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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25892: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte VII: Depoimento 4. Furriel Mota dá sangue diretamente ao seu camarada e salva-o.

 


Guião do BCAÇ 1930 (Angola, 1967/70)- 



SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.


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Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.

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1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada a testemunhpos e depoimentos recolhos pelo autor (pp. 67/82).


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] (pág. 75)


Parte VIII: Depoimento 4. Furriel Mota dá sangue diretamente ao seu camarada e salva-o



O António Mota, ex-furriel miliciano, incorporado na CCAÇ 1782,  destacada no Luvo, Norte de Angola, e pertencente ao BCAÇ 1930 (1967 /70), contou um episódio de grande coragem e solidariedade da sua parte.

A companhia sofreu uma emboscada nos morros do Matombo na Canga, resultando dois feridos graves. Um morreu no local e o outro “safou-se”. 

Perante o desespero de todos que viam o seu camarada a esvair-se em sangue, o furriel Mota ofereceu-se para dar sangue diretamente ao amigo e camarada, na tentativa de o salvar da morte.

Colocou-se em cima do Unimog, o colega deitado em baixo na picada e o enfermeiro fez uma ligação direta do braço do Mota para o braço do ferido, escorrendo o sangue por gravidade de um para outro. 

Salvou o amigo e, hoje, ainda ostenta um talo no braço direito em consequência da entrada da agulha.

"Nem sabíamos o tipo de sangue um do outro. Qual compatibilidade!"

A guerra também era isto, comento eu! …

(Revisão / fixação de texto: LG)

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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25861: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte VI: faltosos, refratários, desertores e... os do "sangue, suor e lágrimas"...




Emblema do BCAÇ 381 ("Diabos") (Angola, 1962/64), a que pertencia a CCAÇ 390 e o ex-1º cabo radiotelegrafista Francisco Manuel Ferreira de Sousa, que resgatou o corpo de um camarada, gravemente ferido em combate, nos Dembos, e  cujo depoimento se reproduz mais abaixo.

Emblema da excecional  coleção de brasóes, guiões e carchás de Carlos Coutinho / Portal UTW . Dos Veteranos da Guerra dfo Ultramar (com a devida vémia...)



 SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal- In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.



1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada  é dedicada a testemunhpos e depoimentos recolhos pelo autor (pp. 67/72).





Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] 

Parte VI:  faltosos, refratários, desertores e... os do "sangue, suor e lágrimas"...  
(pp. 67/72)





Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): (i)  foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii)  tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii)  viveu em Angola até 1974; (iv)  licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v)  professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;  (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.



8. Testemunhos de ex-combatentes de Fafe participantes na Guerra (pp. 67/72)


Consegui recolher alguns depoimentos de ex-combatentes de Fafe que, após serem mobilizados e terem decidido não dar o “salto” para França, acabaram por cumprir uma Comissão de Serviço num dos três teatros de operações em África. 

É meu objetivo tentar contextualizar e responder às questões que levantei no número cinco do ponto seis deste texto, ou seja, através do seu testemunho, tentar perceber qual o enquadramento e envolvimento pessoal de cada um na orgânica e dinâmica das ações levadas a cabo pelas Unidades Militares onde estiveram destacados.

  • Testemunho 1

Quantos ficaram “aptos para todo o serviço militar” ou “livres do Serviço Militar” na sequência das “Inspeções Sanitárias”, por doença crónica ou “grande cunha”?



Não sabemos. Conhecemos, no entanto, um caso paradigmático de uma “grande cunha”. Trata-se de Albino Marinho Mota, à data defesa central do Sporting Clube de Fafe, 1.90 cm de altura, e aprovado nas provas para ingresso na Academia Militar, da qual veio a desistir. 

De acordo com o depoimento que recolhi em 29 de outubro de 2013, através do irmão, António Amável Marinho Mota, ex-furriel em Angola, o seu irmão Albino, jovem cheio de saúde, ficou livre de todo o serviço militar por “falta de robustez”, graças à “grande cunha” do Padre Albino, pároco de Antime, junto do médico,  seu amigo e responsável pelas Inspeção Militar em Fafe naquele ano. 

O médico era de Famalicão, local onde, anteriormente, o Padre Albino tinha exercido o sacerdócio.

  • Testemunho 2

Quantos decidiram “dar o salto” para o estrangeiro para fugirem à Guerra, antes de irem às inspeções, após serem “apurados para todo o serviço militar” ou depois de saberem que tinham sido mobilizados para o Ultramar?



Segundo António Mota e Fernando Ribeiro testemunharam na mesma data, havia em Fafe um grupo de cidadãos que deve ter “safado da tropa“ muita gente. Neste grupo integravam-se, entre outros, ,ajor Miguel Ferreira (Major do Ribeiro), brigadeiro da Cera, tenente José Campos e António Saldanha.

