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domingo, 19 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20574: Recortes de imprensa (111): Homenagem ao psiquiatra Afonso Albuquerque, "pai do stress de guerra e da APOIAR" (Mário Vitorino Gaspar, "O Notícias de Almeirim", 23/8/2019)


Lisboa > No dia 15 de Dezembro de 2000,  a APOIAR organizou um Colóquio, com o tema “A Rede Nacional de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra",  no Secretariado Nacional de Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência (SNRIPD).  Na foto, da esquerda para a direita, o Presidente da ADFA, Patuleia Mendes, a dra. Trindade Colarejo (SNRIPD), o doutor Afonso de Albuquerque e o Mário Vitorino Gaspar, Presidente da APOIAR.  (Foto: cortesia do Mário Gaspar, 2019)




Doutor Afonso de Albuquerque, 
Pai do Stress de Guerra e da APOIAR

O Notícias de Almeirim, 23-08-2019


[ex-fur mil art, minas e armadilhas,  CART 1659,
  Gadamael e Ganturé, 1967/68; 
tem mais de 110 referências no blogue]



1. Neste artigo, reproduzido por "O Notícias de Almeirim",  com a devida autorixação do autor,  o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar [, foto à esquerda], presta-se uma homenagem ao "Doutor Afonso de Albuquerque:

Presidente e fundador da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento e da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, Ex- Director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos, Presidente, Fundador, Presidente, em vários mandatos,  da Mesa da Assembleia Geral da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra, Sócio Honorário.

Afonso de Albuquerque fez 83 anos em 2018 e completou 50 anos de carreira. Em entrevista à Sábado, 28/10/2018, falo do seu passado, pessoal e profissional. Ficamos a saber que, depous de regressar a Portugal com o título de especialista em Psiquiatria, atribuído pela Royal College of Psychiatrists, fez o seu serviço militar obrigtório, em Moçambique, de 1961 a 1964, antes do início da guerra colonial. Teve problemas com a PIDE e a justiça militar. Voltaria a ser preso pelo PIDE, antes do 25 de Abril. Foi simpatizante do MRPP., mas nunca militante.


2. Mas regressemos ao artigo do Mário Vitorino Gaspar:

[...] Entre outros cargos, [Afonso Albuquerque] é membro do “Royal College of Psychiatrists”  (England), autor de variadas publicações e artigos na área do PTSD [, Post-Traumatic Stress Disorder,]  e da Sexologia, pesquisador do trauma dos Ex-Combatentes, nesse sentido o Serviço que presidia, colaborou com a ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Palácio da Independência, no apoio aos Ex-Combatentes da Guerra Colonial, em Janeiro de 1987. Em Setembro de 1989, os Serviços saem da ADFA.

Como sócio, fundador e dirigente da AOPIAR, doente e conhecedor de um pouco do trabalho desenvolvido pelo doutor Afonso Albuquerque, habilito-me a prestar-lhe a minha homenagem. Após o registo da APOIAR, fiz de parte de diversas listas, o dutor presidiu sempre à Mesa da Assembleia Geral, desde Dezembro de 1994 até Dezembro de 2004.


A APOIAR iniciou o percurso, sempre acompanhada pelo Doutor, investigador da doença, que apresentara o resultado de uma pesquisa científica, em conjunto com a Psicóloga Clínica Doutora Fani Lopes. Neste pode-se ler:

“… o conceito actual de Perturbação Pós Traumática do Stress (PTSD) – posttraumatic stress disorder, no DSM – III em 1980, também já incluído no ICD – 10, da Organização Mundial de Saúde, em 1992”. 

Diz ainda:

 “Não havendo estudos epidemiológicos sobre a distribuição da desordem de stress pós-traumático entre a população portuguesa, apontaram para a «existência em Portugal de 140.000 ex-combatentes vítimas de PTSD, por extrapolação das estatísticas americanas». (…) 

Este trabalho foi feito tendo por base números propostos por estudos epidemiológicos realizados junto da população americana. Tais estudos teriam sido promovidos pelos “ Centres for Disease Control” [CDC].


A APOIAR dava os primeiros passos na Sede, num vão de escadas, gentilmente por ele cedido nos Serviços de Psicoterapia Comportamental, existido uma mesa, duas ou três cadeiras, um armário e uma máquina de escrever. O Dr. Afonso de Albuquerque permitia que a APOIAR se servisse do seu gabinete, no 1.º andar, para receber principalmente a comunicação social, ou qualquer individualidade.


Em Outubro de 1995, o Doutor foi o principal impulsionador do “1.º Encontro sobre o Stress Traumático” na Fundação Calouste Gulbenkian.

