Meu Caro Luís Graça, Camarada.
Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade.
Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13.
Noutro anexo, envio uma fotografia aérea de Bissorã, para o caso de achares que, no texto original, a deves redimensionar.
2. Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco
[, foto à esquerda. o jovem aprendiz de enfermeiro, 1968, Hospital Militar Principal, Lisboa]
Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã.
Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”.
O Dr. Oliveira, deixemos lá o alferes de lado que ele era médico, não era militar, começava as manhãs na nossa enfermaria e, depois do almoço, preenchia as tardes com umas consultas na enfermaria civil.
– Ó Pires, temos um problema, pá.
Temos, era um eufemismo por ele muito usado, sempre que pretendia dizer que EU tinha um problema. Contou-me que com um elevado sentido de oportunidade, e aqui que o senhor das almas me perdoe, o senhor enfermeiro civil morrera pouco antes da nossa chegada.
Num ápice, quem passou a ter um problema, foi o Maltez, meu soldado maqueiro, a quem eu mandei avançar ao reconhecimento. O Maltez era uma espécie de “pau para toda a obra”, de quem e de cujos méritos falarei em tempo mais oportuno.
A enfermaria civil era uma casa térrea mas arejada, com gabinete médico, área de internamento para 12 camas, e uma dependência onde funcionava a enfermaria do Rodrigues. Comecei logo por embirrar com esta separação. Isto é, enfermaria dos operacionais para um lado, a da CCS para o outro. E no caminho que vinha fazendo pelo meio da vila, dei comigo a embirrar com tudo o resto.
Já o escrevi, em Bissorã não existia quartel. O quartel é, por definição, pelo menos na minha definição, um espaço delimitado em cujo interior se concentram homens, instalações e serviços. Bissorã era assim como que uma espécie de “cidade” abandonada pelos civis, cujas casas foram, convenientemente, ocupadas pelos militares.
E no meu fraco entender, isto em nada facilitava o tal “espirito de corpo” muito propagandeado nas directivas militares. Para me fazer entender, socorro-me de uma fotografia aérea de Bissorã, de autoria do Cap Carlos Oliveira, e que devidamente autorizado retirei do “website” leoesnegros.com.sapo.pt/
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 > Vista aérea
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 A > Vista aérea (parcial)
Foto: Cortesia da página do © Carlos Fortunato > CCAÇ 13, Leões Negros > Guiné - Bissorã [Edição: LG e AP]
Legendas [Armando Pires]:
1 – Caserna da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
2 – Sede da Administração de Bissorã
3 – Enfermaria civil
4 – Messe de oficiais
5 – Secretaria da CCS, Transmissões e espaldões de morteiros
6 – Casernas e refeitório da CCS
7 – Quartos de sargentos da CCS e bar
8 – Secretaria do comando do batalhão no r/c e quartos dos oficiais no 1º andar
9 – Clube social e cinema de Bissorã
10 – Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
11 – Quartos de sargentos da CACÇ 2444, depois da CCAÇ 13
12 – Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto
13 – Messe de sargentos
14 – Campo de futebol.
Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.
Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?
Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?
Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).
Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".
Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?
Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.
E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.
Numa vertiginosa sucessão de factos ocorridos após “a decapitação” do comando do batalhão, o major Candeias, que foi direitinho a Bissau, foi substituído nas operações pelo, entretanto promovido a major, capitão Alcino, que era o comandante da CCS, chegando para ocupar o seu lugar o senhor capitão Luís Andrade Barros.
Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.
Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?
Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?
Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).
Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".
Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?
Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.
E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné > O furriel miliciano João Rebola na “nossa” motorizada.
Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
"Olha para onde vens tu, ó Barros!", pensei eu, ao mesmo tempo que atalhei aquela espécie de música para encantar meninos, fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.
O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.
O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.
O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.
Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.
Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS
E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E, com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.
Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.
Só não acabou a história.
Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
______________
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.
O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.
O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.
O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.
Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.
Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS
Fotos (e legendas): © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados
E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E, com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.
Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.
Só não acabou a história.
Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
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Nota do editor:
Postes anteriores da série:
19 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"
(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...)
23 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando
(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)
10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!
30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade
(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)
- Ó Pires, sabes quem está aqui?
A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...)
24 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11974: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (8): Ainda Bula, 1969: Fotos do meu álbum
ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...)
25 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11869: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (7): O meu adeus a Bula
(...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)
14 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11567: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (6): Léopold Senghor, o poeta, ou lembranças da Ala dos Namorados
(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer. (...)
3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou
3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou
(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)
5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)
Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...)
9 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10354: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (1): A estreia de um fadista ou a desesperança do Esperança, no EREC 2454, do cap cav Manuel Monge
(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.
Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)
12 comentários:
Camarada (e bom amigo), "furriel enfermeiro, ribatejano, fadista"... e mais tarde, radialista, jornalista, e agora grã-tabanqueiro:
Não queria dececionar-te deixando para amanhã, sexta-feira, a publicação do teu poste nº 13 da tua já emblemática e popular série, sempre bem comentada...
Porque... Furriel enfermeiro, ribatejana e fadista só há um o Armando mais nenhum!...pelo menos, só houve um, de Bula a Bissorã, no tempo que foi o nosso (1969/71)... E a propósito, apanhaste em Bissorã um rapaz alteirão chamado Carlos Foprtunato, que fazia parte da CCAÇ 2591 e que veio connosco, CCAÇ 2590, no memso "cruzeiro", o do Niassa, que partiu de Lisboa a 24/5/1969... Ele foi fundar a CCAÇ 13, e nós, a CCAÇ 12...
Caprichei, mesmo tendo que faltar ao lançameto do livro da nossa amiga Catarina Gomes, "Pai, tiveste medo ?", que deve estar a decorrer por esta hora, na FNAC Chiado... Já não vou a tempo, porque não tenho o carro, neste momento... Sei que o Zé Teixeira, o Tiago e o Moutinho, que vieram, expressamente do Porto, vão ficar tristes, além da Catarina... Mas ele dias complicados...
Fiz questão de "postar" o teu texto em dia de aniversário, e ainda antes do sol se pôr... Afinal, esmeraste-te para o ter pronto, e oferecê-lo a ti mesmo, e a todos os teus leitores, logo neste dia...
Tive em bom apreço o que me escreveste (e que era também um pedido, não uma cunha):
"Meu Caro Luís Graça, Camarada.
Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade. Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13."
Pois, eu na qualidadfe de editor (e de teu leitor) não me limitei a ultimar a edição do teu poste como "caprichei" em listar-te todos os postes anteriores...
Afinal, tu mereces, pela originalidade, estilo, verve, bom humor e garra com que nos devolves as tuas memórias do tempo de Bula e Bissorã...
Faço votos para que tenhas um dia também ele redondo, cheio de ideias estimulantes, positivas, associadas a esperança, saúde, sabedoria, vida ativa, produtiva, proativa... Quem disse que a idade não perdoa ? Vamos lá romper com essa deprimente filosofia de senso comum... Mas também é verdade... que o
tempo não volta p'ra trás...E será que tinha graça voltar para trás ?
Um xicoração, amigalhão!
Meu Caro Luís.
Não te agradeço porque soar-te-ia a ofensa.
Já te conheço. Já nos conhecemos.
O texto era para estar pronto antes, bem antes, da data prevista.
Mas uma série de imponderáveis, nada simpáticos, confesso, comprometeram o prazo.
Acredita que ao enviá-lo ontem foi como que um desespero.
Foi em desespero de causa.
Deixa-me apenas que te dê um abraço, daqueles que só nós sabemos o que levam lá dentro.
armando pires
Olá Armando Pires.
Normalmente eu não escrevo ou comento no blogue porque pura e simplesmente o Henrique se encarrega de o fazer .É que segundo ele e se intitula como "blogue-ó-dependente dos camaradas da Guiné". E também porque tem muito mais a comunicar do que eu ,muito embora eu tivesse passado cerca de nove meses juntamente com meu filho em Bissorã na companhia do Henrique.