Fernando Ribeiro contou, ainda, que um tio dele, chamado Armindo Ribeiro e caseiro do major do Ribeiro, foi “safo da tropa” por ele. 

Disse, ainda, que acompanhou um amigo a Chaves, que tinha medo de ir sozinho, para levar um outro amigo até à fronteira para fugir a “salto” à tropa (não se lembra já do nome). Tem cinco cunhados e todos eles foram “a salto” para França, incluindo um com 17 anos para fugir à tropa e um outro que já tinha feito a tropa na Guiné.

Confirmaram os dois que o António Augusto Saldanha fazia do seu Café Avenida o centro de acolhimento aos fugitivos à tropa, dando ajuda e transportando-os no seu Ford até à fronteira.

  • Testemunho 3

Quantos viveram o drama de verem um seu camarada morrer, transportaram às costas um camarada morto, ferido ou estropiado, ou deram sangue no local para o salvar na sequência de uma emboscada ou rebentamento de mina?


  • Depoimento 1.

Testemunho recolhido em outubro de 2013 na casa do ex-combatente Francisco Manuel Ferreira de Sousa, em Regadas, e na presença da esposa.

O Francisco Manuel Ferreira de Sousa é natural de Felgueiras, Margaride. Após terminar o serviço militar casou e veio viver para Regadas, terra da esposa. Esteve emigrado durante quatro anos em França e, ao regressar a Portugal, empregou-se na fábrica da Bouça, em Felgueiras, onde trabalhou 27 anos, sendo, hoje, reformado.

Cumpriu uma comissão de serviço em Angola, com o posto de 1.º cabo e a especialidade de telegrafista condutor. Pertenceu ao Batalhão n.º 381, constituído pelas Companhias n.º 388, 389 e 390. Fez parte da 1.ª Companhia, a n.º 390, inserido no pelotão de transmissões que esteve sediado, primeiro, no Norte, em Pamgo Aluguen, desde 9 de dezembro 1962 e, depois, a partir de outubro de 1963, no Leste, em Vila Teixeira de Sousa (zonas onde atuei com o meu pelotão em 1971). 

Finda a Comissão, o seu Batalhão embarcou no Lobito a 21 de fevereiro de 1965 e chegou a Lisboa a 2 de março de 1965.

A sua companhia sofreu duas emboscadas graves:

(i)  A primeira em 29 de janeiro de 1963, na picada entre Pamgo Aluguen e o Úcua, resultando a morte de seis camaradas seus e a captura pelo inimigo de mais dois militares portugueses. As cabeças destes, disse, foram descobertas mais tarde pelas nossas tropas espetadas num pau (foram encontradas por acaso numa operação) e a um dos mortos, também encontrado, os “turras” esquartejaram-no.

(ii) A segunda emboscada ocorreu a 19 de agosto de 1963 e é sobre esse acontecimento que o Francisco Sousa escreveu um texto em 1965, tendo entregue uma cópia, talvez no ano 2000, na Delegação de Fafe da APVG. 

Guardei cópia do texto e em novembro de 2013, nas vésperas da minha comunicação, procurei-o na sua casa em Regadas, tendo-me confirmado o seu conteúdo e relatado, ainda, outros momentos marcantes da sua comissão em Angola. Esteve na Biblioteca Municipal onde, durante a minha comunicação, relatei a história na sua presença.

Pelo realismo e riqueza da descrição da ação, transcrevo o texto escrito pelo radiotelegrafista Francisco de Sousa, com sua autorização, tendo procedido a pequenos cortes devido à sua extensão, mas unicamente nas partes em que, por vezes, repete a mesma ideia.


“Um certo dia em Angola... 
Entre Rainha Santa e St.º António, Dembos"

por Francisco Manuel  Ferreira de Sousa 
(ex-1º cabo radiotelegrafista, 
CCAÇ 390 / BCAÇ 381, Angola, 1962/64)


A operação realiza-se a 19 de dezembro de 1963, na zona dos Dembos, no norte de Angola, entre as fazendas de café da Rainha Santa e de St.º António.

Por entre a espessa mata de uma das regiões do Norte de Angola, prosseguia em missão de serviço um grupo de homens composto por trinta e cinco soldados, entre os quais dois alferes e três sargentos, além do enfermeiro e telegrafista. (…)

O calor perturbava-os, a sede atacava-os, os assobios estranhos de certa ave desconhecida preocupava-os, (…) mas estes bravos homens nunca souberam perder a calma. Confiavam em si próprios e na sua melhor companhia, a “arma”. (…) 

A caminhada prossegue agora mais espinhosa! Teremos de alcançar o cimo deste morro” (…). 