Em parceria com a Biblioteca Museu República e Resistência, a APOIAR colaborou neste evento também com uma Exposição com o título «Guerra Colonial», e um Ciclo de Conferências: “Guerra Colonial. Um Diferente Olhar”, de 8 a 18 de Abril de 1996. Num painel intitulado “Mesa Redonda com Ex-Combatentes”, o Dr. Afonso de Albuquerque dirigiu um longo debate.

No dia 4 de Abril de 96, a APOIAR foi convidada a participar num Colóquio, organizado pela ADFA, com o tema «A Realidade do DPTS – Suas Causas e Consequências». Presidiu ao debate o General Ramalho Eanes, e entre outros, o Dr. Afonso de Albuquerque referiu: “A guerra, principalmente a de guerrilha, é a situação mais traumática”.


APOIAR denunciou, e inclusive no seu Jornal: 

(…)  Nas situações de juntas para a reforma, ou de revisão de baixas começou-se a ouvir: “É a doença nova”; “É a doença do Dr. Afonso de Albuquerque” ou: “Desconhecemos essa nova doença”.

A APOIAR participou no Colóquio da ADFA no Porto, no dia 29 de Novembro de 96, com o tema “A Realidade do PTSD – Suas causas e Consequências”. O Dr. Afonso de Albuquerque afirmou: “O PTSD é a única doença de Psiquiatria que pode surgir muito à posteriori”. 

Continuando:  “…uma das causas que provocam o PTSD é a exposição ao combate, e existe muito de comum entre a Guerra Colonial e a do Vietname, o serem ambas guerras de guerrilha, e as diferenças, favoráveis às das tropas americanas: melhor armamento, melhores serviços e campanhas inferiores a 12 meses, 3 deles fora das zonas de combate. Gozavam licença,  enquanto o soldado português não. Os americanos não possuem a tradição de confraternizar, ser a sua idade média inferior à do português, alguns casados, noivos ou com namoradas”.

No dia 28 de Fevereiro de 1998 a APOIAR organizou em Cuba [, Alentejo,] com a colaboração da Comissão de Ex-Combatentes e Residentes de Cuba,  um Colóquio, com uma Exposição Fotográfica com o tema «Guerra Colonial – Memória Silenciada».

O Doutor Afonso de Albuquerque afirmou: 

 (i) “… o trabalho de acompanhamento aos ex-combatentes é um trabalho pesado, o mais pesado da minha vida como médico”;

(ii) “A juventude que era de alegria foi marcada pela tristeza”;

(iii) " (...) 30% de combatentes, incluindo oficiais e sargentos – principalmente os milicianos – devido à responsabilidade de comando, sofrem de PTSD. Metade, portanto 15%, estão em estado crónico”;

(iv) (...) Quer dizer, dos 140.000 – número calculado por extrapolação dos dados americanos – 50.000 podem estar incapacitados totalmente para o trabalho”;

(v) “… a doença é perversa, retardada e rebenta mais tarde”;

(vi) “Existem doenças associadas ao PTSD: o alcoolismo surge com frequência, sendo o suicídio maior nos ex-combatentes e menor a longevidade – morre-se mais cedo”.

Interessa antes de tudo que o ex-combatente seja acompanhado por psicólogos e psiquiatras, e que o mesmo acompanhamento seja extensivo à família. Sucede existir pouca sensibilidade de certos médicos, que dizem ignorar a PTSD, embora esta seja aceite pela Organização Mundial de Saúde. 

É bom que a APOIAR e a ADFA colaborem ambas de molde a permitir que a doença seja reconhecida, a doença existe, foi causada pela guerra. Nos Estados Unidos motivado pela Guerra do Vietname, a partir de 1980 surgiram diversos movimentos: Médicos no Congresso e o Movimento dos Combatentes entre outros, conseguindo que fosse publicada legislação.

Em 14 de Julho de 1998,  foi apresentado pelo Deputado Carlos Encarnação,  do PSD,  um Projecto para o reconhecimento em Portugal do Stress de Guerra, e Criada uma Rede Nacional de Apoio às Vítimas de PTSD.

No dia 19 de Setembro de 1998,  a APOIAR reuniu com o Dr. Álvaro de Carvalho, Director dos Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental, que solicitou à APOIAR um parecer técnico para ser enviado por ele mesmo, como responsável máximo da Psiquiatria e Saúde Mental, a todos os Hospitais, Centros de Saúde Mental e Escolas de Enfermagem para que os técnicos conheçam mais pormenores sobre a doença. A APOIAR considerou ser o Doutor Afonso de Albuquerque a pessoa mais indicada para fazer o “parecer técnico”, parecer esse que deu origem à legislação, e o reconhecimento do trabalho da APOIAR. Esse parecer,  elaborado pelo Doutor Afonso de Albuquerque,  foi-lhe entregue posteriormente.

No dia 25 de Setembro de 1998 houve um ciclo com o tema “Amor em Tempo de Guerra”, conjuntamente com uma Exposição denominada “O Erotismo na Arte”. 

