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sábado, 6 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27499: A nossa guerra em números (47): mais de 2/3 do consumo, do valor de vendas em junho de 1970 (n=89 contos), na cantina, da CCAV 2483, em Nova Sintra, foi em álcool e tabaco (Aníbal Silva / Luís Graça)





Imagens de bebibas alcoólicas que só podem ser "(re)vistas" por antigos combatentes, tudo rapaziada com mais de 18 anos...  A saudade não paga imposto, por enquanto... Fonte;: arquivo da Tabanca Grande.




Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné (2025)





Documento  nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970 : Resumo do balancete da cantina

A cantina de Nova Sintra, que era "democrática",  isto é,  "comum" ( aberta a oficiais, sargentos e praças), ao tempo da CCAV 2483 (1968/70), facturou 89,4 contos nesse mês de junho de 1970.

Recorde-se que a CCav 2483 assumiu, em 7mar69 a responsabilidade do subsector de Nova Sintra, com um pelotão destacado em S. João, até 31mai69, rendendo a CArt 1743. Em 23set70, foi  rendida pela CCav 2765, sendo transferida para Tite, a fim de substituir a CCav 2443, na sua função de intervenção do sector, cumulativamente com a responsabilidade da quadrícula. Em 14dez70, foi rendida pela CCav 2765 e recolheu a Bissau para o embarque de regresso. 

Portanto, em junho de 1970 o mercado do nosso  "cantineiro" Aníbal Silva andaria  à volta dos 160 militares (o efetivo normal de um companhia de quadrícula).

Não havia concorrência ali á volta (nem "bajudas" para distrair a vista), o Aníbal nem sequer precisava de promover os seus produtos: a rapaziada,  sempre sequiosa, e com algum poder de compra,  só queria é que os abastecimentos mensais não falhassem. E,  ainda por cima, já "velhinhos", a seis meses de terminar a comissão. Não havia população local nem milícia. Era um "bu..,rako", Nova Sintra, quem lhe pôs o nome devia ter um grande sentido de "humor... negro".

Em 1 de julho de 1970, em Nova Sintra estavam 3 Pel / CCAV 2483, 1 Pel / CCAV 2443 e 1 Esq Pel Mort 2114. Mas alguém sabia lá onde ficava Nova Sintra ?|... Nem sabia nem queria saber...











Documento  nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970  > Balancete da cantina


 A cantina, nesse mês de junho de 1970, vendeu artigos no valor de 89,4 contos (o que convertendo para preços de hoje são 30,7 mil euros).. Bom ngócio, mil euros por dia.

 Cada militar gastou, em média 560 escudos (arredondando) (=192 euros). O que era muito dinheiro, em especial para as praças. 

Mas o "sargento da cantina", e vagomestre, o nosso camarada Aníbal José da Siva, ex-furriel mil SAM, tem uma explicação que parece razoável: como o pessoal estava já próximo de ir para Tite (em setembro) antecipou o Natal, e fez mais umas compras "supérfluas" já a pensar na "peluda"... De facto, houve ao ao uísque, de tal se esgotarem os stocks da maior parte das marcas... E não foi  precviso fazer nenhum "Friday",,, Venderem-se 250 garrafas, do mais barato (Churtons, 47$00) ao mais caro (Long John, 86$00). Ainda sobraram 41... Boa parte destes artigos (bebidas importadas, mais caras na metrópole, eram para guardar e levar para casa).

Mas o que dizer da cerveja ? Quase 31 contos de cerveja é muita cerveja:  o equivalente a 7,8 mil garrafas de cerveja de 0,33 l dá cerca de 2,6 mil (uma média de 16 litros "per capital"... num só mês).

Com base nos preciosos elementos que o Aníbal Silva nos forneceu, há já alguns meses, respeitantes ao balancete da cantina de que ele era o gerente (juntamente com o alf mil Vasco César Tavares S. Silva), pudemos apurar alguns números sobre o nosso provável consumo de bebidas alcoólicos e de outros bens (como o tabaco, a coca-cola, o leite achocolatado e o leite estirilizado, outros produtos alimentares, etc.). (Claro, faltam-nos termos de comparação: outras cantinas, outros meses.)