Atingiram o cimo do morro à distância de cinquenta metros. A sede fazia-os desesperar. Descido o morro do lado oposto, o guia “preto” que os acompanhava disse,  a um por um, “menino tropa ter cuidado, mandioca ser bandido", e apontava com o indicador uma lavra de mandioca e milho, com cafeeiros. Estes eram os primeiros vestígios que se nos deparavam. (…) 

Quando deram por ela estavam no fim da descida. Deram todo um ai de alívio ao depararem com água, dizendo baixinho: "graças a Deus"! 

Mas ninguém tocou na água sem ordem, era turva e pantanosa, mas ninguém a recusou. Uns mergulharam a boca na água, outros enchiam e bebiam pelos quicos, ou seja, “bonés”, a sede era irresistível. 

Após terem apagado a sede, alguém falou, dizendo que preferia morrer do que voltar a sofrer a sede. E as lágrimas corriam-lhe pelas faces. Já estavam perto, já se pisava terreno da lavra e a escassos metros o início do objetivo.


“Vinte minutos de agonia sangrenta“


Atravessaram a lavra e encontraram a picada, que dava diretamente ao objetivo. O palpitar de um dos presentes era certo, não estava enganado, já não era a primeira vez que ali passava e alguém já tinha ali perto ficado ferido com um tiro de “canhangulo”. 

Caminhavam serenamente, quando surgiu a sombra negra. Um tiro isolado quebrou o silêncio, automaticamente todos se deitaram no solo. Ouve-se um segundo tiro e o silêncio voltou, os homens da primeira secção deviam estar em perigo. Meu dito meu feito, um terceiro tiro voltou a quebrar o silêncio, seguido de gritos de agonia. Era verdade que alguém estava ferido! 

As armas vomitavam rajadas contínuas! Ouve-se uma voz chamando pelo enfermeiro. O guia preto (Cunha) foi atingido num quadril e conseguiu recuar para a retaguarda dizendo: “está menino tropa ferido, deita sangue muito mesmo”. 

Soaram vozes provocando o inimigo com palavras impróprias, ouve-se um estrondo da primeira granada que rebentou, e o silêncio voltou. Mais dois estrondos de mais duas granadas lançadas. Com a arma tirada das mãos do ferido, ele ficou indefeso.

A desorientação era grande, os homens da frente recuaram e o ferido ficou só na zona de fogo. É preciso ir buscá-lo, alguém falou. Olharam-se, mas ninguém se decide, até que um mais corajoso, chamado Sanção, empunhou a sua arma e correu por entre o capim para buscar o ferido e, passados escassos momentos, chegou até nós com ele às costas. 

Ninguém falava. Ouviam-se gemidos de dor. Desabotoámo-lo. O sangue empoçava nas roupas. Os pensos individuais não eram o suficiente e o enfermeiro nada podia fazer. Estavam certos que aquele mártir morreria.

Alguém olhou em redor e nada via, a não ser o infeliz e mais quatro colegas. Os outros teriam recuado para a mata que ficava a uma dezena de metros. A coragem daqueles quatro aumentava! 

O telegrafista estava presente e, ajudado por outro, enlaçou o ferido, transportando-o cerca de vinte e poucos metros, mas o infeliz não podia mais, a sombra da morte aproximava-se dizendo: “Não posso mais, mas peço-vos que não me deixem aqui! Sei que vou morrer, mas paciência!” ,

Os quatro presentes tentavam animá-lo, mas nada resultava. Ele voltava a dizer: “Não me estejam a iludir, porque sei que morro! Mas não me deixem aqui! Falta-me o ar!” E nunca mais falou.

Novamente o telegrafista, olhando os seus colegas, disse: “Tenham calma! Ele aqui não ficará.” A vítima, olhando-o, tentou sorrir ao sentir-se confiante. Alguém
 [o Francisco, relatou-me]  correu imediatamente e, atravessando a alta lavra, encontrou o resto do grupo deitado, completamente desorientado. 

Os nervos aumentaram-lhe e disse: “Que cobardia é esta?! É preciso ir buscar o ferido ou então passaremos todos por cobardes.” 

Alguém se levantou, foram dois e com as lágrimas nos olhos disseram: “Tens razão. Deixemo-nos de ser cobardes!” E deram a correr como doidos e foram buscá-lo.

Entretanto, o alferes disse: “Ligar o rádio!” Mas o telegrafista respondeu: “Aqui é impossível. Tratemos primeiro em sair desta zona e depois será possível.” E ele concordou. 

Já se encontrava no meio de todos a vítima, ainda com vida, mas pouco tinha para durar! Não falava mais, ouvia, duas injeções para tentar vedar o sangue, mais pensos, mas nada resultou! O ferimento perfurou os pulmões. Todos os esforços eram insuficientes para lhe salvar a vida! Estava no fim! E com o último sorriso ao de leve, deu um suspiro, morrendo, assim, nos braços dos seus colegas! 

Pragas foram rogadas ao inimigo: “Aqueles malditos”, que nem se chegaram a ver! Eram só desabafos. “Não podemos ficar aqui, temos de seguir, mas agora em sentido contrário!” 