O Doutor Afonso de Albuquerque, que cumpriu a Comissão em Moçambique [, enter 1961 e 1964], como médico, disse: 

“A sexualidade em tempo de guerra tem a ver com a experiência havida em tempo de paz. (...) Chegados os soldados à zona de guerra as prostitutas surgiram logo, existindo uma mulher europeia, por cada dez europeus. O perigo das relações sexuais com as nativas eram as doenças venéreas. Não havia preservativo, mas bisnagas de sulfamida. Os soldados afirmavam que aquilo tirava a potência, sucedendo existirem experiências sexuais com animais".

A APOIAR convocou uma Conferência de Imprensa no dia 19 de Maio de 1999. Na Mesa: Doutor Afonso de Albuquerque; Mário Vitorino Gaspar, Presidente e Carmo Vicente, Vice-presidente da Direcção Nacional. Foi entregue à Comunicação Social um documento, que foi lido. Muitas questões levantadas pelos bastantes jornalistas. 

A SIC fez uma entrevista em directo para o Telejornal das 13H00, entre outras questões, e prometendo-nos que nos acompanhava ao Parlamento:  “Qual a posição que a APOIAR tomará caso seja chumbado o Projecto de Lei?" Após consulta rápida decidiu a DN. Foi dito pelo Presidente Mário Vitorino Gaspar:  “… caso o projecto de lei chumbe,  não votaremos nas próximas eleições, que se aproximam, e iremos recomendar a mesma medida aos ex-combatentes e ao país”.

 O Dr. Afonso de Albuquerque afirmou:  “… É extremamente importante a publicação e regulamentação da Lei e a formação de técnicos, temendo que a mesma seja feita de modo a não apoiar devidamente os ex combatentes e família”.

O Stress de Guerra já tem lei, aprovado o Projecto de Lei, por unanimidade na Assembleia da República e fez nascer a Lei de Apoio às Vítimas de Stress Pós Traumático de Guerra e passou a existir uma Rede Nacional de Apoio. A Lei foi promulgada em 27 de Maio. {Lei nºn46/99, de 16 de Junho].

No dia 15 de Dezembro de 2000, a APOIAR organizou um Colóquio, com o tema “A Rede Nacional de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra",  no Secretariado Nacional de Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. Além do Secretariado, presente o Presidente da ADFA, Patuleia Mendes, Mário Vitorino Gaspar, Presidente da APOIAR e Doutor Afonso de Albuquerque. [Vd. foto acima].


[...] Este, após resumidamente focar a história da doença referiu:   “A terapia de grupo é o melhor dos tratamentos para a doença”, continuando:  “Quanto à criação de Centros da Rede Nacional de Apoio, têm de ser diferentes de um posto dos serviços de saúde, embora necessitando sempre uma ligação com o SNS”. Mário Vitorino Gaspar afirmou: “O apoio só deve ser prestado depois de um ambiente de confiança mútua”.

No dia 4 de Fevereiro de 2002 a APOIAR na pessoa do seu Presidente da Direcção Nacional, Mário Vitorino Gaspar, assinou o Protocolo, no Salão Nobre do Ministério da Defesa Nacional .

A APOIAR, a convite de Sua Excelência o Ministro da Saúde, participou em Lisboa num Workshop, com o tema “Perturbações de Pós Stress Traumático em Ex. Combatentes” no dia 4 de Novembro de 2002. Está agendado outro Workshop no dia 5 de Novembro de 2002 em Coimbra, em 12 de Novembro, no Porto. A APOIAR e a ADFA foram convidados para a Mesa nos três Workshops.

Na sessão de abertura não estiveram presentes os Ministros da Saúde, Estado e da Defesa Nacional, Segurança Social e do Trabalho e Suas Excelências o Secretário de Estado da Saúde, e o do Estado da Defesa Nacional e dos Antigos Combatentes, tal como estava agendado.

Referiu o Doutor Afonso de Albuquerque: 

“… o conceito PTSD é recente, mas as reacções do ser humano são de sempre. Todos aprendemos a lidar com o perigo e já Shakespeare descreve na sua obra as reacções horrores agudas, mas foi principalmente a guerra,  que permitiu que estas reacções fossem estudadas. Na Guerra Civil Americana {surgou] a expressão «Irritable Heart Syndrome». Foram estudados casos, após a II Guerra Mundial, sucedendo a Guerra da Coreia, só existindo 6% de evacuações de origem psiquiátrica. 

"Os portugueses quando regressaram da guerra encontraram um clima anti-guerra, tinham partido como heróis e regressado como assassinos. PTSD de Guerra está considerada como «uma doença ansiosa".

Findou:  “… em 1992 entre 15 a 50% dos militares desenvolvem PTSD com origem na Guerra Colonial. No estudo da população em geral e em Portugal foram encontrados 7,8%”.