Bom é por isso mesmo que hoje resolvi comentar este seu poste. Precisamente por termos estado na mesma região da Guiné (Bissorã) e também pela coincidência de termos nascido no mesmo ano e dia. Por tal partilhamos o aniversário. Bom , só me resta desejar a continuação de um bom aniversário e Felicidades.
Claro que desejo de igual modo um feliz aniversário aos restantes aniversariantes deste dia 27/03/2014.
Dulcinea (Ni)
Dulcineia Rocha, grato pela sua disponibilidade.
Obrigado pelos votos que, naturalmente, lhe retribuo.
armando pires
Caro Armando
Não vou, aqui, referir-me ao teu aniversário. Para isso socorri-me de outros locais. Mas vou comentar este teu trabalho....
Tivemos então exigências de vedeta? "À capela, não contem comigo!"....
Ora, ora, cá p'ra mim, já tinhas a 'coisa' combinada com o Rebola e a 'cena' do alegado 'quase atropelamento' foi apenas uma peça para induzir nos mirones um aparente 'afastamento'...
Bem, pelo que contas, e nada tenho a objectar, as sessões de fados foram mesmo um êxito, com casa cheia, com respeito e atenção e com continuidade, pelo menos enquanto foi possível.
Pelas fotos que estão no final e que mostram o Bar de Sargentos e sua decoração, que até tem tema de fado, pode-se ver como em alguns locais foi possível criar ambientes que até parece que as situações de guerra não estavam à porta. Claro que sim, que estavam, mas enquanto se podia usufruir de algum bem-estar porque não fazê-lo?
Engenho e arte, em boa dose, conseguem 'milagres'.
Abraço e parabéns!
Hélder S.
Muito bom o artigo. Parabéns. Me ajudou bastante na pesquisa de história da Guiné. Continue postando!
Meu caro Armando, querido amigo:
Mais um belo "fresco" sobre Bissorã e seu ambiente militar. Gulosamente saboreei as imagens e o texto, as minhas memórias do lugar se avivaram e até dei comigo a sentir saudades daquele tempo. Raio de memória esta, como se pudesse ter saudades dum tal tempo, tempo de dor, de angústia e de trevas!
Também eu senti Bissorã como um lugar especial no contexto daquela guerra. Lá estive durante um ano (out/65 - out/66), talvez uns três anos antes de ti.
Vila aberta, sem vigilância especial a não ser uns quatro ou cinco postos de "segurança" noturna nas estradas, nos pontos de entrada na vila, postos estes guarnecidos por alguns milícias armados de "Mauser" (como se o IN, se quisesse entrar, se servisse das estradas!). O único local cercado por arame farpado era o quartel (onde nunca vivi), situado no centro da vila. A minha vida passada em Bissorã ficou recheada de "duches frios", quando não gelados. É que a segurança sentida na vila desaparecia logo que desta nos afastássemos algumas centenas de metros. Um morto e um ferido grave na minha CCaç.1419 são a prova do que digo. A vila não ser atacada era para mim um "mistério". Era tão fácil, até poderiam atacar a residência onde morava, não tínhamos qualquer tipo de vigilância noturna. Cheguei a uma conclusão, a de que a situação convinha ao IN. independentemente de se considerar que, na altura, as suas fraquezas lhe não permitissem grandes voos no caso de resolverem atacar.
Por fim, quero salientar três das legendas da foto.
7. A tua "morança" também foi a minha enquanto estive em Bissorã.
12. O "restaurante" da D. Maria também foi o "meu", já então funcionava para os sargentos nos mesmos moldes que referes.
8. No meu tempo este edifício era um estabelecimento comercial, com residência dos donos no 1º andar.
Foi aqui, numa recepção oferecida pelos comerciantes locais, que decidi responsabilizar-me pela vida de uma criança balanta-mané de cinco anos(?). Foi, afinal, o facto mais marcante da minha comissão, a minha grande medalha recebida como combatente. Continuo a "usá-la", orgulhosa e gostosamente. Já está com uns bons anos, a "medalha", fez em Janeiro 53. Refiro-me ao menino Adilan (nome original), registado José Manuel Sarrico Cunté; como eu costumo dizer, um querido "irmão" das minhas filhas e "tio" dos meus netos (é assim que eles se tratam mutuamente, apesar de legalmente não haver qualquer vínculo).