O problema maior era transportar o falecido, mas um outro maior ainda: tinham perdido a carta topográfica e não sabiam qual a direção a tomar. 

Fez-se uma maca com os camuflados e dois paus, e assim se transportou o falecido. Uma ideia: subir ao morro e no alto fazer ligação com o rádio. “Chegamos por volta das quatro horas, ter pronto helicóptero ou ambulância K. Entrem em contacto de quinze em quinze minutos”. 

Perguntaram: «Informem se há Maikes ou Foxtrotes” [Mortos ou Feridos]  ». Estavam mais à vontade por estarem em contacto, mas na verdade a preocupação ainda não tinha acabado, pois não sabiam qual a direção a tomar. 

Tomaram-se várias opiniões, mas ninguém tinha a certeza do que dizia, até que, por fim, por entre uma pequena clareira, avistaram ao longe uns morros carecas. Eram os de Stª Clara. Era precisamente o que interessava. No sopé dos mesmos existia o aquartelamento e a fazenda de Stª Clara. 

Todos se sentiram mais tranquilos, e alguém apontou, dizendo: “Sempre em frente!” Obedecendo à ordem, colocaram-se todos em fila indiana e retomaram a marcha, e todos com receio de voltarem a ser atacados.

O caminho tornava-se difícil. O calor aumentava, e o sangue coalhado nas roupas do falecido começou a cheirar. Uns viraram a cara, para não verem a vítima, outros enchiam-se de coragem, e era o que valia àqueles que a não tinham.

E assim após dez horas de caminhada, debaixo de sol escaldante, onde a sede era grande e o sofrimento incomparável, chegaram ao fim de mais um dos muitos dias de sofrimento. Paz à alma dos que morreram inocentes! Felizes aqueles que se libertaram do perigo! 

Tudo isto foi real, e para mim será inesquecível.

(Continua)

Próximo depoimento: Osvaldo de Fafe atira-se ao rio Tombar, na Guiné, para salvar um camarada da Lourinhã

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos, parênteses retos: LG)

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terça-feira, 4 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25600: O armorial militar do CTIG - Parte I: Emblemas dos Pelotões de Caçadores Nativos: dos gaviões aos leões negros, das panteras negras às águias negras...sem esquecer os crocodilos



Pel Caç Nat 51


Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões" (Matar ou Morrer)


Pel Caç Nat 53 ("Continuaremos")



Pel Caç Nat 54, "Águis Negras"




Pel Caç Nat 55, "Panteras Negras" (Audaces Fortuna Juvat
A Sorte Favorece os Audazes)



Pel Caç Nat 57, "Os Intocáveis"



Pel Caç Nat 60 ("Fortuna, Audácia")


Pel Caç Nat 63


Pel Caç Nat 64, Bafatá ("Os Leões Sempre Prontos para Tudo")



Pel Caç Nat 65, "Leões Negros"

Pel Caç Nat 67


Pel Caç Nat 69


1. "Armorial" é, segundo o dicionário, "o livro de registo dos brasões". A expressão  "armorial militar" refere-se a um conjunto de brasões, escudos, símbolos, emblemas ("armas", no plural, na terminologia da heráldica)  utilizados pelas forças armadas, permitindo identificar e distinguir unidades ou subunidades específicas (batalhões, companhias, pelotões, etc.). Estes símbolos podem incluir logotipos, bandeiras, insígnias, divisas ou outros elementos visuais, representando a unidade militar e sua história.

Aceitando o desafio do Augusto Silva Santos(*), vamos "revisitar" os brasões, guiões e crachás das unidades e subunidades que passaram pelo TO da Guiné, destacando aquelas que, por um razão ou outra (nome, emblema, divisa...), pode parecer mais original, bizarra, excêntrica, engraçada... E vamos começar pelos Pelotões de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat).

No nosso blogue temos referências a 16 Pelotões de Caçadores Nativos, com destaque para o Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54 e 63 (com mais de 30 referências, cada um):

Pel Caç Nat 51 (35)
Pel Caç Nat 52 (196)
Pel Caç Nat 53 (61)
Pel Caç Nat 54 (57)
Pel Caç Nat 55 (16)
Pel Caç Nat 56 (24)
Pel Caç Nat 57 (5)
Pel Caç Nat 58 (12)
Pel Caç Nat 59 (3)
Pel Caç Nat 60 (26)
Pel Caç Nat 61 (6)
Pel Caç Nat 63 (100)
Pel Caç Nat 65 (14)
Pel Caç Nat 67 (8)
Pel Caç Nat 69 (2)
Pel Caç Nat 70 (1)

Na coleção do nosso camarada Carlos Coutinho (que teve a infinita paciência de recolher, identificar, selecionar, tratar, digitalizar e divulgar centenas de brasões, guiões e crachás de unidades e subunidades do exército, de todas as armas e dos três teatros de operações)  faltam os emblemas de uma parte dos Pel Caç Nat (no ficheiro que ele nos cedeu gentilmente  há largos anos):  56, 58, 59, 61, 62, 66, 68 e 70. (Se alguém os tiver, que nos mande ao menos uma cópia, em formato digital.)