No dia 27 de Novembro de 2002,  a APOIAR, esteve representada pelo Presidente e Vice-presidente, respectivamente Mário Vitorino Gaspar e António Pinheiro e Técnicos, a convite dos Laboratórios Pfizer, Lda.,  surge:

Doutor Afonso de Albuquerque e da Professora Doutora Catarina Soares, esteve presente na “Apresentação dos Resultados do 1º. Estudo de Prevalência de Perturbação do Stress Pós Traumático, em Portugal”, estando presentes igualmente outras Associações e Técnicos de Saúde.

O Doutor Afonso de Albuquerque fez uma breve resenha histórica, e referindo o impacto na Psiquiatria das Guerras Mundiais e das Guerras da Coreia e do Vietname, e por tal a publicação em 1980 do DSM-II, em Portugal, o impacto da Guerra Colonial Portuguesa e posterior luta em defesa dos ex combatentes que deu origem à publicação da Lei nº. 46/99”. 

Frisou ainda: 

“Neste trabalho, quanto aos acontecimentos traumáticos que causaram PTSD, [surge] 

(i) o combate com 10,9%;  

(ii) abuso sexual antes dos 18 anos com 21,7%; 

(iii) violação com 23,1%; 

(iv) catástrofe natural com 1,4%; 

(v) morte violenta de familiar ou amigo com 12,3%; 

(vi) testemunha de acidente grave ou morte com 3,8%; 

(vii) acidente grave de viação com 5,6%;

(vii)  incêndio com 0,5%; 

(viii) ameaça com arma com 5,5%; 

(ix) ataque físico com 9,3%;

(x)  roubado ou assaltado com 2,4%”. 

"… PTSD na população exposta ao combate foi de 0,8% da amostra total é de 10,9%, relativamente aos indivíduos expostos."

Considerando a totalidade de acontecimentos traumáticos que foram causa de PTSD, verifica-se que a situação que mais contribuiu para o total de casos foi «morte violenta de familiar ou amigo».

No conjunto, os resultados deste estudo assemelham-se aos encontrados em estudos epidemiológicos realizados noutros países”. (...) Limitações do estudo: (...) em 1º. lugar a existência de potencial «enviesamento» da amostra; entrevistas realizadas por pessoas sem formação clínica e necessidade de confirmação destes resultados com mais estudos (população geral e/ou populações específicas).

Em 14 de Dezembro de 2002, na 16ª Assembleia Geral da APOIAR, no Salão Nobre do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, por proposta da Direcção Nacional foi atribuída a qualidade de Socio Honorário ao Doutor Afonso Abrantes Cardoso de Albuquerque.

Atrevo-me a afirmar: Doutor Afonso de Albuquerque, Pai do Stress de Guerra e da APOIAR. (...)

O Notícias de Almeirim, Edição online semanal, 23/8/2019

[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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Nota do editor:

Último poste da série >17 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20464: Recortes de imprensa (110): Pinto Leite, Leonardo Coimbra, José Vicente de Abreu e Pinto Bull, os parlamentares que pereceram no acidente aéreo de 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 27 de julho de 1970)

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17708: Efemérides (263): morreu há 17 anos, a 22 de agosto de 2000, a dra. Dalila Augusta Carneiro Azevedo de Brito Barros Aguiar, psicóloga clínica, precursora no diagnóstico e tratamento do stress pós-traumático de guerra, cofundadora da associção "Apoiar", minha grande amiga (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


A dra, Dalila Aguiar


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil at art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68:


Data: 28 de agosto de 2017 às 04:12

Assunto: Homenagem Doutora Dalila Aguiar


Mário Vitorino Gaspar

Dia 22 de Agosto de 2000: faleceu a Doutora Dalila Aguiar… Foi há 17 anos.


"… É a doença da guerra,

o inferno dentro de cada homem.

O Stress de Guerra que não pode deixar de ser denunciado,

deve ser feito o balanço desta calamidade pelo Estado…"


(Doutora Dalila Aguiar, Colóquio em Portimão a 4 de Abril de 1998)

A Doutora Dalila Augusta [Carneiro] Azevedo de Brito Barros Aguiar faleceu no dia 22 de Agosto de 2000.

Tive conhecimento da existência de apoio aos ex-militares da Guerra Colonial através da RTP. Existiam os Serviços de Psicoterapia Comportamental, sendo Director dos mesmos o Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque.

No dia 8 de Abril de 1994 conheci a Psicóloga Clínica Doutora Dalila Aguiar, Informou-me que ex-combatentes andavam a organizar-se para fundarem uma Associação de apoio aos ex-combatentes que tinham problemas psiquiátricos/psicológicos provocados pela Guerra Colonial.

