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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23879: História de vida (51): sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra) - IV (e última): A última comissão, Moçambique, 1973: "Bem-vindos a Mueda, terra da guerra, aqui vive-se, trabalha-se e morre-se"



Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saiem. Adeus checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito.


Foto (e legenda): © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
 


Rosa Serra, em Ponte de Lima,
24 de agosto de 2020.
Foto: António Mário Leitão (2020)




Rosa Serra, ex-alf enf paraquedista
(Guiné, 1969/79; Angola, 1970/71;
Moçambique, 1973)


1. A Rosa Serra, natural de Vila Nova de Famalicão,   fez o curso geral de enfermagem no Porto, tendo aí conhecido a veterana Maria Ivone Reis (1929-2022), em 1967,  quando esta andava a recrutar jovens enfermeiras para a FAP. Fez o 45.º curso de paraquedismo, sendo "brevetada" em 13 de março 1968. Foi graduada em alferes enfermeira paraquedista.  

Conheceu os três teatros de operações da "guerra do ultramar": Guiné 1969-70, Angola 1970-71, e Moçambique 1973. Passou  à disponibilidade em 1 de março de 1974.   Vive em Paço de Arcos, Oeiras. É membro da nossa Tabanca Grande desde 25/5/2010. É coordenadora literária e coautora do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2.ª edição, Porto, Fronteira do Caos, 2014, 439 pp. 

Está a ultimar um livro com a sua história de vida como enfermeira e enfermeira-paraquedista. Por cortesia sua, temos estado a reproduzir um texto inédito seu, de 21 páginas, que nos chegou às mãos através de um amigo e camarada comum, o Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970-72), membro da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo), Lourinhã. Apresentamos  hoje a IV (e última) parte. E ficamos gratos aos dois,




Fotos do álbum de Rosa Serra (cedidas à realizadora de cinema Marta Pessoa, autora de "Quem Vai à Guerra" (2011) (Produção: Real Ficção; duração: 123 minutos)

Fonte: Arquivo Enfermeiras Pára-quedistas / Álbum de Quem Vai à Guerra (Facebook)...

Fotos (e legenda): Marta Pessoa / Quem Vai à Guerra (Facebook) (2011) (Reproduzidas com a devida vénia)... Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



História de vida (excertos): sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra)

IV (e última) Parte: A última comissão, Moçambique, 1973: 
"Bem-vindos a Mueda, terra da guerra, aqui vive-se, trabalha-se e morre-se"


A minha última comissão foi feita em Moçambique, não em Lourenço Marques, não em Nampula, não em Tete, mas sim no Alto dos Macondes, Mueda. Aí logo que aterrávamos, víamos uma tábua pendurada numa árvore a dar-nos as boas vindas. Que dizia: "Bem-vindos a Mueda, terra da guerra, aqui vive-se, trabalha-se e morre-se". …Muito animador para quem lá chega pela primeira vez .….!

Foram poucas as enfermeiras paraquedistas que por lá passaram. A primeiras foi a Enfermeira Ivone Reos que foi conhecer o espaço e se havia condições para irem enfermeiras para lá.

O senhor general Neto, que conhecia tão bem o nosso trabalho na Guiné, achava que as enfermeiras faziam lá muita falta. Assim começaram a ir para lá enfermeiras.

As primeiras que foram eram enfermeiras inexperientes em prestar cuidados a feridos de guerra, nunca tinham estado em nenhum lugar antes. Era assim a sua primeira comissão no Ultramar. 

Mueda era um local assustador pelo seu isolamento, toda o espaço estava rodeado de arame farpado, não havia habitação para elas, dormiam na casa dos médicos, onde existia um quarto com duas camas para as duas enfermeiras lá destacadas, os naturais masculinos de Mueda sempre de olhar carregado e desconfiado, e pouquíssimo simpáticos. 

No início havia algumas mulheres brancas esposas de militares lá colocados, que mais tarde tiveram de sair, quando Mueda começou a ser atacada. As checas (novatas) enfermeiras sofreram bastante pelo isolamento, pela monotonia alimentar, porque nunca lhes tinham entregue um corpo desfeito embrulhado numa capa impermeável, uma alimentação monótona nada saborosa,  enfim,  um local nada aprazível para se viver. Só tiveram sorte porque não apanharam a fase dos ataques a Mueda.

Na minha opinião, foi uma má decisão enviarem enfermeiras individualmente e todas elas muito jovens e para a primeira comissão feita no Ultramar.

Foi lá que a minha colega Cristina foi atingida por uma arma inimiga, quando foi fazer uma evacuação, a um aldeamento ali próximo. Segundo o seu relato, regressava de uma evacuação com um ferido a bordo e,  sem que nada fizesse prever,  de repente sentiu,  como ela diz, tipo coice, junto a uma orelha e instintivamente levou a mão ao local e verificou que estava com sangue. Ao mesmo tempo que o piloto nervoso, informa com voz alterada que estava sem comandos. Ela tentou acalmá-lo dizendo; 

–   Já estamos com a pista à vista,  aguenta o avião que lá chegaremos.

Ele responde:

  O pior é que ele pode assapar antes de chegar ao planalto, onde a pista inicia.

E ficou em pânico, quando se virou para trás e vê o sangue junto à orelha da enfermeira. Ficou de tal forma nervoso que,  com voz alterada, pede um helicóptero à pista, não obstante a Enfermaria do Setor B (Hospital da frente) ficar a cerca de 200 metros.

Chegada ao hospital os médicos acham estranho não haver porta de saída dum suposto estilhaço e fazem um RX  e qual não foi o espanto de todos, ao verem uma bala que, ao apalpar na nuca, a sentiram de imediato, por baixo da pele. Deram uma leve anestesia local e retiraram a bala, que ela ainda a tem, como recordação. 

Curioso era a sua última evacuação pois ela ia sair da Força Aérea no fim dessa comissão.

Devido a este incidente, enfermeira foi evacuada para Lourenço Marques, onde estava a Direção de Saúde da Força Aérea, que comunicou via rádio para ela ser evacuada para Lourenço Marques.

Nesse mesmo avião embarquei eu, que já tinha viagem marcada para a substituir. Quando lhe perguntam se ela não ficou com algum grau de incapacidade,  ela respondeu; 

–  Não, eu fiquei bem, a bala foi retirada e não fiquei impedida de fazer a minha vida normal.



Moçambique > c. 1973 ? > Cristina Silva > A única enfermeira paraquedista que foi ferida em combate... 