Também não há, nos livros da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África) , fichas destas subunidades, pelo que é difícil reconstituir a sua história e saber quem por lá passou, por onde e quando. E também omissa a sua atividade operacional.

Mas sabemos, pelo nosso colaborador permanente, o José Martins, em que ano se formaram:

(...) "A partir de 1966, os africanos foram chamados a uma intervenção mais activa no esforço de guerra. Foi iniciada a constituição de Pelotões de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat) tendo sido formados sete pelotões numerados de 51 a 57

"Estas unidades eram comandadas por um oficial com a patente de alferes, coadjuvado por furriéis e praças especialistas europeias, uma estrutura adaptada à sua dimensão - entre 30 a 40 homens. Neste ano subiu, para 3.952, o número de tropas locais em serviço.

"O ano de 1967 foi um ano de viragem. As companhias de Caçadores existentes foram redenominadas e transformaram-se nas CCaç 3 (ex-1ª CCaçI), CCaç 5 (ex- 3ª CCaçI) e CCaç 6 (ex- 4ªCCaçI), além da formação de mais um Pel Caç Nat, o nº 58.

"Em 1968 foram criados 11 novos Pel Caç Nat, a quem foram atribuídos os números de 59 a 69, e em 1969 foram criadas as CCaç 11, 12, 13 e 14, a partir das CArt 2479 e CCaç 2590, 2591 e 2592, que já tinham uma constituição igual às anteriores companhias existentes do recrutamento local ou foram adaptadas.

"No período entre 1970 e 1973 foram constituídas mais sete companhias de recrutamento local, as CCaç 15, 16, 17 e 18 (em 1970), a CCaç 19, (em 1971) e as CCaç 20 e 21 (em 1973). Em 1973 foi, também, constituído o Pel Caç Nat 70." (...)


2. O Pel Nat Caç 52 é o que tem mais representantes no nosso blogue, a começar pelos seus sucessivos comandantes: Henrique Matos, primeiro comandante (Enxalé, 1966/68), Mário Beja Santos (Missirá  e Bambadinca, 1968/70),  Nelson Wahnon Reis (1971) ,  Joaquim Mexia Alves (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão, 1972),  António  Sá Fernandes (1973), Luis Mourato Oliveira (Mato Cão e Missirá, jul 73/ ago 74).... (Todos são membros da Tabanca Grande, com exceção do Nelson Wahnon Reis, que era natural de Cabo Verde.)

O Pel Caç Nat 53 está associado ao nome do Paulo Santiago, seu comandente no Saltinho (1970/72). E o Pel Caç Nat 63 está profundamente ligado ao "alfero Cabral", o nosso saudoso Jorge Cabral (Fá e Missirá, 1969/71).

O José António Viegas representa, no blogue, o Pel Caç Nat 54 (1966/68), tal como o  Mário Armas de Sousa (Missirá, 1969/70).

O António Baldé passou pelo Pel Caç Nat 56 (São João, 1969/70). Tal como o José Câmara (Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73).
 
Do  Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70), temos o Armindo Batata,  seu ex-comandante.

O Hugo Guerra também representa o Pel Caç Nat 55 (Gandembel e Balana) e depois o Pel Caç Nat 60 (São Domingos), entre 1968 e 1970. O Manuel Seleiro também estebe no Pel Caç Nat 60 (Sáo Domingos e Susana, 1968/70). O António Inverno também passou por este Pel Caç (Sáo Domingos, 1972/74). 

Do Pel Caç Nat 57 temos o depoimento do ex-alf mil Fernando Paiva  (Mansoa, Bindoro e Bolama, 1967/69() que nos disse, aqui, que criou esta subunidade,   construiu o destacamento de Bindoro, a pá e pica, e viveu diaramente, ombro a ombro, com os balantas da região do Oio.

Do Pel Caç Nat 58 já sabemos que foi praticamente destroçado no fatídico dia 12 de outubro de 1970, na emboscada de Infandre, Zona Oeste, Setor 04 (Mansoa). 

O Luís Guerreiro, ex-fur mil CART 2410 ("Os Dráculas", "Ou vai ou racha", Guileje, 1968/70) também esteve no Pel Caç Nat 65 (Gadamael e Ganturé, 1968/70).

Quase todos os emblemas (desta amostra) baseiam-se num "animal de estimação":

 (i) aves de rapina ( o gavião, a águia) (Pel Caç Nat 52 e 54); 

(ii) felinos e outros predadores: a pantera (negra) (Pel Caç Nat  55); o leão (Pel Caç Nat 64); o leão negro (Pel Caç Nat 65)  e o crocodilo (Pel Caç Nat 67)... 

