíamos na chapa. Foi um momento muito gratificante.

Depois de jantarmos as sobras do almoço, pagámos os bilhetes da viagem de regresso, que tiveram a amabilidade de nos levar ao Aparthotel. Antes nos irmos deitar, pagámos a estadia, porque, no dia seguinte, deixaríamos os quartos por volta das sete horas, para apanharmos o barco às oito horas. Como aquela hora ainda não haveria pequeno almoço, a Glória, não vou chamar-lhe dona, porque é uma jovem de trinta anos, arranjou-nos uns bolos feitos por ela.


17º dia, terça-feira, 3 de outubro de 2017

Levantámo-nos pouco antes das sete para irmos apanhar o barco que nos traria de regresso a Bissau, puxando, no meu caso, uma mala de porão que tinha as minhas coisas e as da Luzinha.

Um dos jovens, que nos acompanhou nas visitas ao Parque, veio-se despedir de nós, tal como prometera na véspera. A contar com essa despedia, deixei-lhe ficar dois polos e uns calções safari, dos que tenho utilizado e demos-lhe uma pequena gratificação, para lá da que já havíamos feito coletivamente.

Fomos transportados num dos barcos que faz a ligação Bubaque a Bissau, sem comodidades, dado só ter meia dúzia de cadeiras, sendo a maioria dos assentos bancos sem encosto. Para atenuar este incómodo passei para a parte superior do barco, aonde descobri uma cadeira sem pernas, que coloquei em cima de um pneu, que partilhei com o Camilo, diminuindo o incómodo que foi a viagem, de mais de quatro horas e meia, aproveitando para continuar a leitura do livro Vela Sagrada. Foi a uma das piores partes da viagem!

Quando chegámos ao cais, tínhamos o Xico Allen à nossa espera com o jeep, que o Camilo conduziu de imediato, confirmando o que já sabíamos: o Camilo só cede o volante quando já não consegue resistir ao cansaço. Mas desta vez a condução foi curta, porque o Camilo ficou no Banco para levantar dinheiro e o Xico transportou-nos até ao Restaurante Ancar, para esperarmos por ele, pois este era o local que nos permitiria aceder ao Hi-Fi. Deu para fazer algumas consultas, mas continuo sem receber e-mails.

Como não gostámos do bufete do restaurante, fomos almoçar à Pastelaria do Trovão, onde comi uma bifana com batatas fritas e ovo, antecedido de umas moelas, que a Luzinha e o Xico condimentaram com piripiri. Como tinham gostado muito da primeira vez que lá comemos, o Xico, enquanto estivemos nas ilhas, comprou gindungo (piripiri) em verde, que deixou na pastelaria para uma empregada da casa preparar. Depois dividirá com a Luzinha, na sexta-feira, quando partirmos para Lisboa. Passado muito tempo de espera o Camilo lá chegou do Banco. Vinha esfomeado. A fome ainda poderia ser maior se, durante a viagem, não lhe tivesse dado um ovo cozido, que trazia para quando eu tivesse fome.

Depois do almoço regressámos a Bambadinca, tendo-nos cruzado com o Sr. Jorge que ia para Gabu aonde está a construir um armazém e outras instalações. Na viagem, várias vezes ultrapassámos o Sr. Jorge e fomos ultrapassados por ele, devido às paragens que fomos obrigados a fazer, talvez por culpa do piripiri que a Luzinha comeu.

A Luzinha, para o jantar, fez uma ótima sopa de abóbora, batata doce, cebola e de outros vegetais, acompanhado com umas rodelas de chouriço, que trouxemos de Portugal.

Antes de dormir, estive a escrever o diário.


18º dia, quarta-feira, 4 de outubro de 2017


Depois de tantos dias a levantar cedo, levantámo-nos calmamente. A Luzinha preparou o almoço: arroz de tomate com peixe frito. A refeição foi acompanhado com o vinho RedVelvete, de 2015, produzido pela Adega Alonso, de Alijó, propriedade da família do meu amigo Tozé Alonso, que era uma “boa pomada”, seguido de café, de moscatel de Alijó da mesma Casa e de Wiskey Teachers, uma garrafa antiga que trouxe da minha garrafeira.