Fonte: Arquivo Enfermeiras Pára-quedistas / Álbum de Quem Vai à Guerra (Facebook)...

Foto (e legenda): Marta Pessoa / Quem Vai à Guerra (Facebook) (2011) (Reproduzido com a devida vénia)... Legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Mas encontrei outras enfermeiras possuidoras de dignidade muito elevada. Uma delas foi a enfermeira Mariana. Eu só a conheci em Mueda, só lá estávamos as duas, na dita casa dos médicos onde tínhamos um quarto com duas camas, um caixote estreito com um fio por dentro onde podíamos pendurar as poucas peças de roupa que tínhamos, e um outro fio por fora onde estava enfiado um pano que servia de porta para que, a nossa roupa não apanhasse pó.

Um dia a Mariana foi fazer uma evacuação e,  logo que o pequeno DO-27 aterrou na pista, ainda com o ferido a bordo começou um ataque á pista. O piloto sai do avião a correr, abandonando o avião e protegendo-se atrás de uns bidons cheios de arreia que cercavam a pista.

A enfermeira paraquedista Mariana não lhe seguiu os passos e ficou dentro do avião. Ela tinha bem a noção do seu dever ético, e não deixou sozinho o ferido. Só mesmo quando tudo acalmou é que saíram da aeronave e o ferido seguiu para o Hospital.

Um dia tivemos uma surpresa. Demos de caras com o nosso capitão paraquedista Saramago, que foi para lá destacado, para nos proteger. Uma das primeiras coisas que ele fez foi construir um abrigo subterrâneo logo á entrada da casa dos médicos, pois os abrigos existentes ficavam distanciados só no AM-51 e,  se fugíssemos para lá,  havia fortes possibilidades de sermos apanhadas pelo caminho.

Certo dia, num fim de tarde quando os helicópteros já não voavam e nós tentávamos esquecer as evacuações desse dia, começam os morteiros inimigos a disparar de forma raivosa, direcionados para a casa dos médicos, e para o hospital. A casa ficava separada do hospital pela placa do helicóptero. Todos fomos para o abrigo. Nesse dia tinha chegado um médico novo. Passado poucas horas da sua chegada, quando Mueda começa a ser atacada. Todos nós nos recolhemos no abrigo. Pouquíssimos minutos depois, o médico checa (novato), desabafa, dizendo:

– Sinto as pernas a tremerem,,,

E, logo se ouve uma voz dizendo;

–  É da trepidação.

 E todas as vozes em tom calmo e solidária, ressoam: 

–  Estamos todos iguais, isto já passa.

Mueda era assim, insegura, um acentuado isolamento, uma monotonia alimentar grande, de lá ninguém saía gordo, mas toda a população militar era altamente solidária.

Houve uma situação grave que levou os médicos a ficarem de vigia durante a noite à porta do quarto das enfermeiras. Tínhamos um sr. local, que limpava as partes comuns e os quartos dos médicos

Era um homem alto, com cara de poucos amigos, cujo nome já não me lembro. Um dia soube que a enfermeira Mariana iria fazer uma evacuação para Lisboa. Abordou-a e pediu-lhe para ela comprar um fio de ouro. Quando a Mariana chegou,  ele perguntou-lhe pelo fio. Ela respondeu que não o comprou não teve tempo nem dinheiro para o fazer.

Ele olhou em redor e,  ao verificar que não havia ninguém por perto, ficou com cara de mau, e disse-lhe que a matava e que,  pelo facto de não dormir lá, ele arranjava maneira de o fazer. Ela virou-lhe as costas e,  logo que ele saiu de casa, ela contou ao dr. Requeijo que era o Diretor da enfermaria de Setor B (Hospital da Frente).

Ele fez logo uma escala se serviço de vigilância ao quarto das enfermeiras. Às vezes eu brincava com ela e dizia-lhe:

–  Dorme, Mariana, o nosso Anjo da guarda está sentado numa cadeira à nossa porta e, apesar de ser anjo,  está com uma arma na mão, e só de lá sai quando outro anjo aparecer para o substituir.

Depois pensava se isto acontecesse com as enfermeiras checas, elas logo que pudessem saíam e diziam adeus à Força Aérea para sempre.

Quando se fala do hospital de Mueda, é incorreto. É apenas uma enfermaria do Setor, neste caso o setor B onde existia uma sala operatória, uma pequena enfermaria com 35 camas, um gabinete de RX. Os feridos chegavam e ao fim de 35 a 42 horas eram evacuados para Nampula ou excecionalmente para Lourenço Marques.

Era um ambiente pesado, todo o planalto estava cercado de arame farpado,  sendo só possível de lá sair por ar, exceto a engenharia, quando tinha de se fazer à picada para levar mantimentos ou armamento para quarteis espalhados pelo vale de Miteda.

Quase todos os dias tínhamos, uma ou outra visita. Uma das mais assíduas era um Capitão do Exército Caritas, que sempre aparecia com um molho de folhas brancas. Eu nunca me aproximei dele para ver o que ele rabiscava. Numa noite eu reparo que ele olhava muito para mim e,  qual não foi o meu espanto,  quando antes de se retirar me entregou a dita folha com a minha cara que ainda a tenho pendurada no meu escritório.

Também nos ríamos quando o dr. Honório começava a declamar em voz alta, os discursos revolucionários, imitando o seu conterrâneo, Amílcar Cabral. Nós ríamos e o dr. Requeijo com um sorriso dizia; 

–  Ainda vais dentro. O Monteiro (Policia da PIDE) lá residente vem ali. 

Então ele continuava ainda mais alto gesticulando durante o seu discurso.

Os Médicos que lá estavam na minha altura eram:

  • Dr. Requeijo (Diretor);
  • Dr. Amarchande (Indiano, não sei escrever o nome);
  • Dr. Honório (natural da Guiné);
  • Dr. Migueis (alcunha o "Boticão", por ser dentista, natural do Porto);
  • Dr. Curchinho, senhor um pouco mais velho que todos nós;
  • Dr. Matos, anestesista;
  • Dr. Francês, anestesista que foi substituir o dr. Matos; 
  • Dr. David (intitulado “o Professor”  por, quando jogávamos ao poker de dados, ele fazia batota, lançando os dados e recolhendo-os rapidamente, dizendo em voz alta o belo resultado obtido, todos ríamos, com gosto, era uma animação).