Recomendou-me que fosse a uma reunião no sábado de manhã. Nesta, convidaram-me para fazer parte de uma lista, sendo a Doutora Dalila Aguiar subscritora, portanto também fundadora [da Associação Apoiar].

No dia 18 de Abril do mesmo ano, foi feito o registo da APOIAR, sendo eu um dos fundadores e no dia 10 de Dezembro de 1994 foram eleitos os Órgãos Sociais para o Biénio de 1995 e 1996, ocupando eu o lugar de vogal da Direcção Nacional, mas logo de seguida motivado pelo pedido de demissão de dois elementos ocupei o lugar de secretário.

A partir de Dezembro de 1995 a Doutora Dalila Aguiar começou a acompanhar os ex-combatentes, tanto nas Avaliações, Terapias Individuais e de Grupo na sede improvisada da Avenida de Roma – sempre gratuitamente – até porque a APOIAR não possuía apoios. Todas as semanas, lia-lhe nos olhos um sorriso de amor, uma gargalhada, que se escutava no silêncio e se instalava no meu interior. Tratava todos do mesmo modo.

Quando a questionava porque marcava as terapias de todos para a mesma hora, respondia que gostava de ver os ex-combatentes a dialogar. Comecei a ter uma forte simpatia e amizade pela Doutora.

Em Novembro de 1996 foram eleitos novos Corpos Sociais para o biénio 1997/1998, e o presidente do conselho fiscal eleito foi a Doutora Dalila Augusta Azevedo Brito Barros Aguiar. Eu ocupei o lugar de vice-presidente.

As terapias não cessam, a Doutora Dalila Aguiar tinha o condão de me contagiar, com uma só palavra, um só mas grande sorriso. E a guerra que estagnava dentro de mim afastava-se. Transmitia esse Amor pelo mundo que a rodeava.




Braga > Núcleo da APOIAR > 14 de dezembro de 1996 > Colóquio


Fotos (e legendas): ©  Mário Gaspar (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Núcleo da APOIAR em Braga organizou um Colóquio, no dia 14 de Dezembro de 1996. Algumas frases da Doutora Dalila Aguiar a determinado momento:

"O conhecimento da doença Perturbação Pós Stress Traumático (PTSD) deve-se aos Americanos, que após um exaustivo trabalho de investigação, feito por Psiquiatras e Psicólogos, junto dos Veteranos da Guerra do Vietname, no próprio local, identificaram a perturbação". 

Continuavam as terapias de grupo e individuais na APOIAR e sempre que algo nos atormentava na conversa, pintava-se a paz no rosto da Dra. Dalila. Ela não só equilibrava os meus tormentos, barrando com uma simples palavra a tempestade que se adivinhava, como estampava um sorriso de paz e amor nos olhos de todos.

A APOIAR realizava Colóquios por todo o país, e nos dias 14 e 15 de Abril de 1997, com a colaboração da Câmara Municipal de Beja organizou dois, com o tema: "Ciclo Guerra Colonial Memória – Silenciada". Simultaneamente a esteve exposta uma Exposição Fotográfica da APOIAR. No primeiro dia, a Dra. Dalila Aguiar, Psicóloga Clínica da APOIAR, disse: 

"Não existem só consultas para os ex-combatentes, mas também para as mulheres e os filhos dos mesmos, que também sofrem com a guerra".

Foi oradora em diversos colóquios, deu entrevistas, mas é de destacar parte do discurso no dia 4 de Abril de 98 em Portimão, na Biblioteca Municipal, com o apoio do Jornal "Povo do Algarve" e da Câmara Municipal. O tema foi:  "Guerra Colonial – Os Traumas e a Sociedade". Referiu: 

 "… É a doença da guerra, o inferno dentro de cada homem. O Stress de Guerra que não pode deixar de ser denunciado, deve ser feito o balanço desta calamidade pelo Estado…", continuando: - "… Costuma-se dizer que as instituições não tratam das paixões da alma, neste caso é necessário que o façam", e acrescentou: – "… Instalada a doença, inicia-se o calvário para estes homens e suas famílias. Com efeito, não se pense que eles vão sofrer sozinhos. Mulheres e filhos são também altamente afectados nas suas vidas. Nestas condições, não sabemos nunca a repercussão da guerra na nossa sociedade, dado que pelo menos, pelo menos, três gerações sofrerão as suas consequências". Acabou: – "Os filmes, as fotografias e os livros começaram a aparecer, os silêncios quebram-se e as memórias daqueles que durante anos calaram dentro de si os horrores da guerra. O balanço numérico é o seguinte no final: 8.807 morreram; 30.000 ficaram mutilados fisicamente e outros desapareceram, mas o Estado Português passou certidões de óbito para arrumar o assunto. Mas onde estão? Será que morreram de facto?"

