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Reprodução de excertos do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, 2011, pp. 222-226. Sublinhados, a vermelho, de L.G.
Capa do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, 303 pp. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes.
1. Os acontecimentos acima referidos por Bobo Keita (ou Queta) passam-se com as NT estacionadas em Buruntuma (sector de Pirada), mas também na Ponte Caium (que dependia do batalhão de Piche). Os interlocutores portugueses aqui referidos deveriam ser o capitão de Buruntuma e o tenente-coronel que comandava o batalhão sediado em Piche (já que o destacamento de Caium dependia de Piche).
Em 25 de Abril de 1974, havia o batalhão, com comando e sede em Pirada, era o BCAV 8323/73: mobilizado pelo RC 3, partiu de Lisboa em 22/9/1973 e regressou a 10/9/1973. Comandante: ten cor cav Jorge Edurado Rodrigues y Tenório Correia Matias.
Deste batalhão faziam parte:
- a 1ª C/BCAV 8323/73, que guarnecia Bajocunda (Comandantes: Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz; Cap MIl Cav Fernando Júlio Campos Loureiro);
- a 2ª C/BCAV 8323/73, que esteve em Piche, depois Buruntuma e de por fim de novo em Piche. depois da retirada de Buruntuma, em 5 de juolho (Comandantes: Cap Mil Cav Aníbal António Dias Tapadinhas; Alf Mil Cav António Jorge Ramos Andrade);
- e ainda 3ª C/BCAV 8323/73, que esteve (sempre) em Pirada (Comandante: Cap Mil Cav Ernesto Jorge Sanches Martins de Brito).
O batalhão que estava em Piche, em julho de 1974, era o BCAÇ 4610/73, que foi render o BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74). Mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 11/4/1974 e regressou a 14/10/1974. Esteve em Bissau, Piche, Bula e Bissau. Comandantes: ten cor inf Paulo Eurico de Lacerda e Oliveira Martins; ten cor inf César Emílio Braga de Andrade e Sousa.
Terá sido um destes dois oficiais superiores que terá proferido ameaças ao Carlos Fabião (último Governador da Guiné, de 7 de maio a 15 de outubro de 1974, com-chefe do CTIG, além de representante da Junta de Salvação Nacional na Guiné), a acreditar no depoimento do Bobo Keita.
O BCAÇ 4610/73 era constituído por 3 companhias:
- 1ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Camajabá, Piche, Bissau, Nhamate e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf Manuel Cunha Pereira Machado;
- 2ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Camajabá, Piche, Bissau, Tite e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf José Emídio Barreiros Canova;
- 3ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Piche, Bula e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf Marcos António Blanch Machado.
Buruntuma foi a primeira guarnição da zona leste a ser desocupada pelas NT e ocupada de imediato pelo PAIGC, por uma força comandanda pelo Bobo Keita, em 5 de julho de 1974. Camajabá e Canquelifá foram desocupadas a seguir, a 6 e a 7 de julho, respetivamente.
As restantes guarnições do leste só foram desativadas em Agosto e Setembro, respeitando os planos de retração do nosso dispositivo militar (aprovado pela 3ª Rep/QG/CCFAG) :
Madina Mandinga (20 de agosto),
Paunca (21),
Bajocunda (22),
Pirada (25),
Piche (25),
Saltinho (27),
Cancolim (1 de setembro),
Contuboel (2),
Fajonquito (2),
Nova Lamego (4),
Galomaro (5)
e Bafatá (7).
Também faziam parte da "zona leste", tal como o Saltinho, Galomaro e Cancolim, mas aparecem na "zona sul" (, no relatório da 2ª rep, certamente por lapso, ) as seguintes guarnições: Mansambo (2 setembro), Bambadinca e Xime (9 de setembro).
Os fatos acima relatados pelo Bobo Keita são confirmados pelo relatório da 2ª rep. O ultimatum de Bobo Keita às NT em Buruntuma é vista uma clara violação ao acordo de cavalheiros estabelecido pelas NT e o PAIGC no que respeito à retirada, planeada, ordenada e concertada (a nível local), dos nossos aquartelamentos e destacamentos. Alega-se que Bobo keita estaria "mal esclarecido" sobre esse acordo e os seus trâmites. Por outro lado, as instalações das NT eram particularmente apetecidas pelos combatentes do PAIGC, na zona leste, mais árida, com menos vegetação do que no sul, e em plena época das chuvas. No relatório da 2ª rep, diz-se explicitamente que o comportamento indisciplinado dos homens de Bobo Keita se devia também, em parte, ao facto de serem "periquitos", de serem novos na região e na guerrilha, viverem em condições precárias e estar-se na época das chuvas.