Tancos > RCP (Regimento de Caçadores Paraquedistas) > 8 de Agosto de 1961 > Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone, Maria de Lurdes (Lurdinhas), Maria Zulmira, Maria Arminda e o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor). Nota: Para completar o grupo das "Seis Marias", falta a Maria da Nazaré que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois.


Foto (e legenda): © Maria Arminda (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Voltando às enfermeiras que deram grande exemplo de trabalho e seriedade...  Outro caso é o da Lurdinhas, enfermeira do primeiro curso (1961),  única enfermeira graduada em sargento cujo nome é Maria de Lurdes Rodrigues que, para os paraquedistas e toda a gente, ficou conhecida para sempre como Lurdinhas.

Nessa altura em Portugal havia um curso mais reduzido, na formação em enfermagem, eram as auxiliares de enfermagem. Tinham menos habilitações académicas, por isso eram graduadas em sargentos.

Mas a Lurdinhas queria saber mais, determinada toma uma atitude: sai da Força Aérea e, à sua custa, matriculou-se no Liceu para fazer os anos exigidos na altura, para poder frequentar o Curso Geral de Enfermagem, entrando de novo na escola que a formou como auxiliar, e só de lá saiu ao fim de três anos com o Curso Geral concluído. Entra de novo na Força Aérea,  agora como Oficial Paraquedista.

A Lurdinhas é um bom exemplo de trabalho, esforço e dignidade. Sempre a conheci como uma pessoa virada para os outros, nunca quis ser o alvo das atenções e de uma seriedade elevada.

Teve atitudes engraçadas,  uma delas foi durante o seu curso de paraquedismo. Pouco tempo depois do início do seu curso, de paraquedismo no RCP, em Tancos, informaram-na para se dirigir ao departamento de contabilidade do Regimento para receber o pré. Sem saber o que isso era, dirigiu-se ao referido serviço, e informa que a tinham chamado. Quando percebeu que lhe iam dar dinheiro ela respondeu, prontamente que ia lá pagar o seu alojamento e a alimentação!

– Aqui ninguém paga, só recebe  responderam. 

Ficou tão atrapalhada e ao mesmo tempo tão contente que que recebeu o que lhe deram e quando foi a sua aldeia,  em Tomar, deu o seu pré às famílias mais pobres. Ela era muito generosa.

Nos factos narrados se alguém em paralelo tiver dúvidas, de tudo quanto foi dito, poderá sempre fazer uma consulta às ordens de serviço do Regimento de Caçadores Paraquedistas em Tancos, ficando a saber quem foram as nomeadas para ministrar esses cursos, de primeiros socorros avançados aos seus camaradas paraquedistas e os acompanhou no estágio feito no Hospital Militar da Estrela. Assim como, quem foi a última enfermeira enviada aos Açores para confirmar a inutilidade da presença das Enfermeiras Paraquedistas naquela Ilha Açoriana.

Esclareço que a opinião desta Enfermeira, foi dada ao Senhor Diretor do Serviço de Saúde da Força Aérea em Lisboa que, logo de seguida,  cancelou a colocação das Enfermeiras Paraquedistas nos Açores.

Também na BA-4, na Ilha Terceira nos Açores poderá eventualmente haver registos, com os nomes das Enfermeiras que lá desempenharam funções e o fim da colocação das mesmas, por ordem da Direção do Serviço de Saúde da Força Aérea de Lisboa.

E até nos ataques a Mueda a Força Aérea e quem lá estava, como por exemplo o general Luís Araújo, antigo Chefe de Estado Maior General das Força Armadas, furriel piloto Nuno Neto filho do General Diogo Neto,  a própria Força Aérea será talvez possuidora de alguns registos visto que os acontecimentos narrados são referentes a 1973, ano em que eu lá estive, e pouco tempo depois dá-se o 25 de Abril.

No nosso RCP,  as suas ordens de Serviço podem também ser consultadas, para saber quem foram as enfermeiras que lá estiveram, embora também possam testemunhar alguns paraquedistas que por lá passaram ou para irem fazer operações ou para serem recolhidos vindo delas. Uns do BCP 31,  outros do BCP 32, dou como exemplo, o hoje, general Chaves Gonçalves, que me lembro de o ver lá.

Rosa Serra, antiga enfermeira paraquedista, 2022


[Seleção /  revisão e fixação de texto / subtítulos / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >


10 de dezenbro de 2022 > Guiné 61/74 - P23862: História de vida (49): Sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra) - Parte II: A guerra e a sua violência... mas também havia situações "engraçadas" (como, por exemplo, quando "eles", em Tancos, tentavam esconder a revista "Playboy" quando eu chegava ao bar de oficiais...)

9 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23858: História de vida (48): sinto-me muito realizada e feliz por ter sido uma simples enfermeira e, durante a guerra, enfermeira paraquedista (Rosa Serra) - Parte I: A minha mãe achava que eu tinha jeito para ser enfermeira

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23815: Notas de leitura (1522): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
Dando continuidade à exposição que os autores fazem quanto ao elenco de aeronaves que participaram nos 3 teatros de operações, aqui se procede a uma súmula de quem foi quem no combate aéreo, no transporte de seres humanos e armamento, na vigilância aérea durante as operações terrestres, entre outras atividades. Aqui se fala nos helicópteros de que guardamos memória, os Alouette II e III, o Dakota e o DO-27, cada um de nós guarda seguramente memórias de viagens benignas ou associadas a operações ou transporte de feridos. Os autores recordam a doutrina da NATO para a defesa euro-atlântica a como esta se revelou dinâmica na preparação de pilotos que foram confrontados, sobretudo pelos franceses e pelos britânicos do que era o combate à contrainsurgência. Aparentemente, tudo levava a crer nessa fase inicial de que a superioridade aérea não merecia discussão, o fornecimento da sofisticada artilharia e mais tarde dos mísseis terra-ar ainda não estava previsto.
Veremos adiante como se processou a escalada da guerra.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (5)


Mário Beja Santos


Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Depois de sumariar o prefácio, entrámos no primeiro capítulo intitulado “O Vento da Mudança”, verificaram-se as alterações operadas no início da era de descolonização e as consequências que vieram a ter na colónia da Guiné.