Para o triénio de 1999/2000/2001 e a 19 de Dezembro de 1998 foi eleita presidente do conselho fiscal a Doutora Dalila Aguiar. Eu, Mário Vitorino Gaspar. fui eleito presidente da direcção nacional da APOIAR.

Mais tarde adoece, e na doença continua a ser uma Mãe Coragem. Teve alta, mas mesmo doente surgiu na APOIAR continuando a prestar apoio diariamente – sem horário – saindo da sede da Avenida de Roma, muitas vezes multada – e por volta das 22 horas e mais, no escuro da noite, mas sempre com um sorriso.

Quando eu lhe transmitia que a APOIAR não possuía verbas para lhe atribuirmos uma remuneração, mas que logo que assinássemos o Protocolo o faríamos, a Doutora sorriu, dizendo "se me derem dinheiro, dou-o à APOIAR".

Mesmo na doença não transmitia uma só escapadela de dor, pelo contrário pretendia sempre que falássemos de nós. Animava-nos. Sempre disponível! Aquele sorriso de verso florido pintado no rosto. A voz carinhosa e pausada. E incentivava sempre! Proibia as tristezas e medos. Obrigava-nos a sorrir, inclusive renascia uma gargalhada escondida no nosso interior.

Voltou a ser hospitalizada, mas a doença superou o seu sorriso e simpatia, e no dia 22 de Agosto de 2000 faleceu.

Em 14 de Dezembro de 2002, na 16.ª Assembleia Geral da APOIAR, no Salão Nobre do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, foi aprovada por unanimidade uma proposta da Direcção Nacional. Foi atribuída à Doutora. Dalila Augusta [Carneiro] Azevedo de Brito Barros Aguiar o estatuto de Sócio Honorário.

A Dra. Dalila Aguiar esteve comigo – que a conheci de perto – e connosco. Vincará a sua presença na minha vida. Perdurará para sempre no meu íntimo o sorriso e o saboroso aconchego da sua palavra. É um amuleto que guardarei sempre comigo no peito, junto do coração.

"A Dra. Dalila Aguiar – com "M" maiúsculo de "Mulher e de Mãe, é Mãe da APOIAR." Manteve e vai continuar a manter intacta a dignidade, e estará sempre guardada na minha mão, e viva no meu coração e no coração da APOIAR.

Mário Vitorino Gaspar

PS - Era casada com o eng agr. Fernando Queiroz de Barros Aguiar 
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Nota do editor:

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


O primeiro "bate-estradas" que recebemos logo no início oficial do verão... Esperemos que seja o primeiro de muitos, a "pôr na caixa de correio", este verão, pelos amigos e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande... O pretexto é o verão, as férias (para quem as tem...), o passado, o presente e o futuro, a Tabanca Grande e os grã-tabanqueiros, a Guiné que conhecemos, a vida, o Portugal que amamos... Enfim, aproveitem, os menos assíduos nos últinos tempos, para dar notícias e "fazer a prova de vida"... (LG)



1.  Mensagem, de 21 do corrente, do nosso camarada  Mário Gaspar [ ex-fur mil at art,  minas e armadilhas,  CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associaçºao APOIAR]:


Caros Camaradas e Amigos

Toda a minha vida foi feita de pedaços. A guerra travou os meus passos. Ainda longe da hora da partida, já me antecipava ao tempo. Nunca o escondi, quando era questionado pela frieza dos textos que escrevia, e com ousadia, respondi que me identificaria sempre como Mário Vitorino Gaspar, primeiro por ser o meu nome de baptismo, e de seguida que “Gaspar” (nome do pai) e Vitorino (nome da mãe). Então, visto que se tratava de responsabilidades, era totalmente responsável. Até na carteira profissional de jornalista – que um senhor Secretário de Estado da Comunicação Social, me obrigou a tirar para simplesmente ser director de um Jornal.

Lembro que em 1996 não escrevia – gatafunhava o meu nome numa ficha de trabalho, e assinava os cheques do dia-a-dia. Tratei sempre tudo pelos seus nomes.

Jorge Manuel Alves dos Santos,  o primeiro presidente da APOIAR – Associação que ambos fundámos em novembro / dezembro de 1966   – disse que eu era o director do Jornal. Disse-lhe que não e que escolhesse outro, insistiu e aceitei, do mesmo modo que aceitei – mas contra vontade própria – de partir para Guiné. Fui para a Guiné a 100% – de responsabilidades – e cumpri até último milímetro a minha missão. Fi-lo com ajuda de todos, dos meus heróis – os soldados.

Na APOIAR cumpri não só como dirigente – cerca de 11 anos – como na guerra fui tudo. No primeiro mandato: vogal (pouco tempo), secretário e simultaneamente vice- presidente. No segundo mandato, fui  vice-Presidente. Estes mandatos eram de 2 anos. Depois sou eleito presidente, mas com a alteração estatutária os mandatos eram de 3 anos.