Depois de bem bebido e quando se preparava para uma sesta merecida, e eu me encontrava a ler a Vela Sagrada, no alpendre, duas nativas vieram pedir ajuda ao Camilo, para levar ao médico a menina que as acompanhava e que aparentava ter seis anos, que está com a barriga inchada. A barriga da menina tinha duas grandes cicatrizes devido à operação que lhe foi feita em 2014. Perante esta situação, acabou o descanso do Camilo e do Xico, que foram levar a menina ao médico a Bafatá, sem a certeza de que lhe possa ser prestada ajuda. Se o Camilo não o fizesse, a menina ficaria sem assistência, porque aqui não existe Serviço Nacional de Saúde, nem ambulâncias acessíveis, nem postos de saúde adequados. O Camilo e o Chico saíram às 15 horas e passadas mais de duas horas ainda não regressaram. A menina poderá precisar de cuidados mais especializados que só existem em Bissau, que dista daqui 105 quilómetros por más estradas. Por muito boa vontade que o Camilo tenha, não pode estar a substitui uma função do estado guineense. São seis horas e o Camilo e o Xico acabaram de chegar. 

Estamos desolados! O médico que atendeu a menina, um espanhol dos Médicos Sem Fronteiras, que já anteriormente a tinha visto, referiu-lhe que não havia nada a fazer, que o problema é do fígado e que a menina está condenada… Ao olharmos para aquela menina, de olhos tristes, não podemos deixar de sentir um grande mal estar, por nos sentirmos impotentes perante esta crueza da vida!


19º dia, quinta-feira, 5 de outubro de 2017


Como tínhamos programada uma vista ao Saltinho, para lá almoçarmos, levantámo-nos mais tarde, sem as correrias que foram habituais ao longo destes dezanove dias. Só em Saint Louis, onde fizemos uma paragem reparadora e ontem, que ficámos em Bambadinca, ainda que com os incómodos que o Camilo e Xico tiveram, não fizemos visitas ou não estivemos ocupados com programas.

Chegámos a Saltinho por volta da 11,30 horas. Trouxemos almoço, para almoçarmos no Clube de Caça, que já foi referido na primeira visita, porque o Clube só abre para clientes, quando são feitas reservas. Contamos que depois das três horas nos tragam as famosas ostras, que até o meu primo Fernando me disse que são imperdíveis.

Como gostei deste local, trouxe o portátil para, na explanada em frente ao bar, ouvindo o barulho que as águas do Corubal fazem ao passar pelos rápidos do Saltinho, pouco antes de passarem pela Ponte Craveiro Lopes, procurar a inspiração que me falta, para escrever um texto mais digno de quem o possa ler.

A Luzinha acabou de chegar com um nativo do tempo da guerra, o Mamadu, ex-fuzileiro da nossa tropa, segundo diz, que reconheceu o alferes Mota de entre o grupo de fotos que tenho no portátil, tirados na festa dos meus sessenta anos.

Depois do almoço e enquanto esperámos pelas ostras, depois de tirar mais umas fotos, fomos tirar uma sesta nos quartos do Clube.

O Camilo veio dar-nos a notícia de que devido à altura das marés não puderam apanhar as ostras, o que para nós foi uma frustração e para a Luzinha um alívio, por não gostar de ostras.

No regresso a Bambadinca, o Camilo levou-nos a passar pelo interior da Tabanca de Mampata e, posteriormente, levou-nos aos rápidos de Cussilinta.

Antes de nos deitarmos deixámos as malas feitas, para irmos cedo para Bissau, porque apesar da partida estar marcada para as 15 horas, é necessário fazer o chec-in com seis horas de antecedência e porque para fazer a viagem até Bissau são necessárias mais de duas horas


20º dia, sexta-feira, 6 de oubro de 2017


Acordámos cedo, porque o calor húmido, apesar da ventoinha ficar ligada durante toda a noite, faz-nos sentir como se estivesse-mos numa sauna. Mesmo depois de tomarmos banho, com água fria, a transpiração regressa e só quando iniciámos a viagem para Bissau, com as portas do jeep abertas, para sentirmos os odores da mata, o calor abranda, tornando a viagem menos incomoda.