Dando continuidade ao capítulo “Aviões com a Cruz de Cristo”, depois de ter falado do Neptune, Invader, Harvard, Sabre e do Fiat G.91, é a vez de introduzir o Alouette II e o Alouette III. O Alouette II, de 5 lugares, foi o primeiro helicóptero a turbina, veio suplantar os motores de pistão mais pesados. Entrou em funções em junho de 1955 e a sua produção acabou 20 anos depois, foi usado em cerca de 50 países. O Alouette II teve grande desempenho na Argélia, no Congo, na Rodésia, bem como na África colonial portuguesa. Este helicóptero chegou ao Montijo em 1957, em 1960 já estava em Angola. O Alouette III beneficiou de algumas melhorias, tinha um motor mais potente e uma maior capacidade de carga (até 6 passageiros ou 2 toneladas de carga). Um piloto português observou que era uma “aeronave extraordinariamente robusta e fácil de pilotar”. Tinha fatores muito positivos do seu lado: exigia apenas meia hora de manutenção a cada hora de voo, possuía maior robustez, e era conhecido por sobreviver a fogo de armas ligeiras e até mesmo disparos de rockets antitanque. O Alouette III fez história durante décadas, andou nos combates no Zimbabué e nos conflitos fronteiriços da África do Sul, na guerra indo-paquistanesa, nos 3 teatros da guerra que Portugal travou em África. A FAP recebeu 142 Alouettes III entre 1963 e 1975, a sua carreira lendária findou em 2020.

O Auster foi muito utilizado na Segunda Guerra Mundial, era uma aeronave multiusos, possuía uma manutenção rudimental; chegou a Portugal em 1961, foram adquiridas 15 aeronaves no Reino Unido e outras 147 foram montadas nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, dos quais 102 estiveram ao serviço operacional em África. Não era muito apreciado por ter uma descolagem um tanto difícil e os pilotos temiam a sua tendência de fazer um loop no solo. No entanto, teve um papel de destaque na fase crucial da guerra. Transportava os feridos, servia como posto de comando e pousava em pistas rudimentares. Foi retirado do serviço da FAP em 1976.

O Broussard foi concebido para satisfazer exigências do exército francês, entrou em serviço operacional na Argélia em operações e missões de busca e salvamento, tendo seguido mais tarde para o Chade. Portugal encomendou 5 aeronaves para entrega em 1960, estiveram ao serviço até 1976. O DO-27 foi produzido em massa na Alemanha. Foi das aeronaves mais apreciadas nos diferentes teatros de operações, pelo seu desempenho, a sua capacidade operacional e a facilidade de manipulação. Precisava de apenas 70 metros para descolar e apenas de 50 para pousar. Entrou ao serviço em dezembro de 1961 e foi retirado em 1979. O Dakota era o nome por que era conhecido no Reino Unido o Douglas C-47, ganhou estatuo lendário pela sua participação nas mais célebres campanhas de transporte aéreo, logo na operação Overlord, o desembarque da Normandia em 6 de junho de 1944. Serviu para transporte de tropas, avião de carga, bombardeiro, avião de reboque planador, transporte de feridos. Entrou na FAP em 1943, esteve na guerra de África e foi retirado em 1976 do serviço da FAP. O Skymaster nunca atuou na Guiné. Foi da maior importância o seu desempenho quando os soviéticos cercaram Berlim, os Skymaster tiveram desempenho fundamental no abastecimento da cidade cercada. Foi a primeira aeronave a seguir para Luanda, perderam-se 3 em acidentes, esteve operativo até 1973.

O DC-6 era o concorrente direto da Douglas com a Lockheed, atuou na guerra da Coreia. Portugal comprou 10 aviões usados DC-6 à Pan American, foi-lhes destinado o serviço ultramarino, viagens entre Lisboa e Moçambique. Esteve operacional até 1978. O Boeing 707 gozou de uma grande popularidade, era o símbolo de uma nova tecnologia e de um moderno design, a Boeing construiu 1000 aeronaves entre 1958 e 1978; possuía variantes militares para vigilância e reconhecimento, comando e controlo. Os TAP adquiriram três 707 para uso comercial, adquiriram-se outros tantos para o serviço da frota transoceânica.

Importa acrescentar que muitas das aeronaves da FAP foram projetadas e fabricadas para cumprir os papéis do poder aéreo segundo a doutrina da NATO. O F-86F, por exemplo, distinguiu-se em combates aéreos contra caças soviéticos; o F-84G foi utilizado por Portugal em Angola; o Neptune foi otimizado para a guerra submarina e o Fiat G.91 foi explicitamente concebido para satisfazer um requisito da Aliança Atlântica. As aeronaves da FAP envolvidas na política de defesa euro-atlântica da NATO tinham base permanente em Portugal Continental e nos Açores.

A adesão à NATO teve um sério impacto nas Forças Armadas e introduziu mudanças radicais na formação, táticas e doutrina. Com o incentivo de Humberto Delgado (adido militar em Washington) e do Chefe de Estado-Maior, General Botelho Moniz, um número crescente de oficiais da Força Aérea esteve em cursos e exercícios no estrangeiro – é a geração NATO, que induziu os comandos das Forças Armadas a mudar a orientação para um uso adequado do poder aéreo. Os principais aliados nesta operação de formação foram a França e a Grã-Bretanha, eram os dois maiores impérios europeus e estavam confrontados com sublevações nacionalistas, tinham larga experiência em campanhas de contrainsurgência. A FAP não possuía experiência de combate para enfrentar estes conflitos armados, enviou oficiais para formação, vieram inclusivamente palestrantes e até docentes que lecionaram no Instituto de Altos Estudos Militares quanto ao papel da aviação em guerra subversiva.

Entre 1959 e 1963, um punhado de oficiais frequentou cursos de teoria revolucionais e contrainsurgência orientadas pelas Forças Armadas francesas, britânicas, norte-americanas e até belgas. Publicaram-se manuais de apoio aéreo na contraguerrilha. A expetativa para a FAP parecia lisonjeira, os franceses na Indochina e na Argélia, os britânicos na Malásia e no Quénia, entre outros, desfrutavam inequivocamente de uma superioridade sobre inimigos que não podiam adquirir ou operar com meios aéreos nem possuíam artilharia antiaérea. Teve-se inicialmente a ilusão de que a FAP só precisava de meios relativamente modestos e que as aeronaves da FAP poderiam ser usadas numa grande variedade de funções.

A evolução da guerra comprovou que era mesmo ilusão, havia que evoluir para adversários cada vez melhor equipados.
Alouette II
O Alouette III foi o mais importante helicóptero utilizado por Portugal em África
A enfermeira paraquedista Maria Arminda dentro de um DO-27
Um Dakota na Guiné

(continua)

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Notas do editor

Poste anterior de 18 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23794: Notas de leitura (1519): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (4) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 24 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23811: Notas de leitura (1521): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 2924 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte III: Salazar, Caetano e as Forças Armadas... (Considerar os capitães milicianos como "voluntários" e "mercenários", raia o insulto, não?!..)