Posso dizer, ao contrário do que todos nós que lá estivemos, não ganhámos mais que a amizade e camaradagem, o resto – a guerra perdemos – e só não o sabia por não querer – A guerra estava perdida.... desde o início.


Folha de rosto da revista Apoiar, nº 34, out/dez 2004. O Mário Gaspar foi o diretor durante nove anos (1996-2004)


Mas na APOIAR ganhámos e orgulho-me por termos conquistado os principais objectivos: Reconhecimento da Doença – Perturbações do Stress Pós-Traumático (PTSD), há quem não pense assim. Conquistámos ainda que fosse criada uma Rede Nacional de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress Pós-Traumático de Guerra, abrangendo a família.

Para tal lutámos, contra tudo e todos, até contra aqueles que deveriam estar a apoiar a APOIAR, como nos disse numa reunião com o Grupo Parlamentar do PS, o amigo saudoso Coronel Marques Júnior:
– Eu apoio a APOIAR!

E foi a partir desta reunião que ganhámos a batalha. Após publicada lutámos pela promulgação e vencemos. Tudo aprovado por unanimidade.

Mas parar era morrer. Assinei em nome da APOIAR um protocolo com o Ministério da Defesa Nacional. O senhor Ministro da Defesa pretendia que discursasse e recusei. Recusei, e por 3 vezes, por considerarmos nada termos a agradecer. O Reconhecimento da Doença, a Criação da Rede e a Assinatura do Protocolo eram questões fundamentais, e ganhámos – com empenho meu que estive de coma 16 dias após um enfarte cardíaco.

Tinha a certeza que tínhamos vencido aquela batalha, mas havia muito tempo à nossa frente.

Posso dizer e com orgulho, Portugal começou finalmente a falar na Guerra Colonial – nesta do “Colonial”, é divisória por existirem camaradas que a denominam como Guerra do Ultramar, mas eu, e à minha inteira responsabilidade, considerei sempre o termo “Colonial”, até por o “Ultramar” só existir em Portugal. Além de se começar a falar daquela guerra em que no regresso nos chamaram de criminosos e traidores – ainda parti uns dentes a alguns senhores – mas editaram-se livros, fez-se teatro e cinema,  grandes Reportagens e entrevistas.

Entretanto algo correu mal – Contagem do Tempo do Serviço Militar, e Consoante Consta nas Cadernetas Militares ou nos Atestados Passados para o Efeito – o termo completo utilizado. DERAM UMA ESMOLA AOS COMBATENTES e aqueles que estiveram na Guiné mais prejudicados. Mas era uma batalha que considerei sempre que ganharíamos. Esgotei os mandatos e não me podia candidatar.

A luta estava bem encaminhada e a APOIAR estava em todo o país. Existiam acordos com as Câmaras Municipais de Almeirim, Benavente e Torres Novas, embora existissem compromissos de todas as Câmaras do distrito de Santarém, exceptuando Sardoal, Fátima e Ourém – aguardávamos datas para efectuar reuniões. Setúbal e todo o distrito. Nestas localidades seriam criados Centros de Apoio com apoio autárquico, bastando assinar protocolos e avançar com os bons técnicos que a APOIAR possuía. Existiam ainda acordos com os Centros Regionais de Saúde de Lisboa, Santarém e Setúbal.

Então foi tudo abaixo. Vi a derrota à distância. Lutar era treta. Os nossos doentes afectados pela guerra são gozados autenticamente: “Doença Nova”, “Doença do Doutor Afonso de Albuquerque”. Houve quem engolisse em Tribunal – o Senhor Oficial faleceu – não vale a pena dizer o nome. Estive do lado do Doutor Afonso de Albuquerque que foi ofendido e ganhou-se a acção.

Mas perdeu-se tudo. Nem sequer podemos dizer o mesmo que Dom Afonso IV disse ao Rei de Castela quando vencida a Batalha do Salado – isto consta nos livros –, o Rei de Portugal disse:
 – Não quero riquezas, basta-me a graça de Deus e a glória de ter vencido.

Perdeu-se uma batalha decisiva e com o poder, a força da razão do nosso lado, por não se ter lutado e continuam “impávidos e serenos, e de joelhos na terra pedindo que não nos roubem o protocolo”.

O que escrevo hoje é somente um pouco de tudo que havia para dizer. Envio em anexo jornais exemplificativos da APOIAR que podem testemunhar o que digo, aliás têm acesso a todos através do site da APOIAR.

Amor em Tempo de Guerra é um exemplo. Os artigos não assinados são todos meus.

Alguém pergunta:
 – O que fazem as Associações de Ex-Combatentes?

O nome de Ex-Combatentes diz tudo. Não são Combatentes e o General Joaquim Chito Rodrigues tem razão quando diz que não somos Ex-Combatentes mas Combatentes.

