sábado, 29 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12912: Bom ou mau tempo na bolanha (50): Para onde se vá, existe um português (Tony Borié)

Quinquagésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.


Embora já estejamos a viver por aqui há mais de quatro décadas, quando falamos com alguém no idioma inglês, o sotaque denuncia-nos. Ao mantermos qualquer conversação, passados uns segundos, o nosso interlocutor logo pergunta, com aquele ar de curiosidade:
- De onde és oriundo? - Respondendo nós que somos de um país chamado Portugal, logo dizem:
- Eu sei, na América do Sul, ao pé do Brasil. - E nós com paciência, dizemos:
- Não, Portugal está localizado na Europa. - E eles com aquele ar “americanizado”, respondem:
- Eu sei, uma província da Espanha.

Porra, aí a paciência começa a esgotar-se, e somos obrigados a explicar quase toda a história de um país independente, onde houve navegadores que levaram outros costumes e outra civilização pelos quatro cantos do mundo. E eles, tentando restabelecerem-se do impacto que as nossas palavras tiveram, respondem com o ar mais natural do mundo:
- Truth? Very interesting!
Responderam, mais ou menos isto:
- É verdade? Muito interessante!

Enfim, as ditas “americanisses”.
Adiante, vamos falar de uma personagem portuguesa que foi herói, aqui nos EUA, chamava-se John "Portugee (ou Portuguese)" Phillips.

Estávamos nós no estado de Wyoming, mais propriamente nas ruínas do que foi o “Fort Laramie”, apreciando um marco histórico, dentro do forte, onde uma placa em bronze mencionava o nome de John “Portugee (ou Portuguese) Phillips. Falávamos em português com a nossa esposa, orgulhando-nos de ver aquela placa, quando alguém ao nosso lado, ouvindo-nos falar, vem com as tais “americanisses”. Respondemos, sim, sim, não, não, blá, blá, blá, e fomos de seguida à loja de recordações, que existe dentro do forte, saber da sua história que honra os portugueses. Leiam, pois este homem, foi considerado herói por levar a notícia do “Fetterman Disaster”, onde o capitão William Fetterman Judd e seus homens foram aniquilados, pelos índios Sioux, revoltados pela presença e avanço do que consideravam o seu território, pelo homem branco, o chamado “colonizador”, em 21 de Dezembro de 1866.

O português Phillps ofereceu-se para montar o seu cavalo e ir até ao escritório do telégrafo na estação Horseshoe no North Platte com despachos do Coronel Henry B. Carrington, para levar uma mensagem adicional do Tenente-Coronel Henry Wessells para entregar ao coronel Innis Palmer em Fort Laramie, alargando assim a sua obrigação.
Montando o seu cavalo, a quem carinhosamente chamava "Dandy", um cavalo preto, do qual quase nunca se separava, viajou através do hostil território indígena, por uma distância de 236 milhas desde o Fort Phil Kearny até Fort Laramie. Cavalgou essas 236 milhas em território perigoso, indígena hostil, com os “índios em pé de guerra”, para levar a notícia.



A viagem foi feita em temperaturas abaixo de zero e praticamente sozinho. Mais tarde um companheiro de nome Wallace afirmou que deram ao português Phillips, em Fort Phil Kearny, um rifle da marca Spencer, de repetição, e 100 cartuchos de munições, que ele amarrou nos seus tornozelos, fazendo o peso manter os seus pés firmes nos estribos.
A primeira paragem foi no Fort Reno, onde chegou aos correios nas primeiras horas de 23 de dezembro, tendo prosseguido a sua jornada, de acordo com o telegrafista na estação Horseshoe, o português chegou cerca das 10 horas da manhã do dia 25 de Dezembro, quando os despachos foram transmitidos para a sede do Departamento do Platte em Omaha e Washington.


Para entregar a mensagem do Wessells para Palmer, o português Phillips passou no Fort Laramie, chegando às 11 horas, parecendo “uma bola vestida”, em andamento, pois era assim a sua aparência, vestido com um sobretudo de búfalo, calças, luvas e um gorro. O nome do John "Português" Phillips, tem sido celebrado em histórias, romances e poemas, como herói da fronteira do Wyoming. Também nos dizem o John “Português” Phillips, quando transportou o correio de volta para Fort Phil Kearny desde Fort Laramie, em meados de abril de 1867, num qualquer lugar viu-se cercado por cerca de 15 índios Sioux com pinturas de guerra.
Com humor e autodepreciação, ele escreveu num relatório aos seus superiores que tinha escapado, mas observou que "sem a ajuda do meu do cavalo “Dandy”, e este bom revólver, eu teria perdido o meu cabelo, uma parte do meu corpo, pois foi o momento mais ansioso que senti quando viajava naquelas pradarias".



Com o tempo, alguns factos passaram a ser ficção, mas o seu nome continua a ser o de um homem digno de respeito e admiração, exemplificando qualidades pioneiras de auto-sacrifício e resistência.
John Phillips nasceu com o nome de Manuel Felipe Cardoso, em 8 de Abril de 1832, era o quarto de nove filhos de Felipe e Maria Cardoso. Nascido perto da aldeia de Terra, na ilha do Pico, nos Açores, começou a sua vida como um cidadão de Portugal e, com a idade de 18 anos, deixou os Açores a bordo de um navio baleeiro com destino à Califórnia, onde com a sua juventude, pretendia “pesquisar” ouro.