De acordo com os gráficos nºs 1 e 2, o álcool (cerveja, vinho, bebidas destiladas, com o uísque, o gin, o vodca, o brandy...) representou nesse mês mais de  50% das vendas.

O consumo de coca-cola também é notável: quase 2,8 mil latas num mês (19 latas "per capita"), 

Já agora comparem-se, a título exemplificativo, os preços particados, por unidade e tipo de artigo:

  • Cerveja 0,33 l > 4$00
  • Cerveja 0,66 l ("bazuca")  > 6$50
  • Coca-cola (importada, em lata) > 5$00
  • Água de Castelo > 7$00
  • Maço de tabaço > 2$50 ("Porto", 3$00)
  • Uísque (importado) > c. 50$00 (novo)
  • Leite c/ cacau > 5$00
  • Laranjada / Sumol > 6$00
  • Lata de polvo ou sardinhas de conserva > 6$00
  • Creme p/ barbear >  7$00
  • Sabão azul > 13$00

A seguir à cerveja, uísque e coca-cola (em termos de valor de vendas),  o tabaco aparece em quarto lugar... Venderam-se nesse mês 3481 maços de cigarro e 1253 caixas de fósforo. Aqui o "Porto" deu  uma cabazada ao "Sporting": 1706 contra 1!

A seguir ao "Porto", as duas marcas mais consumidas foram o SG (n=886) e o Português Suave (n=677).

O leite (com cacau e estirilizado), a par das conservas, também tinha alguma expressão: 9% do total do valor das vendas... O resto eram os artigos de higiene e limpeza... 

Já não me lembro se a tropa nos fornecia papel higiénico: em Nova Sintra, nesse já longínquo mês de junho de 1970, só se venderam 12 maços de rolos de papel higiénico  (a 6$00 cada um!).. 

Como eu dizia, com "humor negro" em Bambadinca, na noite de 26 de novembro de 1970, depois da tragédia da Op Avencerragem Candente, a malta limpava (com a sua licença!) o cu às folhas do RDM...

Obrigado, Aníbal, gastei umas horas à volta dos teus papéis, mas diverti-me. É bom para quem tem insónias. Sáo seis horas da manhã. Vou voltar para a cama. 

PS - Aníbal, vou passar o Natal à Madalena, como habitualmente, desde há 40 anos. Temos que nos conhecer pessoalmente. Depois dou-te  um toque.

(Documentos: arquivo do Aníbal Silva | Infografias e legendas: LG)



1. Mensagem do Aníbal José da Silva, ex-fur mil SAM, CCAV 2583 (Nova Sintra e Tite, 1969/1970):

Data - 08/05/2025, 17:49
Assunto -  Balancete da cantina. Nova Sintra, junho de 1970

Caro Luís Graça

Após a nossa conversa telefónica de hoje, fui ao meu arquivo verificar se tenho algo mais para acrescentar, ao teu maravilhoso estudo, relativo a quantidades e preços dos artigos vendidos nas cantinas em tempo de guerra (*).

Dos quatro balanços em meu poder, só o de junho de 1970, tem o anexo relativo aos artigos vendidos, que junto envio , bem como os restantes, estes para teu conhecimento. 

Então, constato que em junho desse ano se vendeu quase o dobro da cerveja vendida em maio (4.245 para 7171). Não vejo uma razão plausível que o justifique, até porque, ao consultar a História da Unidade, verifico não ter havido atividade operacional para além do habitual. 

Creio haver justificação para o aumento das vendas do tabaco (2215 para 3481) e do whisky (61 para 250 garrafas), uma vez estarmos a dois meses de deixar Nova Sintra e o pessoal ter começado as compras para trazer para a metrópole. 