Pois, Luís, Carlos e todos os Camaradas, ando desiludido com aquilo que vejo suceder no dia-a-dia. Falam comigo e queixam-se. Estou doente mas luto, sozinho sou um inválido. Faço barulho com razão e…

“Começo a conhecer‑­me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser
e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo,
por que também há vida…
Sou isso, enfim…
Apague a luz, feche a porta
e deixe de ter barulho de
chinelos no corredor.”


Fernando Pessoa


Há que bater com os chinelos no corredor. E foi a única razão para colocar esse meu ídolo da poesia – o maior poeta do mundo – Fernando Pessoa.

Falando disso muito mal está a nossa literatura. Quem leu, leu… Quem não leu...  Estive na FNAC e existem poucos escritores a serem reeditados tais como José Cardoso Pires e Vergílio Ferreira e mais um ou outro. O Pessoa é favorecido. 

Mas Camilo Castelo Branco; Alves Redol (conheci pessoalmente e escutei muitas histórias que tenho gravadas na memória); Soeiro Pereira Gomes (amigo da personagem de Esteiros, o Gineto que é Joaquim Baptista Pereira); Eça de Queiroz; Branquinho da Fonseca; Urbano Tavares Rodrigues (conheci pessoalmente e até em debates da APOIAR); Aquilino Ribeiro; Manuel da Fonseca; Carlos de Oliveira; José Cardoso Pires, era bom que reeditassem “O Render dos Heróis”, “O Hóspede de Job” e “O Anjo Ancorado”; Domingos Monteiro; Agustina Bessa Luís (não gostava); porque não Albino Forjaz Sampaio; Almada Negreiros; Rómulo de Carvalho; Ary dos Santos; Augusto Abelaira; Cesário Verde; David Mourão Ferreira; Fernando Namora; José Gomes Ferreira (conheci pessoalmente); José Régio; Luís Francisco Rebelo; Luís de Sttau Monteiro; o nosso camarada Padre Mário de Oliveira (tenho os livros do Julgamento Subversão ou Evangelho, que tem a colaboração de um Advogado e O Segundo Julgamento do Padre Mário, escrito com vários Jornalistas); Mário de Sá Carneiro; e por que não Miguel Torga que teve recentes publicações; Romeu Correia (gostei muito); Ruy Belo; Guerra Junqueiro e mais.

Longo este percurso interrompido, nunca mais li um livro,  o último foi na Guiné.

Se quiserem publicar publiquem. Estou farto… Foi escrito sobre o joelho, só parei no poema de Fernando Pessoa e com o bater dos chinelos no corredor.

Despeço-me por hoje e por uns dias, saio daqui a pouco de Lisboa.

Cumprimentos, para todos os camaradas

Mário Vitorino Gaspar

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio



Convite do autor para o lançamento do seu livro, "O corredor da morte"


1. Mensagem de 29 de abril último, do nosso camarada Mário Gaspar:


Camaradas e amigos da Tabanca Grande


 I. Fiz a minha Comissão de Serviço como Furriel Miliciano de Artilharia, Atirador e com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 - CART 1659 - também conhecida como a "ZORBA" em Gadamael Porto e Ganturé - desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968.

Divido o livro em três partes: (i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela após 16 dias em coma; (ii) a minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;  e (iii) a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné, para onde fui mobilizado.

E o livro tem o significado de ter existido algo de comum na minha vida, "O Corredor da Morte":

(i) estive no "corredor da morte" quando fui operado ao coração;

(ii) estive no "corredor da morte", quando manuseava explosivos, minas e armadilhas;  e

(iii) estive no "corredor da morte" quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado "corredor da morte", também chamado "corredor de Guileje", junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, Oficiais, Sargentos e Praças,  não possuem rosto, nem nome, embora na enormidade dos casos se possam reconhecer. A Companhia que tinha como lema "Os Homens não Morrem", formada por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei em não os enumerar, o que não é desrespeito.

II. O Lançamento do livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – A Professora Ermelinda Caetano que fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua comissão em Moçambique como médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós Traumático de Guerra;

4 – Eu, como autor do Livro projecto uns slides sobre o livro;

5 – O representante da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em Anexo o Convite para o Lançamento do Livro.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

PS - Gostaria imenso que o blogue Luís Graça & Camaradas na Guiné estivesse representada na mesa de lançamento.

Assim, convido-os a fazerem-se representar no mesmo. Para tal necessito da resposta dos Homens Grandes da Tabanca, tão breve quanto possível, visto pensar iniciar o envio dos Convites já para a semana que vem.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 014 > Guiné 63/74 - 13058: Agenda cultural (311): Lançamento do livro de Henrique Tigo, "As Portas de Abril", 30 do corrente, 4ª feira, 19h, Centro Cultural Malaposta, Olival Basto, Loures