Por outro lado, o capitão de Buruntuma deveria ser Cap Mil Cav Aníbal António Dias Tapadinhas (que, por curiosidade, foi camarada do nosso camarigo A. Marques Lopes, no 2° Pelotão da 3.ª Companhia do Curso de Oficiais Milicianos do 1.º turno/janeiro de 1966, na EPI, Mafra).
Reprodução de um excerto das pp. 52/53 do Relatório da 2ª Rep / CCFAG: de 1jan73: relativo ao período de 1jan73 a 15out74 (*)
Reprodução de um excerto das pp. 52/53 do Relatório da 2ª Rep / CCFAG: de 1jan73: relativo ao período de 1jan73 a 15out74 (*)
Confirma-se que a força do PAIGC que cercou Buruntuma era comandada Bobo Queta (ou Keita), sendo Eduardo Pinto muito provavelmente o comissário político. Nas entrevistas nunca é referido, por Bobo Keita, o nome de Eduardo Pinto. No supracitado relatório, avança-se com a tese da existência de 2 linhas dentro do PAIGC, no que diz respeito ao processo de transferência de soberania: (i) uma mais dura, que se manifestou no leste (com as pressões sobre Buruntuma, Canquelifá, Dunane, Camajabá, mas também Madina Mandinga, Dara, Pirada, Bajocunda, além das barragens de controlo das nossas colunas militares) e que foi protagonizada por Bobo Keita; e (ii) uma linha mais conciliatória e sensata, que terá sido seguida no sul.
Apesar de "todo o processo de retração do dispositivo e desocupação dos aquartelamentos das NT" ter sido "fértil em diferendos com os grupos das FARP ocupantes" (veja-se o caso de Buruntuma), foi sempre possível evitar incidentes de maior, recorrendo-se ao diálogo em vez da confrontação direta. Em suma, imperou o bom senso e fez-se valer a capacidade de negociação e comunicação das duas partes.
Bobo Keita acabou por ser 'desautorizado' por Aristides Pereira e por 'Nino' Vieira, que reprensentavam o poder político a que se deviam subordinar os operacionais do PAIGC. (Vd. a pp. 197/198, do livro do Norberto Tavares de Carvalho, as apreciações críticas que o Keita faz sobre os defeitos de caráter do 'Nino').
Recorde-se, por outro lado, que Bobo Keita é um dos três comandantes que integram a delegação do PAIGC na primeira ronda de negociações de paz em Londres (de 25 a 31 de Maio) e depois em Argel (13-14 de junho): ele representava a Frente Leste, os outros comandantes eram o Lúcio Soares (Norte) e o Umaru Jaló (Sul). O chefe da delegação era o Pedro Pires. Entretanto, a 8 de setembro Bobo Keita é o primeiro a entrar em Bissau com os seus homens (não sabemos quantos), vindos do leste. Aqui, e até à partida do último governador português do território, em 13 de outubro, a relação do Bobo com as NT parece ter sido correta e até cordial.
Bobo Keita acabou por ser 'desautorizado' por Aristides Pereira e por 'Nino' Vieira, que reprensentavam o poder político a que se deviam subordinar os operacionais do PAIGC. (Vd. a pp. 197/198, do livro do Norberto Tavares de Carvalho, as apreciações críticas que o Keita faz sobre os defeitos de caráter do 'Nino').
Recorde-se, por outro lado, que Bobo Keita é um dos três comandantes que integram a delegação do PAIGC na primeira ronda de negociações de paz em Londres (de 25 a 31 de Maio) e depois em Argel (13-14 de junho): ele representava a Frente Leste, os outros comandantes eram o Lúcio Soares (Norte) e o Umaru Jaló (Sul). O chefe da delegação era o Pedro Pires. Entretanto, a 8 de setembro Bobo Keita é o primeiro a entrar em Bissau com os seus homens (não sabemos quantos), vindos do leste. Aqui, e até à partida do último governador português do território, em 13 de outubro, a relação do Bobo com as NT parece ter sido correta e até cordial.
Reprodução de um excerto da pág. 51 do relatório da 2ª rep (*)
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de
15 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9486: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte VIII): pp. 37/46