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1929-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



1. A Maria Ivone Reis (1929-2022) deixou-nos, há dias, aos 93 anos (*). 

Era a decana das 46 enfermeiras paraquedistas 
que passaram pelos palcos da guerra do ultramar / guerra colonial, tendo feito parte do 1.º curso de enfermeiras paraquedistas, realizado em Tancos, no BCP, em maio, junho, julho e agosto de 1961, 
o curso das célebres Seis Marias que eram,
 além dela, a Maria Zulmira André Pereira (1932-2010); a Maria Arminda Pereira (n. 1937); a Maria de Lourdes (mais conhecida por "Lourdinhas"); a Maria do Céu (Policarpo); e a Maria da Nazaré (falecida em 9/5/1984). Do grupo inicial de onze voluntárias, só terminaram o 1.º curso, com sucesso, estas seis Marias.

A nossa camarada e amiga Maria Arminda (Santos pelo casamento) passa agora a ser a veterana deste grupo de mulheres excecionais, cuja história de vida deveria ser melhor conhecida de todos nós, portugueses. De qualquer modo, já temos sobre elas (e feito por elas), o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2.ª edição, coordenado pela Rosa Serra (Porto, Fronteira do Caos, 2014, 439 pp.).


No nosso blogue temos, além disso, mais de 130 referências com o descritor "enfermeiras pára-quedistas". E uma série específica, intitulada "As nossas queridas enfermeiras paraquedistas" de que se publicaram até à data 33 postes (**).

Por sugestão do Miguel Pessoa, que é casado com outra querida amiga e camarada nossa, a Giselda (Antunes, apelido de solteira), decidi republicar este depoimento da Rosa Serra, natural de Vila Nova de Famalicão  sobre a Ivone Reis que ela conheceu no Porto, em 1967,  quando andava a recrutar jovens enfermeiras para a FAP.

A Rosa é muito mais nova, fez o 45.º curso de paraquedismo, sendo "brevetada" em 13 de março 1968, e graduada em alferes enfermeira paraquedista. Passou à disponibilidade em 1 de março de 1974 e tem sido, com a Maria Arminda e a Giselda,  uma das mais mais ativas e profícuas autoras de textos sobre a história das enfermeiras paraquedistas e as suas protogonistas. 

Este depoimento (poste P5971) é um bom retrato do perfil humano e psicoprofissional da nossa saudosa Maria Ivone Reis. Aproveitamos, entretanto,  para suprir um lamentável lapso nosso: o seu nome já há muito, desde 2009, deveria figurar na lista alfabatética dos membros da Tabanca Grande. E estávamos convencidos que sim, que lá figurava. Entra agora, a título póstumo, sob o nº 862.  Saibamos honrar a sua memória.


 A Ivone  Reis, a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci

por Rosa Serra


Nós, aqueles que a conheceram e que com ela conviveram em diferentes períodos da sua vida, por diversas razões, não a esquecem e no meu caso pessoal tenho bem presente quem foi a Ivone, como sempre a vi e o que eu aprendi com ela.

A Enfermeira Ivone pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Pára-quedistas portuguesas feito em 1961.

Foi ela que contactou as futuras candidatas, residentes na Cidade do Porto, que em 1967 tinham pedido por escrito à Força Aérea informações sobre cursos para Enfermeiras Pára-quedistas. Foi a Enfermeira Ivone a primeira a deslocar-se ao Porto para conhecer as 4 interessadas na candidatura ao curso, onde eu estava incluída.

Mais tarde, eu, já Enfermeira com boina verde na cabeça, estive em várias comissões com ela. Fazíamos uma grande diferença de idade; eu muito novinha, a Ivone uma senhora cheia de sabedoria e experiência. Logo percebi tratar-se de uma pessoa de princípios e moral muito vincados, nem sempre de fácil contacto, porque o seu grau de exigência era muito elevado, não só para quem estava à sua volta, mas para com ela mesmo.

Não se lamentava do seu cansaço nem de quem a magoasse com qualquer atitude menos simpática; mas também não se inibia de chamar a atenção sobre tudo o que eu ou outra enfermeira qualquer pudéssemos fazer e que ela considerasse pouco correcto, ou até mesmo deselegante.

Fazia gosto e não se poupava a esforços para que todas nós fossemos um exemplo de profissionalismo impecável, cumpridoras de normas militares sem deslizes, posturas e atitudes que se destacassem, de forma a sermos admiradas como grupo.

No meu caso pessoal percepcionei logo na primeira comissão que fiz com ela, a sua forma de estar e o seu rigor no desempenho da sua actividade como enfermeira em ambiente masculino e de guerra.

Várias vezes ela me chamou atenção por pequenas rebeldias insignificantes e atitudes que eu tomava, como entrar no helicóptero para ir fazer uma evacuação com o casaco de camuflado pendurado num ombro, de bolsa de enfermagem no outro e de t-shirt branca; era sabido que quando regressasse logo me dizia do perigo em usar a t-shirt em pleno mato pois tornava-me um alvo bem visível, além do aspecto pouco alinhado no uso do uniforme militar a bordo de uma aeronave.

Eu dizia-lhe para ela não se preocupar, porque eu era um alvo que não interessava a ninguém; e, quanto ao desalinho do casaco pendurado no ombro, um dia respondi-lhe que só o fazia porque tinha calor, não pelo clima da Guiné, que até era “fresquinho”, mas se calhar por estar a entrar em “menopausa” e ela esboçou um sorriso e respondeu-me:

− A menina gosta muito de brincar.

Eu nunca levava a mal o que ela me dizia, apesar de eu ser mesmo uma periquita ao lado dela; sempre soube apreciar as suas qualidades profissionais sobretudo em termos de organização e de uma verticalidade e sentido de dever pouco comuns, mesmo nessa altura.

Mais tarde, em Angola, as enfermeiras colocadas em Luanda viviam num apartamento de um edifício da Força Aérea, destinado a alojar militares e suas famílias. O ambiente era bem mais calmo que o da Guiné, o que nos permitia termos fins-de-semana, irmos à praia, convivermos mais tranquilamente com a comunidade civil ou com famílias de militares.

