Camaradas Carlos Vinhal e Luís Graça.
Grato pelo v/ email e cá estou a dar noticias.
Os dados militares:
Furriel Miliciano com especialidade em Administração Militar (Vagomestre), na Póvoa de Varzim depois de ter feito a recruta no RI5 (Caldas da Rainha).
Fui mobilizado para a Guiné em 1973 incorporado na 2.ª CCaç / BCaç 4610/73.
Embarquei no Niassa no célebre dia em que uma explosão, tentou travar a nossa ida.
"A 9 de Abril de 1974, as Brigadas Revolucionárias realizam a sua última acção, o atentado ao navio Niassa, que ia partir com um contigente de soldados para a Guiné. A bomba tinha sido fabricada em casa de Laurinda Queirós e José Francisco, militantes do PRP/BR que integravam uma célula juntamente com Orlando Lindim Ramos, e prestavam apoio logístico a outros militantes das Brigadas.
A bomba tinha sido colocada num fato que tinha um colete integrado. O plástico cortado em fatias ia dentro do forro do colete que, por sua vez, foi por baixo do blusão do militar que estava encarregado de transportar e colocar a bomba no interior do navio, montando-a aí. A principal preocupação era que a família do soldado percebesse que algo estava errado com o fato, se o abraçassem. A bomba foi colocada no porão adaptado a dormitório dos soldados e estava preparada para explodir às 18 horas.
Uma hora e quinze minutos antes, as Brigadas telefonaram
para o Porto de Lisboa a reivindicar a colocação da bomba e a alertar para o navio ser evacuado, o que permitiu que não houvesse acidentes maiores ou danos mortais. Os danos acabaram por ser
apenas materiais e depois de reparado o rombo provocado, o navio partiu para a Guiné. Poucos dias depois dá-se o 25 de Abril."
Acção de sabotagem ao navio Niassa em "Luta Armada em Portugal (1970-1974)", Tese de Doutoramento de Ana Sofia de Matos Ferreira, pág. 300
Após o IAO lá fomos para Piche e a companhia foi deslocada para Camajabá, cujo comandante era Cap Mil Inf José Emídio Barreiros Canova (de Coimbra??).
Acção de sabotagem ao navio Niassa em "Luta Armada em Portugal (1970-1974)", Tese de Doutoramento de Ana Sofia de Matos Ferreira, pág. 300
Após o IAO lá fomos para Piche e a companhia foi deslocada para Camajabá, cujo comandante era Cap Mil Inf José Emídio Barreiros Canova (de Coimbra??).
Regressei em Outubro de 1974 onde fiquei em Lisboa na Comissão Liquidatária em Campolide até fim de Janeiro de 1975.
Aqui seguem fotos de lá e uma atual.
Foto 1 > Cumeré > Durante o IAO
Foto 2 > Xime > Retirada da companhia (aqui fiquei sem a mala com os meus pertences que me foi roubada)
Foto 5 > Bissau > Aguardando regresso no UIGE junto ao porto, muito perto do "PELICANO"
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2. Comentário do editor CV:
Caro António Cardoso,
Muito obrigado por te juntares à tertúlia do nosso blogue. Sê bem-vindo. Vais sentar-te no lugar 903 do nosso poilão.
Pertences à geração do fim da guerra, por um lado tiveram azar por irem para a Guiné a tão poucos dias do 25 de Abril de 1974, por outro tiveram sorte porque, se tiveram "guerra", foi por pouco tempo.
Desconhecemos como seria o vosso estado de espírito na altura da mobilização uma vez já havia pronúncios de que algo muito importante estava para acontecer, o regime estava a cair de podre.
O 25 de Abril foi o fim do conflito, mas talvez não da tensão entre a tropa portuguesa e o inimigo de ontem, porque não haveria total confiança entre as partes beligerantes. Os recalcamentos contra a potência colonial, pelo povo guineense, eram por demais evidentes. Em algumas das fotos aqui publicadas, retrantando o pós 25 de Abril, vemos que a tropa do PAIGC se apresentava nos quartéis, ainda ocupados por nós, armada até aos dentes.
Tu poderás esclarecer-nos já que a maioria de nós esteve no TO da Guiné em plena querra, quando ainda valia tudo, até matar gente desarmada que apenas queria conversar, estou a lembrar-me do assassinato dos três Majores e seus acompanhantes, no chão manjaco, em Abril de 1970.
Estamos receptivo às tuas fotos que documentam os dias finais da nossa ocupação naquele pequeno território, assim como das tuas memórias escritas. Serão muito imortantes para memória futura.
Não te disse, mas és um dos poucos representantes da especialidade de Vagomestre aqui no blogue, a maioria é (foi) operacional, não me referindo só aos atiradores, mas também aos nossos queridos camaradas do serviço de saúde e aos das transmissões, duas especialidades importantes demais quando saíamos para as operações. Não vou esquecer ainda os nossos camaradas condutores, muito sacrificados também pelas minas e nas emboscadas, que não popupavam nada nem ninguém.
Dizes que moras em Esposende. Da nossa tertúlia, tens como vizinhos: o Albino Silva (1968/70), o Fernando Cepa (1967/69) e o Mário Migueis da Silva (1970/72). Se me escapar alguém, não é por desconsideração.
Termino, enviando-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
Carlos
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Nota do editor
Último post da série de 30 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26745: Tabanca Grande (572): Joaquim Galhós, ex-fur mil, de rendição individual, que integrou a CCAV 3420 (Pete, 3 meses), o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 12 meses) e o BENG 447 (Brá, 9 meses): é natural do Barreiro, e senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 902