Durante a viagem aproveitámos para comprar amêndoa de caju, em quantidade que dará para satisfazer alguns amigos e a gulodice que eu e Luzinha temos por este produto.

Antes de chegarmos à cidade, ao passarmos ao lado do aeroporto, fizemos o check-in, ficando sem esta preocupação, o que nos permitiu fazer as últimas compras calmamente.

A Luzinha comprou  mancarra (amendoim) e duas papaias grandes. Enquanto o Camilo foi pagar o bilhete de avião para regressar no dia vinte, fomos mais uma vez ao Ancar para aproveitar o ar condicionado e para aceder ao Hi-Fi. Deu para aceder, mas, mais uma vez, não pude consultar os meus e-mails. Acabámos para ir almoçar à pastelaria do Trovão, antes do Camilo nos trazer ao aeroporto. O gindungo que o Xico deixou para preparar estava pronto, tendo-o divido com a Luzinha.

Ao passarmos pela máquina de controlo, a funcionária pediu-me um sumo e, como não lhe dei nada, mandou-me para uma mesa aonde estavam sentados dois funcionários, que me pediram para mostrar o que levava, ao mesmo tempo que me pediam dinheiro.

São três horas da tarde, estamos no aeroporto, à espera do embarque, com uma sauna ainda pior da que sentíamos em casa do Camilo, porque ali, à noite, tínhamos as ventoinhas ligadas, que atenuavam o calor.

Finalmente, entrámos no avião da Euro Atlantic, um boeing 767 – 300ER, com boas condições. Já são 4,20 e o avião nunca mais parte…. Partiu às 4,30 horas e chegámos a Lisboa por volta das 9,15 horas. Tendo em atenção a diferença de hora, mais uma em Portugal, demorámos quatro horas e pouco.

O serviço da Euro Atlantic é bom e a Luzinha comeu a refeição, coisa que poucas vezes acontece nos aviões.

Porque as bagagens só nos foram disponibilizadas por volta das 22,30 horas, o Xico Allen já não tinha transporte para o Porto, ficando em nossa casa.

Enquanto a Luzinha preparava o quarto para o Xico e uma refeição ligeira, acedi à Internet para consultar o Citius, constatando que tinha duas notificações: uma cujo prazo para apresentar testemunhas terminaria daí a uma hora, por sorte já as tinha apresentado, e a outra a terminar na segunda, para apresentar originais de documentos, no tribunal de Portimão, porque o juiz deve ter problemas de visão e não consegue ler as cópias que enviei. Isto vai alterar tudo o que tinha programado, porque teremos que ir no domingo pernoitar na Praia da Rocha, para, no dia seguinte, me deslocar ao escritório do cliente, em Albufeira, a fim de recolher os originais e entregá-los. Só pensávamos ir buscar o meu carro mais tarde, depois de matarmos saudades, ficando com disponibilidade emocional, para repousarmos mais uns dias no Algarve.

O Xico deixou-nos às sete, para apanhar o Alfa das oito, depois de chamarmos um táxi, porque não tínhamos o comando para abrir a porta da garagem, que se encontrava no meu carro, em Lagoa, aonde o tínhamos deixado.

O Xico Allen, que não conhecíamos, durante estes vinte dias de viagem , ganhou o direito de fazer parte do nosso grupo de amigos.


PS: No sábado, dia 7, fomos para Vale da Laranja aonde nos esperavam os nossos cinco amigos. Ficámos lá essa noite e no dia seguinte fomos para o Algarve, para dar cumprimento à notificação. Enquanto me encontrava no escritório do cliente, aproveitei para contactar a Virtual, firma informática de uma sociedade do Zé Miguel, meu cunhado, que, com a qualidade que lhe é reconhecida, à distância, resolveu o problema existente com a minha conta de e-mail, que se mantinha desde os primeiros dias da viagem.

Aproveitámos a nossa ida ao Algarve para levarmos o Lobo, o pastor alemão, a fim de o socializar, tendo excedido as nossas expectativas. Na praia do Alvor, o Lobo, depois das hesitações iniciais, tomou o seu primeiro banho de mar e conseguiu enfrentar as ondas.