Face a estes números, provavelmente vais reformular o teu estudo. Noutro email vou enviar mais uns tantos anexo. (**)

Um abraço de amizade

Aníbal Silva 



Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26769: A nossa guerra em números (29): nos quartéis do mato, dentro do arame farpado, a malta consumia em média, por ano e "per capita" , 21 litros de... álcool puro (14 em vinho, 5,4 em cerveja, 1,6 em bebidas destiladas)... (Aníbal Silva / Luís Graça)

(**) Último número da série > 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27461 A nossa guerra em números (46): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte III

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27463: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (6): O Cais fluvial de Enxudé (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 20 de Novembro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a sexta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

O CAIS FLUVIAL DE ENXUDÉ

As viagens à Guiné Bissau realizadas pelos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu, no âmbito da Amizade e Solidariedade, por razões afetivas, foram às localidades de Tite, Fulacunda e Nova Sintra. Para chegar a estes destinos por via fluvial, saídos do cais do Pidjiguiti, em Bissau, tiveram de aportar no Cais do Enxudé, na margem esquerda do rio Geba, distante 10 Km de Tite.

As fotografias anexas, a partir da terceira, dizem respeito à viagem de 2019, a penúltima, já que a última foi em 2024.

Cais do Enxudé da época da Guerra Colonial que foi desativado
Estacas que suportavam o cais antigo, distante 50 metros do atual, construído em betão pela empresa portuguesa Soares da Costa
Cais novo a servir de lota
Cais atual do Enxudé onde se comercializam os produtos da terra com os viajantes em trânsito
Aproximação do barco ao cais
O desembarque
Ricardo Abreu entre as autoridades militares. Um por cada localidade da região do Quínara
Posto de apoio ao cais
Início da estrada rumo a: Tite; Fulacunda; Jabadá; Nova Sintra; São João/Bolama e Buba.
Aglomerado de passageiros oriundos de diversas localidades da região do Quinara e o barco que os transporta até Bissau. Nos dias em que há barco, há também transporte rodoviário que percorre as diversas localidades.
Uma das viaturas que faz o transporte rodoviário
Um passageiro renitente a entrar a bordo

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 28 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27361: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (5): Ruínas da Messe de Sargentos e do Quartel de Tite (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27410: Efemérides (472): Fotos da Festa do Fanado que decorreu em Tite no mês de Novembro de 1969 (Aníbal José Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)


1. Em mensagem de 5 de Novembro de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos algumas fotos da Festa do Fanado que decorria neste mês de novembro.

Caro Carlos Vinhal
Para uma próxima publicação, em anexo envio um pequeno texto e fotografias, com relação à Festa do Fanado, que costumava ocorrer durante o mês de Novembro na Guiné-Bissau.

Um forte abraço
Aníbal Silva



FESTA DO FANADO NA GUINÉ BISSAU EM 69/70

Genéricamente, o “Fanado”é um ritual de iniciação da vida adulta, praticado por rapazes (trata-se, entre outras coisas, da circuncisão) e raparigas (em alguns casos envolvendo a prática da excisão, criminalizada na Guiné-Bissau desde 2011) e era efetuado por várias etnias, variando a idade dos intervenientes, a periodicidade com que era praticado ou a sua duração.

Com o Fanado, os jovens tomavam consciência da sua função social e da sua personalidade, passando em algumas etnias, um período na floresta ou no mato, no cumprimento de uma série de cerimónias envoltas em grande secretismo de que não deviam falar quando regressassem e assumissem o seu novo papel na sociedade.

Este assunto está amplamente divulgado em 29 Postes deste Blogue, autoria de vários Tabanqueiros.

A minha vinda a terreiro a este tema, é simplesmente para dar a conhecer e partilhar as fotografias anexas, que tirei em Tite em Novembro de 1970, não sei se no início, se no fim da festa do Fanado.

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Nota do editor

Último post da série de 6 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27392: Efemérides (471): Convite do Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, para a cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que se realiza no dia 18 de novembro de 2025, pelas 10h00, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, durante a qual será condecorado, com a Medalha de Honra ao Mérito, grau Ouro, da Liga dos Combatentes, o nosso editor Luís Graça

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27388: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (113): Nunca desistir é a mensagem que pretendo transmitir aos camaradas que tenham em curso, ou venham a iniciar algum processo, para atribuição de incapacidade resultante de ferimentos sofridos em combate ou acidente, ocorridos durante a guerra colonial (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 1 de Novembro de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), descreve-nos a sua odisseia para conseguir provar que o incidente de que foi vítima no dia 4 de Agosto de 1969 lhe provocou lesões oculares irreversíveis com consequências para toda a vida.


NUNCA DESISTIR

Nunca desistir é a mensagem que pretendo transmitir aos camaradas que tenham em curso, ou venham a iniciar um processo, relativamente à atribuição de incapacidade resultante de ferimentos sofridos em combate ou acidente, ocorridos durante a guerra colonial.

Volto a dizer “nunca desistir”, porque o processo que iniciei naquele sentido, foi uma autêntica odisseia.

Resultante das lesões oculares sofridas no incidente de 04 de Agosto de 1969 (ver Poste 26820), que originou um processo por ferimentos em combate, restaram sequelas. Porque anos mais tarde sentia desconforto e diminuição da visão, no dia 2 de Abril de 1991 entreguei na Secção de Justiça do DRM – Porto, um requerimento ao qual juntei um relatório médico, solicitando ser obervado no Hospital Militar do Porto, para verificação das sequelas e eventual atribuição de uma incapacidade.

Em 17 de Dezembro de 1992 fui presente à consulta de Oftalmologia no HMR1, tendo o especialista declarado “Não se encontra abrangido pela Tabela Nacional de Incapacidades pelo que não se justifica qualquer taxa de incapacidade. Deve ser enviado à Exma. JHI para os devidos efeitos”.

Em 12 de Janeiro de 1993 fui presente à JHI que me julgou “Pronto para todo o Serviço Militar” e portanto sem atribuição de qualquer incapacidade. Uma Junta Médica (JHI) é sempre constituída por três médicos, mas aqui só estive perante um Capitão, eventualmente médico, que não me observou, não dialogou comigo, limitamdo-se a comunicar o atrás referido.

Porque os problemas oculares continuavam, no dia 12 de Outubro de 2005 fiz novo “REQUERIMENTO PARA PEDIDO DE REVISÃO DE PROCESSO POR ACIDENTE/DOENÇA EM SERVIÇO” ao qual juntei novo relatório médico. Daqui resultou que passados 18 meses, no dia 30 de Maio de 2007, fui presente a uma JHI (Oftalmologia) e desta vez sim, na presença de três médicos, que após observação emitiram a seguinte decisão “H.M.R 1 – incapaz de todo o serviço militar, apto, parcialmente para o trabalho com 23,5 de desvalorização”, baseando-se nas seguintes lesões: epíforas e conjuntivites crónicas e bilaterais.

Julgava eu que passados mais alguns meses passaria a receber uma indemnização, cujo valor monetário desconhecia totalmente. Puro engano, o processo andou a saltar durante SETE ANOS E MEIO, de organismo em organismo, tais como: Ministério da Defesa; Direção de Justiça e Disciplina; Arquivo Geral do Exército; Direção de Saúde, Comissão Permanente Para Informações e Pareceres e finalmente a Repartição de Reserva Reforma e Disponibilidade.

É aqui que nunca devem desistir, pois, apesar da atribuição da incapacidade em Junta Médica, não é certo que venhas a receber qualquer pensão, ou então, não na totalidade da incapacidade atribuída.

Os vários organismos vão tentar tudo para não te darem a merecida desvalorização e é preciso estar atento e contestar os pareceres que vão emitindo, tais como: a inexistência de nexo causalidade entre as lesões diagnosticadas e o acidente sofrido; alterando a profissão de modo a que incapacidade seja reduzida para metade (1) e referindo que as sequelas das lesões sofridas não podem ser resultantes do acidente (2), mas sim de causa orgânica (doença).

• (1) - na vida civil fui empregado de escritório, mas classificado como carpintero neste processo. Como o empregado de escritório necessita mais da visão que o carpinteiro, logo aqui e segundo a Tabela Nacional de Incapacidades, que eu conhecia bem por motivos profissionais, a desvalorizção baixava para metade. Tive de contestar, o que logo originou atrasos de meses na resolução do caso.
• (2) – A Direção de Saúde disse que as sequelas das lesões tinham origem em doença bacteriológia e não traumática (acidente), o que tive também de contestar e daí mais uns meses de espera.

Foram sete anos e meio de muita luta, muita paciência, mas consegui ganhar o processo e a desvalorização na totalidade. Ver anexo NOTAS, onde tudo registava, tal como: telefonemas; contactos pessoais, cartas e emails, etc, num total de 11 páginas.

Para concluir o processo e começar a receber a pensão, faltava uma última etapa, uma Junta Médica na Caixa Geral de Aposentações, a entidade pagadora, que foi feita e posterior publicação no Diário da Républica.

A Pensão é paga a partir da data da realização da Junta Medica que determinou a incapacidade, pelo que tive direito a receber os retroativos dos sete anos e meio e depois passei a receber mensalmente, por débito em conta, através da CGA.

Uma última questão, só quem tem uma incapacidade igual ou superior a 30% é que é considerado Deficiente das Forças Armadas, que para além da pensão, tem outras regalias.

Arcozelo/Gaia
01 de Novembro de 2025
Aníbal Silva

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Notas do editor:

1 - Citando Aníbal José da Silva no seu Poste 26820 de 29 de Maio de 2025:

[...]
Chegado à base de Bissalanca segui de ambulância para o Hospital Militar. Fui colocado não sei onde deitado na maca. Não sabia se estava no chão ou em cima de qualquer coisa. Com a mão direita de fora da maca, tocava no que me rodeava e conclui que estaria no chão pois sentia uma superfície fria e lisa.

As pessoas passavam por mim mas não ligavam nenhuma. As dores nos olhos e o rubor na cara era escaldante. Comecei por insultar quem por mim passava, chamando-lhes filhos desta e daquela, até que alguém, creio que era um sargento pois chamaram-lhe assim, veio ter comigo e perguntou a outros o que é que aquele homem estava ali a fazer. Responderam que estava à espera do oftalmologista. Era uma segunda-feira e o médico devia ter ido passar o fim de semana à ilha dos Bijagós. Mas o sargento ordenou que eu fosse de imediato ao RX para a eventualidade de ter algum estilhaço no corpo, o que felizmente não se veio a confirmar. O médico chegou e mandou-me para a sala de observações, onde permaneci três dias.

Foi iniciado o tratamento prescrito, que consistia na lavagem dos olhos várias vezes ao dia e mesmo durante a noite, mais umas injeções não sei para quê. Ao fim da tarde desse dia, ouvi passos que vinham na minha direção. Abeiraram-se da cama e uma voz perguntou: “Rapaz de onde és e o que te aconteceu?”. Reconheci logo a voz do General Spínola e resumidamente respondi. O acompanhante habitual do general era o Capitão Almeida Bruno, que me perguntou se eu sabia com quem estava a falar. Respondi que era o General Spínola e ele o Capitão Almeida Bruno. No dia seguinte voltaram a visitar a sala de observações, tomando conhecimento dos que chegaram nesse dia. Era do conhecimento geral, que desde sempre, os dois ao fim da tarde iam ao hospital quase todos os dias. De madrugada entrou alguém na sala a gemer e a berrar. Era uma parturiente que horas mais tarde deu à luz uma bebé.

O barbeiro do hospital, de dois em dois dias, ia-me fazer a barba e eventualmente aparar o cabelo. Para ir ao refeitório, nos primeiros dias, era acompanhado pelo cabo enfermeiro, que me ensinou a fazer o percurso sozinho. Saía da porta da enfermaria, dava quatro passos em frente atravessando o corredor e tocava na parede, virava à esquerda e caminhava uns tantos passos ao longo da parede até ao início da escada, depois à direita, descia seis degraus, contornava o patamar e descia mais seis degraus até à entrada do refeitório. Quando entrava diziam, lá vem o ceguinho, quem é que lhe vai dar a sopa na boca e cortar o bife? Obviamente que meter a sopa na boca era exagero, era uma brincadeira, mas o restante sim, precisava de ajuda. No trajeto inverso contava os mesmos degraus e dava os mesmos passos. Na cama não podia estar de barriga para cima, porque a deslocação de ar provocado pelas enormes pás das ventoinhas colocadas no teto, ao bater nas pálpebras agravava as dores.

[...]

2 - Último post da série de 27 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27358: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (112): Através do nosso blogue, na pessoa do camarada Manuel Domingos Ribeiro, soubemos do falecimento do Fur Mil Art Silva da CART 6552/72 (João Ferreira / Manuel Domingos Ribeiro / Carlos Vinhal)

domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27377: Convívios (1044): Rescaldo do 13.º Almoço/Convívio do Antigos Combatentes da Guiné da Freguesia de Arcozelo/Vila Nova de Gaia (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Mensagem do nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), com data de 27 de Outubro de 2025, trazendo até nós o rescaldo do 13.º Convívio dos antigos Combatentes da Guiné da freguesia de Arcozelo-Vila Nova de Gaia.

Boa noite, caro Carlos
Em anexo envio mais um trabalhinho, desta vez relacionado com o 13º. Almoço/Convívio do Núcleo de Arcozelo dos Ex-Combatentes da Guiné, realizado no passado dia 18 de Outubro, para ser publicado quando houver oportunidade.

Um forte abraço
Aníbal Silva

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Nota do editor

Último post da série de 14 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27317: Convívios (1043): Rescaldo do Encontro dos Antigos Combatentes de Meimoa na Guerra do Ultramar, levado a efeito no passado dia 4 de Outubro (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav)

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27361: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (5): Ruínas da Messe de Sargentos e do Quartel de Tite (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 23 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a quinta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

RUÍNAS DA MESSE DE SARGENTOS E DO QUARTEL DE TITE


Vista aérea do quartel de Tite

No decurso das viagens realizadas à Guiné Bissau, os camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu tiraram fotografias às ruínas do quartel de Tite e entre elas o edifício da Messe de Sargentos e o interior da mesma. A pintura de dois painés existentes nas paredes do refeitório da messe, em 2017, ainda se mantiham em razoável estado de conservação. Ver fotos que passo a partilhar, em particular com os ex-Furriéis Milicianos que por lá passaram durante os anos de guerra.
Ruína do edifício da Messe e estrutura metálica da enfermaria
Refeitório e balcão do bar
Um dos quartos dos Furriéis
Balneários
Painel de parede
Painel de parede


RUÍNAS DE OUTROS EDIFÍCIOS

Cruzeiro na parada
Comando
Refeitório das Praças
Dormitório das Praças
Messe de Oficiais
Capela
Cozinha
???

TITE e as SUAS GENTES

Ricardo com a autoridade local na sala que foi das Transmissões
Armando e Ricardo tendo este à esquerda a sua lavadeira de outrora
Um fraterno abraço com a Maria Mancanha, uma das lavadeiras de Tite
Convívio com familiares da Maria Mancanha
Em conversa com um descendente de algúem que o Ricardo conheceu
Armando e o poilão existente próximo à porta de armas de Tite

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 21 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27337: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (4): Nova Sintra (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)