A Enfermeira Ivone sempre alinhou comigo nas horas de lazer, tal como respeitava se eu não a convidasse para ir comigo quando eu saía com um grupo de amigos ou familiares meus que lá se encontravam na época.

Em Angola eu estava colocada no BCP 21 e ela na Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea. Normalmente eu ia para o Batalhão com farda n.º 2 (saia, camisa e eventualmente blusão) e, claro, boina verde na cabeça. Um dia resolvi colocar num dedo um anel com uma pedra grande verde, que dava um bocado nas vistas; quando ela me viu sair com semelhante adereço, fardada, olhou para o dedo e com ar de espanto diz-me:

−  A Rosa esqueceu-se que está fardada? 

Eu respondi não e acrescentei:

−  Não me diga que não é giro… condiz mesmo bem com o verde da boina. − E  ia mostrando o dedo e dizendo: 
− É lindo, até devia estar orgulhosa de uma Enfermeira Pára-quedista estar assim tão gira.

Ela respondeu-me:

−  Nem por isso −  e virou-me as costas. Acredito que se foi rir às escondidas.

Mais tarde comentámos uma série de peripécias deste género que se passaram connosco e fartámo-nos de rir, e com aquele jeito típico dela, depois destas lembranças e passados tantos anos, acabava por dizer:

−  A menina era muito brincalhona, nunca consegui zangar-me consigo.

Estou a contar estes episódios porque sempre percebi que, por trás daquele ar rigoroso dela, estava uma mulher mais tolerante do que parecia, com uma capacidade de organização espantosa, uma noção de ética muito apurada, muito trabalhadora; e nunca a vi fazer uma crítica desagradável ou fofoqueira de ninguém e nem gostava que as pessoas que a rodeavam o fizessem.

Ao longo de todos estes anos mantive sempre contacto com ela, o que me permitiu tomar conhecimento de um espólio fantástico que ela foi recolhendo dos sítios por onde passou e organizando ao longo dos anos, tendo em vista a divulgação da história das Enfermeiras Pára-quedistas de quem ela tanto se orgulhava e que sempre se preocupou em não deixar cair no esquecimento. Foi sempre um bom exemplo para mim.

Rosa Serra

[Seleção / revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Notas do editor:

(**) Vd. a lista completa dos postes da série;

11 de janeiro de  2015 > Guiné 63774 - P14140: As nossas queridas enfermeiras paraquedistas (33): A minha homenagem a essas grandes mulheres Portuguesas (Abel Santos)

6 de janeiro de 2015 > Guiné 63774 - P14123: As nossas queridas enfermeiras paraquedistas (32): A morte da camarada Enfermeira Paraquedista Celeste Costa (Giselda Pessoa)

12 de dezembro de 2012 > Guiné 63774 - P10791: As nossas queridas enfermeiras paraquedistas (31): "É a Céu!", diz a Rosa Serra... Quanto ao resto, "tudo foi possível naquelas terras de África"...

9 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9168: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (30): Cerimónia de homenagem e comemoração dos 50 anos de incorporação das primeiras Enfermeiras Paraquedistas na Força Aérea Portuguesa (Miguel Pessoa)


3 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8990: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (27): Missão à Índia (II parte) (Maria Arminda)

1 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8976: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (26): Missão à Índia (I parte) (Maria Arminda)



28 de setembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7046: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (22): O Largo do liceu, em Bissau, onde moravam as enfermeiras pára-quedistas (Miguel Pessoa)


31 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6505: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (16): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (3): Maria Zulmira (Rosa Serra)


29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6487: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (14): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (2): Maria Arminda (Rosa Serra)

27 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6478: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (13): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (1): As 11 candidatas (Rosa Serra)


20 de setembro de  2009 > Guiné 63/74 - P4979: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (11): Fartote de hortaliças (Giselda Pessoa)

11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

7 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4295: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (9): O dia-a-dia de uma Enf Pára-quedista na Guiné (Giselda Pessoa)

14 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)

14 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)

8 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher

7 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)

(***) Último poste da série > 18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23274: (In)citações (205): Os nossos livros são as memórias da nossa vida e da nossa passagem pela guerra da Guiné (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

(****) Vd. postes de:


13 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23267: In Memoriam (435): Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022), falecida no dia 15 de Maio de 2022

IN MEMORIAM

Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022)


Soubemos da notícia do falecimento da senhora Enfermeira Paraquedista Ivone Reis através do facebook da senhora Enfermeira Maria Arminda Santos.

À família da nossa querida Ivone Reis deixamos o nosso mais profundo sentido de pesar, assim como às suas camaradas, para as quais a Enfermeira Ivone foi sem dúvida um exemplo a seguir.

No nosso Blogue temos muitas referências à senhora Enfermeira Ivone Reis graças, principalmente, à contribuição de duas das suas amigas, as Enfermeiras Maria Arminda Santos e Rosa Serra.

Em Janeiro de 2021 foram publicados no nosso Blogue excertos de um depoimento de senhora Enfermeira Ivone à Revistá Crítica de Ciências Sociais feito em 2004, através dos quais podemos saber um pouco do muito que dedicou da sua vida em benefícios dos outros:

Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I
e
Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

Tancos > Batalhão de Caçadores Paraquedistas > 26 de maio de 1961 > As 11 candidatas ao 1.º Curso de Enfermeiras Paraquedistas > Da esquerda para a direita, de pé: Cap Pára Cunha, Maria Ivone, Maria da Nazaré (falecida), Maria Arminda, Maria de Lurdes, Maria Margarida Costa, Maria do Céu Bernardes e Major Lelo Ribeiro; na primeira fila, de cócoras: Maria do Céu Policarpo, Maria Zulmira André (falecida), Maria Helena, Maria Margarida Pinto e Maria Irene... (Deste grupo inicial, de onze voluntárias, só ficaram seis...).
Angola > 1961 > A bordo de um Noratlas, com tropas paraquedistas. A Maria Arminda à esquerda e Ivone Reis à direita.
Foto (e legenda): © Maria Arminda (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692 > Dezembro de 1968 > A Ten Enf Paraquedista Maria Ivone Reis e o Alf Art António José Pereira da Costa, posando para a "posteridade"

Foto (e legenda): © António J.P. Costa (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Contribuição da Enfermeira Paraquedista Maria Arminda Santos, no dia 13 de Janeiro de 2012, ano em que a Enfermeira Ivone completava 83 anos:

Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)