Nos primeiros 15 anos seguiu a atracção do valioso metal amarelo, nos estados da Califórnia, Oregon e Idaho, atingindo os campos de Montana em 1865, sem nunca ter encontrado o “tal filão”.
Na primavera de 1866, talvez um pouco desanimado com a sua sorte, juntou-se a um grupo de mineiros liderados por algumas companhias ou grupos de prospecção, que se deviam chamar Pryor ou Big Horn Mountains, pois era por essa região que andavam na pesquisa, até chegarem os primeiros nevões, no final desse verão.
Sempre sem encontrar o valioso metal, chegou com 42 seus compatriotas ao Fort Phil Kearny, em 14 de Setembro, ele aparentemente trabalhava como carregador de água para um empreiteiro civil.



Mesmo depois de ter sido considerado um herói, o Português Phillips continuou a trabalhar como mensageiro do governo, mas quando o exército abandonou Fort Phil Kearny, mudou-se para Elk Mountain, a oeste da actual cidade de Laramie. Aí, diziam que fornecia, entre outros materiais, traves de madeira para a Union Pacific Railroad e para a linha do caminho de ferro, que estava a ser construída no sul do estado de Wyoming.
Na década que se seguiu, entre outras coisas, ganhava a vida através da contratação, com o exército, para fornecer alguma mercadoria e transporte, em Fort Laramie e Fort Fetterman. Em 16 de Dezembro de 1870, na cidade de Cheyenne, o Português Phillips casou-se com Hattie Buck, uma nativa de Crownpoint, do estado de Indiana, então com 28 anos de idade, tendo o casal tido vários filhos.


Durante o seu casamento, o Português Phillips estabeleceu um “rancho” em Chugwater Creek, como base para suas atividades com o exército, também acomodando viajantes que por ali passavam em viajem para outras paragens. Em 1876 construiu um hotel nessa propriedade, pois a chegada de pessoas tinha aumentado, com a corrida ao ouro nas montanhas de Black Hills.
Um conhecido descreve-o como tendo um grande rebanho de vacas leiteiras, grandes e boas pastagens, abastecidas de água por um desvio de um rio que passava próximo.

Em 1878 vendeu o seu “rancho” e mudou-se para a cidade de Cheyenne. Aí permaneceu até à sua morte, em 18 de Novembro de 1883, onde está enterrado no Cemitério Lakeview.
Hattie Phillips morreu em 1936 em Los Angels, num lar de idosos com a idade de 94 anos.


Um pormenor importante, durante uma sua visita a Milwaukee em 1876, o Português Phillips assistiu a um desfile em homenagem ao general Grant, que estava a concorrer à presidência dos USA. O general, ao ver o Português Phillips no meio da multidão, parou o desfile e insistiu para que viajasse com ele na sua carruagem.
Embora de origem humilde e não especialmente bem sucedido na vida, Phillips era uma figura nacional, e ainda hoje continua a ser um símbolo de coragem e devoção ao dever.

Também visitámos o John "Português" Phillips Monumento, localizado fora do Fort Phil Kearny em Wyoming,  que como o Fort Phil Kearny é um Marco Histórico de Registo Nacional.

Tony Borie, 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12884: Bom ou mau tempo na bolanha (49): Tira-me o retrato (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12911: Manuscrito(s) (Luís Graça (24): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial

Nota de leitura >

Ana Vaz Milheiro – 2011: Guiné-Bissau. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp.  (Viagens, 5)




1. Foi pena que tenha passado despercebida, a muitos de nós, ex-combatentes da Guiné, ou que se interessam pela historiografia da presença portuguesa em África, a xposição "África - Visões do Gabinete de Urbanização Colonial", que esteve patente ao pú8blico, no CCB, em Lisboa, de 7 de dezembro de 2013 a 2 de março de 2014.

Passei por lá em 26 de janeiro, com um amigo meu, arquiteto, o José António Paradela, de Ílhavo  (que fez, aos 16 anos, a "guerra colonial" na pesca do bacalhau,  na Terra Nova...) e tinha a intenção de fazer uma poste no âmbito da série "Agenda Cultural"...

Paciência.. Não se pode "ir a todas"... De qualquer modo, tomei  a liberdade de recolher algumas imagens e tomar algumas notas... que apresentarei mum próximo poste.




Cartaz promocional > CCB - Centro Cultural de Belém > Garagem Sul > Exposições de  Arquitectura >  "ÁFRICA – VISÕES DO GABINETE DE URBANIZAÇÃO COLONIAL"

Foto de Luís Graça (2014).


A curadoria foi da Ana Vaz Milheiro (com Ana Canas e João Vieira). A exposição esteve aberta ao público de 7 de dezembro de 2013 a 28 de fevereiro de 2014  [com prolongamento até 2 Março].

Segundo o programa, "África – Visões do Gabinete de Urbanização Colonial propõe um percurso por uma paisagem africana desenhada (e inventada) a partir do coração da metrópole, em Lisboa, no período final da colonização portuguesa (1944-1974).

O texto é da investigadora e docente do ISCTE-IUL, curadora desta exposição, Ana Vaz Milheiro. A exposição resulta de um projeto de investigação, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), e que decorreu entre 2010 e 2013: "Gabinetes Coloniais de Urbanização: Cultura e Práctica Arquitectónica"

(...) "Inicia-se com imagens de edifícios públicos fortemente marcados pela tradição portuguesa do sul, fixa-se numa arquitectura oficial do Estado Novo, e abre a possibilidade de ensaiar uma primeira expressão de 'nativismo africano', através do conhecimento progressivo que os arquitectos portugueses vão adquirindo das diferentes culturas locais, antecipando visões de autonomia e de independência."

Pela primeira vez mostrados em público, a exposição, que se realizou na Garagem Sul do CCB,  era enriquecida por  "um conjunto de desenhos, relatórios, fotografias, actualmente à guarda do Instituto de Investigação Científica Tropical".

Mas hoje do que vos quero falar é de livrinho que comprei lá, por 10 euros, e que é uma espécia de guia de bolso, um roteiro de visita guiada à Guiné-Bissau e ao património arquitetónico que os portugueses lá deixaram.  E que merece ser melhor conhecido, estudado, divulgado e protegido. O livro tem a assinatura da incontornável  e voluntariosa Ana Vaz Milheiro.