Regressámos na terça, a tempo de ver o Portugal – Suíça, porque, apesar da água do mar estar como poucas vezes a encontrámos no Algarve, achámos por bem regressar, até porque, para além de já termos saudades das nossas rotinas em Lisboa e em Vale da Laranja, a mãe da Luzinha tinha uma consulta para hoje, na qual lhe foi marcada a operação, para transplante da córnea.


APRECIAÇOES FINAIS

Antes das apreciações gerais não posso deixar de agradecer ao Camilo tudo o que nos proporcionou. Sem ele, esta viagem nunca teria existido e nunca teria sido tao variada e completa, para além de nos acolher na sua casa em Bambadinca e por nos ter mostrado e explicado os locais que são referidos neste diário. Obrigado Camilo!

Também queremos agradecer ao Xico Allen, pela sua amizade e por todo o apoio que nos prestou, nomeadamente por ter feito a maior parte da condução, especialmente nos troços mais difíceis.

Esta foi a viagem da nossa vida: pela duração, pela diversidade de situações vividas, pelas muitas emoções sentidas. Não foi uma viagem muito difícil, porque íamos acompanhados por dois veteranos, conhecedores de todos os locais por onde passámos.

Durante a viagem, passámos por países e regiões muito dispares, bem percetíveis pelo que nos era dado apreciar nos contactos que fomos tendo com as suas gentes, nos locais em que parámos e que visitámos.

Marrocos foi uma agradável surpresa, começando por Tânger, aonde já tinha estado em 1980 e pelo que conheci de Casablanca quando lá estivemos em 2015. Casablanca e Tanger, tal como as grandes cidades de Marrocos, são cidades tipicamente ocidentais, com exceção das partes tradicionais do mundo muçulmano, como a Medina, o Kasbah e as mesquitas no lugar das igrejas.

Marrocos é um pais muçulmano, situado em Africa mas que se considera mais europeu do que africano, com o que concordamos, pois é diferente dos outros do mesmo continente e que tem a sorte de ser governado por uma monarquia esclarecida. O atual rei, Mohammed VI, filho de Hassan II, tem seguido uma politica de desenvolvimento, bem patente na rede viária e na construção civil, procurando eliminar os bairros da lata, como foi visível ao longo do percurso. Dentro de dois anos já terão o TGV, segundo nos disseram e acreditámos, tendo em atenção o estado avançado dos trabalhos. Devido ao seu poderio, a anexação dos territórios do Sara Ocidental poderão ser irreversíveis.

Mauritânia é um pais desértico e porque não tem petróleo é pobre, bem patente na aparência das suas gentes e dos pedidos que nos faziam, quando parávamos para meter combustível. A sua capital, Nouakchot, é cheia de contrastes. Tem partes agradáveis e limpas e outras com o lixo espalhado pelos passeios. O Hotel onde ficámos é de grande qualidade e quando lá pernoitámos estava praticamente vazio.

Senegal, por já fazer parte da região subsariana, não é tão pobre como a Mauritânia – tem mais condições naturais para se viver -, mas a pobreza é bem visível.

Em Saint Louis, cidade costeira, que, no tempo da colonização francesa chegou a ser a capital do Senegal, ficámos impressionados com a pobreza e sujidade que encontrávamos. As pessoas coabitavam com o lixo, as cabras, os burros, galinhas e outros animais. Também foi aqui que passámos um dos melhores dias da viagem, no Hotel Diamarek, bem juntinho à praia.

A Guiné, apesar de ser um país pobre, não é um país miserável, como me pareceu ser a Mauritânia e o Senegal que conhecemos, mas continua a ser um país adiado. As suas gentes são simpáticas, mas indolentes, por natureza, o que, associado ao clima quente e húmido e à impreparação das pessoas, contribui para esse atraso. 

Para além destes fatores endógenos, muito contribui a corrupção e a frequente instabilidade política. Por outro lado, também lhe faltam fontes de energia, porque, sendo um país plano, não tem centrais elétricas, tendo que recorrer a geradores e a painéis fotovoltaicos, que são dispendiosos e por isso leva a que a energia elétrica seja distribuída de forma intermitente. Em Bambadinca, a luz é produzida por painéis fotovoltaicos e é distribuída só à noite e com pouca capacidade.