Enfermeira Paraquedista Maria Ivone Reis, a segunda a partir da esquerda. Falta a Maria da Nazaré que por motivo de uma entorse ao (4.º salto), acabou dias depois.
Enfermeiras Paraquedistas Maria Ivone e Maria Arminda

Fotos: Maria Arminda Santos. Enf Paraquedista

Contribuição da Enf Paraquedista Rosa Serra:

Guiné 63/74 - P5971: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (12): Ivone Reis, a primeira Enfermeira Pára-quedista que conheci (Rosa Serra)
e
Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

Tancos, 2005 > Enfermeira Paraquedista Ivone Reis
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23162: In Memoriam (434): Sargento Ajudante Manuel Gomes Valente (1938-2022), que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné integrado no BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22814: Facebook...ando (66): Farmácia e Saúde na Guerra do Ultramar - Conferência em streaming no Facebook, amanhã, dia 17, pelas 18 horas, em directo do Museu da Farmácia de Lisboa


O Museu da Farmácia, desde a sua inauguração, que homenageia os militares dos três ramos das Forças Armadas portuguesas (Exército, Força Aérea e Marinha) pelo seu esforço pessoal e profissional - na área da Saúde - em ambiente de guerra. Esta tertúlia especial a realizar em período de Natal e de Paz, traz consigo uma série de testemunhos de pessoas que viveram na linha da frente os murmúrios da dor e os sorrisos da esperança da vida.

Farmacêuticos, médicos, enfermeiros, investigadores e museólogos (todos militares à época), são convidados a partilharem memórias e a fazerem o seu comentário sobre a Farmácia e a Saúde na Guerra de Ultramar, criando assim um diálogo único entre as peças do museu e as suas experiências, em jogos de sombras e em ambiente de conflito armado.

Uma conversa com José Damas Mora, farmacêutico; António Maia Nabais, museólogo; Fernando Reis Lima, médico; Maria Arminda Santos, enfermeira; Mário Beja Santos, escritor e investigador; e Pedro Correia Taveira, enfermeiro.

Modera João Neto, Diretor do Museu da Farmácia.

👉17 de dezembro (sexta-feira) |18h00| em direto do Museu da Farmácia Lisboa, streaming no Facebook.
Informações: museudafarmacia@anf.pt

https://www.facebook.com/events/3135133946723967

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22517: Facebook...ando (65): "Deu-me muito prazer preencher, com as minhas palavras sentidas, as duzentas e dezoito páginas, do meu livro, Um Caminho de Quatro Passos, a ser apresentado, sábado, dia 11, às 11h00, na Tabanca dos Melros (António Carvalho, Medas, Gondomar)

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22124: Recortes de imprensa (116): a série Memórias da Guerra, que está a ser emitida esta semana, desde o dia 19, no Telejornal, da RTP

Memórias da Guerra. 


Há 60 anos começava um dos acontecimentos com mais impacto na História recente portuguesa: a guerra colonial.

Entre 1961 e 1974 foram mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique mais de 1 milhão de militares.

"Memórias da Guerra" é uma série de reportagens sobre pessoas anónimas que tiveram as suas vidas atravessadas pela guerra colonial.

Créditos: Ana Luísa Rodrigues - Jornalista; Diogo Martins e Rui Cardoso - Imagem; Carlos Felgueiras e Sousa - Edição.

Fonte: RTP > Memórias da guerra (com a devida vénia...)


Memórias da Guerra.

[1] O primeiro contingente enviado para Angola

RTP, Telejornal, 19 de abril de 2021 (vídeo: 6' 36'') [Apareceu às 20:54]

Sinopse: 

Custódio Soeiro, natural de uma aldeia do concelho de Arouca, foi um dos soldados anónimos do primeiro contingente militar enviado para a Guerra Colonial em Angola.

Embarcou precisamente há 60 anos e foi nessa altura que a sua história pessoal se cruzou com a História de Portugal.

Esta é a primeira reportagem da série Memórias da Guerra, a emitir esta semana no Telejornal.

Memórias da Guerra. 

[2] As feridas físicas e o stress pós-traumático que persistem

RTP, Telejornal, 20 de abril de 2021 (vídeo: 5' 48'') [Apareceu às 20:45]

Sinopse: 

Os 13 anos de guerra colonial - em Angola, Guiné e Moçambique - provocaram cerca de 15 mil deficientes. Além das feridas físicas e motoras, há também 50 mil ex-combatentes a sofrer de stress pós-traumático. Muitos vivem ainda numa guerra que os acompanha para a vida.

https://www.rtp.pt/noticias/pais/memorias-da-guerra-as-feridas-fisicas-e-o-stress-pos-traumatico-que-persistem_v1313808

Memórias da Guerra. 

[3] As enfermeiras paraquedistas


RTP, Telejornal, 21 de abril de 2021 (vídeo: 5' 29'') [Apareceu às 20:50]

Sinopse:

A Guerra Colonial mobilizou mais de um milhão de militares, quase 90 por cento dos jovens portugueses. Na época, era raro encontrar famílias sem alguém na guerra ou que já tivesse cumprido comissões militares. Houve também mulheres no conflito.

Em África, enfermeiras paraquedistas. Em Portugal, muitas faziam as tarefas até aí feitas por homens.


[Foram entrevistadas as nossas amigas e camaradas da Tabanca Grande Maria Arminda Santos e Rosa Serra por sugestão nossa, feita à jornalista Ana Luisa Rodrigues que nos contactou há um mês com o seguinte pedido: 

 (...) "O meu nome é Ana Luisa Rodrigues e sou jornalista da RTP. Estou a preparar para o Telejornal da RTP1 algumas reportagens para meados de abril sobre os 60 anos da guerra colonial. Sei que dirige um dos mais antigos e visitados blogues sobre o tema e onde há muitos testemunhos e informação. Tendo isso em conta, gostaria de trocar algumas impressões consigo, é possivel?" (...)]

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22116: Recortes de imprensa (115): Relembrando o nosso saudoso amigo e camarada de armas José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (Jornal Público de 18 de Abril de 2021)


quinta-feira, 18 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22015: FAP (123): Em louvor do ex-fur mil pil av António Galinha Dias e da tenente enfermeira paraquedista Maria Zulmira André Pereira (1931-2010) que fizeram a evacuação Ypsilon do cap cubano Pedro Rodriguez Peralta, em 18 de novembro de 1969, na sequência da Op Jove (Jorge Narciso / Maria Arminda)


O ex-fur mil pil av António Galinha Dias 
e a tenente enfermeira paraquedista Maria Zulmira (1930-2010)


1. Comentário, ao poste P22014,  do Jorge Narciso, ex-1.º cabo esp, MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/71, membro da nossa Tabanca Grande, desde 2009:

Abraço para o editor de serviço

Há algum tempo que não passava pelo Blogue, o que por mero acaso resolvi fazer hoje e, surpresa, vejo uma foto minha neste 1.º Post, visível,

Li e percebi a associação dos dois eventos relatados.