2. Ana Vaz Milheiro (n. 1968, Lisboa) é licenciada e mestre em arquitetura pela Universidade Técnica de Lisboa, e doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2004). Docente do ISCTE-IUL, prepara o seu pós-doutoramento em arquitetura lusoafricana da época do Estado Novo.

Este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora,  a cores, resulta de uma singular viagem,  à Guiné-Bissau,  de 2 arquitetos e de 1 sociólogo,  durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011.

O sociólogo, ou melhor, antropólogo social é nem mais nem menos do que o Eduardo Costa Dias, do meu tempo do ISCTE, e nosso grã-tabanqueiro, que serve de “cicerone”, nesta viagem, a dois colegas, também do ISCTE-IUL, a autora da brochura, e o Paulo Tormenta Pinto.

O Eduardo, que vai à Guiné-Bissau, quase todos os anos, desde 1980,  foi desta vez, como especialista da cultura e história guineenses, integrado no projeto de investigação “Os Gabinetes Coloniais da Guiné-Bissau – Cultura e Prática Arquitectónica”, de que a Ana Vaz Milheiro é a responsável principal.

Como ele nos conta no curto texto que escreveu à laia de prefácio (p.7), rapidamente passou de “cicerone” para “ciceroneado”, de tal maneira foram as descobertas feitas, no terreno, a partir das “novas leituras” que lhe proporcionaram, em matéria de arquitetura e urbanismo coloniais, os seus dois  colegas, arquitetos… Para mais, “num terreno que eu pensava que puco de novo ainda tinha para me dizer” (p. 7).

Como leitor, entusiasta, do livrinho, também partilho do mesmo sentimento que o nosso amigo Eduardo. Basta, de resto, ler-se  o guião da viagem (e agora índice da publicação, enter parênteses a página):

Guiné-Bissau (7), Missão arquitetónica (9), Bissau, cidade da I República (11), A cidade jardim dos trópicos (13), O futuro de África é a China (15), Ruínas pós-colonais (17),  Arquiteturas maneiristas (19), Estação metereológica de Bissau (21), O bairro de Santa Luzia (23),  o bairro da Ajuda (25), O melhor edifício da cidade (27),  Geometrias (29), Migrações africanas (31), Mais mundo houvera (33), Bafatá (35), Um hospital com vista sobre a cidade (37), Contuboel (39), Mercados (41), A escola primária do Cacheu (43), Cine-Canchungo (45),  A estação dos CTT do Gabú (47), Ponte sobre o rio Mansoa (49), Bibliografia (50), Biografias (51).

“Last bu not the least”, neste conjunto de 2 dezenas de fontes de documentação consultadas e citadas pela autora, sabem qual é a última que vem na lista, na página 50 ? O nosso blogue, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que cumpre, assim,  um dos seus  propósitso, que é o de também ser uma fonte de informação e conhecimento relevante no que diz respeito à documentação da presença portuguesa na Guiné-Bissau (*)… De resto, como eu gosto de dizer, os ex-combatentes da Guiné "não querem morrer sem deixar rasto"... E o rasto são as "as nossas memórias e afetos"...

Para além de ser especialista num domínio como este o das arquiteturas lusotropicais, e mais exatamente coloniais, a Ana Vaz Milheiro  tem a vantagem, nesta viagem, de ser uma “estreante”, embora  de modo algum “virgem” no que diz respeito à arquitetura e urbanismo  da Guiné-Bissau da época colonial.  O seu olhar não era, pois, o do “leigo”, muito menos o do “turista à força” que fomos nós, os ex-combatentes, que foram  desembarcando  em Bissau, aos milhares, entre 1961 a 1974…

Ela não deixou nada ao acaso ou ao improviso: tinha feito o seu trabalho de casa, e compulsado vasta documentação:

(i) livros e opúsculos  (a maior parte da Agência Geral do Ultramar);

(ii) desenhos, projetos e documentos (do Arquivo Histórico Ultramarino  e do Centro de Documentação do IPAD);

 (iii) fotografias registadas pelo arquiteto Luís Possolo, nos anos 60, ao serviço do Ministério do Ultramar;

 (iv) fotos do Eduardo Costa Dias,  tiradas em  2009, de acordo com uma lista de edifícios públicos construídos em Bissau depois da II Guerra Mundial, amostragem de obras estado-novistas;e , por fim,

(v) cruzamento das imagens com os projetos arquivados em Lisboa…

De acordo com o roteiro da viagem, os primeiros dias foram passados em Bissau e arredores, seguindo-se:

(i) no dia 6/10/2011 Safim, Empada, Nhabijões [mas imediações de Bambadinca], Bafatá, Gabú, Sonaco, Contuboel;

 (ii) no dia 8, Bula, Canchungo, Cacheu;

e  (iii) no dias 9/10, Mansoa.





Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência.  C. 1975. Escala 1/20 mil  Pormenor

Imagem © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).




Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d > Sem legenda: A antiga Av 31 de Janeiro, hoje, Av Amílcar Cabral > Ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império; do lado direito, a Catedral de Bissau (Edição Comer, Trav do Alecrim, 1 -Telef. 329775, Lisboa).

Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné

Imagens: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos os direitos reservados.


