Foto: Página do Facebook "Quem Vai à Guerra" (documentário de 2011, da realizadora Marta Pessoa) (Com a devida vénia.)
Brasil > 2012 > Grupo de militares portugueses e suas esposas, em visita a diversos estabelecimentos do exército brasileiro, no qual se incluiu o cor art e docente da Academia Militar, Morais da Silva. Foto reproduzida com a devida autorização do autor. A senhora assinalada com círculo a vermelho foi identificada pela Maria Arminda Santos como sendo a Ercília Ribeiro Pedro (*).
Foto (e legenda): © António Luís Morais da Silva (2012 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]
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Ercília (Fonte: página do Facebook de Fernando Miranda, com a devida vénia |
1. Durante a guerra de África, guerra do ultramar ou guerra colonial, formaram-se 46 enfermeiras paraquedistas, depois graduadas em alferes ou sargentos... Num total de 9 cursos, o último já em 1974 (que apenas formou uma enfermeira, que já não chegou a ser mobilizada). Só nos primeiros quatro cursos, de 1961 a 1964, formaram-se 58,7% dos efetivos (n=27) (*).
A Ercílio Ribeiro Pedro é do 2º curso (1962). Sabemos pouco sobre a sua biografia. O nome completo, de casada, é Ercília Conceição Silva Ribeiro Pedro. Provavelmente foi curta a sua "carreira" como enfermeira paraquedista. Logo em 1962 foi mobilizada para Angola e era a única mulher, militar, no seio do BCP 21.
Foi o teatro de operações que mais a marcou, Angola, não tendo estado em mais nenhum outro, presumimos nós, porque entretanto se casou, em Luanda, com um paraquedista, Ribeiro Pedro.
Recorde-se que as enfermeiras paraquedistas, ao tempo, e pelo menos até 1963. tinham que ser solteiras ou viúvas sem filhos, tal como as restantes enfermeiras. Admitimos a hipótese que a Ercilia tenha continuado a trabalhar como enfermeira do Hospital Militar da Força Aérea.
No livro coletivo "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (ed. lit., Rosa Serra) (Porto, Fronteira do Caos Editores, 2014, 2ª ed., 439 pp.), a Ercília tem 3 contribuições memorialísticas, todas relativas à sua comissão em Angola, integrada no BCP 21:- Viagem para um destino exótico (pp. 164-1760);
- Um jovem alferes sem interesse pela vida (pp. 276-278);
- Uma ida ao "cabaret" (pp. 361/363).
A minha inscrição na Força Aérea como enfermeira paraquedista veio alterar e condicionar todo o resto da minha vida. E sempre para o Bem...
Este foi um tempo de sonho, onde valores que muito prezo como o da Amizade e da Solidariedade, estiveram sempre presentes. Mas nessa etapa da minha vida também houve dificuldades, sobretudo quando sofri a dureza da formação, em Tancos, e quando experimentei, pela primeira vez, em Angola, o quão amarga é por vezes a profissão de enfermeira no tratamento de feridos de guerra.
Mas essaas dificuldades e amarguras foram a têmpera para moldar e reforçar o meu ânimo, por forma a poder mais tarde enfrentar obstáculos, contrariedades e riscos difíceis de imaginar, mas que passaram a ser as constantes da minha vida.
Posso afirmnar, sem qualquer dúvida, que foi este período militar das Tropas Paraquedistas que me fortaleceu como ser humano e como enfermeira.
Costumo dizer, por brincadeira, que cumpri o meu serviço militar obrigatório nas Tropas Paraquedistas. Depois, namorei e casei com um militar paraquedista, e fiz questão que o enlace ocorresse na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Luanda, onde ia rezar pelos "meus doentes e pelos meus feridos", quando era "alferes enfermeira paraquedista".
Terminada a guerra do Ultramar, e sendo os meus filhos já adultos e independentes, imbuída do espírito altruista e de missão que criara nas Tropas Paraquedistas, decidi abraçar o voluntariado, fazendo missões humanitárias integradas em várias ONG...
Estive no meio de várias guerras: no Iraque, durante a guerra do Golfo; depois na Guiné (Boé) e em Angola no tempo da guerra civil, e em Timor e Moçambique.
Em todas estas missões passei frequentemente por situações de grande risco e tive de assumnir pesadas responsabilidades. Mas sempre me saí muito bem... Consegui lidar com essas situações pondo em prática o que tinha aprendido e vivido na Força Aérea como enfermeira paraquedista em África,
E assim decorreu uma vida - a minha vida... Hoje, quando a recordo, posso afirmar que tenho muito orgulho do meu passado.
Ercília
Excerto de: "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (ed. lit., Rosa Serra), 2ª ed. (Porto, Fronteira do Caos Editores, 2014), pp. 393/394. (**)
(Revisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 2 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27079: (De)Caras (237): Ercília Ribeiro Pedro, ex-enfermeira paraquedista, do 2º curso (1962), reconhecida pela Maria Arminda em foto de grupo, tirada no Brasil, em 2012, e pertença do álbum do cor art ref Morais da Silva