Um fraternal abraço
Manuel Joaquim
Já agora, Armando, qual era o teu reportório de fados, na épcoa ? E, às tantas da noite, não se cantavam ou entoavam também umas baladas, mais desalinhadas ? Por exemplo, o fado de Coimbra, não chegava a Bissorã ? E paródias, do tipo "Canções do Niassa ? Paródias de canções em voga, com letras da malta cacimbada ? Já aqui publicámos algumnas...
Camarada Armando Pires
Grande levantamento da "cidade" de Bissorã, talvez do melhor que se tem visto em relação aos locais onde a tropa esteve.
De qualquer modo e para comparação, vou descrever a diferença entre a vossa data, e a nossa da Cart.643, de Junho de 64 a finais de 65.
1 - certo
2 - certo
3 - Enfermaria civil e militar
4 - Quarto dos oficiais
5 - certo
6 - certo mais parque-auto
7 - Casa civil
8 - Loja r/c e hab. Sr.Gardete 1ºa
9 - Casa Civil
10- Quarto Sargentos
11- Casa Civil
12- Casa Civil
13- Certo
14- Certo
De notar que no nosso tempo estava só uma companhia, como tal não havia necessidade de mais equipamento.
Rogerio Cardoso
Cart.643-AGUIAS NEGRAS
Caro Armando Pires , (Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista).Também estive em Bissorã, uns dias apenas, por volta de MAI/JUN70, para onde fui enviado, enquanto aguardava marcação de embarque para a Metrópole para comandar a CCS do Batalhão, em substituição do Cap. Luis Andrade Barros, do meu curso da Academia Militar que já tinha o embarque dele marcado. Foram realmente apenas alguns dias, razão porque não me lembro de ninguém. Na foto do bingo é precisamente o Capitão Barros que está presente. Parabéns pelo aniversário muita saúde e um abraço deste amigo que provàvelmente ainda foi seu comandante de Companhia por alguns dias. Hilário Peixeiro
Desta vez a escrita foi mais sóbria, mais uma passagem sobre os idos de Bissorã, apesar da magnífica iniciativa, e da tua importante colaboração, para as noites cosmopolitas daquele paraíso. Ou resort.
E como quem fala assim não é gago, que é uma tentativa metafórica para te referir que o texto revela muito boa qualidade, faço votos de que possas transmitir-nos muitas e boas surpresas locais, universais, até mesmo as transcendentais.
Junta aí outro abraço
JD
Armando Pires
29 mar 2014 23:24
Meu Caro Luís.
Lamento desiludir-te.
O meu "reportório" era constituído pelas letras do fado de Lisboa, algumas arrimadas às musicas dos fados clássicos (mouraria, corrido, dois tons...) porque os mais fáceis de apreender e de tocar por quem do fado de Lisboa não conhecia uma nota.
Creio que já cheguei a dizer que o furriel Dias, nado e criado em Coimbra, era fado "coimbrão" que tocava mas que, lá em Bula, para me poder acompanhar, mudou as notas.
Hoje, em Coimbra, não há quem não conheça o seu conjunto de guitarras de fado de .... Lisboa.
Lembro-me, sim, da malta já altas horas, e com três dedos de Johnnie Walker a mais, cantar, à capela, tudo o que lhes vinha à cabeça, mas, sinceramente, não consigo recordar-me que alguma coisa que faça sentido.
Creio que, em Cascais, quando foste ao almoço da Tabanca da Linha, aflorámos este assunto um bocado pela rama.
A malta "do meu tempo" não deixou nada de notável para o cancioneiro da Tabanca Grande.
Um abraço.
armando pires
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