3. Bissau, uma cidade da I República

É o Estado Novo [, e nomeadamente  com Sarmento Rodrigues como governador, 1945-1949] que vai ter, para a cidade, uma intervenção pensada e estruturada. Até então o “making of” do espaço urbano resultara de um “processos de adição” (p. 10):

(i) a construção da fortaleza de São José da Amura, na margem direita do estuário do Geba;

(ii) a Bissau Velha, que nasce fora de muros, e que é o primeiro assentamento urbano;

(iii)  o esforço para estabilizar a presença portuguesa na então ilha de Bissau, na sequência da “guerra de pacificação”,  levada a cabo sob o comando de Teixeira Pinto (1913-1915);

 (iv) a chegada, em 1919, do engenheiro de minas José Guedes Quinhones, da Repartição de Fomento, Direção de Agrimensura,  e com ele o propósito republicano de “embelezar a cidade”.

Cito a autora:

“O plano de 1919 (…) não só dá início ao processo de minumentalização  do espaço urbano,cmo corresponde à expansão para lá do primitivo perímetro. Cruza a baixa densidade da Garden City [Cidade Jardim, movimento de planeamento urbano iniciado em 1898] com as ideias culturalistas do City Beautiful movement [Movimento  da Cidade Bonita, dos anos 1890-1900], propondo uma praça radial, implantada na cota mais elevada, ligando-se, através de um boulevard, à zona baixa e portuária [imagem da Av 3 de Agosto].”

Recorda a Ana Vaz Milheiro que a atual Av Àmílcar Cabral era a Av 31 de Janeiro [, uma data grata aos republicanos, por recordar a  primeira tentativa de derrube da monarquia, a revolta do Porto, em 1891]. “Os limites da cidade são assegurados por uma ‘Avenida de Cintura’, que faz a fronteira com os ‘Subúrbios’, onde a população africana se irá fixar. Identificam-se os lotes das instalações  de energia elétrica e de abastecimento de água, do Pal´«acio do Governo, do Novo Hospital e do Banco Nacional Ultramarino”…

Trata-se, enfim, de um programa mínimo, de equipamentos, acrescidos em 1922 com a escola primária, e  que o Estado Novo  vai reforça depois de 1945. “A estratégia estado-novista passa por diminuir os vestígios deste urbanismo de perfil republicano, apropriando-se dos seus símbolos” (p,. 10), conclui a autora. (**)

(Continua)

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Notas do editor

(*) Sobre a cdiade de Bissau, temos inúmeros postes, vd. por ex.:

10 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1264: Postais Ilustrados (10): Bissau, melhor do que diz o fotógrafo (Beja Santos / Mário Dias)


sexta-feira, 28 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12910: Convívios (575): 27º Encontro Convívio da CCaç 2382, 3 de Maio de 2014, em Fazendas de Almeirim (Alberto Silva)

1. O nosso Camarada Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2382, Buba (1968/70), solicitou-nos a seguinte divulgação da próxima festa da sua Unidade.


27º ENCONTRO CONVIVIO - CCAÇ 2382 (1968/1970)

Camaradas, realiza-se no próximo dia 3 de Maio de 2014, em Fazendas de Almeirim (Quinta da Feteira), o 27º Encontro Convívio da CCaç 2382.

A concentração é feita junto à Praça de Touros de Almeirim, entre as 10h00 e 10h30.

EMENTA:
- Sopa da Pedra / Creme Legumes
- Bacalhau
- Bifinhos de Porco c/ Cogumelos
- Pudim / Salada de Fruta
- Sumos, Águas e Vinhos
- Café e Digestivos
- Lanche
- Bolo da Companhia e Espumante

Preços: Adultos - 26€, Crianças de 6/11 anos -13€

Organizadores: António Freitas Caniço e António José Zola 

Alberto Silva
Sold TRMS da CCAÇ 2382
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Nota de MR:



Guiné 63/74 - P12909: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XI): Em Paunca, onde irá ser extinta a CCAÇ 11 (herdeira da CART 11) e onde se irão passar acontecimentos graves, em agosto de 1974, na sequência na retração do nosso dispositvo militar


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >  
Filhos dos nossos soldados


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) > Miúdfos da tabanca

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >
Aspeto parcial da tabanca


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >Miúda, filha de um dos nossos soldados

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >Bajuda, lavadeira (1)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >Bajuda, lavadeira (2)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) > > Penteado de bajuda



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) > Rua principal e quartel (1)


 Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) >
Rua principal e quartel (2)



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71 > Porta d'armas do quartel ... Em primeiro plano,o Valdemar Queiroz



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71) > Abertura de valas ao longo do perímetro interior do quartel e tabanca



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 11 (1969/71)  > Pormenor da abertura de valas, com o concurso dos soldados guineenses da CART 11... [Trabalho violento, executado em condições muito duras, no intervalo da atividade operacional, e que os soldados fulas faziam com grande relutância e sob protesto... É certo que ninguém gostava de abrir valas, a pá e pica... Em boa verdade, os comandos de batahão tendiam a olhar para os soldados do recrutamento local com alguma sobranceiria colonial... O mesmo se passou connosco, CCAÇ 12, em Bambadinca...LG]


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. L.G.]



Valdemar Queiroz, Contuboel, 1969
1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar Queiroz... Desta vez, as memórias fotográficas são de Paunca (sem acento na penúltima sílaba: temos 20 referências sobre Paunca e 35 sobre Paúnca, estando mal grafado o topónimo, que é Paunca e não Paúnca)...

Não sei quantos meses passou lá o Valdemar, entre 1969 e 1970, mas será em Paunca, em agosto de 1974, que se irão passar alguns acontecimentos graves, por ocasião da extinção da então CCAÇ  11 (que sucedeu à CART 11, no nome, uma vez que o pessoal era o mesmo) e da retração do nosso dispositivo militar (vd. Cartas de Punca, do J. Casimrio Carvalho).