Estive em Bissau em 2010, no âmbito de um protocolo antigo celebrado com o Governo da Guiné e os Jogos Santa Casa, para darmos apoio ao desenvolvimento dos Jogos Sociais na Guiné. Apesar dos apoios que íamos dando, inicialmente em material e dinheiro, sentíamos que nada estava a ser feito, mas os pedidos de apoio em dinheiro continuavam, o que me fez duvidar que tais verbas se destinassem para o desenvolvimento dos Jogos Sociais. Por isso, propus ao Administrador daquela área que o melhor seria ir à Guiné para, in loco, aferir dos apoios necessários e, a partir daí, começar a dinamização que fosse necessária. Quando lá cheguei fiquei na Pensão Coimbra e no dia seguinte vieram levar-me, num carro posto à disposição pelo Secretário de Estado da Juventude e Desportos, com quem reuni mais tarde no seu gabinete, com a presença do seu Assessor e do meu anfitrião, o futuro diretor. 

Enquanto estava a decorrer a reunião, ocorreu um facto, que nos deixou estupefactos: entraram pelo gabinete dois chineses para prestarem assistência ao ar condicionado, sem pedirem licença nem cumprimentarem ninguém, o que me levou a comentar, talvez de forma inapropriada, que estávamos na presença dos novos colonizadores.

Antes desta reunião fomos visitar as instalações onde funcionaram as Apostas Mútuas ( Totobola) do tempo colonial, aonde ainda se conseguia vislumbrar a antiga designação. O edifício, apesar de em tempos ter sido enviado dinheiro para a sua reparação, estava um autêntico pardieiro, esburacado, sem forro no telhado, sem cofres para guardar o que fosse necessário, sem as bolas para fazerem os sorteios. Em suma, eram um barracão onde nada existia que pudessem dar credibilidade à existência de um jogo oficial, apesar de serem vendidos alguns bilhetes na rua, por engraxadores, apondo um carimbo nos bilhetes antigos, que lhes tínhamos fornecido. Numa sala, em que nem cadeiras existiam para as pessoas se sentarem, foram-me apresentadas umas quatro, que eram as que supostamente lá trabalhavam e para as quais precisavam de dinheiro para lhes pagar.

Na reunião com o Secretário de Estado referi-lhe toda a disponibilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através do seu Departamento de Jogos, mas para isso o governo da Guiné teria que mostrar interesse, começando por criar legislação própria e arranjar umas instalações, com alguma dignidade porque aquelas, já eram impróprias. 

Apesar das promessas, saí da Guiné convicto de que nunca mais lá voltaria, porque não acreditei que a minha colaboração viesse a ser necessária. Apesar dessa convicção, ainda elaborei um projeto de decreto-lei e uns estatutos, que poderiam servir de apoio para a criação da legislação necessária. A instabilidade politica inviabilizou a possível boa vontade do Secretário de Estado.

A Guiné continua a ser delapidada pelas potencias mundiais naquilo que lhes interessa. A China, nos últimos anos, veio buscar muitos milhões de metros cúbicos de madeira, a coberto de protocolos, que pouco contribuíram para o seu desenvolvimento. Só pararam devido às pressões da Greenpeace, acabando por deixar muita madeira cortada pela mata, como nos tem sido dado observar.

Os pedidos de dinheiro, que nos foram feitos em alguns controlos policiais e no aeroporto, dão uma ideia da fragilidade institucional e social da Guiné Bissau.

Arquipélago dos Bijagós, com as suas muitas ilhas, mais de oitenta, e as suas águas maravilhosas, tem condições excecionais para o turismo, que poderá vir a ser uma das fontes de maior rendimento do pais.

A Luzinha pretende voltar aos Bijagós, mas é minha intenção, apesar de ter adorado os Bijagós, visitar novas paragens, quando tiver oportunidade. Com tanto para ver, não gosto de repetir destinos.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos: LG]
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Nota do editor: