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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24868: Notas de leitura (1635): Um dos patrimónios mais valiosos da cultura africana: Como exemplo, um olhar sobre os contos mandingas (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
Parece-me ocioso repetir o que a autora já nos indicou sobre a literatura tradicional, oral e, por vezes, musicada, o desempenho que tem na memória de um povo, a dimensão cultural que é a transmissão oral de conhecimentos e tradições. No entanto, abono uma observação da autora, parece-me pertinente para o texto que seguidamente se vai ler: "A literatura oral nasce em sociedades onde o trabalho humano não é fragmentário, onde não há uma separação radical entre o trabalho quotidiano e a criação artística". Assim como no texto anterior se falou de Moisés e Alá, como se podia falar de outro conto religioso em que aparecem Adão e Eva e se fala da expulsão, do desencontro e da procura, a história do rei cruel e da corda de areia parece-me que tem um desempenho moral educativo de grande valor, e atenda-se à apreciação que a autora faz de que o conto é pedagógico, se bem que sujeito a leituras múltiplas e altamente educativo no sistema de representações de grupo. Recorde-se ainda que a autora foi buscar estes contos a uma obra de Manuel Belchior, que reputo como texto indispensável, trata-se de uma recolha muito séria que este então funcionário colonial fez na região do Gabu.

Um abraço do
Mário



Um dos patrimónios mais valiosos da cultura africana (2):
Como exemplo, um olhar sobre os contos mandingas

Mário Beja Santos

A matéria de análise da tradição oral africana leva-nos a uma fonte histórica suculenta, uma seiva de autenticidade, ocorre-nos prontamente os Griots, os músicos que exaltam heróis e que elevam a sua narrativa dedilhada pelos corredores obscuros do labirinto do tempo. Há uns anos, adquiri um livro sobre a tradição oral com maior incidência no mundo africano, a UNESCO apoiara a criação de um Centro Regional de Documentação para a Tradição Oral, sediado em Niamey, a capital do Níger, aí se reuniram especialistas que entrevistaram Griots, contadores e cantores, letrados muçulmanos e padres, patriarcas e chefes de família, entre outros. 

Sinteticamente, e em torno de uma consideração consensual, as tradições orais são uma parte essencial do património cultural africano.

E fez-se uma apreciação de respetiva tipologia. Quanto à forma, as tradições apresentam-se sob três formas essenciais: prosa, prosa ritmada, prosa cantada ou não, manifestando-se através de uma forma livre ou estereotipada. Estas tradições orais abarcam todos os géneros de expressão literária: história (genealogia, crónica, narrativa histórica), poemas épicos, líricos, pastorais, contos, fábulas, adivinhas, teatro, não faltando as abordagens religiosas e iniciáticas; para além dos conteúdos históricos, as tradições abarcam temas populares ou eruditos. 

Outro aspeto que esta obra sobre a tradição oral releva são as relações interdisciplinares: a linguística, a etnologia, a arqueologia, a musicologia. Falamos de uma obra que data de 1972 e que envolveu um conjunto de países, dois deles têm fronteiras com a Guiné-Bissau (Senegal e Guiné-Conacri). A descoberta de um livro sobre análise de contos, forneceu munição para falarmos um pouco das tradições orais de uma das etnias mais populosas da Guiné, os Mandingas.

Como vimos, os contos Mandingas fora objeto de estudo numa dissertação de mestrado de Hannelore Felizitas Nadolnÿ da Silva, estabelece considerações sobre o papel desta literatura oral, analisa o conto africano com base numa classificação onde pesam os contos religiosos, didáticos, iniciáticos, históricos, humorísticos e as fábulas dos animais.

Vejamos agora como ela vai apreciar o conto A Corda de Areia, que aqui se reproduz integralmente:

“O rei Bacar que há séculos governou em Tamba, um antigo reino do Sudão Ocidental, deixou merecida fama de despótico e crudelíssimo príncipe. Do seu reinado, ficaram principalmente gravadas na memória do povo, o primeiro e o último dia.

Quando subiu ao trono, Bacar mandou que viessem à sua presença os melhores e mais íntimos amigos e companheiros do seu pai, eles foram por ele escrupulosamente interrogados para avaliar o grau de intimidade que cada um havia mantido com o recém-falecido soberano e do valor dos serviços que lhe haviam prestado.

Depois de numerosas perguntas que levaram à rejeição de alguns e à aprovação de outros, verificou Bacar que havia cerca de cinquenta notáveis a quem o último rei muito havia estimado e a quem devera importantes serviços. Pensavam os pobres velhos que, após todas aquelas indagações, seriam talvez distinguidos pelo novo príncipe e quiçá alguns deles fossem escolhidos como conselheiros.
Aquele, porém, disse-lhes: ‘Não há dúvida. Vocês eram bons amigos do meu pai. Tão amigos, que a maior parte das vossas vidas e das vossas preocupações consistiu em servi-lo. Mas dizei-me: para que querem vocês viver depois que ele morreu? A quem vão agora servir? Para mim não têm a menor utilidade, mas pode muito bem ser que ele precise de vós no outro mundo’.

E depois de tão desconcertantes palavras mandou matá-los a todos.

Após este significativo começo de reinado, Bacar não mais cessou de mostrar o seu mau carácter cometendo com frequência revoltantes atos de opressão e impondo ao povo os seus caprichos cada vez mais difíceis de suportar, até que um dia deixou toda a gente estarrecida quando exigiu que lhe apresentassem uma corda feita de areia.

Todos os cortesãos a quem ele deu o encargo de a mandar fazer, declararam, apresentando as melhores razões, que a areia não é material de que se façam cordas, mas o único resultado que colheram de tão óbvia argumentação foi o de se verem taxados de incompetentes e cretinos, acabando por serem espancados e postos a ferros.

Reinava, pois, a maior consternação no país de Tamba, quando por ali apareceu um velho djila que de há muito era considerado um homem sagaz e fértil em recursos. Ao ouvir os motivos da apoquentação geral, afirmou: ‘Digam ao rei que se ele soltar todos os presos, eu fabricarei a corda de areia que pretende, na sua presença e na de toda a população’.

Tremeram os amigos do djila pela sua sorte, porque desde logo compreenderam que era a própria cabeça que ele arriscava. Mas o ancião disse: ‘Já vivi tempo demais, meus filhos, para que tenha demasiado apego à existência. Contudo, não temam, porque nada de mal me acontecerá’.

Aceite a proposta do velho, reuniu-se enorme multidão no sítio indicado pelo rei e à hora por ele marcada. No meio do maior silêncio dos circunstantes, o djila disse a Bacar: ‘Para que eu saiba o tamanho da corda que devo fabricar, mostra-me a que o teu pai mandou fazer, porque eu desejo que a tua seja ainda maior’.

O rei ficou surpreendido com o pedido, mas respondeu: ‘O meu pai nunca mandou fazer uma tal corda’. O djila retorquiu: ‘Mostra-me então aquela que foi feita no tempo do teu avô’. Já um pouco irritado, o déspota disse que tampouco o seu avô se lembrara de mandar fazer uma corda de areia. Porém, sereno, mas bem determinado, o velho comerciante pediu que lhe apresentassem qualquer corda de areia que tivesse sido fabricada por ordem do bisavô, do trisavô, etc. de Bacar, até que este, tremendo de raiva, gritou: ‘Para lá com isso. Nenhum dos meus antepassados teve uma corda como aquela que eu desejo possuir’.

Os olhos do djila circunvagaram demoradamente pela multidão, indicando-lhe que chegara o momento supremo de pôr fim a tanta insensatez de um mau rei, e olhando-o bem de frente disse-lhe: ‘Então se nenhum dos teus antepassados mandou fazer uma corda de areia, por que motivo afliges o teu povo com tal disparate?’

Bacar pensou que tinha ouvido mal, recusando acreditar que houvesse alguém disposto a fazer-lhe frente, depois enrubesceu, quis falar, mas a surpresa e a cólera embargaram-lhe a voz e foram sons desconexos, quase urros, que lhe saíram da boca. Ao mesmo tempo ouviu-se um sussurro, leve ao princípio, mas que subiu de tom e de volume até acabar atroador. Era a multidão que gritava: ‘Queremos outro rei, queremos outro rei!’.

E nesse dia Tamba mudou de soberano”.


E a autora comenta:

“Obra de um imaginário coletivo. A experiência assenta no grupo, na sua prática social, no seu vasto conjunto de regras, normas e valores que por sua vez constituem o seu património pelo sentido mais vasto do termo. Conforme os referentes que se considerem prioritariamente, assim se pode dar diferentes leituras aos contos. Pela nossa parte e no âmbito de uma perspetiva didática, os contos deste caráter foram selecionados em função da problemática sociológica e pedagógica. A simplicidade das narrativas revela certas opções que a sociedade Mandinga impõe ou recomenda, para resolver os antagonismos fundamentais que ameacem a coesão comunitária, e apoiam-se sempre no reconhecimento público do lugar reservado a cada elemento no tecido social.”

(continua)

Capa do livro Contos Mandingas, por Manuel Belchior
Mestre Braima Galissá, o Korá e a narrativa mandinga
Imagens de Griots, expoentes da narrativa oral africana
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24856: Notas de leitura (1634): Um dos patrimónios mais valiosos da cultura africana: Como exemplo, um olhar sobre os contos mandingas (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24856: Notas de leitura (1634): Um dos patrimónios mais valiosos da cultura africana: Como exemplo, um olhar sobre os contos mandingas (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
A tradição oral africana é um dos patrimónios culturais mais valiosos deste Continente, tão escasso de documentos escritos, de património edificado, de registos linguísticos, entre outros. Um pouco por toda a parte há a preocupação de se estudar este tesouro, dos mais diferentes ângulos. Tanto no período colonial como após a Independência esta tradição oral tem vindo a ser analisada, basta folhear o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa ou depois da Independência ler os trabalhos de Fernanda Montenegro. Foi uma surpresa encontrar esta dissertação de mestrado na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, a mestranda teve o cuidado de utilizar uma das mais completas antologias existentes, os "Contos Mandingas", de Manuel Belchior, precedendo os seus comentários de pertinentes considerações sobre o valor da tradição oral e como ela carece de estudos, continuamente.

Um abraço do
Mário



Um dos patrimónios mais valiosos da cultura africana:
Como exemplo, um olhar sobre os contos mandingas (1)


Mário Beja Santos

A matéria de análise da tradição oral africana leva-nos a uma fonte histórica suculenta, uma seiva de autenticidade, ocorre-nos prontamente os Griots, os músicos que exaltam heróis e que elevam a sua narrativa dedilhada pelos corredores obscuros do labirinto do tempo. Há uns anos atrás, adquiri um livro sobre a tradição oral com maior incidência no mundo africano, a UNESCO apoiara a criação de um Centro Regional de Documentação para a Tradição Oral, sediado em Niamey, a capital do Níger, aí se reuniram especialistas que entrevistaram Griots, contadores e cantores, letrados muçulmanos e padres, patriarcas e chefes de família, entre outros. Sinteticamente, e em torno de uma consideração consensual, as tradições orais são uma parte essencial do património cultural africano. E fez-se uma apreciação de respetiva tipologia. Quanto à forma, as tradições apresentam-se sob três formas essenciais: prosa, prosa ritmada, prosa cantada ou não, manifestando-se através de uma forma livre ou estereotipada. Estas tradições orais abarcam todos os géneros de expressão literária: história (genealogia, crónica, narrativa histórica), poemas épicos, líricos, pastorais, contos, fábulas, adivinhas, teatro, não faltando as abordagens religiosas e iniciáticas; para além dos conteúdos históricos, as tradições abarcam temas populares ou eruditos. Outro aspeto que esta obra sobre a tradição oral releva são as relações interdisciplinares: a linguística, a etnologia, a arqueologia, a musicologia. Falamos de uma obra que data de 1972 e que envolveu um conjunto de países, dois deles têm fronteiras com a Guiné-Bissau (Senegal e Guiné-Conacri). A descoberta de um livro sobre análise de contos, forneceu munição para falarmos um pouco das tradições orais de uma das etnias mais populosas da Guiné, os Mandingas.

Trata-se de uma dissertação de Mestrado em Literaturas Brasileira e Africana de Expressão Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, em 1998, por Hannelore Felizitas Nadolnÿ da Silva, exatamente com o título “Um Olhar Sobre os Contos Mandingas”. A Hannelore diz ter vivido na Guiné-Bissau entre 1959 a 1965 e para o escopo do seu trabalho retirou um conjunto de histórias da 1.ª edição de “Contos Mandingas”, de Manuel Belchior. Antes de se debruçar sobre a análise dos contos tece comentários de índole teórica sobre este património. A oratura abarca a literatura oral, a literatura oral tradicional e a literatura folclórica. Observa que a literatura oral é anónima, a obra escapa ao seu criador para se tornar num bem comum, depende sempre da personalidade do contador, cada intérprete imprime a sua marca, tudo vai da vivacidade e imaginação do Griot (contador ou narrador, e muitas vezes com a capacidade de musicar, é o que se passa com os tocadores de korá). Designa por a palabra a memória viva de África. É nas sociedades orais que a função da memória está mais desenvolvida, a palavra testemunha tudo, é um retrato, a coesão da sociedade assenta sob o valor e o respeito da palavra. O universo visível é concebido e sentido como um signo.

Dado que na sociedade tradicional africana as atividades humanas têm frequentemente um caráter sagrado ou oculto, são particularmente estas que se constituem como vetor da transmissão oral de conhecimento e tradições.

Nas sociedades tradicionais crê-se que os atos mais importantes da vida quotidiana já foram realizados num tempo primordial, operados por deuses ou heróis, de modo que os homens nada mais fazem do que repetir esse comportamento enquanto arquétipo e modelo. A literatura oral nasce em sociedades onde o trabalho humano não é fragmentário, ou seja, onde não há uma separação radical entre o trabalho quotidiano e a criação artística. A função do narrador é de procurar transmitir um melhor conhecimento e adaptação aos fenómenos da vida e espaço, unificando-os, relacionando-os, numa linguagem simples com larga margem de variações, obedecendo a uma coesão de fundo.

Feitos estes comentários, a autora refere a problemática do conto africano, apresenta alguns dados históricos sobre os Mandingas e disseca a estrutura do conto. Diz-nos que geralmente os brancos tendem a talhar os africanos à medida do seu logos grego e da ratio romana, ou seja, à sua imagem e semelhança. Os povos africanos elaboram no tempo e no espaço as suas visões do Homem e do mundo; criaram os seus valores, hierarquizaram-nos de acordo com a sua filosofia, tanto no domínio do sagrado como no profano. O conto está sempre integrado nos diferentes aspetos da vida social; assegura as múltiplas funções de memorização, de código ético, de expressão estética. Os contos tecem-se não para convencer estranhos, mas para construírem o depósito de uma crença.

Dá-nos seguidamente um histórico sobre os Mandingas, a partir do Império de Mandé, recorda o que os primeiros autores da literatura de viagens sobre eles escreveram: Valentim Fernandes, Duarte Pacheco Pereira, André Álvares de Almada (século XVI), André Gonelha e Francisco de Lemos Coelho (século XVIII). Iniciando a sua proposta de análise, fala-nos na classificação feita pelos Mandingas sobre esta importante vertente da tradição oral: histórias verdadeiras (mas que incluem mitos, lendas históricas e contos exemplares ou edificantes) e contos mentirosos (os humorísticos e fábulas de animais). Segundo o inventário da autora, os temas dos contos são: religiosos, didáticos, iniciáticos, históricos, humorísticos e fábulas de animais. E insiste que a palabra tem um poder incomensurável, constituem um suporte cultural iniciático, na medida em que exprime o património tradicional e tece uma linha de continuidade entre gerações passadas e presentes. E temos como ponto de partida um conto religioso intitulado “Por que razão Deus não tem filhos?”. Moisés depois de alguns encontros com Alá no Monte Sinai, disse ao Criador: “Senhor, oiço a Tua voz, mas não Te vejo, e arde em mim a curiosidade de conhecer o Teu rosto, a Tua forma, o Teu aspeto, de conhecer, enfim, qualquer coisa de Ti. Deixa que o Teu servo Te veja, Senhor!” Deus respondeu-lhe que aquele pedido era impossível de satisfazer, Moisés insistia, queria saber se Ele era branco ou preto, homem ou mulher, a resposta veio breve, não era homem nem mulher nem branco nem preto e não tinha filhos.

Moisés estava confuso, mesmo dececionado. Então Alá deu ao Moisés três ovos e mandou a Moisés que regressasse para junto do seu povo e que mais tarde lhe daria a explicação daquilo que tanto o surpreendera. Moisés regressou à sua gente, um dos filhos quis brincar com um dos ovos, este partiu-se, tanto chorou que acabou por receber o segundo, e depois o terceiro, ambos se partiram. Quando Moisés voltou ao Monte Sinai e perguntado sobre o destino que dera aos ovos, lamentou-se, todos tinham sido partidos pelo mais novos dos seus filhos. “Ora aí tens, Moisés, admiraste-te por Eu não ter filhos e agora já te posso explicar a razão de não os ter. Se tu consentiste aos teus filhos que partissem os ovos que te dei, bem poderia aconteceu que Eu deixasse aos meus, se os tivesse, que partissem a abóboda do Céu. Não, Moisés, não tenho filhos à maneira dos homens, mas são meus filhos todos os seres que Eu criei”.

(continua)

Capa do livro Contos Mandingas, por Manuel Belchior
Mestre Braima Galissá, o Korá e a narrativa mandinga
Imagens de Griots, expoentes da narrativa oral africana
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24847: Notas de leitura (1633): “A Guerra Que a História Quer Esquecer”, por Elidérico Viegas; Arandis Editora, Outubro de 2023 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19090: Ser solidário (219): "Nô pintcha tabanka Tabatô"!... Vamos dar um empurrão à construção da escola de música de Tabatô!... Hoje, no B.Leza Clube, Lisboa, Cais da Ribeira Nova, a partir das 22h30, com os nossos grã-tabanqueiros Mamadu Baio, Braima Galissá e outros músicos guineenses


Lisboa, 11 de outubro de 2018, a partir das 22.30 até às 2h00,. no B.Leza Clube,
Cais da Ribeira Nova, Armazém B, 1200-109 Lisboa.

Abertura de porta 21h30

Entrada 10€

1. Sinopse:

Tabatô é uma aldeia (tabanca) única de linhagem griot/djidiu perto de Bafatá, Guiné-Bissau, onde há séculos se passa, de geração em geração, a tradição da música mandinga que triunfou por completo a partir dos anos 90 com a explosão da «World Music' a partir de Paris. 

Hoje, o balafon e a korá são instrumentos universais que chamaram a si o interesse de todo o ocidente, resultado directo de gravações primorosas de centenas de mestres mandinga na costa ocidental africana, e vendas de discos pelo mundo inteiro.

Hoje também, um dos locais mais emblemáticos de origem de toda esta cultura, a Escola de Música de Tabatô, está de tal forma degradada que se perderam as condições para lá se aprender música. Esta noite de música e imagem no B.leza pretende angariar fundos para que a reactivação da escola seja uma realidade.

Fonte: B.Leza Clube

2. Apelo do nosso grã-tabanqueiro, médico e músico João Graça:

Apareçam na quinta no B.Leza! Por uma boa causa - a construção de uma escola de música na aldeia griot de Tabatô, na Guiné Bissau. 

Participarei no evento como músico ao lado do inspirador Mamadu Baio.

Foto à esquerda: Mamadu Baio, natural de Tabatô. Alfragide, 21 de janeiro de 2014.
Festa de anos do João.
Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados]

[Tabatô tem 25 referências no nosso blogue ]
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terça-feira, 14 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17139: Agenda cultural (546): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte II) - Fotos de tocadores de korá e atuação do mestre Braima Galissá


Tocador de korá (pág. 89)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão: tocadores de korá (pág. 45)


O "grande batuque" no dia da despedida da guarnição do destacemento de Buruntuma, depois de 11 meses de missão (pág. 45)


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1962 > Tocadores de korá e dançarinos na festa de despedida da força militar que guarnecia o destacamemto, comandado pelo alf mil Jorge Ferreira... O Braima Galissá descobriu, emocionado, entre os tocadores de korá o seu avó e mais familiares.

Fotos do livro de Jorge Ferreira, "Buruntuma: alguum dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63 (Oeiras, edição de autor, 2016), pp. 45 e 89.




Vídeo (0'  39'') > You Tube > Luís Graça



Vídeo (0' 48'') > You Tube > Luís Graça


Oeiras >  Galeria livraria Verney >  4 de março de 2017 > Sessãode lançamento do livro de fotografia, "Burutunma", de Jorge Ferreira (edição de autor, 2016) > Excertos da atuação do mestre Braima Galissá, tocador de korá e "djidiu" (*)


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso editor Luís Graça, que fez a apresentação do livro de Jorge Ferreira, teve também a ocasião de dizer duas palavrinhas sobre o Braima Galissá e o seu mágico instrimento, o korá... 

Membro da nossa Taabanca Grande (nº 732), José Braima Galissá nasceu no Gabu (antiga Nova Lamego), em 1964, sendo filho, neto, bisneto, trisneto, tetraneto, e por aí fora, de músicos e cantores ("djidius"), mandingas.. A origem da família remonta há seis séculos, às origens do próprio império do Mail (séc. XIII-XVI) que se irá depois fragmentar, dando origem a  vários reinos, dos quais o do Gabu (1537.1867).

Começou a aprender  o korá. com o seu pai, por volta de 1970, com seis anos. Com a independência tornou-se compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e professor de korá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz.  O golpe de Estado de 1998 apanhou-o em Lishoa, onde desde então passou a residir e a trabalhar. Em Portugal, além de atuar a solo ou com o seu grupo musical Bela Nafa, tem feito sobretudo um trabalho como pedagogo do korá e da música afromandinga.

Considera-se portiguês, "nascido sob a bandeira portuguesa", mas ainda não obteve até agora a tão desejada naturalização que lhe irá permitir circular, com toda a liberdade,  pelo espaço da União Europeia.

Quanto ao korá, é um instrumemto  cordofone, misto de harpa e de alaúde (árabe). Para os mandingas é um instrumemto sagrado, que se toca nos eventos mais importantes, È, digamos, um instrumento de música de câmara.

Braima Galissá  não é apenas um instrumentista, é também herdeiro da  tradição dos "djiudius" ("griots", erm francês), os  cantores ambulamtes ou trovadotres.

No final desta sessão, o Braima tocou e cantou o hino nacional... Todos nos levantámos e acompanhámo-lo. Foi um momento bonito, O Braima emocinou-se. E nós também.

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Nota do editor:

segunda-feira, 6 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17110: Agenda cultural (545): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte I) - As primeiras fotos


Foto nº 1 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 . 16h30 > Sessão de lançamento do livro de fotografia, da autoria de Jorge Ferreira, "Buruntuma: algum dia dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63" (edição de autor:  Oeiras, 2016; impressão: Jotagrafe - Artes Gráficas Lda)...  Na foto, o  "calmeirão" do Jorge Ferreira,  no uso da palavra...  A apresentação esteve a cargo do nosso editor Luís Graça.(*)


Foto nº 2 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 > O Manuel Barão da Cunha, fazendo as honras à casa... Esta é a 164ª tertúlia do Programa Fim do Império, da Liga dos Combatentes!... 

Presentes meia centena de camaradas e amigos, o que é um excelente nº para uma trade de sábado de fim de inverno... O convite foi foi feito  pelo autor, Jorge Ferreira, e teve o apoio de: (i)  Ptograma Fim do Império; (ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné; (iii) Movimento de Expressão Fotográfica (MES); e (iv) Núcleo de Fotografia de Oeiras (NFO). (**)

O Programa Fim do Império celebrou no passado mês de janeiro o 8º aniversário da sua existência. O cor cav ref e escritor Manuel Barão da Cunha tem sido um dos rostos deste programa, que promove a publicação de obras literárias ligadas à temática da guerra do ultramar / guerra colonial (1961/75). A iniciativa é da Liga dos Combatentes, com apoio da Comissão Portuguesa de História Militar e a Câmara Municipal de Oeiras.


Foto nº 3  > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 > Presidente do Núcleo de Oeiras-Cascais da Liga dos Combatentes, Isaías Fernando Ferreira Teles, superintendente reformado. Teve a gentileza de oferecer ao nosso blogue o livro "Olhares sobre a Guiné e Cabo Verde" (org., Manuel Barão da Cunha e José Castnho Paes) (Linda A Velha: DG Edições; e Porto; Caminhos Romanos, 2012, 389 pp. (Coleção Fim do Império, 9).

Oficial do exército, da arma de infantaria, Isaías Fernando Ferreira Teles  nasceu em Bragança em 1946, passou pelos TO de Guiné (esteve como alferes na região de Tombali), Angola e Moçambique. Em 1985 transitou para os quadros da PSP onde chegou ao posto de superintendente.



Foto nº 4  > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00-16h30 >  Além do Jorge Ferreira, do Luís Graça e do Manuel Barão da Cunha, estava na mesa o Manuel Rosas, do Núcleo de Expressão fotográfico, aqui em primeiro plano. O representante do  Núcleo de Fotografia de Oeiras, o fotógrafo Luís Rocha, não pôde comparecer motivo de agenda.



Foto nº 5 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >   O mestre Braima Galissá mostrando o "mezinho" que, na melhor tradição mandinga, usa para proteger o seu korá... O instrumento que ele usa, nos seus concertos, já não é o que lhe deu o seu pai, mas uma versão moderna, ocidental, do instrumento original, misto de harpa e alaúde...  (Pode ser ligado a um amplificador, mas nesta ocasião o Braima Galissá tocou sem amplificação e encantou-nos!).



Foto nº 6 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30  >   O Braima Galissá falando,  com saber e paixão, do "seu" korá... Além de tocador, é também "djidiu", cantor... E tem Portugal na sua alma. Nascido em 1964, no Gabu (NovaLamego), "sob a bandeira portuguesa" (sic), vive em Lisboa dese 1998  e aguarda, com ansiedade, o deferimento do seu pedido de naturalização como cidadão português.



Foto nº 7 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   Atuação do mestre Braima Galissá  e aspeto da assistência. Infelizmente nãotenho fotos de todos os camaradas da Guiné que estavam presentes na sala: falei com alguns no fim...Um dos que esteve presente, por que o vi levantar-se da cadeira, a uma chamada do "comandante" Jorge Ferreira, foi o ex-fur mil cav Mário Magalhães, que comandava  secção da CCAV 252 (ou Esquadrão de Cavalaria 252), antes ainda de o Jorge Ferreira chegar a Buruntuma... 

Outro camarada que tive o prazer o conhecer foi o Domingos Pardal empresário de mármores (MP - Mármors Pardal, Lda, com sede em Terrugem Sintra) e grande colaborador do escultor Francisco Simões, com trabalhos representados no Parque dos Poetas, ali mesmo, em Oeiras. Esteve em Buruntuma 11 meses, tal como o seu camarada e nosso grã-tabanqueiro  Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66). Fiquei com o seu contacto e espero poder conversar mais com ele... Estava em Cufar quando morrue o meu primo, da Lourimnhã,  José António  Canoa Nogueira.


Foto nº 8 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   A antiga equipa que deu voz e alma ao PIFAS: o antigo primeiro sargento Silvério Dias (, nosso grã-tabanqueiro) e a famosa "senhora tenente", sua esposa... 

Outro  camarada e grã-tabaqnueiro que tive o prazer de encontrar aqui, e de conhecer pessoalmente, "ao vivo", foi  o Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; ex-tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império". natural de Castelo Branco, vive entre Oeiras e o Fundão; é poeta, romancista e antropólogo)... Recorde-se que um dos organizadores do célebre caderno de poesia Poilão, por muitos considerado uma primeira antologia de poesia guineense...




Foto nº 9 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   Na assistência, mais dois dos nossos grã-tabanqueiros, o António Graça de Abreu (que acaba de dar a volta ao mundo em 100 dias...) e a Alice Carneiro


Foto nº 10 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >  Avô (Jorge) e neto (Daniel)... O Daniel quer ser fotógrafo como o avô...





Foto nº 11 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >  Aspeto parcial da assistência: na primeira fila o Daniel e e a Alice... Ao fundo, do lado direito, o Jorge Miguel, filho do Jorge Ferreira, com a sua filha Sofia... O Jorge dedicou o seu livro àqueles  quem mais ama: "Para o meu filho Jorge Miguel, meus netos Daniel e Sofia que, espero, irão recordar o pai e o avô Jorge, e privilegiar os valores que enalteci"... É uma belíssima passagem de testemunho.




Foto nº 12 > Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico >  4 de março de 2017 > O Estuário do Tejo, visto de Paço de Arcos... Foi daqui que todos (ou quase todos) partimos para a Guiné...



Foto nº 13 >  Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico > 4 de março de 2017 > O Braima Galissá descobriu, emocionado, uma foto do Jorge Ferreira onde está o seu avô, tocador de korá, num festa em Buruntuma... O Jorge Ferreira trouxe-o, a suas expensas, para tocar e (en)cantar nesta sessão de lançamento do seu livro.



Foto nº 14 >  Oeiras > Paço de Arcos > Centro Náutico > 4 de março de 2017 >  O Jorge Miguel (que seguiu as peugadas do pai, trabalhando em informática, na Microsoft, no estrangeiro) e um velho colega do Jorge Fereira, dos tempos do Liceu Gil Vicente, o capitão de mar e guerra, reformado, Eugénio Ramos.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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sexta-feira, 3 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17103: Lembrete (21): É já manhã, sábado, dia 4, às 15h00, na Galeria-Livraria Municipal Verney, Oeiras, a sessão de lançamento do livro do nosso camarada Jorge Ferreira, sobre Buruntuma, Gabu, da época de 1961/63... Apresentação do nosso editor Luís Graça. Concerto de Korá com o nosso grã-tabanqueiro, o mestre Braima Galissá... Contamos com todos os que puderem aparecer!


Guiné > Região de Gabu > 3ª CCAÇ (Nova Lamego, 1961/63) > Buruntuma > c. 1961/62  > Uma das tarefas do alf mil Jorge Ferreira foi a colocação de marcos... na fronteira com a República da Guiné... (pág. 22).


Guiné > Região de Gabu > 3ª CCAÇ (Nova Lamego, 1961/63) > Buruntuma > c. 1961/62  > Bajuda fula (p. 53)... O Jorge Ferreira também fez o "retrato" de quase toda a gente, dos "djubis" aos Homens Grandes, das belíssimas bajudas ao régulo de Canquelifá, que morava em Buruntuma, dos militares metropolitanos aos guineenses...  O seu livro de fotografia é uma homenagem às gentes do Gabu, e em especial ao povo de Buruntuma, lá no "cu de judas", junto à fronteira com a Guiné-Conacri... É um documento, hoje, de inegável interesse documental e até etnográfico (, nomeadamente a parte relativa ao "mosaico humano")...

Fotos: © Jorge Ferreira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné] (Reprodução com a devida autorização do autor...)


1. O Jorge [da Silva] Ferreira passou a integrar a nossa Tabanca Grande, em 19/9/2016, com o nº  728 (*)- Tem um blogue de fotografia,  que merece ser divulgado e conhecido. A sua paixão pela fotografia remonta à sua juventude, como ele nos conta. 

E acaba de publicar um belíssimo livro de fotografia com o sugestivo título: "Buruntuma: algum um dia serás grande... Guiné, Gabu; 1961/63"... (**)


[Foto à esquerda: Ação de nomadização... O Jorge Ferreira, de calções e de pistola metralhadora FBP... Alf Mil, de rendição individual, pertenceu à  da 3.ª CCAÇ... Depois de 5 meses em Nova Lamego, foi destacado para  Buruntuma, em outubro de 1961, de 20 soldados metropolitanos (pertencentes à CCAV 252) e 20 guinenses, da 3ª CCAÇ: foi o primeiro oficial português a comandar uma guarnição miçitar naquele ponto sensível do território; Buruntuma na altura teria um milhar de habitantes; ficou lá 11 meses, tempo que lhe permitiu construir o primeiro aquartelamento, fazer ações de nomadização e dar apoio psicossocial à população: terminou a sua comissão de serviço, no TO da Guiné, em junho de 1963;  recorde-se que a 3.ª CCAÇ estava sediada em Nova Lamego, tendo mais tarde dado origem à CCAÇ 5, "Gatos Pretos", sediada em Canjadude]


2. Npágina de fotografia do Jorge Ferreira pode ler-se:

(...) "Não sou um fotógrafo profissional nem mesmo um amador. Sou apenas um 'caçador de imagens' que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do meu quotidiano. Quando comecei a viajar pela Europa, à boleia, ainda aluno do secundário, estava-se em 1953, levava na mochila uma Voigtlander Vitessa e com ela captei inúmeras imagens dos países ocidentais e de alguns do leste europeu. Em ambas as regiões ainda eram visíveis sinais expressivos da destruição causada pela II Guerra Mundial. (...)

Em 1961, concluído o 3.º ano da licenciatura em Ciências Políticas e Sociais [pelo ISCUP, na Junqueira] fui chamado a cumprir o serviço militar e mobilizado para a ex-Guiné Portuguesa, actual Guiné Bissau, onde os Ventos da História resultantes das conclusões da Conferência de Bandung (Indonésia) / 1955 se tinham começado a fazer sentir através do apoio internacional aos Movimentos Independentistas.

A minha experiência de comando de um pelotão integrando militares portugueses e nativos, em igual número, foi extremamente enriquecedora e, embora em clima de guerra, moldou-me fortemente o carácter e levou-me a acreditar que a multirracialidade é um dos pilares em que deve assentar a sã e pacífica convivência entre os diferentes povos e raças da Humanidade.

Durante os 25 meses em que permaneci neste pedaço de solo africano foi minha companheira inseparável, nos bons e maus momentos, uma câmara Konika S que me permitiu captar a diversidade étnica e religiosa do 'chão' que corresponde à actual Guiné Bissau, verdadeiro “mosaico humano polícromo”, e o convívio harmonioso de brancos e negros ainda que em cenário de conflito armado." (...)

Finda a Comissão, regressei a Portugal. Entretanto conclui os 2 anos que faltavam para obter a minha licenciatura, abracei a carreira profissional na Área das TI [, Tecnologias de Informação,] concretamente como Técnico e posteriormente como Gestor de Sistemas de Informação, e constituí Família,  tornando-me exclusivamente Repórter fotográfico da Vida familiar, registando os seus momentos mais marcantes, férias, nascimento do filho e dos netos, convívio com os Amigos e viagens por Portugal e pelo Mundo. Só muito recentemente, com a perda inesperada da minha mulher e companheira inseparável ao longo de 40 anos [, Gabriela,] voltei à Fotografia como hobi. (...)

Jorge Ferreira


Lisboa > Festival Todos - Caminhada de Culturas > 11 de Setembro de 2011 > Arquivo Municipal de Lisboa  > Núcleo Fotográfico > Exposição Todos > A Alice Carneiro com o nosso amigo Braima Galissá, natural do Gabu, o grande tocador de kora da Guiné-Bissau... Fomos encontrá-lo, nesta exposição, a tocar kora... Divinalmente, como só ele sabe fazer... Falou-nos da sua banda, "Bela Nafa", , e da sua colaboração também com a banda do Kimi Djabaté...  Demos-lhe em abraço em nome de toda a Tabanca Grande, e em especial dos seus amigos João Graça e Mário Beja Santos... 

Amanhã vamo-nos reencontrar, os três, na Galeria-livraria Verney...

Foto e legenda: © Luís Graça / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.


3. O Jorge Ferreira fez questão de convidar o nosso editor, Luís Graça, para apresentação do livro, que tem o apoio expresso do nosso blogue. A sessão é amanhã às 15h00 na Galeria-Livraria Municipal Verney, em Oeiras. (**)

A expensas do autor do livro, o  mestre Braima Galissá, nascido em 1964 no Gabu (e a viver e trabalhar em Portugal como músico e pedagogo, desde 1998), irá dar um toque de magia a esta sessão, oferecendo-nos um concerto de Korá... (Entrou para a nossa Tabanca Grande, formalmente, este ano, em 11 de janeiro; tem o nº 732).

Mais uma razão, adicional,  para os camaradas da Grande Lisboa (e não apenas os da Linha) comparecerem! (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...

(**) 27 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17089: Agenda cultural (543): Sessão de lançamento do livro de fotografia do nosso camarada Jorge Ferreira sobre Buruntuma, Gabu, 1961/63... Apresentação a cargo de Luís Graça, editor do nosso blogue.... Concerto de Korá com mestre Braima Galissá, nosso grã-tabanqueiro... Local e data: Galeria-Livraria Verney, Centro Histórico de Oeiras, sábado, dia 4 de março, às 15h00... Estamos todos convidados!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16946: Tabanca Grande (423): Braima Galissá, mestre Galissá, djidiu e tocador de cora, nosso grã-tabanqueiro nº 732









Lisboa > Anfiteatro do Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 >  Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.).

Sequência de fotos relativa à actuação do mestre guineense, mandinga do Gabu, a viver em Portugal desde 1998, Braima Galissá, tocador de corá, e cantor (djidiu).

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os .direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Já em tempos transmiti ao Mário Beja Santos o meu desejo de ver o José Braima Galissá, o mestre Galissá,  integrado na nossa Tabanca Grande, de pleno direito, por ele e por tudo o que ele tem feito: 

(i) o que ele tem feito  por esse maravilhoso instrumento que é o corá (do mandinga Kora, em português, corá, em crioulo, korá);

(ii) pela sua própria história de vida, filho, neto, bisneto, de músicos do Gabu;

(iii) pelo desenvolvimento e divulgação da música guineense, de origem afro-mandinga,

(iv) pela sua terra, Guiné-Bissau,  que ele muito ama;

(v) pelo estreitamento das relações luso-guineenses,

(vi) pela nossa lusofonia:

(vii) pela multiculturalidade e pelo seu ensino (nas escolas portuguesas);

e  enfim, (vi) por todos nós, amigos e camaradas da Guiné...

O J. Braima Galissá já vive em Portugal quase há duas décadas, nasceu em 1964 no Gabu e foi obrigado a fugir da sua terra com  guerra civil em 1998... Vive modestamente em Lisboa, nas Olaias, dá também aulas em várias escolas, a filhos de emigrantes, incluindo guineenses. Tem feito vários espectáculos, tem uma gente artístico mas não me parece que possa viver só da música.Sei, pela conversa telefónica que tive com ele, que  aguarda a atribuição da nacionalidade portuguesa que já requereu, e que se  habilitou também a uma casa de habitação social em Lisboa.

Tem uma página pessoal no Facebook. Tem a sua banda. Tem um filho que também é tocador de corá, o mais velho, o Nico Galissá (além de informático)...É casado, tem uma esposa e 4 filhos (2 meninas), é muçulmano. A esposa e os filhos mais novos vivem em Bissau.

Gostaria um  dia de o poder levar a um dos encontros da nossa Tabanca Grande... Em conversa com ele ao telefone, falei-lhe desta proposta de o integrar na nossa Tabanca Grande, proposta,que ele aceitou, sentindo-se honrado com a  ideia que agora, finalmente, se concretiza.

O Braima Galissá será o membro nº 732 da Tabanca Grande (*). Tem já 15 referências no nosso blogue.


2. Comentário meu, adaptado do poste P11251 (**), seguido de um comentário do Braima Galissá a que eu nunca cheguei a responder na altura...

Mário:

Obrigado pela tua colaboração neste folheto de divulgação de um instrumento (o corá), de uma arte (a música afro-mandinga) e de um artista (o Braima Galissá) de que eu sou fã tal como tu...

Quero que transmitas ao Braima o meu/nosso desejo de o ver integrado de pleno direito no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande. Queria que ele fosse mosso grã-tabanqueiro  e se sentasse aqui, connosco, camaradas e amigos da Guiné, sob o nosso poilão frondoso, mágico, fraterno...

Ele é um artista e um pedagogo da música que já não precisa da nossa "muleta", para conseguir visibilidade e reconhecimento...  Mesmo assim o nosso blogue é uma ponte entre margens de vários rios...