Sem aparentemente nada a recordar, notei no entanto a dúvida quanto a quem seria o Piloto da evacuação e lembrei-me que num almoço de convívio de pessoal da BA12 tal assunto veio à baila e, através do próprio, soube (apesar de ter participado, jamais me relembraria) que o Piloto foi o António Galinha e a enfermeira a Maria Zulmira
Mais um Abraço
Jorge Narciso

18 de março de 2021 às 01:15

2. Comentário do editor LG:

Em informação complementar,por email, o Jorge Narciso precisou que se trata do António Galinha Dias, ex-fur mil pil av. É de Torres Novas, vive hoje em Évora e tem página no Facebook (, embora inativa desde 1 de julho de 2019), e donde com a devida vénia fomos buscar a foto que publicamos acima. Sem querer fazer concorrência ao excelente blogue dos Especialistas da Base 12, Guiné 1965/74, e muito menos melindrar o seu fundador e editor principal nosso querido amigo, camarada e nosso grã-tabanqueiro, Victor Barata, convidamos o António Galinha para se juntar à Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas, onde, de resto, o pessoal da FAP, que andou pelos céus da Guiné daquele tempo, está também muito bem representada.

Por sua vez. a Maria Zulmira [André Pereira] [1931-2010] tem 8 referências no nosso blogue.


3. Reprodução, com a devida vénia de um testemunho da Maria Arminda [Santos],  ex-ten enf pqdt, publicado no blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, em  17 de outubro de 2010 (**):


(...) Como sempre refiro: A vida São os Dias que nos Lembramos. Quando o contrário acontece, em que já não estamos cá fisicamente ou a nossa memória partiu para outros universos de pensamentos, a vida deixa de ser real.

São essas as razões porque a memória dos Homens, anda por vezes distraída mas enquanto a minha não se ausentar totalmente,  quero, não só recordar mas ainda para que fique para a história, pelo menos como registo neste blogue, quem foi a Enfermeira Paraquedista que assistiu e tratou o Capitão do Exército Cubano ao serviço do PAIGC, Pedro Rodriguez Peralta, ferido e evacuado da zona do Guileje.

Sempre que se fala da captura do Capitão Peralta, fico muito triste e decepcionada. Na recente publicação pelo jornal Correio da Manhã, intitulada “As grandes Operações Militares da Guerra Colonial “, e até noutras publicações anteriores por outros órgãos de comunicação social, são referidos os nomes dos oficiais que planearam e executaram a “Operação Jove”, realizada em 18 de Novembro de 1969 pelas Tropas Paraquedistas na zona do Guileje. Foi nessa operação que foi ferido e capturado o referido oficial cubano e mais não dizem, ficando a narrativa incompleta.

Quando foi solicitada, pelo Sr. Capitão Paraquedista Bessa uma evacuação urgente, foi enviada de helicóptero uma enfermeira paraquedista a quem foram dadas ordens expressas,para fazer tudo, mesmo tudo o que estava ao seu alcance,  para salvar aquele ferido que se encontrava em péssimas condições físicas e em estado de choque, não podendo falhar nada para que o doente chegasse vivo ao hospital e em condições gerais estáveis para ali ser intervencionado de imediato.

A enfermeira iria fazer o que sempre fez aos feridos em situações semelhantes, mas a carga emocional foi grande pelo tom imperativo que envolveu a recomendação.

Logo que o ferido lhe foi entregue procedeu de forma adequada,  estabilizando o seu estado geral, terminando com a colocação do seu casaco de camuflado para o aquecer até chegar ao hospital.

No fundo não fez mais do que fazia habitualmente; a carga emocional é que foi muito maior, porque ela sentiu o peso da importância daquela vida para os militares envolvidos na operação, a importância para a própria organização militar e logicamente para o país, dadas as características do prisioneiro ferido. Só começou a aliviar o seu stress depois de o entregar no Hospital Militar de Bissau, vivo e em condições para novas intervenções só feitas a nível hospitalar.

Parece que a enfermeira não teve importância nenhuma, muito menos mérito nenhum em toda esta história.

Nós éramos tão poucas, não seria difícil aos investigadores e autores dos artigos informarem-se dos nomes da enfermeira, do piloto e eventualmente do mecânico, que tal como a enfermeira passaram por níveis acrescidos de stress na missão deste acontecimento muito especial e que foi sem dúvida com grande mérito para as nossas tropas, tendo ficado por esse facto, na história da guerra da Guiné.

Para que conste, e para que pelo menos fique registado no blogue dos Especialistas da Base Aérea 12 o nome da citada enfermeira: Maria Zulmira Pereira André, tenente graduada enfermeira Paraquedista, foi a enfermeira que foi buscar nas matas do Guileje o Cubano, senhor capitão Peralta.

Tenho pena de não referir os nomes do piloto e do mecânico porque na questão de evacuações, éramos um todo, cabendo a cada um a sua tarefa específica, complementávamo-nos para que a missão fosse bem sucedida. Mas também eu desconheço quem foram eles.
Sempre que falava com a Zulmira sobre este acontecimento e que ia dizer aos distraídos que tinha sido ela a tal enfermeira, respondia-me com esse seu modo conciliador: "Deixa lá, Maria Arminda, não te aborreças, não tem importância nenhuma não falarem de mim, isso hoje não interessa, já passou".

Não é bem assim, minha amiga, e agora que já não estás entre nós, tomo esta atitude para honrar a tua memória, pela pessoa boa que sempre foste, pelos amigos que fizeste, pelo extraordinário desempenho profissional e com espírito de missão que sempre puseste ao serviço de todos.

Grata pela oportunidade de dar a conhecer este pormenor da Operação Jove e da importância que a enfermeira Zulmira André teve na vida do Capitão Peralta e na projecção do êxito da mesma captura pelas tropas paraquedistas.

Com os meus Cumprimentos

Maria Arminda
ex-tenente enfermeira paraquedista
 

(**) Vd. poste:

Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 >  domingo, 17 de outubro de 2010 > Voo 1956 Que fique para a História