Recorde.se o que aqui já escrevemos a esse respeito: a seguir ao 25 de Abril de 1974, fugido do inferno de Guileje e Gadamael, caído de paraquedas em Paúnca, na CCAÇ 11, o Casimiro Carvalhos vai conhecer o desespero e a raiva dos nossos aliados fulas, na fase do cessar-fogo e retração do nosso dispositivo militar no TO da Guiné... Este é um dos episódios mais chocantes da guerra da Guiné, aqui contados pelo nosso herói de Gadamael. Só é pena que ele tenha sido tão parco em palavras, no que diz respeito a este final da sua atribulada comissão, e se tenha extraviado, ainda pro cima,  a carta em que ele relatou os acontecimentos aos pais. Mas noutro documento relatou, em síntese, o seguinte:

(...)  "Fui então para Paunca, CCAÇ 11 – Os Lacraus, onde me mantive até ao fim da minha comissão.  Não sem antes levar um susto de morte, pois os militares africanos da CCAÇ 11 sublevaram-se. Quando eu estava a dormir, ouvi tiros, vim em calções com a Walther à cintura até ao paiol. Quando lá cheguei, eles estavam a armar-se e a disparar para o ar e eu, quando os interrogava pelo motivo de tal, senti o cano de uma arma nas costas, ordenando-me que seguisse em frente (até gelei)...Juntaram todos os quadros brancos e puseram-nos no mato...assim mesmo." (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2014 >ão aão do nosso Quando a corte dos Lacraus chegou a Canquelifá...

Guiné 63/74 - P12908: Notas de leitura (576): "Eleições em tempo de cólera", por Onofre Santos (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Mais uma agradável surpresa, crónicas em português de estilo de um luandense que foi colocado na Comissão Eleitoral da Guiné-Bissau, quase todas elas foram escritas em Bissau e publicadas num semanário de Luanda.
Trata-se de um olhar agudo, cuidado e profundamente afetivo. Despedir-se-á, dizendo mesmo: “A Guiné, vou ter de a amar de longe, mas todos os dias rezarei para o que ficam a amem de verdade, mais e melhor do que eu”.
Ao longo destas crónicas, assistiremos a um golpe de Estado, ao aparecimento de um Conselho Nacional de Transição e a um novo ato eleitoral do qual resultou o regresso de Nino Vieira.
Pergunto-me como foi possível ter até agora ignorado a existência deste talentoso cronista angolano.

Um abraço do
Mário


Um enternecido olhar luandense sobre a Guiné-Bissau (2003-2005) - I

Beja Santos

“Eleições em tempo de cólera”, por Onofre dos Santos, Edições Chá de Cachinde, Luanda, 2006, apanhou-me completamente de surpresa. O autor desempenhou em Luanda o cargo de Diretor-Geral das Eleições e a partir daí andou em trânsito por diversos teatros eleitorais. À República da Guiné-Bissau, onde esteve em 1994 como coordenador das Nações Unidas dos Observadores Internacionais nas eleições que elegeram o Presidente Nino Vieira, Onofre dos Santos voltou em 2003, tendo acompanhado o golpe de Estado que depôs o Presidente Kumba Yalá, e prestou assistência técnica pelas Nações Unidas nas eleições presidenciais de 2005 que consagrou o regresso ao poder de Nino Vieira. É exatamente nesse período de 2003/2005 que Onofre dos Santos foi enviando de Bissau para um semanário luandense (Folha 8) as suas crónicas cujas temáticas por vezes extravasam as realidades eleitorais guineenses.

Havia eleições marcadas para Outubro de 2003, na Guiné, mas um golpe militar derrubou o presidente Yalá, seguiu-se um período de transição moroso e complexo que ele descreve admiravelmente. O livro de crónicas é mesmo uma surpresa, subjacente ao cronista atento está um escritor de primeira água. Basta ver esta descrição junto ao porto de Pindjiquiti: “No cais é a imobilidade total dos barcos presos na lama que a maré vazia deixou a descoberto, quais passarinhos presos no visgo do caçador. Homens e mulheres em pequenos grupos também apenas parecem esperar que as águas subam enquanto um balafon invisível vai ressoando a marcar o tempo que esse não para nunca. Quando a maré lentamente começar a subir a lama verde acinzentada vai-se animar, endireitando pouco a pouco cada uma das embarcações encarapinhadas no molhe. Mais uma partida para longe, para as ilhas, para o paraíso escondido dos Bijagós. Vêm-nos à mente as recordações de enxames de morcegos gigantes volteando ao entardecer entre os telhados arruinados e as árvores frondosas e centenárias de Bolama”.

Explica ao leitor como se está a processar. Entra diretamente nas contradições que envolveram a postura política de Kumba Yalá: é presidente mas não comanda o PAIGC, o seu PRS, partido que o apoiou e apoia, não é maioritário. O presidente parecia apostar numa nova geração de políticos, com formação académica, acreditou ser possível uma governação sobre a égide da unidade nacional. Falhou, foi incapaz de pôr em prática esse sentido da reconciliação. O presidente confia que as novas eleições ratificarão o seu projeto. Num fim de semana, visita os Bijagós, vai até Bruce, a praia mais famosa de Bubaque. Vai numa carrinha carregada de jerricans de vinho de caju: “Lá me enfiei o melhor que pude e seguimos pela única estrada que corta a ilha e vai quase até ao outro extremo. Foi o presidente Luís Cabral que mandou construir esta estrada, explicam-me. Mas depois ninguém mais cuidou dela e veja o estado em que ela se encontra”. E vem o golpe de Estado, os militares deram voz à insatisfação popular, como ele comenta: “Os buracos financeiros cada vez mais profundos e escabrosos deixavam desesperados governantes e governados. Os governantes sem soluções eram despedidos uns atrás dos outros com o rótulo de incompetência com que se pretendia aplacar o descontentamento cada vez menos resignado dos funcionários, militares e trabalhadores sem pagamento desde o princípio do ano. No rol de despedimentos com ou sem justa causa entraram uns Juízes do Supremo e os Deputados da Assembleia Nacional Popular. Como todos os que não têm meios financeiros, Koumba viveu do crédito e acabou quando este se esgotou”. E tece uma consideração sobre a natureza da destituição: “Não tendo sido disparado um único tiro, este golpe não foi um verdadeiro golpe de Estado. De facto, todos o apoiaram, desde os partidos às igrejas e organizações da sociedade civil. Até o próprio Presidente veio a anuir em retirar-se voluntariamente da Presidência (…) Entretanto um governo de transição de unidade nacional está na forja com a provável bênção do Bispo de Bissau”.