 Ele é um "combatente" da cultura e eu concordo contigo, que temos que fazer mais e melhor no apoio aos artistas (músicos, cantores. escultores. artesãos, poetas, escritores...) da nossa querida Guiné, alguns dos quais  a viver em Portugal na diáspora (falando de músicos, além do Braima, o Kimi Djabaté,o Mamadu Baio, o Manecas Costa... (daqueles que eu conheço, e que são gente talentosa e generosa). Há, felizmenyte, muitos outros artistas guineenses, que vivem em Portugal, ou vêm cá com regularidade. O nosso blogue está aberto para, generosa e ativamente, apoio o seu a trabalho.

Já aqui  apresentei, em tempos, em 28/1/2014 (***), o novo grã-tabanqueiro, o guineense Mamadu Baio, da tabanca de Tabató, líder dos Super Camarimba  (e que o meu filho, João Graça, conheceu em dezembro de 2009). Casado com uma portuguesa, foi pai de um linda menina. Trabalha também como segurança, já que a música ainda não pode ser o seu ganha-pão exclusivo.

O Braima Galissá convive já connosco há vários anos, desde pelo menos o lançamento do teu livro, o "Tigre Vadio", em 11/112008, no Museu da Farmácia (foi nessa altura que o conheci, pessoalmente). Depois disso já nos temos encontrado por aí em diversos eventos culturais.

Lembro-me, por exemplo,de o ter encontrado em Lisboa, no Festival Todos - Caminhada de Culturas, 11 de Setembro de 2011... Mais exatamente no Arquivo Municipal de Lisboa - Núcleo Fotográfico,  Exposição Todos...  Tirei-lhe uma foto com a Alice... Modestíssimo, lá estava ele,  o mestre Galissá, natural do Gabu, o grande tocador de corá  da Guiné-Bissau... Fomos encontrá-lo, nesta exposição, a tocar corá... Divinalmente, como só ele sabe fazer... Falou-me da sua banda, e da sua colaboração também com a banda do Kimi Djabaté... Dei-lhe um abraço dos seus amigos, da Tabanca Grande.

Ele é, afinal,  um grande embaixador da cultura da Guiné. E tu, Mário, como amigo dele, vais ser o seu padrinho na Tabanca Grande, peço-te que escrevas sobre ele duas linhas de apresentação, para completar o que aqui fica dito e escrito...

Um abração. LG


3. Comentário do Braima Galissá com data de 15 de março de 2013, 10h44

Olá, sr. Luís Graça:

Como vão as atividades ? Tudo bem consigo ? Espero que sim, que esteja tudo bem consigo.

Por outro lado, quero perguntar ao sr. Luís se já esteve na Guiné, e em que zona da Guiné-Bissau. Era só isto. Porque costuma chamar ou dizer camarada, e por isso me parece que esteve em África. Obrigado, camarada.

Braima Galissá


4. Resenha biográfica

(...) José Braima Galissá, professor e mestre griot [cantor ambulante, djidiu] de corá, instrumento africano de 22 cordas, nasceu na Guiné-Bissau em 1964 no seio de uma família de griots da cultura Mandinga, que tocam corá  há mais de 600 anos.

Começou a aprender o Kora, em meados de 1970, pela mão do seu pai. Hoje é considerado um dos melhores músicos representantes da cultura Mandinga, pelas suas excelentes qualidades de exímio tocador de corá.

Foi responsável e compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau e professor de corá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz durante 11 anos.

Reside em Lisboa desde de 1998, onde desenvolve o projecto Bela Nafa.(...)

Fonte: Adapt de Braima Galissá > Biografia


Sobre o corá, vd. aqui os postes  de


14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11705: Notas de leitura (491): Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)
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sábado, 10 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16820: (De)Caras (57): Fotos da sessão de lançamento, em Lisboa, no passado dia 6, do novo livro de Mário Beja Santos, "História(s) da Guiné-Bissau"


Foto nº 1 > O autor Beja Santos, ladeado pelos seus amigos e convidados que falaram da obra, António Duarte Silva, à direita, e Eduardo Costa Dias, à esquerda (*)


Foto nº 2 >  António Duarte Silva, autor de “Invenção e Construção da Guiné-Bissau”  (Edições Almedina, 2010), e a quem eu convido para integrar a nossa Tabanca Grande


Foto nº 3 > Eduardo Costa Dias, antropólogo, professor e investigador, ICSTE-IUL, membro da nossa Tabanca Grande


Foto nº 4 > Mário Beja Santos


Foto nº 5 > Aspeto geral da assistência


Foto nº 6 > Dois grã-tabanqueiros: José Eduardo Oliveira (Jero) e Belmiro Tavares


Foto nº 7 > Outro nosso grã-tabanqueiro, Jorge Araújo, na  sessão de autógrafos


Foto nº 8 > O autor e a representante da editora (Edições Húmus, Vila Nova de Famalicão)


Foto nº 9 > À esquerda, o historiador Armando Tavares da Silva, recentemente galardoado com o prémio a Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo. pelo seu  livro "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)". O prémio foi dado pela Academia Portuguesa da História, e a cerimónia de entrega decorreu no dia 7 do corrente, na sede desta Academia, Palácio dos Lilases, Lisboa. A cerimónia foi presidida pelo Presidente da República.

O prof Armando Tavares da Silva foi convidado nesta data parta integrar a nossa Tabanca Grande.


Foto nº 10 > O mestre de corá Braima Galissá e, a seu lado, o nosso grã-tabanqueiro, que veio expressamente de Aveiro, onde mora, o Francisco Gamelas. Registo também a presença do José Brás (que não aparece aqui nas fotos, só na foto nº 5)... Lamentavelmente cheguei tarde, perdi o início da sessão, com a atuação do Braima Galissá. E devo acrescentar que o sistema de som, no auditório, estava péssimo. Fiz dois ou três  pequenos vídeos com as intervenções dos oradores (LG)

Lisboa > Auditório da Associação Nacional de Farmácias >  6 de dezembro de 2016 > Sessão de lançamento do novo livro de Mário Beja Santos, "História(s) da Guiné-Bissau" (**)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]