Ou então em imagens simbólicas: (iii) duas catanas cruzadas (Pel Caç Nat 51); (iv) uma mão branca e uma mão preta, entrelaçadas (Pel Caç Nat 53); ou ainda (v) duas armas  (G3) cruzadas, sobrepostas pela  Cruz de Cristo  (Pel Caça Nat 57).

O Pel Caç Nat 63 também ostenta a cabeça de um felino (parece ser um lobo). 

Das divisas a mais "guerreira" é a do Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões": "Matar ou morrer"...E por baixo do gavião, o brasão ostenta uma caveira... De quem terá sido a ideia original ? 

Já no do Pel Caç Nat 64 pode ler-se: "Os Leões Sempre Prontos para Tudo"...

Panteras negras não existiam na Guiné e leões também ninguém deve ter visto nenhum no nosso tempo... Muito menos "leões negros"...  Mas, como já o dissemos,  a nossa "bicharada de estimação" dava uma boa dissertação de mestrado ou até uma tese de doutoramento (***)... em antropologia, comunicação, marketing, semiologia, artes visuais, heráldica militar, etc.

Para além do nosso apreço e reconhecimento pelo trabalho do Coutinho e dos demais camaradas que com ele trabalham neste campo, no Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, apoiamos também, mais uma vez, a ideia do nosso grão-tabanqueiro António J. Pereira da Costa (no poste P7513, de 27 de dezembro de 2010poste P7513, de 27 de dezembro de 2010):

(...) Creio que temos estado a perder uma coisa importantíssima para a memória 'futura' (será que também há memória passada? Pesada sei eu que há...) e que são os emblemas de peito (crachás) e de braço que usávamos e que hoje poderão constituir algo que se possa juntar aos números das Unidades como algo indelével e que orgulha os seus possuidores. Temos também os guiões que, nem sempre, são iguais aos emblemas. Julgo que por si só já são um bocado da História e muito faladores, como acontece aos brasões, que são 'falantes'.

"Poder-se-ia criar no blogue um 'Banco de Crachás e Guiões' onde seriam inseridos os que se encontrassem, acompanhados de uma resenha acerca da sua feitura: quem deu a ideia, quem desenhou, como foi aprovado, o quem significa, formato, etc. etc. etc. 

"Sabendo-se quais e quantas as Unidades que passaram pela Guiné, rapidamente atingiríamos o pleno e poderíamos expô-los à consideração dos curiosos e outros frequentadores. Nenhum deles foi aprovado pela Comissão de Heráldica, mas isso também não interessa. São distintivos populares (aos gosto dos 'soldados'), como os dos clubes desportivos, de que se aprende a gostar.

"Se calhar era um bom início para uma História das Unidades" (...)

Já agora, o Carlos Coutinho há muito merece honras de Tabanca Grande, memso não tendo passado pelo TO da Guiné!  Fica aqui, desde já, o convite. 

______________


 
(***) Vd. poste de  17 de outubro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20249: Brasões, guiões ou crachás (8): A nossa bicharada de estimação ou o bestiário da nossa guerra... dava uma tese de doutoramento em antropologia!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25056: Fichas de unidade (33): BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74), CCAÇ 3544 (Buruntuma), CCAÇ 3545 (Canquelifá) e CCAÇ 3546 (Piche)




Brasões do BCAÇ 3883 e duas das suas uidades de quadrícula, CCÇ 3544 e 3545

Cortesia de Carlos Coutinho (2009)



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > Dezembro de 2015 > O que resta do célebre memorial do 3º Gr Com da CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974)), dedicado aos seus mortos: "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas e Lestos (?). Guiné- 72/74"...

O Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, natural de Valpaços,  morreu aqui, vítima de uma armadilha que ele montava e desmontava com regularidade, na margem do rio... A trágica ocorrência foi no dia 19 de fevereiro de 1973... Os restantes morreram numa emboscada entre a Ponte Caium e Piche, em 14 de junho de 1973. 

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fichas de unidade > Batalhão de Caçadores n.º 3883

Identificação: BCaç 3883

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Manuel António Dantas

2.° Cmdt: Maj Inf Manuel Azevedo Morujão e Oliveira

OInfOp/Adj: Maj Inf José Luís Guerreiro Portela

Cmdts Comp:

CCS: Cap Inf Joaquim Pinheiro da Costa

Cap Mil Inf José do Nascimento Leal Varela

CCaç 3544: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho | Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes

CCaç 3545: Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo

CCaç 3546: Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira

Divisa: "Nobreza no Dever"

Partida: Embarque em 19mar72 (Cmd e CCS), 20Mar72 (CCaç 3544), 22Mar72 (CCaç 3545) e 23mar72 (CCaç 3546); desembarque em 19, 22, 23 e 24mar72  |  Regresso: Embarque em 19, 21, 22, e 23jun74

A retrqação do dispositivo das NT, no caso das unidades mais afastadas do Sector Leste - Buruntuma e Canquelifá, foi realizada  em 5 de julho de 1974, seguindo  Camajabá e Ponte do Rio Caium em 8 desse mês.- 15 de Julho, início


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24abr72, com as suas subunidades, para o sector de Piche, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCav 2922.