O que parecia apaziguador deu origem a desacordos infernais, desentendimento entre os partidos e a sociedade civil. Arranjou-se um Presidente da República de Transição “que goza de uma absoluta e geral confiança pela sua reputação impoluta como um homem de bem”. O autor recorre à figura do jugudés (jagudi) para falar da agitação da classe política, rubricaram um novo pacto, “os representantes dos partidos políticos vão debicando pastas ministeriais e posições na hierarquia do Estado, emprestando a sua legitimidade representativa aos reais detentores do poder. Francisco Fadul protestou. A carta foi assinada na presença de 25 generais ou oficiais superiores das forças armadas, os representantes de 24 partidos políticos e de 8 organizações da sociedade civil. O Bispo de Bissau, D. José Câmanate na Bissign, Balanta, apela à reconciliação e escreve em carta pastoral: “Sonhemos e trabalhemos para que a Guiné-Bissau possa encontrar o seu verdadeiro caminho para o desenvolvimento do exercício das Leis, da Democracia, do Trabalho, da Honestidade, do Diálogo, da Justiça, da Paz, da Credibilidade”. Fica de pé um Conselho Nacional de Transição, uma espécie de Parlamento, emana do Comité Militar, que engloba todos os generais e oficiais superiores revoltosos.

Transição? A Guiné-Bissau nunca saiu da transição, mas agora tem um presidente com um mandato previsto de um ano e meio e um governo que deve administrar o País até que um novo governo constitucional saia das eleições previstas para Março de 2004. E o cronista questiona: “A reflexão que se impõe é a de descortinar a natureza do regime de transição na Guiné-Bissau, depois da eleição dos novos parlamentares. Renovada que esteja a Assembleia Nacional Popular, ou seja, criadas as condições para os representantes legítimos do povo soberano dizerem o que querem como Constituição e como Governo do País, qual o papel que estará igualmente reservado aos autores do golpe de 14 de Setembro, isto é, qual o destino do Comité Militar de Restituição da Ordem Constitucional e Democrática”.

Os militares aparecem pois em força neste regime de transição, misturam-se com todos os partidos políticos (ou quase), com as religiões e com as organizações da sociedade civil. Aprovou-se uma Carta Política de Transição. E o cronista aproveita para fazer uma leve digressão sobre o aparato constitucional guineense. Recorda que só em 1993 é que foi adotada uma Constituição aberta ao pluralismo político. A Guiné consagrou um semipresidencialismo em que o poder do Presidente da República é de algum modo contrabalançado pelo poder do Governo e do seu Primeiro-Ministro. O Presidente da República nomeia e exonera o Primeiro-Ministro tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidas as forças politicas representadas da Assembleia Popular. Em 2002, a Assembleia Nacional Popular aprovou alterações constitucionais no sentido de cercear os poderes presidenciais. Kumba Yalá não gostou, não promulgou e dissolveu a Assembleia Nacional Popular. Com este seu gesto, terá porventura lançado uma decisiva pazada de cal na sua sepultura.

(Continua)
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Nota de editor

Último poste da série de 24 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12895: Notas de leitura (575): "Como Fui Expulso de Capelão Militar", por Pe. Mário de Oliveira (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12907: Convívios (574): XXVI Almoço Convívio do BCaç 2884 (Mais Alto), 26 de abril de 2014, em Rio Maior (José Firmino)


1. O nosso Camarada José Rodrigues Firmino (Ex. soldado atirador da Companhia de Caçadores 2585/BCAÇ 2884 Jolmete, Guiné-Bissau 1969/1971), solicitou-nos a seguinte divulgação da próxima festa da sua Unidade.

XXVI ALMOÇO CONVÍVIO do BCAÇ 2884 (Mais Alto)


O BCaç 2884 (MAIS ALTO) composto pelas seguintes companhias: CCaç 2584 - CÓ, CCaç 2585 - JOLMETE, CCaç 2586 e CCS - PELUNDO. 


Terá lugar no próximo dia 26 de abril do corrente ano em Rio Maior, com concentração marcada junto a Igreja Paroquial de Rio Maior, segue-se a apresentação os cumprimentos aqui e ali, umas fotos para mais tarde recordar. 

Por volta das 11h30 será celebrada missa, como vem sendo habitual, pelos camaradas já falecidos, terminada a cerimónia religiosa, segue-se o patrulhamento e reconhecimento pelas tropas destacadas para o efeito, em direção ao complexo turístico Gato Preto, Quinta das Acácias, Estrada Nacional, 2040-335 Rio Maior.

Segue-se as entradas como habitual regando aqui e ali com branco ou tinto, para aqueles que não o possam fazer, não faltará a água, sumos e muito mais, seguidamente será servido o almoço.  

Findo este, segue-se a animação musical por artistas locais, que irão abrilhantar o nosso convívio até à hora do lanche e partilha do bolo comemorativo.

Igreja Matriz de Rio Maior, local da concentração 

Lembrar que a data limite das inscrições termina no dia 20 de Abril do corrente ano, preço por pessoa é de 30 Morteiradas. 