Em 24mai72, assumiu a responsabilidade do referido Sector L4, com a sede em Piche e abrangendo os subsectores de Buruntuma, Piche e Canquelifá. 

Em 29Mai73, por subdivisão do subsector de Buruntuma, foi criado o subsector de Camajabá. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, de vigilância da fronteira e de defesa e segurança dos aquartelamentos e aldeamentos, que foram alvo e fortes e frequentes flagelações, particularmente a partir de agosto de 1973. 

Actuou ainda em numerosas missões de protecção e segurança a trabalhos nos reordenamentos e de reparação de itinerários, e ainda na asfaltagem da estrada Piche-Buruntuma; a par de uma decidida colaboração na promoção socioeconómica das populações da região e organização do sistema de autodefesa.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 

  • 4 espingardas,
  • 9 granadas de armas pesadas,
  • e a detecção e levantamento de 29 minas.

Em 31mai74, foi rendido no sector pelo BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau para embarque.

***

A CCaç 3544, após treino operacional e sobreposição com a CCav 2747, assumiu, em 24mai72, a responsabilidade do subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá e onde se manteve após a criação do respectivo subsector em reforço da respectiva guarnição até meados de ago73.

Em 26jan74, por troca com a 2ª Comp/BCav 8323/73, foi colocada em Piche, tendo então assumido a responsabilidade do respectivo subsector e cumulativamente as funções de subunidade de intervenção e reserva do sector, tendo efectuado acções de patrulhamento, emboscadas e escoltas a colunas.

Em 31mai74, foi rendida pela 3ª Comp/BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau para sempre.

* * *

A CCaç 3545, após treino operacional e sobreposição com a CCav 2748, assumiu, em 24mai72, a responsabilidade do subsector de Canquelifá, com um pelotão destacado em Dunane.

Em 19abr74, foi rendida pela 2ª Comp/BCaç 4516/73 e colocada temporariamente em Piche, tendo seguido em 27mai74 para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

* * *

A CCaç 3546, após o treino operacional e sobreposição com a CCav 2749, assumiu, em 24mai72, a responsabilidade do subsector de Piche, com pelotões destacados na ponte do rio Caium e Cambor, este até 18mar73.

Em 29mai73, por criação do subsector de Camajabá, assumiu a sua responsabilidade, mantendo então o destacamento da ponte do rio Caium, tendo a CCS/BCaç 3883, reforçada com pelotões de outras subunidades, assumido transitoriamente, a responsabilidade do subsector de Piche, até à chegada da CCav 3463.

Em 29mai74, foi rendida pela 2ª Comp/BCaç 4610/73 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 104 - 2.ª Div/4ª Sec, do AHM). 

Fonte: Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 161.162


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24583: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte VII: agosto de 1982, rendição pela CART 6251/72 e reagrupamento no CIM do Cumeré, ao fim de 22 meses

Guião da CART 6251/72 (Catió, 1973/74) 

Cortesia de Carlos Coutinho, 2009) 


1. Continuação da publicação de alguns alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (**).

É mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.

Uma cópia da história da unidade foi oferecida ao Centro de Documentação 25 de Abril, em vida, pelo então major general Monteiro Valente, ex-elemento do MFA, com papel de relevo nos acontecimentos do 25 de Abril, na Guarda (RI 12) e Vilar Formoso (PIDE/DGS), bem como no pós- 25 de Abril. 

Acrescente-se ainda que o antigo cap inf Monteir0 Valente, foi também comandante da GNR, e era licenciado em História pela Universidade de Coimbra. Entre outros cargos e funções, foi instrutor, comandante de companhia e diretor de cursos de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (1968-1970, 1972-1974). (Foto à direita, cortesia do blogue Rangers & Coisas do MR", do nosso coeditor, amigo e camarada Eduardo Magalhães Ribeiro).

Uma cópia (parcial) desta história da CCAÇ 2792, chegou-nos às mãos há uns largos tempos.


História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte VII:

agosto de 1972:  a rendição pela CART 6251 e reagrupamento 
no CIM do Cumeré, ao fim de 22 meses


Perído de de 1 a 31 de agosto de 1972

1. Situação

Até 10 de agosto, decorreu o treino operacional da CART 6251 (*), que veio render a CCAÇ 2792.

A 11, iniciou-se o período de 10 dias de sobreposição. Às 24h00 do dia 20 cessou, para esta subunidade, a CCAÇ 2792, a respondabilidade do subsetor de Catió (zonas de ação de Catió e Cabedú), transitando para a CART 6251.

A 11, marcharam com destino ao CIM de Cumeré um Gr Comb e alguns elementos da formação da guarnição de Cabedú, e a 13 mais um Gr Comb e parte da formação da guarnição de Catió. A 25, sairam de Cabedú os restantes militares da companhia. E a 25 o comando e os restantes elementos que estavam em Catió. Seguiram em LDM com destino ao CIM do Cumeré, onde chegaram no dia seguinte.

A 25 de agosto de 1972, finalmente, processou-se o reagrupamento da companhia, após vinte e dois meses de separação.

2. Atividade IN

O IN, "em  sinal despedida" à CCAÇ 2792 e de "saudação" à CART 6251, levou a feito neste período flagelações sobre os aquartelamentos das NT, situadas na chamada Frente de Catió:
  • em 2, às 18h40, flagelou Cabedú  com mort 82 e canhão s/r , sem consequências;
  • a 18, às 18h39, flagelou Catió com foguetões 122 mm,  causando 3 mortos e 2 feridos entre a população;
  • no mesmo dia, às 20h30 e às 21h30, voltou a flagelar Catió com 2 foguetões 122 mm, mas desta vez sem consequências;
  • a 19,  às 5h50,  nova flagelação a Catió, sem consequèncias.
De destacar, no que se refere às NT, no campo socioeconómico e psicológico,  o apreço que foi transmitido, à CCAÇ 2792,  por parte do Com-Chefe, pelo bom rendimento dos trabalhos do reordenamento de Quibil (Nota nº 2227/POP/72 do QG/CCFAG).

3. Ficha de unidade > CART 6251/72

Companhia de Artilharia nº 6251/72
Identificação CArt 6251/72
Unidade Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia
Cmdt: Cap Mil Art Virgílio Augusto da Silva Ferreira Martins
Divisa: -
Partida: Embarque em 22Jun72; desembarque em 22Jun72 | Regresso: Embarque em 09Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Após efectuar a IAO, de 23jun72 a 22jul72, no CMI, em Cumeré, seguiu em 23jul72, para o subsector de Catió, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2792.

Em 21ago72, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 4510/72. 

Em 12dez72, a zona de acção do destacamento de Cabedú passou a constituir um novo subsector, ficando então na dependência do COP 4, criado na referida data, e depois do BCaç 4514/72.

Em 1mar74, foi substituída no subsector de Catió pela 3ª Comp / BCav 8320/72, ali colocada do antecedente em reforço, tendo então assumido a responsabilidade do subsector de Cabedú em 3mar74 e ficando na dependência do BCaç 4514/72 e depois do BArt 6520/72. 

Entretanto, passou a ter dois pelotões destacados em Catió, em reforço da guarnição local e dar colaboração na segurança e protecção dos trabalhos da estrada Catió-Cufar, na dependência do BCaç 4510/72 e depois do BCaç 4510/73.

Em finais de jul74, foi substituída no subsector de Cabedú pela CArt 6552/72 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa nº 105 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 484.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24402: O nosso livro de visitas (219): Jaime Saraiva, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72), procura camaradas

Guião do BCAÇ 2928. Cortesia:
Coleçáo Carlos Coutinho  / Ultramar
TerraWeb (2009)

1. Pelo Formulário de Contacto do Bloger, recebemos no passafo dia 13, a seguinte mensagem:

 Gostaria de contactar com camaradas da CCaç 2789 / BCAÇ 2928 que estiveram na zona de Bula, 1970/72 ..Um grande Abraço para todos

Cumprimentos,

Jaime Saraiva | jaimepsaraiva1@gmail.com


2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Jaime, obrigado pelo contacto. 

 Infelizmente o único camarada que tínhamos na nossa tertúlia (somos 875, mas contigo podemos ser 876...) era o Luís F. Moreira, ex-fur mil trms,  CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72), já falecido em 2013 (foto à direita).
Era de Viana do Castelo. 

Se tu estiveste na Guiné e foste desta companhia, podes muito bem substituí-lo na nossa Tabanca Grande. Mandas duas fotos, uma antiga e outra atual, e duas ou três linhas com a tua apresentação: 
sou o fulano, tal, posto tal, pertenci à CCAÇ 2789 e procuro antigos camaradas, etc. 

Saúde e longa vida. Luís Graça

PS - A CCS / BCAÇ 2929 tem uma página, aqui no Facebook.


3. Pronta esposta do Jaime Saraiva:

Obrigado pela atenção dispensada... Fiquei triste com a noticia

Espero em breve mandar as duas fotos

Cumprimentos,
Jaime Saraiva
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24157: O nosso livro de visitas (218): Luís Reis Torgal, conhecido historiador e professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra: "por vezes passo os olhos pelo blogue, fui alf mil trms, Cmd Agr 2952 e COMBIS, Mansoa e Bissau, 1968/69"