Como habitual os camaradas do Norte terão transporte assegurado a partir de Braga, pelas 07,00 horas, junto ao antigo hipermercado Feira Nova, 07,30 horas em Famalicão, na central de Camionagem e pelas 08,00 horas, no Porto, à entrada do Metro do Estádio do Dragão. 

A organização a cargo dos camaradas MANUEL MARIA PASCOAL, e AMÉRICO ANTÓNIO PINTO DA COSTA, Telm. 919227959 que desejam a todos ex.camaradas e familiares boa viagem seguido de excelente regresso às suas origens com um até para o ano. 

Coordenadas GPS: 39.328945 (W) -8.929728 (N) 

JOSÉ FIRMINO
Sold Atir CCaç 2585/BCaç 2884
(RÉGUA)
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Nota de MR:



Guiné 63/74 - P12906: Agenda cultural (307): Melech Mechaya, novo disco, "Gente Estranha": Apresentação, em Lisboa, FNAC Colombo, 6ª feira, 28, às 22h00, FNAC Chiado, 31, 2ª feira, às 19h00,. (E ainda... hoje, no programa da RTP1, "Portugal no Coração", c. 15h00)



Vídeo  (5' 13''). Alojado em You Tube > Melech Mechaya  (Cortesia dos Melech Mechaya)


O teledisco do single “Gente Estranha” foi escrito e realizado por António Rodrigues e tem a participação de Zé Ramos.


Capa do novo disco "Gente Estranha"...  É o 3º CD do grupo português Melech Mechaya. Editora: Ponto Zurca. Ano: 2014. Preço: € 9,99 ou € 7,99 (FNAC). Da esquerda para a direita: os músicos da banda, Francisco Caiado (percussão) João Graça (violino). Miguel Veríssimo (clarinete), André Santos (guitarra) e João Sovina (contrabaixo). O João Graça é nosso grã-tabanqueiro; tem cerca de 80 referências no nosso blogue.

1. O terceiro longa-duração da banda portuguesa tem a participação especial de Amélia Muge, Jazzafari e Pedro da Silva Martins. A digressão de apresentação deste novo disco inclui espetáculos em Portugal, Espanha, Bélgica, Suécia, Finlândia, entre outros.

Sinope:  O álbum conta com 15 temas de nomes estapafurdios e pândega garantida. Der Nayer Sher, klezmer tradicional que invoca a Alegria, a beleza de Deusa das Calças Amarelas, e o frenesim de Sr. Xispo. O single Gente Estranha com letra de Pedro da Silva Martins e voz de Jazzafari apresenta-nos a tia Bambolina e o seu sonho de dançar em cima das mesas nos casamentos, e o avô e o padre e os noivos rebolando de felicidade. Amélia Muge canta-nos a história de um Querubim Barbudo. Neste álbum Melech Mechaya revelam-nos finalmente a verdadeira Lenda do Homem Testa, dançando à velocidade de um espirro com Gesundheit (santinho).

Faixas do disco: 1. Der Nayer Sher | 2. Gente Estranha (voz de Jazzafari Unit, letra de Pedro da Silva Martins) | 3. Espírito Livre | 4. Khosidl | 5. Malapata | 6. Dromedário | 7. Sr. Xispo | 8. Chegou a Hora | 9. Querubim Barbudo (voz e letra de Amélia Muge) |10. Deusa das Calças Amarelas  | 11. Interlúdio | 12. Gesundheit | 13. Anachnu Ma'aminim | 14. A Lenda Do Homem-Testa | 15. Tudo Está Iluminado


2. Comentário de L.G.

Aportuguesaram o klezmer!... Estávamos mesmo a precisar desta lufada de ar fresco, de alegria contagiante e de humor ternurento...Vai seguramente fazer sucesso este single (e o CD)... Os Melech Mechaya  ficam, bem com o sexto instrumento que é a voz humana e as suas infinitas possibildiades!.. A capa do disco está deliciosa... Por uma música assim vale a pena perder a cabeça!



Página de rosto do Facebook dos Melech Mechaya:  "Temos a enorme felicidade de trabalhar com pessoas maravilhosas. Esta imagem é mais um exemplo do trabalho fenomenal dos mestres Rodrigo Lameiras e Ivo Cordeiro!"

3. Próximos concertos dos Melech Mechaya (até ao início de agosto):

28 Março, 6ª feira • Lisboa, Portugal
Fnac Colombo | 22h00  

[E, à tarde, às 15h00, no programa "Portugal no Coração", RTP 1]

29 Março • Madrid, Espanha
Sala Penelope

30 Março • Medelim, Portugal
Páscoa Judaica

31 Março, 2ª feira • Lisboa, Portugal
Fnac Chiado | 19h00


13 Junho • Córdoba, Espanha
Festival Internacional de Música Sefardí

14 Junho • Vilarinho São-Roque, Portugal
A anunciar

20 Junho • Macedo de Cavaleiros, Portugal
I Festival de Música de Macedo

27 Junho • Glória do Ribatejo, Portugal
A anunciar

28 Junho • Viena, Áustria
A anunciar

10 Julho • Jyvaskyla, Finlândia
Jyvaskyla Festival

11 Julho • Kaustinen, Finlândia
Kaustinen Folk Festival

13 Julho • Lisboa, Portugal
Festa Privada

18 Julho • Alcalá La Real, Espanha
Festival Etnosur

19 Julho • Las Rozas, Espanha
Noches De Verano

2 Agosto • Urkult, Suécia
Festival Urkult

4.  Melech Mechaya, amanhã dia 29, em Madrid. Artigo do El Pais, de 27 do corrente:

... Ou os  nossos portugueses (que vêm do oeste) e que exportam música (Klzemer aportuguesado...) para o leste, para a Europa, Espanha incluída! Amanhã  vão ter "um concerto muito especial em Madrid, na Sala Penélope" (lê-se na sua página do Facebook) , concerto esse que irá ser azpresentado por Fernando Iñiguez, o mesmo que  assina este artigo que a seguir reproduzimos,  no influente El País!


(...) El klezmer es la música tradicional de los judíos del Este de Europa y, curiosamente, la trae esta semana un quinteto que viene de la parte opuesta, de Portugal. Se llaman Melech Mechaya (pronúnciese Melej Mejaya) y la diversión está garantizada con ellos, pues no en vano ese nombre se traduciría como Los Reyes de la Fiesta.

La llegada de los portugueses al  klezmer, poco conocido en su país, y también en toda la Península Ibérica —aquí la tradición judía enlaza más con el legado sefardí—, viene de un dato tan irrelevante como que al clarinetista del grupo, Miguel Verísimo, le pasó su profesor unas partituras antiguas de esa música, y en seguida quedó fascinado.

Y es que el clarinete tiene mucho que ver con ese sonido característico, alegre y dulce, que, junto con el violín —recuérdese la película El violinista en el tejado, con las vicisitudes que pasaron los judíos del Este de Europa entre las dos guerras mundiales del siglo pasado—, servía para divertir en bodas y otras celebraciones.

Melech Mechaya lo junta también con algunas danzas populares portuguesas, creando una suerte de folklore moderno ibérico, muy vivo y dinámico, que ha cristalizado en el disco Strange People (Gente extraña) que presentan mañana. Sus anteriores actuaciones en España se han saldado siempre con un público extenuado que no para de bailar con la alegría de su música instrumental y llena de evocaciones. (...)

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Nota do editor:

quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco - I

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 26 do corrente:

Meu Caro Luís Graça,  Camarada.

Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade.
Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13.

Noutro anexo, envio uma fotografia aérea de Bissorã, para o caso de achares que, no texto original, a deves redimensionar.
 




2. Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13):  O fadista regressa ao palco

[, foto à esquerda. o jovem aprendiz de enfermeiro, 1968, Hospital Militar Principal, Lisboa]

Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã.

Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”.

O Dr. Oliveira, deixemos lá o alferes de lado que ele era médico, não era militar, começava as manhãs na nossa enfermaria e, depois do almoço, preenchia as tardes com umas consultas na enfermaria civil.
– Ó Pires, temos um problema, pá.

Temos, era um eufemismo por ele muito usado,  sempre que pretendia dizer que EU tinha um problema. Contou-me que com um elevado sentido de oportunidade, e aqui que o senhor das almas me perdoe, o senhor enfermeiro civil morrera pouco antes da nossa chegada.

Num ápice, quem passou a ter um problema,  foi o Maltez, meu soldado maqueiro, a quem eu mandei avançar ao reconhecimento. O Maltez era uma espécie de “pau para toda a obra”, de quem e de cujos méritos falarei em tempo mais oportuno.

A enfermaria civil era uma casa térrea mas arejada, com gabinete médico, área de internamento para 12 camas, e uma dependência onde funcionava a enfermaria do Rodrigues. Comecei logo por embirrar com esta separação. Isto é, enfermaria dos operacionais para um lado, a da CCS para o outro. E no caminho que vinha fazendo pelo meio da vila,  dei comigo a embirrar com tudo o resto.

Já o escrevi, em Bissorã não existia quartel. O quartel é, por definição, pelo menos na minha definição, um espaço delimitado em cujo interior se concentram homens, instalações e serviços. Bissorã era assim como que uma espécie de “cidade” abandonada pelos civis, cujas casas foram, convenientemente, ocupadas pelos militares.

E no meu fraco entender, isto em nada facilitava o tal “espirito de corpo” muito propagandeado nas directivas militares. Para me fazer entender, socorro-me de uma fotografia aérea de Bissorã, de autoria do Cap Carlos Oliveira, e que devidamente autorizado retirei do “website” leoesnegros.com.sapo.pt/



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 > Vista aérea



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 A > Vista aérea (parcial)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 B > Vista aérea (parcial)

Foto: Cortesia da página do © Carlos Fortunato > CCAÇ 13, Leões Negros  > Guiné - Bissorã  [Edição: LG e AP]

Legendas [Armando Pires]:

1 – Caserna da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
2 – Sede da Administração de Bissorã
3 – Enfermaria civil
4 – Messe de oficiais
5 – Secretaria da CCS, Transmissões e espaldões de morteiros
6 – Casernas e refeitório da CCS
7 – Quartos de sargentos da CCS e bar
8 – Secretaria do comando do batalhão no r/c e quartos dos oficiais no 1º andar
 9 – Clube social e cinema de Bissorã
10 – Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
11 – Quartos de sargentos da CACÇ 2444, depois da CCAÇ 13
12 – Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto
13 – Messe de sargentos
14 – Campo de futebol.

Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.

Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).

Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".

Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.




Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné >  O furriel miliciano João Rebola na “nossa” motorizada.

Numa vertiginosa sucessão de factos ocorridos após “a decapitação” do comando do batalhão, o major Candeias, que foi direitinho a Bissau, foi substituído nas operações pelo, entretanto promovido a major, capitão Alcino, que era o comandante da CCS, chegando para ocupar o seu lugar o senhor capitão Luís Andrade Barros.

Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
"Olha para onde vens tu, ó Barros!", pensei eu, ao mesmo tempo que atalhei aquela espécie de música para encantar meninos, fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.

O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.

O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.

Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.







Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS


Fotos (e legendas): © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados

E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E,  com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.

Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.

Só não acabou a história.

Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

19 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...) 

23 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)

10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!

(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)

30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...) 



(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro, 
ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...) 



(...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.  (...) 

3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou

(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.  Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.  (...)

(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...) 

7 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

(...) - Então doutor, o puto safa-se?

Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...) 


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)